ISSN 0798 1015

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Vol. 41 (Nº 11) Ano 2020. Pág. 11

Evasão escolar na educação de jovens e adultos

School dropout in youth and adult education

SILVA, Enoc José 1; COUTINHO, Diogenes José Gusmão

Recebido: 24/10/2019 • Aprovado: 15/03/2020 • Publicado: 02/04/2020


Conteúdo

1. Introdução

2. Metodologia

3. Resultados e discussão

4. Conclusões

Referências bibliográficas


RESUMO:

Esta pesquisa aborda os resultados sobre evasão escolar, realizada na Escola João Duarte localizado na Vila Ameixas Distrito de Cumaru - PE. Com base na problemática da evasão escolar na Educação de Jovens e Adultos (EJA), com o objetivo de analisar sobre as causas da evasão nesta modalidade de ensino e identificar estratégias que possam contribuir para diminuir os índices de evasão na referida escola. A metodologia aborda a revisão de literatura, e análise dos dados pesquisados.
Palavras chiave: Evasão Escolar, Educação de Jovens e Adultos, Coordenação pedagógica.

ABSTRACT:

This research aims to present the results on school dropout, held at the João Duarte School located in Vila Ameixas District of Cumaru - PE. It was based on the problem of school dropout in Adult and Youth Education (EJA), with the objective of reflecting on the causes of evasion in this modality of teaching and identify strategies that may contribute to decrease the rates of evasion in said school. The methodology addresses the literature review, and analysis of the data surveyed.
Keywords: School Evasion, Youth and Adult Education, Pedagogical Coordination

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1. Introdução

A EJA é uma modalidade de ensino, amparada por lei e voltada para pessoas que não tiveram acesso, por algum motivo, ao ensino regular na idade apropriada. Porém são pessoas que têm cultura própria. Sabe-se que o papel docente é de fundamental importância no processo de reingresso do aluno às turmas de EJA.

Na EJA o professor deve ser capaz de identificar o perfil de cada aluno. Pois o professor da EJA é de suma importância para o sucesso da aprendizagem do aluno adulto que vê seu professor como um modelo a seguir.

 É preciso que a comunidade entenda que alunos de EJA enfrentam problemas como preconceito, vergonha, discriminação, críticas dentre tantos outros. E que tais questões são vivenciadas tanto no cotidiano familiar como na vida em comunidade.

 Educar é muito mais que reunir pessoas numa sala de aula e transmitir-lhes um conteúdo pronto. É papel do professor, especialmente do professor que atua na EJA, compreender melhor o aluno e sua realidade diária. Enfim, é acreditar nas possibilidades do ser humano, buscando seu crescimento pessoal e profissional.

Discute-se que a qualidade do ensino está diretamente ligada à preparação do professor, que terá de se capacitar para estar atuando junto às turmas de educação de jovens e adultos tal capacitação deve ser reconhecida e valorizada, uma vez que esta modalidade de ensino acolhe jovens e adultos que não tiveram oportunidade de estudar no período certo e a busca do reconhecimento da importância da EJA.

A evasão escolar é uma grande preocupação para as escolas de EJA, pois a cada semestre inicia-se um novo ano letivo para essa modalidade. Porém, muitos dos alunos se inscrevem e depois desistem, abandonam, entre outros. Isso causa desconforto para os educadores, equipe diretiva e pedagógica.

Como esse aspecto é uma problemática constante, é válido que se desenvolva pesquisa para observar as causas da evasão e de certa forma poder realizar ações para oportunizar novamente ao aluno o retorno aos bancos escolares.

Devido a isso, objetiva-se com essa pesquisa analisar as causas que levaram os alunos da EJA da Escola João Duarte a evadir-se e diante da análise de dados, promover ações em conjunto com os pares da escola, intervindo com ações que tem o intuito de resgatar e consolidar a permanência dos educandos da EJA.

O levantamento de dados sobre o público que busca a EJA como modalidade de ensino visa também observar àqueles que apenas realizam a matrícula, mas não começam a estudar. Considerando-se que essa modalidade enfrenta os mais diversos desafios e uns dos principais está relacionado em como responder as expectativas e anseios desses educandos que, depois de anos, regressam à escola com o propósito de recuperar o tempo perdido.

Para tanto, o estudo toma como base os índices de evasão dos anos de 2016 e 2017, dos alunos da EJA da Escola João Duarte.  Essa modalidade enfrenta os mais diversos desafios e uns dos principais está relacionado em como responder as expectativas e anseios desses alunos que, depois de anos, regressam à escola com o propósito de recuperar o tempo perdido. Assim muitos com a intuição de buscar novas estratégias de resgatar os alunos desistentes.

1.1. A Educação de Jovens e Adultos no Brasil

A Educação de Jovens e Adultos é um direito de todo cidadão brasileiro, que não conseguiu na idade apropriada finalizar seus estudos, contudo, pouco se conhece sobre essa modalidade de ensino. De acordo com a Constituição Federal de 1988, determina-se como um dos objetivos do Plano Nacional da Educação a integração de ações do Poder Público, visando a erradicação do analfabetismo.

Em seu artigo 208, assegurasse a educação de jovens e adultos como um direito de todos, e destaca-se ser dever do Estado mediante garantia de oferta é o que estabelece o inciso I, ao abordar o "ensino fundamental, obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria" (BRASIL, 1988, p.138). Com base nesse artigo constitucional, todos os cidadãos têm o direito a escolarização. Nesse sentido, algumas mudanças de paradigmas são necessárias para que todos possam ser incluídos nos sistemas de ensino, nos seus diferentes níveis ou modalidades de ensino.

Assim sendo, as escolas que ofertam a modalidade EJA necessitam de adequações conforme suas realidades para assim, conseguir compreender os sujeitos que transitam em busca dessa escolarização, respeitando as diferenças ali presentes.

A evasão escolar na EJA pode ser associada a muitos fatores, sendo necessário que cada escola valorize a cultura de saberes de cada educando, favorecendo para que ele permaneça no meio escolar.

 É importante valorizar a presença do aluno para que se sinta sujeito de sua própria história possa fazer parte de uma sociedade para a qual é útil e importante. A escolarização para muitos adultos vai além da conquista de um certificado, é também uma realização pessoal.

Buscar a compreensão deste sujeito é vê-lo como capaz de desenvolver qualquer atividade e de aprender como qualquer aluno. Com isso, conhecendo melhor sua história e sua trajetória de vida é possível inseri-lo no meio escolar e oportunizar espaço para sua autonomia.

Assim, entender a EJA como direito, também é tratar do direito à vivencia plena e a garantia de processos educativos que vão além da escolarização e levam em consideração a vivencia dessas pessoas no trabalho, na cultura, os aprendizados que já possuem e as questões de raça e gênero.

Conforme  Arroyo:

 A EJA sempre aparece vinculada a outro projeto de sociedade, um projeto de inclusão do povo como sujeito de direitos. Foi sempre um dos campos da educação mais politizados, o que foi possível por ser um campo aberto, não fechado e nem burocratizado, por ser um campo de possíveis intervenções de agentes diversos da sociedade, com propostas diversas de sociedade e do papel do povo (ARROYO, 2005, p.31).

Para o autor o aluno adulto possui expectativas e experiências distintas. Diante disso, a escola precisa estar organizada para receber e aperfeiçoar os conhecimentos adquiridos por estes alunos, conhecimentos que são frutos das suas interações, de suas vivências e experiências, nessa sociedade seletiva.

A evasão escolar acontece em alguns casos porque o aluno não se sente parte do ambiente, não sendo ouvido e tratado como elemento importante dentro da instituição de ensino. Dado a isso a importância dessa pesquisa, acerca das causas da evasão escolar na EJA é a chave para desvendar o porquê de tantos bancos escolares abandonados.

Para Santos:

É através da realização de tais pesquisas será possível identificar os elementos de seu fazer educativo que, na interação com o trabalho desenvolvido pelos atores e com base nos quais esse se desenvolve, redundam nos resultados anteriormente apresentados. Essa compreensão, por sua vez, possibilitará que tais elementos possam ser adotados em outras propostas educacionais voltadas para o atendimento de jovens e adultos pouco escolarizados ou não escolarizados. Certamente a generalização desses elementos contribuirá de forma significativa para que os mandatários da EJA tenham acesso a oportunidades educacionais compatíveis com suas especificidades e necessidades formativas (SANTOS, 2003, p.24).

Nesse sentido, estudar a evasão é também uma importante ação social que cabe aos educadores desenvolver no cotidiano escolar. Proporcionar estratégias que viabilizem a presença do educando, que não os afastem das salas de aula.

 De acordo com Gadotti e Romão:

A EJA não deve ser uma reposição da escolaridade perdida, como normalmente se configuram os cursos acelerados nos moldes do que tem sido o ensino supletivo. Deve, sim, construir uma identidade própria, sem concessões à qualidade de ensino e propiciando um terminal idade e acesso a certificados equivalentes de ensino regular (GADOTTI; ROMÃO, 2011, p.143)

Para o autor é preciso construir um currículo que dê mais significado à aprendizagem associando temas do cotidiano às disciplinas. O perfil do aluno deve ser levado em conta, afim de que se busquem metodologias de ensino apropriadas reparando a escolaridade perdida, mas de forma permanente garantindo uma formação de qualidade.

Alguns dos desafios também são enfrentados pelos próprios professores, pela visão tradicional do ensino, enfrentando grandes dificuldades em trabalhar com a diversidade de faixa etária dos alunos dessa modalidade, pois jovens e adultos em uma mesma sala tem pontos de vistas e perspectivas diferentes, alguns mais comprometidos e outros menos.

Além disso, contextualizar os conteúdos aproxima o educando do seu dia a dia. Freire (2001) ressalta a importância da educação como elemento desinibido, inclusive dando espaço para os educadores também atuarem:

Segundo Freire:

Em todo homem existe um ímpeto criador. O ímpeto de criar nasce da inclusão do homem. A educação é mais autêntica quanto mais desenvolve este ímpeto ontológico de criar. A educação deve ser desinibida e não restritiva. É necessário darmos oportunidades para que os educadores sejam eles mesmos. (FREIRE,2001, p.31).

Permanecer fora da escola por diversos motivos também é fator de exclusão, à mercê da exploração e desigualdade. Miguel Arroyo (2005, p.10) afirma que a EJA tem uma história muito tensa, pois é atravessada por interesses diversos e nem sempre consensuais. Os olhares conflituosos sobre a condição social, política e cultural dos sujeitos aos quais se destina essa oferta educativa têm condicionado as diferentes concepções de educação que lhes é oferecida.

Também é uma missão dessa modalidade de ensino resgatar a cidadania dos educandos, a humanização dos homens, revertendo a lógica de uma sociedade desigual e excludente. Segundo Soares:

Uma educação permanente, realmente dirigida às necessidades das sociedades modernas, não pode continuar a definir-se em relação a um período particular da vida – educação de adultos, por oposição à dos jovens, por exemplo – ou a uma finalidade demasiado circunscrita – a formação profissional, distinta da formação geral. Doravante, temos de aprender durante toda a vida que uns saberes penetram e enriquecem os outros (SOARES, 2002, p.41).

O autor reafirma a ideia de que o trabalho com a educação de adultos, com os saberes que mediam este aprendizado, enriquecem os sujeitos, por promover aprendizados durante toda a vida, de forma permanente. Essa pode ser uma condição para a superação de muitos que estão fora da sala de aula e desconhecem a EJA, ou não conseguem permanecer ativos estudando devido a inúmeros fatores. Para tanto, ações como as desenvolvidas ao longo dessa pesquisa, intencionam contribuir para os educandos permanecerem na escola.

1.1.1. Possíveis Soluções para Evasão Escolar na EJA

Manter os alunos que fazem parte da EJA nas escolas até o final do curso vem sendo um grande desafio. Uma realidade difícil, mas possível de ser resolvida, pois se há uma decisão por parte desses de procurar as escolas e fazerem as suas referentes matrículas, percebe-se que almejam estudar.

Ao iniciar os estudos espera-se que esses educandos venham concluí-los, mas durante o curso, depara-se com diversos motivos que causam a desistência e a evasão. Sabemos que, se houver empenho e união dos poderes públicos, privados e da sociedade, esse quadro de desistências e evasão mudará. Vale salientar que algumas escolas já desenvolveram iniciativas na perspectiva de reverter esse quadro, com êxitos. Porém, ainda se percebe a necessidade de ir além dos avanços já propostos em várias escolas públicas do Brasil. Fatores que concorrem para a evasão escolar.

Muitos desafios são encontrados pelos docentes na sua trajetória em sala de aula, entre eles o de tentar manter esses educandos em sala de aula, estimular os alunos a dar continuidade aos seus estudos. Gómez ressalta que:

Compete ao educador comprometer-se com a aprendizagem do aluno, com o objetivo de que o mesmo alcance êxito em seus estudos, o educador precisa ter consciência de não administrar apenas o conteúdo da disciplina, mas sim, que a formação do aluno seja pautada em uma diversidade de informações, sejam elas políticas, sociais, culturais ou igualitárias, infelizmente nem todos os 24 docentes estão preparados para estas ações (GÓMEZ, 2001, p.304).

Percebe-se a necessidade dos educadores buscarem estratégias de trabalho que ajudem aos educandos a terem êxito no processo de ensino aprendizagem. Apesar de apresentar deficiências e desagregação entre as diferentes regiões do país, o abandono e a evasão escolar são grandes problemas relacionados à educação brasileira, pois as  metas estipuladas pela Constituição Federal de 1988, que determinam a universalização do ensino fundamental e a “erradicação” do analfabetismo, ainda não se concretizaram, mesmo sendo a educação um direito garantido e determinado em seu art. 6º. Neste, a educação – juntamente com moradia, trabalho, lazer, saúde, entre outros – constitui um direito social (BRASIL, 1988),

Para Ferreira (2013) “o termo evasão é fracasso das relações sociais que se expressam na realidade desumana que vivencia o aluno em seu cotidiano”.  Muitas vezes esses jovens que se matriculam e não conclui o ano letivo é devido há muitos obstáculos que enfrentam.

É um grande desafio para os docentes e gestores desenvolver atitudes e criarem estratégias que motivem esses alunos para que os mesmos continuem na escola e concluam, para que possam ingressar em um mercado de trabalho melhor.  Por isso a EJA atende a uma diversidade de alunos e, como tal, torna-se fundamental compreender as expectativas, sentimentos e inseguranças desse público de alunos.

A clientela da EJA é composta por jovens que está longe da escola há algum tempo e, quando eles retornam para as salas de aulas, chegam com insegurança, com medo e até a falta de confiança em si e nos professores, fazendo com que se tornem tímidos, preocupados com a reprovação e muitos outros sentimentos são internalizados, o que, muitas vezes, leva os mesmos a se evadirem da escola.

 Ao ingressarem na escola, esses alunos devem saber da importância da escola para seu crescimento pessoal e social. Sendo necessário apoio dos gestores, coordenadores e professores em prol do bem estar dos mesmos para que sintam-se acolhidos pelo o corpo docente da escola, despertando assim o bom desenvolvimento nas atividades escolares.

É importante que a escola tenha um projeto que garanta aos alunos da EJA saberes necessários para a sua vida pessoal, profissional, cultural e social. Enfim, a escola que atende a EJA deve ir muito além de uma alfabetização pura e simples para o aluno.

Precisa-se também, dar liberdade e autonomia para que esses alunos tenham conhecimentos sólidos e reais garantindo, assim, a reflexão, a ação, o pesquisar, o senso crítico, o elaborar, o tornar-se, o aprender a aprender e muitos outros saberes necessários para viver e conviver em sociedade. O professor da EJA não deve apenas saber ministrar conteúdo, mas também estimular a reflexão e a crítica para ampliar o aprendizado do educando.

 Os jovens e adultos retornam à escola com objetivos variados: seja para dar continuidade aos estudos, seja para resgatar a educação abandonada em algum momento de suas vidas, e até para promover-se como profissional, por isso precisam ser motivados a estudar com métodos e práticas pedagógicas que facilitem a sua aprendizagem.

Para Skovsmove, Apud Freitas:

A facilitação da aprendizagem depende da qualidade de contato na relação interpessoal que emerge a partir da comunicação entre os participantes. Sendo assim, o processo de aprendizagem torna-se um processo dialógico, em que o diálogo e a comunicação são a base para o sucesso (SKOVSMOVE, 2002, Apud FREITAS, 2011, p. 33).

A educação de jovens e adultos deve ser compreendida não somente como uma relação de ensino e aprendizagem de conteúdos, mas como relação humana que se dá entre sujeitos com diferentes identidades, histórias e trajetórias em um contexto escolar específico.

 A escola não é o único lugar de aprendizagem, as relações sociais muito contribuem, por isso é preciso que os alunos sintam-se valorizados em seus saberes, que tenham a oportunidade de aprenderem aquilo que desejam.

Para Freitas, o currículo deveria ser construído em torno de interesses e necessidades do aluno, que por sua vez teria a capacidade de trazer para o processo educacional experiências vividas no trabalho, no lazer, na família e na comunidade. Essa vivência do espaço escolar deve estar profundamente articulada com as experiências e processos sociais educativos vividos por educadores e educandos fora da escola.

O professor, enquanto um dos elementos indispensáveis no processo de ensino-aprendizagem necessita estar preparado para pensar e enfrentar essas situações. A busca por informação deve, ou deveria ser inerente à sua prática, um processo constituinte de desenvolvimento e estruturação profissional sendo assim, os gestores têm que assumir suas responsabilidades, elaborando o projeto político pedagógico da escola, assegurando cumprir os dias letivos e o plano de aula dos docentes.

1.2. A Contribuição do Coordenador Pedagógico na superação da evasão escolar na EJA

O coordenador pedagógico é elemento fundamental na mediação das ações de intervenção que visem encurtar as diferenças e solucionar problemas ligados à evasão escolar.  Para Souza e Marques:

No que tange às concepções que situam a prática do Coordenador Pedagógico, o estudo nos indicou também que um dos grandes problemas, que dificulta os Coordenadores Pedagógicos a perceberem-se capazes da construção de um trabalho eficiente e produtivo nas escolas onde atuam, seja a carência de subsídios teóricos e práticos durante sua formação inicial para o exercício desta atuação (SOUZA; SEIXAS; MARQUES, 2012, p.50).

Nesse sentido, há necessidade de ampliar as formas mediadoras de formação, constituindo-se uma pedagogia que enfatize a perspectiva histórica, concebendo a educação e a cultura de forma articulada com a dinâmica social, na qual segundo Souza; Seixas e Marques (2012, p.50), professores e alunos constroem-se como sujeitos da educação, capazes de falar e agir com autonomia, na medida em que assumam e transformam as respectivas perspectivas de vida no embate social e político, instaurem a novidade de um mundo distinto, como seres analógicos.

 Assim, também se constrói a identidade do Coordenador Pedagógico, envolvendo diferentes aspectos, pois em cada Unidade de Ensino, novas realidades são vivenciadas, o que permite aos pedagogos agregar experiências na construção de sua carreira profissional.

Para Souza e Marques:

A identidade profissional do Coordenador Pedagógico não se constrói apenas nas relações de trabalho, mas envolve outros fatores: compromisso social e comprometimento do próprio sujeito com sua profissão. Desse modo, alcançar o papel que se propõe a esse profissional exige um longo caminho a ser trilhado. Assim, nunca iguais a si mesmos, nem repetitivos, como cidadãos na sociedade política em que se prolongam e aprofundam os desafios da educação, que são os desafios da pluralidade humana em confronto consigo mesma (SOUZA; SEIXAS; MARQUES, 2012, p.54).

Nesse processo de construção da identidade profissional, do papel e função do coordenador Pedagógico, nas relações de trabalho e no compromisso profissional, essa realidade de ensino da escola com EJA, promove desenvolver um estudo acerca da superação da realidade posta e evidenciada na escola pesquisada.

A evasão escolar no ensino escolar é um desafio para os profissionais da educação e uma chaga no nosso sistema de ensino. Números da evasão no Brasil mostram que a todo ano milhares de adolescentes deixam as salas de aulas pelos mais diversos motivos.

Então, evasão escolar é concretizada quando o aluno deixa de frequentar as aulas no decorrer do ano letivo. A maioria dos alunos retornou às salas de aulas com idade/série que inevitavelmente, os trará conflitos variados e mais uma vez evasão.

 É neste contexto que está inserida a Educação de Jovens e Adultos, para atender a esses educandos tão diversos e de interesses distintos. As causas da evasão na EJA são diversas, como por exemplo, problemas socioeconômicos, falta de qualificação dos profissionais e metodologias inadequadas.

Fonseca (2002) afirma que os motivos para o abandono escolar podem ser ilustrados quando o jovem e adulto deixa a escola para trabalhar; quando as condições de acesso e segurança são precárias. Cabe ressaltar que houve desistência e não está relacionada com o mesmo conceito de “evasão”.

 A evasão escolar na EJA pode ser registrada como um abandono por um tempo determinado ou não. Diversas razões de ordem social e principalmente econômica concorrem para a “evasão” escolar dentro da EJA, transpondo a sala de aula e indo além dos muros da escola.

Com isso, citamos a afirmação de Arroyo (2006) acerca da nova oportunidade de inserção no sistema de educação que deve ser dada aos jovens e adultos, que por inúmeros motivos, não tiveram acesso ao mesmo no período regular. Arroyo (2006, p. 23) assinala a seguir: [...] os jovens e adultos continuam vistos na ótica das carências escolares: não tiveram acesso, na infância e na adolescência, ao ensino fundamental, ou dele foram excluídos ou dele se evadiram; logo em propiciemos uma segunda oportunidade.

 O índice de evasão na EJA é muito grande, os educandos se sentem desmotivados e cansados; a maioria trabalha o dia todo, pegam ônibus lotado, muito stress. É importante que os professores da EJA sejam dinâmicos, aproximem o conteúdo à realidade do aluno, procurem sempre inovar e não criem barreiras para afastar esses alunos.

 O professor da EJA tem que estar motivado para conseguir motivar os alunos, todavia que os alunos são reflexos dos professores. Quando pensa em evasão na EJA é de grande importância conhecer o perfil destes sujeitos, para tentar entender por que se dá esta evasão.

 As razões para a evasão na EJA são muitas, podemos destacar o cansaço após um dia de serviço, a distância entre casa/escola que aumenta as possibilidades de assaltos, entre outros fatores que se dá por conta da violência urbana. Outro fator é o apoio da família que nem sempre existe, o apoio do governo, da escola, direção, professores muitas vezes não estimulam os alunos; e também o desinteresse interfere sobre esta questão.

Por isso é de suma importância o apoio do coordenador pedagógico nesta modalidade de ensino para dar um suporte aos professores, e assim tentar sanar essa problemática que é a evasão na Educação de Jovens e Adultos.

2. Metodologia

Esta pesquisa é qualitativa com elementos quantitativos, pois se refere a uma pesquisa onde as pessoas entrevistadas falam livremente sobre o tema, através de informações coletadas principalmente por meio de entrevistas e questionários.

Neste sentido, busca-se compreender que é de suma importância que essas relações sejam analisadas. Conforme Minayo:

[...] abordagem qualitativa, [...] objetiva aprofundar-se na compreensão dos fenômenos que estuda – ações dos indivíduos, grupos ou organizações em seu ambiente ou contexto social, interpretando-os segundo a perspectiva dos próprios sujeitos que participam da situação, sem se preocupar com representatividade numérica, generalizações estatísticas e relações lineares de causa e efeito. Assim sendo, temos os seguintes elementos fundamentais em um processo de investigação: a interação entre o objeto de estudo e pesquisador; o registro de dados ou informações coletadas; a interpretação/explicação do pesquisador. [...] (MINAYO SANCHES; Apud: GUERRA, 2014, p. 40)

Os procedimentos adotados neste trabalho pautaram-se na coleta de dados através de entrevistas e aplicação de questionários semiestruturado com perguntas abertas e fechadas. “O pesquisador insere-se na população que deseja estudar e, justamente com seus elementos, em constante interação, tenta levantar os problemas que serão pesquisados, com o objetivo de produzir um conhecimento concreto da prática que vivencia.” (RICHARDSON, 1999, p. 58). O questionário foi aplicado com professores e alunos, da Educação de Jovens e Adultos.

3. Resultados e discussão

A realização dessa pesquisa partiu-se de uma abordagem metodológica baseada na leitura de autores que ressaltam a importância da EJA, bem como investigação das causas da evasão através da aplicação de questionários, sendo que foram respondidos por educandos da EJA, professores e coordenadores. Após a coleta de dados, os resultados foram postos e analisados. Portanto os gráficos a seguir, baseiam-se na pesquisa realizada através de questionários, aplicados na escola citada, os quais se mostraram satisfeitos em poder participar da mesma. O gráfico 1 apresenta os resultados dos alunos evadidos na EJA nos anos de 2016 e 2017 da Escola João Duarte de acordo com as informações obtidas pela coordenadora da Educação de Jovens e Adultos.

Gráfico 1
Número de alunos evadidos em 2016 e 2017

Fonte: Elaborado pelo o autor, conforme os dados da pesquisa

O gráfico 2 apresenta os resultados obtidos a partir da seguinte indagação: O que motivou a desistência de seus estudos?

Gráfico 2
Causas de evasão escolar na EJA

Fonte: Elaborado pelo o autor, conforme os dados da pesquisa

Analisando as respostas se obteve os seguintes resultados: 50% dos alunos desistiram de estudar por terem que trabalhar para se sustentar, bem como a família. Enquanto 20% dos entrevistados, entre esses se encontram as mulheres em sua grande maioria, afirmam que o casamento, atrapalhou os estudos, fazendo com que desistissem. Ainda, 15% nas maiorias jovens, dizem ter sido levado a desistir pela falta de interesse um grupo de15% não tinha como comprovar a documentação escolar, sendo extraviada em mudanças. Sobre esse aspecto dos trabalhadores Arroyo (2005, p.10) afirma que o espaço reservado a sua educação no conjunto das políticas oficiais se confunde com o lugar social destinado aos setores populares em nossa sociedade, sobretudo quando os jovens e adultos são trabalhadores, pobres, negros, subempregados, oprimidos, excluídos.

O gráfico 3 apresenta os resultados obtidos a partir da seguinte pergunta: Por que você retornou aos estudos?

Gráfico 3
Por que você retornou
aos estudos?

 

Fonte: Elaborado pelo o autor, conforme os dados da pesquisa

Os motivos que levam a desistência muitas vezes são quase os mesmos que os trazem de volta à sala de aula. Tomando em comparação o gráfico-02 acima e os resultados do gráfico-03, percebe-se que o motivo trabalho afastou a maioria dos entrevistados da sala de aula. Porém, esse mesmo fator também tem ocasionado o retorno aos bancos escolares, 52% dos alunos retornaram por causa das exigências no ambiente de trabalho, a certificação está sendo considerada a navalha no corte dos empregados. Assim, os alunos se veem obrigados a voltar estudar, sem chance para outras desculpas, tornando-se uma questão de sobrevivência. O desejo de terminar o Ensino Médio e ir para a faculdade é outro dos motivos em evidência, 19% dos alunos almejam cursar o ensino superior. Para outros 9 %, estudar é a “válvula de escape” para fugir da solidão.  Para esses, estudar é mais que obter certificado, é uma terapia. Em contrapartida 10% necessita da certificação para se matricular em cursos técnicos, com anseios de gráfico seguinte apresentam-se os resultados referentes á uma questão que abre espaço para melhores empregos. E por fim,  10% buscam conhecimento, são alunos que não apresentam dificuldades na aprendizagem e querem se apropriar mais do conhecimento científico.

No gráfico  4 os educadores também opinarem sobre as possíveis causas da evasão escolar na EJA. Sendo assim foi perguntado: Em sua opinião quais outras causas levam à evasão escolar na EJA?

Gráfico 4
Em sua opinião quais outras causas
levam à evasão escolar na EJA?

Fonte: Elaborado pelo o autor, conforme os dados da pesquisa

Conforme observação e análise dos resultados do gráfico 4, percebe-se que o trabalho aparece novamente como fator primordial na desistência da EJA, totalizando 40% das sugestões. Também os professores destacam ainda, agregado ao trabalho, a carga excessiva de horas semanais. Em segundo plano com 25% apareceram falta de interesse, incentivo e estímulo. Problemas familiares de todas as ordens também influenciam na evasão escolar apontando 15% nessa pesquisa. A dificuldade em se locomover pela distância entre a escola e a casa do aluno (10%) e as condições financeiras (10%) são outros fatores que impulsionam os alunos para fora da escola. Às vezes a falta de um passe escolar contínuo pode levar o educando a se evadir.

4. Conclusões

Considera-se que a pesquisa conseguiu traduzir algumas das causas da evasão escolares já perceptíveis em seus processos regulares de educação, promovendo nesta modalidade de ensino de EJA repensá-las.

 Com o objetivo inicial de explicitar as principais causas da evasão nesta modalidade de ensino, foi também realizado por meio de questionários aplicados aos alunos resgatando-se a participação dos sujeitos escolares nas respostas sobre as causas da evasão escolar.

 Diante da pesquisa realizada considera-se que muitos fatores levam os educandos a não frequentarem as salas de aula, dentre os quais se pode elencar os mais comuns: o desgaste diante a jornada de trabalho, os horários de trabalho que não coincidem com o da oferta, o desgaste físico e mental, as condições socioeconômicas, a baixa autoestima, a dificuldade na aprendizagem, a falta de documentação comprobatória, problemas familiares e falta de interesse em retomar aos estudos.

Conforme exposto, sobre as causas da evasão e o resgate desses educandos, ausente da escola buscou-se estratégias para recuperar e auxiliar os alunos no caminho de volta. Para tanto, fez-se um trabalho coletivo, envolvendo os diferentes segmentos da comunidade escolar.

 As estratégias usadas para trazer de volta aos bancos escolares os educandos evadidos, foram elaboradas em grupo, palestras envolvendo o público alvo, explicativos sobre o funcionamento das atividades oferecidas, bem como a gratuidade do ensino e a qualidade apresentada.

Contudo, aprendeu-se muito com esse estudo e pesquisa, com os próprios educandos, que forneceram subsídios para o aprimoramento do trabalho pedagógico com a EJA. Considera-se ainda que a importância e relevância dessa pesquisa esta relacionada diretamente às melhorias no ensino e aprendizagem na EJA, buscando sempre enfrentar juntamente com os educandos, os desafios, no intuito de superar e contribuir na divulgação de resultados, buscando melhorias e novas posturas diante a problemática que se apresenta como desafio ao trabalho do coordenador pedagógico.

Enfim, este estudo proporcionou entender melhor algumas das causas da evasão escolar e da desistência nesta modalidade da EJA, desafios que vão desde as condições financeiras, de trabalho, da falta de apoio familiar, desinteresse até a documentação escolar irregular.

 Essas causas, que se configuram durante a pesquisa, constituem-se em parâmetro desafiador para o exercício das funções da coordenação pedagógica, com continuidade e aprofundamento, na busca de alternativas viáveis de superação dessa realidade aqui problematizada, a da evasão escolar e da desistência na Educação de Jovens e Adultos.

É oportuno lembrar que todos podem e devem contribuir para o desenvolvimento da EJA: os governantes devem implantar políticas integradas para a EJA, as escolas devem elaborar um projeto adequado para seus próprios alunos e não seguir modelos prontos, os professores devem estar sempre atualizando seus conhecimentos e métodos de ensino, os alunos devem sentir orgulho da EJA e valorizar a oportunidade que estão tendo de estudar e ampliar seus conhecimentos.

À sociedade cabe contribuir com a EJA não discriminando essa modalidade de ensino nem seus alunos, e por fim, as pessoas em geral que conhecerem um adulto analfabeto deve falar da importância da educação e incentivá-los a procurar uma escola de EJA.

Referências bibliográficas

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1. Graduado em História na FAFICA – Faculdade de Filosofia e Letras de Caruaru, especialização em História e Geografia pela FAINTIVSA.  E-mail : sa.enoc@hotmail.com

2. Biólogo-UFRPE, Mestre em Biologia-UFPE, Doutor em Biologia-UFPE, Professor do PPG/Faculdade ALPHA e do Centro Universitário Brasileiro – UNIBRA, Recife-PE-Brasil. ORCID ID: https://orcid.org/0000- 0002-9230-3409. E-mail: gusmao.diogenes@gmail.com


Revista ESPACIOS. ISSN 0798 1015
Vol. 41 (Nº 11) Ano 2020

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