A indústria de produtos hospitalares e a infra-estrutura de apoio no interior do estado de São Paulo

The industry of hospital products and the support infrastructure in the inward of São Paulo's State

La industria de productos hospitalarios y de infraestructura de apoyo en el interior del estado de São Paulo

José Henrique Souza y Josmar Cappa

4 - As Empresas Brasileiras de Produtos Médicos no Mercado Internacional

O Brasil na década de 1990 apresentou um aumento brutal das importações. As exportações se elevam a um ritmo bem menor o que resultou nos enormes déficits comerciais a partir de 1995. Ademais, o cenário montado após a implantação do Plano Real implicou em uma nova situação competitiva para as empresas nacionais. A falta de competitividade da indústria nacional, agravada pela valorização da taxa de câmbio após 1994, teve como resultado o fechamento ou perda de competitividade externa de inúmeras empresas brasileiras. Ao final do Governo Fernando Henrique Cardoso a situação comercial brasileira começou a melhorar. O país passou a ter saldos comerciais positivos voltando a atingir 1% das exportações mundiais em 2004, conforme pode ser observado na tabela 04.

As tabelas 05 e 06 mostram que as exportações de produtos para a saúde também cresceram de forma intensa entre a segunda metade dos anos 1990 e a primeira metade da década seguinte. De 1997 a 2004 o volume exportado a preços correntes quase triplicou passando de US$ 115 bilhões para mais de US$ 309 bilhões, isto é 3,38% das exportações mundiais. Somente remédios e produtos farmacêuticos juntos chegaram a ser o sexto grupo de produtos com o maior valor exportado entre 2002 e 2003 (2,67% das exportações mundiais). Perderam apenas para veículos, petróleo, válvulas e transistores, equipamentos de telecomunicação e computadores (Unctad, 2005: 148).

No comércio internacional o segmento de produtos médicos o maior volume corresponde a medicamentos com cerca de 60% das exportações. Em seguida estão os segmentos de produtos farmacêuticos (19,18%), instrumentos médicos (14,08%) e aparelhos de diagnóstico (7,26%). Perto de US$ 184 bilhões do comércio internacional de produtos médicos se devem às exportações de medicamentos inclusive veterinários.

As exportações de produtos médicos cresceram em média 15,27% entre 1997 e 2004. Manteve uma média de crescimento próximo a 20% nos últimos quatro anos estudados, taxa superior ao crescimento das exportações mundiais totais, das exportações mundiais de manufaturados e do PIB mundial. Também foi superior aos 12,1% de crescimento médio anual que o setor apresentou nas décadas de 1980 e 1990 (Unctad, 2004: 93). Esse comportamento implicou na elevação da participação do segmento no total comercializado em escala internacional (ver tabela 06).

As taxas de crescimento das exportações de produtos médicos diferem segundo o segmento. Entre 1997 e 2004 as vendas internacionais de medicamentos cresceram mais de 300%. Entre 2001 e 2004 os grupos de produtos farmacêuticos e de instrumentos médicos triplicaram enquanto as exportações de aparelhos de diagnóstico superaram 178%. Nesse período vários países aproveitaram para elevar suas exportações, como foram os casos da Espanha, China, México e Canadá. Até países de economias mais singelas, como Grécia, Costa Rica, República Tcheca e Malásia aproveitaram o bom momento no mercado de produtos médicos para ultrapassar os volumes exportados por economias industriais maiores e mais complexas como as da Rússia e do Brasil.

Cabe salientar que o mercado internacional de produtos médicos é bastante concentrado. Na tabela 07 pode-se verificar que apenas dez países controlavam 80,41% das exportações em 2004. Em termos de volume importado (tabela 8) os Estados Unidos importaram mais de US$ 50 bilhões (16%) de todos os produtos médicos exportados no mundo. Dos dez maiores importadores, oito estão entre os 10 maiores exportadores o que reflete a concentração do gasto em produtos hospitalares no ambiente mundial. Concentração que vem se agravando se notarmos que os 10 maiores importadores compraram 60% dos produtos médicos comercializados no mercado internacional em 1997 e 70% em 2004. Apenas 30, de um total de 179 países, importaram, em 1997, 87,26% de todos os produtos médicos negociados no mercado externo e mais de 91% em 2004. Estados Unidos, Bélgica, Alemanha, Reino Unido e França, importaram metade de todos os produtos para a saúde em 2004. Desse modo, vem aumentando a concentração da produção, da competitividade e do gasto ligado à indústria de produtos para saúde.

Obviamente que grande parte do volume comercializado entre países deve-se a relações internacionais entre unidades de uma mesma empresa. Entretanto, algumas nações, como a Irlanda, por exemplo, apresentam volumes exportados imensos e diminutos valores importados o que sugere que elementos nacionais influenciam na capacidade de penetração das empresas no comércio internacional de produtos médicos. Assim, a origem do capital das empresas, sua curva de aprendizagem e a disponibilidade de fornecedores, tecnologia, grandes mercados e força de trabalho qualificada devem ser elementos constitutivos da análise do comércio internacional de produtos médicos.

O mercado brasileiro é o vigésimo quarto maior importador de produtos médicos enquanto que as empresas instaladas no Brasil ocupam a trigésima segunda posição como grupo exportador, embarcando apenas 0,17% de todos os produtos médicos negociados entre países (tabelas 07, 08 e 09). Tal desequilíbrio mostra que o mercado brasileiro representa uma fronteiras de expansão para fabricantes locais já que o Brasil só não tem um saldo negativo maior do que dez entre 179 países.

Aproveitando a expansão acelerada do comércio internacional de produtos médicos as empresas brasileiras elevaram suas exportações entre 1997 e 2004. Ocorre que dada a enorme diferença entre o que o país importa e exporta, o déficit comercial, por volta de US$ 1,9 bilhão, representa um mercado enorme que pode ser ocupado pelos fabricantes nacionais nos quatro grupos pesquisados, conforme demonstra a tabela 08. As exportações das empresas brasileiras apresentam um perfil mais acentuado em produtos farmacêuticos e instrumentos médicos em comparação com o mercado mundial. Essa distribuição sugere que as empresas brasileiras conseguem se inserir nos segmentos com menos tecnologia e engenharia incorporada. Nos segmentos que demandam grandes investimentos em P&D e engenharia, como medicamentos e aparelhos de diagnóstico, as empresas instaladas no Brasil perdem espaço em termos relativos ao volume negociado internacionalmente por grupo.