Espacios. Vol.29 (2) 2008. Pág. 18

A indústria de produtos hospitalares e a infra-estrutura de apoio no interior do estado de São Paulo

The industry of hospital products and the support infrastructure in the inward of São Paulo's State

La industria de productos hospitalarios y de infraestructura de apoyo en el interior del estado de São Paulo

José Henrique Souza y Josmar Cappa


3 – O Interior Paulista e o Centro Cargueiro de Viracopos

A importância do transporte para a região de Campinas remonta ao período colonial. Pelo “Caminho das Minas dos Goyases” transportava-se, por meio de muares, parte do açúcar da região Sudeste no final do século XVIII em direção à Europa. Por Campinas passavam tropas sulistas e paulistas que abasteciam com alimentos e muares as Minas Gerais. No século XIX, a região tornou-se entroncamento viário quando suas ferrovias passaram a receber, armazenar e transportar o café do interior do estado para o Porto de Santos. Essa posição foi reafirmada com a abertura das rodovias no século XX. No século XXI a região passará a contar com um centro cargueiro aeroportuário, o Aeroporto Internacional de Viracopos.

Entretanto, o transporte aéreo de cargas depende de outros modais. Assim, a infra-estrutura viária atual constitui uma vantagem adicional para as empresas. Viracopos conta com um sistema viário, amplo e integrado, formado pelas Rodovias Anhangüera, Bandeirantes, Dom Pedro I, Adhemar de Barros e Santos Dumont. Tais rodovias permitem acesso a todo o Estado de São Paulo, além dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná. A Rodovia Anhangüera é a principal via de transportes e comunicação entre a capital do estado e os municípios do interior. Ao lado da Rodovia Bandeirantes, a Anhangüera forma um sistema viário que liga as regiões metropolitanas de São Paulo e da Baixada Santista, o Porto de Santos, Ribeirão Preto, Uberaba e Uberlândia.

A Rodovia Santos Dumont liga a Região Metropolitana de Campinas à Sorocaba, Piracicaba e às fronteiras dos estados de Mato Grosso e Paraná. A conexão entre Campinas e o início da Hidrovia Tietê-Paraná pode ser feita também por meio da Santos Dumont e pela rede ferroviária disponível que permite acesso ao Porto de Santos e, na direção oposta, a Mato Grosso do Sul e a Bolívia.

A Rodovia Dom Pedro I permite acesso ao município de Guarulhos, Vale do Paraíba, ao sul do estado de Minas Gerais ao Rio de Janeiro. A partir da Rodovia Dom Pedro I é possível também acessar a Rodovia Governador Adhemar de Barros e o Pólo de Alta Tecnologia de Campinas, um dos dois centros tecnológicos da América do Sul (PMC/SCI, 2001). Nessa área encontram-se várias indústrias de alta tecnologia (informática, telecomunicações, química fina e biologia) e centros de ensino e pesquisa como: Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Universidade Paulista (Unip), Centro de Pesquisa de Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), Companhia de Desenvolvimento Tecnológico (Codetec), Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Instituto Tecnológico para Alimentos (ITAL), Coordenadoria de Assistência Técnica Integrada (CATI), Instituto de Zootecnia (IZ), Instituto Biológico (IB), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Centro de Pesquisas Renato Archer (Cenpra), Laboratório Nacional de Luz Síncroton (LNLS), Observatório Capricórnio e a Fundação Tropical de Pesquisa e Tecnologia “André Tosello”.

Os centros cargueiros aeroportuários constituem verdadeiras cidades aeroportuárias devido à expressiva dimensão físico-territorial que adquirem e à crescente importância que exercem na indução do desenvolvimento das regiões onde estão instalados. Com centros de negócios, serviços e empresas, geram um volume considerável de empregos, rendas e tributos. Permitem a obtenção de vantagens competitivas nos mercados regional, nacional e internacional ao fazerem parte do processo produtivo de várias empresas instaladas na sua área de influência (Serra, 1979; Palhares, 2001; Cappa, 2004).

O Aeroporto de Viracopos, por exemplo, atende empresas de 430 municípios brasileiros, sendo: 266 da região Sudeste (61,9%); 130 da região Sul (30,2%); 24 do Nordeste (5,6%); 6 do Centro-Oeste (1,4%); e 4 da região Norte (0,9%). No seu interior estão instaladas 274 empresas, sendo 52,2% empresas de logística, 23,2% lojas e serviços e 24,5% empresas aéreas. Gera 6.274 empregados diretos e 10 mil indiretos operando rotas aéreas semanais para os principais centros distribuidores no mundo (Infraero, 2005).

A inserção de Viracopos na economia mundial deverá expandir-se ainda mais porque está projetado pela Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária (Infraero) para tornar-se centro cargueiro da América Latina entre 2010 e 2015 (Infraero, 1998).

Nos últimos anos pode-se notar (Tabela 1) que o crescimento da participação aérea na distribuição intermodal brasileira vem crescendo acentuadamente, acompanhando as tendências internacionais.

Tabela 1
Distribuição do transporte no Brasil (em %)

Ano

Rodoviário

Ferroviário

Aquaviário (1)

Aéreo

1950

38,0

29,2

32,4

0,4

1955

52,7

21,2

25,8

0,2

1960

60,5

18,7

20,6

0,1

1965

67,5

17,6

14,6

0,2

1970

73,0

15,7

11,2

0,1

1975(2)

67,8

19,5

10,5

2,3

1980

59,3

24,6

12,5

3,7

1985

54,4

23,2

18,0

4,4

1990

56,0

21,5

18,4

4,1

1995

57,6

21,2

17,4

3,8

2000

60,5

20,9

13,9

4,7

Fonte: Araújo (2006: 40).

Notas: (1) Até 1970 apenas transporte de cabotagem.
(2) Após 1970 inclui transporte dutoviário.

Quanto ao comércio externo Viracopos, em 2005, movimentou US$ 6,8 bilhões em importações. A segunda posição em importações (ver tabela 02), incluindo portos e aeroportos, sublinha Viracopos como parte integrante da produção, especialmente, dos segmentos que utilizam o sistema just-in-time para complementar o processo produtivo por meio da importação de peças, partes e componentes de alto valor unitário.

No que se refere às exportações, o Porto de Santos também ocupa a primeira posição seguido pelos portos de Vitória e Paranaguá. Viracopos ocupa a 12a posição, sendo o segundo maior exportador entre os aeroportos brasileiros (ver Tabela 03).

Tabela 2
Participação de Viracopos nas Importações Brasileiras em 2005

Porto

US$

Participação

Acumulado

Ranking

Santos

19.616.855.926

26,67%

26,67%

1

Campinas - Aeroporto

6.881.732.911

9,36%

36,03%

2

Vitória - Porto

5.548.321.739

7,54%

43,57%

3

São Paulo - Aeroporto

4.646.970.954

6,32%

49,89%

4

Paranaguá

4.527.202.382

6,16%

56,04%

5

Rio de Janeiro - Porto (Sepetiba)

3.659.962.676

4,98%

61,02%

6

Porto Alegre - Porto

3.135.378.206

4,26%

65,28%

7

Manaus - Aeroporto

2.732.420.085

3,71%

69,00%

8

Rio de Janeiro - Porto

2.604.957.807

3,54%

72,54%

9

Uruguaiana - Rodovia

2.566.109.057

3,49%

76,03%

10

Manaus - Porto

2.512.611.634

3,42%

79,44%

11

Rio Grande

2.457.227.808

3,34%

82,79%

12

São Sebastião

2.273.687.417

3,09%

85,88%

13

Aratu - Porto

1.814.283.359

2,47%

88,34%

14

Itajaí

1.637.328.032

2,23%

90,57%

15

Total

73.551.417.513

 

 

 

Fonte: MDIC, 2007. Elaboração dos autores.

Com base em dados retirados do Ministério do Desenvolvimento (MDIC, 2007) notamos que aproximadamente 28% das importações e 20% das exportações que passam por Viracopos se referem a reatores nucleares, caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos mecânicos. Máquinas, aparelhos e materiais elétricos e aparelhos de gravação ou de reprodução de som e imagens representam 55% do total embarcado. Tais dados mostram que Viracopos concentra embarque de produtos de alta tecnologia. Isso demonstra que o aeroporto de Campinas possui qualificações técnicas para operar embarque e desembarque de produtos sensíveis e de grande valor agregado.

Tabela 3 - Participação de Viracopos nas Exportações Brasileira em 2005

Porto

US$

Participação

Acumulado

Ranking

Santos

32.798.723.651

27,7%

27,7%

1

Vitória - Porto

11.327.847.574

9,6%

37,3%

2

Paranaguá

8.594.781.880

7,3%

44,6%

3

Rio Grande

7.140.892.643

6,0%

50,6%

4

Rio de Janeiro - Porto

5.581.456.452

4,7%

55,3%

5

Rio de Janeiro - Porto (Sepetiba)

5.476.716.798

4,6%

59,9%

6

Itajaí

4.897.969.448

4,1%

64,1%

7

Uruguaiana - Rodovia

4.570.191.937

3,9%

67,9%

8

São Paulo - Aeroporto

3.950.974.136

3,3%

71,3%

9

São Luis - Porto

3.827.801.459

3,2%

74,5%

10

Salvador - Porto

3.013.195.188

2,5%

77,1%

11

Campinas - Aeroporto

2.808.787.563

2,4%

79,4%

12

São Francisco do Sul

2.770.759.142

2,3%

81,8%

13

Manaus - Aeroporto

1.750.857.086

1,5%

83,3%

14

Aratu - Porto

1.741.920.505

1,5%

84,7%

15

Fonte: MDIC, 2007. Elaboração dos autores.

[anterior] [inicio] [siguiente]


Vol. 29 (2) 2008
[Editorial] [Índice]