Espacios. Vol.29 (2) 2008. Pág. 17

A indústria de produtos hospitalares e a infra-estrutura de apoio no interior do estado de São Paulo

The industry of hospital products and the support infrastructure in the inward of São Paulo's State

La industria de productos hospitalarios y de infraestructura de apoyo en el interior del estado de São Paulo

José Henrique Souza* y Josmar Cappa**


Contenido


RESUMO:
Este artigo sustenta a hipótese de que o Aeroporto Internacional de Viracopos pode ser um fator estratégico para fabricantes de produtos de alta tecnologia. Como estudo de caso optou-se pelas empresas do segmento de produtos médico-hospitalares, focando sua localização e participação no mercado internacional. Para isso, foram analisados dados sobre as exportações brasileiras por portos e aeroportos e o comércio exterior de produtos médicos de mais de 170 países entre 1997 e 2004. Conclui-se que o segmento estudado pode dispor, na região de influência de Viracopos, de excelentes condições de desenvolvimento desde que apoiado por eficientes políticas públicas.

ABSTRACT:
This article supports the hypothesis that the Viracopos International Airport can be a strategical factor for the high technology manufacturers. As a case study we used the health care companies, its localization and participation in the international market. The article analyzed Brazilian exportations by ports and airports and the foreign commerce of medical products of 170 countries between 1997 and 2004. The work concluded that the Brazilian medical products manufacturers have, in the region of influence of Viracopos, excellent conditions of development with the support of efficient public politics.


RESUMEN:
Este artículo utiliza la hipótesis que el aeropuerto internacional de Viracopos puede ser un factor estratégico para los fabricantes de la alta tecnología. Como un estudio de caso se utilizó las compañías del cuidado médico, su localización y su participación en el mercado internacional. El artículo analiza las exportaciones brasileñas por accesos, aeropuertos y comercio foráneos de productos médicos de más de 170 países entre los años 1997 y 2004. El trabajo concluyó que los fabricantes de productos médicos brasileños tienen, en la región de la influencia de Viracopos, excelentes condiciones de desarrollo por la ayuda de una política pública eficiente.

1 - Introdução

O transporte aéreo internacional poderá crescer de 5% a 6% ao ano entre 2005 e 2025 ficando próximo do crescimento das exportações mundiais de 5,8% ao ano verificado entre 1995 e 2005. O transporte de cargas por aeronaves tornou-se instrumento logístico que articula operações industriais e comerciais entre nações, blocos econômicos e empresas. Dessa maneira, os centros cargueiros aeroportuários tornaram-se fatores importantes para a competitividade sistêmica das empresas que atuam no mercado mundial. Por isso, recebem diariamente elevada quantidade de aeronaves e movimentam significativos volumes de mercadorias.

Os centros cargueiros aeroportuários podem servir de apoio decisivo à competitividade empresarial se operarem em conjunto com os demais elementos da infra-estrutura de transporte e de oferta tecnólogica. Mas como essa infra-estrutura poderia operar e quais ações públicas de suporte à competitividade sistêmica poderiam ser aplicadas para otimizar o uso do maior centro cargueiro da América Latina? Para responder essa questão optou-se por analisar o papel que o Aeroporto Internacional de Viracopos representa para o aumento da competitividade da indústria de material médico hospitalar.

O comércio internacional vem crescendo a taxas nunca antes presenciadas, o que permite que alguns países aproveitem para ganhar posições e promover seus sistemas produtivos. O Brasil, entretanto, não vem demonstrando grandes avanços no segmento de produtos médico-hospitalares.

O interesse dos autores pelo tema da indústria de produtos médicos decorre de sua importância para a melhoria no padrão de vida da população. O segmento produtivo que abastece o sistema de saúde, além de gerar oportunidades de negócio, investimento, renda, contribuições e emprego, aumenta a segurança no abastecimento nacional de produtos essenciais para o bem estar social.

A revolução tecnológica nos sistemas de transporte no último século possibilitou que a difusão rápida de doenças se tornasse uma ameaça real; sobretudo quando lembramos das tendências recentes relativas a aglomerações urbanas excessivas, poluição, terrorismo, desequilíbrio ecológico e pobreza. O crescimento do movimento internacional de pessoas e mercadorias vem favorecendo uma maior insegurança e a adoção de políticas mais severas quanto à vigilância sanitária. Os casos recentes da "gripe aviária" e da "Sars" demonstram que o risco deixou de ser apenas uma possibilidade. Tal cenário exige que os governos, não somente procurem apoiar a criação e absorção de tecnologias em saúde, mas, também, uma capacitação interna na produção de bens médicos. Curiosamente, o modal que pode transportar o risco de uma nova epidemia, também pode ser utilizado para apoiar o desenvolvimento das empresas que produzirão os bens necessário para combatê-la.

O objetivo desse trabalho é justamente verificar se Viracopos pode auxiliar a capacidade competitiva das empresas de material médico-hospitalar.

2 – Metodologia da Pesquisa

A presente pesquisa coletou dados junto a oito fontes de informações. Os dados sobre o transporte internacional de cargas no Brasil foram coletados junto ao Ministério da Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Foram agrupados e analisados dados de 97 capítulos de produtos distribuídos em 111 pontos de embarque e desembarque no Brasil entre 2003 e 2005.

Para visualizar a inserção externa das empresas instaladas no Brasil foram utilizados os dados disponíveis no Handbook of Statistics da “United Nations Conference on Trade and Development” (Unctad, 2005) e no “International Trade Centre” (ITC) (UNCTAD/WTO, 2005). O ITC apresenta dados segundo a classificação “Standard International Trade Classification, Revision 3”. Nesse banco de dados os produtos médicos estão inseridos em 3 seções (5 - Produtos químicos e correlatos, 7 – Máquinas e equipamentos de transportes e 8 – Artigos manufaturados diversos). Da seção 5 foram analisados os grupos de produtos: (541) produtos farmacêuticos exceto medicamentos e (542) medicamentos inclusive veterinários. Da seção 7 foram coletados os dados do grupo (774) Aparelhos médicos de diagnóstico. Na divisão 87 – Aparelhos e instrumentos profissionais, científicos e de controle, foram analisados os dados do grupo (872) Instrumentos médicos (UN/UNSD, 1999).

A diferença entre o “Handbook of Statistics” da Unctad (Unctad, 2005) e os dados apresentados pelo ITC se encontra na seção 5. No “Handbook” o grupo 541 inclui os dados dos grupos 541 e 542 do ITC. Portanto, o grupo 541 do “Handbook of Statistics” incorpora produtos farmacêuticos e medicamentos.

Os dados do “International Trade Centre” são atualizados anualmente. Periodicamente novos países são incluídos nas listagens. Porém, os países incluídos em 2003 e 2004 respondem por menos de 0,5% do total do comércio mundial de produtos médicos. Assim, as atualizações ocorridas entre 1997 e 2004 não alteram significativamente o resultado final e as tendências verificadas no período.

Alguns bens voltados para a saúde humana estão incluídos em grupos como, por exemplo, equipamentos elétricos, produtos de plásticos e borracha, veículos e máscaras. Da mesma forma, os grupos pesquisados no ITC incorporam produtos que não são exclusivamente para uso médico em humanos; produtos veterinários, por exemplo. Alguns produtos podem ser classificados sob diferentes nomenclaturas o que torna praticamente impossível isolar os dados sobre produtos médicos de forma absolutamente precisa. Deve-se ter em mente, também, que parte das exportações se refere à re-exportações de insumos, partes e peças, o que resulta em algum grau de dupla contagem dos dados.

Porém, os problemas apontados acima ocorrem com qualquer que seja o segmento analisado, o banco de dados ou método de classificação de mercadorias. Desse modo, os dados coletados podem ser úteis para estimar e vislumbrar tendências no comportamento das principais economias que participam do comércio internacional de produtos médicos. Com o devido cuidado, os dados disponíveis no ITC servem como ponto de partida para a formação de uma visão “cross-country” do setor produtor de bens para a saúde. Por meio desses dados é possível destacar em quais países as indústrias de produtos médicos vem encontrando condições de desenvolvimento produtivo e competitivo.

Comparando os dados dessa pesquisa com os dados de 1998 apresentados por Furtado e Souza (2001. P. 82 e 84) a diferença não ultrapassa 5%. Em relação aos dados disponíveis no Ministério do Desenvolvimento (MDIC, 2007) a diferença fica por volta de 10%. Confrontando as informações disponíveis no “Handbook of Statistics”de 2005 e no “International Trade Centre” a diferença não chega a 1,0%. Portanto, apesar das limitações os dados são confiáveis.

Para localizar as plantas industriais no Brasil foram utilizados dados da Associação Brasileira das Indústrias de Material Médico-Hospitalar e das listas de fornecedores “Saúde Business”, Associação Brasileira da Indústria de Material Fotográfico e de Imagem e “Brazilian Medical Parts and Services Outsourcing”.

Para corroborar essas informações foram utilizados dados da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais). Nesse banco de dados foram pesquisados os estabelecimentos fabricantes das seguintes classes do CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas): produtos farmoquímicos; medicamentos para uso humano; materiais para usos médicos, hospitalares e odontológicos; aparelhos e instrumentos para usos médico-hospitalares, odontológicos e de laboratórios e aparelhos ortopédicos; aparelhos e instrumentos de medida, teste e controle - exceto equipamentos para controle de processos industriais; e aparelhos, instrumentos e materiais ópticos, fotográficos e cinematográficos.

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* Economista, Mestre e Doutor pela Unicamp, Professor do Curso de Economia da PUC-Campinas. E-mail:  josehenriquesouza@yahoo.com.br
** Economista, Doutor e Pós-doutorando pela Unicamp, Professor do Curso de Graduação em Economia da PUC-Campinas. E-mail: josmar.cappa@puc-campinas.edu.br

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