ISSN 0798 1015

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Vol. 39 (Nº 39) Ano 2018 • Página 27

O perfil empreendedor de agricultores familiares proprietários de agroindústrias no oeste do Paraná - Brasil

Entrepreneurship profile of agricultural and agri-industrial businesses run by families in West Paraná - Brazil

Luciana Oliveira de FARIÑA 1; Samoel Nicolau HANEL 2; Adriano Maciano de JESUS 3; Francielli M. Vanin DEBONA 4; Stefan Hubertus DÖRNER 5; Sandra Tércia Ferneda VENTORIM 6; Graciela Caroline GREGOLIN 7; Marcos Roberto Pires GREGOLIN 8

Recebido: 24/04/2018 • Aprovado: 30/05/2018


Conteúdo

1. Introdução

2. Referencial Teórico

3. Metodologia

4. Resultados e discussão

5. Concluções

Referências bibliográficas


RESUMO:

Foi realizado levantamento quantitativo do perfil empreendedor de 14 agricultores familiares proprietários de agroindústrias na região oeste do Paraná/Brasil por meio de questionário estruturado Dornelas (2001) e adaptado pelos autores. Os resultados mostraram que todos os entrevistados possuíam perfil empreendedor com destaque para a dedicação total, persistência e sacrifício pessoal e o aumento dos resultados em relação à motivação e superação. Estas características indicaram que os entrevistados são muito determinados nas suas atitudes empreendedoras e procuram inovar seus negócios constantemente.
Palavras-Chiave: Empreendimento; Agricultura Familiar; Agroindústria Familiar

ABSTRACT:

This paper analyzed the entrepreneurial profile of 14 family farming and agri-industry properties in West Paraná/Brazil using structured questionnaires such as Dornelas (2001) and adapted by the authors. The results indicate that the participants can be caracterized as entrepreneurs, due to their complete dedication, persistence and personal sacrifice to increase the success of their business. These entrepreneurs are very determined and constantly motivated to innovate their business.
Keywords: Entrepreneurship; Family farming; Family agri-industry.

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1. Introdução

Este trabalho parte do pressuposto de que a produção agrícola familiar, por mais que reconhecidamente dotada de peculiaridades, está também sujeita a interferências internas e externas decorrentes da sua tênue relação com o mercado, assim como qualquer outra atividade, seja ela do industrial ou de serviços. Há de se convir que a agricultura familiar não é unicamente um processo viabilização de renda, pois para muitos ela também se caracteriza como uma atividade cujo sentimento de auto realização aflora, seja esta realização individual, familiar ou comunitária ou também da categoria como um todo. Nesse sentido parte-se do princípio de que

a análise do sucesso de um empreendimento rural deve extrapolar a simples noção de maximização do lucro nas atividades desenvolvidas, conjugando elementos subjetivos como a necessidade de realização dos desejos e aspirações do empresário. Envolve, pois, elementos como o convívio familiar e social, a autonomia decisória e o reconhecimento comunitário (Cella & Peres, 2002, p. 49).

De acordo com Guanziroli, Romeiro, Buainain, Di Sabbato & Bittencourt  (2001), a agricultura familiar na região Sul do Brasil é conhecida nacionalmente pelo peso social, econômico, político, cultural e por seu desenvolvimento. O acesso à terra, o perfil da distribuição de renda, além dos melhores índices de desenvolvimento humano em relação às outras regiões geográficas do País são atribuídos: a diversificação da agricultura, a combinação das rendas não agrícolas e agrícolas e a busca pela qualificação e novas alternativas. Além disso, o desenvolvimento da região é atribuído ao sucesso da agricultura familiar na região geográfica do Sul do Brasil e seu padrão de ocupação territorial com cidades de pequeno e médio porte oferecem boas condições de vida e oportunidades para sua população.

No Paraná, o Censo Agropecuário realizado entre 1995 e 1996 evidencia 369.875 propriedades rurais que ocupam uma área de 15,9 milhões de hectares. Desse total, 6.5 milhões de hectares são ocupados por propriedades familiares que totalizam 321.380 unidades. O Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) referente a esse período do Censo foi de R$ 5,5 bilhões, dos quais R$ 2,7 bilhões representavam o VBP da produção da agricultura familiar (Bertolini, Brandalise & Nazzari [org.], 2010).A área de abrangência do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) na região Oeste do Paraná envolve 30 municípios, onde se encontram 29.166 propriedades que ocupam uma área de 1.090.018 hectares. Destas, 25.678 são propriedades familiares ocupando uma área de 514.506 hectares. O VBP das 29.166 propriedades é de R$ 583,9 milhões, sendo as propriedades familiares responsáveis por R$ 334 milhões do VBP total (Bertolini & outros, 2010).

Dentre as possíveis alternativas, que os agricultores familiares encontraram para melhorar suas condições de vida, uma foi a agroindustrialização da produção agropecuária. De acordo com Peres, Ramos & Wizniewsky (2009) a industrialização dos produtos agropecuários é uma alternativa para a sustentabilidade da agricultura familiar.

O autor destaca ainda que este tipo de atividade também advém do caráter empreendedor de muitos agricultores familiares na busca de alternativas para ampliação da renda familiar, que acabam por encontrar na verticalização da produção uma brecha para escapar das dificuldades encontradas, principalmente as financeiras. A insuficiência de terra e a falta de mão de obra são outros obstáculos comuns encontrados na realidade rural.

A agroindústria é uma forma de organização onde a família rural produz, processa e/ou transforma parte de sua produção agrícola e/ou pecuária, visando, sobretudo, a produção de valor. Ela também se caracteriza por fatores como: a localização no meio rural, a utilização de máquinas e equipamentos e escalas menores, procedência própria da matéria-prima em sua maior parte, ou de vizinhos, assim como da mão-de-obra da família. Pode ainda ser representada como uma rede envolvendo agricultores e suas famílias, vizinhos, pequenos comerciantes urbanos e consumidores (Moschen, Oliveira, Marchi & Adamchuk, 2011, p. 02).

Considerando-se a relevância econômica e agroindustrial da região Oeste do Paraná, o presente estudo pretende diagnosticar o perfil empreendedor dos produtores das agroindústrias familiares rurais registradas ou não. Trata-se descobrir quais características melhor descrevem o perfil empreendedor das agroindústrias familiares entrevistados.

2. Referencial Teórico

Em seguida, são discutidos os conceitos referentes aos termos agricultura familiar, agroindústria familiar e empreendedorismo, necessários para o entendimento do contexto.

2.1 Agricultura e agroindústria familiar

No Brasil, a agricultura familiar conquistou maior espaço nos debates a partir da década de 90, apesar de ser praticada há muito mais tempo no país. Esse aumento das discussões sobre o tema pode ser atribuído a um conjunto de fatores, como aos problemas relacionados à grande concentração fundiária e a diversidade de situações apresentadas pelas regiões brasileiras, ao modelo de organização sociopolítico e econômico, reforçados por segmentos governamentais comprometidos com os interesses dos grandes proprietários, com os interesses internacionais e com o fortalecimento do movimento dos trabalhadores que lutam pelo direito de reconquistar a terra (Martins Silva &Mendes, 2008).

Aproximadamente 60% dos alimentos consumidos diariamente pelas famílias brasileiras são provenientes da agricultura familiar. Além disso, segundo dados do Censo Agropecuário do IBGE 2006, existem 5,2 milhões de estabelecimentos agrícolas. Deste total, 4,4 milhões de estabelecimentos pertencem a agricultores familiares.

Com o avanço do paradigma do capitalismo agrário as disputas entre campesinato e capital podem ser expressas nas relações sociais e nos territórios que produzem. A tradição pode ser o meio de sobreviver à grande transformação: manter-se como produtor familiar em meio ao processo mais geral de proletarização ou de empobrecimento. Nesta perspectiva, as políticas públicas exercem um papel estratégico quanto à inserção dos agricultores familiares no mercado formal e na produção de alimentos para abastecer o mercado interno. Porém, o número de empreendimentos familiares inseridos no mercado formal ou organizados em associações e cooperativas voltadas para a produção e comercialização ainda é reduzido (Fernandes, Welch & Gonçalves 2011).

Em 1995 o governo federal elaborou o Plano Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PLANAF) que posteriormente foi alterado pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). Essa alteração ocorreu pelo fato de que o termo plano exigiria um debate mais aprofundado no Congresso Nacional e suas ações poderiam ser retardadas (Lima, 2001).

A importância do PRONAF, enquanto política pública, é relatada por vários autores. Segundo Castelões (2002), somente os dados referente a pessoas ocupadas, área plantada e produtos produzidos já seriam suficientes para justificar a criação de políticas públicas para o fortalecimento da agricultura familiar. O mesmo autor destaca a importância da geração de emprego local, da diversificação da atividade econômica, a redução do êxodo rural e a possibilidade de desenvolvimento para pequenos e médios municípios. Nesta mesma linha de pensamento, Mattei (2006) verificou correlação positiva entre os sistemas de financiamento do PRONAF e a evolução das quantidades produzidas, não somente em termos de ampliação das áreas cultivadas, mas também em relação à produtividade.

Os conceitos, princípios e instrumentos destinados à formulação das políticas públicas direcionadas à Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais, são compreendidos na Lei da Agricultura Familiar, a Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006. Em seu art. 3º encontra-se a definição do agricultor familiar. Basicamente, o agricultor familiar, para se enquadrar nesta definição, deve possuir uma área de, no máximo, quatro módulos fiscais, empregar predominantemente mão de obra da própria família, ser responsável pela direção do seu estabelecimento rural e ter a renda familiar gerada através do próprio empreendimento (Brasil, 2006). Embora o modelo de organização da agricultura familiar não seja novo, ele vem conquistando cada vez mais importância na formulação e execução de políticas públicas. Contudo, a agricultura familiar como atividade agrícola por si só, vem perdendo espaço na geração de renda. São necessários novos caminhos para preservar a atividade agrícola familiar. Uma das possibilidades é a agregação de valor da própria produção agrícola através da agroindústria familiar.

A agroindústria familiar é uma importante estratégia para reverter as consequências socioeconômicas da modernização conservadora na agricultura e a participação dos agricultores familiares se torna um processo natural, uma vez que sua própria história, sua cultura passa a ser valorizada (Sulzbacher &David, 2009). Através da agroindústria familiar, o produtor se torna ator em dois setores da cadeia produtiva, não somente na produção propriamente dita, mas também na industrialização destes produtos com agregação de valor e importante aumento de renda (Prezotto, 2002). Desta forma, o valor agregado é retido nas zonas rurais e contribui consideravelmente para o aumento das economias camponesas, para o desenvolvimento sustentável e para a permanência da população no meio rural (Wesz Júnior, Trentin & Filipi, 2006). Neste sentido, a agroindústria familiar é caracterizada como propriedade de pequenos agricultores e seu funcionamento visa à verticalização da produção. Geralmente, são os próprios proprietários que executam a produção e industrialização das suas matérias primas. Referente à posse, pode ser exercida por uma única família, ou através de gestão em conjunto, por várias famílias do tipo organizacional grupal ou associativo (Wesz Junior & Trentin, 2007).

2.2 Empreendedorismo e agroindústria familiar

A palavra empreender possui origem na palavra imprehendere do latim. Geralmente, define ações que significam o enfrentamento ou a realização de uma tarefa muito difícil e trabalhosa, baseado em um plano preestabelecido. Nessa perspectiva, posteriormente, surgiu na língua francesa o termo entrepreneur, que denomina pessoas dispostas a assumir riscos e iniciar algo novo (Fischer, Nodari & Feger, 2008). Numa economia, empreendedorismo é de suma importância, pois não leva somente a inovações e mudanças, mas, sobretudo, a rupturas estruturais possibilitando enormes impulsos de crescimento econômico e geralmente muito maiores do que o crescimento natural de uma economia. Trata-se de uma destruição criativa desencadeada pelo empreendedorismo, ou seja, através da inovação abrem-se novas possibilidades de crescimento econômico (Schumpeter, 1982).

Portanto, empreendedorismo é entendido como um processo de inovação que visa à geração de riquezas e à agregação de valora para a sociedade (Filion, 2004). Nessa perspectiva, ao mesmo tempo em que empreendedorismo significa a admissão de possíveis riscos, existe também a possibilidade de recompensas e satisfação pessoal para o empreendedor (Hisrich & Peters, 2004).

Assim sendo, as agroindústrias familiares, de propriedade e gestão do produtor familiar, vêm se mostrando uma importante alternativa para o desenvolvimento sustentável, por possibilitar maior agregação de valor aos produtos, gerar mais postos de trabalho e permitir a obtenção de maior renda às famílias agricultoras. Representam uma forma de empreendedorismo, haja vista que causam rupturas do desenvolvimento rural clássico da agricultura familiar que somente visava à produção primária (Pettan, 2005).

Os desafios desta forma de empreendedorismo já se iniciam na instalação e manutenção das propriedades e são enormes, tanto no que diz respeito ao acesso a crédito, quanto na obtenção de legalização dos empreendimentos, assistência técnica e comercialização de seus produtos. Além disto, existem muitos problemas que acabam interferindo na produtividade e na qualidade da produção, como padrão da matéria prima, racionalização dos processos, higiene e profissionalização das pessoas, uniformidade dos produtos, gestão dos empreendimentos, dentre outros. Por isto, a viabilidade econômica da família rural e sua sustentabilidade, em termos de futuras gerações, dependem da diversificação das opções econômicas no meio rural. Requerem, ainda, a promoção dos conhecimentos necessários ao desenvolvimento de atividades e serviços não agrícolas (Lima & Wilkinson, 2002). Portanto, a agroindustrialização passa a ser importante nas discussões das mudanças mais atuais do sistema agroalimentar e da agregação de valor aos produtos agropecuários. Essas mudanças no agronegócio têm sido intensas nos últimos anos, principalmente em temas que envolvem meio ambiente, incrementos tecnológicos e a necessidade de maior agregação de valor aos produtos voltados aos mercados internos e externos. No que se refere à agricultura familiar, a agregação de valor também é uma necessidade manifestada tanto pelos agricultores, por meio de seus empreendimentos, como pelos agentes de desenvolvimento e pelas próprias políticas públicas (IPEA, 2013). Contudo, diante dos dinâmicos processos de modernização, os agricultores são confrontados com novos cenários em que conhecimentos e habilidades tradicionais são insuficientes para lidar com tais mudanças. Faz-se necessário um perfil diferenciado do profissional familiar, que requer o desenvolvimento de habilidades empreendedoras (Tonelli, 1997). Além disto, o empreendedor precisa mostrar aptidão para desenvolver habilidades em cada ciclo de vida de uma organização, geralmente distintas, umas das outras, pois as organizações são organismos vivos e extremamente dinâmicos (Morgan, 1996). Através de questionários estruturados elaborados por Dornelas, é possível determinar se o entrevistado, proprietário da agroindústria familiar, possui este perfil empreendedor para lidar com estes novos desafios (Dornelas, 2014).

3. Metodologia

O trabalho foi realizado através de entrevista a quatorze agricultores e produtores de agroindústrias no Oeste do Paraná. A pesquisa ocorreu em outubro do ano de 2014, nas respectivas propriedades e lugares de produção. Seguiu-se o modelo de questionário para o perfil empreendedor elaborado por Dornelas (2014) em que cada pergunta possui cinco possíveis respostas: sempre, frequentemente, algumas vezes, raramente e nunca. A pontuação para cada resposta é decrescente numa escala de cinco a um. Os questionários são compostos por cinco grupos que são comprometimento e determinação, obsessão pelas oportunidades, tolerância ao risco, ambiguidade e incertezas, criatividade, autoconfiança e habilidade de adaptação e motivação e superação.

Os questionários foram aplicados de forma igual a todos os produtores. No final dos questionários, é calculada a pontuação do entrevistado é determinado o seu perfil empreendedor conforme as categorias de I a IV.

O tratamento dos dados coletados foi efetuado por meio de métodos descritivos. Calcularam-se as porcentagens dos pontos obtidos nas respostas para determinar quais as características mais importantes dos entrevistados.

4. Resultados e discussão

Os questionários são compostos por cinco grupos de atributos: comprometimento e determinação com seis perguntas, obsessão pelas oportunidades com três perguntas, tolerância ao risco, ambiguidade e incertezas com cinco perguntas, criatividade, autoconfiança e habilidade de adaptação com cinco perguntas e motivação e superação com onze perguntas. Em total, são 30 perguntas fechadas.

São quatro categorias em ordem decrescente que classificam os proprietários das agroindústrias familiares referente ao perfil empreendedor. Na categoria I, numa escala de 120 a 150 pontos, encontra-se o empreendedor clássico. Nela, o proprietário possui o perfil ideal do empreendedor e teria capacidade para se diferenciar dos demais na sua atividade. A categoria II, em que a pontuação deve estar entre 90 e 119 pontos, o proprietário possui muitas características do empreendedor, mas não todas. Às vezes, a pessoa mostra o comportamento típico do empreendedor, porém, existem muitos pontos fracos no seu perfil que devem ser melhorados para se tornar um verdadeiro empreendedor. Nas outras categorias já se encontram pessoas com menos ou nenhuma característica do empreendedor. Uma pontuação entre 60 e 89 pontos classifica o proprietário na categoria III, com poucas características de uma pessoa empreendedora, que, geralmente atua de forma tradicional e não como um realizador. Para as pessoas que se enquadram nesta categoria, deve ser feito um diagnóstico com análise dos pontos fracos e fortes e elaborada uma estratégia para se tornar um empreendedor. A categoria IV denomina pessoas não empreendedoras, com uma pontuação de até apenas 59 pontos. Mas, mesmo para este tipo de proprietário, existe a possibilidade de se tornar um empreendedor, através de uma análise profunda e melhoramento dos pontos fracos, porém, seria um processo mais difícil do que no caso das pessoas que se enquadram nas outras categorias.

O gráfico1 mostra os resultados do perfil e das características empreendedoras das agroindústrias familiares entrevistados. Dos 14 entrevistados, nove mostraram todas as características de um empreendedor sendo classificados na categoria I e cinco muitas características, classificados, portanto, na categoria II. Nenhuma agroindústria familiar se enquadrava nas categorias III e IV.

Gráfico 1
Características empreendedoras dos entrevistados (absoluto e em %)

Fonte: Elaboração própria.

Portanto, constata-se que todas as agroindústrias familiares entrevistadas da região de referência possuem perfil empreendedor.

Os resultados referente aos grupos de atributos podem ser observados no gráfico 2. Comprometimento e determinação obteve a maior porcentagem com quase 89% dos pontos possíveis, seguidos por motivação e superação com 85% dos pontos alcançados pelos entrevistados. Pela pontuação obtida, são os dois grupos de atributos mais importantes para os entrevistados. O proprietário da agroindústria familiar precisa ser uma pessoa omnipresente no negócio e demonstrar determinação extraordinária para seguir com êxito em ambientes muito competitivos e dinâmicos. A motivação deve ser constante e a pessoa que mais possui persistência em superar as dificuldades, é a que mais consegue permanecer no negócio.

Gráfico 2
Pontuação alcançada por grupo de atributos (em %)

Fonte: Elaboração própria

Os outros grupos alcançaram também pontuações elevadas, o que leva a concluir que todos os atributos possuem grande importância no perfil empreendedor das agroindústrias familiares entrevistadas.

Em seguida, foram analisados os grupos de atributos e determinadas também as porcentagens dos pontos alcançados pelos entrevistados. Os resultados do grupo de atributos comprometimento e determinação, sendo o mais importante para os entrevistados,podem ser vistos no gráfico 3. Para o maior entendimento, as perguntas foram resumidas nos itens mais marcantes.

Gráfico 3
Pontuação alcançada no grupo de atributos
comprometimento e determinação
(em %)

Fonte: Elaboração própria.

Todos os itens alcançaram porcentagens elevadas, entre 78 e 97%. Os três mais importantes foram dedicação total com 97%, persistência com quase 93% e sacrifício com 91%, respectivamente. Segundo os entrevistados, o próprio negócio requer dedicação total, o que resulta num comportamento guiado por grande persistência e, muitas vezes, até de certa forma, por sacrifício pessoal. Os outros itens, cumprimento de obrigações e horários e a tomada de decisões preventivas, oscilaram entre 78 e 85% dos pontos possíveis, o que demonstrou que também são características importantes dos entrevistados. Aparentemente, o cumprimento de prazos e obrigações, além de ações que antecipam a solução de problemas, são tão óbvios para os entrevistados, que nem precisam ser destacados.

O gráfico 4 expõe as porcentagens dos pontos obtidos pelos entrevistados referente ao segundo grupo de atributos, obsessão pelas oportunidades.

Gráfico 4
Pontuação alcançada no grupo de atributos obsessão pelas oportunidades (em %)

Fonte: Elaboração própria.

As porcentagens oscilam entre 72 e 85%. São valores elevados, porém inferiores aos do primeiro grupo de atributos. Estes resultados indicam que o conhecimento das necessidades dos grupos consumidores e da criação de valor são inerentes às características dos entrevistados, porém, de destaque menor.

O terceiro grupo de atributos faz referência á tolerância ao risco, ambiguidades e incertezas, como pode ser observado no gráfico 5.

As porcentagens alcançadas também são elevadas, situam-se entre 72 e 87%, mas são inferiores ao do primeiro grupo de atributos. O item que mais se destaca é solução de incertezas nas atividades. Parece que os entrevistados lidam diariamente com situações diferentes, num ambiente muito dinâmico, o que requer uma capacidade muito grande de solução deste tipo de problemas. A tolerância ao estresse obteve somente 80% dos pontos possíveis, o que pode indicar que os entrevistados já estão acostumados com o ambiente dinâmico e que somente poucos acontecimentos podem desequilibrar os empreendedores, dada a grande experiência adquirida em lidar com tais situações.

Gráfico 5
Pontuação alcançada no grupo de atributos tolerância
ao risco, ambiguidades e incertezas
(em %)

Fonte: Elaboração própria

Os resultados das percentagens dos pontos alcançados no grupo de atributos criatividade, autoconfiança e habilidade de adaptação são visualizados no gráfico 6.

Gráfico 6
Pontuação alcançada no grupo de atributos criatividade,
autoconfiança e habilidade de adaptação
(em %)

Fonte: Elaboração própria

Os itens que mais alcançaram pontuação elevada foram costume de realizar de forma diferente (87%), não conformidade com a estagnação (85%) e adaptação fácil a novas situações (80%). São características de diferenciação das pessoas empreendedoras, pois demonstram que uma das características mais importantes do empreendedor é a capacidade de inovação permanente e sua habilidade de lidar com desafios. O item sem medo de falhar alcançou a mais baixa percentagem dos pontos nos resultados da pesquisa. Trata-se de uma das particularidades do proprietário empreendedor, o de ter ousadia e não sentir medo na tomada de decisões. Contudo, esta porcentagem revela que as pessoas entrevistadas nem sempre atuam sem medo de falhar. Parece reger uma preocupação constante no negócio, que é saudável e adrenalina necessária para manter o empreendimento competitivo e inovador.

No que concerne ao último grupo de atributos, motivação e superação, todas as onze características superaram 78% dos pontos possíveis. Para interpretar melhor os resultados, no gráfico 7, foram selecionadas somente as cinco categorias que alcançaram porcentagensacima de 90%. Estes foram aumento dos resultados obtidos com 97%, confiança em si e conhecimento das fraquezas e fortalezas, ambas com 95%, iniciativa com 92% e procura de metas e resultados com 90%.

Gráfico 7
Pontuação alcançada no grupo de atributos
motivação e superação (em %)

Fonte: Elaboração própria

A alta porcentagem do item aumento dos resultados deixa claro que os entrevistados sempre estão à procura de incrementar e melhorar os resultados obtidos. Esta característica está em conformidade com o primeiro grupo de atributos (comprometimento e determinação). O desafio do empreendedor é constante e há inquietude permanente por parte do proprietário em maximizar ainda mais os resultados do próprio negócio. Há eterna busca por inovação e enorme pressão em não perder esta dinâmica, pois um relaxamento pode levar em breve à perda de competitividade do negócio e, nos casos extremos, à extinção do empreendimento. Nesta perspectiva, também é importante um alto grau de confiança por parte do empresário na sua capacidade e uma análise constante de fortalezas e fraquezas de sua atuação.

5. Concluções

O objetivo deste artigo foi analisar o perfil empreendedor das agroindústrias familiares no Oeste do Paraná. Para tal, foram selecionadas 14 agroindústrias familiares na região e submetidas a entrevistas estruturadas nas suas respectivas propriedades. Os questionários seguiam o modelo elaborado por Dornelas (2001) e eram compostos por cinco grupos de características às quais foram atribuídos pontos e seus membros classificados em categorias com características de empreendedores conforme as respostas obtidas. Dos 14 entrevistados, nove foram categorizados como empreendedores com todas as características e cinco com muitas características. Em seguida, calcularam-se as porcentagens dos pontos obtidos em cada resposta para avaliar a importância de cada grupo de atributos e as respectivas características em cada um. Os resultados obtidos indicam que os grupos de atributos comprometimento e determinação e motivação e superação tiveram as maiores porcentagens e consequentemente, foram as características mais importantes dos entrevistados. Dentro destes grupos, as características que mais se destacaram foram dedicação total, persistência e sacrifício pessoal no grupo comprometimento e determinação e aumento dos resultados alcançados no atributo motivação e superação. Pode-se concluir que dedicação total, persistência e sacrifício pessoal são as características mais importantes para se tornar um empreendedor clássico e a base para qualquer outras. Sem estas características, não existe o empreendedor de sucesso. Da mesma maneira, é importante destacar o item aumento dos resultados alcançados, o que significa que a inovação é o segundo elemento básico e necessário para ser um empreendedor de sucesso num ambiente extremamente dinâmico e competitivo. Sem inovação, o empreendedor não consegue sustentar seu próprio negócio. A característica que obteve a menor porcentagem foi o receio de falhar. Aparentemente, os empreendedores entrevistados não são imunes e enfrentados diariamente com este sentimento. Entretanto, o receio de falhar nas atividades pode ser interpretado também como um motor para se manter alerta, motivado e aberto a inovações que são tão essenciais para se manter competitivo e continuar com a agroindústria familiar própria.

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Artigo produzido durante a disciplina de “Tecnologias de Agregação de Valor em Agroindústrias” por alunos do PPGDRS sob a orientação da Professora Dra. Luciana Oliveira de Fariña.

1. Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos. Professora Associada da UNIOESTE/Campus Cascavel e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável Rural ( PPGDRS ) Campus Marechal Cândido Rondon. E-mail: luleal32@yahoo.com.br

2. Graduado em Economia e em Administração, Mestre em Desenvolvimento Rural Sustentável, Professor colaborador da Unioeste Campos de Marechal Cândido Rondon - PR

3. Graduado em Tecnologia em Alimentos. Professor de química na Secretaria de Educação do Estado de Santa Catarina.

4. Engenheira de pesca, Mestra em Desenvolvimento Rural Sustentável.

5. Doutor em Desenvolvimento Regional e Agronegócio pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Professor Associado do Instituto Federal do Maranhão, Campus Pinheiro

6. Graduada em Engenharia Agronômica, Mestre em Desenvolvimento Rural Sustentável. Tutora em Psicultura e Perita Agrícola.

7. Graduada em Nutrição, Especialista em Segurança Alimentar e Nutricional, Mestre em Desenvolvimento Rural Sustentável, Professora da Faculdade de Pato Branco (FADEP), Professora da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS).

8. Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Publicidade e Propaganda. Tecnólogo em Gestão de Cooperativas, Mestre em Desenvolvimento Rural Sustentável. Graduando em Gestão do Agronegócio e Doutorando em Extensão Rural - UFSM.


Revista ESPACIOS. ISSN 0798 1015
Vol. 39 (Nº 39) Ano 2018

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