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Espacios. Vol. 37 (Nº 30) Año 2016. Pág. 24

Biblioteca: uma parceira estratégica na gestão de um curso de graduação em Engenharia de Produção

Library: a strategic partnership in the management of an undergraduate program in Industrial Engineering

Augusto da Cunha REIS 1; Renata Pereira OLIVEIRA 2; Roberta de Sousa BATISTA 3; Osvaldo Luiz Gonçalves QUELHAS 4; Pedro Senna VIEIRA 5

Recibido: 02/06/16 • Aprobado: 21/06/2016

Conteúdo

1. Introdução

2. Referencial teórico

3. Metodologia

4. Análise e discussão dos resultados

5. Considerações finais

1. Introdução

As Instituições de Ensino Superior (IES) são organizações prestadoras de serviços que oferecem, além de serviços educacionais, outros tais como: bibliotecas, lanchonetes, orientação pedagógica e profissional, serviços de impressão e fotocópia e até postos bancários (Ribeiro, Leite, & Lopes, 2014, p. 11). Dentro deste contexto a biblioteca universitária contribui positivamente para que a instituição de ensino superior alcance a sua missão e excelência acadêmica (Rehman, 2013).

As bibliotecas universitárias (BU) compram, organizam, preservam e disseminam a informação para alcançar este objetivo. Adicionalmente, as bibliotecas universitárias oferecem diferentes tipos de serviços, disponibilizam coleções de periódicos, livros e revistas, acesso à internet e espaços de estudo em grupo e individual (Khan, Rehman, & Rehman, 2013, p. 10). No Brasil, destacam-se os esforços direcionados à avaliação de bibliotecas universitárias no âmbito do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). O Sinaes foi criado por meio da Lei nº 10.861, de 14 de abril de 2004, que instituiu a avaliação das Instituições de Ensino Superior (IES) e cursos de graduação e do desempenho dos estudantes de forma integrada (Freitas, Bolsanello, & Viana, 2008, p. 90).

Segundo Marra (2012), as IES podem ser consideradas como uma das maiores e mais importantes instituições produtoras de conhecimento científico que um país pode ter. Neste sentido, as BU desempenham um papel estratégico, pois este setor administra o acesso às bases de dados de periódicos, armazena os livros, revistas que serão utilizados na produção de artigos científicos submetidos a congressos e revistas nacionais e internacionais.

Tendo em vista o contexto, este trabalho tem como objetivo investigar e discutir as implicações práticas de um projeto de parceria entre biblioteca e departamento de Engenharia de Produção cujo objetivo era fomentar a consulta dos discentes aos livros do ciclo profissional em Engenharia de Produção.

Este artigo está dividido em 5 seções, sendo esta a primeira e introdutória. Na segunda seção é realizada uma revisão na literatura contemplando os principais assuntos abordados com o objetivo de fundamentar academicamente o artigo. A terceira seção apresenta o método de pesquisa utilizado. A quarta seção descreve o estudo de caso e analisa de forma detalhada os principais achados deste estudo. A quinta e última seção realiza o fechamento do artigo apontando possíveis direções para pesquisas futuras.

2. Referencial teórico

Esta seção aborda os principais assuntos tratados neste trabalho e que irão fundamentar academicamente o artigo. O primeiro assunto é a gestão da informação, seguido por bibliotecas universitárias.

2.1 Gestão da Informação

O surgimento do campo de gestão da informação como uma área de pesquisa acadêmica e prática vai muito além da criação de mais uma área de conhecimento. A gestão da informação perpassa todas as áreas do conhecimento e sua aplicabilidade é vasta em diferentes indústrias. Segundo Huvila (2014), a área de gestão da informação é essencial para áreas de aprendizagem organizacional, educação e toda a parte administrativa de uma empresa. Isso contempla a coleta de dados, transformação de dados em informação, armazenagem e disponibilização desta informação para os tomadores de decisão.

De acordo com Vidotti, Lanzi, & Ferneda (2014) a Ciência da Informação não se caracteriza por guardar registros históricos, nem apenas preservar o conhecimento em acervos intocáveis. O principal papel desta ciência é promover o acesso às informações, utilizando de diversas ferramentas e técnicas que aproximem o público das fontes de conhecimento.

Esta aproximação é de suma importância, em especial, em um ambiente em que há um aumento do contingente informacional no qual qualquer pessoa em qualquer lugar tem acesso a um vasto “mar” de recursos e fontes informacionais, os quais, muitas vezes, apresentam informações não confiáveis, conflitantes e tendenciosas e que podem causar, inclusive, a “desinformação” (Belluzzo, Santos, & Almeida Junior, 2014, p. 70). Neste contexto, Lima, Oliveira, & Santana (2013) destacam que a usabilidade emerge como um conceito importante dentro da gestão da informação. Tal conceito, segundo os autores, consiste em propriedades da interface de um sistema no que diz respeito à sua adequação às necessidades dos usuários, permitindo verificar o desempenho da interação homem-máquina e conhecer sua satisfação quanto às tarefas realizadas e sua aplicação.

Para Carvalho, & Carvalho (2014) o ambiente empresarial e acadêmico com grande volume de informação à disposição suscita maior agilidade e transparência nos processos da comunicação científica. Para tal, os autores afirmam que as instituições de ensino e pesquisa têm buscado alternativas para manter a confiabilidade das informações produzidas, otimizando o tempo necessário para conclusão do ciclo de produção da informação. Essas instituições têm buscado também ampliar o acesso à informação por parte da comunidade interessada, além de atentarem para a preservação digital de seu patrimônio intelectual.

Para Goulart (2014) o livro já esteve ameaçado de desaparecer pela força de outras tecnologias e suportes como, por exemplo, o cinema, a televisão, o game e, mais recentemente, o computador. Colocado sob suspeita nas suas condições de (não) oferecer aos seus usuários informações de forma mais ágil e mais próxima, entre outras (des) vantagens, o livro passou a ser visto por muitos como um suporte ultrapassado e, por isso, presumível de desaparecer. No entanto, em cursos de graduação a quantidade de livros em acervo é um item dentro do critério de recursos didáticos pedagógicos avaliados pelo INEP/MEC que juntamente com outros critérios irão compor o CPC (conceito preliminar do curso). Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP, 2015) o CPC é um indicador de qualidade que visa avaliar os cursos superiores. 

2.2 Bibliotecas Universitárias

As bibliotecas, em especial, as universitárias estão enfrentando uma série de desafios desde aumento dos custos, a transição dos acervos físicos para digitais, avaliação externa realizada pela visita in loco do INEP na avaliação de cursos e o surgimento de novas tecnologias que acabam alterando o relacionamento da biblioteca com o usuário e a comunidade acadêmica na qual a biblioteca está inserida (Johnson, & Lilly, 2012).

Para Cheng (2014), um possível caminho para que as BU enfrentem as demandas da sociedade é o conceito de bibliotecas digitais. Segundo o autor, as bibliotecas digitais fornecem aos usuários uma gama de produtos e serviços que permitem a toda comunidade acadêmica realizar pesquisas, navegar e recuperar informações de maneira rápida e eficiente. A utilização de base de dados eletrônicas de periódicos, por exemplo, permite que as BU disponibilizem um acervo N vezes maior do que se estas tivessem que comprar/assinar periódicos de forma física. Por último, os autores ressaltam que o sucesso ou não de uma biblioteca digital está condicionado ao uso continuado dos usuários que tem uma relação direta na maneira como a biblioteca digital é realizada.

As tecnologias de informação e controle (TIC) propiciaram o surgimento de uma pluralidade de ambientes informacionais digitais e dentro desta categoria macro estão as bibliotecas digitais, compreendidas como um espaço de organização, armazenamento, disseminação e acesso à informação por meio de uma rede de comunicação, proporcionando condições para que os indivíduos possam acessar, criar e recriar textos, produzindo não apenas seus próprios meios, mas também interagindo com um potencial de recuperação da informação nunca antes visto (Lima et al., 2013, p.141).

Islam, Agarwal, & Ikeda (2015) destacam que empresas e organizações que estão enfrentando problemas similares aos das BU tem utilizado como estratégia de mitigação destes problemas a gestão do conhecimento. Ainda conforme os autores, isto torna-se ainda mais pertinente na era da conectividade, uso móvel (smartphones, laptops, tablets), enormes bases de dados digitais e um aumento da relação do mundo digital com o físico, onde o conhecimento não é apenas geridos por uma biblioteca (livros e periódicos), mas criado dentro da biblioteca. Para se alcançar este cenário de gestão do conhecimento os autores destacam que é importante ter uma integração com outros setores dentro da instituição e utilização de tecnologias da informação que irão suportar a troca de informações entre biblioteca e usuários.

Para a biblioteca permanecer relevante para seus usuários, deve redefinir o seu papel no ambiente digital, alavancar seus pontos fortes e inovar para criar serviços ágeis e convenientes (Li, 2006, p. 372). Ainda de acordo com a autora, as BU devem cada vez mais se preocuparem com o nível de serviço prestado a toda a comunidade acadêmica e, de maneira mais ampla, a sociedade como um todo. Para a autora, as BU, em especial, seus gestores devem criar valor para os clientes, empregados, empresários, parceiros de aliança e comunidades através de novos e/ou melhoradas ofertas de serviços / processos / modelos de negócios. Islam et al. (2015) verificaram que o tamanho da biblioteca está positivamente relacionado com a inovação em serviços de referência digital e defendem o desenvolvimento de uma cultura de inovação do conhecimento.

3. Metodologia

Esta sessão apresenta o método de pesquisa utilizado no desenvolvimento deste artigo. É a descrição dos procedimentos a serem seguidos durante a execução de um estudo, podendo variar sua estrutura de acordo com as particularidades do projeto. No entanto, algumas informações são importantes e merecem destaque, tais como: coleta de dados e análise de dados (Souza, Assis, Oliveira Neto, & Reis, 2014, p. 473).

A coleta de dados da presente pesquisa foi realizada a partir de duas grandes fontes, ambas situadas na Unidade de Ensino Descentralizada (UnED) de Nova Iguaçu pertencente ao Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ), localizado no estado do Rio de Janeiro, Brasil.

A primeira fonte de coleta de dados foi a biblioteca da UnED Nova Iguaçu. A partir de consultas ao sistema de informação que contempla todo o acervo foi possível extrair relatórios que foram utilizados nesta pesquisa. Estes relatórios buscam identificar quais livros dentro do acervo foram emprestados mais vezes para os alunos e docentes da unidade. Com base nestes relatórios, professores do departamento de Engenharia de Produção selecionaram quais livros são utilizados no ciclo profissional de Engenharia de Produção, o que foi depurado dando origem aos livros e áreas que os alunos mais consultam o acervo da biblioteca.

A segunda fonte de coleta de dados foi o departamento de Engenharia de Produção de Nova Iguaçu. Dentro deste foi solicitado que todos os docentes (temporários e efetivos) fornecessem a sua produção. Esta foi categorizada pelas áreas e conteúdos específicos preconizados pela Associação Brasileira de Engenharia de Produção (ABEPRO, 2015).

A análise de dados da pesquisa consistiu em buscar uma relação entre a consulta do acervo e as publicações realizadas pelos docentes e discentes pertencentes ao departamento de Engenharia de Produção de Nova Iguaçu.

Esta pesquisa não tem a pretensão de ser exaustiva em suas conclusões. E como toda a pesquisa acadêmica possui algumas limitações. A primeira que deve ser destacada reside na abrangência dos dados. Estes foram coletados em um único curso de uma única unidade. Logo, os resultados desta pesquisa estão restritos ao curso em questão. Outra limitação é temporal, pois esta pesquisa está limitada no período de 2011 a 2014. Por último, destaca-se que o curso de Engenharia de Produção na UnED Nova Iguaçu é um curso recente e que completa em 2015 dez anos de existência, ou seja, há um potencial tanto em quantidade de aluno quanto em qualidade e formação. O potencial já pode começar a ser quantificável uma vez que a nota geral do curso é 4 em uma escala que vai até 5.

4. Análise e discussão dos resultados

Nesta seção é descrita a unidade de ensino descentralizada de Nova Iguaçu, bem como os objetivos do projeto de parceria entre o curso de Engenharia de Produção e a biblioteca, ocorrido nos anos de 2012 e 2013. Por último, as tabelas dos 50 livros mais consultados por ano são apresentadas, começando antes do início do projeto (2011) e terminando um ano após (2014).

4.1 O surgimento da parceria entre Biblioteca e Departamento de Engenharia de Produção

Segundo CEFET/RJ (2015), a Unidade de Ensino Descentralizada de Nova Iguaçu (UnED NI) foi inaugurada em 2003 e atualmente possui 3 cursos de graduação (Engenharia de Produção; Mecânica e Controle Automação) e 4 cursos técnicos integrados ao ensino médio. Possui um quadro de servidores com cerca de 40 técnicos administrativos, pouco mais de 120 docentes e entorno de 1.000 alunos regularmente matriculados. A UnED NI opera das 07 horas da manhã até 22:30h.

O projeto de parceria entre a biblioteca e o curso de Engenharia de Produção da UnED NI nasceu da necessidade identificada pelos docentes do curso a partir de um relatório disponibilizado no primeiro semestre do ano de 2011 no qual se percebeu uma baixa consulta dos livros do ciclo profissional de Engenharia de Produção na biblioteca da unidade. Esta baixa consulta aos livros pode gerar alguns malefícios para o curso.

O primeiro é um possível déficit no processo de ensino-aprendizado dos discentes. Como estes não tinham o hábito de consultar a biblioteca e o seu acervo, o aprendizado estava baseado apenas no que era ministrado em sala de aula, o que mais a frente poderia comprometer a avaliação do curso na prova do ENADE e a formação do discente como engenheiro de produção.

Outro fator que pode estar associado é o descasamento entre as ementas das disciplinas e o conteúdo ministrado pelos professores em sala. Por isso, uma atualização das ementas e, principalmente, a associação do conteúdo programático com o acervo disponível na biblioteca era fundamental. Esta associação fomentará um maior interesse do alunado em pesquisar o acervo da biblioteca.

Um terceiro aspecto é a questão do investimento público. Foi realizado a partir de 2009 um investimento forte na constituição de uma biblioteca que atendesse a unidade. Este investimento é mais importante se considerarmos que a unidade de ensino descentralizada do CEFET/RJ está localizada no município de Nova Iguaçu na baixada fluminense. Esta é uma área vulnerável, carente e com pouca opção cultural/educacional. Por isso, um investimento em uma biblioteca de uma instituição pública possui um importante impacto positivo na comunidade acadêmica e do próprio em torno.

Este investimento pode ser traduzido na contratação de bibliotecários, mudança da biblioteca para um espaço físico com uma área aproximadamente quatro vezes maior e climatizada, compra de prateleiras, mesas e cadeiras e ampliação do acervo de livros da biblioteca. Todavia, as bibliotecárias perceberam que este investimento que estava em curso não se traduzia em um aumento da frequência de discente nas instalações e nem em um acréscimo significativo no número de empréstimos do acervo.

A partir desta constatação as profissionais responsáveis pela gestão da biblioteca explicaram a situação para a direção/gerência e para os coordenadores de curso, inclusive para o coordenador do curso de Engenharia de Produção. Este pediu o número de empréstimos dos livros do ciclo profissional de Engenharia de Produção. Neste relatório o coordenador do curso junto com o colegiado percebeu que era necessário realizar algumas ações com o intuito de incentivar os discentes a lerem e consultarem mais o acervo, em especial, os livros do ciclo profissional da Engenharia de Produção.

Neste contexto, os docentes do departamento de Engenharia de Produção junto com as bibliotecárias responsáveis pela gestão da biblioteca firmaram uma parceria para fomentar a utilização do acervo de livros do curso. Esta parceria consistia em dois grandes eixos. O primeiro diz respeito à biblioteca. Esta possuía um papel central no sucesso do projeto uma vez que este setor tinha acesso, por meio do software Sophia, a um amplo banco de dados com todos os registros de empréstimos de livros. Com isso, nesta parceria as bibliotecárias forneceriam durante dois anos mensalmente aos professores os dados sobre a consulta do acervo contemplando mensalmente os 50 livros mais consultados. Adicionalmente, estas profissionais relatariam as suas impressões sobre o andamento do projeto. Estas informações são essenciais para que o Departamento de Engenharia de Produção da Uned NI (DEPRO/NI) pudesse planejar com maior efetividade o seu processo de compra de livros e avaliar a efetividade de suas ações.

O segundo eixo ficava a cargo do departamento de Engenharia de Produção e seus docentes. Estes deveriam manter a sua ementa atualizada, ministrar o conteúdo de suas disciplinas sempre que possível utilizando a bibliografia disponível na biblioteca, identificar livros que eram necessários à sua disciplina e que não constavam no acervo da biblioteca e incentivar os alunos a frequentarem e pesquisarem o conteúdo no acervo da biblioteca.

Com a delimitação do escopo a biblioteca e o DEPRO/NI acordaram que este projeto teria início no ano de 2012 e terminaria no final do ano de 2013. A próxima seção apresenta os resultados deste projeto.

4.2 Os resultados de uma parceria de sucesso

O projeto começou no ano de 2012. O primeiro relatório (tabela 1) entregue pela biblioteca ao DEPRO/NI mostra um cenário nada animador em relação à consulta do acervo por parte do corpo docente e discente de Engenharia de Produção.

Conforme pode ser visualizado na tabela 1, não houve nenhum título do ciclo profissional em Engenharia de Produção entre os 10 títulos mais retirados. O primeiro volume do ciclo profissional em Engenharia de Produção é um livro de ergonomia que totalizou 59 retiradas ao longo do ano de 2011. Se tomarmos como base todos os livros do ciclo profissional de Engenharia de Produção, o total de empréstimos foi de 201 ou 8,22% do total ao longo de todo o ano de 2011, conforme tabela 1.

Ao olharmos especificamente os livros da área de logística e cadeia de suprimentos a situação é pior ainda. Os 50 livros mais consultados no ano de 2011 totalizaram 2.446 empréstimos e os livros de logística e cadeia de suprimentos totalizaram apenas 28 empréstimos o que corresponde a um total de 1,14% do volume total de empréstimos (vide tabela 1). Este número é duplamente alarmante. De um lado, é um volume baixo, pois o livro base da disciplina de logística e transporte teve apenas 28 retiradas, o que corresponde a uma média de 14 retiradas por semestre (menos de uma retirada por semana), um número muito baixo. O segundo ponto preocupante é o fato deste livro ser de uma disciplina das mais importantes do curso o que agrava o resultado negativo. Ressalta-se ainda que dentre os 50 livros mais consultados no ano de 2011, a área de logística e cadeia de suprimentos teve um único livro entre os 50 mais consultados, situado na posição 43 do ranking.

Tabela 1: Consulta ao acervo da biblioteca em 2011 (Autores)

O ano de 2012 teve um movimento curioso. Se por um lado o total de livros emprestados na biblioteca permaneceu praticamente estável (crescimento de menos de 2%), o total de livros do ciclo profissional de Engenharia de Produção teve um crescimento expressivo, conforme tabela 2. Nesta tabela, pode-se notar que os livros do ciclo profissional de Engenharia de Produção mais do que dobraram o seu Market Share, passando de 201 retiradas em 2011 para 535 em 2012, o que totalizou 21,54% do total de retiradas em 2012.

Ao olharmos as retiradas além dos números, pode-se notar na tabela 2 uma evolução qualitativa nas retiradas.

Tabela 2: Consulta ao acervo da biblioteca em 2012 (Autores)

O primeiro ponto que merece destaque na tabela 2 é o quantitativo de livros do ciclo profissional dentre os 50 mais consultados. Destes, 12 são livros de bibliografia básica e complementar de disciplinas da Engenharia de Produção. Além disso, pela primeira vez no histórico da biblioteca há 2 livros de Engenharia de Produção (ciclo profissional) entre os 10 mais consultados, ocupando a sétima e nona posições, respectivamente. A tabela 2 mostra ainda que houve um aumento em várias disciplinas e não apenas nas disciplinas da área de operações (produção e logística), o que denota o esforço e engajamento de todo o DEPRO/NI no sucesso do projeto.

Ao tomarmos por base os livros de logística e cadeia de suprimentos há uma clara evolução. Se no ano de 2011 os livros desta área totalizaram apenas 28 empréstimos ou 1,12% do total, em 2012, encerraram o ano com um total de 162 retiradas ou 6,52% do total. Ademais, se em 2011 havia apenas um livro da área dentre os 50 mais consultados este número pulou para 4 livros. Soma-se a este fato que a posição relativa deste livro dentre os 50 mais pesquisados pulou de 43º posição para 16º lugar. Os demais livros estão classificados respectivamente nas posições 18º, 37º e 40º, ou seja, todos melhores classificados do que o melhor classificado do ano anterior.

O ano de 2013 é o último ano desta parceria de sucesso. A evolução dos resultados é evidente. A primeira constatação a partir da tabela 3 é o crescimento no número de livros emprestados da área de Engenharia de Produção. Dos 50 livros mais consultados da biblioteca, 18 são livros utilizados no ciclo profissional de Engenharia de Produção. Ademais, o livro mais consultado do acervo foi o livro de Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos: logística empresarial do autor Ronald Ballou. Este livro é o livro base da disciplina de Logística e Transporte ministrada no oitavo período do curso. Este título alcançou a impressionante marca de 405 retiradas, o que corresponde a um aumento de 113% sobre o título mais retirado no ano anterior. O número de retiradas deste livro é mais do que o dobro de todos os livros de Engenharia de Produção retirados em 2011.

A biblioteca como um todo também alcançou um aumento expressivo no número de consultas/retiradas de seu acervo. O total de retiradas dos 50 livros mais consultados totalizou 3985, ou seja, um crescimento de mais de 60% quando comparado com o ano anterior. Deste total de retiradas, os livros relacionados ao ciclo profissional de Engenharia de Produção alcançaram 1495 retiradas o que corresponde a 37,52% do total de retiradas, conforme tabela 3. Ainda nesta tabela podemos visualizar que 22,11% das retiradas são da área de logística e cadeia de suprimentos, o que corresponde a um volume nominal de 881 retiradas. Adicionalmente, entre os 18 livros do ciclo profissional de Engenharia de Produção mais consultados, 8 são da área de logística e cadeia de suprimentos. Isso denota, sem sombra de dúvida, o aumento do interesse dos alunos na área de logística e cadeia de suprimentos além de uma familiarização com a biblioteca e a criação de uma cultura de pesquisa em fontes acadêmicas confiáveis.

Tabela 3: Consulta ao acervo da biblioteca em 2013 (Autores)

O ano de 2014 é o primeiro ano após a conclusão deste projeto de parceria entre a biblioteca e o DEPRO/NI. A biblioteca teve um crescimento no número de retiradas pequeno quando comparado com o ano anterior 0,47%, o que corresponde a um total de 4004 retiradas. O ciclo profissional de Engenharia de Produção foi responsável por 15,46% e a área de logística e cadeia de suprimentos por 1,40%, conforme tabela 4.

Embora os números tenham tido uma retração no ano de 2014, alguns fatores explicam esta queda. O primeiro deles é que o próprio término do projeto no ano anterior fez com que houvesse uma desmobilização tanto dos docentes quanto da equipe de biblioteca, logo é natural que haja uma queda na demanda destes títulos. Adicionalmente, o começo da primeira turma de Engenharia Mecânica pressionou positivamente a retirada dos livros do ciclo básico, em especial, o de física que voltou a liderança na retirada, posição esta perdida em 2013 para um livro de logística e cadeia de suprimentos.

Um outro possível fator de redução no número de retiradas foi a decisão do corpo gerencial da unidade de fechar a biblioteca às segundas para abrir ao sábado. Como os funcionários já estavam operando em sua capacidade máxima e no horizonte não havia a possibilidade de contratação de mais funcionários, optou-se por fechar a biblioteca às segundas e abri-la ao sábado. Esta atitude foi desastrosa uma vez que a perda de alunos e retiradas da segunda foi superior ao ganho de retiradas de sábado. Com isso, houve um processo de esvaziamento da biblioteca. Dado aos péssimos resultados desta medida esta foi revogada em meados de 2014, o que não foi suficiente para consertar o efeito negativo nos indicadores da biblioteca.

Um outro acontecimento que pode ter contribuído para a redução do número de retiradas foi a disponibilização do portal de periódico da CAPES em todos os computadores que estavam ligados a rede do CEFET/RJ. Embora o periódico CAPES não seja um concorrente direto do livro, já que reúne periódicos acadêmicos, ou seja, informação mais recente, pode ter alterado alguns padrões já existentes.

Antes da disponibilização do portal, os alunos possuíam um acesso restrito e o livro era basicamente a única grande fonte de consulta. Com o advento da disponibilização desta ferramenta os discentes tiveram oportunidade de acessar conceitos que estavam na fronteira do conhecimento, com isso o livro passou a ser uma ferramenta complementar. Adicionalmente, os livros do ciclo profissional referenciados na confecção do projeto final começaram paulatinamente a terem uma menor participação nas referências dos projetos finais de curso. Isso se deve, em grande parte, a um esforço dos docentes do DEPRO em utilizar os projetos finais como material base para a confecção de artigos acadêmicos a serem submetidos, preferencialmente, para periódicos científicos e não mais congressos. Só a título de ilustração, este novo direcionamento DEPRO fez com que 3 artigos fossem publicados em periódicos (um deles no substrato A2 de engenharias III) além de mais 5 submissões diferentes dos periódicos publicados.

Por último, os discentes começaram a ter um interesse maior na compra dos livros do ciclo profissional. Há dois grandes motivadores para este interesse crescente na aquisição destes títulos. O primeiro é que os livros do ciclo profissional são mais atrativos do que livros do ciclo básico uma vez que são títulos que abordam situações mais próximas a realidade profissional vivenciada pelo discente seja em seu estágio ou trabalho. O segundo é que muitos alunos começaram a vivenciar uma maior dificuldade de inserção no mercado de trabalho, dado a piora na situação econômica do país. Isso acabou gerando uma motivação adicional por parte dos discentes em estudarem para concurso público. Para tal, muitos acabam comprando os livros básicos de disciplina como logística, PCP, engenharia econômico-financeira, qualidade, dentre outras. Esta compra começa para a disciplina e após o término desta o aluno possui o livro para aprofundar os seus estudos com o intuito de prestar um concurso público.

Tabela 4: Consulta ao acervo da biblioteca em 2014 (Autores)

A tabela 5 consolida os números dos dois anos da parceria entre biblioteca e DEPRO/NI (2012 e 2013) e um ano anterior ao projeto (2011) e um ano posterior (2014). É inegável que foi um projeto de sucesso em que os docentes tiveram a oportunidade de trabalhar com profissionais de primeira linha da biblioteca, comprometidos com o desenvolvimento da biblioteca da UnED Nova Iguaçu com o CEFET/RJ e com a sociedade como um todo. O legado para os alunos foi a criação e valorização crescente de uma cultura que privilegia a busca do conhecimento em fontes como livros, periódicos dentre outros. Para os docentes foi uma oportunidade e um aprendizado de como fomentar e melhorar a formação dos alunos com recursos escassos. Para o CEFET/RJ foi uma contribuição para que a instituição estivesse mais próxima de alcançar os seus objetivos estratégicos de levar uma educação tecnológica ao interior, em especial, a baixada fluminense uma região vulnerável e carente situada no estado do Rio de Janeiro. 

Tabela 5: Consulta ao acervo da biblioteca de 2011 a 2014 (Autores)

5. Considerações finais

O objetivo deste artigo era o de examinar as implicações práticas de um projeto realizado em conjunto entre a biblioteca da UnED Nova Iguaçu e o DEPRO/NI, ambos pertencentes ao CEFET/RJ. Tanto o objetivo do artigo quanto o do projeto analisado alcançaram o seu respectivo alvo. O primeiro alcançou o seu escopo ao analisar as implicações práticas e a evolução do projeto, desde a sua concepção até o seu fechamento.

O projeto por sua vez, trouxe algumas implicações importantes. O primeiro é que os discentes começaram a ter uma postura mais ativa acerca da sua formação e da busca do conhecimento, não se limitando apenas a sala de aula. Um outro ponto é que os alunos criaram uma cultura de pesquisa, o que é difícil verificar em um aluno de graduação. Esta cultura por sua vez acarretou que uma vez disponibilizado o portal de periódico da CAPES os discentes rapidamente migrassem do livro para o periódico. Aliado de um incentivo dos docentes a qualidade das publicações no DEPRO/NI sofreu um forte impacto positivo. Para se ter ideia, a consequência mais visível é que docentes junto com discentes do curso de Engenharia de Produção tiveram publicações internacionais, inclusive em periódico A2 em engenharias III. Muito mais do que o número de retiradas, este foi o principal legado desta parceria entre as bibliotecárias da UnED Nova Iguaçu e os docentes do DEPRO/NI.

Como ampliação deste estudo, sugere-se que continuem sendo coletados dados sobre retirada de livros de alunos, assim como do quantitativo de publicações científicas de alunos. Assim, seria possível verificar se há correlação estatística entre esses dois fatores.

Este projeto terminou em 2013, todavia a parceria entre estes dois setores da UnED Nova Iguaçu está longe de terminar. Atualmente, os desafios são outros, tais como: organizar e disponibilizar um banco de dados que contemple toda a produção científica de discentes e docentes do DEPRO/NI; criar métricas relativas a utilização das bases de dados e criação e disponibilização de uma biblioteca digital voltada a área de Engenharia de Produção. Embora estes sejam desafios também se configuram em excelente oportunidade para pesquisa e estudos futuros.

Referências

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1. Professor do Departamento de Engenharia de Produção. CEFET/RJ e LATEC/UFF. augusto@aaa.puc-rio.br
2. Mestranda em Engenharia de Produção. CEFET/RJ. renatapoliveira@gmail.com
3. Mestranda em Sistemas e Gestão. LATEC/UFF. betabiblio@yahoo.com.br

4. Professor do Departamento de Engenharia de Produção. LATEC/UFF. quelhas@latec.uff.br

5. Professor do Departamento de Engenharia de Produção. CEFET/RJ. pedro.sennavieira@gmail.com