Espacios. Vol. 37 (Nº 19) Año 2016. Pág. 10

Evolução da agricultura suportada pela comunidade como um mecanismo de comercialização no Brasil

Evolution of community-supported agriculture as an engine of marketing in Brazil

Liliane Ubeda Morandi ROTOLI 1; Andrea Rossi SCALCO 2

Recibido: 06/03/16 • Aprobado: 29/03/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Contextualizando a agricultura familiar e orgânica

3. Community Supported Agriculture

4. Material e métodos

5. A inserção da CSA no Brasil

6. Conclusão

Referências Bibliográficas


RESUMO:

Os agricultores familiares encontram diversas dificuldades na comercialização dos seus produtos, como assimetria de informação, falta de estrutura para distribuição dos produtos, carência de recursos e ausência de poder de barganha na negociação de seus produtos. Contudo, ao se eliminar o maior número possível de intermediários na comercialização e utilizar mecanismos de canal direto com o consumidor, o agricultor obtém maior eficiência nos seus negócios. Tem-se como um exemplo de canal de distribuição direto o Community Supported Agriculture (CSA). Este modelo é utilizado no Japão, Europa, Estados Unidos e é crescente a adesão deste modelo de comercialização pelos agricultores familiares. A CSA é um mecanismo de comercialização que engloba aspectos sociais, econômicos e ambientais, busca a aproximação do consumidor ao meio rural e valorização do agricultor que produz o alimento. No Brasil, estão se expandindo ações de comercialização com a utilização deste canal, apesar de o estado de São Paulo ser o estado mais representativo na sua utilização. Foram identificados no ano de 2015 19 municípios com iniciativas associadas à CSA no Brasil e mais de 1.200 consumidores associados as comunidades no país, e a expectativa é de um aumento desse número em 2016. Diante da importância desse modelo de comercialização para agricultura familiar e as ações recentes de inserção no país, esse artigo pretende contextualizar a CSA no Brasil buscando entender o modelo de implementação adotado pelas unidades e a caracterização dos consumidores e produtores.
Palavras-chave: Agricultura familiar, Agricultura orgânica, Comunidade que sustenta a agricultura , Canais de comercialização.

ABSTRACT:

Family farmers have several difficulties in marketing their products, such as information asymmetry, lack of infrastructure for distribution of the product, lack of resources and lack of bargaining power in negotiating their products. However, if they can eliminate as many as possible intermediaries in theirs marketing and if they use direct channel mechanism with the consumer, the farmers get efficiency in your business. One exemple of the direct distribution channel is the Community Supported Agriculture (CSA). This model is used in Japan, Europe, United States and it is growing for family farmers. The CSA model encompasses social, economic and environmental aspects, search consumer approach to rural areas and development of the farmer who produces food. It generates higher returns to farmers and lower environmental impact, since the distribution is made locally. In Brazil, it is expanding marketing initiatives with the use of this channel , although the state of São Paulo is the most representative state in its use. In the first quarter 2015 are 19 municipalities with initiatives associated with CSA Brazil and more than 1,200 consumers associated communities in the country, and the expectation is an increase that number in 2016. . Given the importance of this marketing model for family farming and the recent actions insertion in the country, this article seeks to contextualize the CSA in Brazil in order to understand the implementation model adopted by the units and the characterization of consumers and producers.
Key words: Family farm, organic agriculture, Community supported agriculture, marketing channels.

1. Introdução

A contribuição do setor agropecuário brasileiro corresponde a uma importante participação na economia nacional, com geração de divisas e empregos. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o acumulado da balança comercial do setor no ano de 2014 gerou um superávit no montante de US$ 70,38 bilhões, enquanto a balança comercial brasileira apresentou um déficit de US$3,96 bilhões (BRASIL, 2015a), a comparação entre estes valores mostra a relevância do setor agropecuário para a economia nacional. A FAO indica que o emprego na agricultura entre os anos de 2005 e 2010, representam entre 8,7% a 20% do total de empregos no país, sendo que dentre os postos de trabalho na agricultura, tem-se que 77% correspondem a agricultura familiar (FAO, 2013).

A contribuição da agricultura familiar toma dimensões econômicas, sociais, ambientais (ALTAFIN, 2003; SCHNEIDER; NIEDERLE, 2008). A participação da agricultura familiar no Produto interno bruto (PIB) brasileiro foi mensurado por pesquisadores do Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e Universidade de São Paulo (USP) de 1995 até 2005, e correspondia a 9,0% do PIB nacional em 2005 o que equivalia a 173 bilhões de reais (GUILHOTO, et al., 2007). O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) informa que a agricultura familiar representa 38% da renda agropecuária (BRASIL, 2012). Altafin (2007) indica que a agricultura familiar contribui para o abastecimento do país, a segurança alimentar, e a geração de empregos, além de reunir elementos que torna a atividade menos agressiva ao meio ambiente.

A heterogeneidade da agricultura familiar no Brasil é significativa, mesmo depois dos incentivos ao crédito não é possível ressarcir as deficiências históricas que os agricultores carregam, como " baixo grau de instrução do produtor ou do gestor do estabelecimento, falta de infraestrutura para o escoamento da produção, carência de recursos e conhecimentos básicos para a incorporação de novos sistemas produtivos e métodos, entre outras restrições" (BUAINAIN; GARCIA, 2013).

Dentre essas barreiras, podemos citar uma barreira em especial que a pouca habilidade do agricultor familiar nos aspectos relacionados a comercialização de seus produtos (acesso a mercados, negociação, distribuição, atualização de preços, etc...). De acordo com Sousa Filho e Bonfim (2013) a complexidade na comercialização dos produtos agrícolas está crescendo, isto porque ocorre mudanças nos hábitos de consumo, nas exigências de qualidade, necessidade de padronização e escala. Segundo Buainain (2014) para o produtor atender a essas novas exigências da comercialização é necessário mudanças tecnológicas e organizacionais, muitas vezes tais mudanças afetam a competitividade dos agricultores, dependendo do poder de resposta às exigências.

Caso o produtor não se adapte as novas exigências do mercado, não existe a possibilidade do mesmo se manter no sistema. Independente do tamanho da propriedade, é necessário se ajustar aos macro condicionantes institucionais (regras e normas, exigências dos consumidores, tecnologias, políticas gerais e setoriais) (BUAINAIN, 2014).

Contudo, diante das dificuldades também existem oportunidades para os agricultores familiares. Sousa Filho e Bonfim (2013) apontam alguns canais modernos de comercialização para os agricultores familiares, quais são: órgãos governamentais, hotéis e restaurantes, organizações dedicadas à promoção de comércio justo e economia solidária, mercados específicos: produtos orgânicos e étnicos, e agroindústrias processadoras. Araújo (2005) levanta um ponto negativo na comercialização entre os agricultores e as empresas, os abusos comerciais, as redes e intermediários fazem exigências e imposições ao agricultores que levam a uma diminuição na margem de lucro do produto.

Na literatura, pesquisadores como Blum (2001), Araújo (2005), Kambara e Shelley (2002) orientam que para os pequenos agricultores obterem melhores resultados na comercialização como uma rentabilidade eficaz, deve-se eliminar o maior número possível de intermediários, o que corresponde a venda direta ao consumidor. Alguns autores argumentam que vem ocorrendo uma mudança no comportamento do consumidor, relacionada mais a questão cultura do que econômica, em aspectos que relacionam "alimento" e "território". Neste sentido, cresce a importância dos canais chamados "canais curtos", que aproximam o homem (consumidor) do local de produção do alimento, uma vez que diminui a distância entre produção e consumo. Segundo Giare e Giuca (2013), a comercialização de produtos em canais curtos promove uma melhoria na renda do produtor, acesso a produtos frescos e proximidade com o produtor para o consumidor. Além disso, há vantagens relacionadas a proteção ambiental, tais como: redução do consumo de combustíveis, necessidade de refrigeração dos produtos e consumo de embalagens (GIARE e GIUCA, 2013). Entre os canais curtos utilizados pelos agricultores familiares está a CSA - Community Supported Agriculture , que traduzido para o português significa Agricultura Suportada pela Comunidade. Este canal, consolidado na Europa, Estados Unidos e Japão, é um canal representativo para os agricultores (POLE , GRAY 2013; USDA, 2014; ATTRA, 2006). Esta forma de distribuição consiste atualmente na prática de fornecimento de produtos (orgânicos ou convencional) geralmente frutas, legumes e verduras (FLV) de agricultores para consumidores diretos onde é realizado um acordo entre as partes para a entrega desses produtos semanalmente (ATTRA, 2006). No Brasil, esse mecanismo começou ser utilizado por um número pequeno de produtores, e de consumidores, no ano de 2012.

Diante da importância deste canal para os agricultores familiares, uma vez que os canais diretos proporcionam para o agricultor melhoria o preço do produto e menores custos relacionados ao transporte, marketing e negociações, este artigo pretende contribuir para a contextualização do canal de distribuição direto (CSA), especificamente na sua expansão no Brasil, a fim de identificar o modelo de implementação adotado bem como caracterizar os agentes participantes do modelo.

O presente trabalho está dividido em 6 tópicos, sendo a primeira o primeiro tópico esta introdução, o segundo tópico trata da contextualização da agricultura familiar e a agricultura orgânica, e o terceiro tópico descreve-se o contexto histórico da CSA, as características do modelo, suas vantagens e desvantagens para o agricultor. No quarto tópico descreve-se a metodologia de pesquisa para o desenvolvimento do estudo, e no quinto tópico é apresentado a inserção da CSA no Brasil, dados da sua implementação, municípios que a utilizam, número de membros, princípios e objetivos dos projetos de CSA no Brasil. E por último, no sexto tópico, tem-se os comentário finais.

2. Contextualizando a agricultura familiar e orgânica

A agricultura familiar é um importante segmento do agronegócio brasileiro, e vem ganhando maior reconhecimento no país depois que a Food and Agriculture Organization (FAO) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) publicaram um relatório chamado de "Diretrizes de política agrária e desenvolvimento sustentável" no início da década de 1990 em que classificaram a agricultura brasileira em dois modelos distintos: patronal e familiar (AZEVEDO, PESSOA, 2011).  Período que antecede a esta publicação referia-se aos agricultores familiares como o pequeno agricultor, produtor de subsistência, produtor de baixa renda, entre outros (SCHNEIDER, NIEDERLE, 2008; AZEVEDO, PESSOA, 2011).

Os investimentos para a agricultura familiar ocorreu de forma mais consistente no final da década de 90 com a implementação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) que representou mudanças das políticas públicas que até então contemplava somente o modelo patronal (AZEVEDO, PESSOA, 2011). O PRONAF foi uma medida de fortalecimento das unidades familiares que incluíam concessão de apoio financeiro e técnico, em uma tentativa de inserir o agricultor familiar no sistema de mercado (BUAINAIN, GARCIA, 2013).

Em poucas palavras, pode-se definir o agricultor familiar como aquele indivíduo que vive no meio rural e trabalha na agricultura com a sua família, (SCHNEIDER, NIEDERLE, 2008), contudo de acordo com o artigo 3º da Lei 11.326 publicada em 24 de julho de 2006, para se caracterizar como agricultor familiar deve atender aos seguintes requisitos simultaneamente: não deter área maior do que quatro módulos fiscais; utilizar predominantemente mão-de-obra da própria família nas atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento; ter percentual mínimo da renda familiar originada de atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento, na forma definida pelo Poder Executivo; dirigir seu estabelecimento ou empreendimento com sua família (BRASIL, 2006).

A agricultura familiar é mais reconhecida por sua importância na produção de alimentos e absorção de emprego, e pouco observada quanto a geração de riqueza (GUILHOTO, et al., 2007). Altafin (2003) relaciona a agricultura familiar com questões culturais, segurança alimentar, diversidade na produção, desenvolvimento local e geração de renda. Em números, os estabelecimentos familiares correspondem a 84,4% dos estabelecimentos rurais, ocupam 24,3% do território no campo e produzem 70% do alimento consumido no Brasil (IBGE, 2006), estes dados fortalecem a representatividade da ocupação para a economia brasileira.

Dentre a produção dos agricultores familiares, chama atenção a participação na produção de orgânicos, segundo dados da Söl Ecologia e Agricultura, uma organização não governamental, estima-se que 70% dos produtores de orgânicos são da agricultura familiar. Na literatura é possível observar a indicação para que os agricultores familiares participem de mercados diferenciados como forma estratégica de diferenciação e ganho de competitividade (CONEJERO, TAVARES E NEVES, 2013; WHITACKER, 2012).

A Agricultura orgânica tem como característica o não uso de adubos artificiais, respeito com os recursos naturais e consumidores. Ganhou força no início dos anos 70, onde foram publicados estudos que demonstraram os impactos negativos no uso de agrotóxicos no metabolismo da planta, e então emergiu uma forte oposição ao padrão produtivo agrícola. Movimentos para uma agricultura alternativa ganharam força principalmente na Europa, e em 1972 foi fundada em Versalhes, na França, a International Federation of Organic Agriculture Movements (IFOAM) com objetivo de coordenar ações para promoção da agricultura orgânica e pesquisas relacionadas ao setor (IFOAM, 2015).

A consolidação do mercado de orgânicos no Brasil ocorreu depois de episódios como "mal da vaca louca" e contaminações por defensivos agrícolas, que proporcionaram sólidas oportunidades de lucro aos produtores, pois houve uma mudança no comportamento dos consumidores que passaram a valorizar a segurança dos alimentos e a sustentabilidade ambiental (CONEJERO, TAVARES E NEVES, 2013). Segundo Scalco, Oliveira e Cobre (2015) a inserção dos produtores no sistema de produção certificada no Brasil teve como motivos prioritários questões de base ideológicas, ou seja, com respeito às questões ambientais e de saúde do trabalhador, bem como da saúde do consumidor. No entanto, não podem ser ignoradas as questões de mercado, visto que a inserção dos produtores cresceu simultaneamente ao aumento do consumo de produtos orgânicos. Segundo pesquisa realizada por Scalco, Oliveira e Cobre (2015) com 216 produtores de organicos no Brasil, uma parcela de produtores (40,48% dos produtores que se inseriram na atividade entre o período 2004 e 2006) apontaram que a facilidade de venda do produto foi um dos fatores que os influenciaram na inserção do sistema orgânico, sendo este fator considerado por esse grupo de produtores um pouco acima da média geral dos produtores.

Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) o número de propriedades agropecuárias certificadas na produção orgânica teve um crescimento de 51,7% entre janeiro de 2014 e janeiro de 2015, totalizando 10.194 produtores, sendo 13.323 unidades de produção orgânica certificada (BRASIL, 2015b). Os pesquisadores Conejero, Tavares e Neves (2013) observam que o consumo de produtos orgânicos vem crescendo em todo o mundo, o país com maior consumo é a Alemanha, seguido da França. Já no Brasil, os produtos orgânicos mais comercializados são frutas, verduras e legumes que são consumidos por indivíduos das classes A e B, e 85% da produção nacional de orgânicos destina-se a exportação (CONEJERO,TAVARES, NEVES, 2013).

Para a comercialização dos produtos orgânicos de origem vegetal ou animal é necessário a certificação da produção, onde o produtor se vincula a uma certificadora, que disponibilizará a inspeção da propriedade por um técnico da empresa para averiguar se a propriedade cumpre todas as normas especificadas para os produtos orgânicos (CONEJERO,TAVARES, NEVES, 2013), e tal certificação pode ser por auditoria, de terceira parte e certificação participativa (SCALCO et.al ,2014).

Segundo o Instituto de Promoção do Desenvolvimento (IPD) (2011), a maior parte dos produtos nacionais orgânicos é comercializada pelos canais tradicionais: supermercados e hipermercados, estes canais detém juntos 80% das vendas dos alimentos e bebidas orgânicas. No entanto nestes canais de comercialização os produtores ficam condicionados as exigências e imposição das condições das redes e intermediários, o que pode levar a abusos comerciais (ARAÚJO, 2005). Os autores Scalco et. al (2014) verificou essa realidade com uma amostra de 216 produtores orgânicos de todas as regiões do Brasil, os agricultores relataram que supermercados e hipermercados são os que praticam menor preço e o canal que lhes garante melhor remuneração é a venda direta ao consumidor (feiras orgânicas).

Diante dos aspectos mencionados acima, remete-se a possibilidade de um canal alternativo de comercialização direta de alimentos. Sendo assim, o tópico a seguir pretende contextualizar o  modelo CSA como um canal de comercialização alternativo.

3. Community Supported Agriculture

A CSA é considerada um mercado alternativo de incentivo à produção local de alimentos, onde os consumidores realizam um acordo com os agricultores onde contribuem com uma ajuda financeira antes do início do cultivo para cobrir os gastos, fornecendo assim um capital inicial e assumindo os riscos da produção, e em troca recebem semanalmente "cestas" contendo frutas, verduras, legumes (e em alguns casos outros produtos da fazenda como queijo e pão). (USDA, 2014; POLE, GRAY, 2013; CASTELO BRANCO, et al., 2011; ATTRA, 2006).

A literatura internacional indica que o modelo CSA começou no Japão por volta do ano 1960 com o nome Teikei, e foi uma iniciativa de um pequeno grupo de mulheres consumidoras preocupadas com a segurança alimentar (BOUGHERARA, GROLLEAU, MZOUGHI, 2009). Conjuntamente aos consumidores que procuravam alimentos seguros, haviam agricultores que buscavam mercados estáveis, o que os levou a unir-se em parcerias econômicas (USDA, 2014).

Nos Estados Unidos da América (EUA) o modelo de CSA surgiu por volta dos anos 1980, e atualmente as  fazendas CSA's são registradas e cadastradas no banco de dados do Departamento Americano de Agricultura (USDA). Uma publicação da National Sustainable Agriculture Information Service (ATTRA) (2006) revela importantes informações sobre CSA nos EUA, o movimento quando surgiu tomou inúmeras dimensões; sociais, econômicas e ambientais. A ideia original foi restabelecer um senso de conexão com a terra para os moradores urbanos, e promover um forte senso de comunidade e cooperação com um objetivo de justiça social e promover segurança alimentar para os grupos desfavorecidos.

Segundo ATTRA (2006) atualmente nos EUA utilizam-se dois modelos de CSA: acionista (Core Group) ou assinante, e a classificação ocorre de acordo com a participação dos consumidores no modelo. No modelo acionista, tem-se uma CSA estruturada por ações onde existe um grupo que organiza os membros e contrata os agricultores, sendo que este grupo pode ser uma organização sem fins lucrativos e são eles que tomam a maioria das decisões importantes, e o membro (acionista) deve prestar trabalho na fazenda na produção ou no marketing, ou em ambos. Uma CSA em que os membros são assinantes os agricultores que tomam as decisões de gestão,  ou seja organizam-se nos aspectos relacionados a composição das cestas. Nesta situação o membro não precisa ajudar nos trabalhos da fazenda, mas pode frequentar a propriedade. Este último modelo corresponde a 75% de todas as CSA's dos EUA.

É possível identificar diversas vantagens em se adotar a CSA para o agricultor.  O produtor tem certeza da venda dos seus produtos, portanto sobra tempo com atividades produtivas na propriedade (ATANASOAIE, 2011).  Segundo Castelo Branco (2011) tem-se algumas vantagens de se inserir em CSA tais como garantia de capital inicial para a produção, aumento da produção de alimentos locais de boa qualidade com menor impacto ambiental, melhoria na relação no interior da comunidade e a economia local. As desvantagens para os produtores referem-se ao planejamento da produção e manutenção do plantio.

Diante da importância CSA nos EUA a USDA através da Sustainable Agriculture Research and Education (SARE) realizou uma grande levantamento para mapear a construção de redes de CSA em todo o país no ano de 2000.  Conjuntamente a esta pesquisa implementaram-se uma gama de ações, podendo-se citar:

  1. a criação de um diretório nacional de CSA para realizar planos de desenvolvimento de reformas políticas públicas para incentivo de criação de novas CSA's;
  2. incentivos fiscais para tornar a terra mais barata e acessível;
  3. utilização do vale-refeição de funcionários públicos em fazendas CSA;
  4. remoção de barreiras políticas que regem o processo agrícola e de trabalho do aprendiz na fazenda (USDA, 2014).

As ações obtiveram bons resultados, houve um aumento de 25% no número de registros de fazendas/sítios CSA's nos EUA em três anos (ATTRA, 2006).

3.1 Caracterizando os agentes participantes de CSA's

As características das comunidades CSA's são objetos constantes de análise nos EUA, podendo-se identificar ações das comunidades voltadas à Justiça social, Segurança alimentar, Sustentabilidade, Alimentação Local, Qualidade Alimentar. O modelo segue princípios que valorizam o agricultor, como a ajuda mútua entre produtor e consumidor, produção e consumo local, além do preço justo pelo produto e um salário justo para o agricultor (CSA BRASIL, 2014). Pode-se dizer que a CSA reúne consumidores e agricultores com ideologias semelhantes (LASS, LAVOIE, FETTER, 2005). O lucro ou as receitas não é o objetivo principal para o agricultor ao engajar-se em uma CSA, contudo para que ele possa continuar prestando os seu serviço por longo prazo, deve buscar a viabilidade econômica da unidade produtiva (SHRESTHA, 2012).

Os pesquisadores Lass, Lavoie, Fetter (2005) comentam que no Nordeste dos EUA o preço da terra, os custos dos insumos, e impostos são mais altos, o que levam agricultores a procurarem uma diversificação de produtos e mercados, e redução no uso de insumos químicos. A produção orgânica atrai estes agricultores porque o preço dos produtos são mais altos em comparação com os produtos convencionais. Contudo, a agricultura orgânica é mais trabalhosa, uma vez que é mais suscetível a pragas o que aumenta o risco de perda da produção. Assim, os produtores do Nordeste dos EUA  buscam na CSA uma garantia de renda na atividade.

Segundo os autores citados acima, quando existe uma demanda por produtos cultivados localmente, convencionais ou orgânicos, os agricultores podem incentivar o consumo por meio de uma CSA. Os membros são leais e como o produto é diferenciado, existe até certo ponto, um poder de monopólio (LASS, LAVOIE, FETTER, 2005).

Alguns estudos americanos avaliam o perfil dos produtores e a gestão das fazendas CSA, como é o caso do estudo de Sanneh, Moffitt, Lass (2001), onde utilizaram uma análise de eficiência por meio de um modelo estocástico para comparar o lucro líquido por acre das fazendas CSA acionistas (as decisões de gestão são tomadas por um grupo) e assinantes (as decisões de gestão são tomadas somente pelo fazendeiro). Foram amostradas fazendas inseridas em CSA do Nordeste dos EUA durante os anos de 1995-1997, sendo 23 fazendas pesquisadas em 1995, 26 em 1996 e 33 em 1997.

Os resultados do estudo de Sanneh, Moffitt, Lass (2001) indicaram que o preço médio da ação completa para os acionistas foi de US$558,75, enquanto para os assinantes foi de US$312,73 , e as fazendas acionistas tinham maiores número de membros e obtiveram maior renda, despesas e lucro líquido por acre. Os autores buscaram verificar se essas diferenças eram estatisticamente significativas, para isto utilizaram modelos estatísticos de série temporal com dados de corte transversal, e concluíram que os gerentes de fazendas avessos ao risco devem preferir o modelo de acionistas, onde tem-se um grupo tomador de decisão. Quanto ao lucro líquido, os autores indicam que a gestão de acionistas é um meio no qual a CSA pode alcançar a lucratividade para a sustentabilidade à longo prazo.

O consumidor participante de CSA também é foco de estudos, os pesquisadores Bougherara Grolleau, Mzoughi (2009), investigaram os motivos que levam as famílias a participarem de uma CSA na região metropolitana de Dijon e Dole (França). Foram amostradas 169 famílias entre elas, 48 participantes de CSA e 121 famílias não participantes. O levantamento dos dados foi realizado por meio de um questionário enviado no endereço das famílias, esta ferramenta foi construída com base na Teoria da Economia dos Custos de Transação e utilizaram a escala Likert para ponderar as respostas dos itens. As questões dos questionários abordavam variáveis socioeconômicas, ambientais e sociais, tais como: os critérios de escolha para os produtos, confiança em sistemas de certificação de produto orgânico, nível de envolvimento em associações, proximidade do local de distribuição do produto, horário de funcionamento, escopo de produtos, menor uso de químicos na produção, apoio às instituições locais da agricultura, relação com os agricultores e os outros consumidores.

 Para desenvolver a pesquisa os autores criaram dois estratos, e compararam as respostas das famílias utilizando o teste qui-quadrado e o modelo logit. Os resultados indicaram que as famílias membros de CSA são mais jovens, possuem rendimentos financeiros mais elevados e são mais ativos em associações, em comparação com as famílias não membros de CSA. Além disso, foram analisados o impacto de cada variável sobre a participação em CSA (modelo logit), que mostraram que os aspectos de aparência e o número de produtos oferecidos impactam negativamente a participação de uma família na CSA, contudo as variáveis de crédito por atributos ambientais e sociais possuem impacto positivo. Os autores concluem que famílias sensíveis a questões sociais e ambientais são mais susceptíveis a participação em CSA. Sugerem ainda, a utilização das questões sociais e ambientais ligadas a CSA para fortalecer a argumentação da participação das famílias na comunidade por parte dos promotores das unidades.

Os pesquisadores Pole e Gray (2013) buscaram avaliar os supostos benefícios da CSA com membros que participam da comunidade de Nova York, para alcançar o objetivo eles realizaram uma pesquisa on-line por meio de um questionário com 565 membros. Em uma breve descrição dos membros, foi possível observar que as variáveis socioeconômicas mostraram que 84 % dos respondentes são mulheres, a média de idade dos membros foi de 42 anos, 80% consideram-se branco, 47 % possuem graduação, 46% declararam que a renda familiar anual é de U$75.000,00 (categoria de renda média) e 12 % declaram uma renda familiar anual menor de U$35.00,00. Através de testes estatísticos de comparação os pesquisadores constataram que os membros que ingressaram entre 2006 e 2007 se sentem mais integrados na comunidade da CSA em comparação com os membros que entraram em 2012. Os resultados são compatíveis a outros estudos, sendo que os fatores que levam os consumidores a ingressarem na CSA são: garantia de produtos frescos, locais e sazonais.

Na literatura brasileira são poucos os estudos realizados com CSA, podendo-se citar um elaborado por pesquisadores da Embrapa, Castelo Branco et al. (2011), que tiveram como objetivo apontar a viabilidade de utilização  da CSA com um grupo de moradores e agricultores em um município próximo à Brasília. Tanto o grupo de moradores da cidade como o grupo de agricultores eram considerados de baixa renda. Os pesquisadores aplicaram um questionário à 31 moradores da cidade, no qual, a renda destes indivíduos era de até 2 salários mínimos. A maioria dos entrevistados não comprariam cestas dos agricultores por não ter a certeza da produção e acreditavam ser mais fácil ir ao mercado municipal adquirir tais produtos. Somente 2 respondentes citaram como razão para a compra da cesta em ajudar os produtores ou a comunidade (razões sociais), este resultado vai ao encontro com que afirmam autores americanos, onde questões sociais não são as principais razões para a participação nos estágios iniciais desse mercado, pelo menos para os consumidores. No entanto, ressalta-se que são consumidores de baixa renda.

Os agricultores urbanos pesquisados por Castelo Branco et al. (2011) eram participantes de um programa do governo que acabara com o repasse de ajuda financeira para compra de sementes e adubo. Quando indagados a participar de uma CSA não demostraram interesse, pois não conseguiriam garantir a produção devido a área de cultivo ser instável e metade do ano ficar alagada. Os autores observam que os condicionantes para o fracasso da implementação do modelo é a escassa organização social e limitado capital para manter suas lavouras.

4. Material e métodos

Trata-se de uma pesquisa de caráter exploratório, uma vez que trata de um fenômeno que ainda não é claramente conhecido no contexto brasileiro, a CSA. Para a elaboração deste artigo foram utilizados dados secundários por meio de periódicos relevantes no contexto do agronegócio, e ainda coleta de dados primários por meio de um levantamento realizado em CSAs no estado de São Paulo em uma amostra de 241 consumidores em CSAs (numa população de 875 considerando um erro de 5% e um nível de confiança de 90%,), e 13 agricultores (em uma população de 14), e ainda por meio de entrevistas com importantes agentes que contribuíram para a inserção da CSA no Brasil, como o fundador da CSA Brasil. Ressalta-se que no recorte pretendido para esse artigo, os dados buscaram explanar sobre a evolução da participação da CSA no Brasil até o contexto atual.

5. A inserção da CSA no Brasil

O início da formação de CSAs no Brasil ocorreu no Nordeste com a Associação para o Desenvolvimento da Agropecuária Orgânica (ADAO) no Estado do Ceará. Segundo Yamamoto (2006) a orientação para a criação da associação partiu do agrônomo Richard Charity que conheceu CSAs quando realizava estágio na Inglaterra. De acordo com o autor supracitado acima, a ADAO teve inicio em abril de 1997 inspirada nos princípios da CSA com 27 consumidores urbanos da cidade de Fortaleza, um produtor da cidade de Guaraciaba do Norte e um técnico consultor.

No Estado de São Paulo a iniciativa da primeira CSA ocorreu em julho de 2011 com o projeto CSA Demétria na cidade de Botucatu- SP, incentivado pelo alemão Hermann Pohlmann que trouxe a concepção do modelo da Europa (CSA BRASIL, 2014). No início da implementação do projeto, a CSA Demétria contava com 5 membros (consumidores) da cidade de São Paulo-SP e um agricultor localizado em Botucatu-SP que oferecia produtos orgânicos/biodinâmicos oriundos da agroecologia. O projeto cresceu e conquistou novas cidades e membros, e no último trimestre de 2015 a CSA Demétria já está constituída por 320 famílias membros e atende as cidades de Botucatu, Bauru, Ourinhos e São Paulo (Butantã e Pinheiros) e continua com o mesmo produtor. Os produtos são oferecidos semanalmente em um local estabelecido nas cidades, o pagamento é realizado mensalmente, mas sempre antecipado. O valor de uma cesta com 7 itens no ano de 2015 foi de aproximadamente R$ 90,00 mensais, e o de 14 itens correspondeu a aproximadamente R$140,00 mensais.

Diante da procura e interesse de pessoas (principalmente consumidores) de diferentes partes do Brasil no projeto, Hermann juntamente com colaboradores criaram uma associação sem fins lucrativos em 2014, chamada de CSA Brasil. A associação promove cursos de formação em CSA com o objetivo de orientar sobre conceitos filosóficos ligados a terra e agricultura, além de ensinar quais são e como calcular os custos, como encontrar um agricultor, como administrar o projeto, formas legais necessárias, contratos, enfim a operacionalização do modelo (CSA BRASIL, 2014).

No primeiro trimestre de 2015 houve um significativo salto na partcipação de membros e municípios envolvidos na CSA. Aproximadamente 19 municípios com iniciativas de projetos de CSAs vinculadas a CSA Brasil, nos estados de São Paulo, Rio de janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Brasília. O Quadro 1 apresenta informações aproximadas do número de famílias nas CSAs associadas à CSA Brasil. Vale ressaltar que a rotatividade de membros é muito alta.

Quadro 1: Número de famílias que são vinculadas às CSAs associadas à CSA Brasil no primeiro trimestre de 2015.

CSA (Estado e Município

Famílias

CSA (Estado e Município

Famílias

São Paulo

 

Minas Gerais

 

Araras

15

Maria da Fé

11

Bauru

160

Belo Horizonte

67

Boituva

54

Distrito Federal

 

Botucatu

59

Brasília

100

Campinas

100

Rio de Janeiro

 

Corumbataí

35

Rio de Janeiro (Capital)

100

São Paulo (Pinheiros e Butantã)

51

Rio Grande do Sul

 

Presidente Prudente

30

Porto Alegre

20

Indaiatuba

70

Pernambuco

 

Rio Claro

35

Recife

40

São Carlos

84

 

 

Ourinhos

52

 

 

São Paulo (Micael)

45

 

 

Vinhedo

85

 

 

Total

875

Total

338

Fonte: elaborado pelas autoras com base em dados coletados junto às CSAs.

O Estado de São Paulo concentra o maior número de iniciativas e de consumidores do Brasil, conforme observado na figura 1. As CSAs do Rio de janeiro e Brasília são recentes, contudo tiveram boa aceitação da comunidade. O Quadro 1 acima foi formulado segundo as cidades que possuem CSA, mas em uma mesma cidade pode haver mais de uma iniciativa com produtores diferentes, como é o caso de São Paulo.

Figura 1: Localização dos pontos de entrega das CSAs do Brasil em fevereiro de 2016.

Fonte: http://www.csabrasil.org/csa/

Os dados apresentados a seguir compõe os resultados parciais da pesquisa de mestrado de uma das autoras. Pesquisou-se as CSAs do estado de São Paulo para identificar o modelo utilizado e caracterizar os produtores e consumidores. Na primeira etapa da pesquisa foi possível observar como as CSAs estão organizadas quanto ao modelo adotado. As CSAs que possuem um grupo de membros atuantes e se aproximam da definição de Core Groups são as unidades de São Carlos, Boituva, Indaiatuba. As unidades de Presidente Prudente e Vinhedo são os agricultores que tomam todas as decisões, portanto se enquadram no modelo assinante. As demais CSAs possuem as  duas características, por exemplo as unidades de Ourinhos, São Paulo, Bauru e Botucatu possuem um grupo (ou uma única pessoa) organizando os consumidores, porém eles não realizam trabalho voluntário na propriedade e não tomam nenhum tipo de decisão quanto ao planejamento, por exemplo.

Cada CSA procura estabelecer relação somente com um agricultor, ocorre exceção na unidade de Araras, onde são dois produtores cultivando produtos diferentes para a CSA que fornecem. A quantidade de produtores vinculados à CSA Brasil no primeiro trimestre de 2015 eram 24, sendo: 12 em São Paulo, cinco em Minas Gerais, dois no Rio de Janeiro, um no Distrito Federal, um no Rio Grande do Sul e dois em Pernambuco.

Como o estado de São Paulo é mais representativo em termos de quantidade de CSAs estabelecidas, foi feito um levantamento para caracterização dessas CSAs. Assim, quanto aos produtores tem-se: 63,3% são homens; 63,6% produz os produtos da CSA em propriedade própria com menos de 20 alqueires; 45,5% têm sua renda proveniente exclusivamente da CSA; 63,6% utilizam exclusivamente mão de obra familiar na propriedade. Os motivos mais importantes que levam os produtores a vincularem-se à CSA são: a proximidade com o consumidor, risco financeiro reduzido, facilidade de venda, proximidade ao ponto de entrega do produto e motivos ideológicos.

A população de famílias consumidores no Estado de São Paulo apresenta na sua maioria mulheres (78,8%), com média de idade dos indivíduos pesquisados de 45 anos, que está vinculada à CSA entre 6 à 12 meses (30%), sendo que 45,1% dos consumidores possuem pós graduação completa, 33% possui renda familiar mensal entre R$4.000,00 e R$7.000,00, considerado segundo definição de classes por renda mensal, classe A e B.

Com as informações coletadas é possível realizar uma breve comparação quanto ao perfil dos consumidores do Estado de São Paulo com os da cidade de Nova York pesquisados por Pole e Gray (2013). Levando-se em consideração que apesar das rendas diferentes, tem-se que cada país em seu contexto e definição de classe, as duas amostras são de consumidores da classe A e B (classe média alta e alta), as duas amostras convergem quanto a idade média dos consumidores e a amostra brasileira apresenta maior nível de escolaridade frente a americana.

A comunidade CSA busca a troca da cultura do preço para a cultura do apreço, não se pergunta mais para o agricultor quanto custa, mas o que é preciso para ele viver bem e continuar seu trabalho, e assim  valoriza-se o agricultor que produz o alimento e diminui a distância entre produtores e consumidores. Todos os participantes (produtores e membros) devem estar de acordo com os seguintes princípios: Responsabilidade de riscos e benefícios compartilhados; Produtor (a) com prioridade sobre a produção; Transparência nos custos e investimento; Assiduidade e pontualidade nas mensalidades; Assiduidade e qualidade na produção; Tolerância com sazonalidade ou eventuais perdas, Produção no modelo orgânico ou agroecológico (CSA BRASIL, 2014).

Vale ressaltar que existem diferenças entre a CSA e um clube de compras ou serviços de entrega em domicílio, pois nas comunidades existe um olhar social e ambiental, buscam ajuda mútua, diversificação na produção, preços justos para produtor e o consumidor, relações de amizade, aprendizagem mútua, produção e consumo local (CSA BRASIL, 2014). Os Clubes de compra são empresas/produtores que oferecem cestas de verduras, legumes, frutas orgânicas e entregam o produto na casa do cliente, o pagamento é realizado semanalmente ou mensalmente, este tipo de canal de distribuição direto não exige envolvimento do consumidor com o produtor (TONON, 2014).

6. Conclusão

O presente artigo teve o objetivo de apresentar uma alternativa de canal direto de comercialização conhecido como Community Supported Agriculture (CSA) além de contextualizar o modelo inserido no Brasil, bem como caracteriza-lo. O termo CSA foi traduzido e está sendo utilizado no Brasil como Agricultura Sustentada pela Comunidade. Este canal demonstra, por meio de estudos empíricos internacionais, uma oportunidade para agricultores familiares, e tem vantagens tais como dedicação do produtor maior do seu tempo para a agricultura, capital para o início da produção, estímulo à economia local,  alimentos com maior qualidade, menor impacto ambiental.

O movimento CSA aborda aspectos socias como a valorização do agricultor, e maior proximidade dos consumidores com os produtores, aspectos econômicos como a melhoria de renda do agricultor familiar e estímulo da economia local, e finalmente aspectos ambientais como a diminuição do caminho percorrido pelo alimento que muitas vezes provém de centros de distribuição de outras regiões, e caso a produção seja orgânica/biodinâmica tem-se a diminuição do uso de agroquímicos.

As características das CSAs inseridas no Brasil são semelhanças com os modelos internacionais em razão de oferecer alimentos orgânicos, seguir o modelo assinante, e cada unidade de CSA vincular-se a um único produtor. Além disso existe uma forte semelhança entre as famílias membros entre as CSAs como apontado no estudo.

É possível observar a evolução do projeto brasileiro e o aumento do interesse dos consumidores em adquirir alimentos de qualidade, produzidos de forma orgânica. Existe potencial para que o movimento CSA seja seguido em várias regiões do Brasil, porém algumas perguntas ainda devem ser respondidas: Como a forma de organização da CSA contribui para a melhoria e fortalecimento do grupo (produtor e consumidores)? O perfil de consumo da região interfere na decisão de inserção neste mecanismos, seja do produtor, seja do consumidor? Todas essas questões, entre outras, devem ser respondidas em estudos futuros, dado que o universo de pesquisa sobre CSA no Brasil ainda é pouco explorado.

Referências Bibliográficas

ALTAFIN. I. G. Sustentabilidade, políticas públicas e agricultura familiar: uma apreciação sobre a trajetória brasileira. Tese (Doutorado) – Centro de Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Brasília, Brasília. 2003. 225 f.

ARAÚJO, M. J. Fundamentos de Agronegócio. 2.ed. São Paulo : Atlas, 2005.

ATANASOAIE, G. Distribution channels on the organic foods market. In: JOURNAL of Horticulture, Forestry and Biotechnology. 2011.v.15(3), p. 19-25.

ATTRA: National Sustainable Agriculture Information Service. 2006. Disponível em: < https://attra.ncat.org >. Acesso em: 14/08/2014.

AZEVEDO, F. F.; PESSOA, V. L. S. O Programa Nacional de fortalecimento da agricultura familiar no Brasil: Uma análise sobre a distribuição regional e setorial dos recursos. In: Soc. & Nat. 2011. Ano 23. n.3. p. 483-496.

BLUM, R. Agricultura familiar: Estudo preliminar da definição, classificação e problemática. In: Agricultura familiar realidades e perspectivas. 3.ed. Passo Fundo: UPF. TEDESCO, J. C. (Org), 2001. p. 57-104.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. ESTATÍSTICAS E DADOS BÁSICOS DE ECONOMIA AGRÍCOLA. 2015a. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/Pasta%20de%20Fevereiro%20-%202015.pdf>. Acesso em: 16/03/2015.

_____. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Número de produtores orgânicos cresce 51,7% em um ano.  2015b. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/comunicacao/noticias/2015/03/numero-de-produtores-organicos-cresce-51porcento-em-um-ano>. Acesso em 20/03/2015.

_____. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Plano safra da Agricultura Familiar 2012/2013. Jun/2012. Disponível em: <http://portal.mda.gov.br/plano-safra/arquivos/view/Cartilha_Plano_Safra.pdf>. Acesso em: 23/03/2015.

_____. Lei 11.326 de 24 de julho de 2006. Estabelece as diretrizes para a formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11326.htm>. Acesso em:15/01/2015.

BOUGHERARA D.; GROLLEAU G.; MZOUGHI N. Buy local, pollute less: What drives households to join a community supported farm?. Working Papers SMART-LERECO (Structure et Marchés Agricoles, Ressources et Territoires – Laboratoires d'Estudes et de Recherches Economiques). 2009. no. 09-03.

BUAINAIN, A. M. Alguns condicionantes do novo padrão de acumulação da agricultura brasileira. In: O mundo rural no Brasil do século 21:  A formação de um novo padrão agrário e agrícola. 1. ed. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, BUAINAIN, A. M.; ALVES, E.; SILVEIRA, J. M. da; NAVARRO, Z. (Orgs).  2014. v.1. 1159p.

_____; GARCIA, J. R. Os pequenos produtores rurais mais pobres ainda tem alguma chance como agricultores? In: A pequena produção rural e as tendências do desenvolvimento agrário brasileiro: ganhar tempo é possível? Brasília, DF: CGEE, CAMPOS, S. K.; NAVARRO, Z., 2013. p. 29-70.

CASTELO BRANCO M.; LIZ R.S.; ALCANTARA F.A.; MARTINS H.A.G; Agricultura apoiada pela comunidade poderia a experiência dos agricultores  americanos ser útil para os agricultores urbanos brasileiros?. In: Horticultura brasileira. 2011. v. 29. P.43 – 49.

CONEJERO, M. A.; TAVARES, L. S.; NEVES, M. F. Produtos orgânicos: o que é, dimensões e como se habilitar. In: Agronegócios e Desenvolvimento Sustentável: uma agenda para liderança mundial na produção de alimentos e bioenergia. 1. ed. 3. reimpr. São Paulo: Atlas, 2009.

CSA BRASIL. 2014. Disponível em: < http://csabrasil.org/onde-esta-o-csa/> . Acesso em: 15/09/10.

FAO Statistical Yearbook 2013: World food and agriculture Disponível em: <http://www.fao.org/docrep/018/i3107e/i3107e00.htm>. Acesso em 16/03/2015.

GIARE, F e GIUCA, S., Farmers and short chain: Legal profiles and socio-economic dynamics, 2013.

GUILHOTO, J. J. M.; et al. Pib da Agricultura Familiar: Brasil-Estados. Brasília: MDA, 2007. 172 p.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agropecuário (2006). Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 20/08/2014.

IFOAM (INTERNATIONAL FEDERATION OF ORGANIC AGRICULTURE MOVEMENTS). Organic whithout Boundaries. 2014. Disponível em: http://www.ifoam.bio/en/about-us/history. Acesso em: 07/05/2015.

IPD ORGÂNICOS. PESQUISA- O mercado Brasileiro de produtos orgânicos. Curitiba.2011. Disponível em: <http://www.ipd.org.br/upload/tiny_mce/Pesquisa_de_Mercado_Interno_de_Produtos_Organicos.pdf>. Acesso em: 18/08/2014.

KAMBARA, K. M.; SHELLEY, C. L. The California Agricultural Direct Marketing Study. U.S. Department of Agriculture and California Institute of Rural Studies. Davis, 2002.

LASS, D. A.; LAVOIE, N.; FETTER, R. T. Market Power in Direct Marketing of Fresh Produce: Community Supported Agriculture Farms. In: Working Papers form University of Massachusetts Amherst, Department of Resource Economics. n. 2005-2. 2005.

POLE, A.; GRAY, M. Farming alone? What's up with the "C" in community supported agriculture. Agric Hum Values. 2013. v. 30. p 85 – 100.

SANNEH, N.;MOFFITT, l. J.;LASS, D. A. Stochastic Efficiency Analysis of Community-Supported Agriculture Core Management Options. Journal of Agricultural and Resource Economics. 2001. v. 26. p 417-430.

SCALCO, A. R.; OLIVEIRA, S.C.; COBRE, J. Caracterização das motivicões  e entraves para o produtor rural de organicos no Brasil, Espacios. Caracas. v. 36. n. 15. p.14. 2015.

_____; et al.. Fatores limitantes e dificuldades no processo de certificação em propriedades rurais de produção de orgânicos. 52 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural, 2014, Goiânia. Heterogeneidade e suas implicações no Rural Brasileiro, 2014.

SCHNEIDER, S.; NIEDERLE, P. A. Agricultura familiar e teoria social: a diversidade das formas familiares de produção na agricultura. In: FALEIRO, F. G.; FARIAS NETO, A. L. (Ed.) SAVANAS: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade, agronegócio e recursos naturais. Planaltina, DF: Embrapa Cerrados, 2008. p. 989 – 1014.

SHERESTHA, I. Can Community Supported Agriculture be an Economically Viable Approach to Sustainable Agriculture?. Thesis of Degree of Bachelor. Economics Department. Faculty of Mount Holyoke College. 2012. 81 p.

SOUSA FILHO, H. M. de; BONFIM, R. M. Oportunidades e desafios para a inserção de pequenos produtores em mercados modernos. ? In: A pequena produção rural e as tendências do desenvolvimento agrário brasileiro: ganhar tempo é possível? Brasília, DF: CGEE, CAMPOS, S. K.; NAVARRO, Z. (Orgs), 2013. p. 71-100.

TONON, R. Orgânicos em escala. Jornal do Estado de São Paulo. 2014. Disponível em: < http://blogs.estadao.com.br/paladar/organicos-em-escala/ >. Acesso em: 25/03/2015

USDA, United States Department of Agriculture. 2014. Disponível em : <http://www.nal.usda.gov/afsic/pubs/csa/csadef.shtml>. Acesso em: 25/07/2014.

WHITACKER, G. M.. Agricultura orgânica: estratégia capitalista para a (re)produção do espaço rural. In: Revista de Geografia em Atos (Online). 2012, v.1, p.75-94.

YAMAMOTO, A. Por que continuamos juntos? Reciprocidade, mudança cultural e relações de poder entre o urbano e o rural. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Universidade Federal do Ceará. 2006. 145 p.


1. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Agronegócio e Desenvolvimento da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"(UNESP)/ Câmpus Tupã. Mestre em Economia Aplicada – USP/ FEARP . Email: lilianemorandi@yahoo.com.br
2. Docente do Programa de Pós-Graduação em Agronegócio e Desenvolvimento. Professora Assistente Doutora da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"(UNESP)/ Câmpus Tupã.  –. Email:  andrea@tupa.unesp.br


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 19) Año 2016

[Índice]

[En caso de encontrar algún error en este website favor enviar email a webmaster]