Espacios. Vol. 37 (Nº 12) Año 2016. Pág. 15

Escolha entre serviços odontológicos públicos e privados no Brasil: uma análise discriminada por gravidade da doença

Choose between private and public dental services in Brazil: a detailed analysis by disease severity

Gustavo Carvalho MOREIRA 1; Alberes Sousa FERREIRA 2; Nicole Rennó CASTRO 3

Recibido: 06/01/16 • Aprobado: 14/02/2016


Contenido

1. Introdução

2. Referencial Teórico

3. Metodologia

4. Resultados e discussão

5. Conclusões

Referências


RESUMO:

A saúde bucal desempenha um papel fundamental sobre o bem-estar dos agentes econômicos. Neste contexto, o objetivo geral do presente estudo consistiu em investigar a demanda por serviços odontológicos públicos e privados no Brasil, a fim de elucidar como os agentes econômicos se posicionam quando acometidos de males como a cárie, doença periodontal e edentulismo, em seus diferentes níveis de gravidade, frente à oferta de serviços odontológicos no Brasil. Verificou-se que a demanda por serviços privados eleva-se quando os indivíduos são acometidos pelas formas mais graves das doenças bucais.
Palavras–Chave: Saúde Bucal; Demanda por serviços odontológicos; Capital humano

ABSTRACT:

Oral health plays a key role on the welfare of economic agents. In this context, this paper aims to investigate the demand for public and private dental services in Brazil in order to elucidate how economic agents position themselves as afflicted with ailments such as caries, periodontal disease and tooth loss, at different levels severity, compared to the provision of dental services in Brazil. We found that the demand for private services rises when individuals are affected by the most severe forms of oral diseases.
Keywords: Oral Health; Demand for dental services; Human capital

1. Introdução

A saúde desempenha um papel fundamental sobre o bem-estar dos agentes econômicos. Além disso, designa-se como componente fundamental do estoque de capital humano, afetando assim, a produtividade e os rendimentos dos indivíduos (ALVES E ANDRADE, 2002).

Especificamente, a saúde bucal é vista como parte integrante e essencial da saúde geral do indivíduo e, assim, apresenta-se como um fator determinante da qualidade de vida. Ademais, a aparência bucal é tida como importante componente da estética pessoal na sociedade ocidental contemporânea, levando a melhor socialização entre as pessoas – notadamente os jovens - e favorecendo, inclusive, o acesso às atividades profissionais que exigem maior exposição ao público (MELLO, 2006; JENNY e PROSHEK, 1986; FISKE et al., 1990).

As principais doenças que incidem sobre a população, com respeito à saúde bucal, são relacionadas à cárie, doença periodontal e edentulismo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013). A cárie é o problema bucal mais prevalente, e pode ocasionar sofrimento físico e psíquico, como dor, dificuldade mastigatória, constrangimento para sorrir e bloqueios com relação à aparência, levando a problemas com a autoestima e consequentemente diminuição do contato social (MELLO, 2006; LEAKE et al., 1990; PETERSEN, 2003). A doença periodontal acomete o tecido gengival e, além de não isentar os indivíduos dos mesmos males associados à cárie, é considerada em vários estudos como a principal causa da perda de dentes em adultos (FIGUEIREDO et al., 2004). Por sua vez, o edentulismo (ausência de dentes), é percebido como uma consequência de doenças como a cárie e a doença periodontal e, no entanto, ainda é visto na sociedade como um processo natural do envelhecimento (MEDEIROS et al.,2012).

De acordo com a Constituição Federal (Artigos 196 a 200, seção ІІ), é responsabilidade do Estado garantir a provisão de serviços de saúde no país mediante políticas sociais e econômicas, que visem reduzir o risco de doenças e outros agravos à saúde e estabelecer acessibilidade igualitária entre os cidadãos que demandem estes serviços. No entanto, segundo Finkler et al. (2009) o sistema de saúde brasileiro apresenta segmentações, em que há uma segregação quanto à clientela em espaços institucionais específicos e não integrados, afastando-se do idealismo dos chamados "sistemas universais". Dada esta segmentação, verifica-se que a cobertura de serviços de saúde por parte do Estado tem se mostrado insuficiente para atender a demanda por tais serviços e, esta ineficiência, também é refletida sobre a provisão de serviços odontológicos.

O setor de serviços odontológicos privado atua nesse mercado, compensando as ineficiências do setor público na provisão desses serviços. De acordo com Finkler et al. (2009), no regime privado

"o financiamento ocorre por desembolso direto dos indivíduos ou mediante intermediação de organizações empresariais e cooperativas que atuam no ramo de planos privados de assistência à saúde, pagos pelo beneficiário e/ou seu patrocinador. Neste último, opera-se um regime de livre competição de mercado regulado pelo Estado. Assim, os preços de equilíbrio definem o segmento de demanda cujo nível de renda e capacidade de pagamento permitirá receber o serviço e, simultaneamente, o segmento populacional dele excluído."

Embora os serviços odontológicos providos pelo Estado não atinjam todos os segmentos da demanda por tais serviços, é perceptível o avanço quanto à oferta desses serviços no Brasil. Em 2003, o Governo Federal instituiu o programa Brasil Sorridente, com o principal objetivo de garantir a prevenção e recuperação da saúde bucal dos brasileiros, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).

Dados do Ministério da Saúde (2013) apontam que, entre os anos de 2003 e 2006, foram investidos mais de R$ 1,2 bilhões de reais em saúde bucal pelo governo federal. Entre 2007 e 2010, o montante investido apresentou um crescimento de 125%, foram investidos de cerca de R$ 2,7 bilhões de reais. Desse modo, evidenciou-se um aumento no número de atendimentos odontológicos via SUS da ordem de 57% entre 2002 e 2010 – os atendimentos passaram de 86 milhões em 2002 para 147 milhões em 2010. Além disso, verificou-se a ampliação dos postos de trabalho no setor: o número de dentistas trabalhando no SUS subiu de 40.205 para 59.258, consubstanciando um aumento de 47%. A partir desses dados, percebe-se que, em 2010, aproximadamente 30% desses profissionais exercem atividades no sistema público de saúde.

Apesar da importância que os estudos que tentam compreender a aquisição de serviços de saúde possa representar para a sociedade e formuladores de políticas públicas, poucos estudos mostram-se efetivos ao tentar compreender a demanda simultânea por serviços de ordem pública e privada, evidenciando a importância deste trabalho. A compreensão das variáveis que determinam a decisão de aquisição de serviços odontológicos no Brasil mostra-se de expressiva relevância para o entendimento do estado de saúde coletivo da população. Isso porque, a procura por serviços odontológicos pode trazer benefícios à própria população sob a forma de prevenção e/ou erradicação de doenças bucais. Além disso, compreende-se que a manutenção do estado de saúde impacta diretamente no estoque de capital humano (ver Grossman, 1972) da economia e, portanto, na produtividade e no crescimento econômico.

Dada relevância do tema, o objetivo geral do presente estudo consiste em investigar a decisão de aquisição entre serviços odontológicos públicos e privados no Brasil. Especificamente, verifica-se se os agentes econômicos acionam os serviços públicos e privados de maneira distinta, dependendo do nível de gravidade da doença que os assola (cárie, periodontite e edentulismo). A compreensão dos determinantes da aquisição entre estes serviços possibilita a elaboração de estratégias para melhorá-los, orientando políticas públicas e estratégias privadas que possibilitem ampliar e melhorar o acesso a estes serviços no país. Ressalta-se o grau de ineditismo desta pesquisa, dado que, até o momento da realização da mesma, não foram constatados estudos que analisassem a demanda por serviços odontológicos no Brasil.

2. Referencial Teórico

O referencial teórico que norteia este estudo tem como base o modelo teórico de demanda por saúde desenvolvido por Grossman (1972).  De acordo com as premissas adotadas pelo autor, a saúde pode ser considerada um ativo, desse modo, aplicar o conceito de capital ao estoque de saúde do indivíduo não é uma suposição inadequada. No entanto, Grossman (1972) evidencia que o estoque de saúde diferencia-se das outras formas de capital humano por ser capaz de afetar não apenas a produtividade dos indivíduos (como o estoque educacional), mas também seu bem estar. Em particular, ele argumenta que o estoque de saúde determina a quantidade de tempo que os indivíduos alocam entre auferir ganhos monetários e exercer atividades pessoais que lhes tragam maior nível de utilidade. Conforme destaca Brito (2005), a deterioração do estado de saúde dos indivíduos é um fator limitante do tempo disponibilizado para o trabalho e o lazer, afetando a capacidade de receber ganhos monetários e consumir bens.

De acordo com o modelo proposto por Grossman (1972), ao assumir o estoque de saúde como um ativo, pressupõe-se que o mesmo está sujeito à uma taxa de depreciação que varia de acordo com a idade, hábitos de vida e cesta de consumo de bens adquiridos pelo indivíduo. Estas variáveis impactam diretamente sobre o estoque de saúde, destacando a importância que os investimentos neste ativo representam na determinação por serviços de saúde.

O modelo proposto também destaca a importância da relação entre saúde e estoque educacional. Seguindo essa premissa, compreende-se que indivíduos que apresentam níveis mais elevados de educação optam por adquirir bens que tragam mais benefícios à saúde, desse modo, tendem a reduzir a taxa de depreciação de seu estoque de saúde, tornando-os mais saudáveis. Desse modo, são os investimentos em saúde que determinam a demanda pelos serviços (BRITO, 2005).        

3. Metodologia

O primeiro levantamento epidemiológico em saúde bucal realizado no âmbito nacional brasileiro decorre de 1986, tendo sido gerado outra pesquisa no ano de 1996. Ademais, com o objetivo de avaliar a situação do país com relação às metas em saúde bucal propostas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), para o ano de 2000 foi realizado o projeto Saúde Bucal 2000 (SB2000) – tal levantamento, porém, foi concluído apenas em 2003, sendo então denominado projeto Saúde Bucal Brasil 2003. Após o ano de 2003, o último inquérito disponível com relação à saúde bucal no Brasil é o projeto SBBrasil 2010, que foi utilizado no presente estudo. Ressalta-se que todas as pesquisas realizadas foram coordenadas e financiadas pelo Ministério da Saúde.

A pesquisa realizada no ano de 2010, utilizada nesta pesquisa, abrangeu 177 municípios com representatividade para as capitais e para as cinco regiões geográficas. Nesta pesquisa, procederam-se exames bucais na população entrevistada, com o intuito de avaliar a prevalência e a gravidade de problemas bucais, e foram coletadas informações da condição socioeconômica, auto percepção bucal e utilização de serviços odontológicos [4].

3.2. Modelo analítico e variáveis selecionadas

Para analisar a decisão de aquisição dos os serviços odontológicos no Brasil, e relacioná-las com a gravidade da doença, utilizou-se a modelagem econométrica baseada na estimação de regressões em que a variável dependente é binária. Para tal fim, foi utilizado o modelo binário Logit (GREENE, 2012), que pode ser definido a partir de uma variável contínua e não observável yi* tal que:

Com base no modelo Logit, assim como no modelo teórico adotado, a variável dependente da primeira regressão a ser estimada assumirá valor igual a 1 caso o indivíduo tenha realizado uma consulta odontológica no serviço público do SUS em período menor ou igual a um ano, e valor igual a 0, caso contrário. A variável dependente da segunda regressão estimada assumirá valor 1 caso o indivíduo tenha realizado uma consulta odontológica no serviço privado em período menor ou igual a um ano, e 0 caso contrário.

Os dados contidos na SBBrasil 2010, utilizados neste estudo, abrangem todas as regiões brasileiras e as informações referentes a cada variável explicativa selecionada são descritas em sequência.

Variável Cárie: Vetor de variáveis referente à cárie.

Variável Prótese: Vetor de variáveis referentes à necessidade de prótese do indivíduo.

Variável Periodontite: Vetor de variáveis referentes à periodontite.

Variáveis Socioeconômicas: Vetor de variáveis referentes às condições socioeconômicas dos indivíduos

  1. Raça: Variável binária que terá valor 1 caso o indivíduo seja de raça branca e 0, caso contrário.
  2. Sexo: Variável binária que assume valor 1 caso o indivíduo seja do sexo masculino e  0, caso seja do sexo feminino.
  3. Anos de Estudo: Variável discreta que indica o número de anos de estudo do indivíduo.
  4. Idade: Variável discreta com relação à idade do indivíduo.
  5. Número de pessoas da família: Variável discreta que define o número de indivíduos que compõe a família.
  6. Mora na capital: Variável com valor igual a 1 caso o indivíduo resida na capital e 0, caso contrário.
  7. Binária Região: Binária para as regiões geográficas brasileiras tendo como base a região Nordeste.
  8. Renda familiar: renda familiar tendo como base as famílias que recebem menos de 1 salário mínimo, que no ano de 2010 era de R$510,00.

Ressalta-se que o objetivo do presente estudo está em verificar como a demanda de serviços odontológicos públicos e privados varia de acordo com o tipo e nível de gravidade dos principais problemas bucais sofridos pelos indivíduos. As demais variáveis de controle adicionadas ao modelo foram incluídas tendo como base os estudos realizados com relação aos determinantes por saúde bucal.

No trabalho de Gift, Atchison e Drury (1998), construiu-se um modelo teórico com o objetivo de avaliar os determinantes do status de saúde bucal dos indivíduos com relação a múltiplas variáveis. Tal modelo foi elaborado de acordo com outros já existentes na literatura, que tratavam da relação entre comportamento, interações sociais e efeitos sobre a saúde. No modelo, a saúde bucal do indivíduo depende de fatores externos (macrorregião, local de residência, sistema de atenção à saúde) e características individuais (idade, sexo cor da pele, escolaridade, renda per capita).

Tomar (2012) ressalta que para os Estados Unidos a diferença entre os sexos na saúde bucal manifesta-se desde os primeiros anos de idade dos indivíduos, de forma que a saúde bucal tornou-se uma questão prioritariamente de saúde masculina.

Além disso, apesar das diferenças entre sexos, o estudo desenvolvido pelo Centro de Controle de Doenças Americano – CDC (2010) encontrou que as maiores diferenças estão relacionadas a fatores socioeconômicos e culturais.

Dye et al. (2007) encontram que indivíduos de raça negra ou hispânicos possuem maiores chances de relatarem problemas de saúde bucal com relação a indivíduos brancos. Do mesmo modo, famílias pobres, devido a sua menor disposição a pagar por serviços odontológicos, possuem maiores chances de retratarem periodontite e cárie não tratada.

O consumo dos indivíduos também é um importante determinante da procura de saúde bucal, devido a fatores como o consumo de tabaco, álcool e açúcares, que denigrem a qualidade da saúde bucal (BURT, 2005; TOMAR, 2000). Tal relação leva à constatação de uma limitação na utilização da base de dados SBBrasil (2010), visto que nesta não há informações a respeito do consumo dos indivíduos.

Pinheiro e Torres (2006) analisaram a relação entre a utilização de serviços odontológicos no Brasil e diversas características dos indivíduos. As autoras, então, consideraram algumas das principais variáveis abordadas também neste trabalho, mas sem avaliar de maneira desagregada para serviços odontológicos públicos e privados. Então, de modo geral, os resultados encontrados pelas autoras servirão de balizadores para as estimativas deste presente estudo, objetivando-se encontrar evidências semelhantes sobre o comportamento das variáveis de controle escolhidas, ou seja: verificar que a probabilidade de utilização de serviços odontológicos seja menor para os homens, os idosos (em comparação com os outros adultos), os não-brancos, os mais pobres, os de menor escolaridade, e para regiões mais pobres, onde há menor oferta de serviços odontológicos.

4. Resultados e discussão

A amostra final para análise dos resultados foi composta de 35.175 indivíduos, sendo 27% deles residentes na região Sudeste, 24% no Nordeste, 17% na região Centro-Oeste, 17% na região Norte e 15% na região Sul.

Dentre os indivíduos diagnosticados, 26% deles apresentaram periodontite com sangramento, 34% periodontite com cálculo, 12% periodontite com bolsa rasa e 3% periodontite com bolsa profunda. Com relação à prótese, 24% da população entrevistada foi diagnosticada como tendo necessidade da utilização de prótese parcial e 4% com necessidade de prótese total. Ademais, a média de dentes cariados na população brasileira foi de 0,41 por pessoa.

Com relação às variáveis socioeconômicas utilizadas como controle no presente estudo, o número de pessoas na família era em média de 4,38 na amostra realizada, a escolaridade média de 6,04 anos, a média de idade de 30 anos. Além disso, 57% dos entrevistados eram do sexo feminino, 43% de raça branca e 76% residiam em capitais. Por fim, a parcela da população entrevistada que ganhava menos de um salário mínimo foi de 16%, de 1 a 3 salários mínimos de 50%, de 3 a 5 salários mínimos de 18% e mais de 5 salários mínimos 16%.

Os resultados do presente estudo serão apresentados separadamente para cada tipo de problema bucal: cárie, periodontite e edentulismo. Conforme destacado na introdução, a consideração desses três males foi motivada por serem as principais doenças que afetam os brasileiros.

A Tabela 1 apresenta as estimativas do modelo Logit para a demanda por serviços odontológicos com relação à cárie. Para as variáveis de interesse, pode-se observar que quando o indivíduo possui cárie, as chances de que este procure serviços odontológicos públicos aumentam e a demanda por serviços odontológicos para cuidados com a cárie no setor privado diminui. As variáveis de controle apresentaram-se com sinal de acordo com estudos que relacionam os determinantes de saúde bucal, destacando a abordagem de Pinheiro e Torres (2006).

Caso o indivíduo seja de raça branca, este possui maiores chances de procurar os serviços privados aos públicos quando há problemas com a cárie. Ademais, os homens possuem menores chances de procurar ambos os serviços.

Com relação à escolaridade, para cada ano adicional de estudo a probabilidade de se procurar serviços odontológicos aumenta em ambos os setores, entretanto, nota-se que o inverso ocorre com relação à idade dos indivíduos.       

Quanto ao número de pessoas na família que apresentam problemas com a cárie, observa-se que quanto maior o número de membros na família, maiores são as chances de se procurar os serviços públicos frente aos serviços privados. Em contrapartida, o fato de o indivíduo residir na capital reduz a probabilidade de que o mesmo busque por serviços públicos em relação aos serviços privados.

Tabela 1 – Demanda por serviços públicos e privados com relação à cárie.

 

Serviço Público

Serviço Privado

Efeito Marginal

Variáveis de interesse

Decíduo Cariado

0.0052***

-0.0209***

Permanente Cariado

0.0023***

-0.0102***

 

 

 

 

 

Variáveis de Controle

Raça

-0.0180***

0.0370***

Sexo

-0.0220***

-0.0093**

Anos de Estudo

0.0019***

0.0180***

Idade

-0.0022***

-0.0019***

Número de pessoas na família

0.0051***

-0.0198***

Mora na capital

-0.0156***

0.0492***

Norte

-0.0082*

-0.0327***

Sudeste

-0.0144***

-0.0027ns

Centro-Oeste

0.0040ns

0.0106*

Sul

0.0480***

0.0327***

Renda de 1 a 3 salários mínimos

-0.0174***

0.0902***

Renda de 3 a 5 salários mínimos

-0.0634***

0.2389***

Renda maior do que 5 salários mínimos

-0.1042***

0.3596***

Fonte: Resultados da pesquisa.
***Significativo a 1%; **Significativo a 5%; *Significativo a 10%; ns: não significativo.

Com relação às regiões geográficas do país, pode-se verificar que os indivíduos possuem poucas chances de demandar ambos os serviços caso residam na região Norte. Os indivíduos que residem no Sudeste apresentam poucas chances de procurar serviços públicos, enquanto para os da região Centro-Oeste há maiores chances de procurar serviços privados. Os indivíduos que vivem na região Sul apresentam maiores probabilidades de demandar ambos os serviços.

Nesse contexto, um estudo sobre as desigualdades de acesso aos serviços de saúde no Brasil, Andrade et al. (2013) mostra que em 2008 a região Norte apresentava os menores índices de consulta ao dentista tanto para os detentores de plano de saúde quanto para os que não possuíam, entretanto, a região Sul apresentava os maiores níveis de consulta ao dentista no país para ambos os tipos de demandantes, com plano de saúde e sem plano de saúde .Com relação às faixas de renda investigadas, pode-se perceber que para os três níveis estabelecidos as chances de procurar por serviços privados são maiores do que as de se procurar pelo serviço público. Esta foi a única variável que não apresentou comportamento totalmente esperado. Para o menor nível de renda esperava-se que as chances de se demandar serviços públicos excedessem as de se procurar serviços privados.

Analisando-se especificamente a periodontite (Tabela 2), pode-se observar que a demanda por serviços públicos aumenta para problemas periodontais com sangramento e com cálculo. Porém, para problemas mais graves como a periodontite com bolsa rasa e profunda, tais resultados mostraram-se não significativos para o serviço público e a demanda por serviços odontológicos privados eleva-se para casos com periodontite com bolsa profunda, indicando evidências de que a demanda por serviços privados eleva-se para casos em que a doença bucal apresenta-se em estado mais grave.

Tabela 2 – Demanda por serviços públicos e privados com relação à periodontite

 

Serviço Público

Serviço Privado

Efeito Marginal

 

Variáveis de interesse

Periodontite com sangramento

0.0202***

-0.0130**

Periodontite com cálculo

0.0219***

-0.0120**

Periodontite com bolsa rasa

0.0058ns

-0.0011ns

Periodontite com bolsa profunda

0.0062ns

0.0141***

 

 

 

 

 

 

Variáveis de Controle

Raça

-0.0169***

0,0413***

Sexo

-0,0220***

-0,112**

Anos de Estudo

0,0008*

0,0185*

Idade

-0,0024***

-0,0018***

Número de pessoas na família

0,0051***

-0,0216***

Mora na capital

-0,1779***

0,0563***

Norte

-0,0099**

-0,0371***

Sudeste

-0,0177***

0,0045ns

Centro-Oeste

0,0031ns

0,0131*

Sul

0,0428***

0,0393***

Renda de 1 a 3 salários mínimos

-0,0177***

0,0971***

Renda de 3 a 5 salários mínimos

-0,0635***

0,2560***

Renda maior do que 5 salários mínimos

-0,1038***

0,3807***

Fonte: Resultados da pesquisa.
***Significativo a 1%; **Significativo a 5%; *Significativo a 10%; ns: não significativo.

Para o caso de edentulismo (Tabela 3), que apresenta a demanda por serviços odontológicos com relação à prótese, o resultado assemelha-se a periodontite, de forma que a demanda por serviços públicos é maior para casos menos graves, como a necessidade de prótese parcial. Para o caso em que há a necessidade de prótese total, os indivíduos possuem maiores chances em demandar serviços privados aos públicos, indicando que em casos mais graves de necessidade de serviços relacionados ao edentulismo, os indivíduos preferem a utilização de serviços odontológicos privados.

Tabela 3 – Demanda por serviços públicos e privados com relação ao edentulismo.

 

Serviço Público

Serviço Privado

Efeito Marginal

Variáveis de interesse

Necessidade de Prótese Parcial

0.0679***

-0.0007ns

Necessidade de Prótese Total

-0.0260**

0.1272***

 

 

 

 

 

 

Variáveis de Controle

Raça

-0,1661***

0,0419***

Sexo

-0,0195***

-0,0109**

Anos de Estudo

0,0008*

0,0171***

Idade

-0,0027***

-0,0015***

Número de pessoas na família

0,0053***

-0,0216***

Mora na capital

-0,0189***

0,0552***

Norte

-0,0079ns

-0,0390***

Sudeste

-0,0153**

0,0019ns

Centro-Oeste

0,0043ns

0,0114ns

Sul

0,0464***

0,0345***

Renda de 1 a 3 salários mínimos

-0,0190***

0,0978***

Renda de 3 a 5 salários mínimos

-0,0642***

0,2563***

Renda maior do que 5 salários mínimos

-0,1024***

0,3816***

Fonte: Resultados da pesquisa.
***Significativo a 1%; **Significativo a 5%; *Significativo a 10%; ns: não significativo.

Os resultados obtidos nas Tabelas 1 a 3 indicam um resultado interessante, no que tange a utilização de serviços públicos e privados de odontologia. Percebe-se, de maneira geral que, independente dos anos de estudo, região geográfica, renda e demais variáveis de controle, a população brasileira tende a utilizar serviços privados, quanto maior for a gravidade da doença. Isso pode indicar uma percepção (verdadeira ou não) de que o sistema público de odontologia não é eficaz (seja no sentido da qualidade do serviço, quanto no tempo de espera) no tratamento de doenças mais graves, como a periodontite e edentulismo. O sistema público é preferível apenas nos casos menos graves, como no tratamento da cárie.

5. Conclusões

Este estudo investigou a demanda pelos serviços odontológicos públicos e privados no Brasil, de modo a deixar claro a forma como se comportam os indivíduos frente a oferta desses serviços quando os mesmos são acometidos de males como a cárie, a doença periodontal e o edentulismo em seus variados níveis de gravidade, além de fazer considerações sobre as principais variáveis socioeconômicas que segundo a literatura afetam a saúde bucal dos agentes econômicos.

Os resultados observados neste trabalho apontaram que indivíduos que possuem cárie apresentaram maiores chances de solicitar serviços odontológicos públicos frente aos serviços privados. Quanto à doença periodontal e o edentulismo, verifica-se que a demanda por serviços privados eleva-se quando os indivíduos são acometidos pelas formas mais graves das doenças. Ademais, em suas formas mais brandas os indivíduos optam pelos serviços públicos.

Este resultado pode indicar que a população possui a percepção de que serviços odontológicos que exigem um maior cuidado no tratamento não são realizados de maneira eficiente pelo setor público. As causas são diversas, e podem envolver uma percepção de que tal sistema não é eficiente no tratamento de doenças mais graves, seja pelo tempo de espera ou pela falta de confiança em tais profissionais. Neste sentido, recomenda-se para futuras pesquisas uma investigação mais acurada para entender quais os fatores que levam a população brasileira a segmentar a utilização de tais serviços, de acordo com a gravidade da doença. Ademais, a realização de estudos que componham novas perspectivas e informações sobre estes setores mostra-se de grande importância, pois assim, pode-se criar mecanismo voltados à melhoria do acesso aos serviços odontológicos para a sociedade, em especial os serviços públicos, ajudando a promover, desse modo, o desenvolvimento do capital humano no país e por consequência estabelecer condições para um maior desenvolvimento econômico.

Referências

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1. Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz". Universidade de São Paulo (USP). gustavocmoreira@usp.br

2. Universidade Federal de Viçosa – UFV. alberesasf@yahoo.com.br

3. Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz". Universidade de São Paulo (USP). renno.nicole@gmail.com

4. Para uma explicação mais abrangente a respeito do SBBrasil 2010, ver Roncalli et al. (2012).


Vol. 37 (Nº 12) Año 2016

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