Espacios. Vol. 37 (Nº 04) Año 2016. Pág. 9
Gleison de Sousa AMORIM 1; Fernando Luiz Freitas FILHO 2; Kazuo HATAKEYAMA 3
Recibido: 27/09/15 • Aprobado: 01/11/2015
2. Controle de estoque, gestão de processo e inovação
4. Apresentação e análise dos resultados
RESUMO: Esta pesquisa consiste em otimizar a estrutura de disposição dos elementos que compõe o estoque de uma oficina mecânica pela gestão e inovação do seu processo. Caracteriza-se como qualitativa que utiliza como procedimento a pesquisa ação, tomando como base de estudo uma oficina mecânica de pequeno porte, a qual os itens não possuem classificação e não seguem uma ordem para sua armazenagem, o que resulta em mal aproveitamento do espaço disponível, falta de controle e torna lento o processo de localização de determinada peça. Com a pesquisa alcançaram-se resultados como: agilizar procedimentos, identificar elementos, melhor aproveitamento do espaço e obtenção de um estoque organizado adequado às necessidades da empresa, otimizando a relação entre colaborador e ambiente de trabalho. |
ABSTRACT: This research is to optimize the layout structure of the elements that make up the stock of a machine shop for the management and innovation of its process. It is characterized as qualitative using as action research procedure, taking as a basis for study a machine shop small, which items have no classification and do not follow an order to their storage, which results in poor utilization of the available space , lack of control and slows the particular piece of localization process. With the research results were achieved as streamline procedures, identify elements, better use of space and obtaining an organized stock suited to business needs by optimizing the relationship between employees and work environment. |
A inovação pode ser aplicada a produtos, processos, marketing e organizacional e é entendida como novidade (ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT – OECD, 2005). Ressalta ainda a OECD (2005) que a inovação não pressupõe ineditismo, podendo ser uma nova melhoria substancial, tendo sua legitimidade comprovada pelo mercado e todos os seguimentos da economia são habilitados para gerar uma inovação, desde o poder público até o segmento manufatureiro.
Este estudo limitasse ao estoque de peças para automóveis de uma oficina mecânica o qual não possui classificação e não seguem uma ordem para sua armazenagem, resultando no mal aproveitamento do espaço disponível, falta de controle, e, torna lento o processo de localização de determinada peça. Tendo assim como objetivo organizar e controlar o estoque de uma oficina mecânica, por meio da gestão de processos e inovação.
A inovação de processos na fabricação de produto e prestação de serviços concerne desenvolvimento de técnicas e procedimentos, equipamentos, software, visando benefícios para a organização como: redução de custos, melhoria da qualidade e aumento da produtividade (GARUD; TUERTSCHER E VAN DE VEN, 2013).
Segundo o Manual de Oslo da OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (2007) e Floriani, Beuren e Machado (2013) descrevem que inovação de processo é a implantação de um novo processo de produção ou uma melhora no mesmo. As inovações de processo visão aumentar a produtividade com o foco em, diminuir os custos de produção, de entrega e qualidade, etc.
A preocupação em relação a estoque não pertencente apenas às indústrias, mais sim a todas as empresas, sejam elas de grande ou pequeno porte, comércio ou serviços.
Com a pesquisa desenvolvida espera-se que com a gestão de processos e a inovação sejam alcançados resultados como: agilizar procedimentos, identificar elementos, melhor aproveitamento do espaço e obtenção de um estoque organizado adequado às necessidades da empresa, otimizando a relação entre colaborador e ambiente de trabalho.
De acordo com o objetivo proposto e, com os conceitos referenciais elencados, tem-se o entendimento que gestão de processos e inovação no estoque de uma oficina mecânica está associada à inovação em processos.
Existem duas questões básicas a serem respondidas no controle de estoques. Quando e quanto repor? A primeira questão visa demonstrar o momento exato de renovação dos estoques de cada item em particular, de forma otimizada à medida que atenda às necessidades da empresa. A segunda questão procura definir a quantidade que deverá ser reposta no momento que for preciso pela renovação dos itens do estoque. (GONÇALVES, 2004).
Martins; Alt (2012) e Ballou (2006) ressaltam que o controle de estoque eficiente ajuda a gestão na tomada de ações que permitam o administrador analisar se os estoques estão sendo utilizados, localizados, manuseados e controlados a fim de reduzir custos. O controle eficiente do estoque não reduz apenas custos, se colocada em ação, como uma ferramenta integrada à administração da empresa, se torna um conceito de estratégia fundamental para a sobrevivência (CHING, 2010).
Para Madruga, Silva e Pacheco (2015) a gerenciamento do processo de estoque se configura como uma complexa função de empresas manufatureiras, principalmente quando se a um grande investimento em insumos que não gerenciados de forma correta podem afetar a saúde financeira da empresa.
A gestão de processos é utilizada por todas as organizações, sejam elas de grande ou pequeno porte, comércio ou serviços, a qual visa à importância do conhecimento dos processos da própria empresa (MALDONADO et al., 2015)
Paim (2007) destaca que gestão de processos permite um olhar sistêmico das atividades da empresa e pode promover a qualidade, reduzir custos e consequentemente gerar a satisfação dos clientes internos e externos melhorando o desempenho corporativo.
Devido aos diversos entendimentos de gestão de processo, esta pesquisa assume que conforme Saldanha (2008) inicia com a atividade dos inputs (entradas), agrega-lhes valor e fornece um output (saída). Os processos estão inseridos em um contexto de negócio e suas atividades podem ser executadas por humanos ou máquinas. Essas atividades se caracterizam por ser "ponta-a-ponta".
Pode-se entender então que a gestão de processos está intimamente relacionada à inovação. Neste contexto Santos, Guimarães e Lara (2015) descrevem que a percepção a respeito de inovação é diretamente relacionada ao ambiente e ao processo de competição que se esta inserido e como as empresas veem a mesma.
Bessant e Tidd (2009) definem inovação como sendo a transformação (mudança) de um conhecimento/ideia para um produto/serviço, novo ou melhorado. Tidd, Bessant e Pavitt (2008) salientam que nem toda mudança representa uma inovação, mas que toda a inovação representa uma mudança.
A pesquisa caracteriza-se quanto aos objetivos como exploratória, a qual o pesquisador buscou se familiarizar com o problema por observação participante e sistemática. Pelo objetivo de organizar e controlar o estoque de uma oficina mecânica, por meio da gestão de processos e inovação, optou-se pela abordagem qualitativa que para Oliveira (2010) e Malhotra (2012) não se preocupa em representação numérica e, sim em se aprofundar em compreender um grupo social ou organização.
E quanto a seu procedimento, caracteriza-se como pesquisa-ação, que segundo Gerhard e Silveira (2009) e Severino (2007, p.120), "A pesquisa ação é aquela que, além de compreender, visa interferir na situação, com vistas a modificá-la. O conhecimento visado articula-se a uma finalidade intencional de alteração da situação pesquisada".
Já os instrumentos de pesquisa para a coleta dos dados foi realizada pela observação participante e sistemática durante as etapas do processo. Os dados coletados serão apresentados em formato de descrição e imagens, possibilitando à empresa a comparação da estrutura anterior e posterior ao desenvolvimento do trabalho.
A pesquisa no estoque da oficina mecânica justifica-se por haver poucos estudos voltados para a gestão de processos e inovação nesse seguimento, neste contexto a pesquisa será de grande importância para o seguimento.
A Oficina mecânica iniciou suas atividades no ano de 1996, no segmento automotivo, sendo especializada na linha de uma respeitada empresa do ramo automobilístico. No ano de 2003 parou as atividades retomando-as em 2009.
Esta empresa é um empreendimento familiar. Optou-se em desenvolver a pesquisa na empresa por ela esta atrasada em relação aos seus concorrentes diretos ao que se refere à gestão de processos e inovação em seus processos, sendo escolhido o seu controle de estoque por ter todos os problemas já citados nesta pesquisa.
A Figura 1 representa o organograma da oficina mecânica em estudo, destacando a caixa na cor verde que é a fonte da pesquisa.
Figura 1 – Organograma da oficina mecânica em estudo
Fonte: Autores 2015
Na busca das informações pela utilização das técnicas de observação participante e sistemática buscou-se envolver todos os profissionais da oficina, tendo assim oportunidade de avaliar diferentes pontos de vista acerca do assunto. Tratando-se de uma oficina mecânica de pequeno porte, entendeu-se que a melhor opção era fazer um estudo prático, nesse contexto optou-se pela pesquisa ação.
Em percepções gerais com a gestão de processos e inovação no processo de estoque pode-se inovar na realocação de itens proporcionando melhor aproveitamento de espaço e colaborando para a organização e ampliação do ambiente. Tornou-se possível um controle mais apurado sobre os componentes do estoque, permitindo visualizar e localizar com facilidade os elementos disponíveis, aprimorando a relação entre colaborador e ambiente de trabalho.
A mesa que foi alocada para o recebimento de itens proporcionou maior coordenação entre a entrada de novos produtos e sua estocagem, auxiliando na manutenção da organização do ambiente. A prancheta de requisição de compras, por sua vez, possibilita a visualização da necessidade de reposição de componentes do estoque, proporcionando maior controle e atenuando a falta de itens no estoque.
A seguir serão expostas algumas imagens de como era o estoque antes da organização.
Figura 2 – Estante de peças novas
Fonte: Autores 2015
Na figura 2 mostra-se a desorganização do estoque na estante de peças novas, ressaltando-se:
Figura 3 – Estante de peças usada
Fonte: Autores 2015
Observam-se na figura 3, itens que estão em lugares inapropriados gerando grande poluição visual, como:
Figura 4 – Estoque de óleo e graxa
Fonte: Autores 2015
No canto direito da imagem acima observa-se os galões de óleo e graxa pertencentes ao estoque, estão eles todos misturados e em contato direto com o piso, observa-se também no fundo da imagem e totalmente fora de contexto, uma caixa com fios, percebe-se a necessidade de otimização desta área.
Com as peças fora das prateleiras começou então a separação dos componentes por sua complementariedade. Os elementos que são utilizados juntos ou fazem parte de determinado grupo, ficam próximos, em determinada prateleira, que também foi classificado de acordo com os itens que se encontram ali estocado. O giro de estoque também foi considerado na hora da organização e locação, por exemplo, os componentes mais usados ficam estrategicamente em locais de fácil manuseio à altura dos olhos e ao alcance das mãos. Toda a parte de identificação e separação de itens foi elaborada juntamente com os colaboradores, pois a vivencia na empresa proporciona a possibilidade de reconhecer necessidades para apoiar o desenvolvimento de um plano de organização do leiaute adequado ao cotidiano do empreendimento.
Para a reengenharia do leiauteinovou-se no processo o qual a estante de peças usadas foi deslocada, pois são peças de giro muito menor, então, foi posicionada no fundo do setor de estoque, dando espaço para organizar-se a área de óleos e graxas mais próxima à entrada, já que são elementos de maior giro do que os materiais da estante de peças usadas.
Outro ponto a ser destacado foi a inovação no processo de recebimento o qual posicionou-se uma mesa para o recebimento dos itens, que foi locada na área do estoque para armazenamento temporário dos componentes e posterior locação no estoque.
Outra inovação para gestão do processo de estoque foi à criação de uma prancheta, que será utilizada para requerimento de compra, identificando o item e a quantidade a ser adquirida. Uma espécie de kanban, adequado à estrutura e necessidades do estoque da empresa, possibilitando assim um maior controle.
Figura 5 – Classificação da prateleira e dos itens de estoque
Fonte: Autores 2015
Na figura 5, observa-se a classificação da prateleira de acordo com os itens que nela estão estocados, também é demonstrada a separação dos itens em caixas conforme seu tipo e complementariedade.
Figura 6 – Estante de peças novas
Fonte: Autores 2015
A figura 6 expõe o novo leiaute da estante de peças novas. Destacando-se alguns pontos:
Figura 7 – Estante de peças usadas
Fonte: Autores 2015
Nesta figura está exposta a prateleira de peças usadas, na qual destacados os seguintes aspectos:
Figura 8 – Área de óleos, graxas e diversos
Fonte: Autores 2015
A figura 8 demonstra a nova localização da área dos óleos, graxas e diversos, salienta-se:
Figura 9 – Mesa para armazenagem temporária de itens
Fonte: Autores
A figura 9 mostra a mesa que foi locada para recebimento de itens. Quando determinado item é recebido permanece nesta mesa até que um dos colaboradores faça a locação apropriada do componente, evitando a disposição aleatória de elementos nas prateleiras do estoque.
Figura 10 – Prancheta para requisição de compra
Fonte: Autores 2015
A figura 10 demonstra a prancheta de requisição de compra, ferramenta baseada em kanban, que foi elaborada conforme a estrutura e necessidade da empresa e fica à frente da estante de peças novas, para facilitar sua visualização. A requisição conta com três áreas a serem preenchidas, a área da peça/item, que relatará qual o elemento necessitando de reposição; a área de quantidade, que informará o número de itens necessários para compra; um campo descrevendo a situação, que confirmará a compra ou não do elemento requisitado.
A implantação foi realizada no mês de Junho, no ano de 2015. No primeiro momento realizou-se inovações necessárias na estante de peças novas e no segundo, na estante de peças usadas e posteriormente na área dos óleos e graxas partindo dai para o estoque, iniciando com a limpeza e organização até cumprir com o objetivo. Neste processo todos os colaboradores se fizeram presentes a fim de fazer parte desta nova visão de gerenciamento de processo do estoque da oficina mecânica, no qual todos ajudaram na reengenharia deste processo, limpando as estantes e todo o setor, assim como, identificando e organizando todos os materiais componentes do estoque.
A Gráfico 1 demonstra a representatividade da pesquisa para a empresa escolhida, a qual reduziu seus lead times de pedido em todos itens estudados em mais de 100%.
Gráfico 1 – Lead time de produto do produto em estoque em minutos
Fonte: O autor 2015
O item estante de peças novas saiu de um lead time de 30 minutos para apenas 5 minutos contado desde a solicitação da mercadoria pelo cliente até sua entrega para o mesmo; para o item estante de peças usadas e diversos a redução foi ainda mais significante caindo de 60 minutos para 5 minutos e por fim para o estoque de óleo e graxa a redução do tempo com a aplicação da pesquisa foi de 20 minutos para 3 minutos.
Para tanto, do ponto de vista da empresa e dos pesquisadores o estudo foi muito satisfatório indo de encontro com o objetivo proposto de organizar e controlar o estoque da oficina mecânica, por meio da gestão de processos e inovação.
Conclui-se que, a pesquisa alcançou o objetivo proposto, tendo melhorias como: agilizar procedimentos, identificar elementos, melhor aproveitamento do espaço e obtenção de um estoque organizado adequado às necessidades da empresa, otimizando a relação entre colaborador e ambiente de trabalho, visualizada em imagens e gráfico no decorrer do estudo.
Para a conservação e aprimoramento da gestão de processos e inovação já conquistados, sugere-se a implantação de um sistema de controle informatizado, que seja capaz de proporcionar as informações pertinentes ao número de itens do estoque virtualmente e em tempo real, na quantidade certa de materiais disponíveis, controlando apuradamente os componentes do estoque e proporcionando segurança no momento de aquisição de elementos junto ao fornecedor.
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