Espacios. Vol. 37 (Nº 01) Año 2016. Pág. 10

Ecodesign na Produção Artesanal: O Ecotapete

Ecodesign in the Handmade Production: The Green Carpet

Arthur Nóbrega Baptista de ARAÚJO 1; Jamerson Viegas QUEIROZ 2; Adriano Varella de MORAIS 3; João Cardim Ferreira LIMA 4; Luan Lyon Lopes NASCIMENTO 5

Recibido: 25/08/15 • Aprobado: 02/10/2015


Contenido

1. Introdução

2 Referencial teórico

3. Método de pesquisa

4. O processo produtivo

5. Associação com o ecodesign e a produção mais limpa

6. Considerações finais

Referências


RESUMO:

O objetivo do trabalho foi aplicar o ecodesign e tecnologias ambientais para produzir um ecotapete, através do reaproveitamento de materiais rejeitados e medir o seu custo. O estudo trata-se de uma pesquisa quantitativa e qualitativa, de caráter exploratório e descritivo. Os procedimentos utilizados foram: pesquisa bibliográfica, pesquisa experimental e estudo de caso. O custo obtido para a produção de um tapete foi de R$2,70 (dois reais e setenta centavos), porém trata-se da produção artesanal, para a produção em escala industrial deverão ser realizadas análises mais profundas.
Palavras-chaves: tapete ecológico, ecodesign, tecnologias ambientais, reaproveitamento, artesanal.

ABSTRACT:

The object of this work was to apply environmental technologies to produce an green carpet through the reuse of discarded materials and measure its cost. The study deals with a quantitative and qualitative research, exploratory and descriptive. The procedures used were bibliographical research, experimental research and case study. The value obtained for the production of the carpet was R$ 2,70 (two reais and seventy cents), however the green carpet can only be produced by handmade; for production on an industrial scale should be carried out further analysis.
Keywords: green carpet, ecodesign, environmental technologies, recycling, handmade.

1. Introdução

O objetivo do trabalho foi produzir um ecotapete, baseado em um modelo de tapete já existente que visa reaproveitar materiais rejeitados, no caso, sobras de madeira de serraria e tampinhas de garrafas de vidro, colaborando com uma destinação alternativa ao lixo. Com a utilização destes materiais, as tampinhas e a madeira, retiram-se do meio ambiente dois agentes que levariam aproximadamente entre 150 anos e 15 anos para serem degradados, respectivamente.

O ecotapete reaproveita produtos rejeitados em outros processos produtivos, prologando a vida útil desses componentes, além de diminuir a quantidade de resíduos no meio ambiente. Na produção do tapete foram utilizadas cem tampinhas metálicas, além de cerca de cento e cinco pregos.

O baixo custo para a produção desse tapete também merece destaque. Como já foi abordado, a madeira utilizada é rejeito do processo de produção de móveis em serraria. As tampinhas de garrafas de vidro podem ser encontradas nos mais diversos estabelecimentos comerciais. O grupo teve custo apenas com a aquisição dos pregos e a compra da cola utilizada.

2. Referencial teórico

2.1 Produção mais limpa

A produção mais limpa (P+L) é uma filosofia de gerenciamento da produção que visa a diminuição dos impactos ambientais durante a produção, não em seu final, a partir da redução dos materiais usados em produtos sem que seu valor seja alterado, de forma que o desperdício de recursos seja reduzido. Foca sua atuação em três estágios, sendo eles: redução na fonte, reciclagem interna e reciclagem externa, de acordo com Rensi e Schenini (2006), representados na Figura 1.

Figura 1 – Níveis da P+L

Fonte: Rensi e Schenini (2006)

A redução na fonte prevê a uma menor utilização de recursos naturais (matéria-prima ou recursos de apoio, como energia elétrica e água) durante a produção. Entretanto, a fim de manter o valor do produto, deve ser realizada em conjunto com uma análise de valor, que, de acordo com Loureiro e Freitas Filho (1994), é uma metodologia que visa medir o valor que cada etapa do processo produtivo agrega no produto, de forma a cortar etapas ou partes do produto que não causem grandes impactos no valor.

As etapas de reciclagem interna e externa consistem no aproveitamento de recursos já usados na produção dentro da própria empresa ou comercialização para outras organizações, respectivamente. Esse aproveitamento pode ocorrer na forma de reciclagem, que é o aproveitamento do material que compõe o recurso; reuso, no qual o próprio recurso é utilizado em uma função diferente da qual foi originalmente projetado; ou remanufatura, em que o recurso retorna para o processo produtivo para ser reprocessado, como abordam Silva Filho e Sicsú (2003), e Silva e Heemann (2007).

Para Medeiros et al (2007), as principais barreiras para a implementação da filosofia P+L são: custos elevados, planejamento inadequado dos investimentos, falta de treinamento dos funcionários, problemas no clima organizacional, falta de dados na empresa, falta de estímulo governamental, entre outros.

De acordo com Fagundes et al.(2015) A sistematização das ações de P+L segue como sequência lógica de atitudes a minimização dos resíduos e emissões e a reutilização e reciclagem dos resíduos e emissões que não puderam ser evitados (níveis 1, 2 e 3). A Figura 2 ilustra a abordagem da P+L com ênfase na sequência de priorizações e possibilidades de atitudes em cada nível de atuação.

Figura 2 – Sistematização da produção mais limpa
Fonte: Fagundes et al. (2015)

2.2 Ecodesign

O Ecodesign, ou Design For Environment (DFE), é uma filosofia de projeto de produtos e serviços que visa a redução de impactos ambientais considerando todo o ciclo de vida do produto a partir da Análise do Ciclo de Vida (ACV), como defende Borchardt et al (2008).

Para tal, é necessário o uso da criatividade e de tecnologias ecológicas, bem como parcerias com outras empresas, como afirma Giannetti et al (2003), ao dizer que "[...] o conceito de Eco-Tecnologia envolve a participação de duas ou mais empresas, com a finalidade  de desenvolver/produzir produtos, resíduos e subprodutos cujo impacto no meio ambiente seja menor que aquele de cada empresa atuando independentemente de outras".

Naveiro et al (2005) afirma que a evolução na competitividade entre as empresas exige cada vez mais o pensamento ecológico nas organização, e que o ecodesign é uma peça fundamental nesse pensamento. Silva e Heemann (2007) abordam as oito estratégias que devem ser usadas na aplicação do DFE para que ele seja completo, conforme Figura 3.

Figura 3 – As estratégias do DFE

Fonte: Silva e Heemann (2007)

Dentro dessas estratégias está a mudança no conceito do produto, que exige criatividade, de forma a focar o projeto do produto nos aspectos ambientais envolvidos. A escolha de materiais de menor impacto e a redução dos recursos usados retomam a discussão da P+L, mostrando que as duas filosofias abordam a produção sustentável em sintonia uma com a outra.

A fabricação limpa, ou otimização da produção, bem como otimização da distribuição, mostram a importância de pensar nos impactos ambientais não apenas após o processo ocorrer, mas durante o processamento também. A redução dos impactos durante o uso e o aumento da durabilidade do produto mostram que a empresa é responsável pelos impactos gerados após o produto sair da fábrica, o que exige aplicação da logística reversa e destinação correta dos resíduos, o que está em completa sintonia com a ACV, já que todo o ciclo de vida deve ser avaliado.

3. Método de pesquisa

O presente trabalho se caracteriza como uma pesquisa quantitativa e qualitativa, tendo em vista que possui como objetivo a produção de um ecotapete além da quantificação do custo através dos dados coletados, quanto aos fins, a pesquisa possui caráter exploratório e descritivo, os procedimentos utilizados foram: pesquisa bibliográfica, pesquisa experimental e estudo de caso, conforme a Figura 4.

Figura 4 – Método de pesquisa

Fonte: Elaboração própria

4. O processo produtivo

O produto é composto de uma superfície de madeira, com tampinhas metálicas de garrafa de vidro viradas, com a "boca" para cima, pregadas nessa tábua, com a intenção de facilitar a retirada da areia presente no calçado de quem pisa no tapete. Isso é possível devido à ação cortante das tampas, que tem a sua pressão amenizada pela forma como são distribuídas em toda a superfície, mas favorecem ao acúmulo da sujeira, e essa pode ser retirada ao virar-se o tapete.

O processo é artesanal e utiliza ferramentas como martelo, pregos, cola quente e, às vezes, pincel e tintas. Inicialmente, a madeira é lixada para evitar que pequenos pedaços de madeira entrem na mão de quem a manuseia, também para facilitar a pintura, caso seja realizada essa etapa. A pintura pode ser feita separadamente, pintando-se a madeira antes de colocar as tampas ou de uma só vez, depois de pregadas as tampinhas.

É necessário colar as tampas com uma pistola de cola quente antes de pregá-las, assim, primeiramente é dado o posicionamento das tampinhas, depois elas são coladas, assim, as tampas vizinhas permanecerem em seus lugares quando são dadas as marteladas. O processo da colagem das tampas através da utilização da pistola quente é bastante importante pelo fato dessa cola manter as tampinhas presas à superfície de madeira enquanto são disferidas marteladas nos pregos.

 É importante que a disposição dessas tampas garanta a segurança de quem está utilizando o produto ao pisar naquela superfície, então, um espaçamento máximo entre as tampas deve ser estabelecido para isso.

Uma mão segura o prego posicionado com a ponta no centro da tampinha e a outra segura o martelo para perfurar o prego pela tampa e através da tábua de madeira. O tamanho dos pregos deve ser menor que a espessura da tábua para não atravessar totalmente a madeira. Esse processo é repetido em cada tampa e às vezes é necessário mais de um prego por tampa, quando o processo não é bem executado.

As tampinhas de garrafa de vidro são rejeitos encontrados em bares e restaurantes, assim como as cantinas da universidade, onde quase todas vendem refrigerantes em garrafas chamadas de "ks". Essas garrafas são recicladas, a empresa que fornece os refrigerantes recolhe-as após o consumo, porém, as tampinhas são rejeitadas e jogadas no lixo.

Outro processo que gera bastante resíduo e impacta muito negativamente o meio ambiente principalmente na extração de seu principal produto é a serraria. As sobras são comuns e deixadas como lixo na frente da empresa, a ser retirado pela empresa responsável, contratada pela prefeitura para o recolhimento do lixo urbano. Assim, essas sobras são reaproveitadas no processo de produção do ecotapete, como peça fundamental para o produto, a base do tapete.

O pedaço de madeira foi preenchido com tampas em 10 fileiras com 10 unidades em casa, utilizando-se um distanciamento de 01 cm entre cada tampa, para garantir a segurança de quem pisa, totalizando 100 tampinhas reaproveitadas para a fabricação do tapete. As tampas foram coladas e, logo em seguida, pregadas. A ideia inicial era não utilizar tinta, já que implicaria no custo da tinta e em um maior cuidado com esse material. O ideal seria reaproveitar tintas de outros processos, mas essa ideia se tornou complicada. Acabamos pitando o tapete para deixá-lo com mais vida, utilizando tintas base de água que já possuíamos em casa.

Para confecção de um tapete com dimensões de aproximadamente 50cmx50cm utiliza-se:

  1. 100 pregos;
  2. 100 tampinhas de garrafas;
  3. Um pedaço de madeira de 50cmx50cm;
  4. 100ml de tinta;
  5. ½ bastão de cola quente;

O saco contendo 1Kg de prego custa cerca de R$ 6,50 e possui um média de 10000 pregos, portanto, para a confecção de um tapete consome-se 10 gramas de pregos, logo, custa R$ 0,65/tapete.nAs tampinhas são recolhidas nos bares e restaurantes, por isso não há um custo de aquisição diretamente alocado a elas, exceto transporte, porém não foi contabilizado.

O pedaço de madeira, também é adquirido através da coleta, e, portanto não têm um custo diretamente associado ao mesmo. O consumo de tinta chega a cerca de R$ 1,80 por tapete, já que a média de preço para latas de 1 litro é R$ 18,00. O refil de cola quente custa cerca de R$ 0,50, portanto, R$0,25, por tapete, representados na Tabela 1. 

Tabela 1 – Custo unitário do ecotapete

Material

R$

Tampas

-

Pregos

0,65

Madeira

-

Tinta

1,80

Cola quente

0,25

Total

2,70

Fonte: Elaboração própria

5. Associação com o ecodesign e a produção mais limpa

Relacionando- se o conceito aplicado no produto à roda estratégica do DFE é possível observar que o ecotapete tem aplicação em cinco dos oito níveis desta roda. O nível 0 está relacionado ao conceito de um novo produto, ou ao re-projeto do produto já existente. Nesse caso o tapeta adota o conceito da reutilização de produtos rejeitados em outros processos produtivos.

O nível 1 aborda os materiais utilizados no produto, que, no caso do tapete, seriam dispostos no meio ambiente caso não fossem utilizados. O nível 2 refere-se à quantidade de material utilizado na confecção do produto, e procurou-se reduzir a quantidade de tampinhas utilizadas, além de utilizar uma superfície de madeira com o tamanho reduzido se comparado a outros tapetes convencionais.

O sexto nível da roda estratégica faz menção à durabilidade do produto, e o ecotapete apresenta durabilidade relativamente alta, principalmente devido ao fato das tampas, além de serem coladas, também estarem presas à superfície de madeira por meio de pregos. O sétimo e último nível está relacionado à vida útil do produto e o tapete ecológico já aumenta a vida útil dos materiais utilizados; isso porque seriam descartados caso não fossem utilizados.

Além disso, a produção artesanal do ecotapete permite que outras empresas apliquem a produção mais limpa no nível 3, a partir do momento que destinarão externamente parte de seus resíduos para a produção. Percebe-se que ainda que essa produção atende o nível 1 da P+L, uma vez que trabalha com recursos em reuso, reduzindo assim o impacto ambiental na fonte.

6. Considerações finais

A produção do ecotapete, da forma como foi pensada e apresentada, não pode ocorrer em escala industrial, apenas de forma artesanal. Porém, sabe-se que as pequenas empresas são maioria, e que a produção artesanal possui representantes no Brasil.

Faz-se necessária uma análise financeira da produção a fim de atestar a viabilidade do processo produtivo proposto, bem como determinar até que ponto pode-se evoluir o produto, pensando em características que agregam valor, como design (formas), cores, beleza. É interessante verificar se há possibilidade de utilizar materiais mais resistentes, com o intuito de aumentar a durabilidade do produto.

As estratégias do Design For Environment e da Produção mais limpa podem ser aplicadas em organização de todos os portes, desde prestadoras de serviços a grandes indústrias, e inclusive na própria produção artesanal, como mostra o presente trabalho. O pensamento ecológico não deve estar preso às grandes corporações, mas deve fazer parte do cotidiano das pessoas e das organizações, independentemente de seu porte.

Um ponto interessante é que apesar do baixo custo de produção do tapete em comparação à outros existentes no mercado, o mesmo ainda apresentou uma característica interessante referente a retirada da areia presente no calçado de quem pisa no tapete, representando uma função adicional na oferta de valor proposta pelo produto.

Referências

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1. Mestrando da University of Southern California, curso de Manufacturing Engineering. Engenheiro de Produção (UFRN).
2. Pós Doutorando (UTFPR), Doutor em Engenharia de Produção (UFSC), Professor do Mestrado de Engenharia de Produção da  Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), líder do grupo de pesquisa NAGI – Núcleo  Aplicado à Gestão & Inovação
3. Graduando Engenharia de Produção (UFRN).
4. Engenheiro de Produção (UFRN) e Mestrando em Engenharia de Produção  (UFRN), participante do grupo de pesquisa NAGI – Núcleo  Aplicado à Gestão & Inovação, Bolsista Capes (joaocardim_@hotmail.com)
5. Engenheiro de Produção (UFRN).


 

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