Espacios. Vol. 36 (Nº 05) Año 2015. Pág. 14
Sergio Silva BRAGA JUNIOR 1; Renata Borini Marcondes SANTOS 2
Recibido: 21/12/14 • Aprobado: 29/01/2015
3. Reciclagem e Reuso de Resíduos Sólidos
4. Procedimentos Metodológicos
5. Desenvolvimento da Pesquisa
RESUMO: |
ABSTRACT: |
O mercado mundial comporta-se de forma cada vez mais globalizada, desde as informações que circulam de um continente a outro, até mesmo no que se refere às mercadorias. Esta globalização tem impulsionado, com grande intensidade, o consumismo que é alimentado pela produção de novas mercadorias que geram mais resíduos para serem descartados.
A geração de resíduos vem aumentando desde a indústria até o setor que estabelece contato direto com o consumidor, o varejo. Assim, a forma mais adequada para envolver o aspecto social, ambiental e econômico para lidar com o material descartado é a logística reversa, (Santos, 2012).
A logística reversa compreende no fluxo reverso dos materiais que até então não ofereciam muita utilidade e eram tratados como sucata, resíduo ou lixo, segundo Santos (2012). A partir da implementação e controle da logística reversa estes resíduos podem voltar à cadeia produtiva do varejo para alimentar algum elo ou entrar como matéria-prima, conforme demonstrou Nunes e Haddad (2013) que apresentam a gestão de resíduos na indústria de óleo e gás.
A logística reversa já é reconhecida como uma área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes ao retorno dos bens de pós-venda e pós-consumo ao ciclo produtivo. Sua utilização permite a reciclagem dos recursos de suporte utilizados pelos varejistas e, assim, garantir o retorno desses materiais ao processo produtivo no sentido de reduzir o impacto ambiental.
Neste sentido, o objetivo da pesquisa foi analisar as práticas adotadas de logística reversa e mensurar suas vantagens econômicas e ambientais para o varejo. No presente estudo foi pesquisado um supermercado brasileiro, localizado na cidade de Mogi das Cruzes no Estado de São Paulo/Brasil. Como resultado, foi possível observar um grande volume de resíduos gerados e processados para que os mesmos retornem a cadeia produtiva. Neste sentido, o varejo tem contribuído para reduzir o impacto ambiental que poderia ser deixado por estes resíduos.
Tendo seu principal foco atrelado ao retorno de bens a serem processados por meio da reciclagem de materiais, o conceito de logística reversa consiste em um processo de planejamento, implementação e controle do fluxo de matérias-primas, há estoque em processo e produtos acabados (e seu fluxo de informação) do ponto de consumo até o ponto de origem, com o objetivo de adquirir o valor que poderia ser perdido ou realizar um descarte adequado (Rogers & Tibben-Lembke, 1999; Braga Junior & Rizzo, 2010; Oliveira & Silva, 2011). Para Oliveira, Oliveira & Rodrigues (2012) a logística reversa surgiu como a função de remanejamento de materiais e resíduos, cujo um dos principais objetivos é o recolhimento e a recolocação dos mesmos nos canais de distribuição, podendo assim promover ganhos econômicos consideráveis, ganhos ambientais e agregar maior valor ao produto.
Oliveira & Silva (2011) acrescentam que logística reversa tem grande representatividade diante das ações que visam a preservação do meio ambiente, objetivando o desenvolvimento sustentável. O planejamento eficiente deste processo tornou-se fundamental não só para as empresas, mas também para a sociedade pelo fato dos resíduos sólidos se tornarem um problema para as cidades (Sankoh & Yan, 2013).
Este processo reverso está diretamente ligado à reciclagem, a qual é grande responsável por parte significativa dos resíduos que se tornam matérias-primas novamente. Neste sentido, Pacheco et al (2013) e Braga Junior & Rizzo (2010) explicam que as atividades realizadas pela logística reversa dependem do tipo de material e do motivo pelo qual estes entram no sistema. Os materiais podem ser divididos em dois grandes grupos: produtos e embalagens. No caso de produtos, os fluxos de Logística Reversa se darão pela necessidade de reparo, reciclagem, ou porque, simplesmente, os clientes os retornam. Já as embalagens, normalmente são direcionadas ao início do processo produtivo transformadas em matéria-prima.
Segundo Santos et. al. (2014), há quatro motivos principais para a realização da Logística Reversa: a) questões legais que obrigam os estabelecimentos a posicionar-se perante os problemas gerados pelo descarte dos resíduos; b) conscientização ambiental, que traz o conceito de sustentabilidade atrelado as ações da logística estudada e a cobrança feita pelo consumidor; c) diferenciais estratégicos, interferem na imagem da empresa, flexibilidade e qualidade no recebimento de produtos/resíduos dos clientes e d) redução de custos, geração de receita por meio de materiais que seriam descartados.
Oliveira & Silva (2011) ainda afirmam que é possível por meio da observação do processo reverso identificar que os materiais podem retornar de diversas formas, como: a) retornar ao fornecedor quando houver acordos; b) ser revendidos se ainda estiverem em condições adequadas de comercialização; c) ser recondicionados, desde que haja justificativa econômica; e d) ser reciclados se não houver possibilidade de recuperação. Todas essas alternativas geram materiais reaproveitados, que entram de novo no sistema logístico direto. Em último caso, o destino pode ser o seu descarte final.
Este retorno de produtos obedece a algumas etapas, citadas por Leite (2009) e demonstrada por Braga Junior, Merlo & Nagano (2009), que resumidamente são: coleta, seleção dos destinos dos produtos ou resíduos, reaproveitamento e distribuição destes novos produtos no mercado. Porém, a forma como estas etapas são realizadas interferem no andamento de um processo eficiente, a qual seria a realização do objetivo da logística reversa, reaproveitar materiais para que estes não agridam o meio ambiente.
O alto grau de consumo e o crescimento populacional têm sido grandes responsáveis pelo aumento descontrolado de descarte de resíduos sólidos, consequentemente acarreta em um desequilíbrio ecológico aumentando o índice de poluição no planeta (Santos, 2012; Rahman & Ahmeduzzaman, 2013; Santos, Loureiro & Oliveira, 2013). Desta forma, eles são vistos como um dos maiores problemas enfrentados em uma sociedade na busca do desenvolvimento sustentável, conforme Santos (2012) e Sankoh & Yan (2013).
Por meio destas afirmações e ainda de acordo com Santos (2012), define-se resíduos sólidos, de maneira geral, como materiais indesejáveis para quem os descartou, oriundos de diversos tipos de atividades e locais, podendo acarretar sérios riscos à saúde e ao bem-estar ambiental e humano, caso sejam descartados de forma inadequada.
Araújo et al (2010) afirmam que resíduos sólidos são todos os restos das atividades humanas ou sobras de alimentos, embalagens, plásticos e outros. É tudo o que é considerado como indesejável descartável ou até mesmo inútil. Porém o que não tem valor para alguns, pode ter proveito para outros.
O descarte destes resíduos apresentam grandes riscos, principalmente em áreas em desenvolvimento, por este motivo é necessário que sua destinação e forma de reutilização sejam corretas (Marchi, 2011).
A partir de uma pesquisa realizada pelo IBGE (2002), constatou-se que há maior destinação de resíduos em lixões, sendo esta a opção que mais degrada o meio ambiente, ao mesmo tempo que a alternativa mais adequada é a menos utilizada, os aterros. Estes correspondem ao método de disposição final sem que ocorram grandes danos à saúde ambiental e pública, porém isso não acaba totalmente com a poluição gerada pelo lixo. A reciclagem ou a compostagem ainda é a maneira mais adequada de aproveitar os resíduos sólidos urbanos, segundo Braga Junior & Rizzo (2010).
Por conseguinte, há três formas de reutilização de resíduos e materiais por meio logística reversa, chamados de 3R's (reduzir, reutilizar, reciclar), considerados essenciais para minimizar os impactos ao meio ambiente nos aterros sanitários, segundo Marchi (2011).
Perante os problemas causados pelo descarte destes materiais, foi instituída uma lei, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Esta ferramenta de controle apresenta diversos objetivos segundo o Congresso Nacional, os quais se destacam: a proteção da saúde pública e da qualidade do meio ambiente; a não geração, a redução, a reutilização, a reciclagem e o tratamento de resíduos sólidos, bem como a destinação final ambientalmente adequada dos rejeitos; o desenvolvimento de processos que busquem a alteração dos padrões de produção e o consumo sustentável de produtos e serviços.
A reciclagem é a ponte que liga os resíduos sólidos e a Logística Reversa, ela consiste no reaproveitamento dos materiais como matéria-prima para um novo produto. Este meio é uma atividade importante para minimização da geração de resíduos sólidos, uma vez que reaproveita o que seria considerado como "lixo", conforme Santos (2012). Este exercício vem aumentando consideravelmente nos últimos anos, afirma Oliveira e Silva (2011).
Para a verificação dos objetivos propostos pelo presente trabalho, foi realizada uma pesquisa exploratória de natureza qualitativa por meio de múltiplos casos onde foi utilizado um questionário semiestruturado e uma observação participante no processo de coleta de dados. Quanto a natureza quantitativa, justifica-se por mensurar a vantagem econômica e ambiental da implementação da logística reversa nos supermercados estudados. A Figura 1 apresenta os procedimentos metodológicos utilizados para essa pesquisa e em seguida ocorre o detalhamento desse processo.
Figura 1 – Procedimentos Metodológicos da pesquisa
Quanto à utilização do método qualitativo e quantitativo, o método qualitativo, segue a natureza exploratória com uma amostragem não probabilística por conveniência (Day, Kumar & Aaker, 2001; Cooper & Schindler, 2003). Assim, Yin (2001) explica que a pesquisa qualitativa é caracterizada como uma abordagem compreensiva e detalhada dos significados e das características situacionais apresentadas pelos entrevistados e pelos casos analisados, em lugar de produção de medidas quantitativas de características ou comportamentais.
Sobre o método quantitativo, busca-se levantar os dados no que tange a quantidade de materiais reciclados e os ganhos econômicos com essa ação. Evidentemente esses materiais quando reciclados não são dispostos no meio ambiente dando origem ao estudo sobre as vantagens ambientais. As vantagens ambientais foram mensuradas pelo método Wuppertal (2008).
O método, desenvolvido pelo Instituto Wuppertal, pode avaliar as mudanças ambientais associadas à extração de recursos de seus ecossistemas naturais. Desta forma, para suprir com um fluxo de material um sistema, uma quantidade maior de material foi previamente processada em vários compartimentos ambientais. Os compartimentos são classificados em: abiótico, biótico, água e ar.
Segundo Odum (1998) o ecossistema é composto de compartimentos bióticos e abióticos com interação entre si, o compartimento biótico consiste no conjunto de todos os organismos vivos como plantas e decompositores, o compartimento abiótico é o conjunto de fatores não vivos de um ecossistema, mas que influenciam no meio biótico, consiste na temperatura, pressão, pluviosidade de relevo, entre outros. A quantidade total de material de cada compartimento que foi processado para suprir um dado material denomina-se Intensidade de Material. Para determinar a Intensidade de Material, o fluxo de entrada de massa (expresso nas unidades correspondentes) é multiplicado pelo fator MIF (mass intensity factors) que corresponde à quantidade de matéria necessária para produzir uma unidade de fluxo de entrada.
O objetivo da pesquisa foi demonstrar as vantagens econômicas e ambientais na implementação da logística reversa no varejo supermercadista. Para atingir o objetivo proposto foi realizado um estudo na cidade de Mogi das Cruzes no Estado de São Paulo/Brasil para avaliar as práticas, volumes e tipos de resíduos que são coletados por meio da logística reversa. A escolha do supermercado foi realizada por meio de um convite formal e por se tratar de um supermercado de grande porte e com representatividade no consumo varejista da cidade (mais de 50% da população residente realizam compras neste varejo). Quanto a escolha da cidade, foi uma escolha por conveniência dos pesquisadores e por ser uma cidade satélite da capital paulista com aproximadamente meio milhão de habitantes.
Quanto ao método para analise dos dados coletados, desenvolvido pelo Instituto Wuppertal, pode avaliar as mudanças ambientais associadas à extração de recursos de seus ecossistemas naturais. Desta forma, para suprir um fluxo de material de um sistema, uma quantidade maior de material foi previamente processada em vários compartimentos ambientais. Os compartimentos são classificados em: abiótico, biótico, água e ar.
É importante salientar que os estudos de intensidade de material desenvolvido no instituto Wuppertal têm base na matriz energética da Alemanha, Europa ou Mundo. Mas que esse fato não impossibilita a implementação dessa ferramenta metodológica no Brasil, segundo o instituto os dados quantitativos são muito próximos.
O supermercado objeto de pesquisa se localiza na cidade de Mogi das Cruzes, Estado de São Paulo/Brasil. Este varejo possui um volume total de resíduos coletados de em média 125 mil quilogramas de papelão e 10.800 quilogramas de plástico no ano de 2013.
Quanto a sua caracterização, o supermercado possui 30 check-outs, sendo que destes, 10 são para compras de até 15 volumes. Este aspecto também pode demonstrar que existe um perfil de consumidor que realiza pequenas compras. Outras características deste supermercado é a sua área de venda de 3.000 m2 e fluxo médio diário de 3500 pessoas. Contêm em sua área de venda as seções de mercearia em geral, bazar, hortifrúti, padaria, lanchonete, açougue, peixaria, área de frios (laticínios).
A partir destes dados, este supermercado se enquadra como Superloja conforme classificação apresentada por Parente (2000), que trata do formato de lojas para o varejo alimentício. Esta classificação segue a variação pelo o número de check-outs, área de venda e fluxo de pessoas.
Para a prensa e armazenagem dos materiais que serão coletados, o supermercado atua em parceria com uma empresa terceirizada em que, a prensa e a mão-de-obra é da empresa parceira. Pela relação estabelecida entre esta empresa e o supermercado é todo da empresa parceira. Em contra partida, a empresa parceira se compromete a gerar empregos diretos para o processamento destes produtos. No supermercado, trabalham de 4 à 6 pessoas sob vinculo empregatício com a empresa parceira e com a responsabilidade recolher e processar os materiais que serão prensados e coletados pela empresa parceira. Agregado a estas tarefas, estão outras como contribuir com a limpeza e organização da loja.
Esta empresa parceira no varejista objeto de estudo também tem a missão de manter a área externa (estacionamento) limpa. O motivo pelo qual a área externa também é compromisso da parceria está no acumulo de resíduos sólidos advém de um princípio do supermercado, realizar coleta de materiais recicláveis de pós-venda e/ou pós-consumo produzidos pelos seus clientes. Do volume total arrecadado, 11% são provenientes da coleta do papelão e plástico deixados pelos clientes.
A partir destas considerações, foi possível observar que o intuito deste supermercado não é a geração de vantagem econômica para si e sim, possuir um papel social na região em que se situa e ser sinônimo de preocupação ambiental para seus clientes.
Como consequência desta iniciativa, o supermercado possui uma imagem corporativa perante a sociedade muito mais competitiva do que outros supermercados que estão localizados nas redondezas. Através desta ação, o supermercado pratica seu marketing corporativo, fixando-se na memória do consumidor, de que este varejo é ambientalmente correto, podendo provocar preferência dentre outros concorrentes.
O grande acúmulo de resíduos sólidos ocasionado pelo aumento do consumo no varejo tem provocado a maior produção de materiais que anteriormente não eram reciclados, reaproveitados e nem recuperados. Esta situação atingiu as empresas do varejo supermercadista por ser um dos elos da cadeia produtiva e que está diretamente ligado ao consumidor. Neste sentido, o mecanismo mais adequado a ser adotado pelo varejo para atender esta necessidade, pode ser a prática da logística reversa.
Este mecanismo atende ao apelo da gestão ambiental com tendência a sustentabilidade empresarial além de poder criar uma nova oportunidade de negócio no setor e gerar possibilidades de ganhos financeiros. Alguns varejistas buscam acordos com seus fornecedores para retornar plástico e papelão para a indústria, outros estabelecem contratos com empresas de reciclagem para a realização da destinação correta. A tabela 1 demonstra o volume total anual de papelão e plástico recolhidos do varejista objeto de estudo, que retornam a cadeia produtiva através da reciclagem ou reutilização.
Tabela 1 – Volume TOTAL em Kg de produtos reciclados (2013)
Item |
Quantidade |
Papelão |
125.000 |
Plástico |
10.800 |
Total |
135.800 |
O processo de reciclagem e reutilização destes materiais que seriam descartados pelo varejo é apresentado na Figura 2, que demonstra o fluxo de resíduos acumulados pela cadeia em que o supermercado está inserido. São apresentados os processos de reaproveitamento de venda do papelão e plástico, sendo estes, os produtos que mais agregam receita financeira pela facilidade de venda e recolocação no mercado.
Figura 2 – Estrutura da cadeia de Logística Reversa no supermercado estudado
O processo da logística reversa destes materiais citados tem início quando os fornecedores entregam os produtos embalados em caixas de papelão e em pallets, protegidos por plástico. O supermercado os recebe e, ao realizar o abastecimento das gôndolas, separa o papelão e plástico e os retorna à área do depósito onde é separado, prensado e armazenado em fardos. Os mesmos são vendidos para uma empresa que prepara o material com a finalidade de ser transformado novamente em embalagem e posteriormente, vendida às indústrias fornecedoras do supermercado.
Por meio do método Wuppertal (2008), foi possível realizar o cálculo que estima o quanto de material biótico deixa de ser produzido e o quanto de material abiótico não é lançado ao meio ambiente, proporcionando um ganho ambiental. Os valores de referência são apresentados na tabela 2. Estes valores foram estruturados pelo Instituto Wuppertal que mensurou o material abiótico e biótico gerado a partir do plástico e do papelão para determinar quanto uma empresa deixa de poluir quando implementa um processo de Logística Reversa para estes materiais. Para esclarecimento, o plástico é um produto que não gera material biótico.
Tabela 2 – Fatores (europeus) de Intensidade de Material
Material abiótico |
Material biótico |
Água |
Ar |
|
Plástico (g/g) a |
6,45 |
294,20 |
3,72 |
|
Papelão (g/g)b |
1,86 |
0,75 |
93,60 |
0,33 |
a – dados da Alemanha; b – dados da Europa
Para determinar a Intensidade de Material, o fluxo de entrada de massa (expresso em unidades correspondentes) é multiplicado pelo fator MIF (mass intensity factors) que corresponde à quantidade de matéria necessária para produzir uma unidade de fluxo de entrada. Os valores de MIF estão na Tabela 2.
Em 2013, o varejo obteve um volume mensal de arrecadação de resíduos de 9.500 kg para papelão, porém nos últimos meses do ano esse número aumentou em média 57, 9%, ficando em torno de 14.000 kg e 16.000 kg, para novembro e dezembro respectivamente. Para o plástico também há variação positiva em sua arrecadação ao final de 2013, o volume mensal ao longo do ano é de 800 kg, já nos meses de novembro e dezembro há um aumento de 66, 7% e 100%, respectivamente.
O varejo tem um total de Massa de Material (MM) mensal de 27.187,50 kg para papelão e 5.800 kg para plástico. Estes dados numéricos são resultado a partir da soma dos valores tanto dos materiais abióticos e bióticos apresentados na tabela 3. Pelo alto volume processado, o impacto no volume de água e ar que deixam de ser poluídos é significante, como consequência.
Tabela 3 – Vantagens ambientais do processo de reuso de embalagens em Kg
Fatores de Intensidade de Material – Supermercado Objeto da Pesquisa |
||||
Material abiótico |
Material biótico |
Água |
Ar |
|
Plástico (kg/kg) a |
69.660,00 |
3.177.360,00 |
40.208,40 |
|
Papelão (kg/kg)b |
232.500,00 |
93.750,00 |
11.700,00 |
40.625,00 |
Total por Compartimento |
302.160,00 |
93.750,00 |
3.189.060,00 |
80.833,40 |
A partir desta análise dos dados coletados e apresentados, foi possível observar a grande importância que a prática da logística reversa apresenta para a sustentabilidade do varejo e da cadeia de suprimentos do setor no que tange o aquecimento global, o desgaste da camada de ozônio e a pressão atmosférica. Esta consideração também está baseada nos dados consolidados da tabela 1, que demonstra um volume total em torno de 136 toneladas de plástico e papelão apenas no ano de 2013, no que diz respeito à um único supermercado do Estado de São Paulo, implicando em uma gigantesca quantidade de resíduo que deixaram de ocupar espaço em aterros sanitários ou serem destinados à locais não apropriados para o descarte. Os materiais abióticos e bióticos não despejados no meio ambiente deixam de poluir vegetação, solo e decompositores naturais.
Neste sentido, as 136 toneladas de papelão e plástico deixam de poluir mais de três mil toneladas de água e 80 toneladas de ar, inclusive, em emissão de CO2. Nesta relação, o ganho ambiental analisado neste estudo pode ser quantificado da seguinte forma: para cada quilograma de resíduo reciclado que o presente estudo levantou, 2,23 kg de material abiótico, 0,69 kg de material biótico deixa de ser gerado, 24 kg de água e 0,60kg de ar não foram poluídos.
Com o aumento da geração de resíduos, a proposta deste estudo foi analisar a implementação de uma ferramenta alternativa, a logística reversa, para diminuir o impacto causado pela poluição. O setor pesquisado foi o varejo, pois estabelece contato direto com o consumidor e por envolver o aspecto social, ambiental e econômico na proposta de lidar com o material descartado neste segmento (Santos, 2012).
Considerando que um dos principais objetivos da logística reversa consiste no recolhimento e recolocação dos materiais e resíduos nos canais de distribuição, promovendo ganhos econômicos, ambientais e agregando maior valor ao produto, este processo tem grande representatividade na preservação do meio ambiente.
Como função, a Logística Reversa busca promover, principalmente, a reciclagem dos resíduos sólidos, para serem descartados de forma adequada e contribuir para minimizar os riscos à saúde e ao meio ambiente.
Neste sentido, os resultados desta pesquisa demonstram que a logística reversa é um processo que contribui para a sustentabilidade no varejo supermercadista, por trazer ganhos econômicos com o material que seria descartado, mas que passa a gerar uma receita adicional. Por meio desta análise, pode-se observar que o supermercado objeto de pesquisa é um grande gerador de vantagens ambientais para a cidade de São Paulo (SP), desta forma, indaga-se sobre a grande importância da prática da logística reversa em varejos supermercadistas, sendo que somente um supermercado proporciona um significativo ganho ambiental.
Além do ganho econômico, a logística reversa proporciona vantagens ambientais, as quais são os resultados que mais chamam a atenção.
De acordo com a análise realizada no item das vantagens ambientais, relacionando-se a grande quantidade de resíduos destinados corretamente, pode-se considerar que somente o varejo do Estado de São Paulo deve gerar milhões de toneladas de papelão e plástico, considerando que apenas um supermercado gera um volume de quase 136 toneladas por ano, sendo este um dos principais destaques desta avaliação.
Uma limitação encontrada nesse estudo é sobre o cálculo de intensidade de material desenvolvido no instituto Wuppertal que utiliza como base a matriz energética da Alemanha, Europa ou Mundo. Porém, em contrapartida não impossibilita a implementação dessa ferramenta metodológica no Brasil. Segundo o instituto, os dados quantitativos são muito próximos e não há como mostrar precisão, é somente um meio para quantificar as vantagens ambientais, já sendo de grande valia para a contextualização científica.
Pode ser considerada outra limitação, a possibilidade de ocorrer casos em que a organização não tenha vantagens econômicas, embora os custos com a sustentabilidades podem ser supridos pelas próprias ações de reciclagem e destinação correta de resíduos sólidos.
Por fim, uma contribuição do presente estudo está no conhecimento de como são tratados os resíduos sólidos gerados pela maioria dos supermercados através da Logística Reversa e para os varejistas que ainda não aplicam, demonstrar que este pode ser uma alternativa de ganhos econômicos diretos e ganhos ambientais para a sociedade na busca pela sustentabilidade.
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