ISSN 0798 1015

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Vol. 38 (Nº 50) Año 2017. Pág. 8

Percepção dos alunos de duas escolas do ensino básico sobre plantas medicinais, município de Buriti dos Lopes, norte do Piauí, Nordeste do Brasil

Perception of pupils of two schools of basic education on medicinal plants, municipality of Buriti dos Lopes, north of Piauí, northeastern Brazil

Maria Helena ALVES 1; Melise Pessôa Araújo MEIRELES 2; Jesus Rodrigues LEMOS 3

Recibido: 27/06/2017 • Aprobado: 18/07/2017


Conteúdo

1. Introdução

2. Material e métodos

3. Resultados e discussão

4. Considerações finais

Referências


RESUMO:

O presente trabalho teve por objetivo identificar o nível de conhecimento dos alunos de duas escolas públicas da zona rural e urbana sobre o uso de plantas medicinais, almejando também transformar essas informações numa ferramenta de ensino e aprendizagem.
Palavras chiave: plantas medicinais; ferramenta de ensino e aprendizagem; município de Buriti dos Lopes

ABSTRACT:

The objective of this work was to identify the level of knowledge of the pupils of two public schools in the rural and urban area on the use of medicinal plants, aiming to transform this information into a teaching and learning tool.
Keywords: medicinal plants; Teaching and learning tool; Buriti DOS Lopes Municipality

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1. Introdução

Desde os primórdios da Antiguidade até hoje, as plantas medicinais têm sido consideradas importantes devido ao seu recurso terapêutico. Mesmo diante da modernidade, ainda são utilizadas por pessoas de vários níveis sociais. Atualmente, o conhecimento popular, juntamente com a constatação científica são considerados fortes indícios sobre a eficácia das plantas medicinais (Barros, 2006).

 Pesquisas etnobotânicas demonstram a existência de um amplo acervo de plantas medicinais cujas características são de conhecimento popular, o qual, de forma indireta, tem colaborado para o progresso científico e para a valorização do conhecimento dos povos tradicionais. Contudo, grande parte deste acervo carece de estudos que permitam uma melhor aplicação do potencial das espécies medicinais existentes nos diversos biomas brasileiros (Lameira & Pinto, 2008). Distintas espécies têm sido empregadas para fins terapêuticos por comunidades tradicionais em áreas rurais, o que vem se propagando através da medicina tradicional brasileira, mas essa utilização não se restringe apenas às áreas rurais, estando também largamente disseminada em áreas urbanas do país (Alves; Silva & Alves, 2008).

A utilização de plantas medicinais pela população mundial continua muito significante nos últimos anos. Dados comprovados pela Organização Mundial de Saúde-OMS demonstram que cerca de 80% da população mundial fez o uso de algum tipo de planta na busca de alívio de algum sintoma doloroso ou desagradável. Desse total, pelo menos 30% ocorreu por indicação médica (Barraca, 1999).

As plantas medicinais também são usadas como instrumento para instigar a preservação ambiental e, uma vez que sejam realizados estudos pedagógicos acerca de plantas medicinais, tanto se trabalha a temática do meio ambiente como a orientação em relação à economia, saúde e qualidade de vida, criando-se uma ligação entre Educação Ambiental e Saúde Pública. Neste sentido, a escola torna-se um local propício para aplicar métodos e guiar os alunos a respeito das riquezas dos recursos naturais, buscando despertar neles o deslumbre pela pesquisa das características medicinais das plantas e sua adequada aplicação terapêutica, visto que as plantas medicinais aparecem como uma das opções para o trabalho preventivo da saúde das pessoas (Silveira, 2005).

Estudos que objetivam verificar o grau de conhecimento de alunos de escolas acerca do usos de plantas medicinais tem sido alvo nos últimos dez anos, os quais tem sido desenvolvidos em diferentes níveis de ensino, como o fundamental (Cruz et al., 2009; Silva, 2012; Passos, 2013, Vicente, 2013; Leite et al., 2014, Carneiro et al., 2012), médio (Mauli et al., 2007; Moraes et al., 2010; Bourscheid, 2011; Carneiro et al., 2012; Brito, 2013; Lacerda et al., 2013) e até superior (Viveiros et al., 2004; Paulino et al., 2011). Destes estudos, quase todos foram realizados nas regiões Centro-Oeste, Sul e em algumas cidades do Nordeste meridional do país.

No estado do Piauí, estudos com este perfil, até o momento, são inexistentes,  havendo, para o Ceará, estado geograficamente mais próximo, o estudo realizado por Oliveira et al. (2016), o qual objetivou verificar eventuais diferenças entre o conhecimento acerca do uso medicinal de plantas por alunos de duas escolas de Ensino Fundamental da zona rural e urbana no município de Viçosa do Ceará.

Acredita-se que a sensibilização com os alunos a respeito da importância dos costumes que envolvem as plantas medicinais, trazendo para o meio escolar o conhecimento de suas famílias, contribua não só para expandir essa prática de uso mas também para colaborar na integração da escola com a comunidade (Silva, 2012).

Com isso, o presente trabalho teve por objetivo identificar o nível de conhecimento dos alunos de duas escolas públicas da zona rural e urbana sobre o uso de plantas medicinais, almejando também transformar essas informações numa ferramenta de ensino e aprendizagem.

2. Material e métodos

2.1. Área de estudo e procedimento da pesquisa

O município de Buriti dos Lopes (03º10’30’’ S e 41º52’01’’ O) foi criado pelo Decreto nº 147 de 15/12/1938 e está situado a 281 km de Teresina (IBGE, 2010). Localizado na microrregião "Litoral piauiense", tem como limites ao norte os municípios de Parnaíba, ao sul Caxingó, a leste Bom Princípio e a oeste o Estado do Maranhão. Segundo o Censo 2010 do IBGE, a população total é de 19.074 habitantes e a densidade demográfica de 35,49 hab./km², onde 49,82% das pessoas vivem na zona rural.

O município possui um total de 24 escolas públicas, 18 localizadas na zona rural e seis na zona urbana, sendo que essa pesquisa foi desenvolvida em duas escolas de ensino fundamental da rede pública do município de Buriti dos Lopes. Para preservar os nomes, as escolas foram identificadas pelas letras “R” (Rural) e “U” (Urbana).

Para a coleta de dados foi elaborado um questionário, seguindo a metodologia de Moraes et al. (2010), composto de sete questões, sendo cinco fechadas, uma semiaberta e uma aberta, com o objetivo de levantar dados relacionados ao conhecimento dos alunos quanto ao tema “plantas medicinais”, como se segue: O que o aluno entende por planta medicinal; Se conhece alguma planta medicinal das que foram exemplificadas ou se tem conhecimento de outras que não foram citadas; Se o aluno ou alguém da família já fez ou faz uso de planta medicinal; Se caso tenha feito o uso de planta medicinal para que finalidade a usou; Se fez ou faz uso de planta medicinal qual a parte da planta foi utilizada; Como obteve conhecimento do uso de planta medicinal e; Se o aluno tem alguma experiência em relação ao uso com planta medicinal.

Os questionários foram aplicados e respondidos no ambiente escolar, em sala de aula, na presença do pesquisador responsável e do representante da escola (diretor). Desta maneira assegurou-se que os alunos estariam cientes do próprio conhecimento sobre o assunto para resolução do mesmo e foi solicitado que os mesmos não se identificassem, segundo proposta de Silva e Marisco (2013).

A amostra da pesquisa correspondeu ao total de 48 alunos cursando o 9ºano/8ª série. Na escola “R” o questionário foi aplicado no turno manhã e o mesmo foi respondido por 25 alunos, de um total de 32 alunos da turma. Na escola “U” o questionário foi aplicado no turno manhã e o mesmo foi respondido por 23 alunos, de um total de 25.

Para análise dos resultados foi realizada a média aritmética simples relacionando o conhecimento do aluno e a planta medicinal, em planilha do Microsoft Excel seguido da construção de figuras gráficas. Também foram expressados em tabela os nomes específicos e populares das plantas citadas, além dos percentuais sobre os conhecimentos dos alunos das duas escolas ("R" e "U") sobre as plantas medicinais.

3. Resultados e discussão

 A amostragem dos alunos pesquisados nas duas escolas consta dentre da faixa etária de 12 a 17 anos, sendo a maioria entre 12 e 15 anos, havendo um número igual de alunos do sexo feminino (50%) e masculino (50%) nas salas de aula. A faixa etária mais representativa em relação à idade dos alunos foi a de 14 anos com porcentagem de 47,91% (Tabela 1).

Tabela 1
Faixa etária dos alunos das duas escolas ("R" e "U") do município de Buriti dos Lopes-PI

Na escola “R”, a faixa etária apresentada foi de 14 anos, ocorrendo um número maior de alunos do sexo masculino (52%). Na escola “U”, os alunos apresentaram faixa etária entre 13 anos, com número maior de alunos do sexo feminino (52,17%) na sala de aula.

Para o conceito de planta medicinal (primeira questão), percebeu-se que o mais frequente, nas respostas dos alunos das duas escolas “R” e “U”, foi aquele que se utilizou de características das plantas medicinais (Figura 1).

Figura 1
1ª questão: “O que você entende por planta medicinal?”

Na escola “R”, do total de 25 alunos, 10 (40%) marcaram a 3ª alternativa (Plantas medicinais são aquelas que possuem características que ajudam no tratamento de doenças ou que melhorem as condições de saúde das pessoas); oito (32%) optaram pela 4ª alternativa (Plantas medicinais são todas aquelas que possuem princípios ativos que ajudam no tratamento das doenças podendo levar até mesmo a sua cura); seis (24%) marcaram a 1ª alternativa (As plantas medicinais combatem as doenças e as dores) e; um aluno (4%) marcou a 2ª alternativa (Planta Medicinal é qualquer planta que contenha substâncias, que podem ser utilizadas com finalidade terapêutica).

Enquanto que na escola “U”, do total de 23 alunos, 12 (52,17%) marcaram a 3ª alternativa (Plantas medicinais são aquelas que possuem características que ajudam no tratamento de doenças ou que melhorem as condições de saúde das pessoas); dez (43,47%) optaram pela 4ª alternativa (Plantas medicinais são todas aquelas que possuem princípios ativos que ajudam no tratamento das doenças podendo levar até mesmo a sua cura) e; um aluno (4,34%) marcou a 1ª alternativa (As plantas medicinais combatem as doenças e as dores).

Pode-se perceber, através das respostas dos alunos, que em relação ao conceito de planta medicinal, o mesmo se torna semelhante com o conceito de Cavallazzi (2006), em que ele cita que “planta medicinal é qualquer planta que contenha substâncias, que podem ser utilizadas com finalidade terapêutica”, ou seja, as plantas medicinais possuem características que podem ajudar ou melhorar pessoas doentes.

Com o intuito de constatar quais as plantas medicinais mais conhecidas pelos alunos, foi solicitado que os mesmos marcassem (2a questão) as plantas que mais conheciam e muitos citaram as plantas relacionadas ao seu cotidiano (Tabela 2), que com o nome popular citado, recorreu-se à literatura botânica especializada para aquisição do nome científico, os quais tiveram suas grafia e autoria atualizadas no sítio Flora do Brasil 2020 em construção (2017).

Tabela 2: Plantas medicinais mais conhecidas pelos alunos do 9º ano, das escolas
(Rural e Urbana) do município de Buriti dos Lopes-PI, trazidas em ordem alfabética de táxon.

 

TÁXON

 

NOME POPULAR

Percentual de plantas medicinais conhecidas pelos alunos (por  escola)

URBANA

RURAL

Allium sativum L.

alho

86,95

92

Aloe vera (L.) Burm. F

babosa

73,91

88

Alternanthera dentata (Moench) Stuchlik

penicilina

17,39

32

Amburana cearensis (Allemão) A.C.Sm.

imburana

21,73

88

Chamomilla recutita (L.) Rauschert

camomila

82,60

28

Chenopodium ambrosioides L.

mastruz

82,60

88

Cymbopogon citratus Stapf

capim-limão

86,95

100

Eucalyptus sp.

eucalipto

91,3

68

Foeniculum vulgare Mill.

erva-doce

82,60

48

Handroanthus sp.

pau d’arco

26,08

80

Hymenaea sp.

jatobá

52,17

84

Lavandula officinalis Chaix.

alfazema

34,78

16

Libidibia ferrea Mart. ex Tul.

jucá

17,39

88

Lippia alba (Mill.) Brow.

erva-cidreira

91,3

80

Malva sylvestris L.

malva

60,86

72

Mentha x villosa Huds.

hortelã

95,65

64

Mimosa sp.

unha de gato

8,69

80

Morinda citrifolia L.

noni

60,86

68

Myracrodruon urundeuva (Engl.) Fr. All.

aroeira

39,13

88

Phyllanthus urinaria L.

quebra-pedra

56,52

80

Plectranthus barbatus Andr.

boldo

95,65

92

Poincianella gardneriana Benth.

catingueira

30,43

76

Psidium guajava L.

goiabeira

60,86

80

Punica granatum L.

romã

73,91

32

Ruta graveolens L.

arruda

21,73

40

Solanum melongena L.

berinjela

60,86

40

Tabebuia sp.

caraúba

21,73

60

Zingiber officinalis Roscoe

gengibre

82,60

32

Nos resultados dos questionários de Nunes e Dantas (2007), os autores demonstraram que 47% dos alunos conhecem mais de 10 plantas. No que se refere às plantas propriamente ditas, verificou-se semelhança com os resultados de Cruz et al. (2009), nos quais as plantas mais citadas foram camomila, com 20,77% e boldo, 18,46%, corroborando com os nossos resultados. Ainda neste sentido, resultados semelhantes a esta pesquisa foram observados no trabalho de Santos (2012), onde as plantas mais citadas foram erva-doce (65%), capim-limão (37%), boldo (31%), quebra-pedra (13%), babosa, eucalipto, alho e manjericão (6,89% cada).

De acordo com este percentual pode-se perceber que os alunos da escola “R” em relação aos alunos da escola “U” demonstraram mais conhecimento sobre as plantas medicinais nativas.

Na terceira questão, sondando a fonte de conhecimento dos alunos acerca das plantas medicinais foi perguntado se eles ou alguém de sua família já fez ou faz uso de planta medicinal. Constatou-se que a resposta afirmativa foi unânime, ou seja, todos os alunos das duas escolas responderam que “sim” (100%). Assim, é notória, através deste resultado, a utilização de plantas medicinais pelos alunos e por suas famílias.

No estudo de Lacerda et al. (2013), 71% dos alunos entrevistados responderam que faz uso de plantas medicinais para a cura de algum tipo de doença. Estes dados convergem com os encontrados no presente trabalho, no qual 100% dos alunos entrevistados também evidenciaram a utilização de planta medicinal. Também ficou evidente a ideia de que os alunos ou suas famílias utilizam a planta medicinal como forma de tratar suas doenças e que, ainda, as usam para a prevenção de futuras doenças. Segundo Barros et al. (2006), a procura dos vegetais para a cura de determinadas doenças se dá pela dificuldade ao acesso médico, ou talvez pelo fator econômico da comunidade.

Na quarta questão (Figura 2), investigou-se as finalidades (cura de doenças) do uso de planta medicinal feita pelo aluno. Nesta questão, foram citadas 37 finalidades para o uso de plantas medicinais, tais como: dor de cabeça; constipação (xarope); condimento; dor de dente; rejuvenescedor; hemorroidas; inflamações; colesterol; tosse/gripes; alimentação; febre; diarreia; queda de cabelo; dores de garganta (gargarejos)/rouquidão; banhos de assento; infecções; prisão de ventre; furúnculos; pneumonia; bexiga/rins/fígado; coração; calmante; má disposição; tensão arterial; digestivo; ansiedade/tensão; insônia; perda de peso; dores de cabeça; doenças de pele; dores de menstruação (cólicas); anemia/ purificador do sangue; diabetes; estômago/intestino; queimaduras/feridas; sinusite; outras.

Na escola “R”, as dez finalidades mais citadas pelos alunos na utilização de plantas medicinais no tratamento de algumas doenças foram: dores de barriga e tosse/gripes, com 100%; febre, com 80%; dores de garganta (gargarejos)/rouquidão, com 72%; inflamações, com 52%; diarreia e dores de menstruação (cólicas), com 48%; dor de dentes e dores de cabeça, com 44% e calmante, com 40%. Já na escola “U”, as dez finalidades mais citadas foram: tosse/gripes, com 86,95%; febre, com 73,91%; dores de garganta (gargarejos)/rouquidão e dores de barriga, com 69,56%; dores de cabeça, com 65,21%; diarreia e sinusite, com 47,82%; inflamações, com 43,47%; dores de menstruação (cólicas) e calmante, com 39,13%.  Resultado semelhante encontra-se no estudo de Lacerda et al. (2013), onde os alunos, ao serem indagados pela mesma questão, reportaram que usam as plantas no tratamento de algumas doenças como: dor de cabeça, 41%, febre, 6%, diarreia, 12%, gripe, 23%, artrose, 6%, mal estar, 6% e inflamação da garganta, 6%.

Figura 2. Enfermidades citadas pelos alunos do 9º ano, das duas escolas (Rural e Urbana)
do município de Buriti dos Lopes-PI, que utilizam plantas medicinais como tratamento.

Na quinta questão (Figura 3), com relação à parte da planta utilizada no tratamento de algumas doenças, pode-se analisar nos relatos dos alunos da escola “R”, que foi a folha, 100%, seguido da casca (88%), raiz (64%), caule (48%), semente (40%) e flor (32%). Quanto ao resultado dos alunos da escola “U”, verificou-se que a folha também foi a mais citada com 91,30%, seguido da casca (78,26%), raiz (39,13%), semente (34,78%), flor (26,08%) e caule (13,04%). Pereira et al. (2001) comentam que as folhas são as partes das plantas mais utilizadas com fins medicinais devido à facilidade da coleta e a maior disponibilidade das mesmas. Estes resultados corroboram com os encontrados neste presente trabalho. Por outro lado, de acordo com Castelluci et al. (2000), a explicação mais notável para o uso das folhas pode ser considerado o fato da coleta ser mais fácil e por estarem disponíveis a maior parte do ano.

Figura 3. Parte das plantas mais citadas pelos alunos do 9º ano, das
duas escolas (Rural e Urbana) do município de Buriti dos Lopes-PI.

Quando questionados, na sexta questão (Figura 4), sobre os meios em que obtiveram informações sobre as plantas medicinais, os mais citados pelos alunos da escola “R”, foram: família/amigos, com 100%, vizinho (52%), televisão (40%), livros/revistas (24%), posto de saúde (20%), outros (4%). Já para a escola “U” os meios mais citados pelos alunos foram: família/amigos, com 95,65%, vizinho (43,47%), posto de saúde e televisão (21,73%), livros/revistas (13,04%), escola, internet e outros, 8,69%. Ressalta-se que nesta questão, os alunos poderiam escolher mais de uma resposta.

Nos resultados encontrados por Cruz et al. (2009), os alunos relataram que adquiriram o conhecimento sobre plantas medicinais por meio de livros (18%), antecedentes familiares (9%), vizinhos e amigos (9%) e cursos (27%). Já Nunes & Dantas (2007), verificaram que 78% dos alunos aprenderam a usá-las com os pais ou avós, corroborando assim com este resultado. Observa-se assim, que os alunos, em grande maioria, não adquirem conhecimento sobre o uso de plantas medicinais nas escolas, mas no meio familiar.

Figura 4. Respostas mais citadas pelos alunos do 9º ano, das duas escolas (Rural e Urbana)
do município de Buriti dos Lopes-PI, sobre como obtiveram conhecimento sobre as plantas medicinais.

Visando constatar os relatos das experiências dos alunos sobre o uso com plantas medicinais, aplicou-se a sétima questão: “Você tem alguma experiência em relação ao uso com plantas medicinais? Qual? Dê o seu relato?”.

Na escola “R”, todos os 25 alunos deram seu relato em relação ao uso com plantas medicinais, identificando as plantas utilizadas juntamente com a sua finalidade. Sobre esta questão, escolhemos quatro respostas para ilustrá-la, apresentadas a seguir:

[...] “Sim. Folhas de maracujá para aliviar a ansiedade. Erva-cidreira para febre. Chá de hortelã para dor de garganta” (Aluno A).

“Sim, para o lambedor a casca de aroeira de cheiro, casca de angico, a folha de malva, para gripe” (Aluno B).

“Sim, óleo de andiroba para dor de garganta, mastruz para febre” (Aluna C).

“Sim, beterraba, usei para anemia quando eu cheguei do hospital” (Aluna D).

O uso da imburana foi destacado por cinco alunos para diferentes fins medicinais como a seguir:

[...] “Sim, casca de imburana para gripe” (Aluna E).

“Sim, imburana para dores de cabeça” (Alunos F, G, H).

“Com os dois tipos de imburana que serve para inflamações de garganta e outras inflamações, etc.” (Aluno I).

Ainda foi destacado, por sete alunos, o uso de diversas plantas medicinais com a finalidade de combater as dores de barriga, entre elas:

[...] “Sim, eu já tomei chá de boldo, porque eu estava com dor de barriga” (Alunos J, K, L).

“Sim. Eu já estive com dor de barriga e minha mãe me fez chá da folha de erva-cidreira e eu melhorei” (Alunos M, N).

“Sim, a casca de laranja para dor de barriga” (Aluno O).

“Sim, o chá de capim-limão serve para dor de barriga e mal estar, etc.” (Aluna P).

Dois alunos destacaram o uso da folha da laranjeira e do limão no combate a náuseas. Já outro aluno destacou o uso da folha de laranja para febre, tosse e gripe. Dois alunos afirmaram o uso do mastruz para diversos fins como gripe, tosse e dor de garganta (rouquidão). Observou-se pelos relatos de outros alunos que o noni serve para várias doenças e a utilização do eucalipto e da romã, para febre. Para o combate a gripe/tosse, o chá de alho. A hortelã, para dores de garganta e camomila para calmante.

Na escola “U”, dos 23 alunos apenas 15 deram seu relato em relação ao uso com plantas medicinais, identificando as plantas utilizadas juntamente com a sua finalidade. Sobre esta questão, algumas afirmações foram:

[...] “Ânsia de vômito, tomo chá do boldo e eu gosto do chá da casca de laranja” (Aluna A).

“Sim, quando eu estava com cólica minha avó me deu um chá de capim-limão” (Aluna B).

“Sim, a casca-de-pau que me ajuda nos problemas de rins” (Aluno C).

“Sim, eu tomei chá quando estava doente e passei babosa nos cabelos porque estava caindo muito” (Aluna D).

“Eu usei a romã porque estava com a garganta inflamada” (Aluna E).

Dentre outros relatos a respeito da experiência em relação ao uso com plantas medicinais, destacam-se:

[...] “Sim, usei um chá da semente da laranja pois estava gripado” (Aluno F).

“O chá que mais uso é chá de casca de laranja” (Aluna G).

“Às vezes quando estou com febre alta, faço um chá de eucalipto” (Aluno H).

“Sim, dores de barriga, cólica, dores de cabeça, uso o chá da casca de laranja, enxaqueca foi o chá de capim-limão” (Aluna I).

“Sim, os chás servem para reter qualquer dor e é muito importante ter alguma planta medicinal em casa” (Aluno J).

Foi destacado por seis alunos o uso de diversas plantas medicinais com a finalidade de combater as dores de barriga, entre elas: o chá da folha do boldo,  da folha da goiabeira e o da casca ou folha da laranja.

Cruz et al. (2009), sobre as formas de utilização das plantas medicinais, observaram que o chá é a forma mais conhecida. Lacerda et al. (2013) também detectaram que 76% das pessoas as usam como chá, mas que 18% usam na forma de xarope e 6% como gargarejo. Constatou-se, pelos relatos dos alunos, o uso do chá de diversas plantas medicinais, coincidindo assim com este trabalho e que vem a corroborar com o trabalho de Santos (2012).

4. Considerações finais

Diante do exposto pelos alunos das duas escolas trabalhadas (“R” e “U”), conclui-se que os alunos da escola “R” demonstraram possuir conhecimento mais amplo sobre plantas medicinais, fazendo-se notório o conhecimento deles em relação às plantas medicinais nativas.

Sobre a concepção dos alunos das referidas escolas acerca do que entendem por planta medicinal, observou-se que os alunos apresentaram grande variedade de conceitos e citaram as plantas que ajudam no tratamento de doenças ou que melhoram as condições de saúde das pessoas.

Constatou-se que os alunos das duas escolas ou alguém de suas famílias já fizeram ou fazem o uso de planta medicinal. Entretanto, em relação ao uso de planta medicinal para alguma finalidade, no caso de doenças e/ou sintomas mais frequentes nas pessoas, observou-se um percentual maior nos alunos da escola “R”.

Verificou-se, quanto à parte da planta utilizada, que a mais citada pelos alunos das duas escolas “R” e “U” foi a folha e que o chá foi a forma de uso mais citada.

Embora a escola seja considerada a fonte primordial de conhecimento sobre diversos assuntos, percebeu-se, nas escolas analisadas, a deficiência em relação ao ensino e aprendizagem deste tema, visto ter-se constatado que este assunto não foi abordado em sala de aula, pois a maioria dos alunos afirmou ter adquirido este conhecimento com familiares ou amigos.

O tema “Plantas medicinais” é considerado rico para ser apresentado e discutido em sala de aula pois apresenta inúmeras possibilidades a serem trabalhadas, principalmente para melhorar o processo de ensino e aprendizagem de parte do conteúdo e Botânica nos alunos no ensino fundamental.

Espera-se que este estudo, em última instância, possa incentivar nas gerações futuras a valorização do meio ambiente e seus recursos naturais, além de estimular profissionais docentes a despertarem valores de conservação no ambiente escolar.

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1. Professora Dra. da Universidade Federal do Piauí, Campus Ministro Reis Velloso, Universidade Federal do Piauí/Campus Ministro Reis Velloso, Email: malves@ufpi.edu.br

2. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente-Universidade Federal do Piauí. Email: melisepessoa@yahoo.com.br

3. Professor Dr. do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Piauí/Campus Ministro Reis Velloso. Email: jelemos@ib.usp.brjrlemos@ufpi.edu.br


Revista ESPACIOS. ISSN 0798 1015
Vol. 38 (Nº 50) Año 2017

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