Espacios. Vol. 32 (2) 2011. Pág. 31

As relações de cooperação em inovação entre as empresas do cluster de calçados de Franca-Brasil

The relations of cooperation in innovation among companies in the shoe's cluster from Franca, Brazil

Las relaciones de cooperación en innovación entre las empresas del cluster de calzados de Franca, Brasil

Hélcio Martins Tristão*, Pedro Oprime** Daniel Jugend*** y Márcio Lopes Pimenta****

Recibido: 18-08-2010 - Aprobado: 20-11-2010


Contenido


RESUMO:
O objetivo deste artigo é caracterizar relacionamentos em processos de inovação e clusterização da cadeia produtiva de calçados de Franca-Brasil e constatar quais agentes impulsionam a inovação no setor. Foi realizado um survey com fabricantes de calçados, solados e curtumes. O modelo conceitual desenvolvido tem como base os construtos: integração vertical, inovação e características do cluster, e questiona que agentes atuam, com predominância, nos processos de inovação de produtos e processos no cluster. Identificou-se que existe cooperação entre as empresas do arranjo produtivo estudado, e que são os fabricantes de calçados que mais impulsionam a inovação no cluster.
Palavras chaves: Processos de Inovação; Estratégia; Cluster; Relacionamentos; Setor calçadista.
 

ABSTRACT:
This paper aims to characterize relationships in innovation processes and clustering of the Franca/Brazil's shoes productive chain, and also, to verify which actors stimulate innovation on this industry. It was made a survey with shoes, soles and tannery manufacturers. The conceptual model developed is based upon: vertical integration, innovation and cluster's characteristics, and questions about who does act, with predominance, in the products and processes innovation within the cluster. It was identified the existence of collaboration among the studied cluster's companies, and also, that the shoe manufacturers are those who, predominantly, stimulate innovation within the cluster.
Keywords: Innovation processes; Strategy; Cluster; Relationships; Shoe industry.

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RESUMEN
El objetivo de este artículo es caracterizar las relaciones en los procesos de innovación y el cluster de la cadena productiva de los zapatos de Franca-Brasil y también verificar cuales son los actores que inpulsionan la innovación en el sector. Se realizó un survey con fabricantes de zapatos, suelas y cuero. El modelo conceptual desarrollado se basa en las siguientes construcciones: la integración vertical, las características de la innovación y del cluster, y preguntas sobre cuales agentes actúan, sobre todo, en los procesos de innovación de productos y procesos en el cluster. Se identificó que existe una cooperación entre las empresas productivas estudiadas, y que son los fabricantes de calzado que proporcionan innovación más convincente en el cluster.
Palabras clave: Procesos de innovación; Estrategia; clúster; relaciones; industria del calzado.

1 - Introdução

Há mais de um século a cidade de Franca-Brasil se destaca como importante pólo produtor de calçados e que atende o mercado nacional e internacional, embora cada vez mais sofra as influências das ações das empresas concorrentes, principalmente a de origem asiática, sejam essas relacionadas a preços, tipos de produtos e até inovações (Hilsdorf et. al. 2009). Neste contexto, a busca das empresas da localidade por uma maior capacidade competitiva se faz necessário e isso passa por uma série  de ações empresariais (Machado Neto, Almeida, 2007). Tais ações devem abranger: estratégias de vendas, gestão do processo de produção e de desenvolvimento de produto, aperfeiçoamento de mão de obra, desenvolvimento do domínio de habilidades, capacidade do processo de inovação, integração entre as empresas, e políticas governamentais para o setor.

Segundo Torkomian e Piekarshi (2007), empresas necessitam, continuamente, aprimorar o seu desempenho para se manter competitivas, o que justifica a constante demanda por novas tecnologias, relacionadas a produtos, processos e gestão. Para estes autores, muitas empresas têm agregado valor aos seus produtos incorporando novas tecnologias. Essa estratégia tem propiciado vantagens competitivas e comparativas a essas empresas, uma vez que novos segmentos de mercados são explorados e novos posicionamentos em termos de marketing são alcançados.

Para Riis et. al. (2007) o ambiente econômico, no qual as empresas operam, tem forçado a introduzir mudanças em suas linhas de produtos, com objetivo de ocupar novos posicionamentos em novos segmentos de mercado. Verifica-se também investimentos na modernização de equipamentos de fabricação, a adoção de novas políticas em relação aos seus fornecedores, além do aproveitamento dos benefícios de cooperações verticais na cadeia produtiva e nas relações com o mercado, no que tange a simetria das estratégias competitivas. Dessa forma, observa-se uma transição da produção com base em recurso para outra baseada em conhecimento.  Nesse novo paradigma, torna-se mais eficiente tratar a competitividade de modo sistêmico e não individual, de forma que os problemas sejam resolvidos por times multidisciplinares. Esta perspectiva, entretanto, necessita de uma análise mais aprofundada, considerando que diferentes grupos de empresas apresentam distintas características de gestão. Isso implica em adotar diferentes estratégias de ação junto ao ambiente competitivo. Assim, a inovação, colocada no centro desta discussão, é tratada de modo diferente por grupos diferentes. Com base na suposição de que há assimetria na gestão de inovação e das correlações de relacionamento entre diferentes grupos de empresas de um mesmo elo de cadeia de produção, este trabalho se propõe estudar essa temática no contexto de clusters industriais.

         O objetivo deste artigo é constatar se inovações ocorridas se dão por meio de ações de fabricantes, fornecedores, ou por meio de ações conjuntas entre essas empresas, e diante desta, identificar a origem onde ocorreu maior, ou menor agregação de valor ao produto por meio da inovação. Especificamente, buscou-se identificar estatisticamente a existência de diferenças entre três grupos de empresas do Cluster de calçados de Franca. Tal estudo fornece uma leitura precisa sobre o desenvolvimento tecnológico do setor de calçados, e assim, pode colaborar para a melhoria do processo de gestão das organizações. O aprofundamento deste tema pode ajudar empresas no aperfeiçoamento de suas estratégias voltadas para inovação, no uso de tecnologias mais avançadas para o setor e principalmente nas ações de articulação de desenvolvimento de matéria-prima e gestão.

A primeira parte do artigo apresenta a temática abordada, o objeto de estudo e contribuições esperadas do trabalho. A segunda trata de aspectos teóricos que envolvem a dinâmica de inovação em pólos industriais.  Já a terceira apresenta os métodos de pesquisa, a quarta parte analisa os resultados da pesquisa de campo. Na última parte estão as conclusões.

2 - Fundamentação teórica

   A inovação tecnológica é assunto na agenda de todos os países. O relatório da OECD(Organization Economic Countries Development), de 2008, aborda a questão da inovação traçando um panorama global da competitividade da indústria mundial a partir das descobertas científicas e tecnológicas. Sustentado por outros trabalhos, em especial o de Neely et. al. (2002), o estudo aponta para a necessidade de uma nova agenda corporativa, pois o desempenho financeiro isolado não é mais suficiente. Esse relatório mostra aspectos interessantes sobre o nível de investimento em P&D, registro de patentes, publicações científicas e orçamentos públicos em P&D. O quadro 1 mostra parte dessa pesquisa.

Entretanto, esses estudos remetem a uma questão de ordem cultural. Eles indicam que é difícil estabelecer medidas de desempenho para o suporte da gestão das novas demandas sociais e tecnológicas. Apesar de esses aspectos estarem incorporados nas estratégias corporativas de muitas empresas, ainda não estão adequadamente absorvidos pelos sistemas de gestão.  Mesmo gerentes experientes têm tido dificuldades em abordar de modo apropriado à gestão do capital intelectual, da pesquisa/desenvolvimento e da inovação tecnológica.

Essas novas demandas, segundo Medori e Steeple (2000), advêm da competição global natural, porém com maiores restrições de ordem social e ambiental. A concorrência baseia-se ainda na premissa do poder de escolha do cliente, que diante do novo contexto econômico/social, ambiente este bem diferente do início do século XX e com novos contornos na utilização do conhecimento.  Segundo esses autores, as empresas têm necessidade de três tipos de capacidade: i) domínio de conceitos, ii) competência tecnológica, e iii) conexões sociais e econômicas com o mercado global.

Nesse estágio, o domínio dos processos tecnológicos de obtenção, análise e disseminação da informação é crítico para o sucesso empresarial. O resultado desejável é transformar informação em conhecimento, e este em competências. A inovação tecnológica opera sempre num contexto indissociável entre a tecnologia e o social. Uma tecnologia disponível não é simplesmente reproduzida sem a compreensão e a adaptação ao contexto social na qual ela será inserida. Esse aspecto é apontado por alguns autores como um dos principais gargalos da inovação tecnológica (Hsu et. al. 2008).

Hsu et. al. (2008) indicam ainda como fator crítico na relação entre cliente e fornecedor às falhas no processo de informação. Isso ocorre quando a empresa não tem uma gestão adequada desse relacionamento, o que dificulta o fluxo de informação, portanto de conhecimento, entre e intra-empresa, comprometendo as estratégias de marketing.  Os gestores devem examinar não só a dimensão do sistema de informação interno da empresa, mas a dimensão externa das informações.

Em um estudo sobre a governança da cadeia de suprimento, Ghosh e Fedorowicz (2008) enfatizam que o nível de confiança entre os parceiros é um fator crítico no processo de transformação de informação, conhecimento e competência. Para eles tanto a governança, quanto à coordenação, precisam ser avaliados em termos de confiança, poder de barganha, contratos e compartilhamento de informação entre as empresas. Segundo eles, isso permite o aprendizado coletivo que leva a melhores índices de inovação. 

O relatório OECD (2008), sobre políticas de apoio a inovação tecnológica, apresenta três tipos de padrões de inovação extraídos de análises empíricas. A primeira, denominada de mode of innovation, envolve alguma forma de inovação para um novo mercado gerado a partir de uma tecnologia caseira de pesquisa e desenvolvimento ou de patentes. O segundo modo de inovação se dá pela aquisição de máquinas de equipamentos para a modernização da planta. A terceira ocorre pela cooperação de grupos de empresa por meio de modelos de redes de empresas como os clusters industriais. Este último modo de inovação é caracterizado como um amplo processo de inovação em que as empresas  operam e denomina-se de modo wider innovating, o qual pode se afirmar que está mais próximo do objeto deste estudo.

Quadro 1: Resultados da pesquisa da OECD, 2008.

Destaques

Panorama de 2001 a 2006

Nível de investimento

  • Nos países da OECD: E.U.A. = -3%; R.U.= -2%;
  • Nos  países fora da OECD: China, Federação Russa; África do Sul e Índia = aumentam os investimentos e
  • Brasil = mantém investimento

Registro de patentes

  • Aumento de registros nos países: China; Índia e Brasil
  • Diminuição de registros nos países: E.U.A.; E.U.; Federação Russa e África do Sul

Publicações de artigos científicos

  • Aumento nos países: China; Índia e Brasil
  • Diminuição nos países: E.U.; E.U. A; Japão e Federação Russa

Nível de orçamento público em P&D (subsídios)

  • Os  10 primeiros países: 1º Espanha; 2º México e França; 3º China; 4º Portugal; 5º República Checa; 6º Índia; 7º Brasil; 8º Singapura; 9º Noruega e 10º Coréia do Sul

Fonte: Adaptado de OECD, (2008)

A OECD afirma não existir uma forma única de inovação em razão das diferenças de padrões relacionados às vantagens competitivas e comparativas específicas de cada negócio. A inovação nas firmas vai além da tecnológica, inclui políticas para fazer frente às diversidades e especificidades sociais e culturais. Em Furtado e Carvalho (2005) encontra-se uma classificação da dinâmica de inovação tecnológica por setores econômicos na economia brasileira. Essa classificação tem como referencial o relatório da OECD (2008) que usa como parâmetro classificatório indicadores de intensidade em P&D (gasto com P&D/valor adicionado, ou gasto em P&D/produção).  Os setores econômicos são classificados em quatro grupos segundo suas intensidades de inovação tecnológica. O setor couro calçadista é classificado como de baixa intensidade tecnológica. Esse e outras indicações de intensidade de inovação estão no quadro 2. 

Quadro 2: Classificação de intensidade tecnológica de setores da economia.

Grupos de Intensidade Tecnológica

Setores

Grupo     1 – Alta Intensidade Tecnológica

  • Setor aeroespacial farmacêutico; de informática; eletrônica e telecomunicações; instrumentos.

Grupo 2 – Média-alta Intensidade Tecnológica

  • Setores de material elétrico; veículos automotores; química, excluído o setor  farmacêutico; ferroviário e de equipamentos de transporte; máquinas e equipamentos.

Grupo  3 – Média-baixa Intensidade Tecnológica

  • Setores de construção naval; borracha e produtos plásticos; coque, produtos refinados de petróleo e de combustíveis nucleares; outros produtos não metálicos metalurgia básica e produtos metálicos.

Grupo  4 – Baixa Intensidade Tecnológica

  • Outros setores e de reciclagem; madeira; papel e celulose; editorial e gráfica; alimentos; bebidas e fumo; têxtil e  de confecção, couro e calçados.

 Fonte: Adaptado de Furtado e Carvalho (2005).

Outra indicação da intensidade de inovação tecnológica do setor couro calçadista é encontrada na base de dados da pesquisa sobre inovação realizada pelo IBGE denominada de Pintec 2000, a qual descreve conforme tabela 1 uma classificação do nível de intensidade tecnologia por setores da indústria do Brasil.

Tabela 1: Classificação de intensidade tecnológica do setor têxtil, confecção e calçado.

Esforços de P&D da indústria de transformação, segundo Setores Brasil - 2000

Setor

Valor da Transformação
industrial

Dispêndio

Estrutura

Intensidade

%
Dispêndio
Externo

P&D
Interno

P&D
Externo

P&D
total

P&D
Interno

P&D
total

P&D Int./VTI

P&D Tot./VTI

Têxtil,
Confecção e Calçados

16.914.909

101.262

9.898

111.160

2,73

2,56

0,60

0,66

8,90

Fonte: Adaptado de Furtado e Carvalho (2005), IBGE (2002a). Pintec 2000; IBGE (2002b).

A tabela 2 mostra um estudo comparativo dos esforços em pesquisa e desenvolvimento do setor têxtil e calçadista. O Brasil está abaixo de países como França, Japão e Coréia.

 Tabela 2: Análise comparativa da intensidade tecnológica do setor têxtil, confecções e calçados.

Intensidade Tecnológica do Setor  Têxtil, Confecções e Calçados (P&D/VTI)
– Brasil e outros países 1997-2000

EUA
2000

Japão
1998

Coréia
1999

Canadá
1997

França
1999

Alemanha
2000

Itália
2000

Espanha
1999

RU
1999

Noruega
1997

Brasil
2000

0,5

2,1

0,9

1,0

0,9

2,0

0,1

0,6

0,4

1,9

0,6

Fonte: Adaptado de Furtado e Carvalho (2005), fonte IBGE (2002a). Pintec 2000; IBGE (2002b).

De acordo com IBGE (2002), com base nos dados da Pintec (2000), o setor têxtil, confecção e calçados têm uma das mais baixas taxas de esforços em pesquisa e desenvolvimento do Brasil, ocupando apenas a décima sexta posição dos vinte e dois setores analisados. Em relação à tabela 2, como os resultados são de um conjunto de atividades (tecidos, roupas e calçados) fica difícil uma análise mais acurada. A Itália é reconhecida como referência em tecnologia e inovação de calçados e aparece na tabela 2 com esforços na área inferiores aos do Brasil. Entende-se, portanto, que tendo em vista o tema inovação, o setor de calçados merece estudos específicos.       

2.1 Conceitos, definições e operacionalização da inovação

Ehigie e McAndrew (2005), Akinboye (2000), Axtell et. al. (2000) e Van de Ven et.al. (1989) definem inovação como um processo, que se caracteriza como um ato de introduzir alguma coisa nova. Esse processo envolve a geração, adoção, implementação e incorporação de novas idéias e práticas com o propósito de criar riqueza.

De modo próximo à definição anterior, porém com maior ênfase na gestão, Ten e Bos (2000), Rogers (1999) e Gates e Cooksey (1998) definem inovação como um processo criativo, metodológico para implementar, organizar e difundir novas idéias com o objetivo de se obter um melhor desempenho empresarial.  Diante dessa definição, a gestão do conhecimento tem um papel central, sendo o meio para o aumento da capacidade organizacional com o objetivo de alcançar a eficiência via criação, difusão e adoção da ciência e do conhecimento tecnológico (Silva, 2002).

Outros autores, como Liyanage e Poon (2003), enfatizam a necessidade da gestão do conhecimento e tecnologia estar atrelado às necessidades da economia moderna, o que demanda dos gestores habilidades para compreender a importância tecnológica em seu setor de atuação e da capacidade de identificar a tecnologia chave dos  negócios em que atuam, o que requer desses gestores elaboração de  estratégias voltadas para a tecnologia, estrutura e planejamento do desenvolvimento de novos produtos/processos, que devem estar integradas com outras funções como vendas/marketing e operações.

Tendo em vista a mensuração dos esforços em inovação, Fernandes et. al. (2004) apontam quatro indicadores possíveis de serem utilizados: i) pessoal com curso superior integrado ao processo de P&D; ii) porcentagem de faturamento investido em P&D; iii) relação com universidades e centros de pesquisa, e iv) presença de departamento de P&D efetivamente estruturado na empresa.

Outro conceito de inovação tecnológica que tem recebido destaque é conhecido como open innovation, o qual tem sido disseminado pela literatura da área, pois, com a atual velocidade da mudança tecnológica, tem sido muito difícil para as empresas assegurarem sua competitividade por meio único e exclusivo do desenvolvimento interno de novas tecnologias (Garnica, Jugend, 2007).  Esse conceito de Open Innovation, remete a uma combinação de idéias internas e externas dentro de sistemas e arquiteturas relacionados ao negócio da empresa. Isso leva o modelo de negócio utilizar idéias internas e externas para criar valor, o que transforma o P&D em um sistema aberto (Chesbrough, 2005).

2.2 Inovação e Clusters industriais

A inovação por meio de Clusters industriais pode ser definida como uma forma de aumento da competitividade das pequenas e médias empresas por meio da exploração dos benefícios gerados pelas estruturas locais e sinergias via correlações de relacionamento de cooperação. Eles possibilitam alianças que, dentre outros aspectos, favorecem a flexibilidade de produção em termos de volume e variedade, reduções de custos de investimentos, redução dos custos de transação e aumento da eficiência operacional, aumento do poder de barganha e o desenvolvimento de processos de inovações tecnológicas (Nadvi, 1999; Rabellotti, 1999; karaev et. al., 2007; Solvell et. al. 2008).

A sinergia dos Clusters industriais também é reconhecida como redes de relacionamento entre empresas do mesmo setor e geram possibilidades das empresas obterem inovação e melhoria no desenvolvimento de produtos e processos. Para Kuei-Hsien et. al. (2008) os relacionamentos em rede podem diferenciar o valor da cadeia de produção, quando os parceiros são engajados em atividades de interesses comuns, permitindo a melhoria de ações pró-ativas no produto final ou serviço, o que cria um ambiente estimulante para o processo de inovação.        

Há, por essas razões, grande interesse em se desenvolver essas redes de empresas, denominadas de modos diferentes, tais como os clusters, distritos industriais, aglomerados de empresas. Vários trabalhos têm sido publicados sobre o assunto, dentre eles destaca-se trabalhos que abordam a relação entre aspectos sócio-cultural da região e o desenvolvimento de clusters (Nadvi, 1996; Negri, 1999; Becatini, 1999; Sengenberger, 1999; Oliver, Porta, 2005), a relação entre desempenho e interatividade/cooperação entre pequenas e médias empresas (Visser, 1999; Karaev et. al., 2007; Oprime et. al. 2009), a criação de inovações tecnológicas e sua difusão dentro dos clusters (Bell, Albu, 1999; Baptista, 2000; Mohannak, 2007; Mason, Castleman, 2008) e o uso da tecnologia da informação no desenvolvimento regional (Hoffman et. al., 2004; Mason, Castleman, 2008).

 Oliver e Porta (2006) salientam que sem o aprimoramento das suas estratégias, as empresas tendem a terem limitações no uso dos recursos territoriais propiciados pela participação nos clusters. Entende-se, com isso, que a inovação, como um meio efetivo de criar essas riquezas, depende de uma estratégia de mercado que aproveite os benefícios potenciais do cluster.  Shiele (2008) aponta nessa mesma direção, afirmando que as ações territoriais nos clusters têm privilegiado o Marketing no desenvolvimento regional, mas as empresas são carentes de estratégia de integração para participarem do Cluster. Além disso, existem algumas dificuldades na implantação de um cluster, pode se destacar que a confiança é um dos principais entraves, outro aspecto a destacar é a visão dos gestores em aproveitar as oportunidades proporcionadas por um cluster em reduzir os custos de transações nas operações e no desenvolvimento de produtos.

Albino et. al. (2007) indicam que a inovação regional pode ser considerada como resultado das capacidades de acionamento, desenvolvimento e sustentação dos processos de gerenciar o conhecimento, pois as capacidades regionais e locais do processo de inovação estão relacionadas com as habilidades da área geográfica de produzir e comercializar um fluxo de tecnologia inovadora. Essa habilidade depende da infra-estrutura comum do processo de inovação e de um ambiente favorável para inovar, além de um forte elo entre os atores regionais. No entanto, o que se observa em alguns Clusters no Brasil são barreiras para que de fato a tecnologia e a inovação possam ser instrumento de competitividade, principalmente pelas pequenas e médias empresas pertencentes a setores tradicionais da indústria (Hoffman et. al., 2004, Oprime et. al. 2009). O conhecimento tácito desenvolvido dentro do cluster é um patrimônio, que deve ter uma governança na geração de inovações e competitividade (Shiuma, Lerro, 2008). Assim, para eles, o patrimônio de conhecimento corresponde a algum recurso regional o qual oferece habilitação para transformar os recursos disponíveis em vantagens competitivas regionais.

Esse patrimônio é caracterizado por Shiuma e Lerro (2008) em capital humano, capital de relacionamento, capital estrutural e capital social. O capital humano compreende o saber de diferentes atores dentro de uma região, que podem ser tácitos ou explícitos. Portanto são conhecimentos que fazem parte das pessoas, mas também podem ser conhecimentos coletivos.

2.3 Contexto do objeto de estudo e Hipóteses

São considerados na presente pesquisa três grupos de empresas do pólo calçadista de Franca: i) os fabricantes de calçados; ii) os fabricantes de solado; iii) e as processadoras e acabadoras de couros.É assumido como pressupostode pesquisa que há um sistema de produção local no pólo calçadista de Franca, ou um  cluster, conforme moldes propostos por Porter (1999), e que são desenvolvidas dentro do cluster, alianças estratégicas com o objetivo de incrementar a competitividade sistêmica da cadeia de produção local.  

As hipóteses para verificação de quais fatores representam as características dos processos de inovação e cooperação no pólo em estudo foram extraídas do arcabouço teórico sobre integração vertical, cluster e processo de inovação A contextualização das três hipóteses são: 

H1 - os processos de inovação de produtos no processo de Cluster é de predominância dos fabricantes de calçados; 

H2 - o processo de inovação de produtos no processo de Cluster é de predominância dos curtumes;

 e H3 - o processo de inovação de produtos no processo de Cluster é de predominância dos fabricantes de solados.

As hipóteses de pesquisa são explicitadas na figura 1. São três as hipóteses de predominância da inovação local do Cluster de calçados de Franca: i) predominância dos fabricantes, ii) predominância dos curtumes e iii) predominância dos fabricantes de solados.

Figura 1: Modelo conceitual com as hipóteses da pesquisa

m 

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* Departamento de Economia e Contábeis, Centro Universitário de Franca, Brasil. Email: helciotristao@hotmail.com
** Departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal de São Carlos. Email: pedro@dep.ufscar.br
*** Departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal de São Carlos. Email:jugend@dep.ufscar.br

**** Universidade Federal de Itajubá, Brasil. Email: pimenta@unifei.edu.br

Vol. 32 (2) 2011


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