Espacios. Espacios. Vol. 31 (4) 2010. Pág. 31

Análise do período de transit time em regiões aduaneiras: um estudo de caso em empresa transportadora

Análisis del tiempo de tránsito en las regiones aduanales: un estudio de caso de empresa transportadora

Analysis of transit time in customs areas: Case of study: transport company

Claudia Tania Picinin, João Luiz Kovaleski, João Luiz Kovaleski y Bruno Pedroso


4. Resultados

O estudo foi desenvolvido em uma empresa que atua no ramo de transportes, no segmento de carga com controle de temperatura. A empresa desempenha suas atividades no Mercosul com 100% da frota monitorada via satélite. A empresa apresenta um problema referente a logística, pois vários veículos que saem com destino para o exterior ficam diversos dias detidos na região aduaneira. Esse fator impede que esta transporte um número maior de cargas durante o mês, além de gerar maiores custos, com funcionários, diárias, entre outros. Para solucionar esse impasse foi necessário uma análise minuciosa de cada fronteira utilizada pela empresa, incluindo fatores como distâncias, valor gasto em combustível, pedágio, valor do despacho aduaneiro e diárias excessivas.

A empresa emprega diversos tipos de tecnologias no transportes de cargas, como rastreamento via satélite, microcomputador de bordo (controle de velocidade), sistema de web cargas, telefonia móvel e cadastro Buonny para todos os motoristas (verificação da conduta dos motoristas). Através de uma integração entre o sistema de rastreamento e o sistema de gerenciamento de frota utilizado na empresa, é possível manter um banco de dados detalhado que armazena um histórico das viagens do veículo, das rotas seguidas, das infrações de temperatura e controle de eficiência. A empresa estudada enfrenta problemas com o processo de despacho aduaneiro, onde, por alguns motivos, o mesmo não ocorre de forma ágil.

Por meio da coleta de dados, constatou-se alguns problemas pelos quais os veículos ficam parados em fronteira, os principais são: falta de pagamento de imposto condizente ao despacho da carga (quando este for de responsabilidade do cliente), espera por liberação fito sanitário, falta de Registro de Origem de Importação – ROI, caracterizado como um limite de importação por cliente. Verificou-se ainda que, existem dias da semana em que o despacho aduaneiro é mais lento, no caso, a segunda-feira.

Em alguns meses a situação de despacho também é crítica. Segundo o resultado da pesquisa, os meses de janeiro e de agosto destacam-se como meses gargalo do despacho aduaneiro. Um dos motivos que caracterizam o atraso no despacho aduaneiro nos meses de janeiro e agosto deve-se ao aumento do volume de carga transportado, pois a colheita de alguns produtos concentram-se neste período. Cabe ressaltar que, para a fronteira de Uruguaiana, o processo é mais demorado também nas terças-feiras e sextas-feiras e o mês de maio também é crítico. Cinqüenta por cento (50%) dos despachantes da empresa localizam-se em Dionísio Cerqueira, porém o maior número de caminhões da empresa realizam o fluxo através de Uruguaiana, isso representa um maior atraso na expedição da documentação.

A média geral de dias que os veículos ficam parados em fronteira é de um, a três dias, de acordo com a pesquisa realizada, porém na fronteira de Uruguaiana a média é de sete a dez dias, ou seja, muito mais lenta que as fronteiras de Dionísio Cerqueira e São Borja. A empresa estudada realiza a maior parte do transporte das suas cargas pela fronteira de Uruguaiana. Isso representa maior atraso para os despachos, agravando o problema enfrentado. O mês com despacho aduaneiro mais lento é janeiro e agosto com 27% e junho com 19%, conforme pode ser observado no gráfico 1:

Gráfico 1: Mês com despacho aduaneiro mais lento

Verificou-se uma série de possíveis problemas para o atraso do despacho aduaneiro, sendo citados abaixo, na seqüência de freqüência com que ocorrem:

Alguns dos itens citados são de difícil reversão, como Greve no Ministério e da Receita Federal, porém outros como falta de fatura comercial são documentos de controle da empresa que se tomadas as providências necessárias auxiliam a tornar o processo e o fluxo do despacho Aduaneiro mais rápido. Por meio do questionário foram obtidas sugestões dos despachantes que também auxiliam o processo a melhorar:

“Em 90% dos casos, se o motorista tiver conhecimento da documentação que deve acompanhar a carga, verificar as assinaturas, vias originais, os problemas são minimizados ao máximo”;

“Se os frigoríficos carregarem apenas com a ROI e os exportadores mandar para a fronteira antecipadamente para adiantar o processo”;

Carregar apenas clientes que possuem a ROI e enviar a documentação para a fronteira antes de o veículo chegar”;

“Caso a documentação esteja toda pronta e tenha a ROI a liberação é rápida”;

“Tendo toda a documentação do caminhão no lado Argentino se libera no dia no mais tardar no dia seguinte. Ingressando no sábado, com o CRT e o MIC, não é liberado”.

“Em nosso caso, as demoras se devem aos erros em fito, em termos de fiscalização e também falta de fatura, erro na confecção da mesma. A solução seria adiantar o envio da documentação a cada despachante na fronteira, para este observar e detectar possíveis erros e solucionar antes que o caminhão chegue na aduana, enquanto se encontre em viaje”.

Foi realizada uma análise minuciosa de cada fronteira, a fim de verificar qual oferece maiores vantagens. Para a consecução da análise entre as fronteiras utilizadas pela empresa, no caso Dionísio Cerqueira, Uruguaiana e São Borja, foram avaliados diversos parâmetros como: distância, combustível gasto, pedágios, custos com despacho e diárias. É importante ressaltar que para tal análise com gastos de combustível utilizou-se uma estimativa brasileira, sendo, segundo Sora (2006) de R$ 1,60 o custo operacional por quilometro rodado.

rota considerada para este estudo tem como partida da cidade de Chapecó no estado de Santa Catarina – Brasil, com destino a Buenos Aires na Argentina. O percurso foi analisado individualmente, passando em cada fronteira anteriormente citada. Seguindo a rota definida e utilizando a fronteira de Dionísio Cerqueira, a distância percorrida é de 1.523 km, sendo necessários 638,58 litros de combustível, totalizando um custo de R$ 1.021,73. Os gastos com o despacho Aduaneiro correspondem a R$ 177,20 a diária. Como não existem pedágios neste percurso, o custo total permanece inalterado.

A próxima constatação será realizada através da fronteira de São Borja, onde a distância é de 1.378 km, para o trajeto são necessários 574,17 litros de combustível, correspondendo ao valor de R$ 918,67. Neste trajeto também não existem custos com pedágio. Outro custo a ser considerado é o despacho Aduaneiro, que condiz a R$ 317,15 a diária.

A última fronteira da rota Chapecó/Buenos Aires é a de Uruguaiana, onde a distância percorrida é de 1.374 km, para tanto são necessários 572,50 litros de combustível, significando um gasto de R$ 916,00. O trajeto não possui pedágios, portanto o custo com o mesmo é nulo. O custo correspondente ao despacho Aduaneiro diário é de R$ 179,80. Acrescenta-se ainda a este valor um montante de R$ 300,00 por dia, após as 96 horas que o veículo estiver parado na fronteira. Como na pesquisa com os despachantes obteve-se que os caminhões ficam retidos na fronteira de Uruguaiana em média de sete a dez dias, o valor a ser somado a R$179,80 corresponde a R$ 900,00, totalizando um custo de R$ 1.995,80. Na tabela 1 apresenta-se um resumo dos custos do cruze para cada fronteira.

Tabela 1: Valores totais dos cruzes para cada fronteira

PARÂMETROS

URUGUAIANA

SÃO BORJA

DIONÍSIO CERQUEIRA

Distância percorrida (km)

1.374

1.378

1.523

Combustível necessário (litros)

572,50

574,17

638,58

Custo combustível (R$)

916

918,67

1.021,73

Pedágios (und)

Despacho Aduaneiro (R$)

179,80

317,15

177,20

Diária de R$ 300,00 após 96 horas parado em fronteira

900,00

 

 

Tempo estimado para despacho (dias)

7 a 10

1 a 3

1 a 3

Gastos totais (incluindo uma diária)

1.995,80

1.235,82

1.198,93

A fronteira de Uruguaiana apresenta um valor total de R$ 1.995,80, se analisado somente o fator custo, esta fronteira já seria eliminada, porém, fatores como o transit time via Uruguaiana é muito superior se comparado com o de Dionísio Cerqueira e São Borja. Uruguaiana dispõe de um tempo de espera estimado de sete a dez dias para realização do despacho aduaneiro, enquanto as outras fronteiras analisadas correspondem de um a três dias, este segundo fator inviabiliza o cruze por Uruguaiana.

As fronteiras de Dionísio Cerqueira e São Borja em análise de gastos gerais, incluindo gasto com distância percorrida, despacho aduaneiro e pedágios, representam R$ 1.198,93 e R$ 1.235,82 respectivamente, uma diferença entre elas de R$ 36,98.

Desta forma, afirma-se que tanto a fronteira de Dionísio Cerqueira quanto a de São Borja, apresentam menor custo e maior benefício para a empresa, pois apresentam despacho aduaneiro sensivelmente menor. Nesta situação, indica-se à empresa que: para as cargas originadas no Oeste Catarinense seja realizado o cruze via Dionísio Cerqueira e as cargas com origem no Rio Grande do Sul seja viabilizado por São Borja, pois, agindo desta forma, serão utilizadas as fronteiras indicadas e direcionadas as cargas para a fronteira mais próxima (análise da distância entre as cidades).

A fronteira de Uruguaiana seria a menos indicada para o direcionamento das cargas da empresa estudada, pois possui fluxo de veículos muito lento, além do valor total para realização do despacho aduaneiro ser relativamente maior. Os custos da empresa com relação à rota serão alterados de acordo com a origem e o destino, porém os custos com despacho Aduaneiro correspondentes a uma diária permanecerão os mesmos. O gráfico 2 representa a porcentagem de cruzes realizados pela empresa de janeiro a agosto de 2007.

Gráfico 2: Cruzes em cada fronteira

Constata-se que a maior parte de cargas ocorre por Uruguaiana, onde o valor total do cruze é mais elevado para a empresa. Quando relacionados os dados anteriormente analisados, ou seja, os valores totais para o cruze através das fronteiras de Uruguaiana, Dionísio Cerqueira e São Borja, com o número de cargas totais efetuadas pela empresa (representado no gráfico em porcentagens), verifica-se que a empresa aumenta seus custos totais por utilizar a fronteira de maior valor. Seguindo a análise pode-se afirmar que se a empresa tivesse utilizado a fronteira com menor custo durante o período, esta teria uma redução significativa dos seus custos totais.

5. Considerações finais

A comunicação é a chave para a interligação entre os setores da empresa. Quando há falha na comunicação interna, consequentemente alguns processos da empresa terão problemas, principalmente ao se tratar de uma empresa de prestação de serviços (transportadora) onde a logística é o centro dos processos.

A empresa estudada apresentava dificuldade na comunicação entre motoristas, despachantes e a gerência, e um acúmulo de caminhões nas áreas das fronteiras, principalmente em Uruguaiana, que geravam excesso de gastos, reduzindo a receita líquida total da empresa.

No decorrer do trabalho exposto, foi possível levantar os dados de três rotas em comum – Chapecó à Buenos Aires, através das fronteiras de Uruguaiana (RS), Dionísio Cerqueira (SC) e São Borja (RS). Foram avaliados a distância, os gastos com combustíveis, o valor gasto com o despacho aduaneiro e as diárias excessivas para a expedição da carga, obtendo-se os custos relativos a cada fronteira.

Com o intuito de avaliar a fronteira que oferece melhor custo/benefício, identificou-se a melhor rota de tráfego para os veículos, que, sendo implementada gera redução dos gastos totais da empresa com despacho aduaneiro, transit time, funcionários, além da diminuição dos dias em que os veículos permanecem parados em fronteira.

A rota mais favorável para empresa estudada de acordo com os dados obtidos, e com análises de todos os pontos precisos para uma viagem, foi a rota através da fronteira Catarinense, ou seja, Chapecó à Buenos Aires, pela fronteira de Dionísio Cerqueira. Mesmo a distância sendo maior, o fluxo de veículos na fronteira e o custo do despacho aduaneiro são menores. Outro fator que colabora com a escolha por essa fronteira, é o fato das rodovias argentinas utilizadas nas rotas da empresa estarem em melhor estado de conservação do que as brasileiras, diminuindo os gastos com manutenção (em longo prazo) e o consumo de combustível.

Ao se optar pela fronteira de Dionísio Cerqueira, além dos ganhos financeiros, a empresa consegue aumentar o tempo operacional dos veículos em pelo menos quatro dias por mês para cada veículo, além de manter a integridade dos produtos.

Desta forma, o objetivo do trabalho foi atendido, uma vez que o problema diagnosticado nesta pesquisa: o tempo em que os veículos permanecem parados em fronteira foi esclarecido com precisão, sendo viável o envio das cargas pela rota Chapecó à Buenos Aires através da fronteira de Dionísio Cerqueira. Com estas adaptações foi possível acelerar alguns processos da empresa, proporcionando a otimização da logística desta.

Referencias

Anefalos, L. C. (1999). Gerenciamento de frotas do transporte rodoviário de cargas utilizando sistemas de rastreamento por satélite. 1999, 149 f. Dissertação (Mestrado em Ciências - Economia aplicada) – Escola superior de agricultura Luiz de Queiros, Universidade de São Paulo, Piracicaba.

Arbache, F. S. et al. (2006). Gestão de logística, distribuição e trade marketing. 3. ed. Rio de Janeiro: FGV.

Bezerman, M. H.; Neale, M. A. (2000). Negociando Racionalmente. 2. ed. São Paulo: Atla.

Damaria, M. (2004). O operador de transporte multimodal como fator de otimização da logística. 2004, 86 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) - Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção e sistemas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

Lrrañaga, F. A. (2002). Desenvolvimento econômico no Cone Sul: O sistema logístico sub-regional. São Paulo: Aduaneiras.

Murakami, M. (2003). Decisão estratégica em TI: estudo de caso. 2003, 170 f. Dissertação (Mestrado em administração), Faculdade de economia, administração e contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo.

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