Espacios. Vol. 29 (1) 2008. Pág. 13

Análise da Cooperação Universidade-Empresa como Instrumento para a Inovação Tecnológica

Analysis of the cooperation University-Companies like instrument for the technological innovation

Análisis de la cooperación Universidad-Empresa como instrumento para la innovación tecnológica

Luiz Alberto Cardoso Dos Santos, João Luiz Kovaleski y Luis Alberto Pilatti


3. Ambiente de C&T, base para a Inovação

Em um contexto amplo, Sábato e Botana, apud Reis (2005) acreditavam, desde 1968, que os países da América Latina deveriam realizar ações sérias, sustentáveis e permanentes em C&T, para a superação das dificuldades de desenvolvimento dessa região. Ainda hoje, fazendo parte da pauta de discussão sobre os caminhos a serem trilhados pelos países latinos americanos, a C&T continua sendo o norteador deste crescimento. Estes autores utilizaram os seguintes argumentos:

  1. a absorção de tecnologias que todo país necessita importar é mais eficiente se o país receptor dispõe de uma sólida infra-estrutura tecnocientífica. A atividade de pesquisa seria o meio pelo qual esta infra-estrutura poderia ser mantida e desenvolvida.
  2. o uso inteligente dos recursos naturais, das matérias-primas, da mão-de-obra e do capital, requer pesquisas específicas de cada país. Cada um precisa prospectar sua vocação tecnológica.
  3. a transformação das economias latino-americanas para satisfazer a necessidade de industrialização e exportação de produtos manufaturados terá mais êxito quanto maior o potencial tecnocientífico.
  4. por fim, o quarto argumento de Sábato e Botana é o de que a ciência e a tecnologia são catalisadores da mudança social, pois podem produzir inovações que irão afetar a economia de seu país.

Se a responsabilidade pelo desenvolvimento de C&T for restrita às empresas privadas, ver-se-á que alguns entraves dificultam a ação do setor privado, destacando-se:

Observa-se nos parágrafos acima que para manter um desenvolvimento sustentável de um país (em especial os da América Latina), seria necessário, de acordo com Sábato e Botana, apud Vargas (1999), que a C&T seja a base para este desenvolvimento, mas que para a realização disto haveria a necessidade de uma ação coordenada de três elementos: o governo, a estrutura produtiva (empresas) e a infra-estrutura científica e tecnológica (universidades e centros de pesquisa). Este sistema também é conhecido como “Triângulo de Sábato”, visto na figura 1:

Fonte: Sábato e Botana (1968, p. 15-36) apud Vargas (1999), adaptado.
Figura 1 – Triângulo de Sábato.

De acordo com o “Triângulo de Sábato”, cada um dos vértices se relacionam, sendo que as relações verticais – governo com universidades e empresas – são as mais utilizadas, normalmente fazendo parte de um projeto governamental. Como exemplos de atividades desenvolvidas no Brasil temos: Prêmio Finep de Inovação Tecnológica; Seminário Inovação Tecnológica e Segurança Jurídica; Programa Juro Zero; Portal Inovação.

Além do mais, “os custos crescentes de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), os riscos elevados decorrentes do encurtamento dos ciclos de vida dos produtos e dos processos, e as vantagens da cooperação tecnológica pré-comercial são fatores passíveis de fomento estatal, que podem acelerar/inibir o ritmo de inovação” (CASSIOLATO, 1996, pp. 7-8)

Quanto às relações horizontais – universidade com as empresas – “são as mais difíceis de se estabelecer e ao mesmo tempo as mais interessantes de ser exploradas” (REIS, 2005, p. 113). O governo até tenta fazer o papel de catalisador para uma maior aproximação entre estes dois setores (como exemplo existe o “Programa de Subvenção/Pesquisador na Empresa”), mas o mesmo, aparentemente, não reconhece, ou não dá a devida relevância às diferenças de características e interesses das áreas acadêmica e empresarial.

Mesmo havendo exemplos de casos bem-sucedidos de cooperação entre universidades e empresas, tais relacionamentos nem sempre foram encarados como algo natural. Para Marcovitch (1999), a visão da empresa é a de que o pesquisador é um “ser deslocado da realidade” e para esse, o empresário despreza a ciência.

No próximo item será apresentado o modelo da Grã-Bretanha quanto às características dos pesquisadores, dividindo-os em dois grandes grupos: os CUDOS e os PLACE, como uma forma de relacionar os interesses da academia com os da empresa.

4. Modelo Britânico de Interação entre Universidade-Empresa

O desenvolvimento de uma pesquisa possui várias características, que de acordo com o tipo de pesquisador, poderão até ser contraditórias. Conhecendo estas características e quais as que são mais adequadas ao grupo de pesquisadores que estarão envolvidos nas atividades, a empresa poderá melhor definir o perfil dos pesquisadores com os objetivos da mesma.

As Universidades da Grã-Bretanha adotaram um modelo criado por Ziman, apud Vargas (1999) e Reis (2005), o qual divide os pesquisadores em dois pólos opostos, de acordo com as características da ação científica de cada pesquisador: os que atuam mais para a Universidade (os CUDOS) e os que são voltados para um contexto prático, voltados mais para a empresa privada (os PLACE). Os termos adotados para cada grupo são formados pelas letras iniciais (em inglês) das características de cada. Segue o quadro 1, que mostra os dois tipos idealizados de pesquisadores e as suas características:

Pesquisador voltado para a Academia

(CUDOS)

Pesquisador voltado para a Empresa Privada

(PLACE)

Communal (Comunalidade)

  • Os resultados devem ser divulgados e de fácil acesso a todos.

Proprietary (Propriedade)

  • O empregador deve ter a propriedade dos resultados para comercializá-los.

Universal (Universalidade)

  • O conhecimento deve valer para todas as pessoas em todo o tempo.

Local (Localismo)

  • O pesquisador está voltado para o objetivo imediato, resolver um problema específico sem a preocupação da aplicabilidade a outras situações.

Desinterested (Desinteresse)

  • Movido pela paixão de saber.

Authoritarian (Autoritarismo)

  • A direção e objetivos das atividades científicas são dirigidas por demandas dos gerentes, pelas exigências de competição de mercado ou às estratégias.

Original (Originalidade)

  • Fundamental na pesquisa como fator de avanço no conhecimento.

Commissioned (Encomenda)

  • Pesquisa ligada a um objetivo imediato com respostas rápidas.

Skeptical (Ceticismo organizado)

  • Posição de imparcialidade absoluta diante dos fatos, julgando-os somente quando forem dadas as provas de sua existência.

Expert (Especialização)

  • Os conceitos e os métodos são habilidades requeridas para lidar com um tipo particular de problema.

Fonte: Ziman (1990) apud Vargas (1999) e Reis (2005), adaptado.

Quadro 1 – Características da pesquisa relacionadas ao tipo de pesquisador.

Conhecendo-se as características da pesquisa de acordo com o tipo de pesquisador, é preciso saber de qual tipo de pesquisa está sendo realizada (pesquisa básica ou pesquisa aplicada) e como a universidade e a comunidade empresarial vêem estes dois tipos.

De acordo com o Manual Frascati (2002), pesquisa básica seria aquela que trata do estudo teórico ou experimental, tendo como objetivo contribuir de forma original (radical) ou incremental para a compreensão sobre os fatos e fenômenos observáveis, criando e desenvolvendo teorias, sem que com isto haja uma aplicação específica imediata.

Já a pesquisa aplicada, definida também pelo Manual Frascati (2002), seria a realização de uma investigação também original, concebida pelo interesse em adquirir novos conhecimentos, entretanto, a mesma é primordialmente dirigida em função de um objetivo prático específico.

Apesar das definições oficializadas no Manual Frascati, é de fundamental necessidade conhecer como cada esfera da base do triângulo vêem estes dois tipos de pesquisa. O quadro 2, baseado em Cassiolato (1996), refere-se especificamente às definições dos tipos de pesquisa de acordo com a visão acadêmica e a visão industrial:

Tipos de Pesquisa

Visão segundo a esfera...

Acadêmica

Industrial

Básica

Objetiva uma aplicação do conhecimento genérico e/ou um melhor entendimento acerca do objeto investigado, sem que isso implique considerações acerca das possíveis aplicações dos avanços perseguidos.

Associada a avanços que permitem o aprofundamento do conhecimento científico sem, no entanto, estarem vinculados a objetivos comerciais imediatos, apenas potencial.

Aplicada

Visa ao aprofundamento do conhecimento necessário à determinação dos meios por meio dos quais um objetivo específico, reconhecido a priori, pode ser atingido.

Inclui investigações destinadas à geração de conhecimentos orientados a objetivos comerciais específicos com respeito a produtos, processos e serviços.

Fonte: Cassiolato (1996), adaptado.

Quadro 2 - Visão acadêmica e visão industrial sobre pesquisa científica/tecnológica.

Conhecer como pensam a universidade e a empresa é um grande passo para se estabelecer um contrato de parceria entre ambos, atendendo às necessidades de cada setor. Com certeza nem todas as características poderão ser atendidas, visto que, como mostrado anteriormente, algumas são contraditórias, mas será possível chegar a um acordo quando ambos perceberem que poderão beneficiar-se mutuamente, benefícios estes que serão mostrados no item 6.

Somente conhecer as características das pesquisas e a visão dos acadêmicos e dos empresários, não conduz a um “start” para a criação de uma ambiente de C&T voltado para a inovação, e conseqüentemente, para o desenvolvimento econômico e social do país. Será preciso a percepção desta condição, tanto pelo Estado, quanto pelas universidades e empresas do país.

Um bom exemplo de percepção da necessidade de C&T para o desenvolvimento das empresas, universidades e país, associado a um “espírito empreendedor”, dos setores acadêmicos e empresarial, estaria na condução do processo inovativo adotado pelos EUA, os quais, tanto em nível de governo e principalmente a nível da relação universidade-empresa estão à frente dos demais países do mundo.

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