Espacios. Vol. 29 (1) 2008. Pág. 14

Análise da Cooperação Universidade-Empresa como Instrumento para a Inovação Tecnológica

Analysis of the cooperation University-Companies like instrument for the technological innovation

Análisis de la cooperación Universidad-Empresa como instrumento para la innovación tecnológica

Luiz Alberto Cardoso Dos Santos, João Luiz Kovaleski y Luis Alberto Pilatti


5. A dinâmica Americana na relação Universidade-Empresa e o Brasil

Os EUA alcançaram o patamar de maior economia mundial, entre outros fatores, pela criação de uma cultura mercadológica voltada para a inovação, tendo como base o desenvolvimento de uma rede de C&T onde o governo incentiva, através de projetos de fomento e benefícios fiscais, os atores do mundo acadêmico e do mundo empresarial, sendo que estes últimos acreditaram e acreditam, como Sábato e Botana, que todo o desenvolvimento sustentável passa pela C&T, como citava Vargas (1999) que escreveu que “quando a classe empresarial americana tomou consciência da organização científica como portadora de forte organização técnica, houve um fluxo de recursos sem precedentes dos setores privados para as universidades e centros de pesquisa. Um impulso a este sistema foi dado pela transferência gigantesca de recursos dos grandes projetos militares (Manhatan) e da corrida espacial (Programa Apollo), que inauguraram uma época chamada de Big Science”.

Para os americanos, “o conhecimento não deveria ser visto como um bem de consumo, mas como investimento” (VARGAS, 1999).

Por que utilizar o modelo americano como modelo de interação universidade-empresa para o nosso país? Porque “a experiência americana é mais próxima de nossa realidade uma vez que boa parte da estrutura universitária foi copiada do seu modelo, embora o sistema administrativo esteja mais associado à Universidade européia” (VARGAS, 1999).

Na relação universidade-empresa o conhecimento mútuo das necessidades e visões de cada ator já é um grande passo na formalização dos contratos de parcerias. Mas para a efetivação destes não adianta somente seguir o modelo britânico, é preciso ter a dinâmica americana de investir fortemente na ciência, como “carro-chefe” do processo de inovação do país.

Mesmo com o grande fomento na área da inovação tecnológica, realizado pelo governo brasileiro, se não houver a iniciativa dos empresários em investir na formação do conhecimento através da C&T (ou pela criação de seus próprios laboratórios de pesquisa e pesquisadores, ou através de contratos com laboratórios externos), e se não houver a pré-disposição das academias e seus pesquisadores para aceitar estes investimentos, como forma de ampliar os conhecimentos e paralelamente produzir inovações, que não somente irão aumentar os ganhos financeiros dos investidores, mas que também servirão como resposta para a comunidade a quem eles servem, a maior parte do dinheiro do Estado não poderá ser aplicado, continuando o crescimento do mercado nacional a caminhar a passos lentos.

No próximo item será mostrado que a interação universidade-empresa produz vários benefícios para ambos os atores.

6. Benefícios da interação universidade-empresa

De acordo com Cassiolato (1996), uma interação mais sólida entre universidade-empresa pode impactar favoravelmente para as expectativas voláteis de obtenção de ganhos econômicos deste último, pelas seguintes razões:

a)    a obtenção pelo setor empresarial de um apoio da comunidade acadêmica na realização da fase de exploitation do potencial econômico-tecnológico dos avanços obtidos;

b)    a certeza de que essa interação poderá servir de suporte para dar continuidade ao processo inovativo, por meio da exploração de novas oportunidades proporcionadas por conhecimentos gerados na comunidade acadêmica;

c)    a manutenção de um diálogo permanente com a comunidade científica, que possibilita o acesso a conhecimentos a serem utilizados na atualização tecnológica de produtos e processos.

Os benefícios da interação universidade-empresa são muitos, incluindo a indução da aceleração do ritmo inovativo. O quadro 3 tenta sistematizar estes benefícios, tanto para o lado empresarial, quanto para o lado universitário, seguindo o modelo de Bonaccori e Piccaluga apud Cassiolato (1996):

Potenciais benefícios

Aspectos

Aumento do poder preditivo da ciência.

(Empresa)

a) o estímulo ao desenvolvimento de modelos adequados à resolução de problemas técnicos;

b) a repartição de atividades selecionadas de desenvolvimento, de maneira a incrementar o intercâmbio de informações técnicas;

c) o treinamento e suporte para as competências desenvolvidas internamente (in-house) pelo setor empresarial.

Obtenção de um acesso privilegiado à fronteira do conhecimento científico.

(Universidade)

a) a obtenção de um acesso facilitado a avanços científicos desestabilizadores;

b) a obtenção de informações relativas ao “estado da arte” do conhecimento científico;

c) a manutenção de múltiplas direções de pesquisa, no caso de tecnologias em estágio pré-paradigmático;

d) o recrutamento de recursos humanos qualificados no “estado da arte” das atividades de pesquisa;

e) a interação científica do pessoal envolvido com o esforço de P&D “in-house” com a comunidade acadêmica, o que estimularia a criatividade e a capacitação daquele pessoal;

f) a manutenção de “janelas” de oportunidades, orientadas por uma curiosidade científica não-comprometida com a resolução de problemas práticos;

g) benefícios proporcionados por resultados imprevistos das atividades de pesquisa;

h) a montagem de centros de excelência na realização de atividades de pesquisa;

i) a possibilidade de obstacularizar-se o acesso de competidores a conhecimentos científicos economicamente relevantes.

Fonte: Bonaccori e Piccaluga (1994) apud Cassiolato (1996), adaptado.

Quadro 3 -Benefícios potenciais resultantes da interação universidade-empresa.

Como se pôde observar no quadro 3, a participação das empresas junto às universidades, trás vantagens claras para ambos os lados. Para as empresas: através da sistematização própria da ciência que simula e antecipa ambientes, processos e produtos, evitando o “achismo” na tomada de decisões dos investidores e empresários.  Para as universidades: através dos investimentos recebidos, que ampliariam a aquisição de novos equipamentos e a capacitação de seus pesquisadores, além de lançar desafios novos na busca de soluções a serem compartilhadas pela comunidade e o aprofundamento das questões básicas da ciência.

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