ISSN-L: 0798-1015 • eISSN: 2739-0071 (En línea) - Revista Espacios – Vol. 43, Nº 02, Año 2022
SILVA, J. & CORREA D. «Às claras ou clandestinamente: dilemas científicos da observação enquanto
técnica de coleta de dados»
Na observação direta, o problema de interferência entre observador e objeto, chamado de “modelo da
interação”, que se configura como um procedimento construtivista, o distanciamento objetivo é impossível, pois
a manutenção de uma posição de exterioridade adotada pelo observador paralisa a pesquisa (Chauchat, 1985)
apud (Jaccoud & Mayer, 2014).
Neste caso, a subjetividade não mais se constitui num obstáculo, e sim numa contribuição, assim, a equação
pessoal é a unidade de medida e o núcleo de todo procedimento cognitivo, onde o estudo do observador e não
mais do sujeito, constitui a via de acesso à essência da situação observada (Devereux, 1980; Della Bernadina,
1989) apud (Jaccoud & Mayer, 2014). Desse modo, o modelo da interação se posiciona diferentemente ao
adotado no modelo de impregnação quanto à interferência entre o observador e o objeto observado.
3. A observação como técnica de coleta de material empírico
Na observação direta o pesquisador pode assumir diversas escolhas quanto à sua atitude ou à sua posição em
relação ao objeto. Isto porque num modelo tomado das ciências naturais, denominado “modelo empírico-
naturalista”, a observação é vista como uma abordagem basicamente explicativa ou objetiva, com ênfase mais
na descrição do que na explicação. Em qualquer das abordagens, o modelo naturalista reduz a observação a uma
técnica de coleta de dados materializados em fatos e contribui para a objetivação ou explicação das atividades
dos pesquisados e das experiências que eles vivenciaram (Della Bernadina, 1989; Chapoulie, 1984; Laperrière,
1984) apud (Jaccoud & Mayer, 2014).
No “modelo interpretativo” (Emerson, 1981), ou subjetivista (Laperrière, 1984), de acordo com Jaccoud & Mayer
(2014, p. 260), busca-se a “distância da descrição dos fatos materiais ou materializados, para apreender as
significações que os atores sociais atribuem aos seus atos”. Nesse modelo é o sentido que constitui o objeto de
uma sondagem, buscando-se interpretar mais do que explicar, e de descobrir modelos mais do que leis, o que
faz com que, o modelo interpretativo vise menos o distanciamento do que a subjetividade como modo de
apreensão do social (Lowry, 1981) apud (Jaccoud & Mayer, 2014).
Na pesquisa qualitativa, a observação é uma das ferramentas-chave para a coleta de dados, onde o observador,
por meio dos seus cinco sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar), deve observar um fenômeno no
contexto do campo (Angrosino, 2007) apud (Creswell, 2014). Para Rudio (2001) numa visão mais simples,
observar é aplicar os sentidos a fim de obter uma determinada informação sobre algum aspecto da realidade.
Cooper & Schindler (2016) colocam que o valor da observação é coletar dados originais no momento em que
ocorrem, sem depender de relatórios de terceiros, e também poder, por si só, captar o evento completo à
medida que ocorre em seu ambiente natural. Para Creswell (2014) é possível observar o ambiente físico, os
participantes, as atividades, as interações, as conversas e os seus próprios comportamentos.
Na visão de Da Silva (2013) o ato de observar é fundamental para desenvolver as capacidades humanas, e na
essência é o mecanismo que possibilita um ciclo de identificar, conhecer, reconhecer e proporcionar a síntese
frequente sobre o conhecimento dos fenômenos que nos cercam. Contudo, Vianna (2003) assevera que o grau
de influência do observador deve ser levado em consideração, pois sua presença pode modificar o contexto ou
mesmo a situação a ser observada.
Assim, nas pessoas pode-se diretamente observar suas palavras, gestos, comportamentos manifestos e não
manifestos, e ações. Indiretamente, observam-se os seus pensamentos e sentimentos, desde que se manifestem
na forma de palavras, gestos e ações (Rudio, 2001). Os cientistas sociais, através da observação, buscam
compreender os valores, crenças, motivações e sentimentos humanos, compreensão que só pode ocorrer se a
ação é colocada dentro de um contexto de significado (Goldenberg, 2004). Por isso a observação atenta aos