Espacios. Vol. 36 (Nº 18) Año 2015. Pág. 5
Ane Marjorie Sangoi FROZZA 1; Leandro Cantorski da ROSA 2, Rafael BERTAZZO 3
Recibido: 25/05/15 • Aprobado: 02/06/2015
2. Gestão ambiental na indústria de carnes bovinas
RESUMO: O estudo objetiva verificar estratégias ambientais em dois frigoríficos da região Centro-Oeste do Rio Grande do Sul comparando as práticas entre eles. Representando um valor elevado comparado com as estatísticas de outras cadeias produtivas, a capacidade de abates diária das unidades frigoríficas brasileiras (23,5 milhões) fornece a dimensão do setor. A pesquisa estabeleseu-se nas seguintes temáticas: gestão ambiental na indústria de carne bovina e pecuária sustentável no Bioma Pampa. A constituição da pesquisa deu-se em caráter descritivo por amostra não probabilística por conveniência. Os resultados obtidos permitiram identificar as ações ambientais implementadas independentemente de seu grau de consolidação e efetividade. |
ABSTRACT: The study aims to verify environmental strategies into two refrigerators of Rio Grande do Sul Midwest comparing practices between them. Representing a high value compared to the statistics of other production chains, the ability of daily killing of the Brazilian refrigeration units (23.5 million) gives the size of the sector. The research estabeleseu on the following themes: environmental management in the beef industry and sustainable livestock farming in Pampa Biome. The constitution of the research took place in descriptive by non-probabilistic convenience sample. The results obtained allowed the identification of environmental actions implemented regardless of their degree of consolidation and effectiveness. |
A importância da bovinocultura no agronegócio brasileiro se revela em vultosos números. O país é desde 2004 o maior exportador de carne bovina, comercializando para mais de 180 países a surpreendente quantia de 5.766.552 toneladas (ABIEC, 2012), outrossim, o Brasil detém o maior rebanho comercial do planeta com cerca de 211 milhões de cabeças (IGBE, 2012).
A pecuária juntamente com a agricultura de subsistência foram as duas primeiras atividades econômicas a serem implantadas no período colonial. Favorecida pela extensão territorial, com cerca de 20 % da área ocupada por pastagens, e também pela diversidade climática, a produção bovina originou uma dinâmica cadeia produtiva, que em 2010 movimentou US$ 167,5 bilhões, IBGE (2012). As ramificações dessa cadeia conectam diversos outros setores ligados ao processo, o qual principia desde a criação de gado nas propriedades até a venda do produto final na seara varejista.
A tecnologia foi intensificada nos últimos anos elevando a produtividade dos rebanhos e mitigando perdas. Questões relacionadas à segurança alimentar e sustentabilidade também elevaram o qualidade de todo o processo produtivo da carne, contribuindo para que a ampliação do mercado externo se efetivasse.
As estimativas dão conta de que elevar-se-á, até 2018/2019, a participação da carne bovina brasileira no comércio mundial, atingindo cerca de 60% nesse período mencionado. (BRASIL, 2009).
O potencial das unidades frigoríficas pode ser percebido na dinâmica das três maiores empresas do setor no Brasil: Grupo JBS, Marfrig e BRFoods. O município de Santiago-RS conta com um efetivo de 209.407 bovinos (IBGE/2011) e duas unidades frigoríficas. Como parte integrante do agronegócio, e sendo este um setor que participa de maneira significativa na composição da riqueza do município, a pecuária e sua cadeia são estratégicas para a economia santiaguense. O crescimento e desenvolvimento local dependem da competitividade de suas empresas e da competência de seus gestores, ao passo que, as ações que visem tornar a pecuária mais competitiva e atendendo às demandas globais, trazem, por conseguinte, uma sorte de benefícios para a cidade.
Em se tratando do cenário de degradações provocadas pela natureza, o ser humano torna-se sensibilizado com o ambiente e passa a tomar medidas de redução de impactos ambientais. Isso se constata pela quantidade de organizações que aderiram à certificação ISO 14.001, reconhecida como sendo o sistema de gestão ambiental amplamente adotado por que possui respaldo da International Organization for Standardization (ISO).
O objetivo do estudo visa analisar as estratégias ambientais entre dosi firgoríficos denominados no trabalho como A e B, evidenciando as questões relativas à gestão da sustentabilidade verificando suas possíveis ligações e impactos nos planos estratégicos da empresa; verificando se há diferenciação de produtos com a introdução das "carnes verdes" ou carnes sustentáveis na linha de produtos e conhecer a situação dos frigoríficos que abatem bovinos da região, no que tange às estratégias ambientais.
O Brasil, atualmente, possui o maior rebanho comercial do mundo, ocupa a segunda a posição entre os países produtores e assumiu a liderança mundial na quantidade exportada. A pecuária de corte é uma das explorações agropecuárias mais significativas, tanto na geração de receitas internas como na pauta de exportação, e ainda incorpora tecnologias que aumentam a produtividade. O aumento das exportações de carne bovina foi um dos principais contribuintes para o aumento dos índices de produção do produto no Brasil.
Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), em 2013 as exportações brasileiras de carne bovina in natura aumentaram 25,3% em quantidade e 19,2% em faturamento, em relação ao ano de 2012. Rússia, Hong Kong, Venezuela e Egito foram responsáveis por 68,5% das exportações de carne bovina in natura do país. O maior faturamento em 2013 foi assegurado pelo maior volume exportado, haja vista que o preço médio das exportações (US$ FOB/kg 4.524) recuou 4,8% em relação ao de 2012 (US$ FOB/kg 4.754). (IBGE, 2012).
As empresas que atuam no processamento de carnes têm considerado os princípios ambientais na gestão de suas atividades o que cria oportunidades associadas à produção com práticas sustentáveis em todas as áreas.
Nesse sentido, percebe-se uma preocupação dos frigoríficos com a produção mais limpa (P+L). Tal ação pode ser resumida como uma série de técnicas econômicas e ambientais que evitam e reduzem a emissão de poluentes no meio ambiente por meio de iniciativas preventivas, ou seja, evitando a geração de poluentes ou criando alternativas para que estes sejam reutilizados ou reciclados.
As vantagens são significativas para todos os envolvidos, do indivíduo à sociedade, do país ao planeta. Mas é a empresa que obtém os maiores benefícios para o seu próprio negócio.
Segundo a CETESB (2008), a produção mais limpa tem como principais vantagens: redução de custos de produção; aumento de eficiência e competitividade; diminuição dos riscos de acidentes ambientais; melhoria das condições de saúde e de segurança do trabalhador; melhoria da imagem da empresa junto a consumidores, fornecedores, poder público, mercado e comunidades; ampliação de suas perspectivas de atuação no mercado interno e externo; maior acesso a linhas de financiamento; melhoria do relacionamento com os órgãos ambientais e a sociedade, entre outros.
Ainda de acordo com o Guia Técnico Ambiental de Frigoríficos - Industrialização de Carne Bovina e Suína, da CETESB (2008), o abate de bovinos e suínos, assim como de outras espécies animais, é realizado para obtenção de carne e de seus derivados, destinados ao consumo humano. Esta operação, bem como os demais processamentos industriais da carne, são regulamentados por uma série de normas sanitárias destinadas a dar segurança alimentar aos consumidores destes produtos. Assim, os estabelecimentos do setor de carne e derivados em situação regular, trabalham com inspeção e fiscalização contínuas dos órgãos responsáveis pela vigilância sanitária (municipais, estaduais ou federais).
Como consequência das operações de abate para obtenção de carne e derivados, originam-se vários subprodutos e/ou resíduos que devem sofrer processamentos específicos, conforme demostrado na Figura 1.
Figura 1 – Subprodutos e/ou resíduos das operações de abate
Fonte: Autoria própria
Normalmente a finalidade do processamento e/ou da destinação dos resíduos e subprodutos do abate é função de características locais ou regionais, como a existência ou a situação de mercado para os vários produtos resultantes e de logística adequada entre as operações. Por exemplo, o sangue pode ser vendido para processamento, visando à separação e comercialização de seus componentes (plasma, albumina, fibrina, etc), mas também pode ser enviado para graxarias, para produção de farinha de sangue, usada normalmente na preparação de rações animais. De qualquer forma, processamentos e destinações adequadas devem ser efetuados em todos os subprodutos e resíduos do abate, em atendimento às leis e normas sanitárias e ambientais vigentes.
Os principais aspectos e impactos ambientais da indústria de carne e derivados estão ligados a um alto consumo de água, à geração de efluentes líquidos com alta carga poluidora, principalmente orgânica e a um alto consumo de energia. Odor, resíduos sólidos e ruído também podem ser significativos para algumas empresas do setor. Desse modo, nos frigoríficos, o foco das ações de P+L deve direcionar-se, preferencialmente, aos aspectos ambientais mais significativos, que possuem os maiores impactos ambientais.
A indústria de carnes acompanhou nos últimos anos um movimento crescente relacionado à valorização da segurança alimentar e segurança dos alimentos. Dessa forma, no que se refere à produção animal, tem ocorrido uma exigência dos consumidores por carnes de qualidade, e este fator tem pressionado os pecuaristas a investirem nesse item. Essa questão vem sendo discutida há um longo tempo, pois a melhoria na qualidade de vida das pessoas abriu novos mercados e margens para diferenciação dos produtos.
Fomentado pelo aumento da demanda por proteína animal, assim como a valorização da carne bovina, a partir de 2008/2009, tem acontecido uma recuperação significativa do preço do gado, o que tem contribuído para um aumento do rebanho (ANUALPEC, 2011). Diante das mudanças climáticas dos últimos anos as atividades de lavouras têm sido mais fortemente impactadas, se comparadas com a bovinocultura de corte. Estes fatores vêm se configurando em um incentivo às atividades pecuárias.
Apesar de uma série de modificações, a atividade pecuária ainda é predominante e relevante na região sul do RS. No entanto, a estância do fim do século XX e início do século XXI se apresentam com uma formatação diversificada variando desde aquelas unidades mais tecnificadas e modernizadas, até aquelas mais tradicionais nas suas formas de gestão, de produção e de comercialização (FONTOURA, 2000).
O sistema lavoura-pecuária no Oeste e Noroeste do RS tem evidenciado grandes resultados para o crescimento forrageiro na alimentação de animais e para a camada de biomassa, que fica ao final do ciclo da pastagem, utilizada no plantio direto das culturas de verão. No entanto, essas regiões são caracterizadas pelas atividades agrícolas, predominando as culturas da soja e milho. Ao oeste do estado, a presença e incentivo de empresas privadas do ramo do reflorestamento, realizando plantio de espécies exóticas em áreas arenosas (muitas vezes chamadas de deserto) contribuem para o investimento em outro setor deixando de lado a pecuária de corte, justificado pelo fato de inadequação do uso da terra.
Em paralelo surge uma grande questão atualmente que diz respeito à maximização da produção de carne sustentável, ou seja, aumentar a produtividade sem prejudicar o meio ambiente. A Embrapa Pecuária Sul busca desenvolver programas de certificação da carne no território do Pampa, onde os animais são mantidos basicamente em campo nativo como fonte principal de alimento forrageiro. (KLASSEN, ANGEL,2008). Esta iniciativa tem como foco principal incentivar a conservar o campo nativo e o Bioma Pampa, produzindo um produto de qualidade sem prejudicar o meio ambiente, abrindo mercados na cadeia produtiva da carne, valorizando a bovinocultura de corte e obtendo melhores remunerações ao produtor (EMBRAPA, 2011).
Conforme Santos (2004), a metodologia é um elemento importante e decisivo para o êxito da investigação, porque ela define o fazer científico e deve estar em consonância com suas intenções. Nesta etapa, o pesquisador deverá definir onde e como será realizada a pesquisa.
A presente pesquisa classifica-se como quantitativa e qualitativa, descritiva de cunho bibiliográfico, caracterizada como estudo de campo.
Em consonância ao referido, a presente pesquisa quanto à forma de abordagem do problema enquadra-se como quantitativa, pois no estudo foi realizada pesquisa de campo, com a finalidade de obter informações, usando questionário estruturado, elaborado de forma que possibilitaram análises estatísticas simples e alguns cruzamentos. Hair Jr. et al. (2010) ressalta que geralmente pesquisas descritivas com procedimento de levantamento enquadram-se como quantitativas, a fim de descrever e resumir através de estatísticas e números atitudes, comportamentos, demografias, etc.
Quanto ao universo de coleta de dados, foi utilizada uma amostra não probabilista por conveniência, foram consideradas, duas empresas situadas do Centro-oeste do Rio Grande do Sul. As empresas, após o recebimento dos questionários tiveram um prazo inicial de 15 dias para envio de suas respostas, sendo que após esse período, foram realizados novos contatos. Assim que os formulários foram respondidos, se fez um estudo comparativo entre as empresas participantes da pesquisa, verificando os pontos em comum e aspectos que as diferenciavam. Após, foi produzido um panorama situacional do estágio das atividades relacionadas ao meio ambiente em cada frigorífico. A parte qualitativa foi objeto de análise interna de conteúdo.
A forma de seleção dos indivíduos para coleta dos dados classifica a pesquisa como não probabilística, por acessibilidade. Conforme Hair Jr. et al. (2010), é um método onde amostras são selecionadas apenas com base em sua conveniência. O autor diz que a representatividade da amostra não pode ser medida, pois é impossível estimar o erro de amostragem.
Num primeiro momento discorreu-se acerca de como a gestão ambiental está inserida na empresa, como está estruturada e o sistema adotado pelas unidades analisadas. Para efeito de análise se utilizará da abordagem agregada - empresa A e empresa B - objetivando preservar o cunho confidencial da pesquisa no que se refere à identificação das empresas participantes.
Segundo Beuren et al. (2006), é nessa etapa que analisa-se as obras científicas disponíveis que embasem teoricamente o tema, e explicita-se os principais conceitos e termos técnicos a serem utilizados na pesquisa.
Nesta seção são apresentados os resultados obtidos após o comparativo das respostas provenientes através dos questionários que foram entregues.
As primeiras perguntas relacionaram-se a uma análise macro do cenário o qual a empresa encontra-se na gestão ambiental, bem como seu entendimento, o qual refere-se o quadro 1.
Quadro 1 – Cenário das empresas frente ao Sistema de Gestão Ambiental
Perguntas |
Empresa A |
Empresa B |
Responsável Gestão Ambiental |
Inexiste |
Existe |
Implementação SGA |
Sim |
Sim |
Sistemas de SGA |
Tratamento de efluentes |
ISO 14001 |
Fonte: elaboração própria
Com isso se percebe que entre ambas existe uma atenção à mobilização de uma fração em prol das tarefas relacionadas à gestão ambiental. Guardadas as devidas proporções, a simples preocupação em departamentalizar ou alocar pessoal para esta área já evidencia interesse e mobilização da empresa acerca das "questões verdes".
Na segunda pergunta se questionou se o frigorífico possui implantado, ao menos, um sistema de gestão ambiental, onde se obteve como respostas que sim, e há 20 anos, para a empresa A e sim, há 2 anos para a empresa B. A questão da discrepância entre o tempo de implantação do sistema ambiental, pode sugerir uma consideração errônea a respeito do que de fato se caracteriza um sistema de gestão ambiental. Ainda sobre os sistemas ambientais perguntou-se a respeito das certificações e descrições dos mesmos, e se obteve como resposta que sim, em ambas as empresas. Na segunda seção do questionário aplicado nas unidades frigoríficas procurou-se assinalar o nível de concordância das ações praticadas pela empresa em relação às questões ambientais. Foram subdivididos numa análise das compras de insumo e da gestão ambiental propriamente dita, de acordo com o quadro 2.
Quadro 2 – Compras sustentáveis
Perguntas |
Empresa A |
Empresa B |
Seleção de fornecedores |
Média aplicabilidade |
Alta aplicabilidade |
Persuasão frente aos fornecedores |
Media influência |
Alta influência |
Fonte: elaboração própria
Essas duas questões sugerem que, no relacionamento com os fornecedores, a empresa A tem uma sensível dificuldade de influenciá-los. Sua atuação não se reproduz em impacto significativo para influenciar e selecionar fornecedores. Ficou evidente, por outro lado, o poder de persuasão e influência da empresa B, que possui maior autonomia e know-how para tais ações e logo mais autoridade entre seus fornecedores.
Quanto a práticas de gestão ambiental, as respostas demostradas no quadro 3.
Quadro 3 – Práticas de Gestão Ambiental
Perguntas |
Empresa A |
Empresa B |
Cumprimento das exigências legais |
Sim |
Sim |
Adoção de ações que visem à substituição |
Máxima adoção |
Média adoção |
Existência de treinamento de SGA junto a |
Existe |
Existe |
Monitoramento de indicadores ambientais |
Bem monitorados |
Completamente monitorados |
Fonte: elaboração própria
Dado resultado, permite observar o receio de possíveis ônus, advindos de uma possível ação na justiça (pelo não cumprimento das exigências da legislação) impactaram nas decisões de se responder às exigências legais atentando às regulamentações atinentes ao setor.
As questões atinentes à "carne sustentável" revelam um viés importante que se tentou dar a esta pesquisa. Foi questionado primeiramente se, os fornecedores dos quais a empresa tem contato, possuem certificação da procedência da carne, se há direcionamento de uma linha específica e comercializada no mercado e por fim se a empresa testa a aceitabilidade do produto nas praças onde dispõe suas carnes. Oriunda do bioma pampa e que envolve uma série de questões sustentavelmente corretas, a carne verde ou carne sustentável revela uma ação da empresa na adoção de mecanismos que tornem a empresa ambientalmente eficaz. O quadro 4 demostra esses indicadores.
Quadro 4 – Uso das carnes sustentáveis
Perguntas |
Empresa A |
Empresa B |
Linha específica com as carnes identificadas |
Sim |
Sim |
Fornecedores de matéria prima |
Médio suprimento |
Alto suprimento |
Testes de aceitação de carnes sustentáveis |
Não possui |
Não possui |
Fonte: elaboração própria
Nessa abordagem, pôde-se verificar que tanto a empresa A como a empresa B possuem entre seus produtos, uma linha específica com as carnes identificadas como sustentáveis, no entanto no que se refere aos fornecedores de tal matéria-prima a empresa B tem ligeira vantagem sobre a A uma vez que essa última não tem o pleno suprimento de tal insumo (os motivos para que essa empresa goze da dada vantagem permaneceram como limitação da presente pesquisa).
No que se refere ao planejamento das rotas para diminuição de gás carbônico, existência de tratamento de efluentes, ações de reflorestamento, redução do consumo de energia e integração das ações ambientais em consonância com as estratégias da empresa, pode-se observar conforme as respostas evidenciadas no quadro 5.
Quadro 5 – Planejamento de ações ambientais
Perguntas |
Empresa A |
Empresa B |
Planejamento logístico de rotas para |
Sim |
Sim |
Existência de tratamento de efluentes |
Sim |
Sim |
Ações de reflorestamento |
Efetivamente realizado |
Parcialmente realizado |
Ações de diminuição de energia elétrica |
Sim |
Sim |
Integração das ações ambientais as |
Sim |
Sim |
Fonte: elaboração própria
Com relação às ações de reflorestamento houve divergência entre as empresas consultadas, posto que no frigorífico A o plantio de árvores é tido como uma atividade completamente integrada às estratégias ambientais da empresa e no frigorífico B essas ações são realizadas parcialmente sem muita efetividade. Ainda nesta seção da pesquisa, foi questionado se as empresas possuíam ações com vistas e diminuir o consumo elétrico, e se certificou que no frigorífico A, os gestores da empresa promovem iniciativas e campanhas eficientes, no âmbito da unidade, para evitar desperdícios e reduzir o consumo. Mesma constatação foi plotada no frigorífico B.
Quanto aos obstáculos ligados a atividades da Gestão ambiental, este dividiu-se me internos e externos, de acordo com o quadro 6.
Quadro 6 – Atividades de Gestão Ambiental
Fonte: elaboração própria
Os impactos fortes são os que se referem à falta de incentivos financeiros e fiscais. Percebeu-se que os obstáculos internos de ambos os frigoríficos impactam de maneira mais efetiva na consecução das ações ambientais, o mesmo ocorre, de maneira oposta e com efeito menos aparente para a administração quando são relacionados aos agentes externos. Os desafios e as barreiras são maiores dentro das próprias organizações.
Por fim, na última seção do questionário procurou-se identificar quais eram os efeitos mais proeminentes e os menos relevantes, que as ações ambientais implementadas nos frigoríficos, geraram para as suas respectivas administrações. Na análise das respostas fornecidas pelo frigorífico A, verificou-se que os fatores que sofreram os maiores efeitos das ações ambientais foram a criação de valor aos produtos, a ampliação de mercados e os ganhos de produtividade. Em contraponto, melhores contratações de seguros e lucratividade maior em curto prazo tiveram os menores impactos.
Quando da análise dos dados do frigorífico B, verificou-se um incremento substancial de fatores impactados pelas ações ambientais dos quais podem ser mencionados como sendo: vantagens competitivas, melhoria da imagem da empresa, criação de valor ao produto, ampliação de mercados, lucratividade maior em longo prazo, melhor desempenho nas vendas, satisfação dos colaboradores, melhor acesso a empréstimos e financiamentos, melhores contratações de seguros e lucratividade maior em curto prazo.
Os aspectos comuns entre as duas unidades analisadas foram a criação de valor aos produtos e a ampliação de mercados.
As questões que envolvem a sustentabilidade e os desdobramentos em relação aos impactos na alteração do clima no planeta estão sendo perseguido por diversas organizações ao redor do mundo, o que impacta sobremaneira nos desempenhos das empresas, seja através das estratégias empresariais ou na interação e influência junto aos seus stakeholders.
Nesse sentido o tema despertou interesse para se verificar as estratégias e gestões ambientais nas unidades frigoríficas da Região Centro-Oeste do Estado do Rio Grande do Sul, uma vez que não havia estudos semelhantes no âmbito dos frigoríficos da nossa região que abordassem essa temática. Outrossim, justificaram a escolha pelo assunto a necessidade de se verificar a importância dada, pelos frigoríficos, às questões que envolvem produção sustentável e revelar a situação das unidades frigoríficas em termos de investimentos e estratégias ambientais necessárias.
O impacto que a pesquisa poderia provocar junto à sociedade local, ao trazer novos subsídios para as iniciativas que fomentem o desenvolvimento sustentável, vem de encontro às iniciativas do poder público municipal como a Cidade Educadora, que têm, dentre suas metas, a Educação Ambiental, a qual busca sensibilizar a comunidade para a importância dos cuidados com o meio ambiente e desenvolver projetos que promovam a sustentabilidade.
O estudo procurou respostas para a dúvida central: Qual a situação atual da empresa Frigorífico Sagrillo no que se refere às ações relacionadas ao meio ambiente e em que estágio de implementação encontram-se as unidades frigoríficas localizadas na região?
Para tal, foi realizada a aplicação dos questionários, nas sete empresas selecionadas, onde obteve-se o retorno de dois questionários, o que atende a 28,57% do total entregue. Reside aí a maior dificuldade na consolidação da pesquisa, uma vez que se esperava um retorno mínimo de quatro formulários para dar consistência ao estudo.
A análise dos resultados das duas empresas permitiu verificar, em primeiro momento, que o direcionamento de esforços por parte das empresas em implementar Sistemas de Gestão Ambiental teve efeito positivo no desempenho geral da organização, principalmente no que se refere a criação de valor aos produtos e a ampliação de mercados.
Verificou-se, que as estratégias ambientais sofriam interferência das realidades da unidade pesquisada, quer seja relacionada ao porte da empresa como também referente ao estágio evolutivo das execuções das ações pela mesma. As percepções e conhecimento sobre o tema por parte dos respondentes mostrou ser abissal, o que se pode julgar pelo cargo/função que eles ocupam. Na empresa B havia um profissional alocado especificamente na função de coordenador de gestões ambientais e isso não se repete na empresa A, nessa última este profissional é o gerente administrativo. Nesse aspecto, em perguntas que visavam verificar características específicas da seara ambiental as respostas provenientes da empresa A deixavam margem para deduções de que as suas respostas estivessem superestimadas, no sentido de que o respondente mencionava que ações ambientais aleatórias estavam fortemente implementadas na empresa, não encontra respaldo se confrontar tal resposta a outra distinta, a saber: ao questionar tal empresa sobre a existência de um sistema de gestão ambiental consolidado e o tempo desde a implantação do mesmo, a unidade respondeu que sim e há vinte anos, em seguida perguntou-se a respeito de qual sistema era adotado pela empresa e a mesma respondeu ser "tratamento de efluentes". Tais considerações induzem a um desconhecimento do respondente sobre o que de fato é um sistema de gestão ambiental e uma possível mensuração quantitativa fatalmente sujeitariam os resultados à inconsistências.
Não obstante, percebeu-se maior dificuldade por ambas as empresas em superar os obstáculos internos no que diz respeito às ações ambientais em suas respectivas unidades, essas variáveis são relatadas como de máxima influência para frear a plena consolidação das iniciativas ambientais. Decorre disso, uma consideração de que mesmo identificando diversas frentes na seara ambiental em curso nas empresas, elas ainda se mostram carentes de uma articulação mais efetiva entre toda a administração. Mudanças na cultura organizacional e maiores investimentos para adaptações de sistemas são essenciais para que as empresas se tornem plenamente eficientes nas questões da sustentabilidade. Os obstáculos externos, mesmo que relatados como empecilhos à consolidação das ações ambientais, se mostraram com menor grau de influência. Superar tais obstáculos é indispensável para futuramente consolidar essas empresas como empresas verdes, ou nas melhores condições, uma empresa que possa figurar em listas anuais de classificação como, a título de exemplificação.
Em mercados mais exigentes, a preocupação com a procedência das carnes e alimentos tem sido fortemente compartilhada pelos consumidores, que buscam o esclarecimento e informação das questões relativas às características ambientais e sociais das empresas alimentícias, e, não obstante, uma especial atenção tem sido dada aos malefícios decorrentes da utilização desenfreada de hormônios e antibióticos nos animais abatidos.
Os resultados gerais obtidos permitem identificar que as ações ambientais que foram implementadas nas duas empresas, independentemente de seu grau de consolidação e efetividade, corroboram para o estabelecimento das mesmas num mercado que urge por organizações ambientalmente responsáveis, e indicam que há uma tendência nas decisões da administração no sentido de atrelar estratégias organizacionais às estratégias ambientais.
Em face de todas as questões discutidas acredita-se que a pertinência do tema é latente, devendo ser continuamente explorada e estudada a fim de apoiar o crescimento regional em harmonia e respeito com a natureza.
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1. Mestranda em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, RS, Brasil. E-mail: anemarjorie@hotmail.com
2. Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina, RS, Brasil. E-mail: leski78@hotmail.com.
3 Graduado em Administração pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI Santiago, RS, Brasil. E-mail: rafaelbertazzo@hotmail.com