Espacios. Vol. 36 (Nº 16) Año 2015. Pág. 4

Experiências sobre a implementação da filosofia lean em uma obra de condomínio horizontal de interesse social em Santa Maria – RS

Experiences on the implementation of lean philosophy in a site work of a horizontal condominium of social interest in Santa Maria - RS

Janis Elisa RUPPENTHAL 1; Diogo Dutra de SOUZA 2; José Ricardo MAEDGE 3; Andrei Ruppenthal SILUK 4; Angela Paulina Gradeaux PISANI 5

Recibido: 24/04/15 • Aprobado: 02/06/2015


Contenido

1. Introdução

2. Lean construction

3. Metodologia

4. Apresentação das práticas de construção enxuta observadas

5. Conclusão

6. Referências Bibliográficas


RESUMO:

A filosofia lean vem sendo utilizada pelas construtoras que devido às exigências do mercado são pressionadas a buscar novos modos de produção que permitam melhorar seus processos e aumentar sua produtividade. Como objetivo desse estudo busca-se identificar e apresentar práticas de lean construction em uma obra de um condomínio horizontal de interesse social financiada pelo programa "Minha Casa Minha Vida" do Governo Federal em Santa Maria – RS, Brasil. Os resultados mostram que na obra pesquisada a implementação da filosofia lean, acontece por meio de medidas simples de planejamento e reorganização visando a diminuição de perdas e a melhoria da produtividade.
Palavras-chaves: construção civil; construção enxuta; redução de perdas

ABSTRACT:

The lean philosophy has been used by contractors that by market demands are pushed to seek new alternatives for production techniques that allow improving its processes and productivity. This research has the objective to identify and present lean construction practices that were used in a horizontal social housing site work financed by the Federal government program "Minha Casa Minha Vida". The findings shows that in the researched site work, the deployment of the lean philosophy happens by simple measures of planning and reorganization pursuing the decrease of waste and the enhancement of productivity
Key-words: civil construction; lean construction; waste reduction

1. Introdução

O mercado de construção civil esteve aquecido no Brasil, tanto pelos altos investimentos do governo federal em planos assistenciais que visam à redução do déficit habitacional brasileiro, como o programa "Minha Casa Minha Vida" - MCMV, quanto pelo aumento do crédito para financiamento habitacional com recursos do Fundo de Garantia pelo Tempo de Serviço -FGTS. Em seis anos de existência do programa MCMV o investimento foi de 244,2 bilhões de reais para construir e entregar 2 milhões de unidades, em áreas urbanas e rurais (CBIC, 2015). A partir desse aumento significativo de recursos financeiros aliado a busca por resultados positivos e redução do tempo de execução de obras, surgem defensores de novas correntes filosóficas de gestão, como a filosofia lean.

A filosofia lean chegou em um momento de dicotomia entre os objetivos desejados e as arcaicas culturas gerenciais praticadas na construção civil no Brasil, que apresentam pouco comprometimento com a redução de desperdícios, planejamento gerencial e condições de trabalho dos colaboradores.

A implementação de filosofias gerenciais modernas representa um grande benefício às obras brasileiras, porém exige mudanças significativas nas estruturas organizacionais. É necessária a racionalização das rotinas de trabalho, passando de práticas convencionais e pouco eficazes para um sistema que visa a redução de perdas e de atividades que não agregam valor (GEHBAUER, 2004; AZEVEDO, 2010; CÔRTES, 2014).

Dessa forma, a compreensão do conceito, das oportunidades de aplicação, da identificação dos princípios e elementos fundamentais do pensamento enxuto, assim como a interação entre eles, é imprescindível para a implementação dessa filosofia gerencial no contexto da construção civil e seus fluxos: negócios, projetos, obras, suprimentos, uso e manutenção (PICCHI, 2003; DENARI, 2010; GONÇALVES et al, 2014).

Com um déficit habitacional histórico, uma demanda crescente por infraestrutura aglutinada e uma economia em crescimento, vislumbra-se, apesar de uma retração na economia em 2015, um cenário de expansão nos canteiros de obra pelo país (CBIC, 2015). Com este trabalho busca-se identificar e apresentar práticas de lean construction em uma obra de habitação horizontal de interesse social do programa MCMV, financiada pelo Governo Federal. Nesse contexto, o estudo visa a compreensão de como as práticas de Lean Construction atuam sobre o planejamento de canteiros de obras de condomínios horizontais, e possibilitam a diminuição das perdas de materiais, a redução de custos e o aumento da produtividade.

 2. Lean construction

A lean construction ou construção enxuta é uma filosofia que busca adaptar os princípios e as práticas de gerenciamento da produção enxuta ao ramo da construção civil, buscando sempre adaptar-se as especificidades do setor. Esses esforços incluem industrialização e mecanização, tentativas de mudar relações contratuais e organizacionais, computação integrada e automação na construção, qualidade e, a lean production (KOSKELA, 1992; FORMOSO, 2005).

Em comparação a indústria, onde se aplica a filosofia da produção enxuta com grande sucesso, a construção civil apresenta suas singularidades, chamando-nos a atenção para três características do ramo: A natureza específica de cada projeto – produto singular; a produção estabelecida em determinado local e em torno do projeto; a multiorganização de diversas especificidades e de caráter temporário (KOSKELA, 1992; FORMOSO, 2005).

A lean construction originou-se da adaptação da filosofia lean à construção civil. Foi introduzida por Koskela (1992) e apresenta um conjunto de diretrizes e ferramentas para o planejamento e acompanhamento da obra, visando a eficiência na utilização de recursos como materiais, mão de obra, equipamentos e capital (FORMOSO, 2005).

O modelo tradicional da construção civil é chamado de modelo de conversão, representado na Figura 1. A produção é definida como um conjunto de atividades de conversão que transforma os insumos em produtos intermediários e, na união dessas conversões surge um produto final, a edificação (KOSKELA, 1992). O modelo tradicional de processo de conversão foi desenvolvido no século XIX, quando os processos produtivos eram simples e únicos. No final do século, conforme a produção evoluiu e tornou-se mais complexa, os problemas devido à essa base conceitual de gestão começaram a aparecer (BERNARDES, 2003). Nesse modelo não há o reconhecimento de outros fenômenos na produção além das transformações, assim como não é levado em conta o fator tempo no estudo do processo de produção (KOSKELA, 1992).

Figura 1 – Modelo tradicional de conversão (adaptado)
Fonte: Koskela, 1992

A filosofia lean apresenta um processo que consiste em um fluxo de materiais e mão-de-obra, que considera outras atividades durante esse processo, tais como transporte, espera, processamento e inspeção (SHINGO, 1996; OHNO, 1997). É denominado modelo de processo de fluxo (Fig. 2). Ao utilizar o novo modelo de produção, que leva em consideração todos os processos e operações de produção, o fator tempo é inserido (OHNO, 1997; WOMACK; JONES, 2004).

Outro fator importante é a percepção de que o tempo é consumido por dois tipos de atividades: as de transformação e as de não transformação. Assim, essas atividades de não transformação são desnecessárias, ou seja, quanto menos atividades desse tipo, melhor (SHINGO, 1996; OHNO, 1997; KOSKELA, 2000; WOMACK; JONES, 2004).

Essas atividades de não transformação, como transporte, espera e inspeção, portanto não agregam valor ao produto final, sendo então chamadas de atividades de fluxo. A atividade de processamento, conversão ou transformação é definida como a atividade que agrega valor ao produto final (KOSKELA, 1992; BERNARDES, 2003).

Figura 2 - Modelo de processo lean construction (adaptado)
Fonte: Koskela, 1992

A abordagem lean na construção civil visa sequenciar as atividades de modo integrado, planejando-as de forma balanceada, de forma que estejam cadenciadas e no mesmo ritmo. A consequência desse tipo de solução é fazer com que haja a quebra de isolamento da sequência de atividades na obra (BENETTI, 2010).

Koskela (1994) lançou onze princípios para amparar o projeto de processo de fluxo e suas melhorias, que formam a base das atividades de aplicação prática e fundamentos de mentalidade enxuta na construção. São eles: reduzir o número de atividades que não agregam valor; aumentar o valor da saída considerando os requisitos do cliente; reduzir variabilidade; reduzir o tempo de ciclo; simplificar através da minimização do número de passos e partes; aumento da flexibilidade das saídas; aumento da transparência do processo; focar no controle do processo global; introduzir melhoria contínua ao processo; balancear melhoria nos fluxos por meio de melhoria nas conversões; fazer benchmarking.

Dessa forma, essa filosofia busca trazer benefícios em termos de eficácia e eficiência nos sistemas de produção, através desses onze princípios básicos apontados na metodologia lean production, que a lean construction utilizou para a aplicação no setor da construção civil (SARCINELLI, 2008; PERETTI et al, 2013).

3. Metodologia

Como método para desenvolvimento do trabalho e alcance do objetivo que é estudar o caso de uma obra de habitação horizontal de interesse social, buscando a identificação de práticas lean ou construção enxuta, utilizou-se da pesquisa exploratória, proporcionando maior familiaridade com o tema. Como estratégia de pesquisa adotou-se o estudo de caso por meio de coleta de dados utilizando-se de observação direta, registros fotográficos e entrevistas informais realizadas in locu.

O campo de aplicação da pesquisa foi o canteiro de obras de um conjunto habitacional horizontal de interesse social ligado ao programa MCMV do Governo Federal, localizado em Santa Maria – RS. A obra, realizada em série, foi executa por uma empresa construtora financiada pela Caixa Econômica Federal totalizando a construção de aproximadamente 1000 unidades residenciais.

Dessa forma, buscou-se identificar no canteiro de obras em estudo, a aplicação de práticas ligadas aos conceitos da metodologia lean construction apontados por Koskela (1992) e replicados no Brasil por Bernardes (2003) e Formoso (2005).

4. Apresentação das práticas de construção enxuta observadas

As obras de habitações de interesse social, geralmente, são de curto prazo, já que os programas habitacionais do Governo Federal exigem reduzido tempo de execução e entrega dos bens aos clientes beneficiados (ROTH, 2013). O condomínio horizontal estudado utiliza um modelo construtivo de paredes concretadas em formas de alumínio ou ferro como mostra a figura 3. Essas formas podem ser utilizadas para execução de duas, quatro ou seis casas geminadas.

Figura 3 – Formas em processo de montagem

As fundações são do tipo radier, já que as cargas verticais são distribuídas em todas as paredes e não têm valor expressivo. O radier é uma fundação rasa, com espessuras de 7 a 15 cm, utilizada em edificações de até quatro pavimentos, não requerendo fundações do tipo sapata ou fundações profundas como estacas ou micro estacas.

Após a cura do concreto das fundações são montadas as armaduras das paredes como mostra a figura 4, utilizando como material principal malhas previamente fabricadas. A montagem das armaduras ocorre de forma cíclica e ininterrupta, assim, os instaladores da rede elétrica da parede acompanham o ciclo de produção executando as instalações de eletrodutos nas telas imediatamente após a conclusão da tarefa anterior. Com esse serviço concluído, dá-se início à montagem dos dispositivos elétricos como caixas e tomadas que ficam embutidos no concreto, juntamente com a tubulação de água potável e esgoto.

Figura 4 - Telas montadas com os eletrodutos instalados.

Após a conclusão dos processos de instalação elétrica e hidráulica nas paredes, é iniciada a montagem das formas, que têm um ciclo de um ou dois dias, do início da montagem ao final da desforma. Desse modo, cada placa retirada de uma casa concretada é imediatamente transferida para o próximo lote onde já existem armaduras, rede elétrica, hidráulica e hidrossanitária instaladas como mostra a figura 5. Após o tempo de cura do concreto das paredes estruturais, é realizado o arremate e inicia-se o processo de montagem do telhado, prosseguindo com a montagem da rede elétrica de forro.

Figura 5 - Detalhe da montagem da forma com eletrodutos embutidos

A montagem do telhado, figura 6, é uma etapa imprescindível para a proteção dos trabalhadores que realizam os serviços internos como a instalação elétrica, possibilitando o trabalho em dias chuvosos. E, ainda, a estrutura do telhado facilita a fixação da rede elétrica de forro bem como os pendurais das placas de gesso acartonado que compõem o forro. Cada etapa de construção das unidades habitacionais, é realizada por empresas terceirizadas com mão de obra treinada.

Figura 6 – Detalhe da montagem do telhado.

Dessa forma, é possível compreender uma obra como uma linha de montagem arcaica em que é realizada a inspeção de serviço a cada etapa de execução. Assim a realização do serviço subsequente depende da realização e aprovação do serviço anterior, configurando em gargalos do processo (REZENDE; DOMINGUES, 2012; ROTH, 2013; REFOSCO, 2014). Visando a eliminação dos gargalos e consequente agilidade dos processos, foram selecionadas as etapas que permitem sua realização antecipada: pré-concretagem; corte e montagem da malha de aço da ferragem; instalações elétricas, instalações hidrossanitarias nos radiers; paredes e barriletes; distribuição dos palets de telhas no local de sua aplicação e placas dos forros de PVC previamente cortadas.

4.1 Pré-concretagem
A pré-concretagem das vigotas para as caixas d'água, agiliza as instalações, dispensando o uso de formas. Conforme figura 7, ela é realizada em local específico e preparada para a sua execução e transporte até o local com uso de carrinhos de mão. O objetivo é a diminuição no tempo de execução do serviço, já que não há necessidade de esperar a cura das vigotas visto que elas já passaram pelo processo. Essa reorganização representa a redução do tempo de ciclo, conforme já foi levantado por Souza (2010) e Oliveira (2013).

Figura 7 – Área de pré-moldados

4.2 Corte e montagem da malha de aço da ferragem

O corte e a montagem da malha de aço da ferragem são realizados pelos ferreiros em local preparado para essa atividade, de acordo Formoso (2006). As malhas cortadas são estocadas (figura 8) e posteriormente transportadas até o local da montagem por tratores. Assim, a eficiência da montagem das malhas é maximizada e os ferreiros aceleram o processo. Logo, essa atividade não representa mais um gargalo para os serviços subsequentes e também representa a redução do tempo de ciclo, conforme já foi levantado por Oliveira e Pereira (2014).

Figura 8 – Área de corte e armazenagem de ferragens.

4.3 Instalações elétricas e hidrossanitárias nos radiers e paredes

As mangueiras condutoras são previamente cortadas e montadas nas caixas que recebem uma proteção com vedação de fita crepe para evitar entupimentos. Essa operação é realizada em local separado para facilitar sua instalação nas malhas de aço das casas e reduzir seu tempo de ciclo. As peças necessárias para a realização das instalações hidrossanitárias são montadas em separado com medidas padrão para facilitar sua instalação nos radiers e paredes. Os dias de chuva são aproveitados pelas equipes responsáveis pela instalação elétrica e hidrossanitária para realizar a montagem dos kits para cada casa. Dessa forma, sua execução fica mais eficiente e reduz-se o desperdício de material. Esses serviços são de fundamental importância, pois eles representam gargalos dos processos e sua eliminação traduz o princípio da redução do tempo de ciclo, conforme já foi indicado por Souza (2013).

4.4 Distribuição dos palets de telhas no local de sua aplicação

Os palets das telhas, conforme a figura 9, são dispostos previamente em frente das casas nas quais os serviços será executado, diminuindo-se o tempo com o transporte e reduzindo-se a quebra de material. Em canteiros de obras anteriores as telhas eram entregues em cargas únicas sem a utilização de palets e estocadas em montes perto do almoxarifado. Esse procedimento gerava gargalos uma vez que era necessário o seu transporte até o local do serviço, com o uso do trator. Como essa mesma máquina era destinada também a outras atividades que, constantemente eram interrompidas para fazer o transporte das telhas, acabava por interromper outros serviços que estavam sendo realizados. O uso deste sistema diminuiu muito o tempo de execução e a perda por quebra.

4.5 Placas dos forros de PVC previamente cortadas

As placas dos forros de PVC são fornecidas pelo fabricante em tamanhos padronizados e previamente dimensionados para cada cômodo da casa, reduzindo, assim, os desperdícios com cortes e com o tempo para sua realização. Em obras anteriores, as placas de PVC do forro eram fornecidas em tamanho único, ocasionando à perda de material devido aos cortes realizados em diferentes dimensões. Também havia o desperdício de tempo com a aferição das medidas e com o corte das placas. Com essa iniciativa as perdas de materiais foram reduzidas e tempo de execução do serviço diminuído. Dessa forma, identifica-se o princípio da simplificação pela minimização do número de passos e partes, assim como a redução da variabilidade que também já foi indicado por Oyama e Mota (2010) e Kurek (2013).

Figura 9 - Distribuição dos palets de telhas para serem aplicadas.

4.6 Instalações elétricas do forro pelo método do chicote

Primeiramente é criado um projeto paralelo ao projeto elétrico das unidades habitacionais, com exatamente as medidas reais lineares de cada eletroduto in loco, sendo que este projeto é limitado, não pelas paredes da unidade padrão, mas sim pelas bordas da bancada onde será instalado. Finalizado o projeto da bancada, inicia-se o processo de quantificação dos materiais que serão empregados para a montagem do chicote. Após, inicia-se o processo de treinamento das pessoas envolvidas na produção e instalação do chicote

A bancada de montagem, conforme figura 10, é construída em um local protegido dos fenômenos meteorológicos para manter a continuidade do processo, mesmo em dias de chuva. Deve estar também localizada próximo ao almoxarifado para que os materiais necessários para a rede de cada unidade sejam de fácil acesso.

Figura 10 – Bancada de montagem do chicote

Para reduzir o tempo de transporte do material e deslocamentos no canteiro de obras, o material é solicitado durante as reuniões semanais e o kanban entregue ao responsável que realiza a retirada do material referente as casas que serão produzidas. Durante os três primeiros dias da semana são produzidas as unidades a serem instaladas no prazo pré-estabelecido.

Esse método reduz o tempo de produção e organiza os processos de maneira contínua, pois cada chicote produzido é entregue aos montadores que se deslocam com o chicote para o lote definido para sua instalação final. A seguir é realizada a inspeção dos engenheiros para endosso doserviço concluído.

Os resíduos e sobras de cortes de eletrodutos e fios, ao invés de serem destinados aos entulhos da obra, são separados e classificados para futuros reparos e novas instalações, reduzindo assim os desperdícios em até 16% com materiais.

Na bancada são fixadas as caixas de passagem e os eletrodutos conforme o projeto pré-estabelecido. Após a conferência da conformidade com o projeto, inicia-se a passagem dos fios, destinando-se as esperas necessárias para ligação da rede do forro com a rede das paredes que foi instalada antes da concretagem. A figura 11 mostra os fios na caixa de passagem sobre a bancada de montagem do chicote.

Figura 11 - Detalhe de caixa 4x4 com fios passados na bancada do chicote.

Após a produção e o transporte do chicote para o lote onde será usado, os responsáveis pela instalação iniciam o processo de montagem e interligação dos eletrodutos das paredes com os do chicote e elevam a estrutura que, diferente do processo convencional, ocorre de maneira mais rápida, acelerando o processo de produção como mostra a figura 12.

Esses profissionais produzem até quatro casas em uma só jornada de trabalho, demonstrando a rapidez do processo, visto que em uma semana pode-se produzir oito chicotes na linha de produção nos primeiros dois dias de montagem e nos outros dois dias dá-se a finalização do processo de instalação nas unidades habitacionais. Restando, portanto, um dia para reparos e ou continuidade do processo de produção.

Figura 12 – Instalação do chicote no forro

É possível observar na figura 13, um desperdício excessivo de conduítes e fios. Com a fixação do forro posteriormente, as caixas octogonais que são suporte para os pontos luminosos, serão elevadas, fazendo com que todo o material excedido fique escondido no forro. Esse problema ocorria devido ao fato de que os instaladores muitas vezes não utilizavam escadas, trabalhando no nível do piso e tendo que alongar as passagens de conduítesaté o alcance das mãos.

Figura 13 – Instalação de forro finalizada pelo método convencional

O processo final de instalação é mostrado na figura 14. Os conduítes não apresentam medidas excedidas ou sobras. As caixas octogonais fixadas provisoriamente nas tesouras do telhado facilitam a montagem do forro de gesso.

Figura 14 - Instalação de forro finalizada sem desperdícios, aguardando instalação de gesso

A produção em série do chicote representa o princípio da racionalização do trabalho, redução da variabilidade e diminuição de desperdícios e requer um treinamento adequado para executar o método.

Nas obras analisadas no estudo estão sendo aplicadas práticas lean de produção, que buscam diretamente o aumento da produtividade. Essas ferramentas estão apoiadas na gestão do controle da qualidade, como forma de atingir a redução de retrabalhos e de desperdícios.

5. Conclusão

O cenário da construção civil no Brasil cada vem mais competitivo aliada a uma retração no crescimento da economia mundial, acarreta cortes no orçamento da União e elevação das taxas de juros do país. Nesse contexto, fica evidenciada a necessidade de ajustamento nas empresas de construção civil com o objetivo de diminuição de custos e aumento de sua produtividade. Se em outros tempos empresas mal administradas e obras mal geridas tinha resultados satisfatórios, atualmente obras bem geridas e enxutas são obrigações de seus administradores.

Assim, fica evidenciada a necessidade de aprimoramento das técnicas administrativas gerenciais aplicadas pelos engenheiros em canteiros de obras e a busca por melhor qualificação torna-se um compromisso.

Esse trabalho teve por objetivo a identificação e apresentação de práticas lean que são utilizadas em uma obra de um condomínio horizontal de interesse social em Santa Maria – RS. Ficou demonstrado que medidas simples de aplicação da filosofia lean que contemplam reorganização e planejamento podem levar a diminuição de perdas e ganhos de produtividade.

Logo, de uma maneira geral, pode-se concluir que a empresa responsável pelo canteiro de obras estudado, possui um considerável nível de envolvimento com a filosofia lean. Dessa forma, a busca do aumento de produtividade e redução de perdas representa um passo importante para a redução de custos e melhoria do gerenciamento. Também é importante ressaltar que a aplicação da filosofia lean permeia a sua compreensão nas diversas áreas da empresa como o projeto, planejamento, suprimento além do gerenciamento. Assim, o comprometimento pela busca de melhorias deve envolver desde a direção até os operários, que são os responsáveis pela materialização do valor ao produto.

Esse estudo de caso aponta uma mudança de tradição e comportamento, pois a adoção da filosofia lean em obras de habitação popular em série, rompe uma barreira na medida que demonstra que ações como a busca pela melhoria contínua pode representar ganhos para as empresas que executam esse tipo de obra.

6.  Referências Bibliográficas

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1. Professora Doutora do Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Maria – RS e-mail: profjanis@gmail.com
2. Engenheiro Civil pela Universidade Federal de Santa Maria e-mail: diogo@construtoraredom.com
3. Engenheiro Civil pela Universidade Federal de Santa Maria e-mail: ricardomaedge@outlook.com
4. Arquiteto e aluno especial do Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Maria email: andreirsiluk@gmail.com
5. Arquiteta, Mestre em Engenharia Civil e Professora do curso de arquitetura da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e Missões – Santiago – RS e-mail: angelapgpisani@gmail.com


 

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