Espacios. Vol. 35 (Nº 3) Año 2014. Pág. 7 |
Perspectivas de vida e o ensino-aprendizagem dos jovens de escola públicaLife perspectives and the teaching-learning to the youth of a public schoolMaria Marilei Soistak CHRISTO 1; Luis Mauricio Martins de RESENDE 2; Marta Burda SCHASTAI 3; Nilcéia Aparecida Maciel PINHEIRO 4 Recibido: 10/01/14 • Aprobado: 16/02/14 |
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1. IntroduçãoEm meio a tantas possibilidades e perspectivas de mudanças de aprendizagem, Demo (1993, p.311) avança na questão da necessidade de a escola buscar novas perspectivas de vida aos alunos da escola pública por meio de temas trabalhados durante seu processo de escolarização. Demo incentiva a busca dos sonhos e objetivos pessoais pelo aluno, ao ser tratado com respeito e dignidade indiferente à sua classe social quando diz que: sobre a escola atual impõe-se inúmeros desafios, entre eles o de aprender a aprender, que, para além do mero ensinar e aprender funda-se na construção auto-suficiente do sujeito social competente, com base no conhecimento atualizado (DEMO, 1993, p. 311). Nesse contexto, a escola assume um novo papel na formação do novo cidadão e se transforma em um local onde o saber deixa de ser construído pelo aluno para ser construído por todos. O educador é aquele que cria e trabalha com o objetivo principal da aprendizagem dos seus educandos, apesar de todas as dificuldades encontradas diante do despropósito com a educação. Giroux (1997, p.162) contribui nessa ideia ao defender os professores como intelectuais transformadores, e acrescenta: Um ponto de partida para interrogar-se a função social dos professores enquanto intelectuais é ver as escolas como locais econômicos, culturais e sociais que estão inextrinsicamente atrelados às questões de poder e controle. Isto significa que as escolas fazem mais do que repassar de maneira objetiva um conjunto comum de valores e conhecimento. Pelo contrário, as escolas são lugares que representam formas de conhecimento, práticas de linguagem, relações e valores sociais que são seleções e exclusões particulares da cultura mais ampla. Como tal, as escolas servem para introduzir e legitimar formas particulares de vida social. Assim, percebe-se que o discurso educacional tem priorizado e valorizado possibilidades diferenciadas de acolher as transformações sociais e culturais do cotidiano escolar. Os educadores têm, portanto, oportunidades especiais de estabelecer, juntamente com a comunidade, inúmeras propostas para a vivência educacional, ações que possam buscar novas perspectivas e possibilidades de transformação humana. No passado, os sistemas educacionais fragmentaram o conhecimento e por consequência, o desenvolvimento da personalidade dos alunos também foi fragmentada. Atualmente, ainda há resquícios de fragmentação nas escolas. Devido a isso, houve uma inibição da criatividade, do aprender a fazer, ser e conhecer. Portanto faz-se necessário criar novos saberes significativos. No entanto, o que ocorre, por dificuldades e limitações por parte da instituição escolar e dos docentes, é que esses muitas vezes desenvolvem seu trabalho sem reflexão, afetividade, “olho no olho”, intuição, criatividade e sem deixar que o amor seja a melhor qualidade das relações escolares. A escolha deste tema: incentivo à busca de perspectiva de vida pelos jovens atuais, amparada pelo sonho individual de cada um com o auxílio e apoio da escola pública representa uma forma de analisar o contexto do futuro e sucesso pessoal dos alunos, não se limitando apenas ao ambiente escolar mediante as novas perspectivas que a modernidade exige, mas também outros que propiciem a aprendizagem, além de seu desenvolvimento social e pessoal. Ocorrerá naturalmente um crescimento coletivo ao se pensar uma educação onde estejam presentes novos olhares e pensamentos sobre pessoas, relações humanas, aprendizagem significativa, valores humanos, solidariedade e sociedade global, demonstrando que boa vontade e um trabalho sério fazem com que os alunos melhorem e adquiram objetivos pessoais e significativos. O conhecimento nasce da busca da realização de sonhos, onde os individuais são influenciados pelos coletivos e vice-versa. O presente artigo visa apresentar o sucesso adquirido por uma escola pública, a partir de incentivos variados no desenvolvimento educacional de seus alunos, procurando demonstrar caminhos para que o aluno da classe média-baixa sinta-se motivado e lute por perspectivas de uma vida melhor a partir de seu estudo e se sinta um ser humano capaz de vencer com seus próprios esforços. Busca-se também servir como valorização do trabalho voluntário do professor, que ao buscar estratégias com o próprio aluno, está colaborando também para a cidadania. 2. A educação como papel fundamental na formação dos jovens na sociedade atualÀ primeira vista, seria falta de bom senso e de conhecimento discutir isoladamente sobre os jovens que estão em formação atualmente em meio a todas as modificações educacionais que vêm se acentuando no cotidiano. Evidencia-se nos dias de hoje não só a exclusão social, mas também se reconhece a fragmentação e destruição das ações coletivas, de setores mais organizados da sociedade brasileira, como a família, a igreja e a escola. Ainda há dificuldades específicas em relação à convivência com este novo jovem, pois as discrepâncias sociais, e a violência urbana mais especificamente, aumentam a cada dia entre o ambiente juvenil, sendo considerada um dos principais agravantes sociais. Por outro lado, como coloca Lasch (1983), os segmentos juvenis têm sido caracterizados, nas últimas décadas, pelo aumento visível de atitudes individualistas, pelo desinteresse nas relações com a esfera pública e pela política, pois não se sentem interessados por saber do seu próprio território. Na maioria dos casos vivem em sérios problemas familiares, aos quais não encontram soluções visíveis para sua própria transformação social; portanto os jovens estariam formando uma sociedade que se volta a si mesmos com interesses puramente individualistas. Mais do que fatores conjunturais adversos que ocorrem eventualmente entre os jovens, algumas das alterações incidem sobre o aparecimento de fenômenos coletivos marcados pela violência, que surgem de acordo com a realidade social de cada jovem e pelo crescimento do racismo em sociedades desenvolvidas. Sempre que ocorrem tragédias propositais ocasionadas por jovens que depois se autoanulam (VIRGINIA TECE, 2007; COLUMBINE HIGH SCHOOL, 1999; CARECAS DO ABC, São Paulo) pessoas conscientes buscam fazer algo para que situações de violência como essa não volte a acontecer. A primeira ação considerada importante por estas pessoas conscientes é pensar uma mudança na atitude educativa com as crianças e jovens, enfocando o desenvolvimento das qualidades humanas. Massi e Giacóia (1998, p. 357) citam a Educação como um processo essencialmente humano, pois a espécie humana é a única que dela carece: Formar o homem e elevá-lo à consciência da própria dignidade: eis a meta suprema de educação. Ela deve tornar plenamente inteligível a lei universal sob a qual unicamente se pode realizar a ideia de humanidade compreendida como sociedade política organizada por seres racionais, considerados cada um por si e todos em conjunto como sujeitos morais, cujo valor reside na inalienável dignidade de cada um. Esse enfoque na educação das novas gerações objetiva formar cidadãos com melhor saúde mental e emocional para que cheguem a ter atitudes mais equilibradas, com respeito dos limites aprendidos com seus pais e educadores e, em especial, que saibam enfrentar as frustrações naturais da vida, sem agressividade, sem desejo de matar os que estiverem em seu caminho e sem responsabilizar seus problemas em outras pessoas, assumindo sua vida com responsabilidade e dignidade. A gritante realidade mostra que a sociedade como um todo precisa repensar a educação que os jovens estão recebendo e como estão formando sua personalidade “SE” deseja formar pessoas mais responsáveis que saibam seus direitos, mas também seus deveres. Crianças e jovens que cresçam mais equilibrados emocionalmente, saibam tolerar frustrações e tenham sempre em mente o sonho e a perspectiva de um futuro melhor. 3. Os jovens como sujeitos inseridos no meio socialNa maioria das vezes, a noção de sujeito social é tomada com um sentido em si mesma, sem a preocupação de defini-la, como se todos compreendessem da mesma forma o seu significado. Outras vezes é considerada como sinônimo de indivíduo, ou mesmo de ser ativo da sociedade. Para alguns autores, como Melucci e Fabbrini (1992) falar em “sujeito” implica uma condição que se alcança, definindo-se alguns pré-requisitos para tal; para outros, como Heidegger (1979) é uma condição ontológica, própria do ser humano. Neste momento não se busca discutir a construção do conceito, mas sim assumir determinada posição. Para referenciar esta análise, considera-se a definição de Charlot (2000, p. 33 e 51), para quem “o sujeito é um ser humano aberto a um mundo que possui uma historicidade; é portador de desejos, e é movido por eles, além de estar em relação com outros seres humanos, eles também sujeitos. Ao mesmo tempo, o sujeito é um ser social, com uma determinada origem familiar, que ocupa um determinado lugar social e se encontra inserido em relações sociais”. Pode-se afirmar, a partir da definição de Charlot (2000), que o sujeito é um ser singular, que interpreta o mundo e dá-lhe sentido, assim como se preocupa com a posição que ocupa nele, aos seus relacionamentos na sociedade, à sua própria história e à sua singularidade. Para o autor, o sujeito é ativo, age no mundo e sobre o mundo, e nessa ação se produz e, ao mesmo tempo, é produzido no conjunto das relações sociais no qual se insere. Charlot (2000) relaciona a ideia de sujeito às características que definem a própria condição antropológica que constitui o homem. Em outras palavras, o ser que é igual a todos como espécie, igual a alguns como parte de um determinado grupo social e diferente de todos como um ser singular. Nessa perspectiva, o ser humano não é um dado, mas uma construção. A condição humana é vista como um processo, um constante tornar-se por si mesmo, no qual o ser se constitui como sujeito à medida que se constitui como humano, com o desenvolvimento das potencialidades, que o caracteriza como espécie. Charlot (2000) lembra ainda que a essência originária do ser humano não está dentro dele mesmo, mas sim fora, em uma posição excêntrica, no mundo que estabelece com as relações sociais. Preocupa-se então com a outra face da condição humana a ser desenvolvida: a sua natureza social. Afirmar que a essência humana é antes de tudo social é o mesmo que dizer que o homem se constitui na relação com o outro. Simultaneamente, a alteridade, vista nessa perspectiva, mostra que o ser humano está no limite entre a natureza e a cultura: a dimensão social e biológica influenciam-se mutuamente no desempenho e construção humana. A possibilidade de o ser humano se constituir como tal depende tanto da qualidade das trocas que se dão entre os indivíduos inseridos num meio social onde está inserido, quanto ao desenvolvimento biológico, em especial do sistema nervoso. O homem se constitui como ser biológico, social e cultural, dimensões totalmente interligadas, que se desenvolvem com base nas relações que estabelece com o outro, no meio social concreto em que se insere. Pode-se concluir que o pleno desenvolvimento ou não das potencialidades que caracterizam o ser humano vai depender da qualidade das relações sociais desse meio no qual se insere. Assim, concorda-se com Charlot (2000), quando afirma que todo ser humano é sujeito. Entretanto não se pode esquecer que existem várias maneiras de se construir como sujeito, e uma delas se refere aos contextos de desumanização, nos quais o ser humano é “proibido de ser”, privado de desenvolver as suas potencialidades, de viver plenamente a sua condição humana, como foi possível constatar em grande parte dos jovens que participam das atividades extraclasses desenvolvidas na escola pesquisada. Não é que eles não se construam como sujeitos, ou o sejam pela metade, mas sim que eles se constroem como tais na especificidade dos recursos de que dispõem. É essa realidade que leva a questionar se esses alunos não estariam mostrando um jeito próprio de viver, a partir de sua própria realidade. Quando cada um desses jovens nasceu, a sociedade já tinha uma existência prévia, histórica, cuja estrutura não dependeu desse sujeito, portanto, não foi produzida por ele e talvez não tenha muito significado, conforme o que se tem presenciado na maioria das escolas de comunidades comprometidas familiarmente. Assim, o fato de terem como pais, trabalhadores desqualificados, grande parte deles com pouca escolaridade, entre outros aspectos relevantes em sua formação pessoal, são dimensões que vão interferir na produção de cada um deles como sujeito social, independentemente da ação de cada um. E é este nível do grupo social, no qual os indivíduos estão inseridos e como eles interpretam as relações e contradições, entre si e com a sociedade, que produz uma cultura própria. A preocupação com esses jovens, a busca por oportunidades que possam a vir contribuir com eles e a aparente vontade apresentada por estes em vencer quando acreditam em si mesmos e criam seus próprios objetivos e sonhos é que fazem com que os profissionais não desistam e que busquem sempre resgatar novos jovens. Como diz Dantas (1990), citado por Resende (2004), “não basta ensinar ao homem uma especialidade, porque se tornará assim uma máquina utilizável, mas não uma personalidade. É necessário que adquira um sentimento, um senso prático daquilo que vale a pena ser empreendido, daquilo que é belo, do que é moralmente correto.” O contato com os jovens deixa muito claro o aparente óbvio: eles são seres humanos, amam, sofrem, divertem-se, pensam a respeito de suas condições e de suas experiências de vida, posicionam-se, possuem desejos e propostas de melhoria de vida. A literatura de Alarcão (1998), Bracht (1997), Demo (1993/ 2000), Farinatti (1995) e Molina Neto (1996) dá amostras que é nesse processo que cada um deles vai se construindo e sendo construído como sujeito: um ser singular que se apropria do social, transformado em representações, aspirações e práticas, que interpreta e dá sentido ao seu mundo e às relações que mantém. É necessário que surjam novos facilitadores deste processo no ambiente escolar e social, onde os mesmos sintam que “podem mais” do que aquilo a que estão predestinados. 4. Incentivo na Escola Pública: criando oportunidades para o futuro nos dias atuaisPartindo do pressuposto de que a escola deve desenvolver um ambiente onde alunos desenvolvam suas potencialidades visando seu aprimoramento como seres humanos, o aluno deve ser considerado em todas as suas dimensões. Alarcão (1998) complementa que é fundamental que os profissionais reflitam sobre os problemas vividos na escola e se organizem para encontrar propostas de ação. Nesse processo dialético, segundo o autor, os referentes teóricos são mobilizados para a compreensão da realidade e, consequentemente para a intervenção na mesma, sendo que aquela se transforma em fonte de produção de novos saberes. A atividade escolar deve garantir o acesso dos alunos às práticas da cultura corporal e de desenvolvimento cognitivo, contribuir para a construção de um estilo pessoal de praticá-los, e oferecer instrumentos para que sejam capazes de apreciá-los criticamente. A atividade mental e cognitiva deve garantir o conhecimento necessário à sua vida para obter um futuro de qualidade e perspectivas positivas de melhorias. Duarte (2001, p. 37) cita quatro posicionamentos valorativos em seu texto sobre aprender a aprender sendo pertinente neste caso citar o quarto onde ele coloca que: a educação deve preparar os indivíduos para acompanharem a sociedade em acelerado processo de mudança, ou seja, enquanto a educação tradicional seria resultante de sociedades estáticas(...)a nova educação deve pautar-se no fato de que vivemos em uma sociedade dinâmica. O autor apresenta a ideia de que o conhecimento adquirido hoje como verdadeiro pode ser superado em poucos anos ou meses, apresentando a necessidade de o ser humano aprender a buscar seus próprios objetivos, conhecimentos e atualizações. É fundamental organizar a escola como um espaço vivo, onde a cidadania possa ser exercida a cada momento e, desse modo, seja aprendida, fazendo com que os jovens se apropriem do espaço e reforcem os laços de identificação com a escola. Quando alunos percebem a escola atenta às suas necessidades, a seus problemas, a suas preocupações, desenvolvem autoconfiança em si e nos outros, ampliando as possibilidades de um melhor desempenho escolar. Ao possibilitar a oportunidade do aluno estar presente em contraturno, a escola conquista importante espaço educativo para a construção de valores e atitudes solidárias, além de valorizar aos olhos dos alunos e de sua família. Sabe-se que a educação, enquanto busca formar cidadãos críticos, responsáveis e preparados para o mundo atual, precisa progredir e buscar explicações e causas para problemas homogêneos apresentados pelas crianças a fim de encontrar a melhor forma de trabalhá-los, compreender suas dificuldades e incentivar a mudança da visão retrógrada e negativista que se mantém da escola. Foi partindo deste pressuposto, pensando na educação integral dos educandos e sabendo do potencial dos mesmos e o interesse que os adolescentes têm pelo esporte que foi estruturado e iniciado o Projeto de Atletismo no Colégio Estadual Professora Linda Salamuni Bacila, Ensino Fundamental e Médio da cidade de Ponta Grossa-PR, pois como afirma Farinatti (1995, p.44) “a prática físico-desportiva proporciona à criança muitas oportunidades de contato social, na medida de seu amadurecimento psíquico.”. Ao iniciar-se o Projeto havia a intenção de trazer os alunos para a escola em contraturno, tirando-os da rua, criando responsabilidades, pois os mesmos desenvolveriam comprometimento com os treinos e estudos e nas participações em competições. O projeto iniciou timidamente em 2001, sendo a cada ano ampliado; o mesmo consistia de treinos diários com a participação de todos os alunos interessados em participar. Com o auxílio de professores de educação física e voluntários, o mesmo começou a princípio apenas com corridas no campo de terra e arredores da escola, arremessos de pesos improvisados e lanças feitas com materiais recicláveis, conforme se verifica na figura 1 5. FIGURA 1: Corrida nos arredores do Colégio O interesse entre os alunos para o Projeto de Atletismo começou a aumentar com o passar do tempo e conforme o relato de uma aluna percebe-se a importância do projeto aos alunos:
De acordo com Assis (2005, p. 22),
A partir do projeto e desta transformação do cotidiano, os alunos começaram a obter melhores resultados na escola e os pais a incentivar a participação dos mesmos, a princípio, apenas para que as crianças não ficassem nas ruas e até mesmo por saberem por outros pais das melhorias do filho (a) na escola. Esta situação começou a se alterar e ampliar quando os alunos passaram a competir tanto a nível municipal, estadual, nacional e até mesmo internacional. O interesse aumentou a partir do incentivo de uma empresa da região que iniciou a fase de patrocínio no projeto, colaborando em despesas de viagens, uniformes, materiais e até adotando alguns atletas como funcionários. Na figura 2 pode-se ver um agradecimento dos alunos e professores a estes patrocinadores, pois segundo o relato de um dos professores: Sem o patrocínio e auxílio das empresas colaboradoras não seria possível realizar este projeto, pois por mais que não tenhamos gastos com os treinos, pois improvisamos tudo, para viagens, competições e mesmo camisetas, precisamos do auxílio dos patrocinadores.(PROFESSOR 1).
FIGURA 2: Agradecimento dos alunos aos patrocinadores De acordo com Junior, Costa e D’Angelo (2008, p. 25), “diante das dificuldades e dos desafios de desenvolver o esporte educacional em um país de diversidades como o Brasil, deve-se adotar a postura de que não nascemos prontos e estamos sempre aprendendo”. Isso faz acreditar que a aprendizagem também surge nos momentos em que é preciso perseverança para continuar. Com o passar do tempo foram sendo acrescentados treinos de diversas outras categorias como salto com vara, salto a distância e corrida com barreiras. Envolve em torno de 100 (cem) alunos que treinam diariamente no contraturno e pós-turno, sendo que ainda encontram-se dificuldades quanto aos materiais e pistas para os treinos. Os materiais são confeccionados usando-se sucatas e as pistas são compostas pelo fundo do colégio e as ruas próximas. Torna-se gratificante observar a “garra” dos atletas e as melhorias como um todo, seja intelectualmente como no trato consigo mesmo e com os outros. Na figura 3 observa-se a corrida com barreiras, sendo treinado na quadra do Colégio. FIGURA 3: Corrida com barreiras na quadra do Colégio Em conversa com os alunos, observa-se na fala deles que o esporte traz a perspectiva de oportunidades, conforme podemos observar no comentário abaixo:
Através do Projeto de Atletismo, o Colégio ganhou a parceria com outras Empresas, que além do apoio com verbas para as competições (gastos de transporte e outros) e outras necessidades da escola, incentivam o esporte como prática de vivência e melhoria humana. O compromisso dos alunos com as empresas patrocinadoras é a dedicação aos treinos e aos estudos. A cada ano, novas revelações esportivas são descobertas, aumentando assim a equipe, que já se tornou conhecida e respeitada em todas as competições que participa. Tem conquistado troféus e medalhas, seja na própria cidade ou em outras. Com isso, os atletas têm a oportunidade de conhecer e conviver com outras realidades, que se não fosse pela sua participação no Projeto de Atletismo, dificilmente a teria por pertencerem a uma classe social baixa. Na figura 4 observa-se a satisfação dos alunos, também com seus professores, com as medalhas e troféus de uma das competições. FIGURA 4: Alunos e professores com troféus e medalhas de competições Conforme o aluno 3, competir é uma das etapas do processo:
Há resultados comprobatórios destas atividades sendo desenvolvidas em ambiente escolar comprometido com a baixa autoestima. Portanto, pode-se observar que projetos seguidos com disciplina e regularidade podem formar cidadãos para um futuro melhor, os quais buscarão melhorias em sua vida pessoal confiando que poderão vencer, assim como venceram no esporte e na sua vida pessoal por meio do estudo disciplinado. Os projetos sociais devem ser desenvolvidos com o comprometimento de profissionais que, mesmo sem receber financeiramente por estas atividades extracurriculares, tenham persistência em suas atitudes e vontade em transformar a educação dos alunos, voltando-se para os fatores da sociedade. Os autores Junior, Costa e D’Angelo (2008, p. 25) contribuem ao considerar que “em um espaço coletivo, o professor pode sair do isolamento da ‘quadra’ e compartilhar formas de enfrentamento de questões comuns e do interesse de todos”. Sabe-se a importância que o ser humano dá às palavras de incentivo. Com os alunos não é diferente. Eles agem por estímulo e resposta e aí se faz extremamente importante o bom relacionamento com professores e equipe pedagógica. A partir do momento que se sentem valorizados eles vão se interessar pelas sugestões que a escola lhes apresenta. Observa-se isso no cotidiano escolar com frequência. Ainda de acordo com Junior, Costa e D’Angelo (2008, p. 24), A presença do professor no contexto de ensino e aprendizagem é o que diferencia o espaço do esporte de outros espaços assistemáticos, como a rua, o clube, a praça, a quadra da comunidade ou o caminho do bairro. A figura do professor está atrelada a uma intencionalidade e sistematização em busca de atingir objetivos de aprendizagem e mudança de comportamento dos aprendizes. Pensando nisso é que se pode afirmar que a escola e o professor são muito importantes para a formação do aluno, pois é lá que o aluno busca a aprendizagem. 5. Sucesso educacional com incentivo dos professores e equipe pedagógicaA partir da inclusão de diversos alunos no projeto, verificou-se sucesso em outros desafios também como concursos de redações, olimpíadas matemáticas, Projeto FERA (desenvolvimento de atividades criativas) desenvolvido pela SEED (Secretaria Estadual de Educação), surgimento de novas lideranças juvenis, colaboração mútua, entre outros. Kunz, in Assis (2005, p. 118) apresenta como preocupação central saber sob quais condições e de que forma o esporte deve e pode ser praticado na escola. O autor elege como prioridade: O desenvolvimento da competência comunicativa como a prioridade da ação educativa, ao lado de outras competências assim nomeadas: competência objetiva e competência social. A educação emancipatória tem como papel libertar o aluno das condições que limitam o uso da razão crítica e com isto todo o seu agir social, cultural e esportivo. Como exemplo de educação emancipatória cita-se uma das alunas que avançou muito em sua aprendizagem ao ser incentivada a participar do projeto e também ao sentir confiança no ambiente estudantil em que se encontrava. A mesma passou a ser uma das melhores alunas da turma, e ao participar de um concurso de redação nacional em 2005 (quando estava no 1ºano do Ensino Médio) promovido pelo CNPq, foi contemplada com uma bolsa de estudos entregue em Brasília. O fato a fez ler e estudar mais, sendo uma das aprovadas no Vestibular 2008 em 1ºLugar Ciências Biológicas-Vespertino. FIGURA 5: Aluna vencedora de Concurso de Redação O Colégio obteve em 2007 o melhor resultado no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) das Escolas Públicas de Ponta Grossa, com alunos que tiveram sua caminhada escolar na escola desde o 6° ano do Ensino Fundamental, comprovando a eficácia do Projeto e da importância do incentivo e valorização ao jovem. Serviu de incentivo ao trabalho realizado por toda a equipe do Colégio a fim de incentivar os alunos em seus estudos, vencendo-os pela insistência para os mesmos se superarem a cada desafio. Frequentemente cita-se outra aluna como exemplo, que é motivo de orgulho e incentivo aos alunos que vêem numa menina simples a dedicação e empenho nos treinamentos, com os quais têm conseguido muitas conquistas. Entre elas citamos a de 2004, quando foi Campeã Sul Americana nos 400 metros com barreiras na cidade de Guaiaquil (Equador) e em 2005 representou o Brasil no Atletismo na categoria menor em Marrocos. Wanessa Zavolski atualmente encontra-se treinando no Centro de Treinamentos de Uberlândia, Minas Gerais, pois foi selecionada pela CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo). FIGURA 6: Wanessa Zavolski: uma descoberta para o Atletismo Muitos alunos são referências para o Projeto de Atletismo e outros são descobertos dentro do mesmo a cada ano, os quais estão conquistando seus espaços e deixando seus nomes marcados na história de nossa cidade. Alguns alunos atletas que já concluíram o Ensino Médio no Colégio estão realizando o curso superior de Educação Física, Nutrição, e outros, mas continuam participando do projeto, isto é, treinando e colaborando nos treinamentos dos novos pupilos. Para exemplificar, no 2° semestre de 2007 obteve-se a aprovação de nove alunos do Ensino Médio no vestibular da Universidade Estadual de Ponta Grossa, dois ingressaram na UTFPR, Câmpus Ponta Grossa, além de outros que conseguiram se classificar bem pelo PROUNI, em virtude de suas boas notas no ENEM. A partir de todas as situações citadas, percebe-se a importância do incentivo e da valorização do aluno enquanto ser humano para que ele se torne cada vez mais responsável, crítico, criativo e inteligente para suprir as necessidades do mundo atual, buscando um futuro melhor com vontade própria a partir do incentivo que recebe da instituição escolar. Dessa forma, pretende-se buscar, além de educação formal, a educação informal para que os alunos percebam o mundo ao seu redor e não se satisfaçam com a sua realidade atual, que tenham perspectiva de vida futura. Objetiva-se que eles sejam mais e almejem o conhecimento como algo necessário para suas vidas e não que venham para escola apenas porque se sentem obrigados. A sociedade atual precisa de jovens inteligentes que transponham a sua realidade limitada e saibam agir por conta própria, assim como os jovens precisam da educação para serem melhores no que pretendem fazer em seu futuro. É um paradoxo que precisa ser entendido, revelado e conscientizado pelos jovens da atualidade. 6. Considerações FinaisPartindo do texto apresentado no decorrer do artigo, percebe-se que houve sucesso na iniciativa e que o Projeto de Atletismo vem dando frutos positivos, seja pedagógico, social e esportivamente, tanto na melhoria dos educandos em sala de aula, quanto às participações dos atletas em competições a nível estadual, nacional e internacional, principalmente com o resgate da autoestima dos mesmos. Dessa forma incentiva os alunos a saírem de sua realidade e dominarem o rumo de sua própria vida. Resende (2004) define a capacidade de projetar um futuro como uma variação do acreditar no próprio tempo, de fazer frente e de fazer parte dele. Tanto o adulto, quanto o jovem ou criança necessitam de ideias e representações que os façam se localizar e transitar entre o momento presente, fortemente marcado por fortes instabilidades e pela falência dos modelos, rumo ao que desejem construir. Conclui-se ainda, que, por mais simples que seja uma ideia, uma iniciativa, vale a pena “ousar” e ir em frente. A sociedade precisa de pessoas que façam a diferença, pessoas que fujam do conformismo, pessoas que queiram mudar a realidade na qual se encontram inseridas. ReferênciasALARCÃO, Isabel. Formação continuada como instrumento de profissionalização docente. In: Veiga, Ilma Passos A. (Org.). Caminhos da profissionalização do magistério. São Paulo: Papirus, 1998. P. 99 – 122. ASSIS, Sávio. Reinventando o esporte: Possibilidades da prática pedagógica. São Paulo: Campinas, 2005. BRACHT, Valter. Educação Física e Aprendizagem social. 2ª ed. Porto Alegre: Magister, 1997. CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. 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1 Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Brasil, msoistak@utfpr.edu.br
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