Espacios. Vol. 34 (11) 2013. Pág .9


O d-USPLeste – Laboratório de Design, Inovação e Criatividade – como programa para integrar universidade e comunidade na busca de soluções inovadoras para suas demandas

d-USPLeste – Design, Innovation and Creativity Laboratory – as a program to integrate university and community in seeking innovative solutions to their demands

Maria Luisa Trindade BESTETTI 1 y Tânia Pereira CHRISTOPOULOS 2

Recibido: 18-08-2013 - Aprobado: 10-10-2013


Contenido

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RESUMO:
Este artigo descreve a proposta de oferecer oportunidades de expansão de experiências baseadas no Design Thinking, articulada em três módulos em diferentes níveis de complexidade, e culminando no direcionamento de discussões sobre a busca de uma linguagem brasileira na aplicação de metodologias amigáveis na interface entre a universidade e as comunidades de baixa renda, principais demandantes de soluções para a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento de negócios sociais. O Módulo I possibilitou a compreensão dos princípios que configuram a base do Design Thinking, aprofundado no Módulo II através da elaboração de protótipos em equipes multidisciplinares. O Módulo III contou com menor número de participantes em busca de discutir uma metodologia colaborativa mais adequada ao contexto brasileiro. Foi possível perceber o grande interesse que essa abordagem desperta em diferentes setores da sociedade e a transformação que podem gerar em iniciativas mais efetivas nesse sentido, demonstrado pela afluência de estudantes, professores e outros profissionais interessados que participaram dos três módulos. Concluímos que o aprofundamento sobre a terminologia e os aspectos culturais inerentes aos diversos agentes envolvidos deve continuar em pesquisas e novos experimentos, especialmente os que se estendem às comunidades demandantes dos problemas sociais.
PALAVRAS-CHAVE: Design Thinking; metodologias colaborativas; inovação.

ABSTRACT:
This article describes the proposal to offer expansion opportunities based on experiences in Design Thinking organized in three modules at different levels of complexity, and culminating in directing discussions on the search for a Brazilian language in the application of friendly methodologies interface between the university and low income communities, leading plaintiffs solutions for improving the quality of life and the development of social businesses. Module I enabled the understanding of the principles that form the basis of design thinking, depth in Module II through prototyping in multidisciplinary teams. Module III had fewer participants seeking to discuss a collaborative methodology most appropriate to the Brazilian context. It was possible to see the great interest that this approach awakens in different sectors of society and the transformation that more effective initiatives can generate in this direction, shown by the influx of students, teachers and other stakeholders who participated in the three modules. We conclude that the deepening of the terminology and cultural aspects inherent to the various stakeholders should continue in research and new experiments, especially those that extend to communities claimants of social problems.
KEYWORDS: Design Thinking; collaborative methodologies; innovation.


1. Design Thinking

Inicialmente, é necessário caracterizar o funcionamento do d-USPLeste – Laboratório de Design, Inovação e Criatividade, que está baseado em metodologias colaborativas pelo Design Thinking (Brown, 2009; Ambrose & Harris, 2010). De acordo com Meinel & Leifer (2011), trata-se de uma metodologia centrada no ser humano que integra colaboração multidisciplinar e iterativa à criação de produtos, sistemas e serviços inovadores, com foco no usuário final. É iterativa por ser um processo que se repete diversas vezes para chegar a um resultado e a cada vez gerar um resultado parcial que será usado na vez seguinte. É centrado no ser humano porque o processo de concepção de serviços inovadores, por exemplo, começa por examinar as necessidades, sonhos e comportamentos das pessoas a serem afetadas pelas soluções projetadas, ouvindo e compreendendo-as (IDEO, 2009). Trata-se de uma pedagogia de inovação e criatividade que foi inicialmente implementada na Universidade de Stanford, na Califórnia (EUA), e também em outras importantes universidades de todo o mundo, tais como o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), em Boston, ou a Universidade de Potsdam, em Berlim, Alemanha.

Pensar em inovação significa despir-se de preconceitos e permitir a imaginação. Também aprender a ouvir o outro e considerar visões diversas a partir de formações, culturas e valores que podem enriquecer os resultados coletivos. A aprendizagem de metodologias colaborativas pelo Design Thinking requer uma postura diferenciada, capacidade de interação e ousadia, seguindo princípios como os que apresentam Thomas & Brown (2011):

“A relação entre inovação e aprendizagem é sobre encontrar uma relação entre o que é familiar e o que é estranho. (...) O sucesso no século 21 não será encontrado em soluções criativas para problemas antigos. O sucesso será moldado pela imaginação daqueles que se atrevem a construir novos mundos que abraçam a mudança ao nosso redor e têm o poder para fazer o estranho, a ousadia e o familiar, revolucionários.”

É notório que o condicionamento imposto pela convivência social cria condicionamentos que limitam a criatividade nata que todas as crianças demonstram através da curiosidade. Buscando transpor esse problema há um relativo consenso entre educadores de que um dos focos mais importantes dos processos educativos no mundo contemporâneo deve ser o de preparar estudantes para pensar criativamente e tornar ideias inovadoras factíveis de serem implementadas na sociedade. Essa formação é mais condizente com os ambientes de trabalho do século XXI, que solicita profissionais com habilidade para trabalhar com problemas complexos em equipes multidisciplinares, com intuito de buscar soluções criativas e inovadoras.

O principal aspecto do HCD – Human Centered Design é a empatia, o exercício de “colocar-se no lugar do outro”, o que permite a imersão nos desafios apontados pelo problema demandado e criando laços entre todos os atores sociais envolvidos no processo. Um exemplo significativo desse exercício é a criação de uma roupa que permite sentir os efeitos da idade, chamada Agnes, desenvolvida no Massachussets Institute of Technology para possibilitar a empatia dos jovens inovadores em relação às necessidades de quem já passou dos 65 anos, como descrito por Singer (2011):

“A roupa de empatia da idade vem do M.I.T. AgeLab, onde pesquisadores projetaram Agnes para ajudar os designers de produto e marketing a entender melhor os idosos e criar produtos inovadores para eles. Muitas indústrias têm, tradicionalmente, se esquivado abertamente do marketing para as pessoas de 65 anos ou mais, vendo-os como um grupo demográfico fora de moda que pode condenar seu produto com os consumidores jovens. Mas agora que os americanos estão vivendo mais e de forma mais ativa, uma série de empresas estão reconhecendo o poder de permanência do mercado maduro.”

As equipes multidisciplinares focam no processo e não no resultado, começando pela aquisição de conhecimentos básicos sobre os usuários para entender suas necessidades através da empatia. Definido o usuário para quem uma solução está sendo projetada, geram-se tantas ideias quanto possível, selecionadas para construir protótipos reais para serem testados a partir das reações dos usuários. É assim descrito por Steinbeck (2011):

“Ao longo deste processo interativo, as equipes podem tomar conhecimentos adquiridos a partir de observações contínuas e prototipagem e, às vezes, pode reformular o problema inteiramente novo. (...) Há muitos indicadores que sugerem que a metodologia Design Thinking e o design de inovação na pedagogia, como implementado na Universidade de Stanford, podem conferir confiança criativa e competência aos estudantes, e estimular a inovação em outras disciplinas, ambientes e culturas.”

Condições ambientais adequadas devem ser consideradas para que o grupo tenha conforto e estímulo para organizar ideias, trabalhando efetivamente na direção de soluções inovadoras. A seguir descrevemos e ilustramos situações consideradas favoráveis para resultados positivos em Design Thinking.

2. Condições para um espaço adequado

Como apontada anteriormente, as metodologias colaborativas abordadas no Design Thinking se desenvolvem considerando o compartilhamento de ideias em equipes multidisciplinares, o que exige a aceitação de diferentes formações e posturas profissionais. Mais do que isso, dependem fundamentalmente da liberdade de expressão, seja oral ou gráfica, utilizando superfícies passíveis de visualização e utilização simultânea para a construção dos processos.

“A criação de ambientes que estimulam a criatividade e a colaboração tem se tornado regra nas empresas que buscam melhores resultados por meio da inovação. Arquitetos e designers agora têm aplicado esse conceito, também, em escolas e universidades ao redor do mundo.” (Freitas, 2010)

O espaço físico é um coadjuvante fundamental para o pensamento criativo e é capaz de mudar comportamentos, estreitar relacionamentos e criar laços importantes para o aperfeiçoamento das ideias. Exige alternativas de organização, de acordo com cada situação e/ou etapa do processo para o desenvolvimento do protótipo.

Fotos 1 e 2 – Espaços flexíveis encontrados no d-school, o laboratório da Stanford University.

Mais do que priorizar a tecnologia, é preciso proporcionar conforto para o bem-estar do grupo enquanto trabalha, disponibilizando espaços de expressão através de móveis flexíveis para atender as diferentes possibilidades de exposição de ideias. A racionalização dos equipamentos possibilita, ainda, o reaproveitamento constante dos espaços e a animação do lugar, pois ideias criativas de um grupo contagiam outros, despertando a discussão interdisciplinar que enriquece as informações e cria maior cumplicidade, despertando o verdadeiro espírito de equipe.

Fotos 3, 4 e 5 – O mobiliário foi estabelecido para facilitar a interação entre os participantes colaboradores.

Na EACH, o espaço físico disponibilizado inicialmente em 2011 era pequeno, mas foi importante marcar a existência do laboratório para que ele se consolidasse como um espaço onde se entrelaçam atividades de ensino, pesquisa e extensão, possibilitando a criação de novos produtos, tangíveis ou não, que podem se tornar negócios sociais significativos. Além disso, é importante mencionar que o equipamento para esse espaço foi construído com o esforço de nossos alunos, demonstrando o grande interesse que os mesmos têm pelo desenvolvimento e aplicação da metodologia na Universidade. Abaixo, é possível visualizar os quadros e móveis criados a partir do reaproveitamento de materiais reciclados.

Fotos 6, 7 e 8 – Foi usando a criatividade que o primeiro espaço foi composto.

Atualmente contamos com nova sala, ainda limitada mas com potencial para maior aproveitamento. O Núcleo de Pesquisa em Novas Arquiteturas Pedagógicas – NP NAP – ocupa uma sala de aproximadamente 28m2 no andar térreo do Ciclo Básico da EACH e está em desenvolvimento uma solução que possibilite sua montagem de acordo com os princípios do Design Thinking. O d-USPLeste – Laboratório de Design, Inovação e Criatividade é o primeiro do gênero na América Latina e deve ser compatível com a reunião entre agentes de diferentes expertises, inclusive os demandantes dos projetos.

3. O que é o d-USPLeste?

O principal objetivo do d-USPLeste – Laboratório de Design, Inovação e Criatividade é disseminar uma metodologia de inovação e de transformação de ideias em novos projetos. As ideias são trabalhadas por alunos, professores e membros da comunidade visando sua transformação em protótipos que atendam demandas da comunidade residente na Zona Leste, o que não impede que os projetos bem sucedidos sejam disseminados para outras regiões com situações semelhantes. Para o Design Thinking é primordial a interdisciplinaridade, assim como a aproximação dos membros dos grupos com os sujeitos demandantes dos desafios. Portanto, deve haver participação efetiva de pessoas da comunidade, que estarão constantemente mantendo o vínculo necessário com o público alvo. Esta se caracteriza como uma excelente oportunidade de aproximação com instituições que busquem projetos dessa natureza, interessadas em programas sociais em comunidades em situação de pobreza, podendo determinar parcerias com organizações nacionais e internacionais e, até mesmo, com programas governamentais. O Brasil, mesmo estando em 4º lugar entre os países que mais crescem, demonstra que este é o momento em que a inovação pode ser o caminho que vinculará definitivamente a universidade com as comunidades carentes.

A Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo – EACH USP, campus leste da cidade de São Paulo, tem em seu projeto pedagógico o conceito da interdisciplinaridade como característica fundamental para novas demandas do mundo do trabalho, especialmente desenvolvendo expertises que advêm da experiência de professores de diversas formações originais, possibilitando estes novos perfis profissionais. Sua proximidade física com comunidades de baixa renda residentes na Zona Leste traz, também, a importância de oferecer projetos de extensão advindos do conhecimento desenvolvido no âmbito da universidade, especialmente aqueles que possibilitem melhoria na qualidade de vida dessas pessoas. O funcionamento do d-USPLeste está baseado na abordagem Design Thinking, que tem por princípio o Human Centered Design, com soluções centradas no ser humano e suas necessidades essenciais.

O projeto experimental do d-USPLeste – Laboratório de Design, Inovação e Criatividade – foi proposto a partir da difusão do Design Thinking, através de curso trazido à EACH pelo professor visitante Reinhold Andreas Steinbeck, da Stanford University. O curso denominado Construindo competências colaborativas interdisciplinares e criatividade na resolução de problemas da sociedade — Uma introdução prática ao Design Thinking, oferecido de março a junho de 2011, possibilitou a formação de grupos a partir de participantes inscritos entre estudantes e professores dos diversos cursos da USP, de graduação e pós-graduação, além de membros de organizações governamentais e não-governamentais, lideranças comunitárias e representantes de companhias locais, ligados às demandas da Zona Leste. Este projeto pretendeu demonstrar sua extrema necessidade de aprimoramento para que funcione de modo mais efetivo, justificando-se por operar de modo interdisciplinar e por promover o desenvolvimento de empreendimentos sociais como resultado da inovação, atendendo ao papel social que a universidade deve cumprir. Sua manutenção se justifica pelo sucesso que a metodologia Design Thinking já demonstrou durante a nossa primeira experiência e pelos exemplos que conhecemos, especialmente o d-school, laboratório da Stanford University que já foi visitado por professores da EACH e que mantém um diálogo com as propostas que estamos desenvolvendo através de alguns de seus membros.

Fotos 9 e 10 – O curso foi oferecido a estudantes, professores e membros da comunidade.

Fotos 11 e 12 – Transmissão simultânea a outras turmas no campus Butantã e na Unicamp.

Fotos 13 e 14 – Exercícios interativos proporcionaram reflexões significativas sobre o Design Thinking.

Podemos exemplificar os resultados através da descrição de dois dos projetos desenvolvidos no curso de difusão e supervisionados pelo professor Reinhold Steinbeck. O projeto denominado “Mobile Banking e sustentabilidade local” visa na primeira fase ao fortalecimento da economia local através da formação de uma associação de comerciantes, centralizando as compras a fim de obter descontos junto aos fornecedores, utilizando tecnologia móvel. A segunda fase do projeto prevê a implementação de uma moeda virtual social, através do celular, a fim de estimular a circulação de renda dentro da comunidade. Como a moeda social já existe, mas não tem reservas suficientes para sustentá-la - necessários de acordo com a lei do país – serão desenvolvidas alternativas de geração de renda dentro da comunidade para ampliar essas reservas. O projeto adotou o nome Mobile Banking porque o celular atuará como um banco móvel na utilização das reservas criadas para a moeda social. O protótipo para as duas fases já foi desenvolvido e a primeira parte do projeto (associação de comerciantes para centralização das compras) encontra-se em fase de implantação, envolvendo professores, alunos e comunidade.

Outro projeto denomina-se “Abraço” e refere-se à atenção dada a pessoas com Doença de Alzheimer, considerando que esta é uma circunstância que afeta não apenas o idoso demenciado, mas, também, seu suporte social imediato. A participação da líder comunitária da comunidade denominada Área da Baleia, na Vila Císper, possibilitou a identificação do trabalho empreendido pela Unidade Básica de Saúde, através do Programa de Saúde da Família. O PSF atende protocolo específico, que estabelece a observação de condições de higiene e a detecção de doenças crônicas, de modo a encaminhar os casos a equipes técnicas a partir do agente comunitário, sempre um morador da área visitada. Ficou evidente que não havia qualquer levantamento sobre idosos demenciados e, mais ainda, que não havia informação alguma que permitisse a identificação de casos, sendo que quando havia procura através de familiares, os profissionais da saúde não estavam preparados para encaminhar. Há instituições que têm a informação e as comunidades precisam dela: portanto, foi desenvolvido um protótipo de compartilhamento de informações através de meios presenciais, por cursos e workshops, e virtuais, através de uma plataforma administrada pela Associação Brasileira de Alzheimer de São Paulo – ABRAZ SP. O principal aspecto já percebido foi o estreitamento nas relações entre universidade, comunidade e instituições especializadas no assunto, provando que a empatia deve ser praticada para, de fato, atingir metas aparentemente distantes, porém possíveis e necessárias.

Fotos 15 e 16 – Protótipos foram desenvolvidos pelos grupos que se formaram em torno de temas relevantes.

Um dos focos mais importantes dos processos educativos no mundo contemporâneo deve ser o de preparar estudantes para pensar criativamente e tornar ideias inovadoras factíveis de serem implementadas na sociedade. Essa formação é mais condizente com os ambientes de trabalho do século XXI, que solicita profissionais com habilidade para trabalhar com problemas complexos em equipes multidisciplinares, com intuito de buscar soluções criativas e inovadoras. O principal objetivo do d-USPLeste é disseminar uma metodologia de inovação e de transformação de ideias em novos projetos. Design Thinking combina o melhor das metodologias de aprendizagem baseada em problemas e por projetos (ABPP), com a perspectiva do profissional de “Design”, que utiliza a sensibilidade e os métodos de resolução de problemas para atender às necessidades das pessoas. O principal aspecto do HCD – Human Centered Design – é a empatia, o exercício de “colocar-se no lugar do outro”, o que permite a imersão nos desafios apontados pelo problema demandado e criando laços entre todos os atores sociais envolvidos no processo. Pelo Design Thinking, é primordial a interdisciplinaridade, assim como a aproximação dos membros dos grupos com os sujeitos demandantes dos desafios. Portanto, deve haver participação efetiva de pessoas da comunidade, que estarão constantemente mantendo o vínculo necessário com o público alvo.

4. Programa d-USPLeste em 2012

De acordo com a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP, dentro de suas disponibilidades orçamentárias é previsto o apoio às Novas Iniciativas de Cultura e Extensão originárias das Unidades. Em função disso, foi submetido e aprovado o projeto para um workshop progressivo, atendendo à grande demanda de interessados pela abordagem Design Thinking. A verba de fomento permitiu a presença de dois professores trazidos dos Estados Unidos e do Canadá, ligados a experiências de novas tecnologias pedagógicas, além da apresentação de resultados parciais no Congresso Internacional PBL – ABP 2012, ocorrido em Cali na Colômbia, sobre Aprendizagem Baseada em Problemas e Metodologias Ativas e Colaborativas de Aprendizagem. Contamos com a participação de outros professores da unidade, destacando a colaboração significativa dos professores doutores Patrícia Grandino Junqueira e Martin Jayo, respectivamente docentes dos cursos de Obstetrícia e de Marketing.

Foram formuladas três etapas distintas para o workshop, denominadas módulos I, II e III. No primeiro, com duas edições, foram oferecidas noções fundamentais de Design Thinking para aqueles que se dispunham a avançar às novas etapas. O módulo II contou com a condução do professor Reinhold Steinbeck e foi oferecido àqueles que cumpriram a primeira etapa no ano anterior e nas duas versões no âmbito do projeto em 2012. A terceira e última foi limitada à participação de interessados em negócios sociais e foi conduzido pela professora Marlei Pozzebon.

A seguir, apresentamos dados qualitativos e quantitativos desta experiência, separados por etapa.

4.1. Módulo I

O primeiro módulo, em duas edições, foi ministrado pelo acadêmico Pedro Henrique Junqueira Martins, monitor no primeiro curso de difusão e colaborador nessa etapa do projeto. A monitora Luana Muradi de Melo colaborou na organização das inscrições, no andamento das duas edições deste módulo e na tabulação de resultados. Houve significativa afluência de interessados em conhecer a abordagem, especialmente considerando seu potencial para o desenvolvimento de negócios sociais. As duas edições foram ministradas em sala de aula regular, com carteiras escolares, o que não foi adequado. Inscreveram-se 158 interessados e 38 concluíram o curso.

Foram quatro seções de 2,5 horas cada, em que se propiciou aos participantes a discussão de conceitos, sua aplicação e o desenvolvimento de protótipos. A primeira seção permitiu que os participantes dialogassem com o instrutor, permitindo maior assimilação dos conceitos. Na segunda e terceira seções foram realizadas simulações, nas quais os participantes assumiram determinados papéis sociais, como, por exemplo, o de portadores de deficiências físicas. A partir dessa dinâmica, foi trabalhada a criação de empatia, bem como conceitos de persona e outros relevantes para o tema. Na última seção, foram apresentados protótipos cujo objetivo era solucionar problemas de potenciais usuários dos mesmos. Os conceitos utilizados nesse módulo foram obtidos a partir das apresentações disponibilizadas pelo Prof. Reinhold, que vem pesquisando há muito autores da área de inovação e criatividade, tais como Brown (2009).

Fotos 17 e 18 – Simulações de diversas deficiências foram provocadas para o exercício da empatia.

Fotos 19 e 20 – Experimentadas situações novas, os alunos passaram a discutir e equacionar esses resultados.

4.2. Módulo II

Esta etapa contou novamente com a presença do professor convidado Reinhold Steinbeck, que atua em San Francisco, Califórnia, considerando a nova forma de continuar a difusão do Design Thinking. Toda a fundamentação foi exercitada no Módulo I e, portanto, o Módulo II continuou a partir da fase de prototipação e testagem. O professor foi assistido na tradução inglês-português pelo acadêmico Pedro Henrique Martins, e contou com um número significativo de inscritos, muitos atraídos pela curiosidade, o que acarretou uma sensível evasão que contribuiu para um melhor desempenho dos verdadeiramente interessados. Inscreveram-se 263, 120 estiveram presentes na primeira aula e 62 concluíram o curso.

O curso teve duração de três semanas, com duas aulas dialogadas por semana e seções diárias de monitoria do Professor Reinhold e do monitor Pedro. Os conceitos apresentados no Módulo I foram reforçados durante a primeira semana. Na segunda semana, os alunos foram convidados a aplicar pesquisas de campo, analisando problemas do transporte público paulistano. Nessa etapa foram aplicados diversos conceitos e técnicas, tais como a criação de empatia com o usuário, com dedução e agrupamento de temas, que permitiram aos grupos definirem uma persona, ou seja, um usuário ideal, com necessidades que pudessem ser atendidas por algum produto ou serviço a ser criado. Na terceira semana, os alunos apresentaram protótipos, que pretendiam corresponder a essas necessidades de produtos ou serviços das personas.

Fotos 21 e 22 – O professor Reinhold deu continuidade ao curso iniciado por Pedro, sendo auxiliado por ele.

Fotos 23, 24 e 25 – Apesar do espaço inadequado, houve visível interesse demonstrado na dedicação dos inscritos.

Fotos 26, 27 e 28 – Exercícios de prototipação foram propostos para compreensão clara de uso do Design Thinking.

4.3. Módulo III

Ministrado pela professora convidada Marlei Pozzebon, que atua na HEC de Montreal, não foi necessário apoio de tradução porque a professora é brasileira. Como estabelecido originalmente, esta etapa final seria dedicada a um grupo mais restrito, composto por estudantes e professores interessados em refletir sobre a aplicação do Design Thinking em negócios sociais. Assim, este módulo não foi aberto a toda a comunidade USP, mas apenas àqueles que concluíram os dois primeiros módulos oferecidos. Apesar de menor número de inscritos (71), 23 concluíram o curso.

Considerando as conclusões já extraídas das experiências anteriores, a intenção foi a de desenvolver uma metodologia baseada no Design Thinking com caráter mais brasileiro, considerando especificidades culturais e a própria linguagem pouco amigável pelo uso de anglicismos. Para tanto, a base teórica do curso foi suportada por textos do pedagogo Paulo Freire e do teatrólogo Augusto Pinho Boal. Boal utilizava o teatro para exercitar a participação daqueles que estavam na plateia, buscando gerar envolvimento e reflexão sobre o papel que representavam. Ele defendia a ideia de que o domínio de uma nova linguagem oferecia à pessoa que a domina, uma nova forma de conhecer a realidade (Araújo, 2012).

Paulo Freire propugnava que o processo histórico é constantemente reconfigurado pelas ações humanas, na medida em que os indivíduos discutem sua história. Para Freire, o processo de aprendizagem é tão importante quanto a aprendizagem por si só, pois o mesmo permite que os alunos se tornem mais críticos, compreenderem-se a si mesmos, tornando-se mais críticos e mais empoderados, capazes de formatar e reformatar seus mundos (Quintieri, 2012).

Utilizar Boal e Freire para a criação de uma metodologia para formação de discentes, docentes e membros da comunidade significa, portanto, incluir os participantes no processo de criação de metodologias de aprendizagem, as quais serão posteriormente utilizadas por eles.

Fotos 29 e 30 – A proposta de discutir possíveis caminhos envolveu a adoção de textos de apoio.

Fotos 31 e 32 – O curso foi conduzido como um trabalho de equipe, de modo a destacar ideias inovadoras.

Fotos 33 e 34 – Houve registro das discussões de modo a continuar o processo em novos encontros futuros.

5. Considerações finais

Foi possível aprender um pouco mais sobre a abordagem Design Thinking e sua difusão: há muita curiosidade e o termo em inglês pode confundir sua utilidade em negócios sociais. Também foi perceptível que as turmas devam ter um número restrito para um maior aproveitamento, considerando a necessária reunião e interação dos grupos que se formam. Turmas menores permitem que maior número de participantes incluam-se como sujeitos dos processos criativos, originando protótipos e produtos a partir de sua visão do contexto.

Esta se caracteriza como uma excelente oportunidade de aproximação com instituições que busquem projetos dessa natureza, interessadas em programas sociais em comunidades em situação de pobreza, podendo determinar parcerias com organizações nacionais e internacionais e, até mesmo, com programas governamentais. O Brasil, mesmo estando em 4º lugar entre os países que mais crescem, demonstra que este é o momento em que a inovação pode ser o caminho que vinculará definitivamente a universidade com as comunidades carentes, em especial a Zona Leste.

Verificou-se que o programa d-USPLeste está consolidado e que há canais de relacionamento estabelecidos, o que demonstra, mais uma vez, a necessidade de um investimento nas condições de funcionamento deste laboratório, útil aos cursos da Escola de Artes, Ciências e Humanidades, incluindo-se, também, a possibilidade de estender suas atividades à contribuição dos cursos de outros campi da Universidade de São Paulo.

Referências Bibliográficas

Ambrose, G.; Harris, P. (2010); “Design Thinking”. Basics Design Series, n. 8, Lausanne: Ava Publishing SA.

Araújo, T. C. (2012) “Proposições coletivas na promoção do aprendizado – o método de Augusto Boal.” Montreal: Não Publicado.

Brown, T. (2009); Change by Design: how Design Thinking transforms organizations and inspires innovation. NYC: HarperCollins Publishers.

Freitas, A. (2010); Criatividade e colaboração na sala de aula. O Estado de São Paulo, 15/11/2010. Disponível em: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101115/not_imp640101,0.php, acesso em fev. 2011.

IDEO (2009); Human-Centered Design Toolkit. Disponível em: http://www.ideo.com/work/human-centered-design-toolkit .

Meinel, C. & Leifer, L. (2011); Design Thinking: Understand, Improve, Apply. Berlin: Springer.

Quintieri, M. (2012); “Breve História de Paulo Freire e a emergência de Pedagogia do Oprimido.” Montreal: Não Publicado.

Singer, N. (2011) In a Graying Population, Business Opportunity. New York Times, 05/02/2011. Disponível em: http://www.nytimes.com/2011/02/06/business/06aging.html, acesso em fev. 2011.

Steinbeck, R. (2011); “Building Creative Competence in Globally Distributed and Blended Courses Through Design Thinking.” Comunicar, Andalucía, Espanha. Disponível em: http://www.revistacomunicar.com/pdf/preprint/37/02-PRE-11702-Steinbeck-EN.pdf, acesso em mai/2011.

Thomas, D. & Brown, J. S. (2011); “Cultivating the Imagination: Building Learning Environments for Innovation.” Teachers College Record, Columbia University, February 17. Disponível em: http://www.tcrecord.org/Content.asp?ContentID=16341, acesso em mar/2011.


1 Universidade de São Paulo – Escola de Artes, Ciências e Humanidades – Brasil. Email: maria.luisa@usp.br
2 Universidade de São Paulo – Escola de Artes, Ciências e Humanidades – Brasil. Email: tchristop@gmail.com


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