Espacios. Vol. 34 (2) 2013. Pág. 11 |
Tecnologia social: Caracterização da produção científicaSocial technology: Characterization of scientific productionCarlos Cesar Garcia Freitas 1 y Andrea Paula Segatto 2 Recibido: 18-05-2012 - Aprobado: 15-10-2012 |
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RESUMO: |
ABSTRACT: |
1. IntroduçãoA Tecnologia Social consiste num fenômeno recente, consolidada a partir do ano de 2004, mediante os esforços da criação do Marco Analítico-Conceitual. Inserida como um dos programas da Secretaria de Ciência e Tecnologia para a Inclusão Social (SECIS) a “Tecnologia Social compreende produtos, técnicas e/ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que represente efetivas soluções de transformação social” (MCT, 2011). Possui em seu histórico forte relação com suas antecessoras, a Tecnologia Intermediária (TI) e a Tecnologia Apropriada (TA), que pode levar a um entendimento de que se trata de um mesmo fenômeno com diferente denominação. Porém a Tecnologia Social compreende uma iniciativa inovadora, pois apesar de seus defensores manterem os mesmos ideais, de intervenção social, ligados a TI e a TA, a essência da metodologia é distinta. A proposta da Tecnologia Social, embutida em seu conceito, e norteada pelos seus princípios de aprendizagem e participação, de compreensão da realidade, de respeito às identidades locais, e da crença na capacidade humana de cada indivíduo (ITS, 2004), denota a participação coletiva de seus beneficiários, em seu processo de desenvolvimento e aplicação, consistindo em uma inovadora forma de mediação entre a produção do conhecimento e a sociedade (BAUMGARTEN, 2008). Isto se deve em razão do novo paradigma que se coloca na concepção da Tecnologia Social e que supera o modelo conceptivo de suas antecessoras. Construído com base nos pressupostos da Teoria Crítica da Tecnologia (FEENBERG, 2004) e da aplicação da Adequação Sociotécnica (DAGNINO; BRANDÃO; NOVAES, 2004), a Tecnologia Social se coloca como uma proposta de rompimento com o modelo linear da Ciência e Tecnologia, e dos fundamentos da neutralidade do desenvolvimento tecnológico, implicando num processo efetivo de construção social da tecnologia, com a consequente participação concreta de seus beneficiários (DAGNINO, 2007). O reflexo direto desta situação está que enquanto suas antecessoras, dentro do paradigma tradicional, eram pensadas como soluções pontuais, a Tecnologia Social, no novo paradigma é concebida como um projeto, que não apenas resolve pontualmente um problema da sociedade, mas que possa levar cada indivíduo beneficiário a sua própria emancipação, promovendo a transformação social. Por outro lado, a proposta da Tecnologia Social, ainda busca superar as deficiências da Tecnologia Convencional (TC) ou Privada, em promover um desenvolvimento mais sustentável e includente. A contribuição das propostas alternativas de sistemas tecnológicos, como é o caso da Tecnologia Social, está no fato de tratar o aparato tecnológico numa concepção mais ampla, privilegiando novos aspectos além do econômico, o que possibilita atender um contingente maior de demandas, como ambiental e social, propondo assim uma nova abordagem a questão da tecnologia e seu impacto na sociedade (BARBIERI, 1989). As deficiências da TC decorre da sua própria natureza, de origem capitalista, que busca a maximização do lucro, mediante a racionalização de seus recursos, inclusive o humano, e minimização de seus custos. Entre duas opções, uma conveniente a sociedade, porém com baixo retorno, e outra conveniente a organização com altos retornos, a escolha recairá na segunda opção, pois a organização sempre colocará em primeiro lugar seus acionistas. Apesar de todas as justificativas em defesa da adoção da Tecnologia Social, como alternativa efetiva de transformação social no âmbito político e científico, cabe destacar que a efetivação de um novo paradigma (TS) não se dá apenas pela sua formalização, mas decorre de um processo de institucionalização e de legitimação social (BERGER; LUCKMANN, 2010), o que se apresenta como um grande desafio a ser superado, ainda mais considerando sua breve temporalidade existencial. Nesse contexto o presente artigo tem como objetivo apresentar os resultados de um estudo que teve como objetivo avaliar o grau de disseminação da Tecnologia Social a partir da caracterização da produção científica envolvida com o fenômeno. Justifica-se a perspectiva adotada por considerar a propagação científica como um indicador de legitimação social, ligado especialmente ao meio intelectual. 2. MetodologiaNo intuito de caracterizar a produção científica sobre Tecnologia Social foi realizado um levantamento das produções compreendidas entre os anos de 2003 a 2011. Os dados foram coletados entre os meses de maio de 2011 a março de 2.012, e se deu por meio de uma pesquisa exploratória, direcionada a busca de publicações nacionais e internacionais que tratam-se do tema Tecnologia Social. Para tanto foi utilizado na busca as palavras-chave “tecnologia” “social” e suas traduções para o inglês (“technology” e “social”). A menção à Tecnologia Social foi também procurada em obras relacionadas à Tecnologia Apropriada (appropriate technology), porém não houve identificação de menções ao tema. Os procedimentos de busca compreenderam os seguintes passos: a) busca junto aos principais periódicos nacionais e internacionais da administração; b) busca junto aos ANAIS dos principais eventos nacionais de administração; c) busca por meio de buscadores da Internet (Google, Google Acadêmico e Scielo); d) busca direta de documentos com base nas referências dos materiais encontrados; e) busca na plataforma lates por meio da análise dos currículos dos pesquisadores; f) solicitação de material diretamente aos autores; e, g) solicitação via sistema COMUT. Cabe destacar que no início a proposta do estudo de caracterização da produção científica se restringia a periódicos qualificados, porém devido à pequena quantidade de publicações identificadas, o horizonte do estudo foi ampliado para outros. Dessa forma, apesar da amostra obtida, de 133 publicações, não compreender a totalidade do conhecimento sobre o tema Tecnologia Social, essa representa significativamente a produção científica atual. 3. Análise das PublicaçõesDa amostra de 133 publicações, 92,5% (123) são de origem nacional e 7,5% (10) de origem estrangeira, conforme tabela 1, destacando-se a Argentina com cinco publicações. Considerando o fato de a Tecnologia Social ser uma criação brasileira é natural que haja uma maior concentração das publicações nacionais, porém, ainda é um tema praticamente desconhecido internacionalmente, considerando que trata-se de um fenômeno de interesse global (alternativa tecnológica voltada à transformação social). Outro aspecto relevante são as publicações oriundas da Espanha e México, fora do círculo da América do Sul. Tabela 1 – Origem e Ano das Publicações
Fonte: Autor (2012). Ainda sobre as produções é possível constatar, pela tabela 1, que no ano de 2009 foi o ano mais fértil de produções, seguido pelos anos de 2007, 2006 e 2010. Analisando todo o período é possível concluir que a distribuição das produções por ano foi inconsistente (gráfico 1), devido a constantes oscilações quantitativas, o que pode ser explicada em parte por se tratar de um fenômeno recente. Por outro lado, considerando o último biênio houve uma sensível redução no número de publicações, em especial o ano de 2011, que pode estar atrelado a variáveis, como ausência de um perfil mais científico dos autores, dado a falta de continuidade, ou ainda ao baixo envolvimento de pesquisadores acadêmicos envolvidos com o tema. Gráfico 1 – Publicações por Ano Fonte: Autor (2012). Continuando a análise das publicações e origens a tabela 2 destaca os tipos de publicações identificadas em cada país de origem destacando-se capítulo de livro, com cinqüenta e duas produções, seguido de artigo em periódico sem qualis, com vinte e cinco. Em relação às publicações estrangeiras é possível constatar pelos dados levantados que com exceção da Venezuela, na Argentina, Espanha e México, foram identificados publicações de baixo impacto, direcionadas a eventos. Tabela 2 – Origem e Tipo de Publicações
Fonte: Autor (2012). Os dados da tabela 2 reforçam o fato da Tecnologia Social ser um tema pouco conhecido internacionalmente, e que mesmo no Brasil são poucas as evidências do envolvimento dos pesquisadores acadêmicos no tema; afirmação que se apoia na pequena quantidade de produções em periódicos qualificados. Acerca disso a tabela 3 apresenta a distribuição das publicações por tipo de produções. Tabela 3 – Tipo de Publicações
Fonte: Autor (2012). Conforme destacado o principal meio de divulgação do conhecimento sobre Tecnologia Social tem sido mediante o uso de livros (capítulo e livro completo), totalizando 58 (44%) contra 38 (29%) em periódicos. Destaca-se ainda que 14% da amostra referem-se a outros documentos sendo estes: a) 12 publicações da Rede de Tecnologia Social, entre esses materiais de divulgação e documentos constituintes; e b) 6 publicações do Instituto de Tecnologia Social, entre esses o caderno Conhecimento e Cidadania e os Cadernos de Debate. Completando a tabela 3, na tabela 4 consta a relação das demais publicações (artigos) nos periódicos e sua classificação qualis. Para identificação da classificação Qualis foi considerado a pontuação atribuída ao periódico na área de administração ou quando da inexistência desta foi utilizado a atribuída a área interdisciplinar. Tabela 4 – Relação das Publicações em Periódicos e Classificação Qualis
Fonte: Autor (2011). Considerando os dados da tabela 4 é possível concluir que além da pouca produção em periódicos qualificados (12), essa se encontra dispersa por vários periódicos. Em relação aos periódicos não qualificados destaca-se a Revista Primeiro Plano, na qual a Rede de Tecnologia Social publica a Seção Incluir, destinado a divulgação dos conhecimentos desenvolvidos pela rede, e a Revista Ciência e Tecnologia, iniciada em 2011 e que tem dentre os seus objetivos divulgar estudos sobre o fenômeno Tecnologias Sociais. Ainda em relação ao tipo de produções a tabela 5 traz a distribuição das produções em relação aos anos. Os destaques em relação aos dados da tabela são: a) a falta de publicação em periódicos qualificados nos dois últimos anos; b) a alta concentração de publicações em capítulo de livros; c) a grande quantidade de publicações no ano de 2009; e d) a redução de publicações dos últimos dois anos. Apesar desses dados já terem sido enfatizados anteriormente é possível por meio da análise tipificada da tabela 5 perceber que de modo geral em todos os tipos de produções o tema Tecnologia Social, ao longo do seu histórico, apresenta significativa inconsistência em termos de quantidade de produção científica. Tabela 5 – Tipo e Ano das Publicações
Fonte: Autor (2012). Considerando o grande número de publicações de capítulos de livro, analisou-se o grau de concentração dessas produções, identificando-se que dos cinqüenta e dois capítulos identificados, quarenta cinco, ou seja, 86% correspondiam a apenas cinco obras, como demonstra a tabela 6. Tabela 6 – Relação dos Principais Livros e Concentração de Publicações
Fonte: Autor (2011). Os dados da tabela 6 reforçam a excessiva concentração das publicações não somente em termos de tipo de publicação, como também nas obras em específico. Este fato está ligado diretamente ao esforço da Rede de Tecnologia Social, por meio das diversas organizações associadas, em promover o tema Tecnologia Social, assim como engajar pesquisadores no desenvolvimento de conhecimentos acerca dessa. Considerando ainda que a maioria das obras (três) foram publicadas no ano de 2009 isso explica o grande número de publicações nesse ano. Iniciando a análise sobre os autores envolvidos foi desenvolvido o gráfico 2 com a distribuição do número de autores envolvidos com o tema e sua distribuição histórica. Destaca-se o equilíbrio quantitativo nos anos de 2006 e 2007, com vinte e dois autores, e o ultimo biênio com a drástica redução de quarenta e oito autores, em 2009, para apenas dezessete, em 2011. Estes dados reforçam a análise anterior da concentração de publicações em capítulos de livros, maioria publicado no ano de 2009. Além disso, fica evidente a inconsistência do envolvimento dos autores com o tema. Gráfico 2 – Número de Autores Envolvidos com o Tema e Ano de Publicação Fonte: Autor (2012). Aprofundando o estudo sobre os autores foram identificados 112 autores que trabalharam as 133 produções sobre o tema Tecnologia Social. Desses autores dois correspondem ao Instituto de Tecnologia Social e Rede de Tecnologia Social, que representam diversas organizações e profissionais cadastrados, diferenciando-se como pessoa jurídica dos demais autores, pessoas físicas. Na análise quantitativa das produções por autores identificou-se que apenas vinte e seis desses acabaram tendo de duas ou mais publicações sobre o tema, como pode ser observado na tabela 7, destacando-se o ITS (Instituto de Tecnologia Social), a RTS (Rede de Tecnologia Social), e Renato P. Dagnino, como os grandes pesquisadores sobre Tecnologia Social, com mais de dez publicações cada. Considerando que o ITS e a RTS são pessoas jurídicas, indiscutivelmente Dagnino é o grande pesquisador da área, não apenas em termo quantitativo, com 14 publicações, como também qualitativamente, com 4 artigos em periódicos qualificados. Num segundo grupo destaca-se Novaes, Neder e Dias, com 6 publicações e Bagatolli, Baumgarten, Serafim e Fonseca, com 5 produções cada. Em um terceiro grupo aparecem dezesseis autores com duas a três publicações. Considerando os dados apresentados poucos são os pesquisadores envolvidos com o tema, assim como, poucos são os pesquisadores que quantitativamente tem demonstrado de modo impactante seus estudos, por meio de produções científicas. Tal situação é enfatizada pelo fato de que entre os dois grandes grupos de pesquisadores (pessoa física), vários desses acabam tendo parte de suas publicações de forma conjunta, como é o caso de Dagnino e Bagatolli, Dagnino e Novaes, Novaes e Dias, Fonseca e Serafim, Bagatolli e Serafim, entre outros, o que reduz o número de pesquisadores que tem publicado de forma independente sobre o tema. Tabela 7 – Principais Autores do Tema Tecnologia Social
Fonte: Autor (2012). Analisando a consistência dos pesquisadores, em termos de periodicidade de suas publicações, foi montando a tabela 8 que identifica 13 pesquisadores que conseguiram publicar sobre Tecnologia Social em pelo menos dois anos consecutivos, o que representa 50% dos principais pesquisadores (autores) do tema. Isso pode indicar as seguintes suposições: a) que muitos pesquisadores são recentes no campo de estudo e que é natural o decorrer de um tempo considerável para a maturação das pesquisas de modo a gerar resultados que possam ser traduzidos em publicações; b) que muitos autores não possuem um perfil pesquisador e que tenham publicado poucas vezes em função de convites recebidos, por estarem envolvidos com experiências em Tecnologia Social, e que neste caso reforça a falta de um perfil acadêmico; e c) que o tema ainda apesar de pontualmente ter sido de interesse do pesquisador, ainda não obteve razoável atenção desses para fazer parte de sua agenda de pesquisa. Tabela 8 – Periodicidade das Publicações por Autores mais Recorrentes
Fonte: Autor (2012). Além da identificação dos principais autores no estudo buscou-se identificar as principais obras sobre Tecnologia Social utilizadas como referências nas publicações e que deu origem a tabela 9, destacando-se as obras de Dagnino, Brandão e Novaes (2004), Dagnino (2004), site da Fundação Banco do Brasil, Lassance Jr e Pedreira (2004) e ITS (2004), todas com 10 ou mais citações. Com exceção de Lassance Jr, Pedreira e Bava, os demais autores citados constantes na tabela 9 já haviam sido destacados como principais pesquisadores da área. Um aspecto interessante levantado na análise foi o fato de que muitas fontes citadas nos artigos não são referenciadas em especial a Fundação Banco do Brasil e a Rede de Tecnologia Social, que são ícones dentro do movimento da Tecnologia Social. A FBB em função do Banco de Tecnologias Sociais e a RTS, por se constituir atualmente no principal órgão de integração (rede) de pesquisadores e promotores da Tecnologia Social no país. Desse modo as posições no quadro de classificação se alterariam, porém está situação não é exclusiva apenas das duas fontes destacadas, mas de muitas outras, como pode ser observado na tabela 10. Tabela 9 – Publicações mais Citadas
Fonte: Autor (2012). Alguns aspectos são essenciais para se caracterizar uma produção científica de qualidade, de modo especial duas, a utilização de referências que deem suporte aos argumentos e informações, e permitam ao leitor identificar a origem dessas e a especificação dos procedimentos metodológicos utilizados, que atestam a consistência do método empregado. Acerca do primeiro aspecto a tabela 10 apresenta o emprego de referências nas publicações, sendo que 49% não apresentam nenhum tipo de referência sobre o conhecimento exposto, o que denota que muitos autores desconhecem ou não valorizam o referenciar de suas produções. Outro aspecto crítico em relação às referências é o fato de que muitos dos conhecimentos acabam sendo apropriados indevidamente pelos autores. Ainda na tabela 10 é possível concluir que tanto os estudos teóricos como empíricos apresentam o mesmo tipo de problema, porém os estudos de caráter teórico acabam tendo maior prejuízo, pois a deficiência está na sua própria essência. Tabela 10 – Utilização de Referências nas Publicações
Fonte: Autor (2012). Já em relação aos procedimentos metodológicos a situação se agrava, conforme tabela 11, pois 90% das publicações não explicitaram seus procedimentos metodológicos, destacando-se os estudos de caráter eminentemente empíricos, que 100% omitiram seus procedimentos. Tabela 11 – Explicitação dos Procedimentos Metodológicos nas Publicações
Fonte: Autor (2012). Em síntese, por meio da tabela 10 e 11, é possível concluir que a maioria das produções científicas sobre Tecnologia Social são deficitárias em termos de referenciar fontes e explicitar os procedimentos metodológicos, o que em parte justificaria o pequeno número de publicações em periódicos qualificados, que exigem um rigor científico maior que a publicação de capítulo de livros ou outros materiais. Com base ainda nos dados levantados reforça-se a hipótese de que muitos autores não possuem um perfil cientifico acadêmico. Apesar da grande maioria dos estudos não mencionarem os procedimentos metodológicos utilizados foi realizado uma análise de todas as publicações da amostra para identificação das metodologias supostas e efetivas (mencionadas), e que deu origem a tabela 12, na qual é possível identificar que 55% se tratam de estudos teóricos bibliográficos, seguidos de 17% de estudos de caráter empírico documental. Destaca-se ainda que a maioria (63%) são estudos teóricos e que mesmo os estudos empíricos são trabalhados com dados secundários, caracterizando também uma fonte teórica. Tabela 12 – Metodologia Utilizada nos Estudos (efetiva e suposta)
Fonte: Autor (2012). A evidência direta da análise é que são poucos os estudos in lócus, representando 5% da amostra levantada. Isso pode ser explicado em razão de que muitos estudos, considerados empíricos, utilizam-se do Banco de Tecnologia Social como fonte para levantamento de dados ou publicações da Rede de Tecnologia Social. As conclusões aqui apresentadas evidenciam a necessidade de uma ampliação de estudos empíricos com bases em fontes primárias, considerando ainda a própria complexidade do fenômeno e seu curto período histórico. Aprofundando ainda a apreciação dos procedimentos metodológicos buscou-se analisar a abordagem utilizada nos estudos, que constatou o predomínio dos estudos de caráter qualitativo, com 91% da amostra, conforme demonstra a tabela 13. No outro extremo, estudos de caráter eminentemente quantitativo representam apenas 3% dos estudos, alcançando o percentual de 9% com a contabilização dos estudos qualitativos e quantitativos. Apesar da importância da abordagem qualitativa, o desequilíbrio presente evidência um significativo gap científico de mensuração do fenômeno e seu impacto na sociedade. Tabela 13 – Tipo de Abordagem Utilizada nos Estudos
Fonte: Autor (2012). Complementando a análise anterior, da abordagem, analisou-se entre as produções da amostra o emprego de recursos estatísticos, conforme tabela 14. Como já era de se esperar em função da maioria das produções terem caráter teórico, o não emprego do recurso estatístico é natural, porém segmentando a análise nas publicações quantitativas, sete de doze produções (58%) apresentaram o uso de estatística, sendo que a maioria (6) utilizaram apenas a descritiva. Essa conclusão evidência, assim como, a demanda de estudos quantitativos, a necessidade de estudos que empreguem recursos estatísticos mais complexos. Tabela 14 – Utilização de Recursos Estatísticos nas Publicações
Fonte: Autor (2012). O último item analisado foi dos temas apresentados nas publicações conforme relacionado na tabela 15, destacando-se com 23% as publicações voltadas a divulgação das experiências com Tecnologia Social, seguido, com 17%, das produções que enfatizaram as demandas institucionais e políticas em relação à Tecnologia Social. Esses dois principais temas são justificados em razão da pouca idade do fenômeno e o esforço de seus pesquisadores em promovê-lo e divulgá-lo publicamente. Em especial o segundo tema, demandas institucionais e políticas, refletem o momento atual do movimento da Tecnologia Social no país, de conquistar seu espaço não somente no quadro político, como também acadêmico. Tabela 15 – Principais Temas Trabalhados em Relação à Tecnologia Social e Abordagens
Fonte: Autor (2012). Outros temas apresentaram ainda relativa quantidade de produções, entre esses destaca-se alguns desses e o principal viés trabalhado (tabela 16): a Economia Solidária e a Tecnologia Social, que tem destacado a importância das Tecnologias Sociais como mecanismo de sustentação para os empreendimentos econômicos solidários; a Caracterização da Tecnologia Social, que tem sido direcionado no sentido de tornar o fenômeno conhecido e compreendido; a Rede de Tecnologia Social, que tem discutido a importância da contribuição sinérgica dos diversos elos envolvidos na tarefa de promover a Tecnologia Social; a Adequação Sociotécnica juntamente com o Marco Analítico-conceitual, que tem discutido a perspectiva de trabalhar a Tecnologia Social como um projeto, evitando que as ações acabem se tornando meras soluções pontuais; a Mensuração e Disseminação da Tecnologia Social; que tem debatido a necessidade de uma maior sistematização das experiências com a Tecnologia Social não somente em termos de processos de aplicação como também na constatação dos resultados; a Inovação Social, que tem destacado o papel da Tecnologia Social como processo inovador de melhorar ou mesmo desenvolver novas tecnologias; e a Universidade, que tem levantado críticas a distorção do papel da universidade de contribuir com a sociedade, seja pela pesquisa, ensino ou em especial a extensão, e destaca ainda o grande potencial das universidades em desenvolver Tecnologia Social. Ainda a respeito dos temas foi analisada a periodicidade desses, conforme tabela 16, por meio da qual é possível concluir que os temas anteriormente já destacados, apesar das variações tem ocupado a agenda da atual pesquisa sobre o fenômeno Tecnologia Social, destacando-se o tema Caracterização da Tecnologia Social, que apresentou produções consecutivas desde 2005. Tabela 16 – Principais Temas Trabalhados em Relação à Tecnologia Social e Ano de Publicação
Fonte: Autor (2012). 4. ConclusãoCom base no estudo de caracterização da produção científica sobre Tecnologia Social, por meio da análise das produções científicas compreendidas entre os anos de 2003 a 2011, foi possível concluir que:
Em síntese o que se observou na análise e que apesar da Tecnologia Social ser um fenômeno consolidado, tendo adquirido o status de “política pública”, e apresentar inúmeras experiências divulgadas por meio do Banco de Tecnologia Social, existe um envolvimento muito pequeno da comunidade científica, evidenciada pela baixa produção quantitativa (média de 14 publicações nacionais e internacionais por ano), como qualitativa. Frente ao desafio de legitimação social, pelo viés da caracterização da produção científica, o fenômeno Tecnologia Social tem um “longo caminho” pela frente para superar as resistências da classe científica e passar a fazer parte nas agendas de pesquisa. Situação essa que pode ser caracterizada pela colocação de Albuquerque (2006), quando da inclusão das Tecnologias Alterantivas no plano de metas do CNPq, de que muitas foram as críticas, por parte do mundo acadêmico hierarquizado, de que o CNPq não deveria se envolver com tecnologias de segunda classe. 5. ReferênciasALBUQUERQUE, L.C. (2006). Prefácio. In: BRANDÃO. F.C. Uma História Brasileira das Tecnologias Apropriadas. Brasília: Paralelo 15 / Abipti. BARBIERI, J.C. (1989). Sistemas Tecnológicos Alternativos. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 29, n. 1, p. 35-45, jan/mar. BAUMGARTEN, M. (2008). Tecnologias Sociais, Inovação e Desenvolvimento. In: ESOCITE - Jornadas Latino Americanas de Estudos Sociais de Ciência e Tecnologia, 7. ANAIS... Rio de Janeiro: VII ESOCITE. Disponível em <http://www.necso.ufrj.br/esocite2008/resumos/35793.htm>. BERGER, P.L.; LUCKMANN, T. (2010). A Construção Social da Realidade: tratado da sociologia do conhecimento. 32. ed. Petrópolis: Vozes. DAGNINO, R.P.; BRANDÃO, F.C.; NOVAES, H.T. (2004) Sobre o Marco Analítico-conceitual da Tecnologia Social. In: FBB. Tecnologia Social: uma estratégia para o desenvolvimento. Rio de Janeiro: FBB. DAGNINO, R.P. (2007). Um Debate Sobre a Tecnociência: neutralidade da ciência e determinismo tecnológico. Campinas: Unicamp. FEENBERG, A. (2004). Teoria Crítica da Tecnologia. Texto original “Critical theory of technology”.Tradução da Equipe de Tradutores do Colóquio Internacional “Teoria Crítica e Educação”. Unimep, Ufscar. Disponível em: <http://www.sfu.ca/~andrewf/critport.pdf>. ITS. (2004). Tecnologia Social no Brasil: direito à ciência e ciência para cidadania. Caderno de Debate. São Paulo: Instituto de Tecnologia Social. MCT. (2011). Tecnologias Sociais: descrição da Tecnologia Social. Disponível em <http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/308089.html>. |
1 Universidade Estadual do Centro-Oeste – Brasil. E-mail: cesarfreitas@sercomtel.com.br |