Espacios. Vol. 33 (1) 2012. Pág. 38


A distância tecnológia na adoção de novas tecnologias no sistema de ensino de uma instituição de ensino superior em um país em vias de desenvolvimento industrial – Estrutura CAGE

A gap technology in the adoption of new technologies in education from an institution of higher education in a developing industrial country - Structure CAGE

Una brecha tecnológica en la adopción de nuevas tecnologías en el sistema de enseñanza de una institución de educación superior en un país en vías de desarrollo industrial - Estructura CAGE

Roberto Remonato 1 y Zandra Balbinot 2

Recibido: 28-04-2011. Aprobado: 16-09-2011


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RESUMO:
Este trabalho tem por finalidade verificar como a distância tecnológica influencia na adoção de novas tecnologias no sistema de ensino de uma Instituição de Ensino Superior (IES) de um país em vias de desenvolvimento industrial. A pesquisa foi desenvolvida em uma IES Européia com filial no Brasil, captando-se a percepção do corpo administrativo, docente e diretivo quanto à influência de aspectos culturais, administrativos/políticos, geográficos e econômicos de uma adoção tecnológica. Como resultados foram encontrados vários aspectos que podem interferir em um processo de internacionalização de tecnologia de um país desenvolvido industrialmente para outro em vias de desenvolvimento.
Palavras chave: Tecnologia, Transferência Tecnológica e Estrutura CAGE.

 

ABSTRACT:
This study aims to determine how the technology gap influences the adoption of new technologies in the education system of a Higher Education Institution (IES) of a country in the process of industrial development. The research was conducted in a European IES with a branch in Brazil, capturing the perceptions of the staff, teachers and directors about the influence of cultural, administrative/political, geographic and economic of a technological adoption. The results revealed several aspects that can interfere with a process of internationalization of technology from a developed country to another in industrially developing countries.
Keywords: Technology, Technology Transfer and CAGE Framework

 
RESUMEN:
Este trabajo tiene la finalidad de verificar como la distancia tecnológica influencia en la adopción de nuevas tecnologias en el sistema de enseñanza de uma institución de enseñanza superior (IES) de un país en el proceso de desarrollo industrial. La investigación fue desarrollada en una IES con sed en Europa y con filial en Brasil, capturando las percepciones del cuerpo administrativo, docente y directos sobre la influencias culturales, administrativo/políticos, geográficos y económicos em uma adopción tecnológica. Los resultados revelaron aspectos que pueden interferir con un proceso de internacionalización de la tecnología de un país desarrollado a otro en desarrollo.
Palabras clave: Tecnología, transferencia de tecnología y Estructura CAGE.

1. Introdução

O contexto atual, caracterizado por grandes, contínuas, rápidas e frequentes mudanças, com profundas transformações de ordem econômica, política, social e tecnológica, tem seu reflexo, como não poderia deixar de ser, no ambiente organizacional. Informações, conhecimentos, modos de atuação e de operação alteram-se e são alterados, desatualizam-se e são desatualizadas, muito rapidamente.

Uma das consequências diretas desse processo de mutabilidade no ambiente organizacional tem sido o aumento da incerteza e da insegurança dentro das organizações; estas, para poderem sobreviver, têm buscado permanentemente a adaptação, a reestruturação, a flexibilização e formas de inovação, dentro das novas configurações do ambiente. A antiga organização, imutável ao longo do tempo, vem sendo substituída por outra empresa que é vista como um conjunto de processos que precisam ser permanentemente reavaliados e modificados.

O acelerado desenvolvimento científico e tecnológico, que vem provocando a quebra de diversos paradigmas e a necessidade das estratégias de implantação de novas tecnologias nas organizações, tem levado em conta aspectos sócio-comportamentais como condição básica para o sucesso deste processo de mudança.

Como consequência direta na habilidade de explorar novas oportunidades; de fazer novas escolhas, é fundamental para as organizações levar em consideração as diversas possibilidades de adaptação às inovações, sobretudo as tecnológicas (de processos, de produtos e gerenciais). A busca por diferenciais é importante e, cada vez mais, a capacidade de inovar aparece como um meio para melhorar a competitividade. Além disto, esta é uma condição imprescindível para a sobrevivência e desenvolvimento das organizações.

O sistema de ensino não difere desta realidade. Por um lado, ele é fonte e origem de inovações. Por outro, pode e deve utilizar-se da inovação tecnológica na melhoria de seus produtos e processos, com o objetivo de melhor desempenhar sua função, qual seja, de ensinar, pesquisar e formar recursos humanos capazes de oferecer respostas às demandas da sociedade.

O conhecimento é a base de um processo de inovação e tem como insumo fundamental a informação. O processo de inovação e transferência de conhecimento é dinâmico, complexo e interativo, devendo existir um fluxo de informações entre os atores envolvidos no processo de produção e transmissão. Este processo de propagação de capacidades sofre a influência de vários fatores que vão muito além da simples transferência. Alguns destes fatores dificultam e outros facilitam a inovação. Fatores dificultadores à inovação correspondem a qualquer fator que influencia negativamente o processo de inovação; facilitadores, por sua vez, são fatores que influenciam positivamente o processo de inovação. A complexidade que envolve o fenômeno da inovação e, por conseguinte, de seus fatores facilitadores e dificultadores, configura-se em múltiplos níveis: individual, grupal, organizacional, setorial, nacional e internacional. Mesmo dentro da organização, várias diferenças podem provocar distúrbios no processo de propagação que podem minar e eventualmente levar tal processo ao insucesso.

É importante considerar que facilitadores podem converter-se em dificultadores, e vice-versa, enquanto a organização evolui ao longo de sua trajetória ou as condições externas alteram-se. Há dificultadores, inclusive, que emergem devido à falta de facilitadores. Nesse sentido, podem ser vislumbrados como sintomas, de modo que suas causas e inter-relações devem ser consideradas (HADJIMANOLIS, 2003).

Hadjimanolis (2003) também ressalta que fatores dificultadores, especificamente, podem deter a inovação completamente, atrasá-la ou elevar seus custos. Apesar desses efeitos negativos sobre a gestão e o desempenho do processo, efeitos positivos também podem ser verificados, como maior sensibilidade, à detecção de barreiras e ao processo de aprendizagem para esforços de inovação futura. Tais fatores não agem isoladamente, mas sim interagem mutuamente, anulando-se, reforçando-se e conduzindo a círculos viciosos ou virtuosos, conforme o caso.

O presente trabalho pretende verificar como a distância tecnológica influencia na adoção, interfronteiras, de novas tecnologias no sistema de ensino de uma IES em um país em vias de desenvolvimento industrial, procurando, basicamente, identificar os fatores facilitadores e dificultadores.

No presente estudo será utilizado o modelo CAGE, proposto por Pankaj Ghemawat. A globalização é a principal área de interesse de Ghemawat. Sua principal tese é a de que o mundo não é plano, contradizendo diretamente o best-seller de Thomas Friedman, cujo título é “O mundo é plano – uma breve história do século XXI" (Editora Objetiva, 2006).

Ghemawat diz que as empresas com um alcance global precisam prestar atenção nas diferenças regionais e modificar suas estratégias nesse sentido. Ele afirma que, se o mundo realmente fosse plano, o investimento estrangeiro direto seria responsável por uma porcentagem muito maior do investimento global do que os meros 10% que representa atualmente. Diz ainda que essas diferenças não devem necessariamente ser vistas como um obstáculo, e ressalta que elas são a fonte de oportunidades comerciais da qual as empresas podem tirar proveito. Ele teme que acreditar que um mundo plano levaria a um tamanho único para todas as estratégias; isso pode explicar por que tantas empresas estão desapontadas com o desempenho de suas operações no exterior (GHEMAWAT, 2007).

Ghemawat refere-se às barreiras como "distâncias" e identifica quatro tipos básicos que formam uma estrutura que ele chamou de CAGE: cultural, administrativa, geográfica e econômica.

Adotando a tipologia de CAGE acima citada, este trabalho pretende analisar como a distância tecnológica podem influenciar na adoção interfronteiras de novas tecnologias no sistema de ensino de uma IES de um país em vias de desenvolvimento industrial.

2. Referencial teórico

2.1 transferência de tecnologia entre PDI e PVDI

O presente trabalho trata não somente de transferência de tecnologia, mas mais especificamente a transferência de tecnologia entre países com diferentes níveis de desenvolvimento industrial. Assim sendo, pretende-se, neste capítulo, além de apresentar o referencial sobre transferência tecnológica, abordar, também, a dificuldade de transferir tecnologia um ambiente internacionalizado e principalmente de PDI (Países Desenvolvidos Industrialmente) para PVDI (Países em vias de Desenvolvimento Industrial).

A transferência de tecnologia é definida como a aquisição, desenvolvimento e utilização de conhecimento tecnológico por outro diferente daquele que o originou (MADU, 1988, p. 53). Outro conceito sobre este tema é o de Ong, que assevera que a transferência de tecnologia é um processo de introduzir um conhecimento tecnológico já existente, onde ele não foi concebido e/ou executado (ONG, 1991, p. 799).

Segundo Kerbal este funcionamento, em modo degradado, é definido como a tecnologia que sofre frequentes rupturas, causando sérios problemas sobre a eficiência da produção e especialmente sobre as condições de trabalho (KERBAL, 1990, p. 369).

Segundo Wisner, um dos efeitos mais redutíveis e mais frequentes de uma transferência de tecnologia mal sucedida é o modo degradado de funcionamento. O modo degradado caracteriza-se pela multiplicidade e diversidade das diferenças entre o dispositivo técnico apresentado pelo transmissor e o realmente adquirido pelo receptor. As variabilidades das atividades são elementos da contingência, que a organização do trabalho e da empresa devem considerar (WISNER, 1997b, p. 245).

Este mesmo autor prefere discorrer sobre a importância da transferência de tecnologia, considerando-a como um poderoso instrumento para muitos países que não têm ainda um desenvolvimento completo de suas economias, (WISNER, 1985, p. 1213) Em outra obra, enfatiza que a transferência de tecnologia é um instrumento essencial do comércio internacional, que acaba de tomar um novo impulso diante da globalização dos mercados (WISNER, PAVARD, et al., 1997a, p. 10).

Países em vias de desenvolvimentos industriais (PVDI) têm transferido e implantado tecnologias de países desenvolvidos industrialmente (PDI), com pouca ou nenhuma modificação para adaptá-las às características do país importador. A transferência de tecnologia, geralmente é considerada por muitos PVDI como o caminho mais rápido e seguro para industrializar-se. Portanto, a transferência de uma tecnologia não significa a mera passagem de uma máquina ou conhecimento de um país a outro, mas sim, a transposição de um conjunto de valores, de métodos de trabalho e de infraestrutura que podem apresentar problemas de adaptação, se a transferência não for previamente planejada (KHALEQUE, 1991, p. 35).

Para os PVDI, a transferência de tecnologia constitui uma das ferramentas mais importantes para alcançar a meta de desenvolvimento econômico, que está ligado a dois objetivos básicos:

  • A eliminação da extrema pobreza, satisfazendo as necessidades básicas do homem (alimentação, moradia, saúde, emprego e educação);
  • A modernização e crescimento da produção nacional para consumo interno e obtenção de lucro com a exportação (MESHKATI e ROBERTSON, 1986, p. 343).

Atualmente, a ação de transferir tecnologias de PDI para PVDI tornou-se bastante comum, isto porque nenhum PVDI pode esperar que seus cidadãos criassem a base de conhecimento requerida para projetar as tecnologias necessárias ao seu desenvolvimento industrial, dado que elas já existem nos PDI. A solução passa, então, pela aquisição de tecnologias, o que, para muitos países, torna-se a única forma de darem um salto em termos de produtividade, qualidade e competitividade.

A competição no ambiente internacional é hoje um fato. Novas formas de competição, como de cooperação, se estabelecem entre grupos econômicos devido à ampliação do processo de oligopolização em nível internacional, visando à divisão do mercado mundial. Esta constatação leva ao reconhecimento da importância das novas tecnologias na reestruturação dos setores produtivos.

Desta maneira, as empresas dos PVDI veem-se na necessidade crescente de desenvolver seus parques industriais, optando cada vez mais pela transferência de tecnologia, com o intuito de se tornarem mais produtivas e eficientes, a fim de competirem com perspectiva de sucesso tanto no mercado interno como no externo. Mas os resultados obtidos com este processo nem sempre satisfazem às expectativas do comprador, uma vez que a tecnologia transferida ou funciona de modo degradado, ou só funcionou no momento da operação piloto.

A adoção de novas tecnologias muitas vezes leva a grandes alterações nas empresas. “Novas tecnologias vão sempre provocar mudanças no ambiente social da organização e é difícil imaginar alguma inovação tecnológica que pudesse ser introduzida na empresa sem provocar algum efeito” (GONÇALVES, 1994, p. 66). Essas mudanças podem se referir à estrutura organizacional, à alocação de recursos ou à distribuição de tarefas entre as pessoas. Podem ocorrer, também, mudanças de comportamento nas pessoas, com o surgimento de resistências e reações negativas. Como também, as novas tecnologias, ao serem adotadas, podem deparar-se com uma serie de barreiras que inibem ou restringem sua adoção e, também, com facilitadores que viabilizam e favorecem sua absorção.

A transferência de uma tecnologia requer, de alguma forma, a aprendizagem e adaptação por parte da organização receptora, que pode ocorrer pelo fazer ou pelo uso (o que tem sido abordado nas teorias de "learning by doing" - aprender fazendo - e "learning by using" - aprender usando), apresentadas por Polanyi (1966), Senker (1993), Pavitt (1998) e Nonaka (1994), ou pelo estudo dos documentos técnicos e da literatura científica e tecnológica, em relação a uma determinada tecnologia ou transferência tecnológica. Embora um indivíduo possa entender como uma determinada tecnologia opera, para fazê-la funcionar é necessário o suporte de diferentes componentes, como a aquisição de conhecimento experimental (empírico, pragmático), habilidades pessoais e técnicas, criatividade e perícias (expertise), ideias técnicas, documentos, informações e dados, equipamentos, protótipos, designs e códigos computacionais, etc., ou seja, a transferência de tecnologia inclui a transferência de uma combinação de conhecimentos tácito, prático e codificado (explícito). A ausência, interferência ou insuficiência de algum destes componentes leva a uma distância entre os atores – a uma distância tecnológica.

Para o estudo realizado neste trabalho, pretende-se analisar estas distâncias tecnológicas que podem facilitar ou inibir a adoção de uma nova tecnologia, utilizando-se a estrutura CAGE de Ghemawat, sobre a qual passa-se a discorrer a seguir.

2.2 Distância tecnológica

Apesar de muito citado e utilizado por diversos autores, não se encontra uma definição formal para o conceito de distância tecnológica. O primeiro conceito de distância entre países de origem e alvo surgiu em 1975 utilizando o termo “distância psíquica” que determina as escolhas de investimento em internacionalização e exportação de uma empresa (JOHANSON e WIEDERSHEIM-PAUL, 1975). A distância psíquica é a soma dos fatores que interferem no fluxo de informação entre os países, como por exemplo: diferenças de linguagem, cultura, história, valores, crenças, sistemas políticos, etc. Quanto maior é a distância psíquica, maior é a dificuldade de se construir relacionamentos. Levam-se anos para construir um bom relacionamento, pois eles são socialmente construídos. Deficiências no conhecimento do mercado institucional, como dificuldade de conhecimento das leis, do idioma, das regras e etc. impactam a distância psíquica entre as instituições envolvidas.

Em geral, as empresas abrem unidades próximas à sua matriz para, posteriormente, se inserir em países mais distantes, com culturas e hábitos distintos. Normalmente iniciam suas atividades em outro país com baixo envolvimento e comprometimento e, com base nos resultados, o comprometimento vai sendo aprimorado. As negociações iniciais costumam acontecer aos poucos e vão aumentando até o momento em que a empresa tenha interesse em abrir uma unidade naquele país. Com o passar do tempo a empresa se torna experiente em adentrar em outros países e com isso é desenvolvido um melhor entendimento sobre o impacto da distância psíquica. Após desenvolver esse entendimento, as empresas costumam se sentir mais confiantes e então a expansão em diferentes países se torna mais rápida. Mesmo para as empresas e também para os profissionais que possuem grande experiência em adentrar em diferentes culturas, a distância psíquica ainda é considerado um item crítico (JOHANSON e VAHLNE, 2009).

Entre 1986 e 1996, Jaffe, Krugmann e Adams citaram que o conceito de distância tecnológica refere-se a situações em que existem diferenças em termos de produtividade, custo de aprendizagem, nível de concorrência e tamanho da empresa. Dizem ainda, estes autores, que a distância tecnológica não é muito encontrada a nível horizontal, como por exemplo, nos distritos industriais, os quais se caracterizam por uma estrutura industrial altamente homogênea e onde as diferenças de produtividade e as características da força de trabalho não são significativas entre empresas (ADAMS e JEFFE, 1996; JAFFE, 1986; KRUGMANN, 1991).

Em 2006, Pari Patel introduz o conceito de “proximidade tecnológica”, considerando que as capacidades tecnológicas das empresas são complexas e multidisciplinares e que as empresas têm uma probabilidade maior de encontrar capacidades parecidas em empresas do mesmo setor industrial. (PATEL, 2006)

Face às intensas transformações que sofrem as sociedades industriais, exige-se uma adoção cada vez maior de informações que subsidiem o conhecimento de novas tecnologias.

Neste trabalho, através do modelo CAGE, procurar-se-a identificar as diferenças centrais em um cenário específico de um processo de difusão de tecnologia.

2.3 A estrutura de distâncias cage

Em um processo de internacionalização, sem dúvida, é muito importante que as semelhanças entre os atores do processo sejam exploradas e aproveitadas. Entretanto, também é fundamental que as diferenças sejam tratadas, que as crenças, atitudes e valores locais sejam entendidos, consolidados e incorporados ao processo (internalizados).

Neste mundo atual as fronteiras continuam a ter importância, e é nelas – nas fronteiras – que surgem as maiores diferenças.  Ghemawat (2007) sugere que em lugar de tratar as semelhanças e diferenças em termos absolutos, podem-se ter graus de diferenças em termos de distancias entre países em uma serie de dimensões – Culturais, Administrativas/Políticas, Geográficas e Econômicas (CAGE). Ele indicou que as empresas muitas vezes têm uma percepção exagerada da atratividade dos mercados estrangeiros, e mostrou que esta certa "distância" entre os países que fazem comércio internacional entre si são cada vez mais relevantes em diferentes setores.

Como resultado, a estrutura CAGE não apenas ajuda a identificar as diferenças centrais em cenários específicos, mas também possibilita entender as diferenças nas diferenças, proporcionando uma base para se distinguir países relativamente próximos, segundo suas dimensões fundamentais, dos que são relativamente distantes.

Ghemawat defende uma estratégia que lida com essas distâncias e utiliza uma combinação sob medida de três maneiras básicas de adicionar valor em um mundo onde as diferenças ainda são importantes: adaptação, agregação e arbitragem. A adaptação envolve ajustar o seu modelo de negócios e ofertas de produtos para diferentes necessidades e gostos de todo o mundo. Ele pode assumir a forma de variação do produto, produto ou redesenho de negócios para reduzir a quantidade de complexidade, a externalização, e várias formas de inovação. A agregação reconhece que, embora existam grandes diferenças nas fronteiras, o grau de diferença varia muito e, portanto, frequentemente, operações do grupo, minimizam as diferenças dentro de um conjunto de países ou de algum outro grupo. Finalmente, a arbitragem pode ser construída ao redor dos quatro tipos de distâncias: cultural, administrativa, geográfica e econômica.

Como citado acima, a estrutura CAGE é uma sigla para quatro componentes amplos da distância: cultural, administrativo, geográfico e econômico. Estes quatro componentes frequentemente se mesclam, mas, ainda assim, é interessante se fazer a distinção entre eles porque as suas bases são muito diferentes.

2.3.1 Distância Cultural

A distância cultural é frequentemente subestimada nos processos de internacionalização. Esta distância refere-se à forma como os indivíduos, empresas e instituições interagem uns com os outros. Existe uma grande diferença cultural entre as diversas regiões, ou seja, cada região possui características peculiares. Quando se refere à internacionalização, essas diferenças ficam muito mais acentuadas, pois os costumes e culturas vão aumentando à medida que as distâncias aumentam também. Segundo Aurélio Buarque de Holanda, distancia cultural é “o complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições, das manifestações artísticas, intelectuais, etc., transmitidos coletivamente, e típicos de uma sociedade” (FERREIRA, 2004, p. 280). Conforme Minervini “o conhecimento do idioma, as técnicas comerciais, a sintonia com o parceiro, entender a cultura e outras coisas mais, são partes fundamentais da gestão do mercado internacional.” (MINERVINI, 2004, p. 99)

Cultura é o conjunto de manifestações sociais, linguísticas, artísticas e comportamentais de um povo ou civilização. Possuem dois tipos de movimentação cultural dentro do processo de internacionalização: o primeiro é a adaptação tanto da empresa como dos profissionais a novas culturas; e a segunda é fazer com que o mercado almejado aceite pouco a pouco nossa cultura e nossos valores por meio de nossos produtos e até por meio de práticas administrativas e estilos gerenciais.

A negociação pode ser mais do que apenas fazer negócios: Concretizar negócios é muito mais que somente negociar, é socializar, estabelecer laços de amizade (em alguns países como os latinos, por exemplo), é conhecer o perfil do empresário, o protocolo e depois os detalhes. (MINERVINI, 2004, p. 99)

O maior desafio das organizações que operam no comércio internacional é tornar suas empresas e seus profissionais mais flexíveis de forma que os colaboradores não tenham resistência no momento em que estiverem em contato com outras culturas. A organização multicultural facilita este intercâmbio entre costumes diversos sem que haja conflito entre os colaboradores.

Na estrutura CAGE, o termo cultura refere-se aos atributos de uma sociedade que são sustentados principalmente pelas interações entre as pessoas, em lugar de pelo estado, na condição de instituição que formula e aplica as leis. Os efeitos das línguas são os mais óbvios, mas podem ser incluídas diferenças étnicas e religiosas, falta de confiança e variações no igualitarismo (definido como intolerância da sociedade para com os abusos de poder de mercado ou político). Outros atributos culturais são muito idiossincráticos ou sutis, no sentido de que são quase invisíveis, até mesmo àqueles cujo comportamento orienta (por exemplo, preferência por determinadas cores).

DISTÂNCIA CULTURAL

Pares de países

(bilateral)

  • Idiomas diferentes
  • Etnias diferentes; falta de conexão entre redes étnicas ou sociais.
  • Religiões diferentes
  • Falta de confiança
  • Valores, normas e disposições diferentes

Países

(Unilateral ou Multilateral)

  • Isolamento
  • Tradicionalismo

Quadro 1– Resumo da Distância Cultural
Fonte: Adaptado de (GHEMAWAT, 2007)

2.3.2 Distância Administrativa

A distância administrativa é menos percebida que as distâncias econômicas e geográficas. A distância administrativa envolve associações históricas e políticas compartilhadas por diferentes países

Os atributos administrativos incluem as leis, políticas e as instituições que geralmente surgem de um processo político e são instituídas ou aplicadas pelos governos. As relações internacionais entre países, incluindo tratados e as organizações internacionais, também são incluídas nesse grupo, com base no fato de que estas relações são sustentadas pelos países que as criam e apoiam.

Um fato a ser observado e que tem relação com o presente trabalho é que estes atributos administrativos e políticos incluem laços coloniais, independente se estes laços já se extinguiram há muito tempo, por razoes que vão desde a familiaridade cultural até semelhanças em sistemas jurídicos. O estudo de Ghemawat mostra que o comércio internacional aumenta em 900% quando existem relações colonizador-colônia, como é o caso da Espanha e América Latina. A menor distância administrativa poderia explicar as grandes empresas espanholas optaram por investir aqui no Brasil, como, por exemplo: Santander, Telefônica, BBVA, Repsol, Agbar, Ibéria dentre outras.

Outro fator administrativo muito importante é pertencer a um bloco comercial comum. Isto poderia explicar porque entre a União Europeia e a América Latina representam 151% do investimento direto estrangeiro de 164 multinacionais industriais catalãs (dados do ano de 2010 – OCDE).

DISTÂNCIA ADMINISTRATIVA

Pares de países

(bilateral)

  • Falta de laços coloniais
  • Falta de um bloco comercial regional em comum
  • Falta de moeda comum
  • Hostilidade política

Países

(Unilateral ou Multilateral)

  • Economia não de mercado ou fechada
  • Tendência a investimentos no mercado doméstico
  • Falta de participação em organizações internacionais
  • Instituições frágeis; corrupção

Quadro 2 – Resumo da Distância Administrativa
Fonte: Adaptado de (GHEMAWAT, 2007)

2.3.3 Distância Geográfica

Esta é a parte da estrutura CAGE em que a maioria das pessoas pensa quando ouve a palavra distância. Entretanto a distância geográfica é mais do que apenas a distância física, outros atributos geográficos devem ser considerados, como por exemplo, fusos horários, clima, acesso ao mar, topografia, etc. Alem disso, também pode ser necessário levar em conta os atributos geográficos construídos pelo homem, como as estruturas de transporte e comunicações de um país, embora possam ser tratados como atributos econômicos em lugar de geográficos. (GHEMAWAT, 2007, p. 56)

A proximidade geográfica é um elemento muito importante e que se destaca quando se olha para a sequencia de um processo de internacionalização.

DISTÂNCIA GEOGRÁFICA

Pares de países

(bilateral)

  • Distância física
  • Falta de fronteira comum
  • Diferenças de fusos horários
  • Diferenças de ambientes em termos de clima e doenças

Países

(Unilateral ou Multilateral)

  • Falta de acesso ao mar
  • Falta de navegabilidade interna
  • Tamanho geográfico
  • Acesso geográfico difícil
  • Ligações de transporte e comunicações frágeis

Quadro 3 – Resumo da Distância Geográfica
Fonte: Adaptado de (GHEMAWAT, 2007)

2.3.4 Distância Econômica

Diz respeito às diferenças que afetam a atividade econômica entre os países, tais como, tamanho do PIB, renda per capita, fluxos de comercio e de investimentos, etc. Interessante ressaltar que os países ricos realizam mais atividades além-fronteiras do que os países pobres (ou menos ricos) e possuem uma renda per capita maior; renda per capita alta que normalmente está atrelada à alta qualificação e custos elevados de mão de obra. Outros fatores de produção, como a terra, os recursos naturais, o capital, a infraestrutura e a informação também pesam na distância econômica em termos de qualidade e custo.

A distância econômica é talvez mais evidente na análise de possibilidades de internacionalização. Por exemplo, quando uma empresa farmacêutica decide internacionalizar poderia estudar a dimensão do mercado em número de consumidores, neste caso a China e a Índia parecem grandes mercados. No entanto, quando se consideram os gastos com produtos farmacêuticos do país, a China, com uma população equivalente a cinco vezes nos Estados Unidos, consome apenas um duodécimo do que os americanos consomem, enquanto a Índia não chega a um vigésimo.

DISTÂNCIA ECONÔMICA

Pares de países

(bilateral)

  • Diferenças entre ricos e pobres
  • Outras diferenças em custo ou qualidade de:
    • Recursos naturais
    • Recursos financeiros
    • Recursos humanos
    • Infraestrutura
    • Informação ou conhecimento

Países

(Unilateral ou Multilateral)

  • Tamanho econômico
  • Renda per capita baixa

Quadro 4 – Resumo da Distância Econômica
Fonte: (GHEMAWAT, 2007)

Em qualquer caso, o argumento central de Ghemawat é que segundo a indústria e as empresas é necessário reavaliar a atratividade de um país tendo em conta os quatro tipos de distâncias – cultural, administrativa, geográfica e econômica. Na verdade, as decisões podem mudar consideravelmente se levarmos em conta tais distâncias.

3. Metodologia

O objeto de estudo no presente trabalho é uma Instituição de Ensino Superior (IES), doravante chamada de IES por questões de confidencialidade. Tal IES foi fundada na Europa na década de 60 e, em 2001, iniciando um processo de expansão internacional, inaugurou uma unidade no Brasil, sendo a sua primeira unidade fora do continente europeu.

Procurando resolver o problema de pesquisa: “Como a distância tecnológica influencia na adoção de novas tecnologias no sistema de ensino de uma instituição de ensino superior em um país em vias de desenvolvimento industrial?”, foi conduzida um estudo exploratório de natureza qualitativa, compreendendo entrevistas em profundidade semi-estruturadas.

As entrevistas semi-estruturadas combinam perguntas abertas e fechadas, onde o informante tem a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto. O pesquisador deve seguir um conjunto de questões previamente definidas, mas ele o faz em um contexto muito semelhante ao de uma conversa informal, ficando atento para dirigir, no momento que achar oportuno, a discussão para o assunto que o interessa fazendo perguntas adicionais para elucidar questões que não ficaram claras ou ajudar a recompor o contexto da entrevista, caso o entrevistado fuja do tema ou tenha dificuldades com ele. Esse tipo de entrevista é muito utilizado quando se deseja delimitar o volume das informações, obtendo assim um direcionamento maior para o tema, intervindo a fim de que os objetivos sejam alcançados.

A principal vantagem da entrevista semi-estruturada é que essa técnica quase sempre produz uma melhor amostra da população de interesse. Ao contrário dos questionários enviados por correio que têm índice de devolução muito baixo, a entrevista tem um índice de respostas bem mais abrangente, uma vez que é mais comum as pessoas aceitarem falar sobre determinados assuntos (SELLTIZ et all, 1987). Outra vantagem diz respeito à dificuldade que muitas pessoas têm de responder por escrito. Neste tipo de entrevista isso não gera nenhum problema, além de permitir a correção de enganos dos entrevistados, os quais muitas vezes não poderiam ser corrigidos no caso da utilização do questionário escrito. Também, a técnica de entrevista semi-estruturada, têm como vantagem a sua elasticidade quanto à duração, permitindo uma cobertura mais profunda sobre determinados assuntos. Além disso, a interação entre o entrevistador e o entrevistado favorece as respostas espontâneas e possibilita uma abertura e proximidade maior entre entrevistador e entrevistado, o que permite ao entrevistador tocar em assuntos mais complexos e delicados, ou seja, quanto menos estruturada a entrevista maior será o favorecimento de uma troca mais afetiva entre as duas partes. Assim sendo, este tipo de entrevista colabora muito na investigação dos aspectos afetivos e valorativos dos informantes que determinam significados pessoais de suas atitudes e comportamentos. As respostas espontâneas dos entrevistados e a maior liberdade que estes têm podem fazer surgir questões inesperadas ao entrevistador que poderão ser de grande utilidade em sua pesquisa.

3.1 Níveis de análise

O objeto de estudo foram diretores, gerentes, funcionários administrativos e corpo docente dos cursos de graduação e pós-graduação em Administração da referida IES.

Para o presente estudo foram entrevistadas as pessoas envolvidas nos processos de direção, administração e docência.

Funcionalmente os elementos de estudo do presente projeto foram divididos em três vertentes básicas: [1] Corpo diretivo (diretores e gerentes); [2] Corpo administrativo e [3] Corpo docente. Cada uma destas vertentes foi subdividida em outros três níveis, de acordo com o grau de instrução:

NÍVEL 1: Entrevistados com curso de graduação em andamento.

NÍVEL 2: Entrevistados obrigatoriamente com curso de graduação completo e com especialização (Pós graduação e MBA) completo ou em andamento.

NÍVEL 3: Entrevistados obrigatoriamente com curso de graduação e especialização completos e com Mestrado, Doutorado ou PhD completos ou em andamento.

As divisões culturais e funcionais acima expostas alem de cobrirem o ambiente vertical e horizontalmente, permitirão, também, uma triangulação dos dados.

3.2 Unidade de análise

Como unidade de análise foi escolhido um processo que está em execução na organização, que é a mudança do Sistema de Controle Acadêmico.

3.3 Elementos de estudo

Foram entrevistadas 43 pessoas, entre administrativos, dirigentes e docentes, sendo 16 pessoas do gênero feminino e 27 do gênero masculino. Este total representa 96% do corpo funcional da IES (43/45). O tempo de entrevista variou de pessoa a pessoa, percebendo-se que este fator (tempo) oscilou, variando principalmente em relação ao tempo de serviço na IES e do consequentemente conhecimento dos procedimentos da IES, sendo que cada entrevista teve uma duração média de 75 (setenta e cinco) minutos.


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1. UFPR  - PPGADM - remonato@ufpr.com
2. Ecole des Hautes Etudes Commerciales - Montreal (2006) – zbalbinot@ufpr.com


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