ISSN-L: 0798-1015 • eISSN: 2739-0071 (En línea)
https://www.revistaespacios.com Pag. 88
Vol. 43 (01) 2022 • Art. 7
Recevido/Received: 16/12/2021 • Aprovado/Approved: 03/01/2022 Publicado/Published: 16/01/2022
DOI: 10.48082/espacios-a22v43n01p07
O Mosaico Norte Mineiro: uma proposta de caracterização
regional (Brasil)
North Mineiro Mosaic: a proposal for regional recategorize (Brazil)
MESQUITA, Virgínia A. N.
1
ARAUJO, Vanessa. M.
2
Resumo
Este artigo apresenta uma proposta de caracterização regional da Mesorregião Norte de Minas de
Gerais. O objetivo é descrever sobre uma nova representação territorial baseada nas semelhanças e
diferenças identificadas na localidade, para isso observam-se as características geográficas, econômicas
e culturais existentes. A metodologia utilizada possui abordagem descritiva, embasada em pesquisa
bibliográfica e documental sobre a história regional. Isto posto, realizou-se a organização das cidades
conforme suas influências, onde evidenciou-se uma proposta de categorias territoriais para a região.
Palavras-chave: Norte de Minas. Desenvolvimento Regional. Economia. Mosaico Norte Mineiro
Abstract
This paper presents a proposal for the regional characterization of the Messoregião Norte de Minas de
Gerais. The objective is to describe a new territorial representation based on the similarities and
differences identified in the locality, for which the existing geographical, economic and cultural
characteristics are observed. The methodology used has a descriptive approach, based on bibliographic
and documentary research on regional history. That said, the cities were organized according to their
influences, where a proposal of territorial categories for the region was evidenced.
Keywords: Northern Minas. Regional Development. Economics. North Mineiro Mosaic
1. Introdução
O território brasileiro possui um vasto espaço geográfico onde é possível identificar de forma proeminente
disparidades regionais não entre os Estados Federativos, mas na própria composição destes. Para que haja
um desenvolvimento equitativo nestas espacialidades, é necessário compreender onde e quais são as
especificidades existentes, por meio da realização de estudos regionais e locais, com o foco em estratégias
eficazes para alavancar as atividades econômicas, culturais e sociais.
O desenvolvimento em Minas Gerais ocorreu de forma heterogênea, cada região buscou meios de criar
mecanismos desenvolvimentistas diante de suas características econômicas, sociais e culturais. As preocupações
1
Economista, Mestra em Sociedade, Ambiente e Território pela Universidade Federal de Minas Gerais UFMG em associação com a Universidade
Estadual de Montes Claros Unimontes, Minas Gerais, Brasil. virginia.nobre@gmail.com
2
Economista, Doutora em Economia, Professora da Universidade Federal de Minas Gerais UFMG Minas Gerais, Brasil. vanessamarzano@gmail.com
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desenvolvimentistas identificadas por vários pensadores da economia nacional e internacional, englobam
permanentes questões para se pensar o desenvolvimento regional, principalmente ao se relacionar com a
superação do “modelo centro-periferia”. Ao olhar o conjunto total regional mineiro, identificam-se ainda regiões
deprimidas, com baixa dinâmica econômica, pobreza e desigualdades de renda e sociais. O quadro do Norte de
Minas é parecido com o que se descreve: a região tem um vasto território com disparidades socioeconômicas
estabelecidas ao longo do tempo.
Ao se levar em consideração que na região as ações estatais foram proeminentes em vários momentos com a
intenção de promover desenvolvimento econômico e social, é necessário que se identifique e analise os
acontecimentos históricos na região em vista das ações governamentais, entendendo as suas especificidades e
formas de abordagem. Com essa compreensão este trabalho, tem como objetivo geral propor uma classificação
dos territórios que compõem a Mesorregião Norte de Minas, em que se identificam os vários “nortes” que fazem
parte das categorias do Mosaico Norte Mineiro. Além disso, busca apontar aspectos históricos relevantes sobre
a região estudada.
O artigo está organizado da seguinte forma além desta introdução: a seção dois (2) apresenta a metodologia
utilizada, no tópico três (3) ocorre uma breve revisão da literatura com as abordagens teóricas do
desenvolvimento regional e no item quatro (4) aponta-se para a existência de vários Nortes evidenciando
também suas características. Por fim, na parte cinco (5) propõem-se a organização do Mosaico Norte Mineiro
com a utilização cartográfica, sequencialmente na seção seis (6) são elaboradas as considerações finais do
trabalho.
2. Metodologia
Nas diversas áreas do conhecimento, o trabalho científico deve ser realizado de maneira imparcial para que se
obtenha resultados mais contundentes da realidade investigada. A metodologia empregada deve ser descrita de
forma detalhada, com a identificação de todos os procedimentos utilizados na construção da pesquisa
(Malinowski, 1976). Para a realização deste estudo, utilizou-se a metodologia da pesquisa exploratória e
descritiva.
(Gil, Como elaborar projetos de pesquisa, 1991) explicou que o principal objetivo das pesquisas exploratórias e
descritivas, são a coleta de informações sobre determinado assunto ou fenômeno explorando o problema em
questão, para que ocorra maior clareza de análise. Este tipo de investigação também é utilizado para descobrir
a associação entre variáveis e a natureza desta relação.
Inicialmente, realizou-se uma pesquisa bibliográfica para o levantamento de informações e identificação do
referencial teórico, tendo em vista que a revisão de literatura produzida permitiria guiar teoricamente a
investigação, a identificação dos conceitos centrais e os temas necessários para a análise do universo empírico.
Segundo (Vasconcelos, 2013, p. 159):
Toda pesquisa acerca de uma realidade empírica exige contextualização, descrição e
avaliação da literatura e da teoria existente sobre o tema, ou seja, uso de material
bibliográfico secundário, mas o objeto principal é constituído por uma realidade
concreta a ser investigada.
Mediante a abordagem exploratória, este estudo adotou procedimentos que envolve a realização de pesquisa
bibliográfica e análise documental. Foi feita a pesquisa em várias fontes bibliográficas impressas, relatórios e
documentos, utilizou-se ainda como fontes outros trabalhos científicos, dissertações, teses e artigos científicos
publicados em meio eletrônico.
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Dessa forma, os instrumentos metodológicos utilizados nesta investigação para alcance dos objetivos foram a)
revisão bibliográfica sobre desenvolvimento e historicidade regional, b) análise de relatórios e documentos
inerentes a temática da pesquisa; c) consulta de dados sobre a conjuntura econômica da região.
3. Desenvolvimento Regional
O debate em torno do desenvolvimento regional tem sido pautado com frequência no mundo e no Brasil, as
várias regiões são estudadas e marcadas pelas muitas diferenças existentes de ordem econômica, social, cultural
entre outras.
O enfoque do desenvolvimento regional é dado pela preocupação em superar problemas que englobam
determinados espaços regionais. Sua abordagem infere-se em pensar estratégias para que se alcance um
desenvolvimento econômico em totalidade, ou seja, em toda região.
Conforme (Silva & Andraz, 2004) é possível reduzir as desigualdades se as atividades econômicas de uma região
forem incentivadas. Devido a existência de tais desigualdades e especificidades regionais, as estratégias para
estimularem as atividades econômicas devem vir acompanhadas da realização de estudos das características
próprias da região em questão, de sua estrutura produtiva, tendências e especialidades.
As teorias de desenvolvimento regional foram influenciadas pelas ideias de Alfred Marshall, John Maynard
Keynes e Joseph Schumpeter estas prosperaram a partir da década de 1950. Os seus principais expoentes foram
(Perroux, 1967), (Myrdal, 1965), (Hirschman, 1961) e (North, 1959) que estudaram os aspectos econômicos na
perspectiva da localização e concentração geográfica das atividades industriais. (Monasterio & Cavalcante, 2011,
p. 63) descrevem que o ponto principal destas teorias está em “algum tipo de mecanismo dinâmico de
autorreforço resultante de externalidades associadas a aglomerações industriais”.
(Hirschman, 1961) apresentou sua visão do processo de desenvolvimento regional identificando que este
acontece por uma sequência de desequilíbrios, onde ele entende a desigualdade como um pré-requisito para
que o mesmo aconteça. Portanto, devido a capacidade de um processo específico de desenvolvimento induzir
novos investimentos, em suas palavras “o desenvolvimento também gera novas forças a partir das tensões que
produz”. Para o autor, um processo de desenvolvimento seria mais eficiente quando ocorresse uma sequência
de desequilíbrios que induziriam a novos investimentos, ou novas políticas públicas orientadas para corrigi-los
de forma dinâmica e sequencial gerando um equilíbrio e um desenvolvimento regional autossustentado.
(Perroux, 1967) formulou a “Teoria dos Polos de Crescimento”, ele também entendia a ocorrência de um
crescimento econômico desequilibrado e concentrado. Sua proposição de polos de crescimento é referência na
formulação de políticas de desenvolvimento regional (Monasterio & Cavalcante, 2011). O teórico explorou e
denominou a existência de indústrias motrizes (principais) e indústrias movidas (dependentes), uma em função
da outra. A sua argumentação se baseia “em pontos ou polos de crescimento, com intensidades variáveis, [onde
este] expande-se por diversos canais e com efeitos finais variáveis sobre toda a economia” (Perroux, 1967, p.
146). Neste contexto a indústria motriz gera contribuição e crescimento para a economia, e induz o
estabelecimento dos polos de crescimento “movendo” e criando as indústrias.
(Myrdal, 1965, p. 39) identifica que “o jogo das forças de mercado opera no sentido da desigualdade”,
identificando a desigualdade como um problema. Conforme o autor, haveria mecanismos que ao serem
acionados, seriam respectivamente, fortalecidos pelas forças de mercado e norteariam as regiões por caminhos
desconformes. A sua “Teoria da Causação Circular Cumulativa” aborda uma “constelação circular de forças, que
tendem a agir e a reagir independentemente”, para o pensador existe uma circularidade das forças, sendo que
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um pequeno choque em determinada variável pode gerar efeitos em todo o sistema e receber resultados de
outras variáveis, é um círculo de efeitos que podem ser “virtuosos” ou “viciosos” (Myrdal, 1965, p. 27).
(North, 1959) acreditava que o desenvolvimento regional seria alcançado por meio de uma atividade de
exportação baseada nas especificidades regionais. Dessa forma, a região fomentaria sua base exportadora,
diante sua economia local provocando o surgimento de polos de distribuição e cidades, estas começariam a
desenvolver atividades de processamento industrial e serviços referentes ao produto de exportação. Em
consequência, melhorariam suas atividades produtivas e fomentariam a diversificação setorial da região,
fortalecendo sua base exportadora promovendo o desenvolvimento regional (Monasterio & Cavalcante, 2011).
No Brasil o processo de desenvolvimento econômico é reconhecido por muitas disparidades regionais. A
literatura acadêmica aponta que as principais atividades produtivas se concentraram na região centro-sul do
país, especialmente na região Sudeste. Nas décadas de 1960 e 1970, as ações desenvolvimentistas foram
realizadas através da criação de superintendências regionais, com o objetivo de minimizar as diferenças
regionais, entretanto, seus resultados não foram satisfatórios a ponto de minimizar efetivamente as
desigualdades no território brasileiro. na década de 1980, ocorreu à crise da dívida externa, causando uma
diminuição das ações do Estado e reduzindo a preocupação com as questões das diferenças econômicas
regionais. Em 1990, o país passou por uma intensa abertura comercial, que mais uma vez estimulou e favoreceu
a concentração das atividades produtivas nas áreas que já se destacavam e com a melhor infraestrutura (Araújo,
Ensaios sobre o desenvolvimento brasileiro: heranças e urgências, 2000).
O desenvolvimento regional é uma ocorrência multidimensional que compreende os diversos âmbitos da
sociedade. É também uma forma de se pensar a realidade, de compreender a intervenção humana no território
e o comportamento social no espaço (Tenório, Gestão Social: metodologia e casos, 2007) existem dois
direcionamentos para o desenvolvimento regional, um do ponto de vista econômico e outro do social.
A primeira orientação com enfoque econômico privilegia as relações intermediadas pelos interesses de mercado
e pelas trocas neste contexto, o desenvolvimento local acaba sendo um processo interno de expansão da
capacidade produtiva de determinada região. Dessa maneira, a capacidade de absorver o excedente econômico
gerado nesta economia local ou atração de excedentes de outras regiões amplia a renda, o emprego e o produto,
e como resultado promove o desenvolvimento da região. A segunda orientação é baseada na natureza social,
onde o modelo de desenvolvimento regional perpassa a mensuração de variáveis econômicas. Essa diretriz
considera as potencialidades regionais, vinculadas aos fatores sociais, naturais, econômicos e institucionais da
região, todos devem ser incluídos e estimulados para o alcance do desenvolvimento regional (Tenório, Cidadania
e Desenvolvimento Local, 2007).
Um “desenvolvimento [econômico] harmônico das regiões brasileiras requer um projeto diferente do que
implantamos no século passado: requer olhar para todo o país e patrocinar as potencialidades que existem Brasil
a fora” (Araújo, 2009). A criação de uma sinergia entre as políticas acerca do tema é um dos requisitos mais
importantes para a prática de boas políticas regionais. Dessa forma, valorizar a diversidade regional brasileira é
um caminho estratégico assertivo para promover um desenvolvimento regionalmente mais harmônico.
(Oliveira, 2000) e (Rodrigues, 2000) apontam que a estrutura econômica e as condições de vida da população do
Norte de Minas são muito heterogêneas, semelhantes a estrutura brasileira e aos processos de desenvolvimento.
Observa-se uma disparidade produtiva, que de certa forma influencia na desigualdade regional que subsiste
nesta localidade. Identifica-se a região como subdesenvolvida e, que o seu processo de integração e
desenvolvimento, influiu no aumento da concentração de renda e das desigualdades sociais. Diante disso, é
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necessário compreender sobre as prospecções realizadas e possibilidades desenvolvimentistas para o Norte de
Minas Gerais.
4. Os vários Nortes de Minas: Caracterização da Mesorregião
O processo de desenvolvimento das regiões em Minas Gerais não foi homogêneo, fato este que reflete
particularidades de cada território mineiro, onde se viu unidade política e heterogeneidade econômica e cultural.
(Wirth, 1982) ao escrever sobre o Estado de Minas Gerais constrói a ideia de um mosaico mineiro, devido as
regiões possuírem características distintas. Para o autor eram várias Minas (várias sub-regiões dentro da mesma
região) com diversidade populacional, ambiental e econômica.
Essa dispersão territorial promoveu disparidades no processo de desenvolvimento econômico em todo Estado,
como (Diniz C. C., Estado e capital estrangeiro na industrialização mineira, 1981) salienta, estas muitas diferenças
no território criaram um mercado espalhado o que, por consequência, produz atividades econômicas dispersas,
que se tornam um problema de gestão e eficiência devido a esta espacialidade econômica.
Segundo (Dulci, Guerra Fiscal, desenvolvimento desigual e relações federativas no Brasil, 2002), ocorreram
quatro fases na evolução da política de desenvolvimento em Minas Gerais entre o recorte temporal de 1920 a
1960. A primeira fase caracteriza-se pela diversificação agrícola (até 1940); a segunda, pela expansão industrial
(1941 a 1946); a terceira, pela busca de equilíbrio entre agricultura e indústria (1947 a 1950) e a quarta fase, em
que o foco foi valorizar a especialização industrial (1951 a 1960). Destacam-se três traços no modelo de
desenvolvimento em Minas Gerais: a especialização produtiva, a participação de capital estrangeiro e o papel
central do Estado (Pereira L. A., 2007).
Em se tratando especificamente do Norte de Minas, constitui-se em uma mesorregião, ocupando uma área
territorial de 128.602 km2, compreendendo 89 municípios, (Pereira L. A., 2007, p. 94), a descreve como:
“um espaço singular no contexto estadual, seja pelas características fisiográficas que
apresenta, seja pelas condições socioeconômicas ou, ainda, pela constante intervenção
estatal que nele tem ocorrido. Tal região é ora descrita como cheia de potencialidades,
ora como bolsão de pobreza. O que há de real nesses discursos? ”
Existem vários fatores naturais, culturais, econômicos e políticos que são considerados para conhecimento de
uma região. O Norte de Minas se inclui nas Minas dos Gerais, em uma região de configuração dual em muitos
aspectos, como exemplo “tanto de pobreza quanto de riqueza, modernidade e tradicionalismo, produção e
escassez, discursos e realidade” (Gervaise, 1975, p. 19).
(Pereira L. A., 2007, p. 94) considera que “o Norte de Minas apresenta talvez o mais espetacular dualismo do
Estado a imagem de dinamismo se superpõe a uma tradição de atraso que caracteriza toda a metade norte do
Estado”.
Em Minas Gerais a palavra sertão passou a referir-se à grande área ao norte, esta era considerada como uma
região com problemas sociais e econômicos: sertão mineiro é também um espaço estigmatizado pelo seu atraso
econômico, arcaísmo social e político, violência, ainda hoje considerado base do clientelismo político e de
práticas populistas (França & Soares, 2006) em contraponto existia uma ideologia de prospecção de
desenvolvimento e de potencialidades para isso.
O que marca o processo de expansão populacional no sertão norte mineiro é a instalação de ferrovias no início
do século XX em Montes Claros e Pirapora, o que viabilizou a comercialização dos produtos e um maior
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intercâmbio entre os municípios da região, além de uma dinamização e integração econômica com todo país.
Vale dizer que a estrutura produtiva regional não se alterou de forma significativa até meados do século XX, mas
foi nesse contexto que Montes Claros começou a alcançar uma posição de centro econômico e político regional
do Norte de Minas (Lessa, 1993).
Considerando a região do Norte de Minas destaca-se o município de Montes Claros como principal centro
econômico regional, dos 88 restantes destacam-se os municípios de Janaúba, Bocaiúva, Januária, Pirapora e
Salinas que possuem um bom nível de representatividade econômica (Fundação João Pinheiro, 2016).
A construção da estrada de ferro, responsável por ligar o Centro-Sul ao Nordeste pelo Norte de Minas e pelo
interior da Bahia, trouxe várias transformações que, a partir da década de 1930 mudaram sua relação com o
restante do país. Pode-se constatar que através da interligação ferroviária iniciou-se um processo de
modernização da economia regional (Cardoso, 1996).
Até a década de 1950, a região Norte de Minas era vista como uma região com problemas sociais e econômicos.
Nessa época, em sintonia com o ideário desenvolvimentista que tomava conta do país, os grupos dirigentes do
Norte de Minas articularam-se para atrair à região os recursos estaduais e federais. O papel da elite regional foi
fundamental e contribuiu para o crescimento econômico e tradicionalidade identificada na região, (Pereira A.
M., 2018, p. 38) aponta as seguintes ações da elite norte mineira e quem são os agentes:
Os proprietários rurais, os comerciantes e alguns industriais da região começaram a se
organizar na década de 1940, tendo o município de Montes Claros como centro
principal de reunião e mobilização. Em 1944, os principais fazendeiros criaram a
Sociedade Agropecuária de Montes Claros (posteriormente transformada em
Sociedade Rural de Montes Claros), sob a liderança de Geraldo Athayde. Em 1949,
comerciantes e industriais fundaram a Associação Comercial e Industrial de Montes
Claros, tendo como primeiro presidente Plínio Ribeiro dos Santos. Embora criadas
formalmente para representar segmentos diferentes, as duas entidades eram
integradas por um diversificado conjunto de pessoas. Da Sociedade Rural,
participavam, além de proprietários rurais, médicos, advogados, farmacêuticos e
comerciantes. O mesmo se repete na constituição da ACI Essa característica não se
modificou com a industrialização.
O papel das elites regionais, em seus diversos segmentos, ao longo de todo o período, é visto por uma
participação ativa na implementação do modelo vigente à época via industrialização por fomento do Estado.
Sendo assim, observa-se que as estratégias de atuação das elites regionais são homogêneas, os deres da
pecuária, da política e do comércio se tornam os líderes da indústria (embora tenha atraído líderes
extrarregionais), logo não competição e sim continuidade e integração dos mesmos. Os novos espaços, que
surgiram com a chegada da indústria, foram ocupados por essa elite que reproduziu o mesmo modelo econômico
e social de desenvolvimento em qualquer setor produtivo da região.
O reconhecimento do papel ativo das elites regionais não equivale a desconsiderar as implicações de ordem
nacional presentes na industrialização da Mesorregião Norte de Minas, a qual também ocorreu por razões
nacionais e internacionais, pela dinâmica do desenvolvimento do capitalismo no país e em suas relações com o
capital internacional.
O acontecimento que consensualmente foi um divisor de águas na mesorregião se deu na segunda metade do
século XX, década de 1960, quando o Estado e a União projetaram a região norte-mineira dentro da área de
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atuação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste Sudene, em que os incentivos fiscais e
financeiros foram destinados à modernização do campo e à industrialização.
Sobre o processo de desenvolvimento da região e o seu impacto para a população sertaneja, (Dayrell, 1998, p.
191) diz que:
O processo de “desenvolvimento” recente nessa região, considerada uma das mais
pobres do estado, foi conduzido pelo poder público e não levou em consideração as
populações camponesas, indígenas, quilombolas, pescadores, coletores, etc. que
viviam secularmente. Privilegiando as oligarquias tradicionais e os setores industriais e
agroindustriais da sociedade, deu-se início a modernização da região. Foram
priorizados investimentos públicos e financiamentos subsidiados destinados a
grandes projetos de pecuária, irrigação, reflorestamentos monoculturais, estímulo a
monocultura do algodão, difusão de práticas agrícolas ditas modernas, associados
com a instalação de um parque agroindustrial, e de indústrias extrativas e de ponta
(biotecnologia, veterinária e ótica, etc.) [Grifo nosso].
Segundo, (Moreira, 2010, p. 23) a partir da existência da Sudene, os incentivos fiscais e financeiros possibilitaram
a modernização da estrutura socioeconômica e político-cultural regional, houve:
“a expansão das relações capitalistas de produção apoiadas nas ações governamentais
propiciaram: mercantilização da terra, a transformação da fazenda em empresa rural
passível de investimentos e financiamentos incentivados, a industrialização de algumas
cidades regionais e a implantação de projetos de irrigação tanto institucionais (Jaíba e
Gorutuba) quanto privados.”
Durante a década de 1960 ocorreram ações que visavam preparar a região para industrialização. Neste período,
foi construída uma infraestrutura básica que deu suporte aos projetos industriais. Em 1965 foi concluída a ligação
elétrica das cidades de Montes Claros e Pirapora com o sistema Três Marias, e em 1972, foi inaugurada a
pavimentação asfáltica entre Montes Claros e Corinto, interligando a região com a BR 040 e com Belo Horizonte.
Também, na segunda metade dos anos 1960, foi implantado o distrito industrial de Montes Claros e iniciado o
de Pirapora. O principal fator na atração de investimentos foram os incentivos fiscais. Havia incentivos nas três
esferas do Estado, com destaque para isenção do Imposto de Renda por até 15 anos (Federal), reembolso de
60% do ICMS por cinco anos (Estadual) e isenção de todos os impostos municipais (casos de Montes Claros e
Pirapora) (Oliveira, 2000).
Segundo (Cardoso, 1996) o Norte de Minas apresentou três fases bem diferentes em sua configuração espacial,
econômica e produtiva. A primeira fase se deu por meio do povoamento, ocupação da região até a criação da
Sudene, as atividades características deste período são descritas como pecuária extensiva por meio da expansão
dos currais de boi, produção agrícola de subsistência, produção agropastoril para abastecimento das áreas
mineradoras entre outras.
a segunda fase ocorre no período da década de 1960 com a preparação da região para o recebimento dos
novos capitais trazidos pela Sudene com o objetivo de reinserir a região no eixo produtivo nacional. O destaque
das atividades fica pelo fomento do Estado em incentivar e fortalecer a industrialização no Norte de Minas.
A terceira fase compreende as décadas de 1970, 1980 e 1990 onde tem-se uma nova configuração econômica
na região em resposta aos programas e políticas implementadas. Vale destacar que é neste momento que
acontece e se percebe mudanças significativas na realidade econômica. Observa-se o desenvolvimento de todos
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os setores (primário, secundário e terciário) na representatividade econômica, com a chegada de indústrias
diversas, carvoarias e reflorestamentos intensos, projetos agroindustriais e de fruticulturas e aumento do grau
de urbanização (Pereira L. A., 2007).
5. Resultados e discussão
5.1. O mosaico Norte Mineiro
Conforme Tabela 1, o desenvolvimento da mesorregião segundo o IFD - M se enquadra como moderado, isso
pelo parâmetro da FIRJAN que classifica os municípios com IFDM entre 0,6 e 0,8 com o estágio de
desenvolvimento moderado. A classificação moderada é predominante em todos os anos (2011 a 2016)
atingindo a média de 0,6261, ao longo desse período ocorreram aumentos gradativos, porém, o índice ficou
muito mais próximo de 0,6 do que de 0,8 expressando um nível de desenvolvimento estacional. O PIB M
apresentou melhorias ao longo do tempo, com acréscimo de mais de 8 milhões para o último ano (2016), o que
representa um leve crescimento econômico para a localidade. Em relação ao PIB M per capita, este diante do
seu cálculo (divisão da atividade produtiva pela população) auxilia na demonstração do nível de desenvolvimento
local, os valores na Tabela 1 revelaram que o Norte de Minas possuiu uma tendência de aumento no nível de
produção econômica territorial por pessoa, o incremento ao longo da série histórica é de R$2.655,5 por
habitante.
Tabela 1
Índice FIRJAN de Desenvolvimento Mesorregional (IFD-M), Produto Interno Bruto (PIB-M) e Produto Interno
Bruto per capita (PIB PC), Norte de Minas, 2011 -2016
Ano
IFDMesorregional
(média anual)
PIB Mesorregional
(R$ à preços correntes)
PIB Mesorregional - PC
2011
0.6012
15.205.872,96
5.804,28
2012
0.6269
18.948.239,01
-
2013
0.6362
19.128.049,01
-
2014
0.6307
20.861.547,37
-
2015
0.6198
21.276.028,44
-
2016
0.6423
23.651.818,51
8.459,78
Fonte: Elaborado por (Nunes, 2019) a partir dos dados do Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal e do IMRS da
Fundação João Pinheiro, 2019. Adaptado.
Com a exposição destes indicadores e com o entendimento que o desenvolvimento tem sido moderado no Norte
de Minas, organizou-se a mesorregião por localidades que representam os vários “nortes”, isso por meio das
suas disparidades e correspondências identificadas na realização da pesquisa. Elaborou-se esta divisão através
dos seus pontos regionais com inferências comuns (seja proximidade, economia, ritos culturais e formatos de
vida) ou áreas de influência econômica; inspirado nas diversas categorizações existentes, construiu-se perante a
literatura destas nomenclaturas locais do Norte de Minas: o Mosaico Norte Mineiro (Mapa 1).
O mosaico norte mineiro foi organizado em cinco categorias regionais norte mineiras, são elas: Polos Industriais,
Vale do São Francisco Os Gerais, Vale das Águas, Alto Rio Pardo e Riquezas Naturais e Minerais do Norte de
Minas, em cada uma descreve-se brevemente suas principais características. A intenção é de clarificar e apontar,
as particularidades dessa região, detalhando de forma objetiva os vários “nortes” que a compõe.
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Mapa 1
Mosaico Norte Mineiro
Fonte: Elaboração própria, 2019
5.2. Polos Industriais
Nesta região se encontram os municípios que absorveram incrementos estatais e possuem um pequeno distrito
industrial. Portanto, nela estão inseridos os municípios que possuem indústrias e podem vir a se tornar potenciais
polos industriais. Destaca-se Montes Claros, com o maior e melhor distrito industrial, com maior diversificação
de indústrias e maior geração de empregos neste segmento, este município já é considerado como polo industrial
regional.
A industrialização incentivada conectou a economia norte mineira ao modelo industrial. Contudo, em escala
regional, essa estratégia promoveu a concentração geográfica das indústrias; apenas Pirapora e Várzea da Palma
que estão à margem do Rio São Francisco e levemente afastadas das demais, mas as outras como mostra o Mapa
2 são municípios próximos.
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Mapa 2
Polos Industriais
Fonte: Elaboração própria, 2019.
As atividades econômicas desenvolvidas neste território estão relacionadas à extração de ferro-liga, metalurgia,
reflorestamento, têxteis, confecção, frutas, produtos farmacêuticos, minerais não metálicos, entre outros.
O setor de farmoquímicos e farmacêuticos do Norte de Minas, por exemplo, possui grande peso no estado, na
geração de empregos e exportação, com destaque para a indústria de fabricação de vacinas e insumos de saúde
animal em Montes Claros. De acordo com dados do (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, 2019)
este setor representou em 2012 cerca de 43,82% dos produtos exportados na mesorregião Norte de Minas,
seguidos pelos produtos químicos inorgânicos, com cerca de 32,26%. Na sequência, tem-se ferro fundido, ferro
e aço, com 11,34%; sementes e frutos oleaginosos, cujo percentual é de 5,07%; veículos e peças para veículos,
com participação de 2,14% e, por fim, os demais produtos, com cerca de 5,38%.
Os polos industriais em construção que foram identificados na mesorregião foram os municípios de Bocaiúva,
Capitão Éneas, Espinosa, Francisco Sá, Pirapora, Taiobeiras e Várzea da Palma.
5.3. Vale do Rio São Francisco: Os Gerais
Representado pelos munícipios do Norte de Minas que possuem influência “são franciscana”, conforme Mapa 3.
Segundo (Cabral, 1985, p. 88) nesta região tem-se os “gerais” e os “geralistas”, a diferença decorre por ser uma
região maior que as demais, e como muitas semelhanças e diferenças. Compreende grande parte do Norte de
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Minas, o que permite dizer que os gerais fazem parte da essência norte mineira. Assim, “ [nesta região] existem
os meio ageraisados e os gerais propriamente ditos”.
os Gerais, os “geraizeiros” se encontram nas proximidades do correr do Rio São Francisco, são os barranqueiros
e populações ribeirinhas, neste envolto atuam na agricultura familiar, na pesca e comércio. São muitos os cursos
d’água que descem dos “boqueirões” para desaguar no rio São Francisco, e pelo caminho são encontradas
veredas, vazantes e vales. Estes se adaptaram com sabedoria às características do bioma e às suas possibilidades
de produção. Muitas vezes, eles dividem uma propriedade comum, conhecida como quintais, onde plantam e
criam animais. Dessa forma, garantem o sustento familiar e comunitário. O excedente é comercializado em
comunidades vizinhas ou em feiras (Rede Cerrado, 2019).
Mapa 3
Vale do São Francisco: os Gerais
Fonte: Elaboração própria, 2019.
Os ageraisados/geralistas estão localizados nas terras mais afastados do Rio São Francisco, possui uma vegetação
mais densa, com porte de madeira expressivo. Engloba chapadas do cerrado com boa pastagem para o gado que
cobre boa parte do território, são exemplos os municípios de Jequitaí, Coração de Jesus, São João da Ponte,
Brasília de Minas, Varzelândia, Mirabela, entre outros (Cabral, 1985).
5.4. Riquezas Naturais e Minerais do Norte de Minas
Esta composição dos municípios no mosaico norte mineiro, representam as localidades em que se encontram a
instalação de atividades de mineração (por exemplo na cidade de Riacho dos Machados), além de compreender
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em seu ambiente várias cachoeiras, grutas, montanhas entre outras paisagens com grande potencial turístico. O
Mapa 4 apresenta a regionalização das Riquezas Naturais e Minerais do Norte de Minas.
Mapa 4
Riquezas Naturais e Minerais do Norte de Minas
Fonte: Elaboração própria, 2019.
A região Norte de Minas não tem somente minério de ferro. Foram identificadas ocorrências de níquel, apatita
(fosfato), granitos, mármores, terras raras, manganês, rochas ornamentais, lítio, diamante e sílica (quartzo). Isto
sem contar as jazidas de gás natural, que vão permitir a instalação de empresas não só para uso direto do gás,
como também para produção de energia (Verbete, 2012).
5.5. Alto Rio Pardo
Região definida nos parâmetros microrregionais do (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010),
possui características agroextrativista e muitas plantações de eucalipto em seu território. Sua área é de transição
entre os biomas Cerrado e Caatinga, o Alto Rio Pardo (Mapa 5) abrange uma região de 16.502,30 Km² envolvendo
15 municípios mineiros: Vargem Grande do Rio Pardo, Curral de Dentro, Fruta de Leite, Indaiabira, Rio Pardo de
Minas, Santa Cruz de Salinas, Santo Antônio do Retiro, Berizal, Montezuma, Ninheira, Novorizonte, Rubelita,
Salinas, São João do Paraíso e Taiobeiras. Sua população está estimada em cerca de 192 mil habitantes, dos quais
86 mil vivem na área rural (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2019).
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Mapa 5
Alto Rio Pardo
Fonte: Elaboração própria, 2019
O que caracteriza a região do Alto Rio Pardo é sua alta biodiversidade, com fauna e flora típica de paisagens do
Cerrado e de transição com a Caatinga e a riqueza cultural de suas populações no convívio com seu território.
Apesar dessas riquezas, a região sofre vários desgastes, principalmente devido ao uso inadequado dos solos com
agricultura irrigada, mineração e monocultura de eucalipto praticadas por grandes fazendas e empresas. Com a
substituição da vegetação nativa promovida pelos grandes empreendimentos ao longo dos anos, vieram a
degradação dos solos, assoreamento dos rios e a destruição das nascentes (TC Alto Rio Pardo, 2019).
5.6. Vale do Gorutuba: o Vale das águas
O Vale do Gorutuba denominado de Vale das Águas (Mapa 6), devido à forte presença dos projetos de irrigação
ali existentes, instituídos pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba
[Codevasf] em grande parte. Caracteriza-se pelo clima tipo semiárido, e isto gera limitações ao desenvolvimento
da produção agrícola, principal atividade econômica da região. A base desse desenvolvimento é a presença de
um manancial de água superficial que foi conseguido com a construção, pela Codevasf, da Barragem do Bico da
Pedra, que serve como fonte permanente de água para ser usada na irrigação.
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Mapa 6
Vale do Gorutuba: Vale das Águas
Fonte: Elaboração própria, 2019
A Barragem do Bico da Pedra possui uma área total de 3.830 ha de bacia hidráulica (espelho d’água), com a
função de armazenar água para irrigação do Rio Gorutuba, para abastecimento humano e recreação. A
construção desse empreendimento permitiu a criação de uma forte agricultura irrigada consolidada, com a
presença de dois perímetros de irrigação, o Perímetro de Irrigação Gorutuba - PGO e o Perímetro Lagoa Grande
PLG (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba, 2018).
Outro município que possui a irrigação em sua estrutura é o Jaíba. O Projeto Jaíba é um perímetro de irrigação
que foi concebido para criar um centro de produção agroindustrial, tendo em vista que grande parte dos solos,
quando irrigados e corretamente corrigidos, com o uso de calcário e adubos, passam a ser produtivos, é o caso
do Vale das Águas que é o polo de fruticultura do Norte de Minas.
6. Considerações Finais
Este trabalho apresentou como objetivo a construção de uma proposta de classificação dos territórios que
compõem a Mesorregião Norte de Minas, em que foi possível identificar os vários “nortes” resultados do
processo de desenvolvimento regional pelo qual a mesorregião passou desde a diversificação agrícola, a
expansão industrial, a busca do equilíbrio desses setores e por fim, a valorização da especialização industrial.
Sendo assim, no início do século XXI a Mesorregião Norte de Minas preserva tradicionalismo e dinamismo
socioeconômico. Na sequência, apresentou-se de forma breve e direta a interpretação de que a região Norte de
Minas é um mosaico que se complementa nas suas diferenças e semelhanças. A proposição do Mosaico Norte
Mineiro, observou as características comuns das principais atividades desenvolvidas em cada categoria do
território que foi organizado em cinco classificações.
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Os Polos industriais que foram fomentados por investimentos estatais estão localizados à margem direita do Rio
São Francisco: Bocaiuva, Francisco Sá, Capitão Enéas, Espinosa e Taiobeiras e à margem esquerda os municípios
de Pirapora e Várzea da Palma. Destaque para o município de Montes Claros como polo industrial consolidado.
Essencialmente, as atividades econômicas desenvolvidas neste território, são ferro-liga, metalurgia,
reflorestamento, têxteis, confecção, frutas, produtos farmacêuticos, minerais não metálicos, entre outros. O
Vale do São Francisco que representa os “gerais” que engloba grande parte da Mesorregião Norte de Minas. Os
“gerais” estão localizados nas proximidades do Rio São Francisco, são populações tradicionais que atuam
essencialmente na agricultura familiar, pesca e comércio. Nas regiões mais distantes do rio estão os
“ageraizados” onde se encontram vegetação mais densa, apta para a pecuária. As Riquezas Naturais e Minerais
Naturais e Minerais do Norte de Minas foram agrupadas em uma classificação por compreender as regiões em
que estão instaladas as atividades de mineração e ambientes com belezas naturais que possuem potencial
turístico. O Alto Rio Pardo que possui características agroextrativista e muitas plantações de eucalipto em seu
território. E, por fim, o Vale do Gorutuba ou Vale das Águas com grandes intervenções estatais para fomentar a
produção agrícola através da irrigação.
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