ISSN 0798 1015

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Vol. 39 (Nº 09) Ano 2018 Pág. 15

Validação do método paraconsistente aplicado no questionário de dependência digital

Validation of the paraconsistent method applied in the digital dependency questionnaire

Henry Costa UNGARO 1; Jair Minoro ABE 2; Lauro Henrique de Castro TOMIATTI 3; Felipe Napolitano da FONSECA 4; Fabio Vieira do AMARAL 5

Recebido: 31/10/2017 • Aprovado: 25/11/2017


Conteúdo

1. Introdução

2. Metodologia

3. Resultados

4. Concluções

Referências bibliográficas


RESUMO:

A dependência digital tem uma dificuldade em sua identificação pois não possui um padrão definido, dificultando a identificação de indicadores que ajudam a identificar o nível de dependência do usuário, com o auxilio da Logica Paraconsistente Anotada Evidencial E procura-se melhorar os resultados através da extração das contradições.
Palavras-Chiave: Lógica Paraconsistente Anotada Evidencial Et, Dependência Digital, Método Paraconsistente

ABSTRACT:

Digital dependence has a difficulty in its identification, it does not have a defined standard, making it difficult to identify indicators that help to identify the level of dependence of the user, with the aid of the Paraconsistent Annotated Evidential Logic Et, tends to improve the results through extraction of contradictions.
Keywords: Paraconsistent Annotated Evidential Logic Et, Digital Dependency, Paraconsistent Method

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1. Introdução

Todos os dias, mais de 15% da população mundial acessam redes sociais, falando com seus amigos, falando de suas vidas pessoas, socializando com outros usuários ou somente passando o tempo (KOBAN et al 2017), mas algumas destas pessoas podem conter aspectos de dependência digital ou nomofobia.

Nomofobia é o medo da incapacidade de comunicar-se através de um dispositivo móvel ou da internet, este termo refere-se a uma coleção de comportamentos ou sintomas relacionados ao uso de dispositivos moveis. Os números de telefones celulares tornaram-se tão abrangentes a ponto de quase atingir 7 bilhões no final de 2017, que se aproximou a população mundial com uma taxa de penetração de 96%. (YILDIRIM 2015)

Os estudos de (YOUNG 1998) relata que colheu 600 estudos de casos que eram semelhantes, pessoas que sofreiam problemas de relacionamento, acadêmico, financeiro e empresarial por não conseguir controlar o tempo gasto na internet.

Quando o olhar está focado apenas no mundo virtual, o sinal de alerta deve ser disparado. Tudo que é em excesso se torna um problema difícil de ser revertido (TORRES 2013). Não há um padrão especifico que defina as características de um dependente digital, mais alguns comportamentos acabam sendo frequentes, como o uso compulsivo da internet, uma constante preocupação em estar on-line, mentir ou esconder a natureza de seus comportamentos on-line e a incapacidade de reduzir o tempo que está conectado. (YOUNG 2007)

2. Metodologia

A tomada de decisão é o processo cognitivo pelo qual se escolhe um plano de ação dentre vários outros (baseados em variados cenários, ambientes, análises e fatores) para uma situação-problema. Todo processo decisório produz uma escolha final. A saída pode ser uma ação ou uma opinião de escolha, ou seja, a tomada de decisão refere-se ao processo de escolher o caminho mais adequado, em uma determinada circunstância (SHIMIZO 2016).

Ao se analisar o mundo real, lidamos com indefinições, situações de inconsistências e muitas vezes temos apenas um reconhecimento parcial dos fatos e objetos – isto, no entanto, não impede o desenvolvimento do raciocínio humano que está além da relação binária de verdade e falsidade (MARTINS 2013). A necessidade de demonstrar e dar tratamento a situações contraditórias e não triviais levou ao aparecimento de lógicas subjacentes para os sistemas formais denominadas lógicas paraconsistentes (DA COSTA et al 1999).

2.1. A Lógica Paraconsistente

A necessidade de se tomar decisão ocorre num momento de impasse em que existe mais de uma opção a seguir. Cada um de nós toma decisões baseadas em aspectos subjetivos, a subjetividade não tem medida perfeita ela é organizada, sistemática e objetiva (SHIMIZO 2016).

Tabela 1
Valores limites externos arbitrários (CARVALHO 2011).

Valores limites externos

Vcve

= Valor de controle de veracidade

Vcfa

= Valor de controle de falsidade

Vcic

= Valor de controle de inconsistência

Vcpa

= Valor de controle de paracompleteza

Após determinação dos quatro valores limites e dos resultados do grau de certeza e de incerteza é possível identificar o estado lógico resultante demonstrado adiante. Através da utilização destes conceitos chegamos à Figura 1.

Figura 1
Diagrama com os graus de certeza e de incerteza, com valores ajustáveis
de controle limite indicados nos eixos (CARVALHO 2011).

Os estados lógicos que são representados pelas regiões que ocupam os vértices do reticulado são os: Verdadeiro, Falso, Inconsistente e Paracompleto. Estes são denominados de estados lógicos extremos.

Os estados lógicos de saída representados por regiões internas no reticulado que não são os estados lógicos extremos, são denominados de estados lógicos não-extremos.

Cada estado lógico não-extremos é nomeado conforme sua proximidade com os estados lógicos extremos. A seguir são apresentados os quatro estados lógicos extremos (Tabela 2) e os oito não-extremos (Tabela 3) que compõem o reticulado da Figura 2.

Tabela 2
Estado Extremos (CARVALHO 2011).

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Tabela 3
Estados Não-Extremos (CARVALHO 2011).

A figura 2 apresenta os 12 estados lógicos do Reticulado representados através do QUPC-Quadrado Unitário no Plano Cartesiano.

Figura 2
Divisão do QUPC em 12 regiões (CARVALHO 2011).

Para caracterizar o estado lógico resultante aplicam-se as seguintes regras:

Tabela 4
Caracterização dos Estados lógicos (ABE 2009).

2.2. Dependência Digital

O psicólogo Cristiano Nabuco de Abreu, coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas e outros descrevem as consequências dessa dependência.

"Os usuários são facilmente distraídos e têm dificuldade para controlar o tempo gasto com o dispositivo", escreveu o especialista. (ABREU 2013)

O trabalho também aponta os sintomas do vício. O que assusta é que eles são muito semelhantes aos expressos por viciados em drogas.

Um exemplo: quando a pessoa dependente não está com o seu smartphone na mão, fica irritada, ansiosa (YOUNG 2012) (OLIVEIRA, M. Vítimas da Dependência Digital)

Como todas as dependências descritas pela psiquiatria, a digital não é facilmente reconhecida. Mas, da mesma forma que as outras, pode ser diagnosticada a partir de um critério claro. Ela está instalada quando o indivíduo começa a sofrer prejuízos na sua vida pessoal, social ou profissional por causa do uso excessivo do meio digital (YOUNG 2011) (OLIVEIRA, M. Vítimas da Dependência Digital).

Na vida real, isso significa, por exemplo, brigar com o parceiro/a porque quer ficar online mesmo com a insatisfação do companheiro/a ou cair de produção no trabalho porque não se concentra na tarefa que lhe foi delegada (YOUNG 2011) (OLIVEIRA, M. Vítimas da Dependência Digital)

A gravidade do problema está levando a uma mobilização mundial em busca de soluções. Uma das frentes – a do reconhecimento médico do transtorno – está em franca discussão.

Recentemente, a dependência foi um dos temas que envolveram a publicação da nova versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, publicação da Associação Americana de Psiquiatria adotada como guia para o diagnóstico das doenças mentais. Na edição final, o vício, não citado em edições anteriores, foi mencionado como um transtorno em ascensão que exige a realização de mais estudos.

Muitos especialistas criticaram o manual porque acreditam já ser o distúrbio uma doença com critérios diagnósticos definidos (YOUNG 1996) (OLIVEIRA, M. Vítimas da Dependência Digital).

Em 1998, Young publicou o livro Apanhado na Rede, obra na qual foram apresentados os resultados de anos de pesquisa na forma de vinte perguntas.

A dificuldade de separar o uso da internet pela necessidade e utilidade para o seu abuso, pode facilmente mascarar o diagnóstico de dependência de Internet (YOUNG 2007).

Tabela 5
Questões levantadas por Young.

Todas as questões desse teste são de múltipla escolha, a tabela 6 mostra as opções de escolha com sua escala de pontuação.

Tabela 6
Opções de escolha das alternativas

Ao termino do preenchimento do questionário a pontuação referente a cada questão será somada, resultando em um número variável entre 0 e 100. A tabela 7 mostra os possíveis resultados com uma breve descrição.

Tabela 7
Resultados possíveis

2.3. Objetivo

De acordo com os objetivos do projeto, este trabalho caracteriza-se como pesquisa aplicada, iniciando-se por pesquisa bibliográfica, identificação de alternativas de implementação e realização de uma série de experimentos práticos, para se chegar à solução pretendida. O desenvolvimento prático serve para validar as pesquisas bibliográficas.  Para o estudo prático, será utilizado o software de tomada de decisão ParaDecision-making Conference, desenvolvido pelos autores que segue todos os conceitos da Lógica Et de forma fidedigna

3. Resultados

O questionário foi aplicado através do google forms e divulgado nas redes sociais, até a publicação deste estudo, 63 pessoas aviam respondido o formulário de forma eletrônica, abaixo mostra-se a tabela 5 com as respostas, o P representa uma pessoa, e cada questão com sua pontuação de 0 a 5.

Tabela 8
Alguns resultados obtidos através do formulário

3.1. Normalização do questionário

A normalização foi realizada a partir de seis testes onde o primeiro teste se atribui peso 0 a todas as questões onde o zero significa estado “não se aplica”, o  segundo  teste  se  atribuiu peso 1 a todas as questões onde o um significa estado “raramente”, o terceiro teste se atribuiu peso 2 a todas as questões onde o dois significa estado “as vezes”, o quarto testes se atribuiu peso 3 a todas as questões onde o três significa estado “frequentemente”, o quinto teste se atribuiu peso 4 a todas as questões onde o quatro significa estado “geralmente” e o sexto teste se atribuiu peso 5 a todas as questões onde o cinco significa estado “sempre”.

Como a Lógica Et trata o grau de certeza na faixa de valores compreendida entre -1 e +1, onde -1 indica falsidade absoluta e +1 verdade absoluta. Associou-se zero pontos do questionário ao valor -1 da lógica e 100 pontos do questionário ao valor +1 da lógica.

Como a faixa de valores do questionário a se atribuir o estado dependente compreende a faixa de valores entre 80 e 100 pontos, na lógica associou-se à faixa entre 0,6 e 1.

Como a faixa de valores do questionário a se atribuir o estado preocupante compreende a faixa de valores entre 50 e 79 pontos, na lógica associou-se à faixa entre 0 e 0,59.

Como a faixa de valores do questionário a se atribuir o estado mediano compreende a faixa de valores entre 20 e 49 pontos, na lógica associou-se à faixa entre -0,59 e 0.

Como a faixa de valores do questionário a se atribuir o estado raramente a faixa de valores entre 0 e 19 pontos, na lógica associou-se à faixa entre -1 e -0,6. Sem a normalização, não seria possível converter os dados obtidos das respostas para aplica-las nas questões quando as mesmas forem selecionadas.

Figura 3
QUPC adaptada pela normalização.

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Tabela 9
Estados Extremos Normalizados

Tabela 10
Estados Não-Extremos Normalizados

3.2. Utilização do software

Este software foi desenvolvido em linguagem de programação Java em conjunto com o banco de dados Mysql, este software segue todos os conceitos da lógica paraconsistente anotada evidencial et, a seguir, as figuras 4 e 5 mostram uma tela de analise onde se comparou diferentes questionários.

Figura 4
Tela de analise com o resultado moderado baixo

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Figura 5
Tela de analise com o resultado preocupante alto

Fazendo uma comparação direta entre o software ParaDecision-making Conference Nott e a aplicação do questionário, houve uma concordância dos resultados de 97% para as 63 amostras deste estudo. A mescla da informática aplicada aos conceitos teóricos da Lógica Et se mostraram promissores.

4. Concluções

O estudo de caso confrontou os conceitos apresentados. Os resultados dos testes com o software comprovaram as simulações manuais. A pesquisa indicou que o modelo com lógica paraconsistente pode ser usado em adição ao questionário. O mesmo estudo foi realizado com os desenvolvedores da empresa ParaDecision, com monitoramento da comunicação pelos meios digitais realizada pelos membros da equipe. O resultado não apresentou nenhum caso de dependência, mas indicou dois casos preocupantes, sete medianos e três não-dependentes. Conclui-se que através do Software utilizado é possível chegar a resultados relevantes e a utilização do mesmo pode auxiliar em quaisquer situações de tomadas de decisão.

Referências bibliográficas

ABREU C. N., EISENSTEIN E, & ESTEFENON S. G. Vivendo esse mundo digital: impactos na saúde, na educação e nos comportamentos sociais. Porto Alegre: Artes Médicas; 2013.

ABE, J. M. Lógica Paraconsistente Evidencial Et. Monografia 2009.

CARVALHO, F. R. & ABE J. M. Tomadas de Decisão com Ferramentas da Lógica Paraconsistente Anotada.São Paulo: Editora Edgard Blucher Ltda, 2011.

DA COSTA N. C., ABE, J. M., MUROLO, A., & DA SILVA FILHO, J. I. Lógica paraconsistente aplicada. São Paulo: Atlas, 1999.

DA SILVA FILHO, J.I. “Métodos de Aplicações da Lógica Paraconsistente Anotada de anotação com dois valores LPA2v com construção de Algoritmo e Implementação de Circuitos Eletrônicos” Tese de doutorado EPUSP, São Paulo, 1999.

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KOBAN, K., STEIN, J., ECKHARDT, V., & OHLER, P.. Quid pro in Web 2.0 Connecting personality traits usage intensity to uncivil commenting intentions in public online discussions. Computers in Human Behaviors, 2017.

MARTINS, H. G.. A Lógica Paraconsistente Anotada de Quatro Valores LPA4v aplicada em Sistemas de Raciocínio Baseado em Casos para o Restabelecimento de Subestações Elétricas. Tese de Doutorado apresentada à Universidade Federal de Itajubá 2003. MG SP Brasil

OLIVEIRA, M. Vítimas da Dependência Digital. Obtido em : Http://Www.Istoe.Com.Br/Reportagens/326665_VITIMAS+Da+ependencia+DigitaL. Acessado em: 30/10/2017

SHIMIZO, T. Decisão nas Organizações (Vol. 2 ed.) São Paulo, SP, Brasil: Atlas, 2006

Torres P. Dal Cin, Isabel Cristina. Dependência De Internet: um estudo com estudantes e profissionais da área de TI em Belo Horizonte. Faculdade Novos Horizontes, Belo Horizonte, 2013

YILDIRIM, C., & CORREA, A. Exploring the dimensions of nomophobia: Development and validation of a self-reported questionnaire. Computer in Humans Behavior, 2015.

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YOUNG, K. S. Internet addiction: The emergence of a new clinical disorder. CyberPsychology & Behavior, 1998.

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YOUNG, K. S.; et al. Dependência de Internet: manual e guia de avaliação de tratamento. Porto Alegre: Artmed, 2011.

YOUNG, K. S. Compulsive Surfing. Netaddiction.com, 2012.

 


1. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção – Universidade Paulista UNIP. Email: henry@paradecision.com

2. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção – Universidade Paulista UNIP. Email: jairabe@uol.com.br

3. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção – Universidade Paulista UNIP. Email: tomiatti@paradecision.com

4. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção – Universidade Paulista UNIP felipe@paradecision.com

5. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção – Universidade Paulista UNIP fabio@paradecision.com


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