ISSN 0798 1015

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Vol. 38 (Nº 36) Año 2017. Pág. 31

Relevância da agropecuária brasileira: uma análise insumo-produto

Relevance of Brazilian agriculture: an input-output analysis

Milene TAKASAGO 1; Cleyzer Adrian da CUNHA 2; Amon Kablan Guy OLIVIER 3

Recibido: 03/03/2017 • Aprobado: 27/03/2017


Conteúdo

1. Introdução

2. Metodologia

3. Resultados e discussão

4. Considerações finais

Referências


RESUMO:

O objetivo geral do estudo foi avaliar os encadeamentos do setor agropecuário brasileiro e mensurar os impactos de alterações na demanda final sobre a geração de emprego e renda, por meio da matriz de insumo-produto de ano de 2013. A hipótese do estudo se confirmou, pois a agropecuária brasileira nos últimos anos continua participando da geração de produto e renda. Em contrapartida, reduziu a posição como importante geradora de empregos diretos devido às transformações que ocorreram dentro da porteira. Assim, ao longo dos anos, a agropecuária acabou transferindo a sua relevância na geração de renda e emprego para o agronegócio, que envolve outras atividades, ligadas ao processamento industrial e outros serviços, por meio do Complexo Agroindustrial (CAI).
Palavras-chave: setor agropecuário, insumo-produtos, emprego e renda.

ABSTRACT:

The general objective of the study was to evaluate the connections of the Brazilian agricultural sector and to measure the impact of changes in the final demand on the generation of employment and income, through the input-output matrix for 2013. The hypothesis of the study was confirmed. In recent years, the Brazilian agricultural industry continued to participate in product and income generation. On the other hand, it dropped position as a generator of direct jobs due to changes occurred within the in farm Thus, over the years, the relevance of farming in the generation of income and employment has been transferred to agribusiness, which comprises other activities associated with industrial processing and other services, through the Agroindustrial Complex (CAI).
Keywords: agricultural sector, input-output, income and employment.

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1. Introdução

A agropecuária engloba a agricultura, a pecuária e as atividades extrativistas, em que seus produtos, tais como grãos, frutas, verduras, carnes, ovos e leite abastecem o consumidor final ou servem de insumos que são processados pela agroindústria. Destarte, ela desempenha relevante papel para a economia brasileira no tocante ao fornecimento de matéria prima e demais insumos, da mesma maneira que demanda produtos e serviços dos demais setores da economia.  

Segundo Neri et al (2011) a literatura internacional aponta que investimentos na agropecuária implicam em relevante ferramenta pública de crescimento econômico, haja vista a capacidade de ligação deste setor com outros setores econômicos. Desta forma, os investimentos na agropecuária se tornam condição vital para o desenvolvimento na medida em que incrementam outras atividades econômicas.  

Por conseguinte, a agropecuária é tida como setor chave para a economia, em razão do encadeamento possibilitar que insumos sejam processados e transformados e ao final ocorram incrementos no valor da produção, na geração de renda, de empregos, de exportações, de arrecadação de impostos. Desse modo, o choque na demanda final por meio dos encadeamentos e interdependência econômica é avaliado pelos pesquisadores a partir da construção do Modelo Insumo Produto (MIP) desenvolvido por Leontief na década de 1930.  

O MIP capta os efeitos das decisões dos agentes sob a produção setorial por meio dos aumentos ou reduções na demanda final, em que estão inseridas as decisões de consumo e investimento. Por isso, os efeitos do encadeamento direto e indireto da estrutura produtiva de sobremaneira sofrem alterações das variações exógenas na demanda final.

Segundo Najberg e Pereira (2004), em estudo MIP para o Brasil, ao se considerar o número total de empregos gerados a partir de choques na demanda final, os setores mais intensivos em mão de obra tendem a crescer mais mediante ao choque, isto pode ser visto em setores como, Serviços Prestados à Família, Agropecuária, Comércio e Madeira e Mobiliário, e estes estão relacionados a participação das  micro e pequenas empresas. Esses setores são os melhores classificados em empregos totais e são grandes geradores de empregos diretos.

No caso da agropecuária, os empregos indiretos também são importantes, pois estão ligados ao processamento das commodities, conforme destacam Najberg e Pereira (2004) que citam o ranking para os setores com maiores geradores de empregos indiretos, sendo esses: Abate de Animais, Indústria do Café, Fabricação de Óleos Vegetais, Beneficiamento de Produtos Vegetais e Indústria de Laticínios.

Amorim et al (2009) construíram MIP com dados de 2005 e evidenciaram por meio dos multiplicadores que a Agropecuária estaria na 4º posição na geração de produto (1,8233), na 10º posição na geração de emprego (1,1922) e, em 9º colocação em salários (1,3874) de um total doze setores econômicos. Para tal assertiva, os autores utilizaram os multiplicadores do tipo II que são calculados utilizando-se a demanda das famílias como exógena ao sistema [4].

O objetivo geral do estudo foi avaliar os encadeamentos do setor agropecuário brasileiro e mensurar os impactos de alterações na demanda final sobre a geração de emprego e renda, por meio da matriz de insumo-produto de ano de 2013.  A MIP foi estimada com 20 setores e produtos, utilizando os dados das contas nacionais, publicadas pelo IBGE. Desta forma, o presente trabalho já considera os dados do novo sistema de contas brasileiro, como referência o ano base de 2010.

A hipótese norteadora do estudo é que a agropecuária brasileira nos últimos anos manteve e/ou aumentou a sua participação na geração de produto e renda. Em contrapartida, reduziu a geração de empregos direitos devido às transformações que ocorram dentro da porteira, tais como, agricultura de precisão, melhoramento genético de plantas e animais, melhores práticas e adoção de novas tecnologias que impulsionaram os ganhos de produtividade do setor ao longo dos anos. Assim, os avanços de produtividade na agropecuária inevitavelmente foram na direção de redução da importância para a geração de emprego quando comparados a outros setores.

Dentre as principais contribuições do presente estudo relacionam-se as análises que foram realizadas com base na matriz insumo-produto de 2013 [5]. Desta maneira, o estudo contribui para a discussão acerca da hipótese da pesquisa ao avaliar dados mais recentes do IBGE, portanto capaz de captar as mudanças ocorridas no setor agropecuário nos últimos anos. Empiricamente utilizaram-se os tradicionais índices de Rasmussen-Hirschman, índices puros de ligação, campos de influência e efeitos multiplicadores.

O trabalho além da introdução está dividido em mais quatro partes. A próxima seção descreveu-se a metodologia e procedimentos metodológicos, sobretudo, evidenciando como se dá a construção da MIP, bem como a construção da matriz de coeficientes técnicos e os efeitos multiplicadores e demais índices que compõem a análise. Na terceira seção, apresentaram-se e discutiram-se os resultados a partir do modelo estimado, e finalmente apresentaram-se as considerações finais. 

2. Metodologia

Leontief desenvolveu o seu modelo considerando que a relação entre os insumos consumidos em cada atividade e a produção total dessa atividade é constante e avaliada por uma matriz denominada de matriz dos coeficientes técnicos.  No caso deste trabalho a construção das análises partiu 20 setores para ano de 2013.

Segundo Tosta, Lírio e Silveira (2004) e Miller e Blair (2009) a partir dos valores das compras intermediárias, (Xij) e os valores brutos da produção, (Xj), obtém a matriz de coeficientes técnicos que pode ser representada por:

2.1. Índices de Rasmussen-Hirschman e índice de dispersão

Os índices de Rasmussen-Hirschman evidenciam o grau de encadeamento dos setores econômico considerando que há ligação tanto para trás quanto para frente. A análise do índice mostra a que medida um setor especifico demanda ou oferta em relação aos demais setores da economia. Segundo Takasago et al (2010) esses mostram quanto o setor demanda dos demais insumos que são necessários à sua própria produção e para frente descreve quanto se oferece de insumos aos demais setores da economia.

Porém, como os índices de ligações frente e trás são determinados com base nas médias dos valores das linhas e colunas e sabendo-se que as médias são medidas sensíveis a valores extremos, pode ser que um setor apresente índices de encadeamento elevados sem se relacionar com um número considerável de setores, ou seja, o setor pode não apresentar grande capacidade de atingir muitos setores significativamente demandando ou ofertando insumos. Por isso, medidas de variabilidade se apresentam como forma para contornar os problemas de sensibilidade das médias.

Segundo Tosta et al (2004) utilizando-se os índices de ligação para trás e para frente para definir setores-chave, em conceito teórico restrito, dentro de uma economia aqueles que os dois índices apresentarem valores maiores que a unidade. A despeito dessa rígida restrição teórica na definição de setores-chave teríamos uma mais flexível, que apenas considera o índice de ligação para trás ou o índice de ligação para frente maior que a unidade. A literatura sugere que se considerem os maiores índices de ligação, do mesmo modo que aqueles que satisfazem o conceito mais restrito de setor-chave.

2.2 Campo de influência

2.3. Multiplicadores de produto, emprego e renda

2.4. Procedimentos metodológicos e fonte de dados

As potencialidades da agropecuária foram avaliadas a partir da matriz  MIP no contexto de 20 setores para o ano de 2013, conforme dados das Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).  Ressalta-se que esse trabalho em termos metodológicos faz a incorporação e a compilação dos dados do novo sistema de contas nacionais, tendo como base, as modificações realizadas no ano de 2010. De antemão, sabe-se que a MIP fornece a descrição dos fluxos de produtos entre os setores de uma economia, para um dado ano, sobretudo, ilustrando a relação entre produtores e consumidores e a inter-relação entre os setores demandando e oferecendo insumos.

Por conseguinte, a construção da MIP para o ano 2013 foi baseada nas propostas apresentadas por Guilhoto e Sesso Filho (2005) e Guilhoto (2011). Inicialmente realizou-se a compatibilização entre as matrizes de Usos e Recursos de bens e serviços, divulgadas pelo IBGE (2016), tendo em vista que a matriz de Usos se apresenta a preços de mercado, enquanto a matriz de Recursos de bens e serviços a preços básicos.  

Desta forma, como ponto de partida do trabalho transformou-se as tabelas de Usos que estão em valores de preços de mercado em preços básicos. Ou seja, a matriz de Usos a preços básicos foi obtida a partir da subtração da oferta global (se apresenta a preço de mercado) os valores referentes às margens de comércio (MGC) e de transporte (MGT), Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), Impostos Sobre Produtos Industrializados (IPI) e Impostos Sobre Serviços (ISS), Outros Impostos Indiretos Líquidos (OIIL), Importação de Bens e Serviços (IMP) e Impostos de Importação (IIMP) de cada produto para cada setor de atividade.

O trabalho considerou o total de 20 setores, a saber: 1) Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura; 2) Indústrias extrativas; 3) Indústrias de transformação; 4) Eletricidade e gás; 5) Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação; 6) Construção; 7) Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas; 8) Transporte, armazenagem e correio; 9) Alojamento e alimentação; 10) Informação e comunicação; 11) Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados; 12) Atividades imobiliárias; 13) Atividades científicas, profissionais e técnicas; 14) Atividades administrativas e serviços complementares; 15) Administração pública, defesa e seguridade social; 16) E

ducação; 17) Saúde humana e serviços sociais; 18) Artes, cultura, esporte e recreação; 19) Outras atividades de serviços; 20) Serviços domésticos.  Assim sendo, o setor agropecuário é composto por setores agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura.

Não obstante, o problema central da estimativa da matriz de usos é distribuir os valores totais de impostos e margens nessa matriz. Para isto, foi calculada a matriz de distribuição que consiste em estimar coeficientes a serem multiplicados pelos diversos setores e produtos da economia. A estimativa desses coeficientes é dada por:

3. Resultados e discussão

A Tabela 1 apresenta os índices de ligação para frente (ILF) ou para trás (ILT), de Rasmussen-Hirschman. Sabe-se que os valores superiores à unidade são conhecidos como chave para a economia, pois são eles que apresentam capacidade de dinamizar a economia. Os setores que se destacaram foram a Indústria de transformação, Eletricidade e gás, Construção, Transporte, Armazenagem e correio, Alojamento e alimentação, Informação e comunicação, Atividades científicas, Profissionais e técnicas, Outras atividades de serviços e agropecuária.

Como esperado o setor que mais dinamiza a economia foi o da Indústria de transformação, pela capacidade de compra de insumos e processamento em produtos manufaturados. Em contrapartida, a Agropecuária apresentou índice ILT de 1,03 indicando que o setor compra insumos de outros setores, por isso, produz impactos positivos quando comparados a média dos demais setores, para choque de demanda final.

Diferentemente do trabalho de Amorim et al (2009) a agropecuária apresentou com dados mais recentes valor do índice ILF superior a unidade.. Isso pode estar associado a vendas do setor que envolve outros setores mais especializados da economia, tais como, os setores de corretagem, bolsas de valores, armazenagem e secagem de produtos, operações de bater que envolvem troca de grãos por fertilizantes, sementes e defensivos para formação da lavoura. Ademais, foram computadas as dispersões dos índices ILF e ILT e estes tiveram o desvio padrão médio entre os 20 setores de 0,25 e 0,24, respectivamente, caracterizando baixa variabilidade em torna da média dos indicadores. Todavia, os Coeficientes de Variação (CV) médios dos 20 setores para o ILF e ILT foram de 0,15 e 3,13, respectivamente.  Os valores do CV para o ILF foram menores quando comparados ao ILT e indicam que a variabilidade dos dados menor em relação à média, portanto, o conjunto dos índices entre os setores é mais homogêneo. Em contrapartida, o valor médio do CV para o ILT indica que maior dispersão dos setores em torna da média.

Tabela 1: Índices de ligações para frente (ILF) e para trás (ILT), de Rasmussen-Hirschman, Brasil, 2013.

Setores

ILT

ILF

1- Agropecuária

1,03

1,17

2- Indústrias extrativas

0,97

1,25

3- Indústrias de transformação

1,36

1,07

4- Eletricidade e gás

1,32

1,42

5- Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação

0,98

1,17

6- Construção

1,14

0,72

7- Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas

0,95

1,10

8- Transporte, armazenagem e correio

1,13

1,31

9- Alojamento e alimentação

1,09

0,79

10- Informação e comunicação

1,07

1,17

11- Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados

0,97

1,13

12- Atividades imobiliárias

0,70

0,77

13- Atividades científicas, profissionais e técnicas

1,01

1,44

14- Atividades administrativas e serviços complementares

0,89

1,44

15- Administração pública, defesa e seguridade social

0,88

0,63

16- Educação

0,83

0,67

17- Saúde humana e serviços sociais

0,97

0,62

18- Artes, cultura, esporte e recreação

0,99

0,76

19- Outras atividades de serviços

1,09

0,78

20- Serviços domésticos

0,63

0,59

Fonte: Resultados da pesquisa

Como forma complementar aos índices de ligação foi calculado os índices de campos de influência. Para tanto se utilizou pequena variação  na matriz de coeficientes técnicos e a partir da daí verificou-se como essa foi distribuída no sistema econômico. Como esperado a indústria de transformação apresentou maior capacidade de se relacionar com os demais setores da economia. Segundo tabela 2 abaixo, as maiores relações se deram entre a indústria de transformação e os setores, saber: in, Agropecuária, Transporte, Armazenagem e correio, Indústrias de transformação. Os resultados corroboram com fatos estilizados da economia brasileira indicando que nos últimos anos empreendeu-se na geração de valor agregado a partir da transformação de insumos básicos. Por conseguinte, relações setoriais indicam que insumos provenientes da Agropecuária são processados pela Indústria de Transformação, que por sua vez demanda além de processos da própria Indústria de Transformação, demandam também da Construção para a finalização do processo produtivo.  Por fim, esses produtos acabados implicam em maior demanda do setor de Transporte, armazenagem e correio.

Tabela 2: Setores selecionados com maiores campos de influência, Brasil, 2013.  

Setores

Agropecuária

Indústrias de transformação

Construção


Transporte, armazenagem e correio

1- Agropecuária

0,63

1,36

0,09

0,05

2- Indústrias extrativas

0,04

0,93

0,14

0,03

3- Indústrias de transformação

8,61

23,20

12,82

8,63

4- Eletricidade e gás

0,11

0,08

0,01

0,02

5- Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação

0,00

0,01

0,00

0,00

6- Construção

0,00

0,00

1,41

0,00

7- Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas

1,13

3,54

1,48

1,30

8- Transporte, armazenagem e correio

0,19

0,91

0,18

2,47

9- Alojamento e alimentação

0,00

0,00

0,00

0,00

10- Informação e comunicação

0,01

0,07

0,03

0,06

11- Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados

0,10

0,20

0,11

0,21

12- Atividades imobiliárias

0,00

0,02

0,01

0,03

13- Atividades científicas, profissionais e técnicas

0,04

0,46

0,18

0,22

14- Atividades administrativas e serviços complementares

0,02

0,14

0,09

0,35

15- Administração pública, defesa e seguridade social

0,00

0,01

0,00

0,00

16- Educação

0,00

0,00

0,00

0,00

17- Saúde humana e serviços sociais

0,00

0,00

0,00

0,00

18- Artes, cultura, esporte e recreação

0,00

0,00

0,00

0,00

19- Outras atividades de serviços

0,00

0,00

0,00

0,00

20- Serviços domésticos

0,00

0,00

0,00

0,00

Fonte: Resultados da pesquisa

Na Tabela 3 apresentam-se os efeitos sobre a produção, geração de empregos e a renda por meio dos multiplicadores do tipo I. Sabe-se que esses multiplicadores consideram a demanda das famílias como exógena ao sistema. No tocante ao multiplicador de produto os três setores que possuem maior rank foram à indústria de transformação, a Eletricidade e gás, e Construção, respectivamente. Isto mostra que choques de demanda final nesses setores aumentariam a produção no montante do multiplicador. Nos últimos anos os investimentos do governo federal foram concentrados nesses setores, sobretudo, no setor energético, com programas de investimento em petróleo, gás, eletricidade e construção civil por meio da Petrobras e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).  Em contrapartida, os setores que mais aumentam empregos foram Eletricidade e gás, Indústrias extrativas, e a Indústrias de transformação, respectivamente. Esses resultados também estão de acordo com fatos estilizados da economia que mostram o avanço e concentração do emprego nesses setores devido aos investimentos do governo federal.

Em relação ao multiplicador de renda, os setores Eletricidade e gás, Atividades imobiliárias, Indústrias de transformação foram os que apresentaram as maiores magnitudes. Destaca-se que setor de Atividades imobiliárias figura em segundo lugar na geração de renda devido o aquecimento do mercado imobiliário brasileiro nos últimos anos.

Conforme a tabela 3 a Agropecuária apresentou-se 8º lugar na geração de produto, 16º na geração de empregos e 5º lugar na geração de renda. Nos últimos anos, a tecnologia, por meio da agricultura de precisão, máquinas e equipamentos, melhores condições de manejo e seleção de animais aumentaram a produtividade na agropecuária implicando em redução dos custos operacionais, aumento de produção e a especialização da mão de obra.  

Assim, em relação à geração de empregos, a Agropecuária vem perdendo espaço para outros setores ao longo dos anos, por exemplo, no trabalho de Amorim et al (2009) a agropecuária figurava na 10º posição em 2005.

Tabela 3: Multiplicadores do Tipo I de produção, emprego e de renda, Brasil, 2013. 

Setores

 

Produção

 

Emprego

 

Renda

 

Valor

Rank

Valor

Rank

Valor

Rank

1- Agropecuária

1,64

8

1,21

16

2,07

5

2- Indústrias extrativas

1,54

13

6,17

2

2,18

4

3- Indústrias de transformação

2,17

1

3,66

3

2,62

3

4- Eletricidade e gás

2,11

2

8,42

1

3,18

1

5- Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação

1,56

11

1,51

10

1,48

13

6- Construção

1,83

3

1,58

9

1,8

7

7- Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas

1,52

15

1,26

15

1,38

15

8- Transporte, armazenagem e correio

1,81

4

1,77

7

1,72

8

9- Alojamento e alimentação

1,74

5

1,31

13

1,66

9

10- Informação e comunicação

1,71

7

2,86

4

1,86

6

11- Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados

1,54

14

2,84

5

1,53

12

12- Atividades imobiliárias

1,11

19

1,89

6

3,06

2

13- Atividades científicas, profissionais e técnicas

1,6

9

1,61

8

1,58

10

14- Atividades administrativas e serviços complementares

1,42

16

1,2

17

1,22

17

15- Administração pública, defesa e seguridade social

1,4

17

1,46

11

1,16

18

16- Educação

1,32

18

1,18

18

1,11

19

17- Saúde humana e serviços sociais

1,55

12

1,43

12

1,29

16

18- Artes, cultura, esporte e recreação

1,59

10

1,17

19

1,4

14

19- Outras atividades de serviços

1,74

6

1,29

14

1,56

11

20- Serviços domésticos

1

20

1

20

1

20

Fonte: Resultados da pesquisa

A Tabela 4 mostra os multiplicadores do tipo II, ou seja, são aqueles em que a demanda das famílias é considerada de forma endógena no sistema econômico. Não obstante, ao se considerar os gastos das famílias endogenamente há nítida modificação na magnitude dos valores e na ordem de classificação dos setores econômicos. Desta forma, com base nos resultados o tomador de decisão pode especificar melhor políticas públicas de cunho setorizado, haja vista o efeito dos multiplicadores desagregados e seus desdobramentos no contexto microeconômico.

Tabela 4: Multiplicadores do Tipo II de produção, emprego e de renda, Brasil, 2013. 

Setores

 

Produção

 

Emprego

 

Renda

 

Valor

Rank

Valor

Rank

Valor

Rank

1- Agropecuária

3,42

11

1,84

19

5,55

3

2- Indústrias extrativas

2,77

19

19,98

2

4,67

5

3- Indústrias de transformação

3,63

5

7,29

6

4,86

4

4- Eletricidade e gás

3,31

13

25,38

1

6,34

2

5- Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação

3,11

18

3,17

10

2,83

12

6- Construção

3,51

8

2,97

12

3,54

6

7- Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas

3,27

15

2,31

14

2,64

15

8- Transporte, armazenagem e correio

3,51

9

3,63

9

3,19

9

9- Alojamento e alimentação

3,48

10

2,15

15

3,39

8

10- Informação e comunicação

3,27

16

7,31

5

3,48

7

11- Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados

3,13

17

10,07

4

2,79

14

12- Atividades imobiliárias

2,01

20

14,09

3

18,73

1

13- Atividades científicas, profissionais e técnicas

3,42

12

3,98

8

3,16

10

14- Atividades administrativas e serviços complementares

3,31

14

2,28

16

2,13

17

15- Administração pública, defesa e seguridade social

3,61

6

4,38

7

1,92

18

16- Educação

3,71

2

2,58

13

1,82

19

17- Saúde humana e serviços sociais

3,69

3

3,11

11

2,26

16

18- Artes, cultura, esporte e recreação

3,52

7

1,92

18

2,81

13

19- Outras atividades de serviços

3,69

4

2,03

17

3,00

11

20- Serviços domésticos

3,78

1

1,26

20

1,60

20

Fonte: Resultados da pesquisa

Conforme Tabela 4, a Agropecuária apresentou Multiplicadores do Tipo II de Produção (3,42), de Emprego (1,84) e de Renda (5,55) figurando entre 11°, 19° e 3° posições na comparação com os demais setores. Assim sendo, para R$ 1 de aumento na demanda final desse setor tem-se aumento tendem a gerar efeitos de R$ 3,42, 1,84 e 5,55 de efeitos diretos, indiretos e induzidos.

A Tabela 5 mostra os geradores de empregos, indicando o número de empregos gerados para um milhão de demanda final. Pela análise da tabela conclui-se que a atividade geradora de empregos é o setor Serviços domésticos, com 155 empregos para cada R$ 1 milhão de demanda final. Esse resultado condiz com o setor que possui grande participação de empregos que são gerados por conta própria, por isso não pode ser levado em consideração por se tratar de apenas mão de obra empregada.

Em contrapartida, para cada 1,0 milhão de reais de choque na demanda final há aproximadamente a criação de 61 empregos totais na Agropecuária. Desse total, 33 empregos são diretos, enquanto que 7 empregos são indiretos, associados aumento de empregos nos setores que fornecedores de insumos. Por fim, existe ainda a criação de empregos induzidos, ou seja, aqueles empregos que estão relacionados aos setores dependentes dos gastos da renda das famílias da agropecuária (21 empregos).

Tabela 5: Multiplicadores de emprego direto, indireto e induzido pela
variação da demanda final de um milhão de reais, Brasil, 2013. 

Setores

Direto

Indireto

Induzido

Total

1- Agropecuária

32,84

6,93

20,59

60,36

2- Indústrias extrativas

1,02

5,28

14,09

20,39

3- Indústrias de transformação

4,63

12,32

16,80

33,75

4- Eletricidade e gás

0,81

6,03

13,79

20,64

5- Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação

10,71

5,42

17,85

33,98

6- Construção

14,03

8,19

19,46

41,68

7- Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas

19,32

5,09

20,17

44,57

8- Transporte, armazenagem e correio

10,49

8,08

19,55

38,11

9- Alojamento e alimentação

23,74

7,39

20,00

51,12

10-  Informação e comunicação

4,04

7,51

17,98

29,52

11-  Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados

2,53

4,64

18,29

25,45

12-  Atividades imobiliárias

0,86

0,77

10,44

12,06

13-  Atividades científicas, profissionais e técnicas

8,79

5,34

20,89

35,02

14-  Atividades administrativas e serviços complementares

20,25

4,12

21,75

46,12

15-  Administração pública, defesa e seguridade social

8,72

3,99

25,46

38,17

16-  Educação

19,62

3,47

27,56

50,66

17-  Saúde humana e serviços sociais

14,68

6,25

24,70

45,62

18-  Artes, cultura, esporte e recreação

29,75

5,00

22,29

57,04

19-  Outras atividades de serviços

30,26

8,64

22,50

61,40

20-  Serviços domésticos

122,48

0,00

32,07

154,55

Fonte: Resultados da pesquisa

Ressalta-se que a participação da Agropecuária (Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura) na geração total de empregos ainda seja relevante no contexto da Tabela 5, o setor vem perdendo participação da gerando de empregos aos longos dos anos, conforme Kureski el al (2008), para o ano de 2004 a geração de empregos total (240 trabalhadores), direto (93 trabalhadores), indireto (61 trabalhadores) e induzido (86 trabalhadores)  para cada choque de 1,0 milhão de reais de na demanda final.

A Tabela 6 apresenta os multiplicadores de renda direta, indireta e induzida pela variação da demanda final de um milhão de reais no Brasil em 2013. Desta forma, para cada um milhão de  reais  gastos  na demanda final, a Agropecuária gerou 612.199 mil reais em 2013, sendo que 110.364 mil reais  referem-se  ao  efeito  direto,  118.289  mil  reais  são  do  efeito  indireto  e  383.545  mil reais constituem efeito-renda.

Tabela 6: Multiplicadores de renda direta, indireta e induzida pela variação da demanda final de um milhão de reais no Brasil em 2013.

Setores

Direto

Indireto

Induzido

Total

1- Agropecuária

110.364

118.289

383.545

612.199

2- Indústrias extrativas

105.400

124.440

262.518

492.359

3- Indústrias de transformação

139.746

226.617

312.933

679.296

4- Eletricidade e gás

81.372

177.550

256.973

515.894

5- Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação

247.281

119.501

332.573

699.356

6- Construção

207.592

165.238

362.558

735.388

7- Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas

299.605

114.382

375.673

789.660

8- Transporte, armazenagem e correio

249.115

180.300

364.117

793.531

9- Alojamento e alimentação

214.591

141.107

372.508

728.206

10-  Informação e comunicação

207.056

178.326

334.897

720.279

11-  Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados

269.182

142.053

340.676

751.911

12-  Atividades imobiliárias

12.404

25.495

194.438

232.337

13-  Atividades científicas, profissionais e técnicas

247.278

144.452

389.082

780.812

14-  Atividades administrativas e serviços complementares

443.632

96.038

405.142

944.812

15-  Administração pública, defesa e seguridade social

621.942

99.840

474.246

1.196.028

16-  Educação

721.621

79.126

513.414

1.314.162

17-  Saúde humana e serviços sociais

470.824

135.408

460.112

1.066.344

18-  Artes, cultura, esporte e recreação

294.170

117.859

415.258

827.288

19-  Outras atividades de serviços

292.341

164.373

419.182

875.896

20-  Serviços domésticos

1.000.000

0

597.460

1.597.460

Fonte: Resultados da pesquisa

Dentre os principais resultados desse estudo destaca-se que a agropecuária brasileira se transformou ao longo dos anos, transferindo a sua relevância na geração de renda e emprego para o agronegócio, que envolve outras atividades, ligadas ao processamento industrial e outros serviços, por meio do Complexo Agroindustrial (CAI).  Assim, estão associados ao CAI atividades que vão além da produção animal e vegetal: a) Fornecedores de insumos e bens de produção, tais como, sementes, calcário, fertilizantes, maquinas, etc. b) Produção agropecuária, tais como a produção animal, lavouras permanentes e temporárias, horticultura, silvicultura, etc. c) Processamento e transformação, tais como, alimentos, têxteis, vestuário e calcado, madeira, bebidas, etc. d) Distribuição e consumo, tais como, restaurantes, hotéis, feiras, supermercados, comércio atacadista, exportação.

Diante disso, segundo Sesso Filho et al (2011) o dimensionamento do agronegócio que deve considerar a contribuição de cada segmento dentro da cadeia produtiva e suas relações de aquisições e vendas para outros setores. Assim, análise faz da matriz insumo-produto base de dados fundamental para dimensionar, com maior grau de detalhamento, as cadeias produtivas e o agregado de atividades que participam dos sistemas que constituem o agronegócio. Para tanto, deve-se usar a metodologia de agregação conforme os trabalhos de Furtuoso (1998), Parré (2000) e Furtuoso e Guilhoto (2003).

4. Considerações finais

A hipótese do estudo se confirmou, pois a agropecuária brasileira nos últimos anos continua participando da geração de produto e renda. Em contrapartida, reduziu a posição como importante geradora de empregos direitos devido às transformações que ocorram dentro da porteira. Setores que tiveram relevância no presente estudo na geração de empregos foram os de Eletricidade e gás e Construção devido o avanço do investimento público do governo federal.

O estudo mostra que a agropecuária apresentou a 16º na geração de empregos. Os constantes avanços de produtividades do setor transformaram-na em poupadora de trabalho. Esse cenário se deu por meio da agricultura de precisão, o melhoramento genético de plantas e animais, melhores praticas e adoção de novas tecnologias que impulsionaram os ganhos de produtividade.

Todavia, há alta capacidade de multiplicação do emprego e renda nas demais atividades compradores de insumos de sua produção, tais como na indústria de transformação e na indústria extrativa mineral. Assim, um choque de um milhão de reais na demanda final foi capaz de gerar 612.199 mil reais de renda no sistema econômico, sendo que 110.364 mil reais  referem-se  ao  efeito  direto,  118.289  mil  reais   são  do  efeito  indireto  e  383.545  mil reais constituem efeito-renda.

Por fim, sugere-se uma análise  da matriz insumo-produto com maior grau de detalhamento, as cadeias produtivas e o agregado de atividades que participam dos sistemas que constituem o agronegócio.

Referências

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GUILHOTO, J. J. M.; SESSO FILHO, U. A. Estimação da Matriz Insumo-Produto a Partir de Dados Preliminares das Contas Nacionais. Economia Aplicada, v. 9, n. 2, abr.-jun. 2005.

HADDAD, E. A. A estrutura econômica de Minas Gerais: uma análise de insumo-produto. Nova Economia, Belo Horizonte, VIII Prêmio Minas de Economia, 1995.

Hirschman, A. O. The strategy of economic development. New Haven: Yale University Press, 1958.

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GUILHOTO, J.J.M.; SESSO FILHO, U.A. Estimação da matriz insumo-produto a partir de dados preliminares das contas nacionais. Economia Aplicada, V.9, n. 2, 277-299, 2005.

Takasago, M.; Guilhoto, J.J.M; Mollo, M.L.R, Andrade, J.P.  O potencial criador de emprego e renda do turismo no Brasil. Pesquisa e Planejamento Econômico, PPE, V.40,n.3, 2010.

Furtuoso, M.C.O. O Produto Interno Bruto do Complexo Agroindustrial Brasileiro, Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, 1998.

FURTUOSO, M.C.O., GUILHOTO, J.J.M. "Estimativa e Mensuração do Produto Interno Bruto do Agronegócio da Economia Brasileira, 1994 a 2000". Revista Brasileira de Economia e Sociologia Rural. Vol 41, Nº 4, p. 803-827, 2003. 

Najberg, S.; Pereira, R.O. Novas estimativas do modelo de geração de empregos do BNDES. Sinopse Econômica do BNDES, nº 133, 2004. 

Neri, M.C; Melo, L.C.C; Sacramento, S.R. Superação da  pobreza e a nova classe média no campo. FGV/CPS 2011.

MILLER, R.E.; BLAIR, P.D. Input-Output Analysis: foundations and extensions. Cambridge University Press,  2º Edition, 750 p, 2009.

PARRÉ, J.L. O agronegócio nas macrorregiões brasileiras: 1985 a 1995. Piracicaba, Tese (Doutorado) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, 191p. 2000.

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KURESKI, R.; MAIA,K.;RODRIGUES, R.L.;HARDT, L.P.A Multiplicadores de emprego e renda da indústria brasileira de açúcar em 2004. XLVI Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural, Rio Branco, 2008.


1. Professora de economia na Universidade de Brasília. E-mail: milene@unb.br

2. Professor de economia na Universidade Federal de Goiás: E-mail: cleysercunha@gmail.com

3. Aluno de doutorado em economia na Universidade de Brasília: E-mail: amonkablana25@yahoo.fr

4. Os autores mostraram que a indústria de transformação apresentou os maiores multiplicadores de produção (2,2090), empregos (10,8871) e salários (6,2767).

5. Segundo o IBGE o Sistema de Contas Nacionais referência ano 2010 já estão conformidade com o novo manual System of National Accounts 2008, SNA 2008.

6. Para maiores detalhes ver Miller e Blair (2009, pg. 243, Cap 6).


Revista ESPACIOS. ISSN 0798 1015
Vol. 38 (Nº 36) Año 2017

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