ISSN 0798 1015

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Vol. 38 (Nº 36) Año 2017. Pág. 27

Qualidade de vida de mulheres climatéricas assistidas na Atenção Primária á Saúde

Quality of life of climacteric women assisted in Primary Health Care

Ronilson Ferreira FREITAS 1; Tahiana Ferreira FREITAS 2; Débora Ribeiro VIEIRA 3; Vivianne Margareth Chaves Pereira REIS 4; Renata Fiúza DAMASCENO 5; Fernanda Paluszkiewicz DULLIUS 6; Josiane Santos Brant ROCHA 7

Recibido: 28/02/2017 • Aprobado: 30/03/2017


Conteúdo

1. Introdução

2. Metodologia

3. Resultados

4. Discussão

5. Conclusão

Referências


RESUMO:

Objetivo: Avaliar a qualidade de vida de mulheres climatéricas assistidas na Atenção Primária a Saúde. Metódos: Estudo epidemiológico, descritivo e transversal, incluindo 626 mulheres climatéricas. A qualidade de vida e os sintomas do climatério foram avaliados através da Escala de Avaliação da Menopausa (Menopause Rating Scale – MRS) e foram analisados ainda parâmetros antropométricos, socioeconômicos e clínicos. O teste t de Student foi utilizado na comparação das médias dos grupos, tendo sido considerado um nível de significância estatística de 5%. Resultados: A qualidade de vida mostrou-se comprometida nas mulheres pós-menopáusicas, ocorrendo um agravamento dos sintomas para as mulheres climatéricas que eram sedentárias, que usavam medicamentos e fumantes. Conclusão: A acentuada presença de sintomas próprios do climatério e o impacto negativo na qualidade de vida das mulheres, demonstrados nesse estudo, corroboram a necessidade de uma atenção especial orientada para esta fase do climatério.
Palavras-chave: Qualidade de Vida; Climatério; Atenção Primária a Saúde.

ABSTRACT:

Objective: To evaluate the quality of life of climacteric women assisted in Primary Health Care. Methods: epidemiological, descriptive and cross-sectional study, including 626 climacteric women. Quality of life and climacteric symptoms were assessed using the Menopause Rating Scale (Menopause Rating Scale-MRS) and were further analyzed anthropometric, socioeconomic and clinical parameters. The Student t test was used to compare the averages of the groups, and was considered a statistical significance level of 5%. Results: Quality of life was compromised in postmenopausal women, experiencing a worsening of symptoms for menopausal women who were sedentary, who used drugs and smoking. Conclusion: The strong presence of own symptoms of menopause and the negative impact on quality of life of women, demonstrated in this study corroborate the need for special attention geared to this phase of menopause.
Keywords: Quality of Life; Climacteric; Primary Health Care.

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1. Introdução

O aumento da expectativa de vida e o declínio da mortalidade conduziram o incremento do envelhecimento populacional nas últimas décadas (CAVADAS et al., 2010). Nesta perspectiva, ocorre uma inversão na pirâmide etária brasileira, configurando um aumento progressivo de mulheres no climatério (BERLEZI et al., 2013; DOLL; RAMOS; BUAES, 2015).

O climatério compreende a transição entre o período reprodutivo e não reprodutivo da vida da mulher, iniciando-se por volta dos 40 anos e estendendo-se até os 65 anos (ARAÚJO et al., 2013; VENTURA et al., 2014). Nessa fase da vida, após interrupção definitiva dos ciclos menstruais (Menopausa) (CABRAL et al., 2012; MARQUES et al., 2015), surgem sintomas urogenitais, somato-vegetativos e psicológicos em consequência do hipoestrogenismo (GUIMARÃES; BAPTISTA, 2011).

Estudos têm demonstrado que a fase da menopausa é marcada pela influência negativa nos escores da qualidade de vida (DENNERSTEIN; LEHERT; GUTHRIE, 2002) e o agravamento desses escores é também documentado em outras investigações pela redução da atividade fisica (OZKAN; ALATAS; ZENCIR, 2005) e pelo uso de medicamentos (ROCHA et al., 2012).

Nesta conjuntura, é reconhecida a importância de saber conduzir os sintomas advindos do climatério, preservando o bem-estar e a qualidade de vida dessa população (AVIS et al., 2009; GRAVENA et al., 2013). Entretanto, devido à carência de políticas públicas direcionadas a essa clientela, salienta a relevância de estudos nesta área, capazes de contribuir para a transformação social e melhorar o atendimento na atenção primária a saúde. Sendo assim, este estudo teve como objetivo avaliar a qualidade de vida de mulheres climatéricas assistidas na Atenção Primária a Saúde em Montes Claros, Minas Gerais.

2. Metodologia

Trata-se de um estudo transversal e analítico realizado no município de Montes Claros, Minas Gerais, Brasil, no período de junho a outubro de 2013. Participaram do estudo 626 mulheres com idade entre 40 a 65 anos cadastradas na Estratégia Saúde da Família (ESF) e selecionadas por meio de sorteio aleatório simples após a seleção de 10 ESF por meio do processo de amostragem por conglomerados em um único estágio.

Para a definição da amostra utilizou-se o número total de ESF (63) e de mulheres na faixa etária de 40 a 65 anos cadastradas na ESF (20.801), sendo que o tamanho da amostra foi calculado para um intervalo de confiança de 95%, prevalência verdadeira de 50% da população do estudo e erro de estimativa de 3%. Todas as mulheres convidadas a participarem do estudo aceitaram o convite e assinaram previamente o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram critérios de exclusão a presença de transtornos mentais, ascite e gravidez.

A classificação da fase do climatério foi realizada de acordo com as etapas de envelhecimento reprodutivo definidas pelo Sistema de Estadiamento do Envelhecimento Reprodutivo Feminino - Stages of Reproductive Aging Workshop +10 (STRAW +10) (HARLOW et al., 2012). A menopausa natural foi reconhecida após 12 meses consecutivos de amenorréia permanente e sem causa patológica evidente.

A coleta de dados ocorreu por meio da utilização de dois instrumentos: Escala de Avaliação da Menopausa - Menopause Rating Scale (MRS) (HAUSER et al., 1994) e questionário elaborado pelos pesquisadores para identificação e caracterização das mulheres (dados clínicos, comportamentais e sociodemográficos).

  A qualidade de vida no climatério e os sintomas climatéricos foram avaliados por meio da MRS, instrumento validado e reconhecido para uso no Brasil e que possui 11 questões distribuídas em três domínios: sintomas somato-vegetativos, sintomas psicológicos e sintomas urogenitais. A resposta de cada questão é classificada em uma escala de intensidade que varia de zero (ausência de sintomas) até quatro (sintomas muito intensos). O escore total da MRS é obtido por meio do somatório da pontuação de cada domínio, de forma que, quanto maior a pontuação obtida, mais intensa a sintomatologia e pior a qualidade de vida (sintomatologia ausente ou ocasional: 0-4 pontos, leve: 5-8 pontos, moderada: 9-15 pontos, intensa: ≥16 pontos).  A intensidade da sintomatologia climatérica pode ser ainda categorizada de acordo com os sintomas climatéricos que compõem cada domínio: sintomas somato-vegetativos (ausentes ou ocasionais: 0-2, leves: 3-4 pontos, moderados: 5-8 pontos, intensos: ≥ 9 pontos); sintomas psicológicos (ausentes ou ocasionais: 0-1 ponto,  leves: 2-3 pontos,  moderados: 4-6 pontos, intensos: ≥ 7 pontos);  sintomas urogenitais (ausentes ou ocasionais: 0 pontos, leves: 1 ponto,  moderados: 2-3 pontos, intensos: ≥ 4 pontos) (HEINEMANN et al., 2003; HEINEMANN et al., 2004).

Além da qualidade de vida e da sintomatologia climatérica, foram avaliadas as seguintes variáveis: idade, escolaridade, remuneração, renda familiar, estado marital, fase do climatério, sintomas da menopausa, história obstétrica, atividade sexual, índice de massa corporal, circunferência abdominal, atividade física, doenças e agravos não transmissíveis, tabagismo e hipertensão.

Para cálculo do IMC, o peso (kg) foi medido com o uso da balança mecânica da marca Filizola®, com precisão de 0,1 kg e capacidade máxima de 180 kg, e a estatura com o uso do estadiômetro SECA 220 (Seca Corporation, Hamburg, Germany) (HEYWARD et al., 2004). A circunferência abdominal (CA) foi medida por meio do uso da fita antropométrica flexível da marca TBW® com graduação de 0,1 cm.

Os dados foram analisados por meio do programa SPSS for Windows (versão 20.0). Nas inferências estatísticas, estabeleceu-se um nível de significância de 5%. Para descrição da amostra foi realizada análise descritiva com frequência, média e desvio padrão, e para comparação entre grupos foi utilizado o Teste T de Student. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), parecer número 311.628/2013.

3. Resultados

As 626 mulheres climatéricas tinham idade entre 40 e 65 anos, sendo que cerca de 60% delas apresentavam idade entre 45 e 59 anos. Em relação à escolaridade e remuneração, a maioria (72%) estudou somente até o ensino fundamental e mais da metade (56,7%) não eram remuneradas. Quanto à renda familiar e ao estado marital, mais de 80% das mulheres (86,2%) recebiam até 02 (dois) salários mínimos e 64,2% relataram não ter companheiro fixo, conforme demonstrado na Tabela 1.

Tabela 1 – Distribuição das variáveis sociodemográficas e socioeconômicas
da população estudada. Montes Claros-MG, 2013

Variável

Frequência

Percentual %

Idade

   40 a 44 anos

   45 a 59 anos

   60 a 65 anos

 

111

371

144

 

17,7

59,3

23,0

Escolaridade

   < 5 anos

   Entre 5 e 9 anos

   Dez anos ou mais

 

218

233

175

 

34,8

37,2

28,0

Remuneração

   Sim

   Não

 

271

355

 

43,3

56,7

Renda familiar

   Menos de 01 salário mínimo

   Entre 01 e 02 salários mínimos

   03 ou mais salários mínimos

 

265

275

86

 

42,3

43,9

13,8

Estado Marital

   Companheiro fixo

   Sem companheiro fixo

 

402

224

 

64,2

35,8

Em relação aos fatores clínicos, a maioria das mulheres eram pós-menopáusicas (58,6%), apresentavam sintomas da menopausa (70,4%), não eram nulíparas (65,3%), tinham vida sexual ativa (60,5%), apresentavam sobrepeso ou obesidade (68,4%) e circunferência abdominal (CA) a partir de 80 cm (89,0%).  Além disso, identificou-se que a maioria das mulheres não praticava atividade física (77,8%), não era fumantes (83,7%) e apresentava hipertensão arterial (75,2%). A ausência de outras doenças não transmissíveis, como diabetes, doença cardiovascular, doenças osteoarticulares e incontinência urinária, foi observada em 80% das mulheres (Tabela 2).

Tabela 2 – Caracterização da população estudada segundo fatores clínicos. Montes Claros-MG, 2013

Variável

Frequência

Percentual %

Fase do climatério

   Pré-menopausa

   Pós-menopausa

 

259

367

 

41,4

58,6

Sintomas da menopausa

   Não apresenta sintomas

   Apresenta sintomas

 

185

 441

 

29,6

70,4

Partos

   Nenhum (nulípara)

   Um ou dois

   Três ou mais

 

217

 185

 224

 

34,7

29,6

35,7

Relações sexuais

   Ativa

   Não ativa

 

379

 247

 

60,5

39,5

Índice de Massa Corporal (IMC, kg/m2)

   Normal (IMC 18,50 - 24,99)

   Sobrepeso (IMC 25,00 - 29,99)

   Obesidade (IMC  ≥ 30,00)

 

198

 238

 190

 

31,6

38,0

30,4

Circunferência abdominal (CA)

   Sem risco (CA<80)

   Risco aumentado (88>CA ≥ 80)

   Risco muito aumentado (≥88)

 

 69

 140

 417

 

11,0

22,4

66,6

Atividade física

   Pratica atividade física

   Não pratica atividade física

 

139

 487

 

22,2

77,8

Doenças e Agravos Não Transmissíveis*

   Não apresenta

   Apresenta

 

501

 125

 

80,0

20,0

Tabagismo

   Fumante

   Não fumante

 

102

 524

 

16,3

83,7

Hipertensão

   Hipertensa

   Não hipertensa

 

471

 155

 

75,2

24,8

*Doenças e Agravos Não Transmissíveis: diabetes, doença cardiovascular,
doenças osteoarticulares e incontinência urinária.

Quanto à qualidade de vida e sintomatologia no climatério, identificou-se, por meio do escore total da Escala de Avaliação da Menopausa (MRS), a presença de sintomatologia moderada tanto nas mulheres pré-menopaúsicas, quanto nas pós-menopáusicas, porém, observou-se que nas mulheres pós-menopáusicas tal sintomalogia apresentou-se com maior intensidade.  Além disso, observou-se o aumento dos sintomas somato-vegetativos e urogenitais nessas mulheres. Em relação aos sintomas psicológicos, não houve diferença significativa entre os grupos pré e pós-menopausa (Tabela 3).

Tabela 3 – Escores de qualidade de vida segundo fase do climatério. Montes Claros-MG, 2013

Qualidade de Vida

Pré-menopáusicas (n=259)

Média±DP

  Pós-menopáusicas (n=367)

Média±DP

p

Sintomas somato-vegetativos

5,1±8,8

6,6±3,9

0,000*

Sintomas psicológicos

6,4±4,6

6,2±4,3

0,757

Sintomas urogenitais

1,5±2,0

2,6±2,8

0,000*

Escore total

13,0±8,7

15,5±8,8

0,000*

DP: desvio padrão; n: número de elementos da amostra; *Teste T de Student (p<0,05).

Em relação à atividade física, as mulheres que não praticavam apresentaram maior manifestação dos sintomas somato-vegetativos, psicológicos e urogenitais quando comparadas as mulheres que praticavam.  Quanto ao tabagismo, as mulheres fumantes apresentaram sintomatologia climatérica intensa e aumento dos sintomas somato-vegetativos e psicológicos quando comparadas às mulheres não fumantes (Tabela 4).

Tabela 4 - Qualidade de vida em mulheres climatéricas segundo
atividade física e tabagismo. Montes Claros-MG, 2013

Qualidade de Vida

 

Atividade Física

Tabagismo

  Pratica

Média±DP

Não-pratica

Média±DP

Fumante

Média±DP

Não-fumante

Média±DP

Sintomas somato-vegetativos

 

4,7±3,6

6,3±3,9*

6,8±4,2

5,8±3,9*

Sintomas psicológicos

 

5,4 ±4,2

6,5±4,4*

7,9±4,8

6,0±4,3*

Sintomas urogenitais

 

1,7±2,4

2,3±2,6*

2,6±2,9

2,1±2,5

Escore total

11,9±8,4

15,2±8,9*

17,4±10,1

14,0±8,6*

DP: desvio padrão; *Teste T de Student (p<0,05).

4. Discussão

Segundo tendências atuais de transição demográfica, cerca de 90% das mulheres atingirão o período do climatério, em consequência de melhorias nas condições sociais, assistência médica mais acessível e maior controle e tratamento de doenças (LEE et al., 2010).

O estado menopausal tem apresentado um impacto negativo na qualidade de vida das mulheres, características sociodemográficas, estilo de vida e o estado psicológico podem ser associados com a gravidade dos sintomas climatéricos (LEE et al., 2010; MARQUES et al., 2015). Com este estudo buscou-se avaliar a qualidade de vida de mulheres climatéricas, procurando responder a algumas lacunas identificadas na literatura causadas pelo restrito número de estudos que avaliam a qualidade de vida de mulheres climatéricas (WARD-RITACCO et al., 2014), especificamente no norte de Minas Gerais (ROCHA; ROCHA; MOREIRA, 2012).

O questionário de Avaliação da Menopausa (Menopause Rating Scale - MRS) aponta evidências metodológicas de alta qualidade e é considerado um instrumento prático e de fácil aplicação, englobando os sintomas que podem ser alterados, decorrentes do advento do climatério, além de ter sido validado para a população brasileira (HEINEMANN et al., 2003; HEINEMANN et al., 2004), o que permitiu a avaliação do grupo de mulheres (pré e pós-menopáusicas). A partir do questionário, observou-se ainda que o estado menopausal agravou significativamente os sintomas somato-vegetativos, psicológicos e urogenitais. Estudos revelam que na pré-menopausa prevalecem os sintomas vasomotores (fogachos, sudorese fria) (VILLAVERDE-GUTIÉRREZ et al., 2006), entretanto, nesse estudo, o grupo de mulheres (pré e pós-menopáusicas) apresentaram sintomatologia leves para os domínios somato-vegetativos, sendo mais evidentes com resultados significativos nas mulheres pós-menopáusicas, o que pode ser justificado pelo perfil da amostra, onde sintomas climatéricos podem variar em diferentes populações (WARD-RITACCO et al., 2014).

Quanto ao domínio psicológico, que engloba humor depressivo, ambos os grupos de mulheres (pré e pós-menopáusicas) apresentaram sintomas leves, sem diferenças significativas, que vão de encontro com os resultados propostos por Ward-Ritacco et al. (2014).

Os sintomas urogenitais são constituídos pelo ressecamento vaginal, problemas sexuais e de bexiga, e, geralmente são mais evidentes em populações pós menopáusicas (DONGES; DUFFIELD; DRINKWATER, 2010; SPEZZIA; CALVOSO JÚNIOR, 2013; SASSOON et al., 2014; SILVA et al., 2015), indo de encontro com os resultados desse estudo, que apresentaram sintomatologia ocasional, com diferenças significativas entre os grupos estudados. Entretanto, a predominância do baixo nível de escolaridade da amostra, dificultou o autorrelato (VILLAVERDE-GUTIÉRREZ et al., 2006).

 Ao avaliar o score total da qualidade de vida, observou-se sintomatologia moderada em ambos os grupos, sendo mais acentuada e com diferença significativa no grupo de mulheres pós-menopáusicas, o que pode ser explicado pelo baixo nível de escolaridade e níveis socioeconômicos (LIU et al., 2014), além de apresentar reduzido nível de atividade física, o que implica em uma diminuição da motilidade (ROCHA; ROCHA; MOREIRA, 2012).

Estudos realizados no Brasil (FERREIRA et al., 2010; DONGES; DUFFIELD; DRINKWATER, 2010) e em outros países (RUBIN; HACKNEY, 2010; HEDAYATI et al., 2012) documentaram uma elevada prevalência de indivíduos com inadequados níveis de atividade física habitual, sendo agravada em mulheres climatéricas (COSTA; THULER, 2012), indo de encontro com o perfil da amostra analisada, onde piores índices de qualidade de vida foram observados nas mulheres que estavam na pós-menopausa (58,6%), não praticam atividade física (77,8%), o que sugere elevados níveis antropométricos.

A prática regular da atividade física resulta em menor prevalência de ansiedade (FERREIRA et al., 2010) em decorrência do aumento na secreção de beta endorfinas hipotalâmicas, que ainda melhoram o humor, observação confirmada por Silva et al., (2005). Estudos têm fornecido suporte a estas associações, destacando a importância da prática da atividade física (VILLAVERDE-GUTIÉRREZ et al., 2006) para o melhoramento dos sintomas somato-vegetativos e psicológicos.

A amostra revelou um elevado número de mulheres com sobrepeso e obesidade com excesso de adiposidade central, refletindo a influência de diversos fatores na pós-menopausa, entre os quais incluem a redução de lipólise nos adipócitos da região glútea e o aumento da atividade da lipoproteína lipase nas células adiposas abdominais e glúteas (SHI; KUMAR; LIU, 2013; LEÃO et al., 2015). Estudos revelam que o novo padrão de distribuição de gordura corporal (andróide ou abdominal) encontradas na fase de transmissão da menopausa, sobretudo em mulheres pós-menopáusicas, é causada pela deficiência na produção do estrogênio (SCHMITT et al., 2013).

 O incremento do consumo calórico (JOFFE; COLLINS; GOEDECKE, 2013), a presença de uma reduzida atividade física (SEO; LI, 2010) e os níveis de ansiedade e depressão, habitualmente documentados nesta população (PEREZ-LOPEZ et al., 2009), estão também associados à presença de obesidade nesta fase do climatério. A ampliação da adiposidade abdominal resulta, particularmente, do aumento do tecido adiposo visceral e menos subcutâneo (FRANKLIN; PLOUTZ-SNYDER; KANALEY, 2009), revelando o primeiro uma proeminente influência genética (MARTIN et al., 2013).

Um aspecto importante que pode justificar a amostra em estudo apresentar maior adiposidade intra-abdominal é o fato de que 77,5% das mulheres são brancas, sendo estas tenderem a uma maior alocação de tecido adiposo abdominal no compartimento visceral com o avançar da idade (SCHMITT et al., 2013). Outro fator extrínseco que tem se mostrado bastante nocivo à saúde da mulher climatérica e, que apresenta influência no aumento da adiposidade visceral, é o tabagismo (FALL, 2011). Entretanto, a maioria das mulheres estudadas não revelou consumo de tabaco.

O tabaco é uma substância que altera de maneira significativa a qualidade das mulheres climatéricas (SOARES; BARRETO, 2014). Entre os problemas de saúde que o tabaco pode causar no individuo, é possível destacar a doença bronco-pulmonar obstrutiva crônica, o câncer de pulmão e um elevado risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. A nicotina estimula ainda a secreção de serotonina e de dopamina, causando ansiedade e até euforia, além de interferir na globulina carreadora de estrogênio, agravando os sintomas climatéricos e o risco de osteoporose (DE LORENZI et al., 2009). Além disso, Oliveira et al., (2001) concluiu que mulheres fumantes no climatério, que frequentavam o Programa de Saúde de Cuiabá, Brasil, tinham mais sintomas vasomotores do que não fumadoras, confirmando os achados deste estudo.

Entretanto, a escassez de pesquisas, os diferentes instrumentos escolhidos para medir a qualidade de vida e as limitações metodológicas dos estudos identificados, impediu conclusões sólidas que estão sendo feitas sobre os escores de qualidade de mulheres climatéricas. Mais pesquisas são necessárias para explorar estes aspectos, particularmente em comparação com as mulheres na pré e pós-menopausa, onde alguns trabalhos identificaram que mulheres na pós-menopausa tendem a apresentar uma pior qualidade de vida em decorrência dos sintomas que surgem nesta fase da vida (OLIVEIRA et al., 2001).

5. Conclusão

A qualidade de vida mostrou-se comprometida quanto ao estado menopausal, efetivamente nas mulheres pós-menopáusicas, além disso, ainda verificou-se um agravamento dos sintomas para as mulheres climatéricas que eram sedentárias, usavam medicamentos e fumavam. A alta prevalência de sintomas próprios do climatério e o impacto negativo na qualidade de vida mostrados nesse estudo vêm corroborar com a necessidade de uma atenção voltada especialmente para essa fase da vida da mulher, cada vez mais ampla, tendo em vista também o envelhecimento populacional e o aumento da expectativa de vida das brasileiras.

Referências

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1. Mestre em Saúde, Sociedade e Ambiente pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM. Professor das Faculdades Integradas do Norte de Minas – Funorte e da Faculdade Verde Norte – Favenorte. Email: ronnypharmacia@gmail.com

2. Graduada pelas Faculdades Integradas do Norte de Minas – Funorte. Fonoaudióloga do Núcleo de Apoio à Saúde da Família - NASF.

3. Graduanda em Medicina pelas Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros – FIPMoc.

4. Doutoranda em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes. Professora do Departamento de Educação Física e do Desporto da Unimontes.

5. Mestra em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes. Enfermeira da Superintendência Estadual de Saúde de Minas Gerais.

6. Mestra em Cuidados Primários em Saúde pela Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes

7. Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília – UnB. Professora das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros – FIPMoc e da Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes.


Revista ESPACIOS. ISSN 0798 1015
Vol. 38 (Nº 36) Año 2017

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