ISSN 0798 1015

logo

Vol. 38 (Nº 28) Año 2017. Pág. 21

Caracterização das práticas de produção utilizadas por produtores de flores e plantas ornamentais na Amazônia

Characterization of the production practices used by flower and ornamental plants producers in Santarém-PA (Brasil)

Ana Cecília de Moura COSTA 1; Helionora da Silva ALVES CHIBA 2

Recibido: 02/01/17 • Aprobado: 02/02/2017


Conteúdo

1. Introdução

2. Material e métodos

3. Resultados e discussão

4. Conclusão

Agradecimentos

Referências bibliográficas


RESUMO:

O objetivo da pesquisa foi caracterizar as principais práticas de produção de flores e plantas ornamentais, adotadas por produtores no município de Santarém/Pará, Brasil. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com vinte produtores, e os dados obtidos foram submetidos à análises descritivas. As principais práticas de produção utilizadas voltadas ao cultivo são: incorporação de adubo orgânico, irrigação, envasamento, poda, utilização de sombrite e sacos de polietileno. As principais formas de propagação de plantas utilizadas são: estaquia e sementes. Os principais substratos utilizados na produção são: esterco de galinha, terra preta, serragem e palha de arroz carbonizada.
Palavras-chave: Apoio técnico, desenvolvimento, métodos de propagação, substratos.

ABSTRACT:

The objective of the research was to characterize the main practices of flower production and ornamental plants, adopted by producers in the city of Santarém / Pará, Brazil. Semi-structured interviews were conducted with twenty producers, and the data were submitted to descriptive analyzes. The main production practices used for cultivation are: incorporation of organic fertilizer, irrigation, bottling, pruning, use of sombrite and polyethylene bags. The main forms of propagation of plants used are: cuttings and seeds. The main substrates used in the production are: chicken manure, black earth, sawdust and carbonized rice straw.
Keywords: Technical support, development, propagation methods, substrates

1. Introdução

O cultivo de flores é uma atividade que vem despertando o interesse de diversos produtores, atraídos pela beleza e rentabilidade da floricultura , além de ser mais uma  alternativa de renda, desperta a atenção de empreendedores que buscam novas áreas de trabalho dentro do seguimento da horticultura. (NETO, 2010).

De acordo com Lomachinsky (2005), a floricultura é uma cadeia produtiva ainda pouco explorada e conhecida, uma área quase não estudada no Brasil, há dificuldade em se encontrar literatura acadêmico-cientifico para pesquisas sobre esse setor. O Serviço de apoio às micro e pequenas empresas (Sebrae), desenvolvem estudos que vem contribuindo com materiais bibliográficos sobre a produção de flores no Brasil.

Nos últimos anos esses estudos estão sendo intensificados e apresentam resultados favoráveis para o crescimento da floricultura, que vem se consolidando como uma atividade econômica relevante, porém, o principal aspecto deste segmento é o seu lado social, visto que o cultivo de flores e plantas ornamentais é uma atividade amplamente desenvolvida por pequenos produtores rurais, o que contribui para uma melhor distribuição de renda (FRANÇA e MAIA 2008).

Atualmente a produção e comercialização de flores geram lucro e empregabilidade para ao produtor de pequena, média e alta escala, que reconhecem nesse setor uma oportunidade de aumentar a fonte de renda da família e propagar a valorização desse ramo para as próximas gerações.

No Brasil, o interesse pela floricultura e plantas ornamentais evidenciou-se há alguns anos, quando as plantas começaram a ser apreciadas para a ornamentação, ocupando um lugar de destaque no cotidiano brasileiro (LANDGRAF e PAIVA, 2009). De acordo com Junqueira e Peetz (2008) a condição climática do Brasil é um dos principais fatores que favorecem o cultivo de diferentes espécies de flores de corte ou em jardins planejados.

É válido ressaltar que algumas regiões brasileiras são mais propícias para o cultivo de determinada espécie do que outras, como no caso da diferenciação das plantas tropicais das temperadas, que se adaptam na região conforme suas características morfológicas e fisiológicas.

Segundo França e Maia (2008) a produção nacional de flores e plantas ornamentais, antes concentrada na Região Sudeste, especialmente no Estado de São Paulo, hoje já está presente em todas as regiões do País. Esse resultado positivo foi gerado através do incentivo de instituições brasileiras que acreditam no potencial desse segmento como atividade produtiva.

Em 2014, a Região Sudeste que abrange as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espirito Santo, liderou o ranking nacional em relação ao número de produtores, área de produção e empregabilidade no setor da floricultura, seguida das Regiões Sul, Nordeste, Norte (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) e Centro Oeste (IBRAFLOR, 2015).

As etapas de produção, colheita e pós-colheita são de suma importância para que o produto final seja agradável aos consumidores, visto que um produto de qualidade comercializado no mercado agrega valor e intensifica as vendas, além de satisfazer as exigências dos apreciadores de flores.

Existem poucos estudos relacionados com as práticas de produção realizadas pelos produtores de flores e plantas ornamentais em cidades distantes dos grandes centros de produção no Brasil, e por se tratar de uma atividade econômica relativamente recente na Região Norte é importante conhecer como os produtores estão aprimorando o cultivo dessas espécies em um local onde prevalece o clima tropical.

Sendo assim, esta pesquisa de caráter exploratório e descritivo teve por objetivo caracterizar as principais práticas de produção de flores e plantas ornamentais, adotadas por produtores da cidade de Santarém/PA.

Para tanto, buscou-se: a) identificar as principais espécies cultivadas pelos produtores de flores e plantas ornamentais e suas respectivas categorias; b) identificar os principais métodos de propagação das flores e plantas ornamentais; c) caracterizar quais são os principais substratos utilizados no cultivo, e d) caracterizar as formas de manejo realizadas por produtores de flores de corte em Santarém.

2. Material e métodos

A coleta de dados foi realizada no município de Santarém (Figura 1), localizado na região Oeste do estado do Pará, Brasil, no período de Dezembro/2015 a Julho/2016. A pesquisa foi realizada com produtores de flores e plantas ornamentais cadastrados na sede regional da Emater, sendo que 35 produtores estão cadastrados, porém, apenas 20 foram entrevistados no âmbito deste trabalho, representando 57,14% de amostragem. As entrevistas foram conduzidas nos espaços dos pontos comerciais ou nas áreas produtivas dos entrevistados.

Figura 1. Imagem satélite do município de Santarém-Pará.

Fonte: Google - 2016

O instrumento empregado nesta pesquisa foi um questionário semi-estruturado, composto por questões abertas e fechadas (Apêndice A), relacionadas à fonte de renda, processo de adaptação de plantas exóticas, principais práticas de cultivo utilizadas, tipo de propagação vegetativa, principais flores e plantas ornamentais de importância na comercialização, substratos, capacitação de pessoal e recebimento de auxilio técnico por parte das instituições designadas a esse serviço. Os dados foram sistematizados em planilhas do Excell e submetidos a análises descritivas.

3. Resultados e discussão

A produção e comercialização de flores e plantas ornamentais no município de Santarém surgem nos últimos anos como uma atividade econômica alternativa para o produtor local de pequena e média escala de produção, contudo, a produção no município é relativamente recente comparada ao nível de outros Estados do Brasil que já estão consolidados no mercado há algum tempo.

3.1 Cenário da floricultura de corte em Santarém

Uma pesquisa realizada pelo Sebrae em 2014, demonstrou que a área de produção em Santarém alcançou um total de 59.571 m2, divididos entre cultivo a céu aberto e em estufas, e que as plantas ornamentais obtiveram o maior volume médio mensal produzido em quantidade de produto (11.350) do que as flores de corte (840).

De acordo com os resultados apresentados na tabela 01 apenas duas produtoras, entre as que foram indicadas pela Emater sede regional, cultivam e comercializam flores de corte em Santarém. Um cenário totalmente diferente do que ocorre no Município de Lavras em Minas Gerais, aonde a maioria das floriculturas tem como principal atrativo as flores de corte, seguidas das flores envasadas e mudas para jardim (CERATTI et al. 2007).

Entretanto, duas floriculturas de grande porte em Santarém destinam suas vendas às flores de corte, por serem perenes e de grande beleza e formas exóticas. Estas plantas são apreciadas em arranjos florais e nos jardins devido à rusticidade e ao valor ornamental que apresentam (LUZ et al., 2005). Festas de formatura, aniversários e casamentos são alguns dos eventos em que os arranjos florais são utilizados como parte da ornamentação ou podem ser oferecidos em forma de presentes nas datas comemorativas como no dia das mães e dos namorados.

Há interesse da maioria dos produtores em iniciar o cultivo de flores de corte na região, no entanto, a justificativa utilizada para não produzir é a falta de espaço dentro das propriedades, pois algumas espécies necessitam de um espaçamento maior para seu desenvolvimento e cuidados no trato cultural pré e pós-colheita, visto que as flores e plantas ornamentais cultivadas em vasos (envasadas) ou em pequenos canteiros são mais fáceis de serem transportadas e recebem o manejo adequado sem maiores dificuldades.

A Helicônia (Heliconia rostrata) foi uma das espécies citadas pelas duas produtoras que cultivam flores e folhagens de corte em Santarém (Tabela 1 e Figura 2), um dos motivos que levam ao cultivo dessa espécie é a sua adaptabilidade ao clima quente e úmido das florestas tropicais, característica predominante da Amazônia. E as folhagens se destacam esteticamente pelo desenho de suas folhas grandes, que chamam atenção pela simplicidade e fácil adaptação, principalmente em ambientes interiores.

Produtora Descrição dos produtos
1 Bastão do Imperador (Etlingera elatior)
Alpínias (Alpinia purpurata)
Helicônias (Heliconia rostrata)
Folhagens
 
2 Helicônias (Heliconia rostrata) 
Folhagens

Tabela 1. Descrição das espécies de flores de corte citadas pelas produtoras.

Figura 2. (A) Helicônias cultivadas em uma das áreas produtivas visitadas; (B) Folhagens.

3.2 Destaque dos papéis do homem e da mulher na produção e comercialização de flores e ornamentais

Na cidade de Santarém a produção e comercialização de flores e plantas ornamentais tem um número expressivo de atuação da mulher (66%), sendo que o papel do homem como produtor e comerciante é representado por (44%). Esse resultado condiz com o que ocorre no Estado do Espírito Santo, que no processo de produção de flores e plantas ornamentais observa-se o predomínio do trabalho familiar e do emprego da mão de obra feminina (56% da força de trabalho) (MESQUITA, 2012).

O predomínio da mão de obra feminina na floricultura é comum, visto que a valorização das flores pelas mulheres é algo que é culturalmente inserido no cotidiano. Uma característica importante, assim como ocorre na fruticultura, é a utilização da mão de obra feminina no cultivo de flores e plantas ornamentais, uma vez que a sua produção requer cuidado e atenção, principalmente no momento da colheita (ESPERANÇA et al., 2011).

Muitas mulheres começam a trabalhar com flores por influência da figura feminina da família: mãe, avó, tia ou até por uma amiga, que começam a se interessar por flores por diferentes motivos, seja por hobby, por costume, para fins decorativos, terapêuticos e comerciais. Na pesquisa é possível identificar que as mulheres começaram a produzir para ornamentar seu próprio jardim, mas com o passar do tempo identificaram uma fonte de renda alternativa, pois grande parte das produtoras trabalham em outras atividades como: costura, venda de cosméticos, manicure e venda de comida.

3.3 Flores e plantas ornamentais que se destacam na produção e comercialização

As principais flores e plantas ornamentais (citadas) que são cultivadas e comercializadas pelos produtores entrevistados são as roseiras 24,44%, palmeiras 22,22% e samambaias 17,78%, cactos 13,33%, ixoras 11,11% e rosas do deserto 11,11% (Figura 3). As roseiras tem um índice de comercialização de destaque no mercado local, devido sua exclusividade, beleza única e por sua diversidade.

Figura 3. Principais flores e plantas ornamentais cultivadas e comercializadas nas floriculturas (%).

No entanto, os desafios de se cultivar roseiras no clima amazônico são grandes, devido à intensidade dos raios solares sobre as plantas sem telas de proteção, visto que em grande parte da produção familiar de flores local as espécies são cultivadas a “céu aberto” e podem correr o risco de gerar resultados negativos no cultivo como perdas provenientes de pragas e doenças nas roseiras, influenciando no aspecto da planta.

É necessário destacar que diferentemente do que ocorre no Rio Grande do Sul, em que a rosa é a principal flor de corte produzida (DAUDT, 2002), as roseiras que são comercializadas pelos produtores entrevistados, não são amplamente utilizadas para corte e sim cultivadas em vasos e sacos para que sejam vendidas em feiras livres, floriculturas e outros pontos comerciais. As mini rosas ou rosas em miniatura são de mais frequente cultivo e comercialização por serem envasadas, e de fácil transporte, é necessário atender aos tratos culturais como rega, adubação e as podas no período adequado.

Outra espécie que tem destaque no cultivo e comercialização no mercado local pertence à família Arecaceae (Palmae) e são as palmeiras, são plantas monocotiledóneas, lenhosas, formando um grupo natural de plantas, com morfologia muito característica, que permite, mesmo aos mais leigos, a sua identificação sem maiores dificuldades (SODRÉ, 2005).

No levantamento realizado nas floriculturas de Santarém as palmeiras são de grande importância na composição paisagística de casas e jardins e sua exuberância chama a atenção dos consumidores por marcar a presença tropical no ambiente. E os produtores cultivam diferentes espécies para a comercialização, por serem mais resistentes às intempéries climáticas da região e por serem mais rentáveis de acordo com o tamanho da palmeira.

3.4 Plantas exóticas e nativas

Grande parte das plantas ornamentais cultivadas nos mais diversos locais do mundo não é nativa dessas regiões (HEIDEN et al. 2006), é o caso das plantas cultivadas e comercializadas pelos produtores entrevistados, em que 65% são exóticas e apenas 35% são nativas (Figura 4).

Figura 4- Flores e plantas ornamentais exóticas e nativas descritas pelos produtores (%).

Esse resultado demonstra o interesse do produtor local em obter novas espécies para diversificar sua produção e alavancar suas vendas, no entanto, é necessário um manejo adequado para garantir uma maior adaptação das espécies exóticas na região. Os produtores adquirem flores e plantas exóticas ao compra-las em feiras vindas de outras regiões, como a feira de Holambra, ou fazem pedidos de sementes através da internet, contudo, grande parte dessas espécies já estão adaptadas na região e são cultivadas sem maiores intempéries.

Uma espécie autóctone(nativa) é uma espécie, subespécie ou táxon inferior, que ocorre dentro de sua área natural de dispersão potencial (por exemplo, dentro da área que ocupa de maneira natural, ou pode ocupar, sem a direta ou indireta introdução ou cuidado humano) (IUNC, 2000).

A IUCN (2000), conceitua como espécie alóctone (não-nativa, exótica ou estrangeira) a espécie, subespécie ou táxon inferior que ocorre fora de sua área natural, de dispersão potencial, incluindo qualquer parte, gameta ou propágulo dessa espécie que possa sobreviver e reproduzir-se.

3.5 Processos utilizados pelos produtores na adaptação das plantas exóticas em Santarém

Os principais processos de adaptação utilizados para as plantas exóticas são sombreamento e irrigação 65%, utilização de adubação orgânica e sombreamento 20% e sombreamento e troca de substrato 15% (Figura 5).

Figura 5. Processos de adaptação utilizados no cultivo das plantas exóticas (%).

Descripción: D:\Users\Usuário\Pictures\ceci2.jpg

O sombreamento citado pelos entrevistados está relacionado ao processo de adaptação das plantas vindas de outros locais ou propriedades que por um determinado tempo permanecem em partes sombreadas (varandas ou embaixo de outras árvores) ou com alguma tela de proteção (sombrite) na área de produção da propriedade. Essa prática é repassada de geração para geração ou é realizada de maneira empírica pelos produtores.

A irrigação é uma das práticas mais utilizadas no manejo de flores e plantas ornamentais, auxiliando também na adaptação de plantas exóticas, esse tipo de adaptação ocorre através de uma fase de teste, ou seja, a cada dia o produtor testa a quantidade de agua que a planta necessita para florescer e estar pronta para se juntar as outras espécies na área de produção, sendo feita de forma manual.

As questões sobre o momento de irrigar e a quantidade de agua a aplicar são básicas no manejo da agua de irrigação. O manejo deve ser feito visando a fornecer água às plantas em quantidade suficiente para prevenir o estresse hídrico, favorecendo incremento de produtividade e qualidade da produção (MAROUELLI et al. 2011).

A troca de substrato é realizada quando os produtores recebem as plantas exóticas, geralmente oriundas de outra região, e substituem a mistura que vem nas flores e plantas envasadas por substratos já preparados em sua área de produção e que eles já têm conhecimento do que é aceito pelas plantas adaptadas anteriormente.

3.6 Identificação das principais espécies cultivadas pelos produtores de flores e plantas ornamentais

Para se obter um panorama mais completo e dinâmico das flores e plantas ornamentais cultivadas e comercializadas pelos entrevistados realizou-se uma breve descrição das espécies de acordo com o nome popular, nome cientifico e sua determinada categoria (Tabela 2), algumas identificações de espécies foi possível através de sites especializados em jardinagem e paisagismo.

De acordo com os dados apresentados na tabela 2 às categorias estão bem distribuídas entre folhagem, cactos e suculentas, palmeiras, flores perenes, flores anuais e plantas esculturais.

Tabela 2. Flores e plantas ornamentais cultivadas e comercializadas nas floriculturas de Santarém.

Nome Popular Subespécies Nome científico Categoria
Samambaia   Nephrolepis exaltata Folhagem
Tajá   Caladium bicolor Folhagem
Cabelo de anjo   Soleirolia soleirolii Folhagem
Dracena   Dracaena fragrans Folhagem
Comigo ninguém pode   Dieffenbachia amoena Folhagem
Cacto Cacto bola Echinocactus grusonii Cactos e suculentas
Cacto flor estrela Stapelia hirsuta Cactos e suculentas
Rosa do deserto   Adenium obesum Suculentas, flores perenes
11 horas Portulaca grandiflora Cactos e suculentas
Lança de São Jorge Sansevieria cylindrica Cactos e suculentas, 
Abacaxi roxo   Tradescantia spathacea Cactos e suculentas, folhagens e forrações
Palmeiras Palmeira leque Licuala grandis Palmeiras
Palmeira rápis Rhapis excelsa Palmeiras
Palmeira areca Dypsis lutescens Palmeiras
Palmeira-rabo-de-raposa Wodyetia bifurcata Palmeiras
Palmeira-fênix Phoenix roebelenii Palmeiras
Ixora   Ixora occínea Flores perenes
Antúrio Anthurium andraeanum Flores perenes
Lírio da paz   Spathiphyllum cannifolium Flores perenes
Lantanas ou Cambará Lantana camara  
    Flores perenes
Coroa de Cristo   Euphorbia milii Arbustos tropicais
Verbena   Verbena hybrida Flores anuais, Flores perenes
Vinca ou maria sem vergonha Catharanthus roseus Flores anuais, flores perenes
Cica   Cycas revoluta Plantas esculturais, Bonsai

 

3.7 Práticas de cultivo utilizadas na produção de flores e plantas ornamentais

Para que a produção de flores e plantas ornamentais seja considerada viável para os pequenos produtores é necessário que haja um conhecimento prévio de algumas práticas que auxiliam na condução das plantas desde o semeio/estaquia, cultivo, colheita e até a sua comercialização.

Os produtores de Santarém utilizam como principal prática de cultivo a incorporação de adubo orgânico (38,78%) em suas flores e plantas que comercializam envasadas (22,45%) ou em sacos de poliestileno (6,12%), e tratando a irrigação (14,29%) como um fator fundamental no desenvolvimento das plantas, principalmente no período estiagem da região (Figura 6).

Figura 6. Principais práticas de cultivo para flores e plantas ornamentais em Santarém Pará (%).

De acordo com Silva (2008) ocorrem algumas vantagens quando se utiliza compostos orgânicos no cultivo, como aumento da capacidade de troca catiônica do solo (CTC), aumento do poder tampão do solo, aumenta a disponibilidade de retenção de água no solo, disponibilizando-a para as plantas, aumenta o teor de matéria orgânica no solo, condiciona o solo, dando uma melhor estruturação e melhora o desenvolvimento do sistema radicular das plantas.

As propriedades dos adubos orgânicos aparecem com maior ou menor intensidade dependendo das condições do solo, da natureza do resíduo e das condições climáticas locais (SILVA, 2008). A composição dos adubos orgânicos encontrados no cultivo das flores e plantas ornamentais pode ter diferentes níveis decorrentes das propriedades química e físicas de cada solo, assim alguns compostos podem ser mais eficientes que outros e a qualidade dos mesmos influenciam diretamente no desenvolvimento das plantas.

O envasamento de flores e plantas ornamentais e o cultivo em sacos de polietileno são práticas bastante utilizadas pelos produtores locais, no entanto, existem outros utensílios usados para receber as mudas ou estacas depois de adaptadas, como baldes, copos plásticos, cestas de bicicletas não usadas ou panelas velhas (Figura 7).

Figura 7. (A) Cesta de bicicleta com plantas; (B) Suculentas plantadas em baldes suspensos;
(C) Panelas usadas para cultivo de plantas (D) Copos descartáveis na produção de cactos.

3.8 Métodos de propagação

Existem dois principais métodos de propagação de plantas, a propagação por sementes e a propagação vegetativa. A propagação por sementes, ou sexuada, é o principal método pelo qual as plantas se reproduzem na natureza, e também um dos mais eficientes, sendo amplamente utilizado na propagação de plantas cultivadas (FRANZON et al. 2010). De acordo com os dados apresentados na figura 8 observa-se que a propagação por sementes foi a segunda técnica mais utilizada pelos produtores da região (39,53%).

Figura 8. Técnicas de propagação utilizadas na produção das mudas (%)

A propagação vegetativa consiste em multiplicar assexuadamente partes de plantas (células, tecidos, órgãos ou propágulos), originando indivíduos geralmente idênticos à planta-mãe (WENDLING, 2003). Entre os métodos de propagação vegetativa a estaquia é destaque, a estaquia é uma técnica que consiste em promover o enraizamento de partes da planta, podendo ser ramos, raízes, folhas e até mesmo fascículos (WENDLING, 2003), sendo o método de propagação mais utilizado na produção de mudas de flores e plantas ornamentais entre os produtores de Santarém (46,51%) (Figura 8). Segundo os relatos dos produtores o estaqueamento é um método mais fácil da planta “pegar” e se desenvolver mais rápido.

3.9 Utilização de substratos na produção

O termo “substrato” é aplicado a todo material sólido, natural, sintético ou residual, mineral ou orgânico, na sua forma pura ou em mistura, capaz de permitir a fixação do sistema radicular, tanto do ponto de vista físico como químico, possibilitando assim a sustentação da planta (ABAD e NOGUEIRA, 1998). Ele é responsável pela disponibilidade de água e nutrientes às plantas, atuando diretamente no desenvolvimento e arquitetura do sistema radicular e nos processos de germinação de sementes e formação da parte aérea (BÖHN, 1979; LATIMER, 1991).

Os dados apresentados na figura 9 configuram bem os diferentes substratos utilizados na produção de flores e plantas ornamentais, tendo como destaque o esterco de galinha (23,61%), terra preta/terriço (22,22%), palha de arroz (13,88%), serragem (11,11%), pau podre e esterco de gado, ambos com (6,94%).

Os produtores adotam como principais substratos aqueles que são de fácil acesso e aqueles com o preço mais barato, todos os substratos citados acima são acessíveis principalmente para os produtores que moram ao redor de granjas, fazendas ou em lugares mais afastados da cidade, mas o produtor que mora na cidade pode conseguir os substratos por meio de terceiros.

Em geral os substratos são formados por mais de um componente, visando o equilíbrio físico e químico da combinação a ser utilizada na produção de mudas, isso porque materiais utilizados de forma isolada normalmente não atendem a todas as exigências da planta (ARAÚJO, 2010). Ou seja, por isso a necessidade dos produtores utilizarem na formação do substrato componentes de diferentes origens: animal, vegetal, mineral e artificial.

Figura 9. Substratos utilizados na produção de flores e plantas ornamentais (%)

3.10 Incentivo a capacitação técnica

Os cursos de capacitação são de grande importância para agregar conhecimento ao produtor, principalmente por repassar técnicas novas e reforçar as antigas, perguntados sobre a realização dos cursos de capacitação 90% dos produtores de flores e plantas ornamentais disseram que sim e 10% não participaram ou não foram convidados pelas instituições. Em 80% dos casos o curso é oferecido pelo Sebrae e os demais pela Emater e o Instituto Federal do Pará (Ifpa).

O Sebrae se destaca como um grande parceiro no que se refere ao incentivo e capacitação dos produtores, oferecendo cursos como: paisagismo, atendimento ao público, produção de adubo, poda de rosa do deserto, marketing, enxertia de plantas ornamentais e plano de controle de custos. Além de confeccionar cartilhas que descrevem em números e ações como o ramo da floricultura destaca-se no agronegócio e exercem influência com seus dados favoráveis que outros produtores possam se engajar no ramo e conseguir uma renda extra.

3.11 Auxílio técnico na produção

O auxilio técnico também é realizado de forma relativamente positiva aos produtores, 65% disseram que recebem auxilio técnico de instituições como a Emater e o Sebrae e 35% não recebem auxilio. A demanda de produtores que precisam de auxilio na sua produção está cada vez mais crescente na região, as instituições que devem prestar esse serviço muitas das vezes não tem recurso financeiro para enviar o seu pessoal até as comunidades distantes. É por isso, que a realização de cursos de capacitação são sediados na cidade, com o intuito de diminuir esses resultados negativos de falta de assistência técnica.

Novos profissionais estão se capacitando para atender a demanda da região, como os profissionais egressos do curso de Agronomia da UFOPA (Universidade Federal do Oeste do Pará), ULBRA (Universidade Luterana do Brasil) e das escolas técnicas como o IFPA (Instituto Federal do Pará) e CFR (Casa Familiar Rural) que formam técnicos agropecuários envolvidos com a realidade local, portanto é fundamental que tais instituições formem profissionais que atendam a realidade local, que sejam preparados para atuar com a agricultura familiar da região, e assim contribuir para alavancar antigos e novos segmentos que vem sendo trabalhado por esses agricultores, como exemplo da produção de flores e plantas ornamentais.

O mercado atual desse segmento necessita de capacitação técnica que incentivem a produção e comercialização de flores e plantas ornamentais para alavancar a passos firmes a economia desse setor e gerar resultados satisfatórios ao produtor e ao consumidor final, não podendo ter o foco apenas no agronegócio e nas grandes áreas de lavouras na região, pois a maior parte do alimento produzido no Brasil é oriundo da produção familiar.

4. Conclusão

A partir dos resultados obtidos pelo estudo, pode se concluir que as principais práticas de produção utilizadas por produtores de flores e plantas ornamentais voltadas ao cultivo são a incorporação de adubo orgânico, irrigação, envasamento, poda, utilização de sombrite e sacos de polietileno.

As principais formas de propagação de plantas utilizadas são por estaquia e por sementes (assexuada e sexuada). Os principais substratos utilizados na produção são esterco de galinha, terra preta (terriço), serragem e palha de arroz carbonizada.

Em Santarém instituições como Sebrae e Emater são parceiras na capacitação dos produtores, auxiliando-os no emprego de técnicas relacionadas ao mercado e ao campo.

Agradecimentos

Aos produtores de flore e plantas ornamentais de Santarém pelas informações prestadas.

5. Referências bibliográficas

Abad, M., & Noguera, P. (1998). Substratos para el cultivo sin suelo y fertirrigación. In: Cadahia, C. (Coord.). Fertirrigatión: Cultivos Hortícolas y Ornamentales. Madrid: Mundi-Prensa, p. 287-342.

Araújo, D. B. (2010). Produção de mudas de espécies ornamentais em substratos a base de resíduos agroindustriais e agropecuários. (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Ceará. Fortaleza.

Ceratti, M.; [et al.]. (2007). Comercialização de flores e plantas ornamentais no segmento varejista no município de Lavras/MG. Ciência e agrotecnologia, 31(4), 1212-1218.

Daudt, R. H. S. (2002). Censo da Produção de Flores e Plantas Ornamentais no RS na Virada do Milênio. (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre.

Esperança, A. A.; [et al.]. (2011). Analise comparativa do desempenho exportador de flores e plantas ornamentais nos estados de São Paulo e Ceará. Disponível em file:///D:/Users/Usu%C3%A1rio/Downloads/145-258-1-SM.pdf. Acessado em 03 de março de 2016.

Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará – Emater - PA. (2011). Emater participa do Frutal Amazônia. Disponível em http://www.emater.pa.gov.br/destaque/45. Acessado em 02 de dezembro de 2016.

Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará – Emater - PA. (2013). Flor Tapajós recebe público de 12 mil pessoas em Santarém. Disponível em http://www.emater.pa.gov.br/destaque/605. Acessado em 03 de dezembro de 2016.

França, C. A. M. & Maia, M. B. R. (2008). Panorama do Agronegócio de Flores e Plantas Ornamentais no Brasil. In: XLVI Congresso da Sociedade de Economia, Administração e Sociologia Rural, Anais... Rio Branco: SBEASR.

Franzon, R. C.; [et al.]. (2010). Produção de Mudas: principais técnicas utilizadas na propagação de fruteiras. Planaltina: Embrapa Cerrados, 56 p.

Heiden, G.; [et al.]. (2006). Considerações sobre o uso de plantas ornamentais nativas. Revista Brasileira de Horticultura Ornamental, 12(1), p. 2-8.

Instituto Brasileiro de Floricultura - Ibraflor. O mercado de flores no Brasil. Disponível em http://www.ibraflor.com/publicacoes/vw.php?cod=246. Acessado em 13 de junho de 2016.

Junqueira, A. H. & Peetz, M. S. (2008). Mercado interno para os produtos da floricultura brasileira: características, tendências e importância socioeconômica recente. Horticultura ornamental, 14(1), p. 37-52.

Landgraf, P. R. C. & Paiva, P. D. O. (2009). Produção de mudas para jardim no estado de Minas Gerais. Ciência e agrotecnologia, 33(1), p. 127-131.

Lomachinsky, M. H. (2005). A evolução da floricul­tura pernambucana: Um novo produto na pauta de exportação do estado. (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Pernambuco. Pernambuco.

Luz, P. B. da; [et al.]. (2005). Cultivo de flores tropicais. Informe Agropecuário, 26 (227), p. 62-72.

Marouelli, W. A.; [et al.]. (2011). Manejo da água de irrigação. In: Sousa, V. F. de; [et al.]. Irrigação e fertirrigação em fruteiras e hortaliças. Brasília: Embrapa, p. 157-232.

Mesquita, G. R. I. Particularidades do trabalho agrícola da mulher: Revisão de literatura. (2012). Disponível em http://ppgca.evz.ufg.br/up/67/o/PARTICULARIDADES_DO_TRABALHO_AGRICOLA_DA_MULHER.pdf?1353349531. Acessado em 15 de novembro de 2016.

Neto, A. S. M. (2010). Caracterização e viabilidade economica do sistema produtivo de flores tropicais do Rio de Janeiro. 86 p. (Dissertação de Mestrado). Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Rio de janeiro.

Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - Sebrae. Caracterização da floricultura brasileira. Disponível em http://www.mercados.sebrae.com.br/boletim-caracterizacao-da-floricultura-brasileira/. Acessado em 15 de agosto de 2016.

Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - Sebrae. (2014). Serviço de Apoio ás Micro e Pequenas Empresas do Pará. Perfil socioeconômico e tecnológico de empreendimentos produtores de plantas ornamentais, no Município de Santarém/PA.

Silva, E. C. F. (2008). Produção de composto orgânico. Muzambinho: Escola Agrotécnica Federal de Muzambinho. 31p. Disponível em http://dev.muz.ifsuldeminas.edu.br/portal/attachments/221_producao_composto_organico.pdf. Acessado em 04 de março de 2016.

SODRÉ, J. B. (2005). Morfologia das palmeiras como meio de identificação e uso paisagístico. (Monografia de Especialização). Universidade Federal de Lavras. Lavras. Disponível em http://www.ceapdesign.com.br/sodre.pdf. Acessado em 14 de novembro de 2016.

The World Conservation Union – IUCN. (2000). Guías para la prevención de pérdidas de diversidad biológica ocasionadas por espécies exóticas invasoras. Disponível em https://portals.iucn.org/library/efiles/documents/Rep-2000-052-Es.pdf. Acessado em 15 de novembro de 2016.

Wendling, I. (2003) Propagação vegetativa. I Semana do estudante universitário. Embrapa florestas. Disponível em: http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/50925/1/Wendling.pdf. Acesso em 15 de novembro de 2016.


1. Estudante do Curso Bacharelado em Agronomia na Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). ceciprincestm@hotmail.com

2. Docente da Universidade Federal Oeste do Pará (UFOPA). Programa de Pós-Graduação em Sociedade, Ambiente e Qualidade de Vida. Santarém, PA, Brasil. Helionora.alves@ufopa.edu.br


Revista ESPACIOS. ISSN 0798 1015
Vol. 38 (Nº 28) Año 2017

[Índice]

[En caso de encontrar algún error en este website favor enviar email a webmaster]

revistaespacios.com