ISSN 0798 1015

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Vol. 38 (Nº 20) Año 2017. Pág. 6

O Corpo Vivo: A linguagem corporal na educação de crianças pequenas

The Living Body: Body language in the education of young children

Dryelle Patrícia Silva e SILVA 1; João Batista BOTTENTUIT Junior 2

Recibido: 14/11/16 • Aprobado: 28/11/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. O Corpo Comunica: Para além das palavras

3. Considerações Finais

Referências


RESUMO:

O homem é um ser social, biológico, psíquico, cultural e histórico. Ou seja, apenas um organismo é constituído por complexos diferentes. E para desenvolver-se e ser cidadão em algumas sociedades, a educação formal torna-se o fundamento para manutenção ou fortalecimento do sistema. Assim, destacamos a educação infantil (primeira etapa da educação básica), porque é nesse período em que as crianças de zero a cinco anos absorvem através dos gestos, palavras, pelos toques, olhares e sensações e podem construir a sua identidade, atribuindo significado nas relações e nos elementos que as cercam. É na infância que os valores e conceitos sobre a vida começam a ser organizados. Faz-se indispensável questionar a postura dos (as) professores (as) que lecionam na primeira etapa da educação básica, pois o seu posicionamento e os seus conhecimentos sobre o desenvolvimento do ser nessa fase será traduzido na relação professor e aluno (adulto e criança). Nesse artigo, analisaremos a educação no eixo da linguagem corporal, visto que através dos movimentos corporais há comunicação e o corpo torna-se o centro da linguagem, ele é vivo. Este trabalho preocupa-se em discorrer sobre a linguagem corporal na educação de crianças pequenas, apresentando que, os corpos do professor e dos alunos necessitam ser considerados no processo de ensino e aprendizagem. Porém, o corpo do educador reflete suas percepções e práticas pedagógicas e o aluno ele realiza as suas interpretações. Assim, investigando sobre a gestualidade e expressividade na educação de crianças pequenas, pesquisamos bibliografias e realizamos registros para estruturar ideias sobre o corpo ativo, auxiliando na construção dos conhecimentos dos meninos e meninas da educação infantil.
Palavras – Chave: linguagem, corpo, educação e crianças pequenas.

ABSTRACT:

Man is social being, the biological, psychological, cultural and historical. That´s just a body composed of different complexes. And develop Citizen and in some societies, formal education becomes the foundation through maintenance or strengthening of the system. Thus, we emphasize early childhood education ( first stage of basic education), because this is the period when children from zero to five years absorb through gestures, words by touches, looks and feelings and can build their identity by assigning meaning in relations and elements that surround them. It is childhood that the values and concepts of life begin to b organized. It will be necessary to question the position of ( the) teachers ( as) who teach in the first stage of basic education because their positioning and their knowledge of the development this phase will be translated in the teacher and student relationship ( adult and child). In this article we focus on education in the axis of the body language, as through bodily movements communication the body becomes the center of the language, is alive. This work worring talk about language in early childhood education showing with the bodies of the teacher and the students need to be considered in the process of teaching and learning. However, the body of the teacher reflects their perceptions and teaching practices and student he carries out his interpretation. So, investigating gestural expressiveness and in early childhood education we search bibliographies with conduct of records to structure ideas on the active body, helping to build the knowledge of children´s education.
Keywords: language, body, education and small children.

1. Introdução

Conforme o desenvolvimento psicológico, social, histórico e cognitivo dos indivíduos, a linguagem do seu corpo sofre constantes mutações, pois perante as práticas adquiridas, o corpo expressa o “mais belo traço da memória da vida” (SANT’ANNA, 2006, p.3). Sendo possível, em seu próprio mundo, ser relator das experiências dos sujeitos. Assim, além de biológico o corpo é cultural. 

De acordo com Molcho (2007), nosso mundo sensorial é absorvido e compõe a linguagem corporal. Ele narra os sentidos, como escreve Alexandre Fernandes Vaz [3] em seu artigo - Memória e Progresso: sobre a presença do corpo na arqueologia da modernidade de Walter Benjamin, o corpo narra através das suas expressões, pontuando que, os “sentidos dos gestos podem tornar possível uma narrativa histórica do corpo” (VAZ, 2006, p.58). O corpo das experiências na concepção de Walter Benjamin e ele como “próprio”, na visão de Merleau Ponty.

Guiraud (1991) descreve o corpo como aquele que nos informa sobre a identidade e personalidade da pessoa, evidenciando a linguagem corporal em duas funções: a descritora (descreve as características dos objetos) e a ação de exprimir          (sentimentos de indiferença, amor e ódio, alegria e tristeza e outros). Mas para haver a comunicação e a constituição de um contexto, ideias e propósitos, a linguagem corporal necessita da relação entre os sujeitos, o emissor e o receptor, no caso deste estudo é o professor e o aluno e suas interações no processo de ensino e aprendizagem na educação infantil.

Assim, pelo entrelaçamento das relações, os sentidos e sensações podem ser visíveis no ambiente. Como diz Merleau- Ponty “pela sensação, eu apreendo, à margem de minha vida pessoal” (MERLEAU-PONTY, 2006, p. 291), ele pondera, “a vida de meus olhos, de minhas mãos, de meus ouvidos, que são tantos eus naturais” (MERLEAU-PONTY, 2006, p. 291). Desta maneira, a educação infantil possivelmente se configura em práticas que desencadeiam diversas sensações nas crianças, visto que, nesse nível o ambiente deve ser prazeroso, com atividades que conduzam o aluno a construir, montar, se movimentar e sentir o processo para aprender. Desta maneira, os olhos, os ouvidos, as expressões faciais, o movimento dos membros e as ações corporais dos educadores infantis podem auxiliar na organização corporal e subjetiva dos alunos.

Na visão de Pierre Guiraud em sua obra: A linguagem do Corpo, ele escreve que “imaginamos o mundo segundo o modelo de nosso corpo, e assim formamos um conjunto de conceitos e de palavras a partir das imagens corporais” (GIRAUD, 1991, p. 7). A criança pequena absorve os conceitos, símbolos, imagens, gestos e ações, e em algum momento conscientemente ou não ela demonstra o que aprendeu das suas interações. Como explicita Cadermatori (2006) quando afirma o homem construtor do seu ambiente e na proporção que ele se comunica com o meio formando conceitos há o seu desenvolvimento, por isso, a infância é o momento substancial para constituição do ser. 

Conforme relata Carmem Lúcia Soares em seu trabalho sobre Corpo, conhecimento e educação, múltiplas são as faces do corpo; ele é “a inscrição que se move e cada gesto aprendido e internalizado revela trechos da história da sociedade a que pertence”(SOARES, 2006, p. 109), a criança desde seu nascimento recebe, através das suas percepções sensoriais, informações que no decorrer da sua interação com os grupos sociais (a família, as pessoas da comunidade,a escola e outros) selecionam e absorvem para sua vida ações, gestos e códigos.

Nesse contexto, o corpo do professor no ambiente escolar, mesmo manipulado pelas regras escolares e do grupo social que está inserido, é desafiado no cenário corporal a ausentar-se de suas didáticas práticas repressivas, punitivas e ações reducionistas do corpo, pois assim, as inibições privam os anseios pela busca do conhecimento, paralisam o desenvolvimento da afetividade e transformam seres, que porventura seriam capazes de mudar a sua realidade social através dos conhecimentos e criatividade, em meras máquinas.

Assim, neste artigo enfatizamos a importância da Linguagem Corporal na educação de crianças pequenas, apresentando autores que são contrários às ações punitivas e repressivas do corpo. Estando em destaque a concepção filosófica do corpo de Merleau Ponty, pois ele pontua o corpo como vivo, desmistificando a ideia do corpo como suporte para linguagem oral.

Para desenvolver o trabalho utilizamos de bibliografias que envolvem teorias sobre o corpo e interligamos com a educação. E através do estudo sobre a temática, realizamos anotações para estruturar o artigo. Assim, o trabalho é organizado com uma ideia central, O Corpo Comunica: para além das palavras, e após dois subitens que complementam o entendimento da linguagem corporal na educação das crianças pequenas.

Visto que, esse artigo sofrerá ampliações e aprofundamentos teóricos para integrar a o primeiro capítulo da dissertação, que será apresentada ao programa de pós – graduação em Cultura e Sociedade da Universidade Federal do Maranhão. 

2. O Corpo Comunica: Para além das palavras

Pretende-se realizar uma reflexão sobre o corpo destacando-o como construtor das relações existentes entre os povos e culturas. Desta forma, o analisaremos como sendo “um espaço socialmente informado, que assume repertórios de movimentos e se define como um lugar de produção de conhecimentos” (SABINO; LODY, 2011, p. 16). Neste viés, será apresentado o ponto de vista fenomenológico de Maurice Merleau – Ponty e suas contribuições para o estudo do corpo. Aquele que, traz consigo a subjetividade, as experiências que nos enredam como seres históricos e culturais. E realizando o contraponto com as concepções filosóficas do corpo em Michael Foucault.

Também serão observadas a percepção e expressão corporal na concepção de Paul Zumthor, considerando a ideia do corpo como sendo uma:

[...] realidade vivida e que determina minha relação com o mundo. Dotado de uma significação incomparável, ele existe à imagem de meu ser: é ele que eu vivo, possuo e sou, para o melhor repara o pior. Conjunto de tecidos e de órgãos, suporte da vida psíquica, sofrendo também as pressões do social, do institucional, do jurídico, os quais, sem dúvida, pervertem nele seu impulso primeiro (ZUMTHOR, 2007, p.23).

O ser humano edifica a sua história, ele é o protagonista, autor e produtor do seu espetáculo. Conforme Paul Zumthor (2007), o mundo deixa marcas no corpo e por meio delas o indivíduo tece suas experiências, que transparecem em seus costumes, identidades e todas as possíveis significações. No contexto das vivências, o corpo não emite uma linguagem como sendo um simples suporte, mas é a própria identidade. 

No âmbito da linguagem os gestos estão visíveis no corpo. São eles que auxiliam na transmissão do texto contido nele, revelando o corpo livre da palavra: propagador da sua comunicação, o transmissor de vibrações e energias. Mesmo supostamente estático ou em silêncio, a voz ecoa e demonstra a sua essência, suas dores e afetos no seio da sociedade.

No estudo dos gestos, Jean Galard será apontado, apresentando a obra: A beleza dos gestos: uma estética das condutas, destacando a relação dos gestos na construção das relações entre o homem e seu meio e o homem com o outro. Verificando- o como aquele que “se revela, mesmo que sua intenção seja prática, interessada” (GALARD,1997, p.27). Serão abordados os gestos como sendo “essenciais, nítidos e positivos” (CASCUDO, 2003, p.19) aconselhando que (usando as palavras de Leonardo da Vinci) “a palavra muda. O gesto não” (CASCUDO, 2003, p.27). Eles ficam gravados no corpo e transparecem estando submetidos a julgamentos, repetições ou são absorvidos por outros corpos.

A questão da corporeidade e identidade abarcada na esfera educacional, destaca a performance do professor de crianças pequenas, detentor em seu corpo, da sua trajetória educacional, histórica e cultural. Salientando que, esses professores responsáveis pela educação infantil, assistindo a crianças de até cinco anos de idade,  serão os precursores e terão seus corpos lidos, os seus gestos imitados e suas expressões interpretadas pelas crianças.

2.1 Merleau- Ponty: o corpo vivo.

Só posso compreender a função do corpo vivo realizando-a eu mesmo e na medida em que eu sou um corpo que se levanta em direção ao mundo.(MERLEAU – PONTY,2006 p.114)

Um corpo vivo exerce interação com o mundo. Para que haja a comunicação, as experiências alçadas com os objetos instalam sensações. E na visão fenomenológica da percepção, a assimilação do sentir se faz através do corpo. Este é um terreno de criação e insere no mundo diversos olhares. A teoria da percepção, Merleau- Ponty, reforça a ideia do ser que se utiliza dos seus sentidos (olhar, sentir, escutar) escrevendo o corpo em um espaço expressivo, rompendo concepções clássicas baseadas na anatomia, que enquadra o corpo e seus sentidos no campo da passividade.

A experiência está no corpo e é originada pela percepção. A essência da compreensão do mundo está direcionada ao diálogo com os sentidos, como está exposto:

A percepção sinestésica é a regra, e, se não percebemos isso, é porque o saber científico desloca a experiência e porque desaprendemos a ver, a ouvir e, em geral, a sentir, para deduzir de nossa organização corporal e do mundo tal como concebe o físico aquilo que devemos ver, ouvir e sentir (MERLEAU – PONTY,2006 p. 308).

O corpo tem as suas próprias leis, permeadas pelo olhar e ouvir, desencadeando no sentir. O indivíduo torna o corpo ausente em suas práticas, limitando a sua visão a fundamentos empíricos, desligando a compreensão do sensível e da realidade corpórea.

Revela-se nos estudos, o corpo próprio, aquele que “está atado a um certo mundo”( MERLEAU – PONTY, 2006,p. 205). Ele finca o homem no mundo da cultura e da história. É o corpo que narra a vida dos indivíduos por meio das ações, moldando comportamentos e passando pelo mesmo processo. Existe a reciprocidade, pois é inevitável a participação do outro na construção da subjetividade do ser.

A temática corpórea é recorrente nos estudos sociológicos e antropológicos. E nesse âmbito, contribuições foram apresentadas por Merleau-Ponty, ao apresentar o corpo que exprime a cultura, o conhecimento, a moral e outros aspectos que podem compor o ser. Expondo em suas análises “o novo uso do corpo próprio” (MERLEAU – PONTY, 2006, p. 212) aquele que torna enriquecedor o esquema corporal, ou seja, o nosso corpo:

Não é objeto para um “eu penso”: ele é um conjunto de significações vividas que caminha para seu equilíbrio. Por vezes forma-se um novo nó de significações: nossos movimentos antigos integram-se a uma nova entidade motora (MERLEAU – PONTY, 2006, p. 212).

O filósofo confirma o corpo como agregador de significações: Nada se perde. É apenas transformado. Os nossos movimentos estão em constante progresso e uma “nova entidade motora” surge a partir das associações, reuniões e ampliações dos sentidos.

Porém, o corpo como visível e próprio tornou-se contido nas análises e estudos na era da Modernidade, foram retiradas as vendas que cobriam essa temática em múltiplas áreas, como na Medicina, Antropologia, Ciências Sociais, Política, Psicologia, Psiquiatria e outros segmentos de estudo. Por sua vez, suas funções, sentidos e percepções trazem para o mundo das evidências, o corpo como agregador de outros corpos. Ele é estudado em sua complexidade, sendo inscrito nele os acontecimentos, a história e a cultura, como está exposto nas palavras de Michael Foucault:

O corpo: superfície de inscrição dos acontecimentos (enquanto que a linguagem os marca e as idéias os dissolvem), lugar de dissolução do Eu (que supõe a quimera de uma unidade substancial), volume em perpétua pulverização. A genealogia (...) está portanto no ponto de articulação do corpo com a história. Ela deve mostrar o corpo inteiramente marcado de história e a história arruinando o corpo (FOUCAULT, 1979, p.22).

Em outras palavras, o corpo é o terreno de forças, o lugar abundante, marcado pelos acontecimentos vividos pelo tempo:

 [...] sobre o corpo se encontra o estigma dos acontecimentos passados do mesmo modo que dele nascem os desejos, os desfalecimentos e os erros; nele também eles se atam e de repente se exprimem, mas nele também eles se desatam e entram em luta, se apagam uns aos outros e continuam seu insuperável conflito (FOUCAULT, 1979, p. 22).

Através dessas palavras, percebe-se o corpo subordinado aos processos plurais que constituem o homem como ser histórico e conflituoso na edificação da sua própria identidade. O breve pensamento de Foucault, exposto nas citações, apresenta o corpo submisso, onde seus anseios e vontades são rearticulados pelos eventos históricos que o atravessam. Ele é reduzido às organizações sociais, históricas e culturais, sendo manipulável.

Segundo Merleau – Ponty, o corpo próprio conduz o ser no mundo, ou seja, “sei que os objetos têm várias facetas porque eu poderia fazer a volta em torno deles, e neste sentido tenho consciência do mundo por meio de meu corpo”(MERLEAU-PONTY,2006, p.122). O sensível emana no corpo, ele não está preso ou limitado aos significados sócio-históricos e culturais, ele é a própria história, saindo do campo que define o corpo como peça de uma máquina, manipulada pelas estruturas que governam o sistema político, econômico e social.

Exemplificando a experiência do sensível na visão de Merleau – Ponty, recorda-se a história de um cego insano, enlouquecido pela percepção tátil de uma escultura, existente no livro La Bête aveugle deRanpo Edogawamencionado na obra “o corpo como objeto de arte” deHenri- Pierre Jeudy, que diz a narração:

O corpo de uma atriz de cabaré serviu de modelo a um renomeado escultor, que a representou com as dimensões reais em sua nudez magnífica. Essa estrela comparece à exposição com uma amiga. Ela admira seu próprio corpo esculpido, experimentando um prazer incomensurável, quando percebe um homem muito feio que passa suas mãos sobre a escultura, com uma estranha avidez que é quase obscenidade. Ela sente então uma real repulsa, como e esse mesmo homem a tocasse com a ponta dos dedos. Quanto mais ela observa seus gestos, mais a situação lhe parece insuportável. Em seguida, esse homem cego conseguirá arrastar a famosa modelo no emaranhado de suas mórbidas perversões. Ele repetirá a mesma aventura com outras mulheres, condenando-as à morte após o desmembramento de seus corpos, demonstrando-lhes que só um semelhante ato radical lhes permitirá conhecer todo o prazer (JEUDY, 2002, p. 93)

Como descreve a história, o homem cego começa a embriagar-se de prazer, por meio do sentir. As sensações que ele obteve ao tatear a escultura descolaram- se ao além. O seu imaginário ascendeu e os gestos táteis construíram significações em seu corpo. Foi uma vivência eternizada pelas suas mãos. Enquanto que, pelo sentindo da visão, a mulher sentiu prazer e repúdio; o prazer em vê-la esculpida com toda beleza e o repúdio pelo tocar do homem na sua representação, a escultura. Contudo, o homem é o sujeito do tato, evidenciado em Merleau – Ponty:

Correlativamente, enquanto sujeito do tato não posso gabar-me de estar em todas as partes e em parte alguma, aqui, não posso esquecer que através do meu corpo que vou ao mundo, a experiência tátil se faz “adiante” de mim e não é centrada em mim. Não sou eu que toco, é meu corpo [...] (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 424).

Esse fato demonstra um jogo de sensações e sentidos. E assim, o corpo se constitui e reconstitui ao longo das práticas e ações corporais. O corpo exibido, sentido e explorado, torna-se “um colóquio de diferentes linguagens não – verbais, cujo o poder semântico não é mais sugestivo, mas particularmente ofensivo” (JEUDY,2002,p.115) Nas artes, desde os anos 60, o corpo torna-se provocador, sendo exposto pelas performances, nas palavras de Jeudy:

Cada performance é um mundo em si, uma cenografia única no decorrer da qual os gestos corporais serão eles próprios únicos. Cada uma se apresenta como uma crítica feroz ao funcionamento usual das relações sociais, em colocar o público em uma situação de espetáculo, mas, ao contrário, abolindo qualquer distância pelo terror das revelações (JEUDY, 2002, p.116). 

Pode-se dizer, em se tratando do corpo estudado nas artes, que existe a concepção do corpo próprio, de Merleau- Ponty, como exposto: cada gesto corporal é único no desenvolver da performance do ator. Ele comunica, critica e revela o funcionamento social, existe organização e intencionalidade, mas considerando o corpo, “eminentemente um espaço expressivo” (MERLEAU – PONTY, 2006, p.202). 

O homem cria e recria, performatiza, expressa, insere seu corpo na história. Entorno do estudo e uso do corpo, a cultura é produzida e estabelece o sujeito no mundo, pois reconhecer que os gestos corporais são únicos e interferem no outro e no espaço é o encabeçamento para compreensão do corpo vivo. No discurso de Merleau – Ponty:

Pela ação da cultura, instalo-me em vidas que não são a minha, confronto-as, revelo uma para a outra, torno-as co- possíveis numa ordem de verdade, torno- me responsável por todas, suscito uma vida universal, assim como me instalo de uma só vez no espaço pela presença viva e espessa do meu corpo. (MERLEAU-PONTY, 2002, p. 115).

Os atores sociais constroem em sua comunidade ou grupo social suas emoções, tradições, hábitos e mitos que envolvem a sua existência, assim, perpassam por seus corpos e instalam-se no espaço interferindo no constructo dos outros sujeitos. 

Sinalizando o homem como ser que avigora as suas emoções em seu espaço, não sendo “expressões selvagens que vêm quebrar as condutas razoáveis, elas obedecem à lógicas pessoais e sociais que têm também sua razão” (LE BRETON, 2009, p. 112). Visto que o corpo é nutrido pelas sensações originando emoções, repulsas, aflições ou prazeres e desta forma, estabelecendo comunicação os gestos comunicam e demarcam quem é o ser na visão do outro, como:

O papa que beija a criança e os duques que sorriem com o filho no colo também comunicam e se expressam, mas de uma maneira pela qual não se pode dizer ao certo o limite entre o espontâneo e o não espontâneo em jogo. As emoções fazem parte da vida social e cultural de uma sociedade. (SIQUEIRA, 2015, p.23)

As expressões corporais produzem sentidos, pressupondo as interações sociais. À vista das experiências, o corpo herda tradições, técnicas que distinguem os homens dos outros animais, por isso, as diferenças culturais existem para especificar pessoas e demarcar grupos através dos gestos, movimentos, práticas inscritas nas sociedades e assim esculpidas nos corpos.

Desta forma, retomamos Merleau – Ponty, com o corpo próprio, “aquele que está no mundo assim como o coração no organismo” (MERLEAU – PONTY, 2006, p.273). Nos escritos do filósofo:

Quando caminho em meu apartamento, os diferentes aspectos sob os quais ele se apresenta a mim não poderiam aparecer-me como os perfis de uma mesma coisa e eu não soubesse que cada um deles representa o apartamento visto daqui ou dali, se eu não tivesse consciência de meu próprio movimento e de meu corpo como idêntico através das fases desse movimento. (MERLEAU – PONTY, 2006, p. 273). 

O espaço é assimilado pelo corpo. Para existir a compreensão do objeto, houve a experimentação, ao longo dos passos, no uso da visão, do tato, logo, no movimento do corpo. Esse exemplo afirma que “a teoria do esquema corporal é implicitamente uma teoria da percepção" (MERLEAU – PONTY, 2006, p. 278). E nesse contexto percebe-se o corpo tal qual “um eu natural e como sujeito da percepção” (MERLEAU – PONTY, 2006, p. 278).

No refletir das experiências, o corpo se expõe pelos: “gestos, pela sutileza de olhares, pelos detalhes das mãos; são muitos os sinais que servem para dizer coisas do cotidiano [...]” (SABINO; LODY, 2011, p.82). No processo comunicativo destacamos os gestos. Eles foram a primeira linguagem humana, estando presentes no corpo e vivendo para ele.

2.2. O dedão do professor: o gesto como expressão

Todos os nossos atos são constantemente sucetíveis de se converter em gestos, de simbolozar um modo de ser, um jeito de tratar os outros.( GALARD,1997 ,p.20)

Jean Galard em sua obra a Beleza do Gesto, conceitua o gesto como “nada mais que o ato considerado na totalidade de seu desenrolar, percebido enquanto tal, observado, captado” (GALARD, 1997, p. 27). Para exemplificar o conceito apontado, Galard, retrata que:

Os movimentos de um operário aparecem ora como atos, ora como gestos, embora não se opunham que a  intenção que os dirige tenha mudado.São atos enquanto não são descritos. São gestos desde que despertem atenção. (GALARD, 1997, p. 27)

Os gestos são revelados e sentidos pelo outro, sendo intencional ou não. Um operário executa ações decorrentes da sua prática, havendo repetições de alguns atos, podendo eles, ser visualizados, sentidos ou percebidos pelo outro, tornado – se gestos.

Trazendo a discussão para a dimensão educacional, ou melhor, para o corpo do professor, os seus gestos podem mover outros corpos ou induzi-los para construir ou desconstruir condutas, conhecimentos, ações ou práticas. Pontuamos o professor, como o auxiliador, mediador, instigador e formador no processo de ensino e aprendizagem. Assim os seus gestos são suscetíveis a circunscrever histórias em seus alunos. Esse processo pode ser recíproco, no momento que a interação professor aluno é estabelecida.

A educação é um instrumento transformador, sendo um dos mecanismos de resistência para algumas comunidades ou grupos. Na contemporaneidade o docente é o detentor da comunicação e orientação, aquele que fala em público, o organizador de ideias e o estrategista das aulas. Logo, seu discurso necessita ser ampliado; as subjetividades compreendidas e os corpos percebidos.

Reafirma-se que, o pensamento estético e expressivo é a própria comunicação, necessitando ser apreendido, visto que, ele conecta o homem ao mundo criando um contexto entre os sentidos, corporificando em manifestações culturais e experiências sociais.

Pode-se dizer que, a educação é performativa; é a ação que obtém o professor como ator. Obtém-se nesse cenário: ideias, expectativas, surpresas, transgressões, pluralidade de práticas e diversidade de sujeitos interessados ou não pelo espetáculo. Nesse contexto, o professor é performático, considerado na visão de Zumthor sua performance como:

[...] uma realização poética plena: as palavras nela são tomadas num conjunto gestual, sonoro, circunstancial tão coerente que, mesmo distinguindo mal as palavras e frases, esse conjunto como tal faz sentido (ZUMTHOR, 1997, p.87).

   Os gestos gingam com as palavras, percorrem pelo corpo do professor, lembrando que, com a entonação da sua voz, por vezes mais alta ou baixa atingem os sentidos dos outros. Esse conjunto está a serviço do conhecimento, proporcionado aos alunos, que não são meros espectadores, o sentindo de compreensão dos fenômenos culturais, históricos e científicos que os rodeiam. Nas palavras de Zumthor:   

Nossos "sentidos", na significação mais corporal da palavra, a visão, a audição, não são somente as ferramentas de registro, são órgãos de conhecimento. Ora, todo conhecimento está a serviço do vivo, a quem ele permite perseverar no seu ser. (ZUMTHOR, 2007, p.81)

Ao discorrer sobre o professor performance, aponta-se para perspectivas inovadoras na educação, pois o ato  performativo pode agregar outras identidades, articular gestos e inserir entonações que para existirem no corpo e na vida do aluno necessitaram da ação performática do educador.

Retomando gesto e suas expressões, Cascudo antevê a palavra “dedos e braços falaram milênios antes da voz” (CASCUDO, 2003, p.18). Na afirmativa do autor, “sem gestos, a palavra é precária e pobre para o entendimento temático” (CASCUDO, 2003, p.18). Ele, Luís da Câmara Cascudo [4] em sua obra A História dos nossos gestos, coloca o corpo como aquele que constrói história e os gestos como delineadores da comunicação.

O autor citado descreve que, “há gestos centros de sistemas comunicativos e gestos privativos. Não havendo a obrigatoriedade do ensino mas sua indispensabilidade no ajustamento da conduta social” (CASCUDO,2003, p.20), concluindo a sua ideia “todos nós aprendemos o gesto desde a infância e não abandonamos seu uso pela experiência e não abandonamos seu uso pela existência inteira”(CASCUDO,2003, p.20).

Os gestos como comunicação são em muitas instâncias despercebidos pelo corpo de quem fala, não são ensinados, mas são ações captadas pelo outro que podem designar como se deve agir, falar, pensar, edificando o comportamento do corpo em algumas situações sociais. Como Geertz, relata:

(...) o comportamento do homem seria virtualmente ingovernável, um simples caos de atos sem sentido e de explosões emocionais, e sua experiência não teria praticamente qualquer forma. A cultura, a totalidade acumula tais padrões, não é apenas um ornamento da existência humana, mas uma condição essencial para ela – a principal base de sua especificidade. (GEERTZ, 1989, p. 58)

A partir dessa citação, é quase impossível determinar o homem como ser limitado às suas funções biológicas. Ele é o ser elaborador da cultura e assim ela está intrínseca nele. O homem em sua natureza é cultural e acumula em seu corpo essas referências, extraídas das experiências em seu grupo. Porém, os indivíduos, obtêm no corpo a técnica, “quando uma geração passa à outra geração a ciência de seus gestos [...] há tanta autoridade e tradição social quanto onde a transmissão se faz pela linguagem” (MAUSS, 1974, p.199). Mas, nesse cenário podem ocorrem transformações, a partir do momento em que o homem participa de outras culturas, práticas e interações sociais. O tradicional é alterado e condutas corporais estarão passíveis a variações, rompendo com posturas estabelecidas e hábitos definidos como leis.

Enfim, encontra-se nos corpos dos sujeitos, gestos grifados pelas experiências, que são incluídos no consciente e fazem parte eternamente do seu discurso corporal. Por consequência são repassados pela prática educacional, sendo ela formal (no ambiente escolar, abarcada por leis que sistematizam o processo de ensino-aprendizagem) ou informal (ensinamentos conduzidos pelos ancestrais– familiares, ou em outros espaços sociais, que também auxiliam no processo de formação do sujeito social).

A performance do professor pode desencadear gestos que deixaram significações para a vida dos seus alunos. Sendo assim, serão: sentidos, imitados e contidos em seu corpo. Confirmando que, os gestos dos discentes e sua subjetivação são influenciados pelo corpo do seu professor.

Há gestos pontuais na prática dos professores, o uso dos seus dedos para apontar o conhecimento, frisar partes importantes, chamar a atenção do discente para o que se diz. Assim, Cascudo discorre sobre o dedão do professor, aquele que tradicionalmente surge como indicação ou imposição. Ele diz:

O professor Everardo Backheuser (1879 – 1951), da escola Politécnica, mestre em Pedagogia, divulgador da então nova Metodologia, falava-nos da gesticulação na cátedra, técnica que continua ao arbítrio inconsciente de cada ocupante. Ironizava o abuso do indicador enristado, hirto e dogmático, como empurrando o Conhecimento nas goelas estudantis. Seria tradição de Roma, denominando-o Index digitus, o dedo da indicação orientadora, mostrando caminho aos ignorantes das vias sapientes. (CASCUDO, 2003, p. 226).  

 O dedão do professor é gesto e expressa sensações. Os discentes guardam em suas mentes o professor como aquele que ensina, o seu mestre, assim, a maioria, torna-se um público estático e conduzido por gestos impositores; obrigando os “ignorantes das vias sapientes” a caminharem em direção ao saber. Porém, esse dedão pode ser desmistificado e tornar-se o orientador, indicador, o propositor de questões e traçar por essa gesticulação o trajeto do aluno, porém com vias que serão descobertas  em meio a outros gestos.  

Para Patricia Stokoe e Ruth Harf na obra La expresión Corporal en el Jardín de Infantes,as autoras apresentam a definição da expressão corporal como sendo:

A expressão corporal é uma conduta espontânea existente, tanto no sentido ontogenético como filogenético; é uma linguagem através da qual o ser humano expressa sensações, emoções, sentimentos e pensamentos com seu corpo, integrando-o, assim, às suas outras linguagens expressivas como a fala, o desenho e a escrita. (STOKOE; HARF,1987, p.15)   

Conforme as autoras declaram, a expressão corporal está no homem tanto no sentido da evolução cognitiva quanto em suas adaptações ou interações com o seu meio social. Através dos gestos, as expressões estão presentes emitindo sentenças. E por meio delas, outras manifestações surgem na escala de desenvolvimento do homem agregando a ele variadas maneiras de comunicação, como o “desenho, a escrita e a fala” explicitados na citação.

Continuando a ideia, Stokoe e Harf, os gestos, os movimentos corporais e suas expressões são linguagens realizadas (primeiramente) sem intermédios de maneira rápida, comunicando algo a alguém ou expressando-se consigo mesmo. Nas palavras das autoras:

A expressão corporal, como linguagem imediata, afirma o conceito do ser humano expressando a si mesmo, consigo mesmo, sem uma necessidade peremptória de recorrer a elementos ou instrumentos alheios a ele, o que não significa que em alguns momentos desse processo não possa se servir desses instrumentos. (STOKOE; HARF,1987, p.15)

Ainda afirmam que, sem o corpo:

[...] o homem não existe como tal; valorizamos o corpo à medida que contemplamos o ser humano enquanto entidade que deve desenvolver-se como estrutura integrada em movimento, e questionamos a progressiva dicotomização que nossa sociedade tende a fomentar entre nossas áreas psíquicas e corporais. (STOKOE; HARF,1987, p.15)

Cada ser obtém suas expressões galgadas aos seus modos de vê, sentir, ouvir e manifestar atitudes, posições e intenções.

A perspectiva da expressão corporal e a dinamicidade do corpo do professor trarão para a educação mudanças significativas no processo de ensino-aprendizagem. Será que o dedo que indica e orienta é menos eficaz do que o dedo disciplinador do professor? A disciplina, a punição a conduta baseada em regras e leis incontestáveis podem ser necessárias na sala de aula? Essas perguntas cabem aos educadores responderem, pois as suas práticas podem seguir tendências divergentes ao tradicionalismo ou não.

Porém, ter ações tradicionais favorecerem alguns objetivos, portanto é importante variar as práticas e posturas devido à transformação global que as crianças, jovens e adultos sentem em seus corpos e em seus grupos sociais. O homem é sujeito e ator do mundo, e constrói suas cenas sociais com o auxílio do outro.

Como isso, a performance do professor deve tornar presente o corpo do aluno, pois ele está recebendo várias informações, por meio de diversas formas comunicativas ( nos gestos, expressões, na voz, na escrita).Assim, Freire diz: 

[...] mais do que um ser no mundo, o ser humano se tornou uma presença no mundo, com o mundo e com os outros. Presença que, reconhecendo a outra presença como um ‘não – eu’, se reconhece como ‘si própria’. Presença que se pensa a si mesma, que se sabe presença, que intervém, que transforma, que fala do que faz mas também do que sonha; que constata, que compara, avalia, valora, que decide, que rompe. (FREIRE, 2000, p.51)

De acordo com Freire, destacando professor performance, ele incide com a sua prática sobre o mundo real, construindo e desconstruindo pensamentos e atitudes, proporcionando ao sistema escolar, no qual faz parte, resignificações de atitudes, colaborando para criticidade e atos visionários na sociedade contemporânea. Mesmo que, o sistema educacional, em alguma situação, possa reduzir ou limitar o desenvolver do professor, por questões organizacionais e disciplinares, ele com o vigor que emana em seu corpo buscará outras performances sem perder o foco da educação, que é auxiliar nas construções psíquica, social e histórica do ser. Formar atores para  elaborarem no palco da vida seus próprios papéis.

Nos escritos de Joel Birman: Sou Visto, logo Existo: a Visibilidade em contemporâneas, vê-se a performance como o “imperativo da existência”  (BIRMAN,2013,p.57), sem ela o sujeito poderia ficar com sua existência comprometida. A performance poderia ainda  ser concebida pelo ato de seduzir, “presente nas performances dos sujeitos, que a encenação se daria, pelo corpo, e esboçaria suas formas, num corpo a corpo permanente do sujeito com os outros” (BIRMAN, 2013, p.57).

Em síntese, é essencial que o sujeito seja performático, sem essas características é impossível, na visão dos autores, a sua existência. Conduzindo essa ideia para o corpo do professor, este em seu exercício, também precisa fazer as suas práticas serem sedutoras; para isso o educador performático utiliza-se de estratégias atraentes, que conectam o corpo do aluno com o seu.

O professor performático e sedutor, possivelmente terá alunos instigadores e críticos da realidade social que os cerca. Contudo, esse profissional precisa compreender os conhecimentos inseridos no contexto do discente. Que ferramentas este professor usará para se tornar sedutor e atrair o aluno com a sua prática? Será que somente os seus conhecimentos pedagógicos, metodológicos ou didáticos farão a diferença? Certamente, o professor antes de adentrar a ação, elabora um plano, construindo as suas ações performáticas.

Nas composições performáticas, o docente realiza leituras, busca métodos, constroem objetivos, mas também, necessita considerar os aspectos físicos, sociais, psicológicos, históricos e culturais dos seus alunos. Já que ele é um dos colaboradores da formação social do indivíduo. Logo, conhecer a realidade do mesmo é essencial.

Essa tarefa pode parecer repleta de complexos e desafios, mas a identidade e as marcas sociais estão explícitas nos discentes; em seus corpos, em suas expressões e gesticulações.

3. Considerações Finais

Na cultura escolar há regras e normas, disciplinando o corpo e transmitindo ideologias para cumprir com os objetivos do processo formativo. Assim, ao “analisar as práticas corporais na escola, percebemos um constante esforço de negação do corpo” (OLIVEIRA, 2006, p. 57), seja de professores, supervisores, diretores, enfim, todos aqueles atores, que na prática podem ser os controladores do sistema escolar.

Conjuntamente, há possíveis reforços e estímulos transmitidos pelo corpo do professor na sala de aula, narrando afetividades ou desafetos, demonstrando concepções ideológicas movidas pela autoridade ou liberdade. Nesse sentido, o professor da educação infantil é o ser de referência das crianças.

 O professor é imitado, recebe afetividade ou não (depende da relação interativa), pode ser considerado como pessoa da família, é escutado por todos e executa papéis que vão além do ato de ensinar um conteúdo, ou seja, são vários atores em um corpo. Contudo, as crianças adquirem sentidos e experiências (consciente ou inconscientemente) elas são reproduzidas e apresentadas para outros demonstrando a maneira que o docente transmitiu a sua mensagem corporal e qual a postura do educador assimilada pelos meninos e meninas que estão nesse nível.

De fato, “para todo indivíduo, o espaço fundamental é o do próprio corpo, objeto de uma dupla série de contatos” (GUIRAUD, 1991, p.76), assim na relação professor e aluno, ele transcende a perspectiva de ferramenta, suporte ou recurso da linguagem, sendo o próprio espaço da linguagem, com “contatos de proteção e de conservação e contatos de agressão, vista a eliminar uma competição ou perigo”              (GUIRAUD, 1991, p.76 –77) que podem nortear as relações.

Consideramos que, talvez, seja desafiador para alguns educadores destituir na sua prática a ação de disciplinar e punir o corpo, obtendo em suas concepções que o silêncio e a manipulação dele, poderão conduzir os alunos para aquisição do conteúdo com facilidade. Porém, as expressões e as experiências absorvidas pelo corpo do aluno poderão colaborar para desencadear diferentes percursos no processo de ensino e aprendizagem.

Através das fundamentações apresentadas no artigo, evidenciamos o corpo como o guardião das percepções, aquele que obtém a sua linguagem própria e necessita ser compreendido pelos educadores de crianças, para auxiliar na construção e acomodação do conhecimento.

Referências

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1. Graduada em Pedagogia (UEMA) e Artes Visuais (UFMA), especialista em Avaliação Educacional (UEMA), mestra em Cultura e Sociedade (UFMA). Email: silvadryelle@yahoo.com.br

2. Doutor em Ciências da Educação com área de especialização em Tecnologia Educativa pela Universidade do Minho, Mestre em Educação Multimídia pela Universidade do Porto, Tecnólogo em Processamento de Dados pelo Centro Universitário UNA. É também Especialista em Docência no Ensino Superior pela PUC-MG, Engenharia de Sistemas pela ESAB e Educação a Distância pelo UNISEB. É professor Adjunto III da Universidade Federal do Maranhão, atuando no Departamento de Educação II, é também Professor Permanente dos Programas de Pós-graduação em Cultura e Sociedade (Mestrado Acadêmico) e Gestão de Ensino da Educação Básica (Mestrado Profissional), atua na linha de Cultura, Educação e Tecnologia (Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação). Email: joaobbj@gmail.com

3. Professor do Departamento de Metodologia do ensino e do Programa de pós – graduação em Educação do Centro de Ciências da educação da Universidade Federal de Santa Catariana. Doutor em Ciências humanas e Sociais.

4. Luís da Câmara Cascudo,obtém um vasto currículo, como historiador, antropólogo, advogado e jornalista brasileiro. Ele passou a sua vida dedicando – se a cultura brasileira. Na obra citada, o escritor é ciente que os gestos transparecem a essência do homem, falando mais ou melhor que as palavras. 


Revista ESPACIOS. ISSN 0798 1015
Vol. 38 (Nº 20) Año 2017

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