ISSN 0798 1015

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Vol. 38 (Nº 05) Año 2017. Pág. 14

A Rede Social Facebook e suas possibilidades pedagógicas em diferentes níveis de ensino: uma Revisão Sistemática da Literatura

Facebook and its Pedagogical Possibilities in different levels of education: A Systematic Literature Review

Andreia Fonsêca TEIXEIRA 1; Juliana dos Santos NOGUEIRA 2; Raphaella Abreu Carvalho Cortez MOREIRA 3; João Batista BOTTENTUIT Junior 4

Recibido: 10/09/16 • Aprobado: 29/09/2016


Conteúdo

1. Introdução

 


RESUMO:

Neste artigo apresenta uma revisão sistemática da literatura sobre as produções acadêmicas nacionais em nível de mestrado e doutorado, disponíveis na base de dados da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) acerca das possibilidades pedagógicas da rede social Facebook nos diferentes níveis de ensino. Foram analisados um total de 15 estudos que se encontravam disponíveis online e que atenderam aos critérios de inclusão e exclusão estabelecidos para a pesquisa. Os resultados apontam a utilização da rede social Facebook como ambiente virtual de aprendizagem de conteúdos e multidisciplinares, principalmente com alunos do Ensino Médio.
Palavras Chaves: Revisão Sistemática, Rede Social Facebook, Níveis de Ensino, Possibilidades Pedagógicas, Aprendizagem.

ABSTRACT:

This article presents a systematic review of the literature about the national academicals productions in master and PhD degrees, available in the database of the Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), about the pedagogical possibilities of the social network Facebook in different levels of teaching. It was analyzed a group of fifteen studies which were available online and attended the criteria of inclusion and exclusion settled for the research. The results showed the uses of the social network Facebook as a virtual environment of learning of curriculum contents to transversal and multidisciplinary themes in the public high school.
Keywords: Systematic Review, Social Network Facebook, Teaching Levels. Pedagogical Possibilities, Learning.

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1. Introdução

A cada dia o número de pessoas com acesso à internet aumenta em todo o mundo. O Brasil já está entre os cinco países com maior número de usuários da web, sendo que mais de 50% da população do país usa essa ferramenta ao menos uma vez por mês, conforme aponta a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em Abril de 2016 (IBGE, 2016).

A Internet proporciona um ambiente virtual com inúmeras possibilidades, tanto em relação aos fins quanto aos meios e os recursos disponíveis dialogam com as necessidades dos indivíduos conectados, adequando-se às mais variadas perspectivas.

Nesse contexto, as redes sociais, “por meio de seus respectivos sites, são locais identificados na Internet para que pessoas se expressem” e comuniquem, possibilitando a interligação entre as pessoas em diferentes “espaços e tempos” e com diferentes finalidades, que vão do simples entretenimento às práticas de trabalho e aprendizagem. (RECUERO, 2009).

Isso demonstra o potencial dessas redes em contribuir de maneira significativa para a vida das pessoas.

Atualmente, o Facebook lidera o ranking de rede sociais com maior número de pessoas conectadas: 1,59 bilhão de usuários, dos quais cerca de 65% acessam a rede social todos os dias, e esse número vem crescendo anualmente, conforme relatório apresentado por Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, em Janeiro de 2016. (PRESSE, F. 2016).

Considerando a crescente expansão do uso do Facebook como uma ferramenta comunicacional e atrativa para jovens, adolescentes e pessoas em qualquer idade, e pensando na possível aplicabilidade desta rede no campo educacional, decidiu-se sistematizar um estudo com o objetivo de levantar evidências acadêmicas nacionais em nível de mestrado e doutorado acerca das possibilidades pedagógicas da rede social Facebook nos diferentes níveis de ensino. Tal objeto permite formular como questão norteadora: “Quais as possibilidades pedagógicas do Facebook para a aprendizagem de alunos nos diferentes níveis de ensino?”

Como forma de circunscrever a problematização do referido estudo, buscou-se ainda saber: Quais sãos os principais tipos de estudos realizados? Em quais áreas e níveis de ensino é mais utilizado? Quais os principais resultados apontados pelos estudos? O que ainda falta ser explorado?

O estudo justifica-se ainda por se considerar o uso social do Facebook por alunos e professores, e por possibilitar a reflexão teórico-metodológica de que é possível aos professores dos diferentes níveis de ensino se apropriarem de maneira positiva da rede social Facebook, tornando-a aliada para o processo de aprendizagem dos alunos.

2. As Redes Sociais, o Facebook e o Aprender

A expansão das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) e o movimento exponencial da Internet na sociedade vêm alterando os modos de perceber, interagir, comunicar e aprender das pessoas. Tais mudanças estão relacionadas, também, ao enorme fluxo de informações trocadas e acessadas diariamente nos ambientes virtuais. Desta forma, a sociedade em que se vive é entendida, por alguns estudiosos, como sociedade em rede (CASTELLS, 2010), sociedade do conhecimento (LÉVY, 2010), sociedade informática (SCHAFF, 2013), ou ainda sociedade digital (NEGROPONTE, 2013).

Ao explicar esse movimento de expansão da Internet, especialmente a partir da década de 1990, Castells (2010) coloca que a configuração de novos tipos de “redes”, a saber: computador, trabalho, economia e comunicação, reverberam em novas relações de poder e cultura, que mudam toda uma dinâmica de comportamentos, relacionamentos, valores e educação. Essas interconexões, possibilitadas pelas tecnologias digitais, constituem-se no que Lévy (2010, p.94) denominou por ciberespaço:

Espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores. Essa definição inclui o conjunto dos sistemas de comunicação eletrônicos (aí incluídos os conjuntos de redes hertzianas e telefônicas clássicas), na medida em que transmitem informações provenientes de fontes digitais ou destinadas à digitalização.

O ciberespaço, portanto, pode ser entendido como um instrumento de inteligência coletiva, em que as pessoas podem trocar ideias, saberes e experiências de qualquer lugar e a qualquer momento. Dinamiza não só as formas de transformar informação em conhecimento, mas o modo de compartilhamento e materialização destas trocas e interações sociais – a cibercultura (LÉVY, 2010). Assim, considera-se que este ciberespaço possibilita novas formas de redes sociais e de compartilhamento de saberes e conhecimentos.

No entanto, cabe considerar que as redes sociais existem desde que os seres humanos passaram a se relacionar, pois as redes sociais “são processos de socialização, algum tipo de interação coletiva e social que pressupõe o partilhamento de informações, conhecimentos, desejos e interesses” (FRANCO, 2012, p. 117).  

Mattar (2013, p. 27) destaca que as redes sociais são compreendidas, como “associações entre pessoas conectadas por diversos motivos, em que as pessoas são afetadas pelas próprias conexões com outras pessoas”. Desta forma, o que a evolução da web 2.0, a criação de softwares e todo movimento possibilitado pelas tecnologias digitais proporcionaram foi a proliferação e potencialização das redes sociais, criando novas formas de cultura, interações sociais e aprendizagens.

Nesse contexto de potencialização das redes sociais, uma das redes mais utilizada mundialmente é o Facebook, lançada em fevereiro de 2004 por Mark Zuckerberg, juntamente com os seus colegas Dustin Moskovitz, Chris Hughes e Eduardo Saverin. De acordo com Fumian e Rodrigues (2012), o Facebook é uma plataforma que opera por meio de perfis individuais interligados em rede, que distribui a informação para sua rede de amigos e, por sua vez, esta informação pode ser visualizada pela rede de amigos de cada indivíduo, podendo estes interagir ou não com a informação.

Desde sua criação, o Facebook tem mostrado grandes possibilidades para a vida cotidiana e social, como também, para o processo de ensino e aprendizagem. Segundo Moreira e Januário (2014, p. 75-76), “o mural do Facebook foi sendo aperfeiçoado, influenciado pelos microblogs e, hoje, pode servir como espaço de comunicação e discussão onde se podem alocar uma plêiade de textos, vídeos, imagens ou comentários”. Os autores apontam ainda os Groups, os links e as mensagens, utilizados para diversos fins educativos e pedagógicos, tais como: aprendizagens colaborativa, canal de comunicação, interações entre os membros da escola, produção de textos por meio de mensagens e criação de aplicativos, dentre outros.

Pesquisas e estudos sinalizam que os relacionamentos entre professores e alunos mediados pela rede social Facebook tem proporcionado “um canal de comunicação mais aberto, resultando em ambientes de aprendizagem mais ricos e maior envolvimento dos alunos nos processos de escolarização” (MATTAR, 2013, p. 115).

Diante disso, a rede social Facebook deve ser utilizada no contexto escolar, como forma de se tornar um espaço motivador e inovador para que ocorram aprendizagens significativas. Para isso, as instituições de ensino e os professores devem possibilitar a visão de ensino como rede, “mudando o eixo do ensinar para optar pelos caminhos que levem ao aprender”, com autonomia e de maneira contínua, como um processo de aprender a aprender para toda a vida (BEHRENS. 2013, p. 79).

Nesta perspectiva, reside o desafio das instituições de ensino em compreender e explorar as redes sociais, em específico o Facebook, como forma de potencializar a comunicação na educação e construir novas formas e estratégias de ensino e de aprendizagem.

3. Metodologia

Trata-se de uma revisão sistemática da literatura sobre as evidências científicas nacionais em nível de mestrado e doutorado acerca da rede social Facebook e suas possibilidades pedagógicas em diferentes níveis de ensino.

A revisão sistemática de literatura, segundo Sampaio e Mancini (2016, p. 84), é um tipo de estudo retrospectivo e secundário, que utiliza a literatura sobre determinado tema como fonte primária de dados, a fim de obter um resumo de evidências, mediante a sistematização e aplicação de métodos explícitos de busca, apreciação crítica e síntese de informação selecionada.

Os autores supracitados ressaltam ainda que, na hierarquia da evidência, a revisão sistemática de literatura ocupa localização superior, o que indica maior força da evidência, sendo, portanto, mais importante que outros estudos. Apontam também que um bom estudo de revisão sistemática é um recurso importante ante o crescimento acelerado da informação científica, pois ajuda a sintetizar a evidência disponível na literatura sobre uma intervenção, e assim auxiliar o trabalho de profissionais e pesquisadores.

Conforme Galvão e Pereira (2016, p. 183) a revisão sistemática de literatura foca-se em uma questão bem definida, visando identificar, selecionar, avaliar e sintetizar as evidências relevantes disponíveis. Tendo em vista o valor deste tipo de estudo, já bem estabelecido e consagrado na literatura científica, explicita-se a importância da realização do presente estudo, configurando-se como ferramenta imprescindível para explorar as evidências científicas a respeito da rede social Facebook e suas possibilidades pedagógicas nos diferentes níveis de ensino.

A prática baseada em evidência surgiu na década 1980 – inicialmente como técnica da área da saúde – da necessidade de sintetizar a grande quantidade de informação científica, e atualmente vem ampliando seu espaço nas áreas de humanas e sociais. Esta prática tem por finalidade obter subsídios para propor aprimoramento, implementação e avaliação dos resultados obtidos para o incremento da assistência e do ensino (DE-LA-TORRE-UGARTE-GUANILO, TAKAHASHI E BERTOLOZZI, 2016, p. 1261).

A realização de uma revisão sistemática de literatura requer a elaboração de um protocolo de pesquisa (SAMPAIO e MANCINI, 2016, p. 85; DE-LA-TORRE-UGARTE-GUANILO, TAKAHASHI E BERTOLOZZI, 2016, p. 1265; GALVÃO e PEREIRA, 2016, p. 183; GONÇALVES, NASCIMENTO e NASCIMENTO, 2016, p.196). Neste sentido, adotou-se, neste estudo, um protocolo que seguiu as seguintes fases: definição do objetivo, da pergunta de pesquisa, de banco de dados, das palavras-chave, dos critérios de inclusão e exclusão, seleção de trabalhos, análise e síntese dos estudos incluídos na revisão sistemática de literatura, redação e publicação dos resultados.

4. Desenho do estudo

Esta revisão sistemática de literatura tem como objetivo levantar evidências científicas nacionais em nível de mestrado e doutorado acerca das possibilidades pedagógicas da rede social Facebook nos diferentes níveis de ensino. Por conseguinte, definiu-se a pergunta de pesquisa: quais as possibilidades pedagógicas do Facebook nos diferentes níveis de ensino?

A estratégia de busca utilizada incluiu pesquisas à base de dados da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) pelo motivo desta reunir, em um só portal de busca, as teses e dissertações defendidas em todo o país. Os termos utilizados como descritores foram “facebook”, “educação”, “ensino” e “aprendizagem”. Além dos descritores, aplicou-se o operador booleano “AND” para combinação dos termos nas bases de dados. As buscas na base eletrônica foram realizadas no período entre Março e Abril de 2016.

Para o refinamento adequado dos trabalhos, foram definidos os seguintes critérios de inclusão: estudos em nível de mestrado e doutorado, dissertações e teses escritas em língua portuguesa, disponíveis nas bases de dados da BDTD, estudos empíricos sobre a rede social Facebook nos níveis de ensino fundamental, médio e superior. Os critérios de exclusão adotados foram: estudos de conclusão de cursos de graduação e especialização, dissertações e teses em outras bases de dados que não sejam da BDTD e que não estão escritas em língua portuguesa, estudos sobre a rede social Facebook em outros contextos que não sejam em níveis de ensino e estudos teóricos e de revisão de literatura.

O processo de seleção dos estudos foi realizado em quatro etapas, segundo o modelo recomendado pela Cochrane Collaboration (2008 apud TEIXEIRA e VIANA, 2016, p. 345): 1- identificação das teses e dissertações obtidas através da busca às bases de dados; 2 – seleção, nesta fase, excluíram-se os estudos duplicados, e na triagem pelos títulos e resumos dos estudos restantes, foram excluídos aqueles que não apresentavam relação com as palavras-chave definidas para a busca; 3 – a elegibilidade foi avaliada pela leitura dos trabalhos na íntegra (excluindo-se os que não atenderam os critérios de elegibilidade pré-estabelecidos) e; 4 - inclusão das teses e dissertações elegíveis na revisão sistemática.

Neste contexto, foram identificados a partir das buscas na BDTD 147 trabalhos, destes, 53 eram duplicados e por isso foram excluídos. Dos 94 estudos remanescentes foram excluídos 70 a partir da leitura dos títulos e resumos. E dos 24 trabalhos restantes analisados, foram incluídos 15, sendo 2 teses e 13 dissertações, que se encontravam dentro dos critérios preestabelecidos. Esses trabalhos foram analisados e as informações pertinentes foram extraídas e organizadas em quadro-síntese, para posteriormente serem descritos os resultados e as considerações finais.

5. Resultados

Conforme mencionado anteriormente, foram quantificados 15 estudos no processo de seleção, segundo o modelo preconizado pela Cochrane Collaboration, os quais cumpriram com todos os critérios de elegibilidade pré-estabelecidos, sendo, portanto, incluídos nesta revisão sistemática 13 dissertações e 2 teses.

Dos 15 estudos selecionados, 3 (20%) foram publicados no ano de 2012, 3 (20%) foram publicados no ano de 2013, 7 (46,7%) foram publicados no ano de 2014 e 2 (13,3%) publicados em 2015, conforme a Tabela 1. Acredita-se que o desenvolvimento destes estudos ocorreu nesse período (2012 a 2015), em virtude de que, “no final do ano de 2011, a rede social de Zuckerberg ultrapassou o Orkut, até então a maior rede do social do Brasil” (AMANTE, 2016, p. 29). No entanto, o Orkut somente foi desativado definitivamente em 30 de setembro de 2014, pelo Google, dono oficial desta rede social (GOUGLER, 2014).

Tabela 1 - Número de estudos por ano

Ano

Número de Estudos

%

2012

3

20

2013

3

20

2014

7

46,7

2015

2

13,3

 

Cabe ressaltar que a maioria dos estudos (86,7%) está localizado nos repositórios das Universidades Públicas Federais e sua distribuição por regiões do país ocorre da seguinte forma: 2 (13,3%) na região Centro-oeste, 3 (20%) na região Nordeste, 5 (33,3 %) na região Sudeste e 5 (33,3 %) na região Sul. Não foi encontrado nenhum estudo referente à região Norte, conforme observa-se na Tabela 2.

Tabela 2 - Número de estudos por região do país

REGIÃO

REPOSITÓRIO

F

%

Centro-oeste

UCB

1

6,7

UFG

1

6,7

Nordeste

UFC

1

6,7

UFPE

1

6,7

UFS

1

6,7

Sudeste

UFMG

1

6,7

UFU

1

6,7

UNESP

2

13,3

USP

1

6,7

Sul

PUC RS

1

6,7

UEL

1

6,7

UFPEL

1

6,7

UFRGS

2

13,3

 

No que tange aos Programas de Pós-Graduação em que os estudos foram produzidos, a maioria destes está concentrada em Programas de Educação, o que corresponde a 5 (33,3 %) trabalhos, sendo seguido de 3 (20%) pesquisas realizadas em Programas de Ensino de Ciências e (Educação) Matemática Ensino de Ciências e Matemática, e uma pesquisa para cada um dos programas seguintes: Desenvolvimento Humano e Tecnologias (6,7%), Geografia (6,7%), Educação Matemática e Tecnologia (6,7%), Estudos Linguísticos (6,7%), Química (6,7%), Psicologia (6,7%) e Informática na educação (6,7%).

Referente às áreas do conhecimento em que os autores exploraram a rede social Facebook, observou-se que os estudos foram produzidos em diversas áreas do saber, tais como: Matemática, Educação Física, Transversalidade – Educação, Inclusão Social, Geografia, Biologia, Transversalidade – Cidadania, Educação, Interdisciplinar – Ciências Sociais e Humanidades, Análise e Desenvolvimento de Sistemas e de Rede de Computadores, Inglês, Ciências, Psicologia e Português Instrumental.

Em relação à metodologia utilizada nos estudos, observou-se uma variabilidade desta (Tabela 3). Entretanto, a maior parcela dos autores utilizou a metodologia de pesquisa qualitativa, tendo uma representatividade de 53% das dissertações e teses analisadas. Logo em seguida, apresentou-se a metodologia de pesquisa-ação (13%). Os demais estudos envolveram pesquisa qualitativa-quantitativa, diagnóstica e intervencionista, estudo de caso, pesquisa narrativa e alternativa, sendo que cada uma representou 6% do total dos estudos incluídos na análise.

Uma evidência que se observou nesta produção dos dados corresponde às terminologias para caracterizar a metodologia utilizada nos estudos das dissertações e teses analisadas, pois os termos como: pesquisa narrativa e metodologia alternativa são pouco utilizados na literatura clássica sobre trabalhos científicos em pesquisa social e educacional, tais como os referenciais teóricos de Gil (2010), Cervo (2007), Minayo (2013), dentre outros.

Tabela 3 - Nível em que os estudos foram realizados

Metodologia

F

%

Qualitativa-quantitativa

1

6,66%

Qualitativa

8

53,33%

Diagnóstica e intervencionista

1

6,66%

Estudo de Caso

1

6,66%

Pesquisa Ação

2

13,33%

Pesquisa Narrativa

1

6,66%

Metodologia Alternativa

1

6,66%

Total

15

100%

 

Outro aspecto analisado foi quanto ao nível de ensino em que os estudos das dissertações e teses foram realizados. Estes foram realizados, predominantemente, no nível de ensino médio da rede estadual pública (40%). Em seguida, o ensino médio da rede privada (20%) e o ensino superior público (40%), conforme observa-se na Tabela 4.

Esse é um dado relevante quanto ao uso de tecnologias, em específico da rede social Facebook, no ensino público brasileiro, uma vez que sinaliza que é viável o uso e possibilidades pedagógicas de tecnologias no ensino público brasileiro, mesmo diante de fatores que podem ser entraves para tal inserção, tais como: acesso e perfil socioeconômico de alunos, condições materiais e objetivas das escolas públicas, conforme discute Borges (2007), Lévy (2000), dentre outros.

Como observado na Tabela 4 abaixo, a quantidade total de “F” (20) foi maior que a quantidade de trabalhos recenseados (15). Isso ocorreu devido a alguns pesquisadores incluírem em seu campo de realização da pesquisa mais de um nível de ensino, o que possibilitou ter encontrado um valor no somatório de “F” maior do que os trabalhos incluídos na análise. De modo geral, somando-se o total dos estudos realizados em nível de ensino médio, obteve-se um total de 65%, enquanto que o ensino superior representou apenas 30% dos estudos. Logo, a predominância dos estudos foram realizados em nível de ensino médio.

Um dos fatores que pode justificar o uso expressivo do Facebook no ensino médio, comparando-se ao ensino superior é o fato de que as políticas públicas educacionais e de formação de professores para a expansão e o desenvolvimento da informática no Brasil estão mais voltadas para a educação básica (MORAES, 1993).

Tabela 4 - Nível de Ensino em que os estudos foram realizados

Nível de Ensino

F

%

Médio da Rede Pública Estadual

8

40%

Médio da Rede Privada

4

20%

Médio Técnico Integrado

1

5%

Ensino Superior Público

4

20%

Ensino Superior Privado

2

10%

Ensino Fundamental Privado

1

5%

Total

20

100%

 

Outro aspecto analisado foi referente aos objetivos de cada estudo. Tendo em vista a diversidade de finalidades apresentadas nos estudos, agrupou-se em quatro categorias para análise. Na primeira categoria de análise, os estudos buscavam investigar as vantagens do Facebook no processo de ensino e aprendizagem (8 estudos) das mais diversas disciplinas ministradas pelos professores, que na maioria eram os próprios autores da pesquisa, buscando a melhor maneira de potencializar o aprendizado dos seus alunos, através de suas pesquisas.

Na segunda, os estudos tinham por finalidade analisar o processo de sociabilidade, identidade e cidadania dos alunos entre si e deles com os professores, a partir do Facebook (3 estudos). A terceira categoria compreende os estudos que visavam analisar como o Facebook se constitui num espaço de formação e prática didático-pedagógica dos docentes (3 estudos). A quarta e última categoria, composta por apenas um estudo, tinha a finalidade de analisar a utilização do Facebook como ferramenta inovadora para solução de problemas encontrados em sala de aula (Ver Tabela 5) abaixo:

Tabela 5 - Finalidades dos estudos analisados

Objetivos Do Estudo / Categoria

Quant.

Autores

Investigar as vantagens do Facebook no processo de ensino – aprendizagem.

8

Ana Maria Simões Netto Costa (2013); Amanda Gabriele Milani (2015); Clelder Luiz Pedro (2014); Fernando de Oliveira (2014); Célio Alves Ribeiro (2014); Fabiano Simões Corrêa (2013); Aline Silva de Bona (2012); Adriana Alves Novais Souza (2015);

Analisar o processo de sociabilidade dos alunos a partir do Facebook.

3

Cirlene Cristina De Sousa (2014); Joyce Galdino Gomes (2014); José Reinaldo Oliveira (2012);

Analisar através do Facebook a interação entre o docente e os alunos.

3

Bárbara Burgardt Casaletti (2012); Luciana de Lima Lemos (2013); Geralda dos Santos Ferreira (2014);

Analisar a utilização do Facebook como ferramenta inovadora para solução de problemas encontrados em sala de aula.

1

Eloah da Paixão Marciano (2014);

 

 

6. Conclusões

Conforme evidenciou-se nesta revisão sistemática, a Rede Social Facebook tem sido mais utilizada em com alunos do Ensino Médio.  

Retomando as questões norteadoras expressas na introdução deste artigo, observou-se que a Rede Social Facebook tem sido utilizada nos níveis de ensino de diferentes formas, tais como: ambientes para a realização de cursos e formação docente, para a discussão de temas relacionados às disciplinas curriculares, ou mesmo, como estratégia para a trabalhar outras questões que não sejam somente referentes aos conteúdos disciplinares, tais como: identidade, cidadania, gênero, dança e transversalidade.

O uso do Facebook nesses níveis de ensino tem permitido aos alunos e professores experiências educativas e pedagógicas, que proporcionam além de uma formação escolar, uma formação para a vida, à medida que se trabalha conhecimentos e questões sociais que envolvem o exercício da cidadania.

De acordo com os resultados deste estudo, são inúmeras as vantagens da utilização da ferramenta, que vão desde a potencialização da comunicação e interação entre alunos e professores à conscientização da importância de adequação da escola para as mudanças na educação. Essa conscientização é de suma importância visto que, embora tais vantagens tenham sido apresentadas como resultado dos estudos, alguns apontaram como principal dificuldade o discurso ideológico de que as tecnologias fascinam os jovens e os distanciam do pensamento crítico e da construção do conhecimento.

Com relação às áreas de conhecimento investigadas, observou-se possibilidades de utilização da ferramenta como um recurso multidisciplinar, visto que foram analisados estudos das mais diversas áreas do conhecimento e os resultados obtidos foram positivos em cada uma delas.

Em relação ao nível de ensino, nenhuma das experiências foi realizada em séries iniciais, nível de ensino fundamental ou em nível de pós-graduação (lato ou stricto sensu). Portanto, diante destas constatações ficam vestígios para que investigadores possam testar este aplicativo em outros contextos que ainda não foram explorados e verificar seus impactos e contribuições na aprendizagem dos alunos.

Conforme constatou-se neste estudo, a utilização do Facebook como potencial pedagógico é significativo e vem sendo gradativamente explorado. No entanto, como as produções acadêmicas em nível de mestrado e doutorado são recentes e existem poucos estudos acerca das possibilidades pedagógicas desta rede social que atenderam aos critérios de inclusão e exclusão estabelecidos para esse estudo, considerou-se que muitas possibilidades ainda podem ser exploradas nessa temática.

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1. Professora Revisora em Braile. Mestranda em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Email: andreiaf.teixeira@yhaoo.com

2. Mestranda em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Email: juliana.dsn@hotmail.com

3. Pedagoga. Mestranda em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Email: rapha_ac@hotmail.com

4. Mestre e Doutor em Educação. Professor Permanente do Mestrado em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Email: jbbj@terra.com.br


Revista ESPACIOS. ISSN 0798 1015
Vol. 38 (Nº 05) Año 2017

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