Espacios. Vol. 37 (Nº 38) Año 2016. Pág. 10

O estudo das empresas familiares empreendedoras por um modelo de equação estrutural

Study of entrepreneurial family businesses from structural equation model

Daniela Meirelles ANDRADE 1

Recibido: 15/07/16 • Aprobado: 15/08/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. A influência do capital social familiar em empresas familiares

3. O capital social e a configuração de empresas familiares empreendedoras

4. Metodologia

5. Resultados

6. Discussão dos dados

7. Conclusões

8. Referências Bibliográficas


RESUMO:

O trabalho analisou a influência do capital social familiar, nos processos de aprendizagem, inovação e mudança em empresas familiares. Utilizou-se análise fatorial exploratória e análise de equações estruturais. Observou relação positiva entre a presença de capital social e o grau de inovação, de aprendizagem e de mudança nas empresas familiares estudadas. Comprovou a relação positiva dos efeitos da aprendizagem e mudança em empresas familiares empreendedoras. Não foi evidenciado relação positiva entre a busca de inovação e empresas familiares empreendedoras. O estudo contribui para o campo de empresas familiares, pois explora relação do capital social familiar com aprendizagem, inovação e mudanças.
Palavras-chave: capital social familiar, aprendizagem, inovação, mudança, empresas familiares empreendedoras.

ABSTRACT:

The study analyzed the influence of family social capital, in learning processes , innovation and change in family businesses . We used exploratory factor analysis and structural equation modeling . Observed a positive relationship between the presence of social capital and the degree of innovation , learning and change in family businesses studied. Confirmed the positive relationship the effects of learning and change in entrepreneurial family businesses. It was not found positive relationship between the pursuit of innovation and entrepreneurial family businesses. The study contributes to the field of family businesses because it explores relationship of family social capital with learning , innovation and change.
Keywords: entrepreneurial family businesses; factor analysis; quantitative research; Construction of scale.

1. Introdução

A empresa familiar (EF) tornou-se foco de estudo em diversas áreas do conhecimento, como sociologia, economia, psicologia, antropologia e administração. Os estudos realizados abrangem diferentes abordagens.

Estudos, no campo da administração, têm com foco central no processo sucessório e transferência da empresa entre gerações (ZELLWEGER, NASON & NORDQVIST, 2012); estudos recentes procuram compreender as particularidades das empresas familiares sob a ótica do capital social (CS) (DESS et al., 2003; SORENSON & BIERMAN, 2009). Este novo enfoque diferencia-se da abordagem usualmente utilizada em estudos de empresas familiares no Brasil, por procurar agregar um conjunto de variáveis que intervém na explicação do funcionamento desse tipo de empresa.

O presente trabalho tem como objetivo, analisar a influência do fenômeno do capital social familiar (CSF), nos processos de aprendizagem, inovação e mudança organizacional em empresas familiares representando as suas interações.

O trabalho está estruturado em: introdução com argumentações e objetivos do estudo; modelo teórico com formulação de hipóteses; metodologia com foco em equações estruturais; resultados representam a validação do modelo apresentado; considerações finais são apresentadas as principais contribuições e limitações da validação do modelo, seguidas das referências.

2. A influência do capital social familiar em empresas familiares

A teoria do CS é a base para compreender o CSF. No campo da administração, a noção de CS está vinculada à eficiência para as organizações que o desenvolvem, com características intangíveis, presente nas relações internas e externas aos membros das organizações (ARRÈGLE, HITT, SIRMON & VERY, 2007; GRANOVETTER, 1973).

Quatro fatores influenciam o desenvolvimento do CS: estabilidade, interação, interdependência e embededness (ARRÈGLE et al., 2007). Estabilidade – o que acontece com o tempo, gerando o acúmulo de boa vontade, além de confiança e normas de cooperação; interação – são as relações entre as pessoas ao longo do tempo; interdependência – entre os membros da rede; e embededness, ou enraizamento – representam os contatos fortes entre os diversos atores, o que, consequentemente, deve seguir uma norma de comportamento.

O CS é a base para discutir o CSF, o qual tem origem no âmbito familiar, a partir das relações entre o fundador, a família, a comunidade, os clientes e os colaboradores, criando uma rede familiar, a qual, segundo Arrègle et al. (2007), Lima, Andrade e Grzyboviski (2005), é fonte de vantagem competitiva sustentável para o negócio familiar.

Para Lima et al., (2005) a diferença no processo de sucessão ocorre pela presença do CS entre os membros da família. O CS não favorece apenas o processo de sucessão, mas todo o desempenho organizacional, sendo capaz de gerar inovações e vantagens competitivas pela formação de redes familiares (LIMA, 2010).

Para Hoffman, Hoelscher and Sorenson (2006), capital familiar consiste nas relações pessoais que os membros da família desenvolvem entre si e com a comunidade, os clientes e os colaboradores, por meio de uma história de interação familiar. O CSF cria valor por desenvolver conexões entre os indivíduos, por meio de redes de relacionamento, as quais são desenvolvidas e fortificadas com o passar do tempo. A confiança, a estrutura moral, as normas familiares, os canais de informação, o diálogo e o ponto de vista familiar são elementos que facilitam ou dificultam o desenvolvimento dessa rede familiar, na medida em que acontecem ou não no âmbito da família.

Para construir ou sustentar o CSF, as famílias criam estratégias, como reuniões periódicas, formação de conselhos, documentos de colaboração, os quais formalizam as crenças e os valores da família (SORENSON & BIERMAN, 2009). Esses elementos ajudam a sustentar a confiança coletiva. A família com estoque de CSF pode aplicá-los nos negócios, além de funcionar como iniciativa para a abertura de novos empreendimentos.

Esse conjunto de evidências do vigor do CSF permite elaborar as hipóteses sobre as relações entre capital social, mudança, aprendizagem e inovação e seus efeitos sobre a configuração de empresas familiares empreendedoras, presentes no modelo de pesquisa ilustrado na Figura 1.

Figura1: A influência do Capital Social Familiar nas práticas de inovação, aprendizagem e mudança em Empresas Familiares Empreendedoras

Fonte: ADAPTADO DE ANDRADE, LIMA, ANTONIALLI & DE MUYLDER. (2011)

2.1 Capital social e aprendizagem

O que determina o sucesso de uma organização é a sua capacidade de transformar o conhecimento existente no plano das ideias em conhecimento aplicado à produção e/ou ao mercado (BIRDTHISTLE, 2008; KENNY, 2006). Cabe à empresa, portanto, não só gerar novos conhecimentos, mas organizar o conhecimento que ela já detém e torná-los aplicáveis.

De acordo com Lima et al. (2005), a aprendizagem nas empresas familiares ocorre pela presença de líderes capazes de desenvolver uma cultura de aprendizagem baseada na infraestrutura moral da família, sustentada pelo acúmulo de CSF. Os líderes são o fundador ou os filhos do sucessor, os quais desenvolvem ações direcionadas ao processo de aprendizagem, buscando adaptar as mudanças ocorridas no ambiente interno e externo, apresentando como produto inovações em processo/produtos/serviços.

O processo de aprendizagem organizacional em empresas familiares apresenta uma tendência para o aprendizado da sucessão (LIMA et al., 2005). Para ZELLWEGER, NASON and NORDQVIST (2012), a aprendizagem que se verifica ao longo de gerações, denominada por aprendizagem transgeracional. Por outro lado, a questão da aprendizagem propriamente dita é apresentada de modo superficial com uma necessidade de adequação das empresas familiares permanecerem competitivas e, ao mesmo tempo, buscarem por algum tipo de inovação (LAFORET, 2013).

Existe uma polarização entre os diversos autores para categorizar a aprendizagem. Birdthistle (2009) estudou as pequenas e médias empresas familiares, buscando identificar o potencial das mesmas para serem classificadas como organizações de aprendizagem. Para tanto, utilizou a noção de ‘aprendizagem formal’ que é aquela definida por uma estrutura curricular, com objetivos específicos e que podem ser adquiridos em aulas, seminários e palestras. A outra seria a ‘aprendizagem informal’, que ocorre naturalmente sem que o indivíduo tenha consciência. É caracterizada como incidental sem meta de formação, ou seja, a pessoa aprende fazendo.

Consequentemente, a aprendizagem é uma categoria que remete a um processo ‘ensinado e descoberto’, para Buckler (1996); ela é ‘adquirida e experimental’, para Dess et al. (2003); ‘formal e informal’, para Birdthistle (2008); ‘codificada e personalizada’, para Hansen et al. (1999) e ‘behaviorista e construtivista’, para Kenny (2006). Os indivíduos que conduzem as empresa familiares podem desenvolver ou não a aprendizagem organizacional. A aprendizagem é categorizada como ensinada ou adquirida, ou codificada, que é transmitida de uma geração para a outra (ZELLWEGER, et al., 2012), por meio de livros e regras, onde existe um mestre e vários discípulos. Também é considerada como: experimental, descoberta e personalizada, que é aquela em que o indivíduo é agente transformador e capaz de construir o seu aprendizado. Essas evidências indicam que o CS detido por famílias leva a aprendizagem organizacional. Nesse sentido formulou-se a hipótese H1: Nas empresas familiares o acúmulo de capital social familiar gera influência positiva sobre a capacidade e a facilidade para desenvolver a aprendizagem organizacional.

2.2 Capital social e a inovação em empresas familiares

O discurso sobre inovação é amplo, porém não está vinculada apenas à adoção de novas tecnologias (PANUWATWANICH, STEWART; & MOHAMED, 2009), verificando-se, por exemplo, inovação de conhecimento.

A aprendizagem organizacional é elementar para a solução de problemas. Os problemas das empresas em um dado mercado vinculam-se à competitividade gerada pela interação entre as empresas. A ação conjunta das mesmas diante de desafios tecnológicos ou de mercados representa acúmulo e desenvolvimento de CS. Isso pode ser a inovação para uma empresa observada isoladamente; mas  pode ser também a interação entre empresas com vistas ao aumento de competitividade, a qual pode ser resultante de  um acúmulo de inovação em função do CS.

A discussão sobre inovação em empresas familiares está relacionada à presença de um sucessor intraempreendedor que promove inovação organizacional (LIMA et al., 2005) em virtude da ação empreendedora que permite aprender e, consequentemente, gerar um produto/processo/ serviço inovador (LIMA, 2010).

A inovação em empresas familiares é resultado do comando familiar em favor da geração de novas ideias, as quais resultam em produtos diferentes (KRAUS, POHJOLA; & KOPONEN, 2012), em função da forma de constituição e da natureza organizacional, bem como da cultura enraizada   e refletida no perfil dos líderes organizacionais.

Existem vários aspectos que influenciam o processo de inovação em empresas familiares entre eles: a cultura para a inovação, a presença de líderes favoráveis ao processo e colaboradores seguros em relação à possibilidade de demonstrar o seu potencial criativo. As empresas que desenvolvem estes aspectos são conhecidas por empresas familiares empreendedoras (EFE).

A inovação em empresas familiares é consequência de uma organização que possui uma dinâmica de aprendizagem que se manifesta associada ao CSF detido por uma família. As empresas familiares que inovam são flexíveis para adaptar as transformações ocorridas, tanto endógenas quanto exógenas à organização, sendo que aquelas com maior estoque de CSF terão uma maior facilidade para desenvolvê-la. Assim, como expressa a hipótese seguinte, afirma-se que o CS de uma EF afeta positivamente a capacidade de inovação: H2: O capital social familiar gera influência positiva sobre a capacidade de inovação de uma EF.

2.3 Capital social e mudança em empresas familiares

A mudança é alvo de interesse de estudo para as mais diversas áreas do conhecimento. Pode ter caráter esporádico ou contínuo, gerando pequenas ou grandes modificações consequências de alterações no contexto ou cenário que onde as organizações estão inseridas (WEBB, KETCHEN JUNIOR; & IRELAND, 2010).

O diálogo colaborativo, elemento importante na configuração do CSF, apresenta como resultado: a interação entre as empresas, resultando em difusão e integração de novas crenças sobre a gestão de negócios. Ou seja, as mudanças vivenciadas por líderes organizacionais, tanto no ambiente interno, quanto externo, tendem a serem melhores trabalhadas por empresas familiares que desenvolvem de modo mais intenso o CSF.

O tema mudança em empresas familiares permeia pelo processo de sucessão na medida em que, durante os ciclos de vida das organizações, as empresas familiares podem precisar se adaptar criando novas possibilidades de mercado em função do ambiente externo (KENNY, 2006) e interno (SHARMA, CHRISMAN & GERSICK, 2012). Por outro lado, mudanças podem estar associadas a novos padrões da família proprietária, associando-os a uma visão empreendedora, a qual agrega valor e, consequentemente, vantagem competitiva.

As mudanças em empresas familiares podem ser qualificadas como exógena e endógena. A mudança endógena é aquela que está relacionada com o ambiente interno da organização, associada à estrutura formal, à hierarquia, na criação e/ou na extinção de funções; a exógena está vinculada ao ambiente externo, na medida em que surgem novas tecnologias e ações dos concorrentes (WEBB et al., 2010).

Esse conjunto de transformações em uma EF pode gerar uma instabilidade. Argumenta-se que a superação desse processo depende do grau de CSF presente. O CSF, em sua essência, depende das relações internas e externas que os membros da família mantêm. Nesse sentido formulou-se a hipótese: H3: O capital social de uma família gera influência positiva sobre a capacidade de promover e enfrentar mudanças em empresas familiares.

3. O capital social e a configuração de empresas familiares empreendedoras

As famílias que acumulam CSF teriam melhores condições de se inserir em um ambiente de negócios. Essa reprodução do CSF dependeria da forma como sucessores se inseriram nas empresas, de modo que o vigor competitivo, ao longo do tempo, configuraria a constituição de empresas familiares empreendedoras (LIMA et al., 2005).

Verifica-se, portanto, que a permanência de uma organização no mercado pode depender de treinamento e de competências. A aquisição de competências é um processo amplo de aprendizagem individual e organizacional que no caso de empresas familiares empreendedoras (EFE), envolvendo facilidade para aprender em meio às relações entre seus membros e a comunidade, bem como, por meio de um conhecimento codificado no diálogo colaborativo, além das regras formalizadas que compõem a infraestrutura moral da EF.

A sobrevivência de empresas familiares, em dado contexto social e econômico, associada ao CSF, dependeria, da construção de um processo sucessório marcado pela inovação. Os processos de mudança organizacional, envolvendo inovações e aprendizagem, caracterizam tais ações. Entre as quais, ações de encaminhamento da sucessão, processos diferenciados de formação de sucessores, a condução do processo de transmissão patrimonial e gerencial, o papel do fundador cabendo observar aí o fenômeno do intraempreendedorismo. Essas seriam empresas familiares empreendedoras.

As famílias com facilidade em apreender conhecimentos, práticas e processos apresentam um diferencial competitivo em relação às demais, pois estão vinculadas à características favoráveis à inovação (KRAUS et al., 2012), facilidades para ajustar rapidamente as oportunidades de crescimento e aos retrocessos e trabalho em equipe (SHARMA et al., 2012). Por outro, as empresas familiares tradicionais estão impregnadas em características que dificultam o processo de inovação como a falta de criatividade, a falta de detecção e previsão do mercado (ASSINK, 2006).

A permanência é resultante da ação de líderes intraempreendedores com facilidade de adequar as mudanças exigidas pelo ambiente interno e externo, em um processo de constante aprendizagem. A construção de empresas familiares empreendedoras está associada com ao vigor da ação empreendedora de seus líderes, a qual é marcada pelos fenômenos da aprendizagem organizacional, da mudança e da inovação, fenômenos esses que estão associados ao CS manifestado em empresas familiares. Nesse sentido formularam-se as hipóteses: H4: A aprendizagem influencia positivamente o desenvolvimento de EFE; H5: A inovação influencia positivamente à constituição de EFE; H6: A mudança influencia positivamente à constituição de EFE.

4. Metodologia

O estudo caracteriza-se como sendo de caráter exploratório e avaliação quantitativa. Para tanto foram aplicados 120 questionários em EF, em 12 cidades localizadas na região Sul do estado de Minas Gerais, depois de realizado pré-teste onde as falhas foram corrigidas. Optou-se pela amostragem não probabilística e por conveniência. A coleta de dados foi feita por meio de um questionário estruturado. A identificação dos empreendimentos familiares foi feita por meio de informações obtidas junto ao Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas Empresas (SEBRAE).

Foram definidos os seguintes critérios para as empresas participarem da amostra: na condução do negócio era necessário ter um pai e um filho atuando em parceria, ou um filho atuando na condução dos negócios com a ausência do pai (aposentado ou falecido), ou pai atuando com filhos em processo de aprendizagem, ou netos, bisnetos do fundador.

Na coleta de dados, seguiu-se um padrão: todos os questionários foram aplicados diretamente ao respondente por equipe treinada pelos pesquisadores o que minimizou problemas de interpretação. A análise dos dados foi feita por meio da técnica de modelagem de equações estruturais (MEE) usando software livre SMART PLS. A MEE possibilita que os pesquisadores em administração de empresas avaliem as propriedades psicométricas de suas escalas de mensuração, estudem a relação entre variáveis latentes e também realizem a análise de caminhos (path analysis) (BIDO et al., 2009).

5. Resultados

Após a análise exploratória dos dados, foi feita a análise da qualidade da mensuração que envolve a análise da dimensionalidade e da confiabilidade.

Esta etapa inicia-se com a análise fatorial do tipo R, a qual avalia as relações entre as variáveis para identificar grupos de variáveis que formam dimensões latentes (fatores) (HAIR, et al., 2005). Ela tem por objetivo reduzir os dados da pesquisa, pois permite identificar o grau que cada variável é explicada por cada fator (HAIR, et al., 2005).

Na sequência foi analisada a dimensionalidade, que significa investigar o número de fatores comuns existente em cada escala do construto, usando a AFE. Para tanto, utilizou-se o método de extração dos principais componentes e o método de rotação Varimax. Analisou as medidas KMO (Tabela 1), a fim de avaliar a confiabilidade da escala. Identificou-se, neste estudo, valores superiores a 0,60, os quais, de acordo com Malhotra (2006) são aceitáveis em estudos exploratórios.

Simultaneamente foi feita análise de variância extraída da solução (Tabela 1), sendo considerados aceitáveis os resultados superiores a 50%. Para definir o número de fatores, no caso de construtos que não apresentaram unidimensionalidade utilizou-se autovalores superiores a 1.

Com exceção do construto EFE (unidimensional), os demais apresentaram mais de um fator extraído (Tabela 1 e 2). No construto de segunda ordem CSF retirou-se 8 variáveis, reduzindo o bloco de 19 para 15 assertivas, sendo eliminadas variáveis com correlação inferior a 11%. No construto de segunda ordem inovação retirou-se 1 variável, com comunalidade inferior a 0,40. No construto de segunda ordem de aprendizagem retirou-se 4 variáveis, reduzindo o bloco de 12 para 8 assertivas, pois não apresentaram correlação estatisticamente significativas maiores que 0,25 ao nível de 5%. No construto de segunda ordem mudança eliminou-se a variável M_7, porque apresentou apenas um percentual de correlações estatisticamente significativa ao nível de 5%; a variável M_2, pois apresentou comunalidade inferior à 0,40 e a variável M_1, por ter apresentado carga positiva em um fator e negativa em outro. No construto de primeira ordem EFE retirou-se 7 variáveis reduzindo o bloco para 4 assertivas. As variáveis EFE_3, EFE_4, EFE_5, EFE_6 e EFE_8 não apresentaram correlações estatisticamente significativas com coeficientes superiores a 0,25. A variável EFE_1 foi eliminada, pois não apresentou comunalidade inferior a 0,40 e a variável EFE_2 por ter ficado isolada em um único fator (Tabela 1 e 2).

Após a AFE, foram feitas as análises do modelo de mensuração de primeira ordem, com todas as variáveis que foram indicadas pela análise exploratória dos dados. Na sequência elaborou-se o modelo e foram feitas todas as análises previstas: PLS algorith, bootstrapping e blindfolding. Analisando o modelo de mensuração, constatou-se a existência de duas variáveis com problemas (CSF_1 e CSF_18), pois não apresentaram validade convergente o t statistic foi inferior à 1,65 (HAIR, RINGLE, & SARSTEDT, 2011). Assim, foram excluídas e operou-se novas análises (Tabela 2).   

Tabela 1: KMO, total da variância explicada, número de fatores e variáveis eliminadas por construto.

Construto

KMO

Variância explicada

Teste Bartlett

Fatores extraídos

Variáveis excluídas

CSF

0,622

63,24

< 1%

6

10,13,16 e 17

Inovação

0,836

62,01

< 1%

3

14

Aprendizagem

0,734

69,41

< 1%

3

3,5,10 e 12

Mudança

0,622

64,00

< 1%

2

7,2 e 4

Empresa Familiar Empreendedora

0,658

50,59

< 1%

1

3,4,5,6,8,1 e 2

Fonte: Dados da pesquisa

Tabela 2: Formação dos construtos de primeira e segunda ordem.

Construto 2ª ordem

Construto 1ª ordem

Indicador

Capital Social Familiar

Rede Familiar (CSF1)

CSF_14-Existe uma forte rede de apoio entre familiares e /ou parentes.

CSF_18-O atual dirigente mantém relações sociais com membros da família ampliada que vivem no município.

CSF_11-Dirigentes ou membros da família têm relações de amizade com clientes e dirigentes, antes de serem clientes.

Diálogo Colaborativo (CSF2)

CSF_7-Na contratação de um novo empregado, avalia-se a capacidade de trabalho, e o fato de ser uma pessoa de palavra.

CSF_2-Existe uma relação de respeito e de convívio fora da empresa entre o fundador/sucessor e os colaboradores.

CSF_12-Os atuais dirigentes consideram que nesta empresa a transparência no contato com os clientes é muito importante.

Normas Familiares (CSF3)

CSF_4-A empresa é considerada uma família e colaboradores membros dela.

CSF_6-Há um clima de liberdade entre proprietários e colaboradores (brincadeiras).

Confiança (CSF4)

CSF_8-Já foram feitas vendas a prazo para clientes sem aprovação de cadastro, mas eram amigos dos proprietários.

CSF_9-Antes de levar um cliente ao SPC, busca resolver a dívida na amizade.

CSF_3-Nesta empresa princípios morais são passados de pai para filho e também aos colaboradores.

Infraestrutura moral (CSF5)

CSF_19-Dirigentes e/ou membros da família participam (ram) de associações e/ou entidades sociais do município.

CSF_5-Os dirigentes chegam a ajudar colaboradores a resolver problemas pessoais.

Normas éticas (CSF6)

CSF_1-Os dirigentes mantém boas relações pessoais com dirigentes de empresas concorrentes (troca de experiências, compra em conjunto, melhores negociações).

CSF_15-As relações com concorrentes são harmoniosas e pautadas em relacionamentos pessoais.

Inovação

Inovação planejada (I1)

I_8-Ocorreram transformações no processo de gestão (sistemas informatizados, novas práticas de RH).

Utiliza planejamento e orçamento para atingir os objetivos e metas, revisto periodicamente.

I_7-Inovou nos processos de gestão, por meio da delegação de autoridade.

I_9-Ocorreram transformações nos processos de finanças (planilha eletrônicas, fluxo de caixa, indicadores de custo).

I_2-Houve absorção de tecnologias avançadas ao longo do tempo.

Inovação incremental (I2)

I_5-Em algum momento da história da empresa considera que ela foi imitada por outras empresas após trazer para cidade um produto/serviço novo ou alguma prática administrativa.

I_12-A empresa transformou seu processo de comercialização (consórcio/ parcerias, utilização da Internet, telemarketing, mala-direta, participação em feiras e exposições, novas formas de comercialização).

I_11-Ocorreram transformações no processo de produção e/ou serviços (terceirização, novas matérias-primas, máquinas, equipamentos novas ou usadas, certificação ISO, programa 5's, novo designer de produto, mudança mix de produtos).

I_10-A empresa modificou os processos de marketing (divulgação da marca, participação em feiras e exposições).

Inovação radical (I3)

I_1-Houve criação/desenvolvimento de novos produtos/processos ao longo do tempo.

I_3-Houve diversificação em termos de produtos e/ou serviços.

Aprendizagem

Aprendizagem deliberada (A1)

A_9-Busca-se informações junto a órgãos competentes para promover melhorias e/ou mudanças.

A_11-A aprendizagem ocorre pela busca de apoio junto à órgãos de fomento/consultorias.

A_8- Realiza-se com frequência treinamento e aperfeiçoamento da equipe, com o propósito de permitir mudar.

Aprendizagem emergente (A2)

A_2-O dirigente analisa o contexto em que a empresa está inserida, para processar as alterações.

A_1-Há preocupação dos dirigentes com alteração no setor de atuação, para modificar e/ou corrigir os processos internos.

A_4-Busca informações no passado, para modificar ações no futuro.

Aprendizagem experimental (A3)

A_6-Os dirigentes e/ou membros da família tem reuniões regulares para avaliarem o andamento dos negócios, trocarem opiniões e tomarem decisões sobre isso.

A_7-As mudanças de práticas gerenciais acontecem devido a discussões e/ou avaliação realizada pelos dirigentes.

Mudança

Mudança ativa (M1)

M_8-Situações ocorridas no setor de negócios favorecem sua transformação.

M_1-O setor de atuação da empresa sofre transformações, exigindo mudanças no modo de conduzi-la.

M_3-Passou por mudanças internas significativas ao longo de sua existência.

Estabilização (M2)

M_6-Poderá passar por mudanças significativas apenas no futuro.

M_5-Poderá modificar seu mercado de atuação apenas no futuro.

Empresa Familiar empreendedora (EFE )

EFE_9-Nesta empresa há preocupação em treinar jovens da família para nela ingressarem.

EFE_10-Nesta empresa espera-se que os jovens sucessores tenham diplomas de nível superior para nela ingressarem.

EFE_11-O futuros sucessores trazem ideias novas para o negócio, possibilitando mudanças rápidas.

EFE_7-Os empregados apoiaram jovens futuros sucessores ao ingressarem na empresa como aprendizes.

Fonte: Dados da pesquisa

O modelo de mensuração de primeira ordem sem as variáveis CSF1 e CSF18 atendeu a todos os requisitos de validade convergente, discriminante e de confiabilidade. A validade convergente expressa a correlação entre os indicadores de um construto, de forma a mostrar que estes são medições válidas do mesmo objeto. A Tabela 3 indica que todos os construtos apresentaram validade convergente, de acordo com Tabacniq e Fidell (2001), pois todas as AVEs foram superiores a 40%. A variável CSF6 não possui validade convergente, pois é uma variável e não um construto.

Tabela 3: Validade convergente dos construtos

VALIDADE CONVERGENTE FORNELL E LACKER (1981)

Construto

AVE

Construto

AVE

Construto

AVE

CSF1

62%

CSF6

-

I2

55%

CSF2

50%

A1

63%

I3

59%

CSF3

68%

A2

65%

M1

55%

CSF4

46%

A3

73%

M2

68%

CSF5

64%

I1

59%

EFE

49%

Fonte: Dados da pesquisa

Todas as variáveis do modelo apresentaram validade convergente ao nível de 1%, apenas a variável CSF_4 ao nível de 5%, de acordo com o critério proposto por Bagozzi, Yi e Philips (1991). A confiabilidade de todas as variáveis do modelo foram superiores a 0,50, atendendo o critério estabelecido por Churchill (1979). A validade discriminante de todos os construtos do modelo foi atendida, uma vez que as correlações ao quadrado são inferiores ao valor das AVEs, baseado no método de Fornell e Larcker (1981).

A análise da confiabilidade dos construtos do modelo foi feita pela confiabilidade composta (CC), por ser a mais fidedigna para avaliar a confiabilidade do construto (Hair et al., 2009). No modelo todos os construtos apresentaram CC superior à 70%.

Face à teoria que respalda o modelo teórico proposto, verifica-se que abre caminhos para pensar na formação de construtos de segunda ordem para melhor representar os construtos de primeira ordem. Ou seja, capital social familiar é resultado da rede familiar, diálogo colaborativo, normas familiares, confiança, infraestrutura moral, normas éticas. A inovação, construto de segunda ordem, é representada por 3 construtos de 1a ordem: inovação planejada, incremental e radical.

O construto de segunda ordem Aprendizagem é consequência das aprendizagens deliberada, emergente e experimental. A mudança, que é um construto de segunda ordem, é resultado dos construtos de primeira ordem mudança ativa e estabilização.

Procedeu-se as análises dos modelos de mensuração de segunda ordem, onde se pode perceber problemas com a validade convergente das variáveis CSF_4 e CSF_6, pois a carga padronizada foi inferior a 0,50 (BAGOZZI et al., 1991). Analisando a validade convergente dos construtos constatou que a AVE do construto CSF ficou abaixo de 0,50 (FORNELL & LACKER, 1981). Assim, optou por analisá-lo como formativo.

Analisando a validade convergente dos construtos formativos, constatou-se que a significância do construto CSF3 (1,09) não é significativa, nem mesmo ao nível de 10%, pois apresenta um valor inferior a 1,65 (Hair et al., 2011) que é o valor mínimo para garantir tal significância. Assim, repetiu-se a operação excluindo o construto CSF3.

O modelo de segunda ordem sem o construto CSF3 apresentou validade convergente das variáveis de acordo com os padrões estabelecidos por Bagozzi et al. (1991), pois todas as cargas padronizadas foram superiores a 0,50 e a significância ao nível de 1% ,para a maioria das variáveis, exceto M1 que apresentou ao nível de 5% e M2 que apresentou ao nível de 10% (HAIR et al., 2011). A variável M2 apresentou uma carga padronizada com sinal negativo o que indica que tem uma compreensão contrária em relação às demais, ou seja isto indica que influencia negativamente no modelo.

A validade convergente das variáveis do construto formativo foi analisada à parte, pois os construtos formativos não são validados como fatores reflexivos convencionais (consistência interna e confiabilidade não são importantes) (HAIR, BLACK, BABIN, ANDERSON, & TATHAM, 2009). Assim, todas apresentaram significância ao nível de 10%.

A validade convergente dos construtos aprendizagem, inovação e mudança são superiores a 0,50 (FORNELL & LACKER, 1981). O construto EFE (49%) ficou próximo do exigido e CSF (33%) ficou abaixo, porém optou-se por continuar a análise do modelo, apesar destes valores abaixo, pois sugere-se que CSF é um construto formativo, o que sinaliza para a ausência de validades. Já o construto EFE é originário de um conceito teórico novo, não possuindo assim, escalas apropriadas e pretextadas. Além disso, para Tabachnick e Fidel (2001) é aceitável a AVE a partir de valores superiores a 40%.

A validade discriminante dos construtos foi testada de acordo com os critérios de Fornell e Lacker (1981) e todos os construtos atingiram o valor necessário.

Finalizada a análise do modelo de mensuração partiu-se para a verificação do modelo estrutural. Isso é possível em virtude do atendimento prévio de todos os critérios de validade convergente, discriminante e de confiabilidade do modelo de mensuração, ou seja, o modelo foi aceito e está pronto para ser testado de forma estrutural.

5.1 Síntese dos resultados do modelo de equações estruturais

A validade nomológica é testada pelo R2 dos construtos endógenos, excluindo-se o construto capital social familiar desta fase, por se tratar de variável exógena. Analisando os valores de R2 (Tabela 4) verifica-se que para aprendizagem, inovação e EFE o valor é de 20%, já para mudança é de 13%; evidencia-se uma explicação fraca, revelando que podem existir outros aspectos não constantes desses construtos que explicariam: aprendizagem, inovação, mudança e EFE.

Tabela 4: Validade nomológica – R2

Construtos endógenos

R Square

02 – Aprendizagem

21%

03 – Inovação

20%

04 – Mudança

13%

05 - Empresa Familiar Empreendedora

20%

Fonte: Dados da pesquisa

Os construtos aprendizagem, inovação apresentam um impacto estatisticamente significativo ao nível de 1% com o construto CSF. Já o construto mudança apresenta um impacto estatisticamente significativo ao nível de 5% (Tabela 5). Com o construto EFE, a aprendizagem apresenta um impacto estatisticamente significativo ao nível de 1%, enquanto que a inovação é de 5% e a mudança de 10%.

Tabela 5: Validade nomológica caminhos hipotetizados

Validade nomológica

Caminhos hipotetizados

Original Sample (O)

Sample Mean (M)

Standard Deviation (STDEV)

Standard Error (STERR)

T Statistics (|O/STERR|)

Sig.

01 - CSF -> 02 – A

0,46

0,49

0,08

0,08

5,74

0%

02 - CSF-> 03 – I

0,45

0,49

0,07

0,07

6,34

0%

03 - CSF-> 04 – M

0,36

0,36

0,18

018

1,97

%

04 - A-> 05 – EFE

0,37

0,38

0,13

0,13

2,78

0%

05 - I -> 05 – EFE

-0,32

-0,31

0,15

0,15

2,05

2%

06 - M -> 05 – EFE

0,32

0,28

0,20

0,20

1,56

6%

 

Com relação ao sinal percebe-se que exceto à relação entre o construto inovação e EFE é negativo, todos os demais construtos apresentam um sinal positivo, confirmando as hipóteses. No que diz respeito à relação entre o construto inovação e EFE a hipótese não foi comprovada, pois esperava-se que na medida que a família apresentasse aspectos vinculados a EFE ela também iria apresentar características de ações relacionadas à inovação. Mas o sinal negativo indica uma inversão, ou seja, na medida em que se inova a família não é empreendedora.

Analisando a magnitude dos construtos percebe-se que o maior impacto é da relação entre aprendizagem e inovação com o capital social familiar com carga de 0,46 (Tabela 5) e o que apresenta menor impacto são as relações entre a inovação e a mudança com o construto EFE com carga de – 0,32 e 0,32, respectivamente.

Analisando a validade nomológica dos construtos exógenos constata-se que não existe no modelo estrutural problemas de multicolinearidade, dado que todas as correlações apresentaram valores entre 34 e 63%. Segundo Hair et al. (2009), este problema ocorre quando os valores são superiores à 80%.

O SMART PLS não oferece as medidas de ajuste do modelo, porém alguns autores sugerem validar estas medidas de ajuste, por meio de outros valores. Dias (2004) afirma que uma forma de medir o ajuste do modelo é avaliar se a redundância é inferior à 0,40. Lohmöller (1984) sugere verificar o ajuste do modelo por meio da parcela não explicada da variância dos construtos dependentes, sendo que tal valor deve ser inferior a 50% (DIAS, 2004). Outra forma é a análise do Q² (que seria o goodness of fit –qualidade do ajuste).

O Goodness of fit (GoF), é calculado com base na fórmula proposta por Amato et. al.. (2004), variando de 0% a 100%, não existindo valores de corte para considerar um ajuste como bom ou ruim. Entretanto, considera-se que quanto mais próximo de 100% melhor o ajuste. O GoF do modelo foi de 31%. Isso indica que a explicação do fenômeno objeto do modelo criado pode incluir outras variáveis ainda não contempladas.

Quando avaliada a capacidade de predição do modelo, por meio da medida Stone–Geisser’s Q², o valor d deve estar entre cinco e 10 (HAIR et al., 2011). Para Henseler, Ringle e Sinkovics. (2009) quando a medida é superior a 0%, o construto endógeno possui um poder de previsão relevante. Assim, adotou-se um d de sete e realizou-se as análises. Os resultados indicam que todos os construtos endógenos do modelo apresentam um Q² superior a 7%, podendo-se afirmar que os construtos endógenos foram adequadamente mensurados pelo modelo.

6. Discussão dos dados

6.1 Capital Social familiar e aprendizagem

De acordo com os resultados, a hipótese (H1) ‘nas empresas familiares o acúmulo de capital social familiar gera influência positiva sobre a capacidade e a facilidade para desenvolver a aprendizagem organizacional’ foi comprovada. Isso significa que o capital social familiar constituído pela rede familiar, pelo dialogo colaborativo, confiança, infraestrutura moral e normas éticas influenciam positivamente as práticas de aprendizagem que envolvem, a aprendizagem ensinada, emergente e experimental em empresas familiares.

Estes resultados ajudam a definir como o capital social familiar influencia no processo de aprendizagem das empresas familiares. Ou seja, como aspectos tais como as relações estabelecidas entre os membros de uma família e destes com a comunidade em que estão inseridos influencia na forma em que estes dirigentes aprendem, seja pela busca de informações, pelo treinamento, capacitação ou por meio de trocas de experiência entre os membros familiares ou mesmo em função da análise do contexto em que estão inseridos.

Há campo para pesquisas futuras, na medida em que se deve explorar mais esta relação, podendo-se acrescentar novas variáveis além das que foram testadas no modelo. Como constatado, tais variáveis explicaram 46%, indicando que existem variáveis que não foram incluídas, mas podem interferir nesta relação.

6.2 Capital social familiar e inovação

A segunda hipótese (H2) ‘o capital social familiar gera influência positiva sobre a capacidade de inovação de uma empresa familiar’ foi testada e comprovada. Isso significa que o capital social familiar constituído pela rede familiar, pelo dialogo colaborativo, confiança, infraestrutura moral e normas éticas influenciam positivamente as práticas de inovação, as quais envolvem a inovação planejada, radical e incremental.

As relações existentes entre os membros de uma família, os quais conduzem uma empresa e se relacionam com a comunidade em que estão inseridos, influenciam positivamente os diferentes processos de inovações destas empresas. A forma como e por que inovam é, portanto, influenciada por aspectos sociais intrínsecos nestas relações. Torna-se claro, também, que a presença de um sucessor intraempreendedor é fundamental para favorecer este processo.

A inovação foi vista como planejada, em função das transformações no processo de gestão e de finanças, bem como pela adoção de tecnologias avançadas por parte dos dirigentes das empresas ao longo do tempo. Foi discutida e identificada como incremental por envolver pequenas mudanças no processo de comercialização, marketing e produção de produtos e serviços como novas parcerias estabelecidas, participação em feiras e exposições como estratégia de comercialização, além da utilização de novas matérias-primas, máquinas e equipamentos no processo de produção, bem como novas estratégias de divulgação da marca.

Esta relação abre campo para novas pesquisas, as quais poderiam desvendar se de fato os líderes empreendedores influenciam os processos de inovação ou se é a cultura do líder que proporciona a diferença. Neste sentido, a formação de uma nova escala de mensuração faz-se necessário. Estas possibilidades de pesquisas são apontadas, pois a hipótese apresentou 45% de influencia do capital social familiar sobre a inovação, o que reforça a necessidade de estudos futuros envolvendo novas medidas de mensuração.

6.3 Capital social familiar e mudança

O teste da terceira hipótese (H3) ‘o capital social de uma família gera influência positiva sobre a capacidade de promover e enfrentar mudanças em empresas familiares’ evidenciou que foi comprovada. Isso significa que o capital social familiar constituído pela rede familiar, pelo dialogo colaborativo, confiança, infraestrutura moral e normas éticas influenciam positivamente as práticas de mudança, as quais envolvem a mudança ativa e a estabilização.

Estes resultados indicam que a rede de apoio entre os membros de uma família e destes com a comunidade (concorrentes, funcionários, clientes, fornecedores) em que estão inseridos influencia no processo de mudança ou não mudança da empresa. Ou seja, podem ocorrer tanto a mudança ativa e como a estabilização. No caso da mudança ativa, os líderes organizacionais estão aptos a acompanharem as transformações ocorridas no setor de negócios e implementá-las em suas organizações. Enquanto no caso da estabilização, não se verifica preocupação em mudar e adaptar de modo imediato, os líderes veem estas questões como algo a ser explorado apenas em um futuro distante.

Esta relação abre campo para estudo futuros, talvez em profundidade. Isso requer, em um primeiro momento, compreender como os líderes organizacionais discutem e lidam com a mudança e em um segundo momento promover a adaptação destas observações em escalas de mensuração. Esta necessidade de aprofundar pesquisas foi apontada, pois a hipótese apresentou 36% de influencia do capital social familiar sobre a mudança, o que indica novas buscas por medidas e métodos de mensuração.

6.4 Aprendizagem e empresa familiar empreendedora

A hipótese (H4) ‘a aprendizagem influencia positivamente o desenvolvimento de empresas familiares empreendedoras’ foi comprovada, ao nível de 1% de significância e com impacto de 37%. Isso significa que as práticas de aprendizagem que envolvem, a aprendizagem ensinada, emergente e experimental influenciam positivamente a formação de empresas familiares empreendedoras. Estas seriam aquelas onde existe uma preocupação de treinar os jovens da família para nela se ingressarem, os quais preferencialmente irão possuir um diploma de curso superior e apresentaram ideias novas para o negócio, pois poderão ser apoiados pelos colaboradores atuantes.

Enquanto que a prática de aprendizagem diz respeito à forma com que os líderes aprendem e relacionam-se desde conhecimento formal adquirido por meio da leitura de livros, como também da realização de cursos de capacitação, da troca de experiência entre os dirigentes, os membros da família e da empresa. Outra maneira de aprender e pela percepção que o dirigente tem em relação ao ambiente, o que abre campo para uma nova forma de aprender, em função do que é feito pelos concorrentes.

Verifica-se necessidade de novos estudos, pois o impacto não foi muito significativo, indicando a existência de outras variáveis que não foram incluídas no modelo e que influenciam a relação sugerida pela hipótese. Nessa perspectiva, seria desejável a construção de uma escala de mensuração, pois a mesma não foi encontrada na literatura existente. Assim é salutar a ampliação e o teste da mesma, a partir dos aspectos aqui discutidos.

6.5 Inovação e empresa familiar empreendedora

O teste da quinta hipótese (H5) ‘a inovação influencia positivamente à constituição de empresas familiares empreendedoras’ revela que não foi comprovada, ao nível de significância de 5%, com impacto negativo de 32%.  Isso significa que as práticas de inovação radical, incremental e planejada não influenciam a formação de empresas familiares empreendedoras. Que são empresas que se preocupam em treinar os jovens da família para nela se ingressarem e espera-se que os jovens sucessores obtenham diplomas de formação de nível superior, para após iniciar sua participação junto à organização. Os quais trazem ideias novas para o negócio possibilitando ampla mudança, onde os jovens sucessores são apoiados pelos empregados que nela atuam.

A não comprovação da hipótese abre campo para novas pesquisas, pois acredita-se que a inovação influencia positivamente as empresas familiares empreendedoras. Assim, o que se sugere é a reformulação da escala de mensuração incluindo novas variáveis, as quais deveriam estar relacionadas com aspectos vinculados à inovação durante o processo sucessório; a presença de uma cultura empreendedora e de inovação, a qual favorece a estudos sobre novas práticas; a facilidade dos membros das empresas familiares empreendedoras se ajustarem rapidamente em função de mudanças e transformações ambientais.

6.6 Mudança e empresa familiar empreendedora

O teste da sexta hipótese (H6) ‘a mudança influencia positivamente à constituição de empresas familiares empreendedoras’ evidencia que foi comprovada, ao nível de significância de 10% e com um impacto positivo no valor de 32%.

Isso significa que as práticas de mudança ativa, ou seja, adaptação por parte dos líderes de empresas em função das transformações ocorridas no setor de negócios, e da própria estabilização (não existe preocupação por parte dos líderes, no momento presente de mudar, processos internos ou ramo de atuação, isso é algo que pertence ao futuro) influenciam positivamente a formação de empresas familiares empreendedoras. Estas seriam aquelas onde existe a preocupação de treinar os jovens da família para nela se ingressarem, os quais de preferência irão possuir um diploma de curso superior e trazem ideias novas para o negócio, pois poderão ser apoiados pelos colaboradores atuantes.

A relação estabelecida sugere a realização de novas pesquisas, pois de acordo com o grau de impacto encontrado, variáveis não incluídas influenciariam nesta relação. Sugere-se ainda ampliar a escala de mensuração e incluir novas variáveis, tais como, por exemplo, a percepção dos líderes em relação à mudança, a velocidade como que os líderes percebem e implementam mudanças.

7. Conclusões

Este estudo exploratório traz contribuições para o campo da pesquisa sobre empresas familiares, uma vez que explora a relação do capital social familiar e a aprendizagem organizacional, processos de inovação e mudanças nesse tipo de empresa.

O fenômeno do capital social foi abordado sob a perspectiva do capital social familiar, retomando-se a contribuição significativa de autores que militam nessa perspectiva, tais como Dess et al., 2003; Hoffman et al, 2006; Sorenson and Bierman, 2009. Categorias associadas a esse conceito, já testadas, foram retomadas e operacionalizadas: rede familiar, dialogo colaborativo, confiança, infraestrutura moral e normas éticas. Assim concebido, o capital social familiar foi considerado como tendo influência positiva sobre a aprendizagem, inovação e mudança em empresas familiares empreendedoras. Uma amostra de 120 empresas familiares foi estudada por meio de aplicação de um questionário estruturado, analisando-se os dados por meio de um modelo estrutural comportando seis hipóteses.

O estudo representa uma contribuição para a abordagem dos mecanismos pelo qual o capital social assume o caráter de capital social familiar e influencia no funcionamento desse tipo de empresas. Os resultados indicam que as hipóteses H1, H2, H3, H4 e H6 foram comprovadas. Assim, há relação positiva entre a presença de capital social e o grau de inovação, de aprendizagem e de mudança nas empresas familiares estudadas. Também foi comprovada a relação positiva dos efeitos da aprendizagem e mudança em empresas familiares empreendedoras.

A Hipótese H5 não foi comprovada, não se evidenciando relação positiva entre o a busca de inovação em empresas familiares empreendedoras. A não comprovação da hipótese abre campo para novas pesquisas, pois acredita-se que a inovação influencia positivamente as empresas familiares empreendedoras. Isso sugere a necessidade de  reformulação da escala de mensuração incluindo novas variáveis.

Além da não comprovação da Hipótese H5, constatou-se que houve baixo impacto na comprovação das demais hipóteses, ensejando reflexão sobre a construção de novas escalas de mensuração e novas hipóteses de pesquisa. Como proposta subsequente a esta pesquisa, os autores pretendem revisar as escalas utilizadas confrontando outras variáveis não contempladas e que surgiram a partir dos testes de hipóteses.

O estudo abre campo para a seguinte reflexão: o capital social familiar é algo próprio da família ou da empresa familiar? A empresa empreendedora realmente não é influenciada pelos processos inovação, como comprovou o teste de hipótese? Quais seriam as novas variáveis que poderiam ampliar o impacto estabelecido entre cada um destes construtos?

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1. Email: daniela.andrade@dae.ufla.br


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 38) Año 2016

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