Espacios. Vol. 37 (Nº 36) Año 2016. Pág. 29

O Processo de Internacionalização sob o Olhar da Tríplice Hélice: o Caso de uma Empresa Brasileira de Software

The Internationalization Process through the Triple Helix approach: The Case of a Brazilian Software Company

Sady Darcy da SILVA Júnior 1; Lucas Bonacina ROLDAN 2; Moema Pereira NUNES 3

Recibido:04/07/16 • Aprobado: 04/08/2016


Conteúdo

1. Introdução

2 Teorias da Internacionalização

3 Interação universidade-empresa-governo

4 Método de Pesquisa

5 Trajetória de Internacionalização da Empresa Pandorga

6 Análise dos atores envolvidos no processo de internacionalização – Tríplice Hélice

7 Considerações Finais

Referências


RESUMO:

Os parques tecnológicos têm se caracterizado como ambientes de inovação que podem contribuir com o processo de internacionalização. Esta pesquisa, através de um estudo de caso único, investigou o processo de internacionalização de uma empresa brasileira de software através do olhar da Tríplice Hélice. Verificou-se que o processo de internacionalização tem grande dependência da ação empreendedora dos gestores da empresa e que, embora a rede estabelecida pelos três atores possa contribuir neste processo, ainda existem lacunas na exploração destas oportunidades.
Palavras-chave: Processo de Internacionalização; Tríplice Hélice; Empresa de Software

ABSTRACT:

Technological parks have been characterized as innovation environments that can contribute to the process of internationalization. This research, through a single case study, investigated the process of internationalization of a Brazilian software company through the eyes of the Triple Helix. It was found that the process of internationalization has great dependence on entrepreneurial action of the company's managers. Although the network established by the three actors can contribute to this process, there are still gaps in the exploitation of these opportunities.
Keywords: Internationalization process; Triple Helix; Software company

1. Introdução

O estudo sobre internacionalização de empresas vem assumindo um papel cada vez mais importante na academia, com destaque para empresas tecnológicas. Castro et al. (2008) salientam que existe uma intensa relação entre o grau de internacionalização e a prática de inovações tecnológicas, o que pode ser considerada como fator determinante para a competitividade das empresas brasileiras no exterior. Estas empresas muitas vezes possuem dificuldades naturais, como a falta de economia de escala, de recursos financeiros e de conhecimento, e a aversão ao risco, que podem ser superadas a partir do desenvolvimento de redes de relacionamento para a construção de alianças e parcerias colaborativas (FREEMAN, EDWARDS e SCHRODER, 2006). Silva, Chauvel e Bertrand (2010) também destacam o papel das redes de relacionamento e dos empreendedores das empresas em seus processos de internacionalização. Tais autores identificaram que a rede de relacionamentos permite a redução da distância psíquica e leva à aquisição de novos recursos relevantes para a empresa. Amal, Freitag Filho e Miranda (2008) destacam que as redes de relacionamento das empresas tornaram-se essenciais nos seus processos de internacionalização, pois formam a base para a adoção de suas estratégias. Ribeiro, Oliveira Jr. e Borini (2012) afirmam que os fatores externos às empresas de tecnologia têm influência maior no processo de internacionalização do que os fatores internos e, para eles, as habilidades gerenciais internacionais dos empreendedores destacam-se como estratégicos para o sucesso dos processos de internacionalização.

Para McDougall e Oviatt (2003), há um movimento intenso na academia e no mercado, no sentido de entender em que consiste a internacionalização, também denominada pelos mesmos de empreendedorismo internacional. Na busca de entendimento de como funciona este processo, Johanson e Vahlne (1977) publicaram um estudo cujo objetivo era identificar elementos que fossem comumente compartilhados em situações de decisões relativas à internacionalização, visando o desenvolvimento explicativo de um modelo para esta questão. Dada a relevância e importância do assunto, após sucessivos refinamentos deste modelo inicial, Schweizer, Vahlne e Johanson (2010) fizeram uma releitura do mesmo, a partir de um estudo de caso, onde buscaram identificar outras variáveis capazes de interferir no processo de internacionalização, obtendo como resultado as variáveis rede de relacionamento, aprendizado e construção de confiança. A partir deste estudo, os autores concluíram que a internacionalização caracteriza-se, na verdade, como um processo de empreendedorismo. O papel do empreendedor das empresas, aliado à cultura organizacional voltada para a internacionalização, têm se destacado como fatores chaves nos processos de internacionalização (AMAL, FREITAG FILHO e MIRANDA, 2008).

Em termos de inovação, Etzkowitz (2003) afirma que ela não é somente caracterizada pelo desenvolvimento de novos produtos ou serviços, mas também pela criação de novos arranjos entre as esferas institucionais que propiciam condições para a inovação. Estas esferas, segundo o autor, são conhecidas como Universidade, Empresa e Governo. Porém, novas figuras foram desenvolvidas na intenção de aprimorar o entendimento quanto ao relacionamento destas instituições, como, por exemplo, o modelo da Tríplice Hélice, abordado por Etzkowitz e Leydesdorff (2000). Este modelo, segundo os autores, enfatiza a união das esferas e promove uma infraestrutura de conhecimento na sobreposição das instituições, onde cada instituição desempenha o papel da outra e, assim, emergem organizações híbridas.

Desenvolvendo esta cultura empreendedora nas universidades, novas estruturas organizacionais surgem dentro delas, como escritórios de transferência de tecnologia, spin-offs, parques tecnológicos, incubadoras e outros mecanismos focados em pesquisas capazes de promover a transferência de conhecimentos (ETZKOWITZ e LEYDESDORFF, 2000). A partir de estruturas como estas, uma forma que pode facilitar a inserção de uma empresa no mercado internacional é a localização da mesma em um parque tecnológico. Os parques tecnológicos, por sua vez, são considerados como locais privilegiados de estabelecimento de relações e de intercâmbios de conhecimentos entre os vários agentes e stakeholders do processo de inovação tecnológica (VEDOVELLO, JUDICE e MACULAN, 2006).

Com base nos assuntos abordados, o presente estudo tem como objetivo analisar o processo de internacionalização de uma empresa tecnológica a partir do olhar da Tríplice Hélice, de forma a revelar como esta rede de relacionamento vêm contribuindo. Por critério de acessibilidade, foi escolhida a empresa Pandorga para a realização deste estudo A Pandorga é uma pequena empresa brasileira de tecnologia situada no Parque Tecnológico e Científico da PUCRS (TECNOPUC), que desde 2012 também possui uma unidade no Reino Unido. A partir da análise da trajetória de internacionalização da empresa, buscou-se identificar o papel dos atores empresa-universidade-governo ao longo da mesma.

Para sustentar esta investigação, as seções seguintes apesentam uma revisão da literatura sobre teorias da internacionalização, interação universidade-empresa-governo, e parques tecnológicos.

2. Teorias da Internacionalização

As teorias que explicam o processo de internacionalização a partir de uma abordagem comportamental (ANDERSEN e BUVIK, 2002) originam-se na década de 1970. O denominado Modelo da Escola de Uppsala considera que a internacionalização é uma consequência do crescimento da empresa, pois devido ao esgotamento do mercado doméstico ou o descarte do crescimento vertical (CARLSO, 1975). Neste sentido, a exportação com a utilização de agentes representa a primeira etapa do processo de internacionalização, seguida pelo estabelecimento de subsidiárias de vendas e, em processos mais avançados, pelo estabelecimento de unidades produtivas (JOHANSON e VAHLNE, 1977). De acordo com esta abordagem, a escolha de mercados é feita através da busca constante por mercados com distância psíquica reduzida (HILAL e HEMAIS, 2003). O processo de internacionalização, para esta teoria, representa um continuum de aprendizado que permite à empresa avançar para novos mercados com maior distância psíquica. Embora esta teoria tenha se limitado à uma visão linear por alguns anos, sua revisão apresentada em 2009 por Johanson e Vahlne destaca que a complexidade dos mercados assume um papel estratégico neste processo. Johanson e Vahlne (2009) destacam que o processo de internacionalização não é uma sequência de etapas e passos planejados. Devido à complexidade dos mercados, o processo de internacionalização revela-se como incremental com foco na aprendizagem por meio do comprometimento crescente com mercados estrangeiros. Nesta nova visão é possível compreender que o processo de internacionalização pode ser acelerado pela própria empresa ao passo em que ela adquire conhecimento e desenvolve competências para atuar em mercados psiquicamente mais distantes.

Nos anos 1980 surgiu a abordagem de networks, a qual considera a rede de negócios da empresa e os seus relacionamentos, bem como os seus graus de internacionalização, como fatores determinantes no processo de internacionalização de uma empresa. Andresson, Forgsgren e Holm (2002) destacam que a rede externa de uma empresa decorre de seus relacionamentos com parceiros de negócios, como fornecedores, instituições de pesquisa e clientes, por exemplo. Já a rede interna da empresa decorre do relacionamento de suas subsidiárias, mas relacionamentos não são apenas institucionais. Como destacam Johanson e Sharma (1987) e Lindqvist (1991), relacionamentos de negócios e pessoais podem ser utilizados para ter acesso a outras networks. Laços sociais e cognitivos podem ser extremamente importantes no processo de internacionalização (BJÖRKMAN e FORSGREN, 2000). Como destacam Andresson e Johanson (1997), a internacionalização deixa de ser somente uma questão de mudar a produção para o exterior e passa a ser percebida mais como a exploração de relacionamentos potenciais além-fronteiras.

McDougall e Oviatt (2003) constataram que as networks são capazes de causar um impacto no mercado exterior, sendo uma forma para as empresas poderem entrar neste novo contexto. Esta visão parte da adaptação e do intercâmbio de fornecedores e clientes, através do desenvolvimento de um relacionamento bilateral onde todos aprendem a se relacionar e acordam um compromisso mútuo de investimentos e compartilhamento de recursos. Além disso, os autores ressaltam que os parceiros que estão ligados através das redes compartilham um desenvolvimento futuro e exercem certo grau de poder uns sobre os outros. Desta forma, a internacionalização acaba se caracterizando como um processo de desenvolvimento multilateral da rede de relacionamentos e, a partir deste processo, a empresa aprende, desenvolve confiança e traça compromissos (MCDOUGALL e OVIATT, 2003).      

Uma terceira abordagem comportamental é o empreendedorismo internacional, centrado na persona do dirigente da empresa (empreendedor) (ANDRESSON, 2000). Tendo sido desenvolvida a partir da observação das empresas born globals, esta abordagem passou também a explicar o processo de internacionalização de empresa já estabelecidas. Com a inclusão de empresas já estabelecidas nesta teoria, desmistificou-se que estas não são inovadoras e possuem aversão ao risco (ZAHRA e GARVIS, 2000). De acordo com esta abordagem, cabe ao empreendedor identificar as oportunidades do mercado internacional e desenvolver as estratégias e habilidade para criar e explorar oportunidades de internacionalização (PEREIRA; ARAÚJO; GOMES, 2006). Assim, empreendedorismo internacional pode ser definido como a descoberta, criação, avaliação e exploração de oportunidades que ultrapassam as fronteiras nacionais, com a finalidade de criar bens e serviços futuros (SHANE e VENKATARAMAN, 2000 apud McDOUGALL e OVIATT, 2003).

Em relação ao aprendizado e a gestão do conhecimento, McDougall e Oviatt (2003) elaboraram um raciocínio quanto à sua ligação com o processo de internacionalização, afirmando que a construção do conhecimento quanto ao mercado externo requer tempo e, consequentemente, gera efeito sobre o custo da internacionalização. Além disso, os autores consideram a construção de confiança e de comprometimento como fatores importantes, levando em consideração o capital social para o aprendizado e a geração de novos conhecimentos, tendo como resultados a eficiência, a produtividade e a efetividade. Em relação às oportunidades de desenvolvimento, os autores reforçam o que já havia sido considerado no modelo anterior, onde afirmaram que o conhecimento experiencial é capaz de possibilitar a percepção de oportunidades concretas que, na maioria das vezes, podem emergir como consequência do conhecimento privilegiado que duas partes desenvolvem em conjunto.

No que tange à busca de entendimento de como funciona o processo de internacionalização, em 1977, Johanson e Vahlne publicaram um estudo cujo objetivo era identificar elementos que fossem comumente compartilhados em situações de decisões relativas à internacionalização, visando o desenvolvimento explicativo de um modelo para esta questão, denominado de modelo de Uppsala. Após a construção e difusão do mesmo, muitos foram os modelos e frameworks criados para tentar explicar este processo. Neste sentido, segundo McDougall e Oviatt (2003), todos os modelos posteriores foram uma tentativa de aprimorar o modelo inicial com o objetivo de trazerem para o debate a necessidade imposta pelos mercados, de incrementar o processo de internacionalização ao longo do tempo devido aos avanços e mudanças do cenário econômico, de forma mais acelerada e possibilitando superação das etapas necessárias. Aliás, esta foi a crítica feita por muitas escolas ao modelo de Uppsala.

Neste sentido, um dos modelos mais importantes desenvolvido foi o de Schweizer, Vahlne e Johanson (2010) onde, após sucessivos refinamentos, fizeram uma releitura do modelo desenvolvido por Johanson e Vahlne (1977), acrescentando aspectos como rede de relacionamento, aprendizado e construção de confiança. Esta releitura, através de um estudo de caso, buscou identificar outras variáveis que são capazes de interferir no processo de internacionalização, concluindo que a internacionalização caracteriza-se como um processo de empreendedorismo, ressaltando aspectos como conhecimento, oportunidades, capacidades empreendedoras e exploração de contingências.

3. Interação universidade-empresa-governo

Na tentativa de associar os atores econômicos e suas interações com vistas de tentar explicar o desenvolvimento econômico, novas figuras foram desenvolvidas na intenção de aprimorar o entendimento quanto ao relacionamento destas instituições como, por exemplo, o modelo da Tríplice Hélice abordado por Etzkowitz e Leydesdorff (2000). Os modelos estudados por estes autores apontam algumas diferenças: no primeiro modelo, nomeado de Estadista, a universidade e as empresas encontram-se dentro da área de atuação do governo, o qual direciona as interações entre as instituições; o segundo modelo, chamado de triângulo de Sábato, representa a delimitação de cada esfera permanecendo no vértice superior deste triângulo o governo, impulsionando esta relação com a intenção de desenvolvimento; e, por fim, o último modelo, conhecido como Tríplice Hélice, enfatiza a união e interação das esferas e promove uma infraestrutura de conhecimento na sobreposição das instituições, onde cada instituição desempenha o papel da outra e, assim, emergem organizações híbridas. Neste aspecto, o objetivo é gerar desenvolvimento econômico para a sociedade e novas disciplinas a serem estudadas nas universidades, visando possíveis fontes de inovação.

No que tange às vantagens que a tríplice hélice pode oferecer às empresas, merecem destaque: legitimação da atividade institucional; otimização dos recursos; redução dos riscos; melhoria na qualidade das ações; possibilidade de intercâmbio de informações; melhor identificação de demandas dos clientes; maior interação entre técnicos; e, maior permeabilidade institucional (LIMA, REIS e CASTRO, 1998). Além destas, outra vantagem caracteriza-se pelo acesso a recursos humanos muito bem preparados, laboratórios e instalações (SANTORO, 2000).

Em relação ao papel da universidade, Etzkowitz e Leydesdorff (2000) falam que ela tem como principal papel o desenvolvimento econômico. Já, Clark (2003) fala sobre o desenvolvimento social, que a universidade deve buscar bases de financiamento, sempre com o apoio da alta direção da universidade para que os objetivos sejam alcançados, gerando um estímulo acadêmico e uma cultura integrada com a sociedade para que a mesma evolua com o apoio da universidade.

Clark (2003) relata que estão havendo mudanças na universidade, tais como: bolsas de estudos, escritórios de contratos, relações com organizações, relação com ex-alunos, transferência de tecnologia, educação continuada, eventos e conferências. Estas mudanças fazem com que a universidade se aproxime dos demais entes da sociedade, aliando-se aos pressupostos de Etzkowitz e Leydesdorff (2000).

Em relação às bases de financiamento, Clark (2003) comenta que há três grandes bases: o governo, as empresas e as universidades. Em relação ao governo, o autor cita as agências de fomento, programas governamentais, estes em todas as esferas. Referente às empresas, o autor cita as associações, as próprias empresas, as parcerias estratégicas entre as mesmas e a possibilidade de parceria com pequenas e médias. E, por fim, as universidades em relação às pesquisas, fundos de ex-alunos, royalties, aluguéis de espaços físicos, mensalidades, entre outros.

Para sustentar estas mudanças, Clark (2004) reforça a interação, a constante movimentação da universidade com o ambiente onde ela está inserida, as ambições do colegiado, as adaptações à sociedade, decorrentes das mudanças na sociedade e a proximidade com a mesma. Para isto, os autores falam que a universidade precisa focar-se na sua governança, no desenvolvimento de pessoal, na transferência de tecnologia, organização financeira e assessorias de especialistas. A universidade precisa ser empreendedora por departamentos (utilizando-os visando renda), potencializar a educação, encorajar alunos a empreender e seguir na educação, ser autossuficiente e saber administrar as influências entre universidade-governo-empresa (CLARK, 2004).

De acordo com Santos e Solleiro (2006), a inovação gera retorno para sociedade em pesquisa e desenvolvimento, e também gera maior relação entre universidades e empresas, reforçando o papel dos escritórios de transferência de tecnologia, que trabalha com a proteção intelectual, o comércio de tecnologias e os licenciamentos e que todos os entes da tríplice hélice precisam oferecer estímulos para a mesma acontecer. No Brasil, falta articulação para fomentar a inovação, apenas 0,55% do PIB é investido em P&D (PINTEC, 2011), assim, gerando poucas patentes, baixas interações entre universidades e empresas, existindo maior relação entre empresas, clientes e fornecedores, e falta ainda movimentos do governo para promover tal interação através de incentivos fiscais (SANTOS, SOLLEIRO, 2006).

4. Método de Pesquisa

Esta pesquisa é de natureza exploratória com uma abordagem qualitativa através da realização de um estudo de caso único. O desenho da pesquisa foi elaborado de forma a orientar o processo de trabalho dos pesquisadores, seguindo as etapas apresentadas na Figura 1.

Figura 1 – Desenho de Pesquisa
Fonte: Elaborado pelos autores

A primeira etapa do desenho caracterizou-se pela definição da questão de pesquisa, conforme detalhado anteriormente na introdução deste estudo. Em seguida, foi desenvolvido o referencial teórico, que serviu de base para os passos posteriores. A próxima etapa da pesquisa tratou da preparação da coleta de dados, mais especificamente referente à criação de três roteiros semiestruturados de entrevista, para que fosse possível entrevistar os representantes de cada um dos atores da tríplice hélice: universidade (TECNOPUC), empresa (Pandorga) e governo (Consulado britânico). Com relação à investigação referente à dimensão governo com a restrição da realização de entrevistas apenas com o Consulado Britânico, esta delimitação ocorreu em decorrência da dificuldade de acesso aos representantes das instituições governamentais brasileiras. Nesta etapa, visando apoiar a construção do instrumento de coleta de dados, optou-se por definir as dimensões e variáveis envolvidas neste estudo, definidas conforme segue:

a) Modelos e Processos: esta dimensão foi considerada em função do enfoque deste aspecto referente às variáveis: Tríplice Hélice, Internacionalização e Empreendedorismo; identificadas a partir do referencial teórico;

b) Papéis e Responsabilidades: considerou-se esta dimensão em função do enfoque deste quesito, observado no referencial teórico, em relação às variáveis Políticas Governamentais, Universidade e Parques Tecnológicos;

c) Investimento e Retorno: por fim, a partir do referencial teórico, percebeu-se a importância desta questão nas seguintes variáveis: Fatores Críticos para o sucesso do processo de internacionalização, Benefícios Esperados e Inovação Tecnológica.

Na Figura 2 são demonstradas as dimensões e variáveis identificadas, conforme explicitadas acima, bem como os códigos atribuídos para ambas (individualmente) e para suas combinações, além dos autores referenciados neste estudo que embasaram estas definições.

Convém ressaltar que o código da Figura 2 (terceira coluna) é proveniente da combinação do código da dimensão com o código da variável. A partir destas combinações e do referencial teórico, foram criados três roteiros semiestruturados de entrevista (para os três perfis da Tríplice Hélice), conforme demonstrado a seguir:

  1. Roteiro 1: Para ser aplicado aos dois sócios da Pandorga (Empresa);
  2. Roteiro 2: Para ser aplicado ao profissional do TECNOPUC (Universidade);
  3. Roteiro 3: Para ser aplicado ao representante do consulado britânico (Governo).

Figura 2 – Dimensões e variáveis da pesquisa
Fonte: Elaborado pelos autores

As questões de cada um dos roteiros foram criadas em função da pertinência a cada um dos três perfis, utilizando o código da Figura 2 (terceira coluna). Além disso, os roteiros foram elaborados seguindo as orientações sugeridas por Cooper e Schindler (2003), com a preocupação de que as respostas dos entrevistados permitissem alcançar o objetivo do estudo. Após a elaboração dos roteiros, os mesmos foram submetidos a um teste de avaliação por um especialista, momento em que pequenos ajustes foram realizados.

Seguindo o desenho de pesquisa, em seguida foi realizada a etapa da coleta de dados. O processo de solicitação de participação dos entrevistados se deu através de contato telefônico e/ou por e-mail, explicando o objetivo e o escopo da entrevista, conforme o tipo de profissional contatado. Os pesquisadores ofereceram-se para ir ao encontro dos profissionais, solicitando a disponibilidade de horário dos mesmos e informando que a entrevista levaria aproximadamente quarenta minutos. Os roteiros de entrevistas foram aplicados com quatro pessoas, com a premissa de que as mesmas representariam os principais envolvidos no processo de internacionalização da Pandorga, garantindo a participação de cada um dos agentes da tríplice hélice (Universidade, Empresa e Governo). A partir desta premissa, os perfis dos entrevistados são demonstrados na Figura 3.

Figura 3 – Perfil dos entrevistados
Fonte: Elaborado pelos autores

Para fins de nomenclatura utilizada na análise dos dados, cabe ressaltar que, com exceção dos dois sócios da empresa Pandorga, que são tratados como “Entrevistado 1” e “Entrevistado 2”, por ser necessária uma diferenciação entre os dois (com exceção dos momentos em que a opinião retratada diz respeito aos dois, quando são tratados como “empreendedores”, “empresários”, “empresa”, etc.), os demais serão tratados diretamente pela função que exercem ou em relação ao papel que exercem na tríplice hélice (universidade, governo britânico, etc.), até para fins de um melhor entendimento por parte do leitor.

No que se refere à análise dos dados, a técnica de análise de conteúdo utilizada nesta pesquisa foi a de avaliação, que, ao contrário da técnica mais utilizada, a análise de conteúdo temática, não se atém somente à presença ou ausência de determinados temas, permitindo uma carga de análise de significação dos mesmos (BARDIN, 1995).

5. Trajetória de Internacionalização da Empresa Pandorga

O caso em estudo escolhido foi a empresa Pandorga, pelo fato da mesma ter realizado um processo de internacionalização rápido e precoce, fato que chama a atenção e é tratado até mesmo como caso de sucesso no ambiente em que atua. A Pandorga, que iniciou suas atividades na Incubadora Raiar da PUCRS, está atualmente instalada em um centro de pesquisa e desenvolvimento com 15 pavimentos e 22,3 mil m² de área útil, que integra o TECNOPUC. Em termos de infraestrutura, dentre outras coisas, o TECNOPUC possibilidade tecnologia para teleconferências, auditório associado a um espaço para exposições e recepções, estruturas de suporte para sistemas redundantes de energia, comunicação e refrigeração, além de pavimentos adequados a projetos de laboratórios de alta tecnologia.

Em maio de 2011, a Pandorga inaugurou o seu escritório em Londres, no Centro de Negócios Devonshire Square, contando com o apoio do UK Trade & Investment (UKTI). Recentemente, tornou-se membro de uma organização conceituada da Inglaterra, a London Chamber of Commerce and Industry. É por este motivo que mostrou-se mais apropriado ao objetivo desta pesquisa o estudo de caso único, visto que, conforme Yin (2005), o caso em estudo representa uma situação rara e reveladora, na medida em que permitiu aos pesquisadores a observação direta de um fenômeno que não é facilmente acessível à ciência, dada a criticidade da natureza dos dados qualitativos coletados. Além disso, o estudo de caso poderia servir de caso-piloto e introdução para uma investigação posterior mais abrangente, utilizando casos múltiplos que tenham como base o desenvolvimento deste primeiro estudo, em função do contexto propício, conforme demonstrado.

6. Análise dos atores envolvidos no processo de internacionalização – Tríplice Hélice

De acordo com o Entrevistado 1, quem começou o processo foi a própria empresa e logo após a universidade começou a se movimentar. O mesmo entrevistado complementa que “a oportunidade surgiu pela visita do vice-cônsul inglês, sendo que o movimento saiu da Pandorga e quem chancelou o acordo foram a universidade e o governo”. Entretanto, conforme relato dos entrevistados da empresa e da universidade, todos os atores atuaram com ampla autonomia no processo. Neste sentido, o representante do Consulado Britânico comenta que “enquanto é natural que universidades e empresas queiram autonomia do governo, às vezes tem muito mais que pode ser feito quando existe cooperação entre os três atores”. O entrevistado complementa que empresas precisam de mão de obra especializada, especialmente para Pesquisa & Desenvolvimento, e nem sempre possuem recursos financeiros suficientes. Para as empresas, parcerias com universidades viabilizam projetos, especialmente se agências do governo entram com apoio financeiro. As universidades, por sua vez, embora gozem de autonomia para fazer pesquisas em diferentes áreas de conhecimento, pesquisas focadas em áreas de necessidade de empresas aumentam a empregabilidade dos seus estudantes e pode garantir acesso aos fundos do governo.

Os dois empreendedores entrevistados citaram que a empresa, desde o seu início, possuía uma visão de atuar globalmente. Para fins de alcançarem este objetivo, o Entrevistado 2 complementa que o processo de internacionalização da Pandorga segui algumas etapas. A saber: a) estudo do idioma; b) participação em feiras internacionais; c) conhecimento do mercado; d) contatos com empresas locais; d) estabelecimento de parceria com uma empresa local (projetos em conjunto); e, e) a efetiva entrada no mercado (primeiro cliente).

O Entrevistado 2 relata ainda que houve dificuldades relativas ao processo de exportação, adaptação à cultura, língua, contratos, além de acessibilidade a consultorias para atuar no mercado externo. O Entrevistado 1 ressalta que existe este tipo de consultoria no Brasil, porém para grandes empresas, se tornando pouco acessível para as pequenas. De acordo com o entrevistado da universidade, “a universidade não auxiliou diretamente neste processo, sendo de inteira responsabilidade da empresa”. Ele complementa que, através do exemplo da empresa (primeiro caso), eles pretendem estimular outras empresas do TECNOPUC a fazer o mesmo caminho.

Conforme o representante do Consulado Britânico, a Pandorga fez contato com o UKTI através do consulado em Porto Alegre e, em seguida, entrou em contato com a equipe de São Paulo. O governo forneceu informações básicas (sem custos) sobre o estabelecimento de uma empresa no Reino Unido e colocou a Pandorga em contato com a equipe de Londres e com a London&Partners, agência de desenvolvimento de Londres. Em Londres, o UKTI ajudou a Pandorga a visitar o Tech City (polo tecnológico situado em Londres) e o London&Partners providenciou um escritório perto do Tech City por um ano, sem custos. O Entrevistado 1 ressalta que “a internacionalização foi um fator positivo para o mercado nacional, mostrando que a empresa pode operar globalmente”.

Conforme os empreendedores, os diferenciais competitivos da empresa em relação aos seus concorrentes no Reino Unido são: a qualidade (igual ou superior), aliada a um custo menor, uma boa capacidade produtiva e a sua localização. O Entrevistado 2 ressalta que a presença da empresa naquele país é um diferencial dado que as relações “olho no olho” são valorizadas no ambiente de negócios. Uma ameaça para a Pandorga é ser comparada a empresas da China e da Índia, que possuem custos mais baixos, porém com menor qualidade.

O representante da universidade diz que o perfil dos empreendedores foi fundamental para que os mesmos obtivessem sucesso, afirmando que “é com ousadia e determinação que se conquistam boas oportunidades, onde a maioria não alcança tal estágio”. O representante do Consulado Britânico relatou que ajuda empresas de todos os tamanhos a estabelecer escritórios no Reino Unido, mas tem preferência para empresas com alto grau de ciência, tecnologia e inovação. Para ele, a Pandorga, como empresa de setor de TI, apresenta este perfil.

De acordo com o Entrevistado 1, enquanto a empresa estava na RAIAR (a incubadora do TECNOPUC) houveram incentivos para negócios, enfatizando a aproximação com o mercado nacional. O mesmo complementa que o fato da empresa estar em um parque tecnológico e ter sido incubada teve papel fundamental para o processo de internacionalização.

Os empreendedores relataram que o governo do estado do Rio Grande do Sul possibilitou a participação em feiras e rodadas de negócios, mas não teve relação direta com a instalação da empresa no exterior. O Entrevistado 2 complementa que o governo britânico ajudou em questões práticas, mostrando o que era preciso para começar o negócio e também com benefícios. Os empreendedores relatam que a partir do caso da Pandora houve aproximação entre o TECNOPUC e o governo britânico. O representante do TECNOPUC relatou que as políticas governamentais de incentivo aos parques tecnológicos e integração entre universidade-empresa-governo “ainda estão em um processo crescente de incentivo, mas ainda precisam avançar em diversos pontos”.

Conforme o Entrevistado 1, a universidade possui acesso aos recursos financeiros que o governo possui para fomento e transforma isto em atitudes mais concretas, transformando a concepção do governo em atitudes práticas. O representante da universidade complementa que a mesma disponibiliza “recursos humanos, conhecimentos e infraestrutura de laboratórios para o desenvolvimento dos projetos”.

O representante do Consulado Britânico relatou que o governo brasileiro, através de organizações como a APEX-Brasil, está incentivando empresas brasileiras a se internacionalizarem. E, quando estas empresas começam a procurar locais no exterior para estabelecer uma presença, o UKTI procura identificar se o Reino Unido tem uma oferta compatível com os objetivos comerciais da empresa. Em caso positivo, eles oferecem seus serviços sem custo para a empresa e trabalham para identificar o local do Reino Unido mais adequado, tanto em termos de cidade quanto de região.

Além disso, de acordo com o Entrevistado 2, estar dentro de um parque tecnológico dá respaldo e credibilidade, ampliando a visibilidade da empresa. O Entrevistado 1 relata que uma pequena empresa sozinha dificilmente iria se destacar se não houvesse o respaldo de uma instituição reconhecida.

Em termos de contrapartida para a inserção da empresa no parque, existe o fundo de pesquisa e aluguel do espaço físico. Os empreendedores comentaram que existia um benefício maior na época da incubadora, com um aluguel atrativo e consultorias prestadas pela universidade. A universidade relata que o parque ajuda a empresa a “estar associada a uma marca, aumentando sua credibilidade, sobretudo para empresas em fase inicial de consolidação”. Para empresas de pequeno porte e recém-graduadas, espera-se que elas possam estabelecer algumas interfaces de P&D, na evolução de seus serviços, produtos ou processos.

O representante do Consulado Britânico relata que a universidade deve promover o desenvolvimento de tecnologias e inovação com potencial mercadológico, além de incentivar o empreendedorismo para levar novas ideias para o mercado. Ele complementa que, como empresas de alta tecnologia são por natureza internacionais (especialmente empresas de serviços), a universidade deve incentivar a internacionalização como parte natural do processo de crescimento das mesmas.

Os empresários disseram também que pretendem abrir escritórios de desenvolvimento apenas dentro de parques tecnológicos vinculados a universidades. O Entrevistado 1 enfatiza a infraestrutura proporcionada pelos mesmos, o convívio em sociedade (condomínio), a segurança e um ambiente propício a negócios e inovações como fatores determinantes para este posicionamento. O mesmo ainda relata que as pesquisas na Universidade ainda são voltadas para empresas de grande porte, e quando as pequenas conseguem é através de alguma agência de fomento. Um ponto positivo reforçado é que o TECNOPUC facilita na contratação de mão de obra, pois traz atrativos para os futuros colaboradores.

Na visão do Entrevistado 1, a empresa tem o papel de gerar negócios, o governo de deixar as empresas competitivas e a universidade necessita inserir os alunos no mercado de trabalho, estudo e pesquisa. O Entrevistado 2 complementa que “o parque é uma extensão da universidade e visa propiciar experiência profissional para os alunos”.

De acordo com a universidade, os fatores críticos para o sucesso de um parque tecnológico são: “infraestrutura, segurança, integração com a comunidade de pesquisa e ecossistema para troca de informações entre os participantes e seus stakeholders”. E os fatores críticos para a integração da tríplice hélice são a transparência, a agilidade, a troca de informações e o alinhamento estratégico. O entrevistado complementa que “o financiamento é fundamental, mas deve ser precedido pelas questões anteriores, pois se corre o risco de desperdício, ou pouca efetividade dos esforços”.

Conforme o representante do Consulado Britânico, a Universidade, através do TECNOPUC, oferece uma incubadora para startups e spinouts que conta com um ambiente de apoio para se estabelecer e amadurecer. Um parque tecnológico tem a infraestrutura para apoiar as necessidades técnicas de uma nova empresa, incluindo acesso a equipamentos e mão de obra especializada (através da ligação entre parque tecnológico e universidade). Os parques tecnológicos também mantêm uma rede de contatos e parcerias internacionais, estimulando contato e projetos internacionais e possibilitando a internacionalização das empresas pertencentes ao mesmo. Desta forma, as empresas percebem a vantagem de se estabelecer dentro dos parques tecnológicos para acessarem este conhecimento e beneficiarem-se de novas ideias e inovações geradas.

Neste sentido, o Entrevistado 1 comentou que é importante o convívio em sociedade, o condomínio, a orientação recebida e o nome a zelar, existindo benefícios por estar dentro de um parque ao lado da universidade, tal como o rápido acesso à realidade pelo aluno. Conforme o entrevistado da universidade, a empresa possui acesso mais frequente e ágil à academia e pode participar da troca de informações com outros atores através da universidade.

Conforme o Entrevistado 1, o fato de estar dentro de uma universidade já gera um ambiente de inovação, pois as pessoas não estão acomodadas, mas sim fomentando a inovação. Ele ainda complementa que o governo tem papel fundamental na criação do parque, devendo atrair este tipo de modelo de negócio; a universidade deve trabalhar com pesquisa de ponta, então; e a empresa deve olhar isto como oportunidades de negócios. A universidade finaliza relatando que cada ator precisa expor suas demandas e competências para o desenvolvimento de projetos em conjunto.

De acordo com o representante do Consulado Britânico, o governo tem a obrigação de desenvolver as políticas necessárias para promover o crescimento de setores que vão fornecer crescimento econômico e criação de empregos. Já, as universidades têm a obrigação de formar mão de obra qualificada para os setores produtivos, enquanto as empresas precisam de tecnologia e mão de obra qualificada para produzir seus produtos e serviços com alta qualidade. O entrevistado complementa falando que os governos precisam consultar universidades e empresas para formular suas políticas, visto que estas precisam estimular os setores com maior impacto no desenvolvimento do país. As universidades, por sua vez, precisam de financiamento do governo para crescer, além de consultar empresas para saber onde concentrar seus recursos de ensino e de pesquisa. Complementando, as empresas precisam de apoio do governo e parcerias com universidades para fornecer mão de obra qualificada e acesso a investimento para linhas de pesquisa que não teriam condições de fomentar sozinhas.

Os empreendedores ainda relatam que os parques brasileiros ligados a universidades estão se destacando em relação aos demais. Segundo os mesmos, no Reino Unido, existem muitas incubadoras privadas sem fins lucrativos que mantém relação com universidades e com grupos de investidores interessados em fomentar novas ideias e realizar coaching para estas empresas startup.

A partir da análise das informações, é possível identificar que o processo de internacionalização da Pandorga ocorreu, ou no mínimo foi acelerado, pelas interações estabelecidas dentro do modelo de Tríplice Hélice. Da perspectiva da empresa, cabe destacar que, desconsiderando a qualidade de seus produtos/serviços, a atitude empreendedora global e a busca para o estabelecimento de uma rede de relacionamentos foram os pontos chaves no processo de internacionalização. A Universidade, através do seu Parque Tecnológico, oferece oportunidades através de sua rede de relacionamentos, credibilidade a empresas nascentes ou jovens e ainda o acesso a novos conhecimentos e profissionais qualificados. Foi esta rede de relacionamentos da Universidade que permitiu à empresa iniciar seu processo de internacionalização com a participação em feiras internacionais com o apoio do governo brasileiro, e a efetiva instalação de uma unidade no exterior com o apoio do governo do mercado alvo. Percebe-se que, se não houvesse ocorrido a interação entre os três atores o processo de internacionalização da empresa poderia não ter ocorrido de forma tão veloz e sustentada.

7. Considerações Finais

A principal contribuição desta pesquisa se deu pelo fato de buscar um entendimento de como aconteceu o processo de internacionalização de uma empresa de tecnologia a partir da análise do modelo da Tríplice Hélice. Constatou-se que foram as interações desenvolvidas por estes três atores que permitiram que a empresa desenvolvesse um processo de internacionalização com a segurança e a velocidade observada. A rede de relacionamentos da empresa, desde a sua criação, foi construída a partir das oportunidades que o ambiente de inovação da universidade. A universidade, além disto, ofertava, mesmo que de forma subliminar, uma acreditação para a empresa no mercado, ou seja, o fato de uma empresa jovem estar instalada dentro de um parque tecnológico fez com que ela tivesse seu potencial reconhecido mais rapidamente pelo mercado. Esta situação pode ter facilitado a interação da empresa com o governo britânico e o apoio para as ações de internacionalização. Ficou evidente que a empresa teve a oportunidade de ampliar a sua rede de relacionamentos a partir das relações promovidas pelo ambiente de inovação na qual está inserida. E foi a atitude empreendedora com visão global de seus gestores que permitiu que uma oportunidade se transformasse em realidade.

Percebeu-se que o processo de internacionalização pode partir de uma iniciativa da própria empresa, chamando atenção o fato da mesma caracterizar-se como micro empresa, o que demonstra o seu caráter empreendedor, sua ousadia e determinação pela busca de boas oportunidades, uma vez que a maioria das empresas não alcançam tal estágio. Neste sentido, este estudo de caso pode despertar o interesse não somente de outras empresas em igual ou semelhante situação, no sentido de estimulá-las a seguirem o mesmo processo, bem como pode servir de alerta a universidades e governos a respeito das grandes oportunidades que podem estar sendo desperdiçadas em função de uma ainda pouco efetiva interação entre universidade, empresa e governo.

Embora se tenha tomado os cuidados metodológicos necessários, foram identificados alguns fatores limitantes às conclusões aqui elencadas, tais como o fato de tratar-se de um estudo de caso único, que embora fosse o mais adequado ao objetivo desta pesquisa, acaba não permitindo nenhuma forma de generalização dos resultados obtidos, além da limitação do número de entrevistados, apesar do cuidado em se manter o máximo possível a paridade entre os profissionais, considerando-se também a relevância dos mesmos. Outro aspecto a ser ressaltado é uma possível subjetividade na análise, em função das percepções e experiências dos pesquisadores.

Como continuidade para esta pesquisa, sugere-se a utilização do modelo de análise do processo de internacionalização em outras empresas situadas em parques tecnológicos, podendo-se assim realizar comparações. Além disso, a presente pesquisa pode servir de caso-piloto e introdução para uma investigação posterior mais abrangente, utilizando casos múltiplos que tenham como base o desenvolvimento deste primeiro estudo, em função do contexto propício demonstrado e dos relevantes resultados possíveis deste processo, visando melhores retornos a todos os agentes da Tríplice Hélice: universidade, empresa e governo.

Referências

AGUIAR, W. P. et al. Los Parques Tecnologicos y la experiencia española: valoracion Del Parque Tecnologico de Tres Cantos. Madrid. Em:Seminario Internacional de Gestion Tecnologica, Havana, out. 1997. Anais... Havana: ALTEC, 1997. v. VIII, p. 2877-2888.

AMAL, M.; FREITAG FILHO, A.R.; MIRANDA, C.M.S. Algumas evidências sobre o papel das redes de relacionamento e empreendedorismo na internacionalização das pequenas e médias empresas. Em: Revista de Administração FACES Journal, jan-mar/2008, Vol 7, no. 1, p. 63-80.

AMATO NETO, J. Redes de cooperação produtiva e clusters regionais: oportunidades para as pequenas e médias empresas. São Paulo. Atlas, 2000.

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa. Edições 70, 1995.

ANDERSEN, O.; BUVIK, A. Firm’s internationalization and alternative approaches to the international customer/market selection. En: International Business Review, 2002, Vol 11, p. 347-63.

ANDERSSON, S. Internationalization of the firm in an entrepreneurial perspective. En: International Studies of Management and Organization, 2000, Vol 30, no. 1, p. 65-94.

ANDERSSON, U.; JOHANSON, J. International business enterprise. En: BJORKMAN; FORSGREN (Eds.). The Nature of the International Firm: Nordic contributions to international business research. Copenhagen: Copenhagen Business School Press, p. 33-49, 1997.

ANDERSSON, U; FORSGREN, M.; HOLM, U. The strategic impact of external networks: subsidiary performance and competence development in Multinational Corporation. En: Strategic Management Journal, 2002, Vol 23, p. 979-996.

BJÖRKMAN, I.; FORSGREN, M. Nordic international business research: a review of its development. En: International Studies of Management and Organization, 2000, Vol 30, no. 1, p. 6-25, 2000.

CARLSON, S. How Foreign Is Foreign Trade: a problem in international business research. Uppsala. Uppsala University Press, 1975.

CASTRO, A. E. M. P. et al. Explorando a internacionalização das empresas brasileiras e sua relação com a inovação tecnológica. En: Revista de Administração UFSM, 2008, p. 5-7.

CLARK, B. Delineating the character of the entrepreneurial university. En: Higher Education Policy, 2004, Vol 17.

CLARK, B. Sustaining Change in Universities: Continuities in Case Studies and Concepts. En: Tertiary Education and Management, 2003, Vol 9.

CLOSS, L.; FERREIRA, G.; SAMPAIO, C.; PERIN, M. Intervenientes na Transferência de Tecnologia Universidade-Empresa: o Caso PUCRS. En: Revista de Administração Contemporânea, 2012, Vol 16, no. 1, p. 59-78.

COOPER, D.; SCHINDLER, P. Método de Pesquisa em Administração. Sétima edição. Porto Alegre. Bookman, 2003.

COURSON, J. Espaço urbano e parques tecnológicos europeus. En: PALADINO, G. G.; MEDEIROS, L. A. Parques tecnológicos e meio urbano. Brasília. ANPROTEC, 1997.

ETZKOWITZ, H. Research groups as “quasi-firms”: the invention of the entrepreneurial university. En: Research Policy, 2003, Vol 32, p. 109-121.

ETZKOWITZ, H.; LEYDESDORFF, L. The dynamics of innovation: from National Systems to a Triple Helix of university-industry-government relations. En: Research Policy, 2000, Vol 29.

FREEMAN, Susan; EDWARDS, Ron; SCHRODER, Bill. How smaller born global firms use networks and alliances to overcome constraints to rapid internationalization. En: Journal of International Marketing, 2006, Vol 14, no 3, p. 33-63.

HAUSER, G.; ZEN, A. Parques tecnológicos: um debate em aberto. Porto Alegre. Nova Prova, 2004.

HILAL, A.; HEMAIS, C. A. O Processo de Internacionalização na Ótica da Escola Nórdica: Evidências Empíricas em Empresas Brasileiras. En: Revista de Administração Contemporânea, 2003, Vol 7, no. 1, p. 109-124.

JOHANSON, J.; SHARMA, D. Technical consultancy in internalization. En: International Marketing Review, 1987, Vol 4, p. 20-29.

JOHANSON, J.; VAHLNE, J-E. The internationalization process of the firm – A model of knowledge as increasing foreign market commitment. En: Journal of International Business Studies, 1977, Vol 8, no.1, p. 23-32.

JOHANSON, J.; VAHLNE, J-E. The Uppsala internationalization process model revisited: From liability of foreignness to liability of outsidership. En: Journal of International Business Studies, 2009, Vol 40, p. 1411-1431.

LALKAKA, R.; BISHOP JUNIOR, J. L. Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas: o potencial de sinergia. En: GUEDES, M.; FORMICA, P. A. Economia dos Parques Tecnológicos. Rio de Janeiro. ANPROTEC, 1997.

LIMA, S. M. V.; REIS, A. E. G.; CASTRO, A. M. G. Gestão estratégica de parcerias em instituições de P&D. En: XX Simpósio de Gestão da Inovação Tecnológica, Anais... São Paulo, Nov.1998.

LINDQVIST, M. Infant Multinationals: the internationalization of young, technology-based Swedish firms. Stockholm. Stockholm School of Economics Press, 1991.

McDOUGALL, P.P.; OVIATT, B.M. Some fundamental issues in international entrepreneurship. En: Entrepreneurship Theory & Practice, 2003.

MITRA, J. Relacionamento entre os investidores e parques tecnológicos: recuperação econômica de um ambiente inovativo. En: GUEDES M.; FORMICA, P. A economia dos Parques Tecnológicos. Rio de Janeiro. ANPROTEC, 1997.

NELSON, R. Why should managers be thinking about technology policy? En: Strategic Management Journal, 1995, Vol 16, no. 8.

NOCE, A. F. S. O processo de implementação e operacionalização de um Parque Tecnológico: um estudo de caso. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção), Departamento de Engenharia, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2002.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa de Inovação 2011. Rio de Janeiro: IBGE, 2013. Disponível em: <http://www.pintec.ibge.gov.br/downloads/pintec2011%20publicacao%20completa.pdf>. Acesso em: 10 out. 2015.

PEREIRA, A. J. P.; ARAÚJO, G. P.; GOMES, J. S. Um estudo exploratório sobre as características do sistema de controle gerencial em empresas brasileiras internacionalizadas – estudo de caso PETROFLEX. En: XXX ENCONTRO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO. Anais. Salvador: 2006.

RIBEIRO, F.F.; OLIVEIRA JR, M.M.; BORINI, F.M. Internacionalização acelerada de empresas de base tecnológica: o caso das Born Globals Brasileiras. En: Revista de Administração Contemporânea, 2012, Vol 16, no. 6, p. 866-888.

SANTORO, M. D. Success breeds success: the linkage between relationship intensity and tangible outcomes in industry-university collaborative ventures. En: The Journal of High Technology Management Research, 2000, Vol 11, no. 2, p. 255-273.

SANTOS, M.; SOLLEIRO, J. Relações Universidade-Empresa no Brasil: diagnóstico e perspectivas. En: Inovação e Empreendedorismo na Universidade. Porto Alegre. EDIPUCRS, 2006.

SCHWEIZER, R.; JOHANSON, J.; VAHLNE, J-E. Internationalization as an entrepreneurship process. En: Journal of International Entrepreneurship, 2010, Vol 8, p. 343-370.

SILVA, R.C.M.; CHAUVEL, M.A.; BERTRAND, H. Internacionalização de pequenas empresas: um estudo de caso com uma empresa brasileira de tecnologia. En: Gestão & Regionalidade, jan-abr/2010, Vol 26, no. 76.

SOLLEIRO, J. L. Gestión de la vinculacion universidad-sector productivo. 1993. En: MARTÍNEZ, E., Estrategias, planificación y gestión de ciencia y tecnología. Caracas, CEPAL - ILPES/UNESCO/UNU/CYTED-D. Editorial Nueva Sociedad, p. 403-429.

SPOLIDORO, R.; AUDY, J. Parque Científico e Tecnológico da PUCRS. Porto Alegre. Edipucrs, 2008.

VEDOVELLO, C.; JUDICE, V.; MACULAN, A. Revisão crítica às abordagens de parques tecnológicos: alternativas interpretativas às experiências brasileiras recentes. En: Revista de Administração e Inovação, 2006, Vol 3, no. 2, p. 103-118.

YIN, R.K. Estudo de caso – planejamento e métodos. Porto Alegre. Bookmann, 3. ed., 2005.

ZAHRA, S.; GARVIS, D. International Corporate Entrepreneurship and Company Performance: The Moderating Effect of International Environmental Hostility. En: Journal of Business Venturing, 2000, Vol 15, p. 469-492.


1. Doutor em Administração. Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – IFRS. sady.junior@restinga.ifrs.edu.br
2. Mestre em Administração. Professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS. lucas.roldan@pucrs.br
3. Doutora em Administração. Professora da Universidade Feevale. moemanunes@hotmail.com


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 36) Año 2016

[Índice]
[En caso de encontrar algún error en este website favor enviar email a webmaster]