Espacios. Vol. 37 (Nº 36) Año 2016. Pág. 13

Relação entre riscos ambientais e qualidade de vida no trabalho: Um estudo de caso em uma ervateira de Irati-PR

Relationship between environmental risks and quality of life at work: A case study in a yerba mate processing company of Irati

Jorge William Pedroso SILVEIRA 1; Erivelton Fontana de LAAT 2; Edevane Mance de SOUSA 3; Arnoldo Skubisz NETO 4

Recibido: 01/07/16 • Aprobado: 30/07/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Metodologia

3. Resultados e discussão

4. Conclusão

Referências


RESUMO:

O objetivo norteador do presente estudo foi descrever a relação existente entre a qualidade de vida no trabalho no setor de secagem de uma empresa de beneficiamento de erva-mate e a exposição dos funcionários a riscos ambientais. Foram analisados o mapa de risco baseado na NR9 e a QVT pelo questionário de Werther e Davis (1983) baseado nas sugestões de Pilatti e Pedroso (2012). Após analisar os dados e confrontar com a literatura, pode-se afirmar que as possíveis adversidades do ambiente físico do trabalho podem ser superadas pela satisfação gerada nos elementos organizacionais e comportamentais da empresa.
Palavras-Chave: Riscos ambientais; Qualidade de vida no trabalho; Cultura organizacional; Plano de carreira.

ABSTRACT:

The guiding purpose of this study was to describe the relationship between the quality of working life in the drying section of a yerba mate processing company and employee exposure to environmental risks. The risk map were analyzed based on NR9 and QLW by questionnaire of Werther and Davis (1983) based on Pilatti e Pedroso (2012) suggestions. After analyzing the data and compare to the literature, it can be said that the potential hardships of the physical work environment can be overcome by the satisfaction generated in organizational and behavioral elements of the company.
Keywords: Environmental risk; Quality of work life; Organizational culture; Career plan.

1. Introdução

A evolução da indústria inclusive de produtos naturais como é o caso da erva-mate tem aumentado os níveis de produção; isso aliado ao déficit de demanda de mão de obra em trabalhos prioritariamente manuais tem tornado de suma importância o investimento em tecnologias e na valorização desta mão de obra. Para tanto, as empresas tem se interessado cada vez mais na discussão a respeito da qualidade de vida do trabalhador, visto que este está em falta no mercado.

Ao contrário de tempos anteriores, hoje o empregador vê benefícios tangíveis em investimentos no bem-estar de seus colaboradores, entendendo que um trabalhador motivado produz mais e com isso gera lucro; além da diminuição no absenteísmo e afastamento derivado de doenças em decorrência da prática laboral o que gera despesas extras para a empresa que ao mesmo tempo em que remunera um trabalhador afastado, vê a necessidade da contratação temporária de outro para suprir o plantel e executar as tarefas.

De acordo com Werther e Davis (1983), muitos fatores afetam a qualidade de vida no trabalho, como a supervisão, condições de trabalho, pagamento, benefícios e o projeto do cargo. No entanto, o trabalho propriamente dito é o que “envolve mais intimamente o trabalhador”. Por mais que os colaboradores possuam um bom salário, boas condições de trabalho e uma boa supervisão, as atividades que estes desenvolvem podem, sob a ótica dos mesmos, ser tediosas.

A erva-mate é de ocorrência natural nos estados do sul do Brasil (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) e também, em menor quantidade, no Mato Grosso do Sul. No estado do Paraná particularmente, ela aparece significativamente na produção agrícola do estado (PASINATO, 2003). Segundo Furtado (1971) a expansão econômica da cultura do mate trouxe benefícios à economia de subsistência constituída de populações transplantadas da Europa. Sendo assim, os colonos do interior puderam dividir seu tempo entre agricultura de subsistência e a extração das folhas da erva-mate, aumentando substancialmente sua renda.

A partir daí, a atividade agrícola da erva-mate tem sido de grande importância econômica, sociocultural e ambiental, sendo, a principal atividade econômica de muitos municípios gerando cerca de 700 mil empregos diretos e indiretos e movimentando cerca de 180 milhões de recursos por ano. A atividade ervateira está presente, em cerca de 180 mil propriedades rurais, sendo na maior parte pequenas e médias empregando a mão de obra familiar no campo (ANUÁRIO, 1999; ANDRADE; LINO; SOMÕES, 1999).

Mesmo passando por várias crises de mercado, a economia ervateira representou o ciclo mais autônomo, prolongado e estável da história do Paraná. A indústria do mate, de 1873 a 1890, absorveu todas as atividades paranaenses, monopolizando capital e trabalho, tornando o mate o principal produto de exportação da província do estado (COSTA, 1995; ANDRADE; LINO; SOMÕES, 1999). A região sul do Brasil responde por cerca de 97% da produção nacional, ficando o restante para o Mato Grosso do Sul. No sul, a maior parte da matéria-prima provém de ervais nativos, em especial do Paraná onde há maior concentração. O mercado para comercialização da erva-mate deve-se a cultura da região sendo em grande maioria consumida como chimarrão, originário do Uruguai, que passou a ser o principal comprador do produto brasileiro. Contudo Andrade, Lino e Somões (1999) apontam que países como Síria, Alemanha, Japão e Estados Unidos além da cultura de imigrantes brasileiros, têm como justificativa a importação do produto devido as propriedades medicinais da planta.

O ambiente profissional pode fornecer riscos para a vida do trabalhador, em vários níveis. Existe desde a possibilidade de violência física até os transtornos psicológicos que podem ser derivados da atividade exercida. Para tentar minimizar esses riscos e promover uma maior qualidade de vida, existe a segurança do trabalho.

Com o passar do tempo se tornou cada vez mais notório que a saúde, a higiene e a segurança no trabalho são indispensáveis para uma boa qualidade de vida no trabalho e que conforme Tachizawa, Ferreira e Fortuna (2001), também é um importante fator para que o empregado e o empregador tenham uma boa relação. Higiene e segurança, conforme mencionado pelos autores, são relevantes para garantir condições adequadas à saúde e bem-estar de todos os trabalhadores, onde se procura protegê-los de doenças ocupacionais, protegendo assim sua integridade física e mental.

Nesse sentido Silva e Marchi (1997) enfatizam que ter saúde, não quer dizer apenas não estar doente. Para eles, ter saúde significa bem-estar, tanto no bom funcionamento do corpo, quanto espiritualmente, o que significa ter um bom relacionamento com os outros e com o meio ambiente.

Outro aspecto que também influencia de forma considerável na Qualidade de Vida no Trabalho das pessoas é a condição ambiental em que estão inseridas. As pessoas cada vez mais se vêem diante de inúmeras situações às quais necessitam adaptar-se. Limongi-França e Arellano (2002, p. 301), dizem que “o estresse é vivido pela capacidade de adaptação, na qual sempre está envolvido o equilíbrio obtido entre exigência e a capacidade”, onde a vulnerabilidade individual e a capacidade de adaptação são muito importantes na ocorrência e na gravidade das reações ao processo de stress.

Este aspecto também é comentado por Limongi-França e Rodrigues (1997, p. 24) que dizem que o stress relacionado ao trabalho define-se como aquelas situações em que a pessoa percebe seu ambiente de trabalho como ameaçador, suas necessidades de realização pessoal e profissional e/ou sua saúde física ou mental, prejudicando a interação desta com o trabalho e com o ambiente de trabalho na medida em que este ambiente contém demandas excessivas a ela, ou que ela não contém recursos adequados para enfrentar tais situações.

Segundo Fernandes e Machado (2007) o ambiente no qual as pessoas estão inseridas, o ambiente de trabalho principalmente, tem de estar de acordo com as necessidades físicas e psicológicas para que possa ter uma qualidade de vida considerável, pois, o trabalho é o local onde se passa a maior parte do tempo.

Segundo Werther e Davis (1983), os desafios ambientais, organizacionais e comportamentais influenciam diretamente na qualidade de vida no trabalho. Mudanças nesses fatores devem ser previstas com antecipação, ao passo que estas podem desestruturar a qualidade de vida no trabalho dos colaboradores de uma organização. Os fatores ambientais, organizacionais e comportamentais são:

Ambientais: Sociais; culturais; históricos; abordagem mecanística; práticas e fluxo de trabalho.

Organizacionais: Habilidade e disponibilidade de empregados; expectativas sociais.

Comportamentais: Autonomia, variedade, identidade da tarefa e feedback.

Em suma, a Qualidade de Vida no Trabalho é indispensável hoje para o desenvolvimento das empresas, e este termo não se delimita apenas a ausência de lesões e doenças provenientes da prática laboral, mas de fatores biopsicosociais que vão da consciência psicológica à ascensão no ambiente laboral ao qual o indivíduo está inserido. Envolvem as pessoas, o trabalho e as organizações num todo, de modo que consigam competir e alcançar resultados satisfatórios com relação ao crescimento e melhoramento das empresas e do nível de vida de cada um (FERNANDES; MACHADO, 2007). Isso justifica a busca por conceitos e considerações que ajudem a desenvolver a empresa na qual os funcionários sentem-se a vontade para desempenhar suas funções.

A industrialização gerou evolução nos processos e produções de produtos e serviços. Isso traz consigo uma série de novas opções, contudo, há práticas predominantemente manuais que já existiam e tiveram que se adaptar, alterando suas práticas e consequentemente o ambiente de trabalho o que pode ter alterado a subjetiva concepção de qualidade de vida no trabalho por funcionários habituados à práticas anteriores a essa realidade. Com isso surge a questão: Qual e relação existente entre o ambiente de trabalho e qualidade de vida no trabalho em funcionários de uma empresa de beneficiamento da erva-mate?

Para tal o objetivo norteador do presente estudo é descrever a relação existente entre a qualidade de vida no trabalho no setor de secagem de uma empresa de beneficiamento de erva-mate e a exposição dos funcionários a riscos ambientais.

2. Metodologia

A presente pesquisa trata-se de uma análise quantitativo de corte transversal e de cunho descritivo. De forma análoga, Andrade (2002b) destaca que a pesquisa descritiva preocupa-se em observar os fatos registrá-los, analisá-los, classificá-los e interpretá-los, e o pesquisador não interfere neles. Assim, os fenômenos do mundo físico e humano são estudados, mas não são manipulados pelo pesquisados.

A coleta dos dados foi realizada em uma empresa voltada para a fabricação de produtos para infusão chã ou erva-mate. Localizada no município de Irati - PR, que recebe matéria-prima de toda a região dos Campos Gerais, onde esta após ser beneficiada é comercializada para os estados do Mato Grosso, Santa Catarina; e parte fica no Paraná. Sua produção gira em torno de 4000 toneladas por mês. A empresa existe desde 1976, e atualmente emprega 14 funcionários, sendo uma instituição unitária, sem filiais ou vínculo com outras empresas.

A amostra foi constituída de 14 colaboradores da empresa supracitada, todos do sexo masculino, com idade de 27±5 anos e tempo de serviço em média de 9±6 meses. Sendo 10 registrados pela CLT e 04 diaristas, que exercem a função no mesmo local, portanto sofrem as mesmas variações de fatores ambientais. Porém, 08 destes trabalham em período diurno e 06 em período noturno.

Após um primeiro contato com o responsável pela empresa, e tomadas as providências de autorização necessárias para a pesquisa, foram mensurados os fatores de risco ambientais da empresa (ruído, temperatura e poeira).

Para aferir a intensidade de ruído utilizou-se um medidor de nível de pressão sonora marca ICEL 4100 (Apêndice A) utilizando a NR9 como referência para discussão; enquanto para mensurar a temperatura ambiente foi necessário um termômetro da marca Termômetro de Globo Digital (Apêndice B), marca Instrutherm, dotado de três sensores térmicos; com precisão de 0,1º C. Todos os equipamentos devidamente calibrados e aptos para a utilização no ambiente em questão.

Feito isso, foram coletadas as opiniões dos funcionários isoladamente, tornando suas opiniões mais fidedignas possíveis; utilizando para tal o Questionário de avaliação da Qualidade de Vida no Trabalho de Werther e Davis (1983). Em seguida, tabularam-se os resultados no programa Microsoft Excel que posteriormente foram analisados, dividindo as questões em Elementos Organizacionais, Elementos Ambientais, Elementos Comportamentais e Aspectos Gerais da QVT, conforme descritos no livro de Pedroso e Pilatti (2012). Baseando-se principalmente em medidas de tendência central (média, mediana e desvio padrão) para as considerações de análise. E as coletas foram realizadas no mês de novembro de 2013.

O escore dos indicadores oriundos das ramificações dos elementos do projeto de cargo é calculado a partir da média aritmética simples entre as questões pertencentes a cada indicador. Os escores dos elementos do projeto de cargo são calculados a partir da média aritmética simples dos escores dos indicadores que compõem cada elemento.

Todos os entrevistados assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) autorizando a utilização de seus dados e imagens, contudo elucidando a sapiência de que seus dados pessoais seriam mantidos em sigilo e de que eles poderiam retirar-se da pesquisa sem qualquer tipo de ônus tanto financeiro quanto profissional. O responsável pela empresa assinou o mesmo termo, autorizando a veiculação de imagens e dados da empresa apenas em âmbito acadêmico, sem que o nome ou razão social da mesma pudesse ser divulgado.

3. Resultados e discussão

Para poder determinar a qualidade de vida no trabalho, previamente necessita-se descrever e analisar como se caracteriza o ambiente em que se desenvolve a prática laboral, entendendo que este é que determina os riscos à saúde do trabalhador. O ambiente de trabalho é um conjunto de fatores interdependentes, materiais ou abstratos, que atua direta e indiretamente na qualidade de vida das pessoas e nos resultados dos seus trabalhos (WADA, 1990).

Um local de trabalho; seja um escritório, uma fábrica, um banco, deve ser sadio e agradável. O homem precisa encontrar aí condições capazes de lhe proporcionar o máximo de proteção e, ao mesmo tempo, satisfação no trabalho. Neste sentido, o ambiente de trabalho é composto de um conjunto de fatores, que podem ser agrupados em dois blocos, quais sejam fatores físicos e fatores organizacionais do ambiente de trabalho. É importante salientar que, não há uma hierarquização de importância, pois um ambiente de trabalho é, na verdade, produto da contribuição desses diversos fatores.

Sendo assim se têm em destaque os fatores ambientais relacionando os fatores físicos e organizacionais a partir do Mapa de Risco (Figura 1) que é parte importante do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA. O PPRA é um instrumento de trabalho mais amplo, constituindo-se em um Programa de Prevenção de Riscos Ambientais contendo informações técnicas com os agentes declinados, as respectivas medições efetuadas e seus resultados.

Qualidade do ar aceitável é definida como o ar sem concentrações de contaminantes prejudiciais à saúde e com o qual uma parcela significativa de pessoas expostas se sinta satisfeita (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 1997).

Os diversos agentes químicos que entram em contato com o organismo dos trabalhadores, podem apresentar uma ação localizada ou generalizada (diversos órgãos). As principais vias de penetração destas substâncias no organismo são:

  1. Respiratória (inalação) - ar inalado durante a jornada de trabalho;
  2. Digestiva - através da higienização dos locais de refeitórios e individual;
  3. Cutânea - limitada a certas substâncias como: nitrobenzeno, nitroglicerina, fenol;
  4. Ocular - a visão é facilmente atingida durante a manipulação de agentes químicos.

 

Figura 1 - Mapa de risco da empresa

A partir de Macedo e Lima (2005) pode-se apontar que em virtude do desenvolvimento industrial e o consequente aumento no uso dos produtos químicos, nenhum tipo de ocupação está inteiramente livre da exposição de substâncias capazes de produzir efeitos nocivos aos organismos biológicos. O National Institute of Ocupacional Safety and Health (NIOSCH) nos Estados Unidos relacionou em 1974, cerca de 42.000 substâncias tóxicas. Hoje calcula-se em aproximadamente 600.000 compostos químicos. Por isto, a importância de estudos que possibilitem a obtenção de informações a respeito da toxicidade dessas substâncias empregadas em processos industriais (toxicologia ocupacional). Nesse sentido, a análise de poeira não apresentou índices de perigos biológicos ou químicos devido ao fato de que a poeira é decorrente de produto orgânico e natural (erva-mate) sendo considerado apenas um pequeno risco de desenvolvimento de alergias e problemas respiratórios, por isso sugere-se a utilização de máscaras de proteção individual.

Segundo Verdussen (1978), a temperatura é um ponto que deve merecer o maior cuidado, quando se busca criar adequadas condições ambientais de trabalho. Há temperaturas que nos dão uma sensação de conforto, enquanto outras se tornam desagradáveis e até prejudiciais à saúde. A análise de temperatura e pressão atmosférica apresentou índices que variaram entre 24,0 e 26,0º C sendo considerados dentro da normalidade.

Para Laville (1977), durante o trabalho físico no calor, constata-se que a capacidade muscular se reduz, o rendimento decai e a atividade mental se altera, apresentando perturbação da coordenação sensório-motora. A frequência de erros e acidentes tende a aumentar, pois o nível de vigilância diminui, principalmente a partir de 30° C. Abaixo se relacionam outros problemas ligados à saúde, quando o indivíduo está trabalhando em locais com temperaturas elevadas: Internação ou insolação; Prostração térmica; Cãibras; Catarata e conjuntivites; Dermatites.

Enquanto isso, os índices de ruído produzido permaneceram entre 86 dB(A) e 90 dB(A) classificando um risco médio, onde recomenda-se o uso de protetor auricular, uma vez que a dose média foi ultrapassada, conforme subitem 9.3.6.1 da NR-9 da Portaria 3.214/78.

A portaria Brasileira do Ministério do Trabalho n. 3.214/78 (BRASIL, 1978) fixa o NPS máximo permitido de 85 dB (A) para 8 horas de jornada de trabalho. Esta portaria só é válida para ambientes industriais onde existe ruído de máquinas e processos ruidosos. No caso dos hospitais, igrejas, bibliotecas, salas de aula, laboratórios, hotéis, etc., o nível de pressão sonora deve ser muito menor que 85dB(A) (tabela 1). A tabela a seguir mostra os níveis máximos de pressão sonoros permitidos (NPS) pela Portaria Brasileira 3.214 e a duração de tempo para cada nível.

NPS dB(A)

Máxima exposição diária permissível

85

86

87

88

89

90

91

92

93

94

95

96

98

100

102

104

105

106

108

110

112

114

115

08 horas

07 horas

06 horas

05 horas

04 horas e 30 minutos

04 horas

03 horas e 30 minutos

03 horas

02 horas e 30 minutos

02 horas e 15 minutos

02 horas

1 horas e 45 minutos

1 horas e 15 minutos

01 horas

45 minutos

35 minutos

30 minutos

25 minutos

20 minutos

15 minutos

10 minutos

08 minutos

07 minutos

Tabela 1 - Limites de NPS - Portaria 3214/1978

Através da tabela acima, pode-se dizer que os funcionários da ervateira estariam sendo submetido à emissões excessivas de ruído. Contudo, a portaria sugere o uso de equipamentos de proteção individual - EPI para proteção auricular, fato já decorrente na empresa. Outro cuida relativo a esta exposição está na realização de intervalos programados a cada 3 horas de jornada de trabalho. A consequência mais evidente do ruído, segundo Almeida, Ilgner e Russo (2001), é a surdez. A surdez pode ter naturezas diferentes:

  1. surdez de condução: causada por infecção, perfuração do tímpano, acúmulo de cera;
  2. surdez nervosa: redução da sensibilidade das células nervosas. Essa insensibilidade pode ocorrer, principalmente, nas faixas de maior frequência, acima de 1000 Hertz e em função da idade, sobretudo após os 40 anos. Os homens apresentam uma perda auditiva mais rápida do que as mulheres, principalmente na faixa de 2000 a 4000 Hz;
  3. surdez temporária ou permanente: a exposição diária a um certo NPS elevado, durante a jornada de trabalho, sempre provoca algum tipo de surdez temporária, que tende a desaparecer com o descanso diário (desaparece num intervalo de 24 a 48 horas).

Fatores diversos como frequência, intensidade e tempo da duração da exposição podem influir de modo a não haver mais a recuperação, tendendo a um efeito cumulativo, nestes casos a surdez temporária passa a ser permanente e irreversível. De acordo com Werther e Davis (1983), muitos fatores afetam a qualidade de vida no trabalho, como a supervisão, condições de trabalho, pagamento, benefícios e o projeto do cargo. No entanto, o trabalho propriamente dito é o que “envolve mais intimamente o trabalhador”. Por mais que os colaboradores possuam um bom salário, boas condições de trabalho e uma boa supervisão, as atividades que estes desenvolvem podem, sob a ótica dos mesmos, ser tediosas.

Segundo Pedroso e Pilatti (2012) os elementos organizacionais dizem respeito à eficiência com a qual os cargos são projetados. Parte-se do preceito que um colaborador altamente motivado apresente o máximo de rendimento. Estudos acerca dos elementos organizacionais indicam que a especialização é um elemento-chave no projeto de cargos. Os colaboradores que se especializam em poucas tarefas repetitivas, de modo geral, apresentam maior desempenho.

Eles se dividem em Abordagem Mecanística: que identifica todas as tarefas de um cargo, para que estas sejam dispostas de forma a minimizar o tempo de execução e o esforço dos colaboradores; Fluxo de Trabalho: é preciso existir uma sequência e um equilíbrio entre os cargos inter-relacionados. Práticas de trabalho: é a maneira com a qual o trabalho será realizado. Neste âmbito os funcionários demonstraram-se em grande maioria satisfeitos (Gráfico 1) com a instituição em que trabalham.

Gráfico 1 - Elementos organizacionais

Os elementos organizacionais dizem respeito à eficiência com a qual os cargos são projetados. Parte-se do preceito que um colaborador altamente motivado apresente o máximo de rendimento (PEDROSO; PILATTI, 2012). Estudos acerca dos elementos organizacionais indicam que a especialização é um elemento-chave no projeto de cargos. Os colaboradores que se especializam em poucas tarefas repetitivas, de modo geral, apresentam maior desempenho.

Para Fernandes (1996, p. 37) “[...] somente atendendo às necessidades das pessoas e as desenvolvendo, maximizando as suas potencialidades, é que a empresa também se desenvolverá atingindo suas metas”. Neste contexto, surge importante tecnologia voltada à satisfação das necessidades das pessoas, trata-se da qualidade de vida no trabalho. Segundo Rodrigues (1994) a Qualidade de Vida do Trabalho tem diferentes conotações, sendo a mais objetiva e clara, facilitar e satisfazer as necessidades dos trabalhadores no desenvolver de suas atividades. A expressão qualidade de vida no trabalho relaciona-se ao alcance dos objetivos individuais, participação, oportunidades educacionais, oportunidades econômicas, oportunidades sociais, boas condições físicas e de instalações, redução da jornada de trabalho e etc.

Conforme Rodrigues (1994) não se pode separar o trabalho da vida do homem. A organização do trabalho vem sendo alterada constantemente, sempre objetivando a melhora das condições de vida e prover o bem-estar ao homem. Entretanto, o trabalho pode trazer prazer, desconforto e até sofrimento ao homem.

No que diz respeito à interação entre empresa e funcionários, em todos os casos foi apontado que estavam muito satisfeitos com os incentivos de aprendizagem e crescimento organizacional na empresa, o que sugere motivação no desempenho de suas funções diárias visando ascender na profissão.

Esses dados corroboram com Amadei, Dias e Chamon (2012) de que o bem estar psicológico leva o sujeito a sentir-se internamente motivado com seu trabalho, beneficiando assim a empresa onde trabalha, pois gera qualidade na execução de suas tarefas, maior assiduidade e diminuindo a rotatividade. Esta motivação emana do trabalho em si, pois ele se sente motivado quando percebe a significância do trabalho que está executando, sabe da responsabilidade pelo trabalho e sabe que realizou bem seu trabalho (LEITE JÚNIOR; FERREIRA; MENDES, 2009,  p. 162).

A influência do ambiente externo não pode ser ignorada pelos projetistas de cargo. A tarefa de projetar cargos exige que os responsáveis pelo departamento de pessoal e os gerentes levem em consideração a habilidade e a disponibilidade dos colaboradores que ocuparão o cargo, e, também as expectativas sociais (PEDROSO; PILATTI, 2012). Esse aspecto foi o que apresentou maior divisão nas opiniões, isso pode ser derivado dos fatores supracitados, onde aproximadamente 30% das respostas foram negativas corroborando com o fato de que o ambiente interfere diretamente na sensação subjetiva de qualidade de vida no trabalho.

Gráfico 2 - Elementos ambientais

Segundo Pedroso e Pilatti (2012) para que um projeto de cargo possua êxito, é preciso se atentar aos elementos comportamentais que proporcionem maior qualidade de vida no trabalho aos colaboradores. O projeto de um cargo deve considerar as necessidades humanas dos colaboradores que irão desempenhar as tarefas de determinado cargo, não considerando somente os elementos que favorecem a eficiência.

Gráfico 3 - Elementos comportamentais

Nessa perspectiva, deve ser proporcionado ao colaborador um ambiente que lhe permita satisfazer as suas necessidades individuais. Nesse aspecto, os funcionários da ervateira em questão apresentaram em sua maioria satisfação com destaque para os fatores autonomia e retroinformação que obtiveram 100% de respostas no patamar “muito satisfeito”, o destaque negativo neste âmbito fica com a monotonia derivada da execução repetitiva, onde não há necessidade de habilidades variadas para sua execução.

Porém todos os elementos que envolvem a qualidade de vida do trabalho estão sujeitos a contradições, onde o exercício facilitado gera ao mesmo tempo conforto e monotonia, a necessidade de ascensão na organização envolve qualificação, contudo esta gera decréscimo na qualidade de vida em decorrência da complexidade da ação. Por fim, avaliar o panorama geral da qualidade de vida no trabalho gerou um quadro (Gráfico 4) onde os funcionários apresentarem satisfação com as atividades que desenvolvem, sendo 100% entre satisfeitos e muito satisfeitos, entendendo que o cargo deles se encaixa com a sua formação e sua atividade é reconhecida.

Gráfico 4 - Aspectos gerais da QVT

Como consequência da insatisfação dos profissionais, há um aumento do absenteísmo, o turnover se eleva (gerando o efeito burnout) de estresse excessivo, ocorre diminuição do rendimento, reclamações e greves que produzem efeitos na saúde física e mental dos profissionais e, em decorrência, na qualidade e rentabilidade empresarial. Conforme Limongi-França (2004) a qualidade de vida no trabalho traduz atividades e atitudes que levam à percepção de bem-estar por meio de recursos disponíveis para satisfação das necessidades pessoais e de grupos.

4. Conclusão

Após apontar e discutir os fatores de risco no ambiente de trabalho após a industrialização no beneficiamento da erva-mate pode notar que apesar de os funcionários estarem expostos à riscos físicos de nível médio controlando o tempo de exposição à carga excessiva de ruído, de modo geral as opiniões geraram um panorama positivo com satisfação elevada no que diz respeito à qualidade de vida no trabalho.

Entre os elementos do ambiente de trabalho, notaram-se afirmações de satisfação em todos os âmbitos com ênfase positiva para os elementos organizacionais, sugerindo que há preocupação e incentivo da empresa aos anseios de crescimento do funcionário. Em contra partida, os fatores ambientais foram os que menos apontaram opiniões positivas, induzindo a relação com o PPRA apresentado, incitando a necessidade da aplicação de programas de prevenção à saúde e segurança do trabalhador.

Em suma, pode apontar que mesmo estando em condições ambientais pouco confortáveis, os sujeitos entrevistados evidenciaram satisfação com o desempenho de suas funções e com o plano de cargo que o próprio trabalhador estipula para si mesmo. Conclui-se, portanto, que a qualidade de vida no trabalho transcende ao bem estar no ambiente físico, mas levando em consideração o corporativismo e competência organizacional da instituição.

Para estudos posteriores ficam as sugestões de se trabalhar as diferenças entre o turno diurno e o turno noturno, levando em consideração o aspecto sono; e também analisar a relação entre os planos de cargos e a qualidade de vida geral autoaferida visando analisar as contradições entre complexidade com dedicação e ascensão na organização. Outra sugestão está em estudar os fornecedores da matéria-prima e a gestão organizacional da empresa, visando estabelecer um programa de qualidade total que aperfeiçoe a produção e atenda aos anseios dos funcionários concomitantemente.

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1. Mestrando em Desenvolvimento Comunitário pela Universidade Estadual do Centro Oeste do Paraná (UNICENTRO). email: jorge_basquete@hotmail.com
2. Doutor em Engenharia da Produção, Professor do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual do Centro Oeste do Paraná (UNICENTRO)
3. Acadêmica do curso de Engenharia Ambiental pela Universidade Estadual do Centro Oeste do Paraná (UNICENTRO)

4. Graduado em Educação Física pela Universidade Estadual do Centro Oeste do Paraná (UNICENTRO)


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 36) Año 2016

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