Espacios. Vol. 37 (Nº 36) Año 2016. Pág. 12

Avaliação de gestão de resíduos sólidos dos serviços de saúde dos hospitais públicos de uma grande cidade no nordeste do Brasil

Assessment management of solid waste of health services of public hospitals of a large city in northeastern Brazil

Edison de Oliveira SILVA 1; Francimara Carvalho da SILVA 2; Felipe Moreira Caland BASTOS 3; Francisco de Tarso Ribeiro CASELLI 4; Maria do Socorro Ferreira dos SANTOS 5

Recibido: 01/07/16 • Aprobado: 24/07/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Fundamentação teórica

3. Metodologia

4. Resultados e discussão

5. Conclusão

Referências


RESUMO:

Este estudo teve como objetivo abordar o gerenciamento dos resíduos sólidos dos serviços de saúde de quatro hospitais públicos na cidade de Teresina capital do PI. Os resultados comprovam que as ações de gerenciamento de resíduos sólidos de serviços de saúde não preveem o risco potencial dos seus resíduos, desde sua geração até a sua disposição final, de forma a evitar que resultem em danos tanto à saúde do trabalhador e do usuário quanto ao próprio ambiente. Considerando-se as diversas não-conformidades observadas em várias etapas são necessárias mudanças de atitude para o correto gerenciamento dos resíduos.
Palavras chave: Resíduos Sólidos; Serviços de Saúde; Gerenciamento; Legislação.

ABSTRACT:

This paper had as its main purpose to approach the management of solid health-care waste from four public hospitals in the city of Teresina capital of PI. The results have proved that the management actions of solid health-care waste do not foresee the waste’s potential risks, since its generation until its final disposal, in terms of avoiding to result in damage not only to workers’ and users’ health but also to the environment. Considering the diverse unconformities observed in various steps, attitude changes would be necessary in order to the proper waste management.
Keywords: Solid Waste. Health-care. Management. Legislation.

1. Introdução

A problemática relacionada ao Gerenciamento dos Resíduos Sólidos de Serviços de Saúde (GRSSS) é uma preocupação atual, em razão da falta de conhecimento dos profissionais de saúde quanto a sua importância, bem como a aplicabilidade da legislação vigente (NÓBREGA et al, 2014).

Os impactos ambientais causados pelo gerenciamento inadequado dos resíduos hospitalares podem atingir grandes proporções, indo desde contaminações, infecções hospitalares, e, até mesmo, a geração de epidemias ou mesmo endemias ante as contaminações do lençol freático com os mais diversos tipos de resíduos oriundos dos serviços de saúde (NAIME; RAMALHO; NAIME, 2008) cujo destino se dá muitas vezes de forma inadequada (lixões, céu aberto, entre outros).

Desta forma, é importante que os hospitais tenham dados precisos sobre a quantidade de resíduos produzidos, pois, como afirma Figueiredo (2010), a geração, segregação, acondicionamento e o conhecimento da quantidade de resíduos gerados pelos hospitais é uma informação importante para o gerenciamento, uma vez que, quando não há controle, torna-se mais difícil o processo de tomada de decisão.

Ante todo o exposto, o presente estudo busca avaliar o gerenciamento dos resíduos sólidos dos serviços de saúde dos hospitais públicos de Teresina (PI) e sua adequação com a legislação vigente A opção por essa temática levou em consideração o grande risco a que estão expostos à sociedade e o meio ambiente, particularmente os profissionais de saúde, comunidades próximas dos hospitais e pacientes.

Há uma mobilização destes para um melhor gerenciamento dos RSSS, com o intuito de minimizar os riscos aos profissionais que lidam com esses resíduos e ao meio ambiente. (FERREIRA; GORGES; SILVA, 2009). Além disso, Mendes (2012) relatou uma grande carência de estudos que demonstrem como está sendo realizado o GRSSS em Teresina.

2. Fundamentação teórica

2.1 Resíduos hospitalares

De acordo com Kougemitrou et al. (2011), os resíduos hospitalares originam-se da operação de qualquer unidade sanitária, tais como enfermarias públicas, privadas e municipal, cirúrgicas, hospitais, centros de doação de sangue, diagnósticos, laboratórios de microbiologia, clínicas veterinárias e laboratórios de diagnóstico veterinário. Questões relacionadas aos aspectos ambientais em uma instituição hospitalar são de relevância considerável no contexto da manutenção da qualidade de vida de uma sociedade (NAIME; SARTOR; GARCIA, 2008).

No Brasil, existem três órgãos que elaboram a classificação dos RSSS, a saber: CONAMA, ANVISA e ABNT. A Resolução N. 283/01 do CONAMA, dispõe sobre o tratamento e a destinação final dos resíduos dos serviços de saúde e classifica em quatro grupos: A, B, C e D.

Considerando-se a necessidade de prevenir e reduzir os riscos à saúde e ao meio ambiente, por meio do correto gerenciamento dos resíduos gerados pelos serviços de saúde, a RDC 33/2003 da ANVISA classifica tais resíduos em cinco grupos: A (potencialmente infectantes), B (químicos), C (rejeitos radioativos), D (resíduos comuns) E (perfurocortantes). Já para a NBR 12.808/1993 ABNT os residuos divididos em classe desde A1 ao A6 e B1 ao B3.

2.2 Gerenciamento dos resíduos hospitalares

Sob a ótica da gestão ambiental, percebe-se o surgimento da necessidade de adoção de medidas de gestão acerca dos impactos dos RSSS, hoje carecedores de fiscalização. Ante a concentração e diversidade de poluentes que contidos em um hospital, aumentado é o estímulo a pesquisas sobre instrumentos que minimizem os impactos dos RSSS, os quais tendem a ganhar visibilidade devido ao bem-estar social que pode ser garantido com o seu tratamento prévio (VIEIRA, et al.2013). Para tal, é necessário que seja estabelecido um elo entre os comportamentos dos diferentes setores, levando a que o GRSSS funcione como um sistema, com cada setor respeitando suas atividades próprias e voltadas a sua função dentro da instituição (FERREIRA; PROCOPIAK; CUBAS, 2011).

Omar, Nazli e Karuppannan (2012), em pesquisa realizada em três hospitais localizados nos estados de Johor, Perak e Kelantan, na Malásia, acerca das práticas de gerenciamento de resíduos clínicos, verificaram que a falta de conhecimento dos profissionais de saúde quanto ao tipo de resíduos gerados nos hospitais é comum, existindo ainda uma grande deficiência no manejo e no processo de segregação.

Philippi Jr e Aguiar (2005) destacam que a busca das mais diversas alternativas para equacionar, solucionar ou amenizar o problema dos RSSS devem envolver o sistema de gerenciamento integrado, havendo a aplicação simultânea de medidas de redução de geração na fonte, minimização dos resíduos por meio da implantação de formas diferentes de tratamento, considerando-se as peculiaridades locais e políticas de educação ambiental.

2.2.1 Manejo de resíduos sólidos de saúde                         

Segundo Rovere (1988), o manejo de RSSS através da NBR 12.807/1993 consiste na operação de identificação e fechamento do recipiente. O manejo, neste caso, envolve todas as fases que, de certa forma, dizem respeito a manipulação dos resíduos e que possam oferecer riscos ocupacionais aos profissionais envolvidos.

No Brasil, segundo Schneider et al (2004), na maioria dos municípios, os RSSS não recebem nenhum tipo de tratamento especial, pois são coletados junto com os resíduos comuns e têm como destinação final o mesmo local utilizado para os resíduos urbanos, ficando geralmente a céu aberto e com um grande número de pessoas tendo acesso livre para praticarem a atividade de catação, ficando estes últimos expostos a sérios problemas de saúde em razão do contato direto com os resíduos e com seus vetores (moscas, mosquitos, ratos e baratas), que encontram no lixo um local ideal para proliferação e alimentação.

A resolução N. 358/2005 do CONAMA estabelece que as etapas de tratamento de resíduos têm como objetivo diferenciar os processos de tratamento e destinação final. Para Nunes, Silva e Oliveira (2012), os estabelecimentos devem atender as etapas de tratamento de resíduos, objetivando a minimização da produção de resíduos e levando uma destinação final segura para meio ambiente e profissionais.        

3. Metodologia

O presente trabalho é classificado como estudo de caso multicaso, por se tratar de um estudo de fatos isolados cujo objeto de estudo foi quatro hospitais do município de Teresina-PI. Gil (2010) define o estudo de caso como um “[...] estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento [...]”.

Quanto à natureza, a pesquisa deste trabalho é classificada como básica, já que busca informações e conhecimentos que poderão, eventualmente, levar a resultados acadêmicos ou aplicações importantes, envolvendo interesses universais (PRODANOV; FREITAS, 2013) Já quanto à abordagem do problema, classifica-se como quantitativo e qualitativo, visto que o pesquisador teve contato direto com o ambiente de estudo e quantificou os resultados das entrevistas com os colaboradores da limpeza e gestores, obtendo dados estatísticos (RUIZ, 2008; KOCHE, 2009).

A pesquisa foi realizada em quatro hospitais públicos de Teresina (PI), os quais realizam atendimentos a pacientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Os nomes dos hospitais tiveram seus nomes preservados, sendo chamados da seguinte forma: o hospital “B1” é o maior hospital público do estado em atendimento de urgência e emergência; o hospital “B2” é referência no transplante de órgãos no estado; o hospital “B3” é referência em pediatria e, por fim, o hospital B4 possui a especialidade de doenças infectocontagiosas, a pesquisa utilizou das seguintes etapas. O Quadro 1 apresenta a forma como a pesquisa foi delineada, detalhando suas respectivas etapas.

Quadro 1 - Etapas da pesquisa

1 - Comitê de ética

Projeto foi submetido ao Comitê de Ética da Universidade Federal do Piauí. Obteve aprovação CAAE 46310715.6.000.5214, com parecer número 1.197.630, e com aprovação do comitê de ética dos quatro hospitais pesquisados.

2 - Definição da amostra

Foi constituída dos funcionários da limpeza e gestores dos hospitais, eis que todos estão envolvidos no processo de GRSSS. Para manter o anonimato dos hospitais, critério exigido por eles para realização da pesquisa, os hospitais foram nomeados como B1, B2, B3 e B4 quando da análise dos resultados.

3 - Coleta de dados

O recrutamento dos participantes foi feito da seguinte forma: inicialmente todos os gestores dos hospitais foram entrevistados e posteriormente os servidores das equipes de limpeza. Os participantes desta pesquisa responderam a um questionário com questões fechadas e a observação simples/direta conforme apêndice A e B, e logo em seguida, foram realizados registros fotográficos.

4 –Destinação final dos resíduos

Foi realizado uma vistoria na empresa que faz o recolhimento e tratamento dos RSSS nos quatro hospitais pesquisados, bem como a identificação de como é feito o transporte e tratamento final dos resíduos e sua conformidade com a legislação.

Fonte: Elaboração própria

Todos os participantes desta pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e Termo de Compromisso de Utilização de Dados.

4. Resultados e discussão

O hospital identificado como B1 não autorizou registros fotográficos de sua rotina. Destaca-se que nenhum dos hospitais foi possível a entrevista com 100% da população de funcionários da limpeza. Os percentuais de funcionários respondentes apresentam-se assim: B1 com 62%, B2 com 80%, B3 com 70%, e B4 com 70,58%. Justifica-se a ausência dos demais colaboradores em razão destes não terem interesse em participar da pesquisa ou não aceitarem a disponibilização do seu do Documento de Cadastro de Pessoa Física (CPF), documento este exigido pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Piauí para os participantes de pesquisas.

4.1 Avaliação do GRSSS dos hospitais pesquisados e sua conformidade com a legislação.

O quadro 2 apresenta o resumo com os quatro hospitais pesquisados e a conformidade com a legislação, bem como algumas observações pertinentes.

Quadro 2 – Conformidade com a legislação por hospitais (C para conforme e NC para não conforme).

 

B1

B2

B3

B4

Observação

Caixa para acondicionamento de materiais perfurocortantes

C

C

C

C

Nenhum problema encontrado

Lixeiras para acondicionamento de resíduos

C

C

NC

NC

B3 não possui pedal e B4 possui símbolo ilegível

Carro de transporte de resíduos internos

C

C

C

NC

B4 não possui carro feito de material rígido

Expurgo para armazenamento interno de resíduos

C

C

C

NC

B4 não possui expurgo, visto que do ponto de geração vai direto para o abrigo externo

Carro para transporte de resíduos externos

C

C

NC

NC

B3 e B4 possuem símbolos ilegíveis no carro

Abrigo externo de resíduos comum

NC

C

NC

NC

B1 possui abrigo externo exposto na rua. B3 compartilha o abrigo com B2. B4 possui inconformidade, pois armazena resíduos próximo aos infectantes

Abrigo externo de resíduos infectantes

NC

C

NC

NC

* B1 possui abrigo externo exposto na rua. B3 compartilha o abrigo com B2. B4 possui inconformidade, pois armazena resíduos próximo aos infectantes B2 é único que possui freezer

Fonte: Elaboração própria

Foi identificado neste estudo que os hospitais pesquisados não cumprem com a legislação de referência, em sua totalidade, estabelecida pela ANVISA, CONAMA e Associação Brasileira de normas Técnicas. Foram encontrados em alguns hospitais lixeiras sem pedal de acionamento e sem os símbolos de identificação do tipo de resíduos a ser acondicionado naquele local, havendo o descumprimento da NBR 7500/2005 quanto aos padrões de cores e símbolo dos resíduos, e da RDC N. 306/2004 quanto aos padrões de segurança do equipamento, já que a referida norma estabelece que todas as lixeiras devem conter o pedal de acionamento e tampa.

Foram identificados hospitais com abrigos externos expostos à rua, sem condições favoráveis para o acondicionamento de resíduos, visto que esta situação coloca em risco pessoas que trafegam nas proximidades, bem como pode levar a proliferação de doenças através da contaminação de animais que adentrem no abrigo. Não houve, desta forma, atendimento a NBR 12.809/1993 quanto os padrões de segurança exigidos para as pessoas e para o meio ambiente, pois o abrigo deve ser em uma área restrita, dentro do hospital, com acesso somente para profissionais que trabalhem no processo de manuseio de resíduos.           

Foram encontradas, nos quatros hospitais estudados, em seus postos de preparação de medicação e enfermarias, caixas para acondicionamento de materiais perfurocortantes fixadas na parede, com o devido suporte de sustentação, para facilitar a visualização dos profissionais de saúde no momento do descarte. A RDC N. 306/2004 estabelece que os materiais como seringas, agulhas, lâminas de bisturi e demais que se enquadrem no grau de risco E devem ser descartados em caixas especificas, obedecendo ao limite de armazenamento indicado no recipiente. No hospital B1 identificou-se, através de vistoria, o atendimento de tal exigência.

De acordo com as classificações da ANVISA RDC 306/04 e Resolução CONAMA N. 358/05, é obrigatória a segregação dos resíduos no momento de sua geração. As lixeiras devem conter o pedal de acionamento e os resíduos devem ser acondicionados em sacos brancos para os infectantes e azuis para os comuns. A substituição dos sacos deverá ocorrer quando for atingido 2/3 de sua capacidade, e, pelo menos, uma vez a cada 24 horas.

Através da análise visual feita no hospital B1 revelou que o mesmo atende às exigências legais. Ademais, o hospital B2 também está de acordo com as legislações vigente. Por fim, o hospital B3 apresenta lixeira sem pedal de acionamento, enquanto que B4 possui lixeira com símbolo de identificação ilegível.

Os carros para transporte de resíduos são utilizados nos hospitais B1, B2 e B3 para facilitar na coleta do ponto de geração até o expurgo, onde os mesmos estão de acordo com a legislação. Para o hospital B4, não há ponto de armazenamento interno, sendo os RSSS levados diretamente ao abrigo externo. Além disso, O carro utilizado na coleta interna de resíduos do hospital B4 é de lona plástica de polietileno, não sendo um material rígido e resistente, os quais não atendendo as exigências da ANVISA. 

O ponto de armazenamento interno (expurgo) localiza-se próximo das enfermarias dos hospitais B2 e B3, facilitando o processo de recolhimento dos resíduos e atendendo as exigências legais. O hospital B1 também possui o ponto de armazenamento temporário dentro dos padrões exigidos. Segundo Coelho (2010), o ponto de armazenamento temporário interno tem como objetivo a guarda temporária dos resíduos em local próximo do ponto de geração e tem como finalidade minimizar o tempo para os funcionários que fazem a coleta.

Quanto ao carro de transportes de resíduo, foi possível constatar no hospital B1 o atendimento das exigências legais, bem como o hospital B2. Observou-se, ainda, que o carro do hospital B3 não possui o símbolo de identificação, enquanto que o do hospital B4 tem símbolo ilegível, não atendendo, desta forma, a NBR 7.500/2005, quanto o símbolo de identificação nos recipientes de coleta.

Quanto ao abrigo externo de resíduo comum, foi identificada irregularidade no hospital B1, já que este fica exposto na rua, disputando espaço com pedestres e carros, e dificultando a coleta. O hospital B2 possui conformidade no abrigo externo, cujo recolhimento é realizada pela Prefeitura Municipal de Teresina-PI para os residuos comuns. No caso do resíduo infectante, o hospital B2 usa serviços autorizados para recolhimento, foi identificado freezer para acondicioamento dos residuos tipo A. No caso do hospital B4, observou-se a proximidade entre abrigo de resíduos comum e infectante, além de estar na área externa do hospital, apresentando, portanto uma inconformidade.

4.2 Resultados das entrevistas com os colaboradores da limpeza e gestores

Em estudo realizado por Garcia e Zanetti (2004), acerca da legislação dos RSSS, verificou-se que existe uma preocupação referente ao PGRSSS quantos aos geradores, por não possuírem o conhecimento necessário para a atividade, além de não apresentarem uma estrutura adequada para atual realidade. A tabela 1 possibilita a visualização do resultado das entrevistas, diante das respostas objetivas dos funcionários dos hospitais B1, B2, B3 e B4.

O maior índice de conhecimento do plano de gerenciamento foi encontrado no hospital B4 – 58,33%. Já no hospital B3, a maioria dos funcionários – 57,14% - desconhece o plano. Este resultado no hospital B3 pode ser atribuído a pontos falhos no hospital em estudo, como por exemplo: falta de treinamento efetivo com os funcionários.

Quanto ao treinamento, foi possível observar que a maioria dos funcionários afirma terem feito algum treinamento. Diante dessa realidade, observa-se que apesar do treinamento, alguns colaboradores desconhecem o plano de gerenciamento de resíduos, situação já relatada anteriormente. Portanto, detectou-se uma discordância entre a relação entre o treinamento e o nível de conhecimento.

A separação dos resíduos apresentou um alto percentual de respostas afirmativas. É de se destacar que 100% dos entrevistados no hospital B4 responderam que esta separação é realizada. Entretanto, tal resultado pode não condizer com a realidade, já que as lixeiras desta instituição estavam com os símbolos desgastados, o que contribuem para a mistura de diversos tipos de resíduos. Para o condicionamento dos resíduos e suas embalagens, observou-se uma totalidade de 100% de respostas afirmativas para os quatro hospitais.

 

 

Tabela 1 – Resultado das entrevista com os colaboradores da limpeza

Hospitais

Tópicos

Resposta

B1(%)

B2(%)

B3(%)

B4(%)

Você conhece o plano de gerenciamento de resíduos do hospital que trabalha?

Sim

51,6

54,17

42,86

58,33

Não

48,4

45,83

57,14

41,67

Você fez algum treinamento para lidar com os resíduos hospitalares?

Sim

80,6

79,17

64,29

83,33

Não

19,4

20,83

35,71

16,67

É realizado a separação dos resíduos?

Sim

93,5

91,67

92.86

100

Não

6,5

8,33

7,14

-

Os resíduos são embalados em sacos plásticos rígidos, papelão ou metal?

Sim

100

100

100

100

Não

-

-

-

-

As lixeiras possuem tampas acionadas por pedais, cantos arredondados, ser resistente e laváveis?

Sim

83,87

79,17

78,57

91,67

Não

16,13

20,83

21,43

8,33

Os resíduos são descartados em sacos e recipientes com os parâmetros segundo a NBR 7500?

Sim

100

79,17

78,57

100

Não

-

20,83

21,43

-

Existe algum tratamento prévio dos resíduos antes do descarte?

Sim

29,03

25

14,29

100

Não

70,97

75

85,71

-

Existe algum responsável que analise se os procedimentos vêm sendo seguidos conforme a legislação?  

Sim

100

100

100

100

Não

-

-

-

-

Fonte: Elaboração própria

As lixeiras foram alvo de questionamento para verificação de suas características. No hospital B1 83,87%, afirmaram haver conformidade, enquanto que no B2 79,17%, B3 78,51% e B4 91,67% representado o maior percentual.  Quando questionados se os resíduos eram descartados em sacos e recipientes fabricados de acordo com os parâmetros da NBR 7500/2005, nas unidades B1 e B4 100% dos entrevistados afirmaram que sim, enquanto que na unidade B2 79,17% responderam positivamente, e na B3 78,5% responderam que sim.

Embora todos os entrevistados do hospital B4 tenham respondido que cumpriam com a norma, o quadro X mostra resultado diferente, pois existem recipientes que fazem parte do processo de acondicionamento de resíduos em desconformidade com as normas, notadamente quanto ao símbolo de identificação.

No que refere a existência de algum tratamento prévio dos resíduos antes do descarte, mais uma vez, no hospital B4 100% foram afirmativos. Por outro lado, vale ressaltar que no hospital B3 um alto índice de entrevistados que responderam negativamente (85,71%). Essa informação sobre o hospital de B3 é contraditória, pois quando questionados como aconteceria a coleta interna, todos responderam que do ponto de geração os resíduos são levados para o abrigo externo, já que o hospital não dispõe de um local para armazenamento interno, evidenciando dessa forma, que não há tratamento prévio.

No último questionamento da Tabela 1, observa-se que todos os sujeitos entrevistados nos hospitais B1, B2, B3 e B4 afirmaram que existe um responsável que analisa se os procedimentos vêm sendo seguidos de acordo com a legislação.

Também foram levantados dados sobre os procedimentos de treinamentos, sistema de segurança no trabalho e outros resultados que podem ser observados na Tabela 2 que é a continuidade das respostas da Tabela 1.

Tabela 2 – Resultado das entrevistas com os colaboradores

                                                                                 

 

Hospitais

Tópicos

Resposta

B1(%)

B2(%)

B3(%)

B4(%)

Como foi o treinamento para lidar com os resíduos

Palestras

67,7

20,83

78,57

83,33

Palestra e vídeos

32,3

79,17

_

16,67

Próprios colegas

_

_

21,43

_

Quais os tipos de RSSS    gerados no seu local de          trabalho?

Comum e infectante

58,06

62,5

71,43

75

Comum, radioativos e perfurocortantes

25,81

16,67

_

_

Não sabem

16,13

20,83

28,57

25

Como são acondicionados os resíduos?

Sacos plásticos e caixas

100

100

100

100

Como é realizado o transporte interno do ponto de geração ao ponto de armazenamento no hospital?

Carro de transporte de resíduos

100

100

100

100

Quem realiza o transporte  interno dos resíduos?

 Próprios funcionários da limpeza

100

100

100

100

Como é realizada a coleta dos resíduos?

Enfermaria para o expurgo depois para abrigo

100

100

100

_

Ponto de geração para   abrigo externo

_

_

_

100

Com que frequência ocorre a coleta dos resíduos?

1 a 2 vezes

_

_

21,43

41,67

3 a 4 vezes

100

100

78,57

58,33

Por quanto tempo o resíduo interno fica armazenado?

Não tem armazenamento

_

_

_

100

1 a 3 horas

100

91,17

_

100

Não sabem

_

8,33

_

_

Quem é responsável pelo transporte dos resíduos interno até o local externo?

Funcionário especifico da central de resíduos

100

100

100

100

Esses transportes são desinfetados com qual frequência?

1 vez

35,49

58,33

25

71,43

1 a 2 vezes

64,51

29,17

75

28,57

Como é realizada esta coleta e com qual frequência?

Comum – prefeitura Infectantes- empresa terceirizada

100

100

100

100

O local externo estoca quais resíduos?

Infectante e comum

100

87,5

100

35,71

Não sabem

_

12,5

_

64,29

Qual o tipo de tratamento realizado nos resíduos?

Não sabem

77,41

91,67

100

100

Esterilização

22,59

8,33

_

_

Como ocorre a disposição final?

Não sabem

74,19

83,33

85,71

33,33

Prefeitura e empresa terceirizada

25,81

16,67

14,29

66,67

Quais os EPI’S utilizados na coleta e transporte dos resíduos?

Botas, luvas, toucas

100

100

100

100

avental, óculo, mascara

Você já sofreu acidente de trabalho relacionado a alguma etapa do gerenciamento?

Sim

9,68

_

7,14

_

Não

90,32

100

92,86

100

Em sua opinião, quais medidas poderiam ser tomadas para evitar os acidentes?

Usar os EPI’S

22,58

25

28,57

16,66

Ter mais cuidado

12,9

25

28,57

66,68

Treinamento

6,54

8,33

_

_

Profissionais de saúde e pacientes fazer segregação correta

58,07

41,67

42,86

16,66

Fonte: Elaboração própria

Quanto ao treinamento para lidar com os resíduos, 67,7% dos entrevistados, do hospital B1 afirmaram ocorrer por meio de palestras, B2 20,83%, B3 78,57% e B4 83,33%. No hospital B1, 32,3% citaram palestras e vídeos, B2 79,17% e B4 com 16,67%, enquanto que na unidade B3, 21,43% afirmaram ter recebido informações de seus colegas. 

Os resultados demonstram que o hospital B3 não possui um PGRSSS. A forma de treinamento utilizada não é apropriada para transmitir os conhecimentos necessários para a coleta de resíduos, reforçando a contradição identificada na tabela 1, onde, apesar da maioria afirmar que recebe treinamento sobre GRSSS, metade diz desconhecer o PGRSSS das unidades em que trabalham.

No hospital B1, durante coleta de dados, o gestor apresentou uma cartilha com as informações pertinentes ao processo de gerenciamento de resíduos. Apesar de tal fato, os funcionários da limpeza não a mencionaram durante a entrevista.

Quanto ao conhecimento sobre os RSSS gerados, para as unidades B1 e B2 o nível de conhecimento foram de, respectivamente, 58,06 e 62,5%. O grupo que respondeu comum, radioativo e perfurocortante foram B1 (25,81%) e B2 (16,67%). Houve um grande índice de entrevistados que não sabiam: B1 (16,13%), B2 (20,83%), B3 (28,57%) e B4 (25%).

Não foi citado por nenhum dos entrevistados dos hospitais analisados resíduos biológicos e químicos. Isto demonstra que não há conhecimento por parte dos profissionais que lidam com resíduos quanto as suas características. Há, ainda, um grande percentual de colaboradores que não sabem quais os tipos de resíduos gerados em seu local de trabalho. Segundo a RDC N. 306/2004 da ANVISA e a Resolução 358/2005 do CONAMA, o conhecimento sobre o tipo de resíduos gerados deve acontecer a partir da fonte geradora, de forma rotineira, estando contemplado no PGRSS.

Ao questionar como são acondicionados os resíduos, todos os entrevistados dos hospitais em estudo afirmaram que este ocorre através de sacos plásticos e caixas. A mesma situação ficou evidenciada no questionamento seguinte, onde todos afirmaram a utilização do carro de transporte de resíduos, como meio de transporte interno, do ponto de geração ao ponto de armazenamento no hospital.

Ao questionar como é realizada a coleta dos resíduos, os funcionários dos hospitais B1, B2 e B3 afirmaram que os resíduos são levados da enfermaria para expurgo e, depois, para abrigo externo. Já na unidade B4, os resíduos são levados do ponto de geração até o abrigo externo.

A frequência da coleta interna também foi avaliada. 21,43% dos entrevistados no hospital B3 afirmaram que está ocorria entre 1 e 2 vezes ao dia. Na unidade B4 este percentual elevou-se para 41,67%. Por outro lado, todos os entrevistados das unidades B1 e B2 evidenciaram que a coleta era realizada entre 3 e 4 vezes ao dia, situação também relatada por 78,57% e 58,33%, respectivamente, dos hospitais B3 e B4.

Quanto ao tempo de armazenamento dos resíduos no interior da unidade, a totalidade dos entrevistados do B4 afirmou a inexistência do armazenamento interno. No B1 este tempo foi estimado entre 1 a 3 horas por 100% da amostra. No B3 este índice foi de 91,17%. Por fim, 8,33% dos entrevistados no B2 não sabiam.

No questionamento acerca da frequência de desinfecção dos carros utilizados para o transporte dos RSSS, foi apontado uma vez por dia pelo hospital B4, representando o maior percentual com 71,43%, hospital B1 35,49%, B2 58,33% e B3 com 25%. Duas vezes por dia, o hospital B3 representa grande maioria com 75%, B1 64,51, B2 29,17 e B4 28,57. De acordo com RDC 306/2004 da ANVISA, a limpeza e desinfecção devem ocorrer de forma simultânea nos recipientes coletores e demais equipamentos utilizados no manejo de RSSS.

Sobre o questionamento quais tipos de resíduos estoca o local externo, 100% dos entrevistados de B1 e B3 responderam infectante e comum, B2 com 87,5% e B4 35,71%, de forma que não souberam responder 12,5% de B2 e 64,29% de B4.

Sobre o questionamento qual o tratamento realizado nos resíduos, um índice muito alto não souberam responder, principalmente para os hospitais B3 e B4 que 100% responderam não ter conhecimento, apenas 22,59% dos entrevistados do B1 e 8,33% dos entrevistados do B2 apontaram a esterilização. Percebe-se uma situação preocupante em relação a este questionamento.

Quanto à disposição final dos resíduos, não soube responder 74,19% do B1, 83,33% do B2, 85,71% do B3, e 33,33% do B4. A opção pelo caminhão da prefeitura e da empresa terceirizada foi relatado por 25,81% do B1, 16,67% do B2, 14,29% do B3 e 66,67% do B4. Tal realidade destoa com a apontada através da análise do conhecimento dos funcionários acerca do PGRSSS em seus locais de trabalho, que pode ser entendida como extensão do problema detectado anteriormente, demonstrando que o treinamento aplicado não resulta necessariamente em fixação do conhecimento sobre a GRSSS das unidades.

Quando questionados quantas vezes ocorria a coleta externa dos resíduos, as respostas alternaram entre 1 a 2 vezes e 3 a 4 vezes, evidenciando que a limpeza dos transportes está descumprindo com a determinação da legislação.

Ao serem questionados sobre a frequência e a forma como e realizado a coleta, todos afirmaram que tanto a coleta comum realizada pela Prefeitura Municipal de Teresina (PI), como a de resíduos infectantes por empresa terceirizada, são realizadas uma vez ao dia. A norma estatuí que os resíduos de fácil putrefação que venham ser acondicionados por um período superior a 24 horas, devem ser conservados sob refrigeração (Brasil, 2004, p.5). Como esta coleta é feita uma vez ao dia, os hospitais estão de acordo com a norma.

Quanto aos procedimentos de higiene e segurança no trabalho todos os entrevistados das quatro unidades hospitalares, apontaram para o uso de EPIs na coleta e transporte dos RSSS (botas, luvas, toucas, aventais, óculos e máscaras).

Também foi formulado questionamento quanto a eventual ocorrência de acidentes de trabalho. 9,68% dos funcionários da unidade B1 e 7,14% dos funcionários B3 responderam afirmativamente. Em ambas as unidades os acidentes ocorrem em razão do descarte incorreto de seringas com agulhas no saco de resíduos infectantes. Apesar da gravidade de tal fato, todos os cuidados médicos foram adotados e não foram relatadas sequelas em razão de tais acidentes.

Esse índice de acidente relatado pelos profissionais da limpeza tem origem na falta de colaboração dos profissionais de saúde no momento do descarte dos instrumentos perfurocortantes. O descarte incorreto é uma realidade, com agulhas e seringas encontradas, com certa frequência, sobre pias e o piso.

A RDC N. 306/2004 estabelece que os materiais como agulhas seringas ou demais materiais perfurocortantes devem ser descartados em caixas específicas, para evitando acidentes com as pessoas que as manuseiam e facilitando o tratamento final correto. Diante destes dados foi solicitado que os colaboradores apontassem medidas para prevenção e redução de acidentes

 Usar os EPI’s foi apontado por 22,58% do B1, 25% do B2, 28,57% do B3, e 16,66% do B4. Mais cuidado no manuseio dos resíduos foi respondido por 12,9% dos funcionários da unidade B1, 25% da unidade B2, 28,57% da unidade B3 e 16,68% da unidade B4. Os funcionários ouvidos ainda apontaram a necessidade de treinamento, bem como a efetiva segregação correta dos resíduos, mais uma vez retomando a questão na tabela 1 que aponta baixa efetividade no treinamento e que é reforçada pela informação da tabela 2 que aponta métodos inadequados no processo de treinamento.

O resultado desse questionamento mostrou que, em todos os hospitais, os funcionários indicam a necessidade de melhoria no processo de segregação, tanto pelos profissionais de saúde, como também pelos próprios pacientes, evitando o descarte incorreto dos resíduos. A Tabela 3 mostra os resultados das entrevistas com os gestores dos quatros hospitais pesquisados.

Tabela 3 – Resultado das entrevistas com gestores

 

 

 

Tópicos

Respostas

Hospitais

O estabelecimento possui plano de gerenciamento de resíduos sólidos?

Sim

B1/B2/B3/B4    

Existe algum setor responsável pelo gerenciamento dos resíduos?

Sim

 

B1/B2/B3/B4                          

Existe práticas de gerenciamento de resíduos aplicadas neste hospital?

Sim

B1/B2/B3/B4                           

A infraestrutura do hospital está adequada para o gerenciamento dos resíduos?

Não

B1/B2/B3/B4                          

Há fiscalização dos órgãos competentes em relação aos resíduos hospitalares?

Sim

B1/B2/B3/B4                           

Existe educação continuada frequente em relação ao tema resíduo de serviços de saúde, neste hospital?

Sim

B1/B2/B4

Parcial

B3

Quais as principais dificuldades para cumprir a legislação?

Recurso financeiros

B3/B4

Fazer com que os colaboradores cumpram com o gerenciamento

B1/B3

Fonte: Elaboração própria

Foi questionado aos gestores se estes possuíam um plano de gerenciamento e se existia algum setor no hospital que fosse responsável por esse plano, se práticas de gerenciamento eram aplicadas no estabelecimento, e se ocorriam fiscalizações por parte dos órgãos competentes. Os gestores dos hospitais B1, B2, B3 e B4 responderam que sim. Isso é contraditório com os demais resultados do presente estudo, já que foram encontrados equipamentos quebrados, carros de transporte sem símbolo de identificação, funcionários da limpeza sem conhecimento do tipo de resíduos gerados no hospital, e sem conhecimentos acerca da destinação final destes.

Sobre a infraestrutura dos hospitais se está adequada para o gerenciamento, todos os gestores responderam que não. Os hospitais B1 e B2 informaram que estão fazendo mudanças com o intuito de atender a legislação e, consequentemente, adequar o PGRSSS. Não houve informação quanto a natureza de tais mudanças. Os hospitais B3 e B4 relataram que muita coisa precisa mudar, principalmente no que se refere a infraestrutura, como, por exemplo, a edificação de um abrigo externo que atenda às suas necessidades.

Os gestores dos hospitais B1, B2 e B4 afirmaram que existe um processo de educação continuada de seus funcionários. Por outro lado, o gestor do hospital B3 informou que está educação se dá de forma parcial, existindo necessidade de melhoria.

Quanto às dificuldades para cumprir a legislação, os hospitais B3 e B4 respondeu a falta de recursos financeiros. Os hospitais B1 e B2 relataram que há dificuldade para fazer com que seus colaboradores cumpram com o plano de gerenciamento. Evidenciando que nestes hospitais é necessária uma maior conscientização dos colaboradores para o cumprimento da legislação. A Tabela 4 apresenta a continuidade da entrevista com os gestores dos hospitais.

Tabela 4 – Continuidade dos resultados da entrevista com os gestores

Tópico - Qual sua avaliação sobre a legislação vigente no que se refere ao gerenciamento? As exigências são necessárias?

 

Respostas

Hospital

Já é suficiente falta mesmo é colocar em prática da forma correta. (Sim)

B1

São necessárias pois elas informam de como deve ser feito o gerenciamento. (Sim)

B2

A legislação em si e boa a estrutura dos hospitais e que não oferece condições de pôr em pratica a mesma. (Sim)

B3

Se realmente for cumprida é suficiente mas se não pôr em prática passa a se tornar insuficiente. (Sim)

B4

Fonte: Elaboração própria

Para este tópico referente a avaliação sobre a legislação vigente, o hospital B1 respondeu que a regulamentação atual é suficiente, faltando colocá-la em prática. O gestor do hospital B2 acredita que a regulamentação é necessária, pois ela informa como deve ser feito o gerenciamento. Para o gestor do hospital B3, a legislação em si é boa, residindo o principal problema na estrutura do hospital. Por fim, o gestor da unidade B4 acredita que se houver o cumprimento, a regulamentação será suficiente. Eventuais insuficiências decorreriam da falta de efetiva obediência à legislação.

4.3 Disposição final dos RSSS

Foi realizada uma vistoria na empresa que faz a coleta dos resíduos desde os abrigos externos dos hospitais até sua disposição final. Foi constatado através de documentos e observações que a empresa atende a legislação nos quesitos a qual lhe são pertinentes (transporte e tratamento dos resíduos).

A empresa realiza treinamentos e exames trimestrais. Junto aos seus funcionários e foi observado a correta utilização do EPI’S necessários para atividade.

Para a disposição final dos RSSS, é realizado o processo de esterilização para o tratamento dos resíduos pertencentes aos grupos A1 (culturas e estoques de microrganismos), A4 (bolsas contendo sangue ou hemocomponentes) e E (materiais perfurocortantes). 

Os resíduos pertencentes ao grupo A2 (carcaças, peças anatômicas, vísceras e outros), A3 (peças anatômicas, membros do ser humano; produto de fecundação sem sinais vitais), A5 (órgãos, tecidos, fluidos orgânicos, materiais perfurocortantes e demais materiais resultantes da atenção à saúde de indivíduos ou animais com suspeita ou certeza de contaminação com príons) e B (resíduos contendo substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública ou ao meio ambiente), passam pelo processo de incineração em outro estado. Quanto ao processo de tratamento de resíduos, observou-se conformidade no tocante aos processos de transporte e esterilização dos resíduos.

5. Conclusão

O presente estudo tinha por escopo analisar a adequação de quatro unidades de saúde de Teresina (PI) e as normas relativas ao correto e efetivo gerenciamento de seus resíduos sólidos de serviço de saúde.

Foi constatado que o gerenciamento dos resíduos hospitalares ainda é ineficiente, já que não foi identificado PGRSS nestes hospitais. A forma de capacitação ainda é inadequada para atividade, foi identificado em um dos hospitais a utilização dos próprios colaboradores da limpeza mais antigos para dar treinamento de como lidar com resíduos aos novos funcionários.

Os principais problemas encontrados foram a falta de treinamento e educação continuada dos funcionários, havendo a necessidade de investimento e fiscalização.

Os funcionários de limpeza trouxeram informações importantes, como a falta de conscientização da comunidade hospitalar quanto ao correto descarte. Tais atitudes, conforme relatado, chegaram a ocasionar acidentes.

Não menos importante foram as deficiências físicas encontradas, tais como lixeiras sem pedal e símbolo de identificação do tipo de resíduos, bem como hospital sem abrigo externo para acondicionamento dos resíduos.

Não foi identificando tratamento prévio em nenhum dos hospitais pesquisados. A destinação final dos resíduos comuns e resíduos infectantes é distinta. Os primeiros são recolhidos pela Prefeitura Municipal de Teresina (PI). Não foi o escopo deste trabalho analisar se o referido órgão estava acondicionado tais resíduos de maneira correta.

Por outro lado, os resíduos infectantes são recolhidos por empresa especializada, que cumpre com todos os requisitos legais para a esterilização dos resíduos. A incineração, por sua vez, ocorre em outra unidade da federação.

Foi identificado que 100% dos entrevistados informaram utilizar os equipamentos de proteção individual. Quanto a legislação que envolve o GRSSS, os gestores responderam que esta é importante, embora os hospitais não a atendam por completo. Foi enfatizado que a estrutura dos hospitais ainda não está adequada para um bom gerenciamento.

A complexidade do problema proposto está clara. Foi identificado no decorrer deste trabalho que as normas do CONAMA, ANVISA e ABNT contêm situações ideais para o gerenciamento dos resíduos hospitalares, que só poderão ser alcançadas com uma melhor conscientização de todos os envolvidos no PGRSSS (gestores, funcionários, médicos, população em geral).

Conclui-se, portanto, que é preciso que ocorram melhorias no gerenciamento dos resíduos hospitalares, nas unidades pesquisadas, bem como em estrutura física (e.g. novos abrigos de acordo com os padrões exigido na legislação), lixeiras, carro de transporte e treinamento e conscientização entre os profissionais envolvidos no PGRSSS.

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1. Aluno do curso de Bacharelado em Engenharia de Produção da UFPI
2. Aluna do curso de Bacharelado em Engenharia de Produção da UFPI.
3. Engenheiro de Produção pela Universidade Federal do Piaui. Atualmente, mestrando em Engenharia de Produção na Universidade Federal da Paraíba

4. Doutorando pelo Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente - PRODEMA em Rede pela Universidade Federal do Piauí - UFPI. Mestre em Engenharia de Produção na área de Gestão da Produção pela UFPB (2013). Bacharel em Engenharia de Produção Mecânica pela Universidade Regional do Cariri (2003).

5. Possui graduação em Engenharia Química pela Universidade Federal de Campina Grande (2003), Graduação em Licenciatura Plena em Química pela Universidade Estadual da Paraíba (2003), Mestrado em Engenharia Química pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2005) e Doutorado em Engenharia Química pela Universidade Federal de Campina Grande (2013). Email: socorroferreira@ufpi.edu.br


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 36) Año 2016

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