Espacios. Vol. 37 (Nº 35) Año 2016. Pág. 12

Eixo sustentável: Uma proposta de um oitavo eixo para a Ferramenta Estrategigrama

Axis of Sustainability: A proposal for an eighth axis for the tool Strategigram

Luciano Maciel RIBEIRO 1; Silvia Silva da Costa BOTELHO 2; Nelson Lopes DUARTE Filho 3

Recibido: 26/06/16 • Aprobado: 01/08/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Parques Tecnológicos e o papel da Universidade

3. Estrategigrama

4. Metodologia

5. Resultados

6. Considerações finais

7. Limitações do estudo

Referências


RESUMO:

A sociedade atual necessita de um pensamento cada vez mais estratégico sobre os seus recursos. Definir o seu posicionamento estratégico é uma forma de ampliar as possibilidades de minimizar os impactos negativos de suas ações de inovação. Este pensamento abre espaço para uma visão mais complexa sobre a realidade e consequentemente sobre formas de atuação que visem manter a sustentabilidade do planeta. A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu dimensões para atuação sustentável, são elas: Dimensão Social; Dimensão Econômica; Dimensão Ecológica; Visão de Mundo. Estas dimensões representam uma ampliação da visão de muitas empresas, as quais valorizam apenas a Dimensão Econômica. As inovações, independentemente da sua classificação, representam mudanças, logo os seus impactos podem estar alinhados ou não com a sustentabilidade nas suas diferentes dimensões. A inovação tem os Parques Tecnológicos como um importante habitat. Estes locais, por sua natureza, podem exercer um papel de intermediários em redes pois eles promovem diversas ações de relacionamento entre os atores. Logo, podem ser fortes indutores de ações sustentáveis. Os parques tecnológicos utilizam a ferramenta estrategigrama, desenvolvida pelo International Association of Science Parks (IASP), a qual permite a geração de um gráfico com sete eixos: Localização (urbana x não-urbana); Uso da tecnologia (criadora ou utilizadora de tecnologia); Fomentar empresas ou desenvolver empresas existentes; Foco num ramo empresarial ou diversidade; Escolher empresas locais ou atrair empresas de outras regiões/países; Como avaliar a utilização do trabalho em rede e networking nos parques; Como escolher o melhor modelo de gestão e governança desses centros tecnológicos. Essa ferramenta permite a comparação das principais escolhas de posicionamento entre parques nacionais e internacionais, facilitando a compreensão de suas escolhas estratégicas. O presente estudo tem por objetivo adicionar um 8º eixo, capaz de apontar a dimensão da sustentabilidade como forma de verificar a presença desta dimensão na atuação do Parque. Seguindo a metodologia desenvolvida pelo IASP o artigo apresenta questões a serem inseridas no questionário desenvolvido e utilizado mundialmente, a partir de uma revisão de artigos e livros sobre o tema, como forma de fundamentar a proposta. As respostas apontadas contribuirão diretamente para a construção do 8º eixo aqui denominado Sustentabilidade. Possibilitando assim refletir sobre o papel dos Parques Tecnológicos nessa área e criando uma forma de definir ações que possam contribuir para as diferentes perspectivas da Sustentabilidade. A relação entre inovação e sustentabilidade tem uma crescente participação na agenda corporativa no que tange a dimensão econômica, mas existe uma forte lacuna que pode ser ampliada nas outras dimensões já apontadas aqui. Para este motivo, a proposta usa o Parque Tecnológico como um importante vetor para a construção da Sustentabilidade.
Palavras chaves: Parques Tecnológicos; Estrategigrama; Sustentabilidade e Ambientes de inovação.

ABSTRACT:

Today’s society needs increasingly strategic thinking about its resources. Defining its strategic positioning is a way to expand the possibilities of minimizing the negative impacts of its innovation actions. This thought makes room for a more complex view of reality and consequently on forms of actions intended to maintain the sustainability of the planet. The United Nations (UN) established four dimensions to sustainable development, namely Social Dimension, Economic Dimension, Ecological Dimension and Worldview. These dimensions represent an extension of the vision of many companies that usually value only the Economic Dimension. Regardless of classification, innovations mean changes, so their impact may or may not be aligned with sustainability in its various dimensions. Innovation has Science Parks as an important habitat. These places can, by nature, play an important role as intermediate bodies in networking because they promote several relationship initiatives between actors and, therefore, can be strong inducers of sustainable actions. Science Parks use the tool Strategigram developed by the International Association of Science Parks (IASP), which allows the generation of a graph with seven strategic axes: location (urban x non-urban); use of technology (creator or user of technology); encourage businesses or develop existing businesses; focus on a business or business diversity; choose local businesses or attract companies from other regions/countries; how to evaluate the use of networking and networking in the parks; how to choose the best management model and governance of these technology centers. This tool allows the comparison of the main positioning choices between international and national parks, making it easier to understand their strategic choices. This study aims to add an 8th axis able to point the dimension of sustainability as a way to verify the presence of this dimension in the Park performance. By following the methodology developed by IASP, the article presents issues to be included in the questionnaire developed and used worldwide based on a review of articles and books on the subject so as to support the proposal. The answers found will directly contribute to the construction of the 8th axis here called Sustainability, thus enabling reflection on the role of Science Parks in this area and creating a way to define actions that may contribute to the different dimensions of sustainability. The relationship between innovation and sustainability is a growing interest in corporate agenda regarding the economic dimension; however, there is a strong gap that can be expanded into other dimensions already mentioned here. For this purpose, the proposal uses the Technology Park as an important vector for the construction of Sustainability.
Keywords: Science Park; Strategigram; Innovation; Sustainability

1. Introdução

A transição para um novo paradigma de
desenvolvimento e os seus desafios são
acompanhados de inovações no terreno da
s ideias e nas consciências das sociedades,
incluindo a formulação de novas propostas de
desenvolvimento. (BUARQUE, 2002)

A sociedade atual necessita de um pensamento cada vez mais estratégico sobre os seus recursos. Definir o seu posicionamento estratégico é uma forma de ampliar as possibilidades de minimizar os impactos negativos de suas ações de inovação. Este pensamento abre espaço para uma visão mais complexa sobre a realidade e consequentemente sobre formas de atuação que visem manter a sustentabilidade do planeta.

A sustentabilidade não é a razão para a existência da maioria das empresas. A justificativa mais presente é a produção de valor para acionistas, logo a perspectiva de atuação não visa diretamente o benefício da sociedade. Mesmo sendo esta uma visão desagradável, é a realidade (WERBACH, 2010). Por outro lado, Desenvolvimento Sustentável é uma forma de perceber que as pessoas/empresas que estão vivas/atuando hoje são responsáveis pelas gerações que irão viver e atuar aqui no futuro (PAULA, 2008).

Uma proposta para ampliar ou incorporar uma visão mais sustentável e utilizar a “linha de resultado operacional”, termo cunhado pelo consultor John Elkington, a qual representa os custos e valores associados aos negócios, rompendo com a simples utilização de parâmetros contábeis tradicionais, é mostrada na figura 1 (WERBACH, 2010).

Figura 1 - Linha de resultado operacional sustentável

Fonte: Werbach (2010, p. 104)

A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu dimensões para atuação sustentável, são elas: Dimensão Social; Dimensão Econômica; Dimensão Ecológica; Visão de Mundo. Essas dimensões representam uma ampliação da visão de muitas empresas, as quais valorizam apenas a Dimensão Econômica.

As inovações, independentemente da sua classificação, representam mudanças. Logo, os seus impactos podem estar alinhados ou não com a sustentabilidade nas suas diferentes dimensões. A inovação tem os Parques Tecnológicos como um importante habitat. Estes locais, por sua natureza, podem exercer um papel de intermediários em redes pois eles promovem diversas ações de relacionamento entre os atores. Podem, assim, ser fortes indutores de ações sustentáveis.

Os parques tecnológicos utilizam a ferramenta estrategigrama desenvolvida pelo International Association of Science Parks (IASP), a qual permite a geração de um gráfico com sete eixos: Localização (urbana x não-urbana); Uso da tecnologia (criadora ou utilizadora de tecnologia); Fomentar empresas ou desenvolver empresas existentes; Foco num ramo empresarial ou diversidade; Escolher empresas locais ou atrair empresas de outras regiões/países; Como avaliar a utilização do trabalho em rede e networking nos parques; Como escolher o melhor modelo de gestão e governança desses centros tecnológicos. Essa ferramenta permite a comparação das principais escolhas de posicionamento entre parques nacionais e internacionais, facilitando a compreensão de suas escolhas estratégicas.  As transações devem escolher os melhores caminhos nas decisões, buscando evitar elevados custos internos, efetivando uma verdadeira governança das ações desenvolvidas e consequentemente reduzindo os seus custos (BARNEY e CLARK, 2007).

O presente estudo tem por objetivo adicionar um 8º eixo, capaz de apontar a dimensão da sustentabilidade como forma de verificar a presença desta dimensão na atuação do Parque. Seguindo a metodologia desenvolvida pelo IASP o artigo apresenta perguntas a serem inseridas no questionário desenvolvido e utilizado mundialmente, a partir de uma revisão de artigos e livros sobre o tema, como forma de fundamentar a proposta. As respostas apontadas contribuirão diretamente para a construção do 8º eixo, aqui denominado Sustentabilidade. Possibilitando, assim, refletir sobre o papel dos Parques Tecnológicos nesta área, e criando uma forma de definir ações que possam contribuir para as diferentes dimensões da Sustentabilidade.

A relação entre inovação e sustentabilidade tem uma crescente participação na agenda corporativa no que tange a dimensão econômica. Mas existe uma forte lacuna que pode ser ampliada nas outras dimensões já apontadas aqui. Para este motivo a proposta usa o Parque Tecnológico como um importante vetor para a construção da Sustentabilidade.  O desenvolvimento e a difusão de inovações tecnológicas precisam fortemente de ações de governança, capazes de contribuírem socialmente e de forma sustentável com os ambientes onde estão inseridos (HILMAN et al., 2011).

Assim o Parque pode contribuir para a criação de “empreendedores sustentáveis”, indivíduos identificados com as necessidades envolvidas nas diferentes dimensões da Sustentabilidade (BOSZCZOWSKI e TEIXEIRA, 2009). É possível obter taxas superiores de inovação quando uma estratégia combinada com uma inserção tecnológica está presente na organização, desde que esta a reconheça como um fator crítico para o crescimento sustentável (BERMAN e HAGAN, 2006).

O presente trabalho objetiva mostrar que é importante ir além dos Registros, dos Depósitos de Patentes, ou seja, da preocupação exagerada com a Propriedade Intelectual e com os resultados financeiros advindo destes produtos. A sustentabilidade, olhada nesta perspectiva, normalmente está associada a uma dimensão ou visão apenas financeira, e pouco portadora de futuro. É necessário incentivar a capacidade das novas gerações para atuarem fortemente na economia criativa, reconhecendo nela a portabilidade para ações sustentáveis, (FLORIDA, 2005).

2. Parques Tecnológicos e o papel da Universidade

A implantação física dos Parques não pode ser vista como principal ação dos atores. A complexidade exige um esforço muito grande entre todas as partes envolvidas. Caso o Governo não esteja em sintonia o Parque, não serão atingidos os objetivos.  A criação de um Parque Tecnológico depende de várias questões referentes às Políticas Públicas adotadas pelo país. Quando é adotado um modelo linear de inovação, o país assume o risco de afastar-se da proposta mais ampla de um Parque. Num estudo feito no Cazaquistão sobre a atuação dos Parques é reforçada a necessidade de uma gestão planejada e profissional, pois, quando a visão está mais baseada no modelo linear de inovação, a inserção e parcerias com as empresas passa a ser menor, abrindo espaço na parte final do processo, de forma a impossibilitar o atendimento dos objetivos principais de um Parque. Devido a estes e outros fatores, estes locais atuam em alguns momentos quase como incubadoras, (RADOSEVIC e MYRZAKHMET, 2009).

Os Parques Tecnológicos são habitats da inovação, ressaltam a importância da gestão, são ambientes empresariais que buscam catalisar a criatividade e a inovação, desenvolvendo toda a região (BELLAVISTA e SANZ, 2009).

A universidade enfrenta três principais crises: a de hegemonia, a de legitimidade e a institucional. Estas crises obrigam a construção de um significativo esforço de mudança dos principais atores para tentar buscar uma melhor forma de definir o seu papel na sociedade, (SANTOS, 2005).

O ensino pode ser visto como uma prática social por concretizar a interação entre professores e alunos, refletindo os contextos sociais aos quais pertencem (SACRISTÁN, 1995). Desta forma, o modelo de Parque Tecnológico abre espaço para repensar as práticas de ensino, tornando-se um terreno de exercício profissional do docente, onde o professor precisa afirmar constantemente seu papel, sendo constante a necessidade de construir e paralelamente e repensar a própria identidade. Este é um processo promissor para os docentes, possibilitando um repensar como profissionais (ARROYO, 2011).

O conhecimento nestes ambientes representam uma ordem sócio-científica onde uma visão centrada no conhecimento passa a contribuir diretamente para a sustentabilidade das ações realizadas, permitindo uma visão de mundo centrada no conhecimento (CHOUDHURY e  KORVIN, 2001).

A universidade necessita criar espaços de fortalecimento do ambiente local para que verdadeiramente os benefícios do apoio aos ambientes de inovação possam refletir na permanência dos casos de sucesso, seja do pesquisador ou da empresa, criando as condições para que os mesmos consigam manter as suas operações na região, que o crescimento não seja a motivação para ocupar outro espaço, permitindo que o local possa verdadeiramente se apropriar dos benefícios (FLORIDA, 2005).

3. Estrategigrama

A ferramenta Estrategigrama foi desenvolvida por Luiz Sanz, diretor do IASP. Encontra-se disponível no site da associação, utiliza acesso Web e usa a tecnologia Flash. Ela pode ter diferentes usos, permitindo várias ações estratégicas, desde a concepção, etapa de instalação e outros níveis de maturação. A sua utilização torna possível efetuar comparações de um parque com centenas de outros que adotem o uso da metodologia e do software, (MAZZAROLO, 2010) e (VIKSTRÖM, 2006).

Estrategigrama é uma metodologia que permite compreender e comparar as estratégias adotadas em Parques Tecnológicos, possibilitando repensar o planejamento e valorizar a possibilidade de ações de correção (MAZZAROLO, 2010). A ferramenta contém sete eixos fundamentais na avaliação de Parques Tecnológicos:

  1. Localização (urbana x não-urbana);
  2. Uso da tecnologia (criadora ou utilizadora de tecnologia);
  3. Fomentar empresas ou desenvolver empresas existentes;
  4. Foco num ramo empresarial ou diversidade;
  5. Escolher empresas locais ou atrair empresas de outras regiões/países;
  6. Como avaliar a utilização do trabalho em rede e networking nos parques;
  7. Como escolher o melhor modelo de gestão e governança desses centros tecnológicos.

O posicionamento nos eixos é obtido através de um índice que varia entre 10 e -10, conforme figura 2, onde cada item é determinado por esses indicadores, mediante respostas obtidas no questionário da metodologia disponível a partir da ferramenta. Isso permite aos parques tecnológicos construírem estratégias e planejarem mudanças a médio e longo prazo, até mesmo reposicionando fortemente as suas maneiras de atuação (MAZZAROLO, 2010) e (VIKSTRÖM, 2006). Conforme pode ser observado na figura 2, diferentes Parques com diferentes estratégias de atuação podem ser comparados e as suas concepções estratégicas sobre a forma de agir nestes ambientes de inovação podem ser visualizadas. O diferencial dessa ferramenta, para outras utilizadas habitualmente na gestão, é que ela permite compreender desde a concepção, a estrutura de instalação, inclusive os níveis de maturação do Parque Tecnológico.

Figura 2 - Localização e entorno dos Parques Internacionais

Fonte: Ribeiro et. al (2012)

Eixo da Sustentabilidade

A proposta de um novo eixo focado na sustentabilidade busca complementar as ações já desenvolvidas e muitas vezes representadas mas que, por forte caráter de intangibilidade, a sua visualização torna-se mais complexa. Desta forma, as premissas para a criação desse eixo serão destacadas abaixo, evidenciando a necessidade da sua existência na Ferramenta.

A ONU preconiza a visão de três dimensões como mencionado anteriormente: Dimensão Social; Dimensão Econômica e Dimensão Ecológica. A visão acima pode ser ampliada pelo Quadro 1.

Categoria

Descrição

Variável específica a ser rastreada

Social

Ações que podem afetar todos os membros da sociedade; a categoria inclui pobreza, violência, injustiça, educação, saúde pública, direitos trabalhistas e humanos

Acidentes por hora de trabalho

Grau de segurança do produto

Práticas contra a corrupção

Desempenho transparente na rotulagem, determinado por agências externas de classificação

Econômica

Ações que afetam o modo como os seres humanos satisfazem suas necessidades básicas; a categoria inclui oportunidade de emprego, acesso à saúde e moradia segura

Crescimento do faturamento

Percentagem de lucro

Faturamento por empregado

Reservas para despesas futuras

Satisfação do cliente

Ambiental

Ações que afetam a ecologia; a categoria inclui mudança climática, preservação de recursos naturais, pegada de carbono e conservação

Gasto de material usado (em peso ou volume) por dólar de faturamento

Percentagem de insumos reciclados

Gasto de energia por unidade de faturamento

Percentagem da oferta de produtos ou serviços adaptados ao local

Energia poupada por medidas de conservação e eficiência

Gasto total de água

Percentagem e volume total de água tratada e reutilizada

Emissão total direta e indireta de gases de efeito estufa por peso

Efeitos negativos sobre a biodiversidade

Custos anuais de transportes

Cultural

Ações por meio das quais as comunidades manifestam sua identidade e preservam e cultivam suas tradições e costumes de geração em geração

Visitas a fornecedores

Horas de treinamento e desenvolvimento por empregado por ano

Percentagem de produtos adquiridos dentro de um raio de 800km a partir das instalações

Retenção de funcionários

Percentagem de funcionários cobertos por excelentes planos de saúde

Diversidade cultural da força de trabalho

Tradições claramente culturais

Quadro 1 - Exemplos de variáveis específicas para rastrear a sustentabilidade
Fonte: WERBACH (p. 106, 2010)

O quadro 1, permite ampliar a importância dos indicadores, como forma de monitorar ações estratégicas para a gestão. Mesmo sendo reconhecida e utilizada mundialmente esta visão, ela já sofreu diferentes críticas que proporcionaram melhorias e ampliaram a forma de ver a Sustentabilidade. Por exemplo, autores como Enrique Leff e Ignacy Sachs, adotados para embasar a proposta aqui desenvolvida, apresentam outras perspectivas. 

Para Ignacy Sachs a Sustentabilidade tem 8 dimensões:

  1. Social: Preocupada com a homogeneidade social e a qualidade de vida;
  2. Cultural: Global mas local, agir sem esquecer as tradições locais em detrimento da necessidade da inovação;
  3. Ecológica: Preservar os recursos não renováveis e ampliar a produção de recursos renováveis;
  4. Ambiental: Manter e melhorar os ecossistemas naturais;
  5. Territorial: Melhoria do ambiente urbano, reduzindo disparidades inter-regionais e protegendo áreas ecologicamente frágeis;
  6. Econômica: Desenvolvimento Econômico Sustentável com níveis racionais de autonomia para a pesquisa e científica e tecnológica;
  7. Política (Nacional): Capacidade para gerenciar um projeto nacional com empreendedores com coesão social;
  8. Política (Internacional): Inserção e condução de ações objetivando evitar guerras e garantir a paz e a cooperação Internacional.

Para Enrique Leff as dimensões são:

  1. Dimensão econômica - Propõe uma mudança, baseada na produtividade ecotecnológica sustentável para cada região, de caráter endógeno, rompendo com a forma de atuação econômica atual;
  2. Dimensão social - Busca atender a qualidade de vida, através de novas estratégicas capazes de incrementar a produção que atenda às necessidades básicas da população;
  3. Dimensão ambiental - Consiste em estratégias sustentáveis para recuperar e conservar áreas importantes em ecossistemas a partir da premissa de escolher as melhores formas de uso e apropriação da biodiversidade;
  4. Dimensão institucional - Capacidade de instrumentalizar a desconcentração econômica, prioritariamente através da distribuição das atividades produtivas, buscando como pilar o desenvolvimento rural de forma integrada, sob uma ordem ecológica de utilização do espaço urbano e rural;
  5. Dimensão cultural - Substituição dos direitos humanos tradicionais pelos direitos culturais e éticos, de forma a ultrapassar os direitos jurídicos de igualdade entre os homens, fortalecendo a cooperação, a participação, a divisão familiar e social.

Já o presente trabalho pretende evitar possíveis falhas para empreendimentos inovadores conforme mostrado no Quadro 2.

Quadro 2 - Principais falhas de mercado relacionadas com a proteção do ambiente

Falhas

Exemplo

Ação

Número de agentes económicos insuficientes para garantir um mecanismo concorrencial

Concorrência imperfeita nos mercados ambientais

Política de concorrência.

Efeitos externos

Sobre exploração dos recursos naturais

Internalização dos custos sociais.

Distribuição de rendimentos e de riqueza de forma não equitativa

Dimensão social do desenvolvimento sustentável

Políticas sociais.

Risco moral e seleção adversa, condições de incerteza

Informação assimétrica

Seguros

Velocidade de ajustamento demasiado lenta

Evolução do preço do petróleo

Tributação.

Incentivo ao investimento socialmente sub ótimo (mercados míopes?)

Investimentos «verdes»

Política tecnológica.

Mercados ausentes

Biodiversidade, fauna, flora, etc.

Criação de novos mercados.

Fonte: Bürgenmeier (p. 79, 2005)

Líderes Sustentáveis:

O papel dos gestores como Líderes Sustentáveis é cada vez mais importante. Nesta perspectiva a visão das suas atribuições deve ser repensada. Entre as possíveis atribuições para um Líder Sustentável, seguem abaixo uma lista com as vinte mais importantes, construída a partir do Pacto Global da ONU (VOLTOLINI, 2011, p.68-69):

  1. Comandar a elaboração de uma estratégia consistente de sustentabilidade para a empresa, buscando a cooperação entre as diferentes áreas e as questões/causas mais relevantes para o negócio e o seu setor de atuação; fazer com que o conceito permeie a cultura organizacional, transformando-o em um valor corporativo relevante para a definição da identidade da companhia;
  2. Garantir uma coordenação entre as diversas funções corporativas da empresa com o objetivo de maximizar o desempenho em sustentabilidade;
  3. Com base em uma análise permanente de cenários, avaliar riscos e oportunidades relacionados com questões de sustentabilidade para a empresa e o setor;
  4. Assegurar que a empresa identifique, de forma clara, todos os impactos socioambientais negativos causados por suas operações; cuidar para minimizá-los ou eliminá-los;
  5. Definir políticas específicas e cenários para o futuro, estabelecendo metas mensuráveis de curto, médio e longo prazos;
  6. Envolver e educar funcionários e colaboradores, adotando programas de treinamento e desenvolvimento, e também sistemas sólidos de incentivo;
  7. Realizar monitoramento e mensuração de desempenho baseados em métricas específicas para, por exemplo, gestão de água, energia, emissões de gases de efeito estufa, poluição, efluentes e biodiversidade;
  8. Responsabilizar, pela execução da estratégia, áreas corporativas essenciais, como compras, marketing, recursos humanos, jurídico e relações institucionais, assegurando que nenhuma delas atue em conflito com os compromissos e objetivos de sustentabilidade da empresa;
  9. Alinhar estratégias, metas e estruturas de incentivo de todas as unidades operacionais com os objetivos e compromissos de sustentabilidade da empresa;
  10. Analisar cada elo da cadeia de valor, mapeando impactos, riscos e oportunidades;
  11. Envolver fornecedores na estratégia de sustentabilidade; sensibilizar, treinar e capacitar parceiros de negócio; monitorar o quanto estão alinhados com os compromissos e práticas da empresa;
  12. Rever processos e modos de produzir; desenvolver produtos e serviços ou conceber modelos de negócio que contribuam para promover a sustentabilidade;
  13. Realizar investimento social alinhado com as competências da empresa e o contexto operacional de seu negócio, enquadrando-o em sua estratégia de sustentabilidade; atuar sempre em sintonia com as políticas públicas correlacionadas para garantir maior eficácia nos resultados;
  14. Integrar campanhas e iniciativas públicas, assumindo, em suas comunicações (palestras, aulas magnas, artigos), compromissos com as questões mais relevantes de sustentabilidade;
  15. Coordenar esforços com outras organizações - de primeiro, segundo e terceiro setor - a fim de potencializar investimentos e não anular outras iniciativas de desenvolvimento sustentável;
  16. Cooperar com organizações do mesmo, setor e com outras partes interessadas em iniciativas que ajudem a encontrar respostas para desafios comuns, local ou globalmente, com ênfase naquelas que venham a ampliar o impacto positivo sobre a cadeia de valor;
  17. Fazer o papel de mentor para empresas do mesmo setor ou de outro setor que ainda se encontrem em estágio inicial de implantação de práticas sustentáveis; na condição de referência em liderança em sustentabilidade, facilitar o acesso a informações por parte daqueles que desejam conhecer a política da empresa;
  18. Comunicar, de forma ampla, os resultados e a evolução de suas práticas de sustentabilidade, visando prestar contas às partes interessadas e à sociedade, e também estimular o comportamento sustentável de outras empresas;
  19. Envolver e educar os stakeholders para que conheçam as políticas da empresa e participem, a seu modo; de sua consecução no dia a dia;
  20. Capitanear o processo de mudança, inserir as dimensões social e ambiental na noção de sucesso empresarial, superar a inércia e o apego aos modelos consagrados, estabelecendo uma visão e uma missão de sustentabilidade.

4. Metodologia

Inicialmente construiu-se um referencial teórico; após, foram apresentados alguns posicionamentos sobre as dimensões da Sustentabilidade a dois gestores; então, foram-lhes solicitadas perguntas que pudessem posicionar a atuação do parque, no que foi denominado neste trabalho de oitavo eixo da ferramenta Estrategigrama. Os resultados estão apresentados a seguir.

5. Resultados

Para reformular a ferramenta Estrategigrama, no que diz respeito as dimensões citadas acima, são necessários construir perguntas capazes de compreender a ação do Parque nessas perspectivas. Para tal, são apresentadas a seguir algumas possíveis perguntas, ou direcionamentos, que devem estar presentes no instrumento, para criar o 8º eixo focado na Sustentabilidade, como resultado do trabalho realizado com os gestores de empresas citados, que atuam sob o olhar da sustentabilidade.

Dimensão Social

Qual a realidade da distribuição de renda na região?

Existe pleno emprego na Região?

Qual a qualidade de vida na Região onde o Parque atua?

Os principais recursos e serviços sociais são ofertados na Região?

Dimensão Cultural

Existe incentivo para ações da economia criativa e o respeito a tradição local?

O Parque incentiva ações de inovações com tecnologias locais para problemas locais?

Existe um plano de ações sociais para o local onde o Parque está inserido?

Dimensão Ecológica

Existe alguma exigência de preservação do potencial dos recursos não renováveis nas ações das empresas residentes?

O Parque incentiva a construção de propostas de inovação para recursos renováveis?

Dimensão Ambiental

O Parque exige contrapartida de preservação de ambientes possivelmente degradados nos projetos de inovação desenvolvidos no ambiente?

Existe captação de recursos para manter ou melhorar os ecossistemas naturais presentes?

Dimensão Territorial

Existe uma política de incentivo para a melhoria do ambiente urbano?

O Parque possui um plano para minimizar as disparidades inter-regionais?

Existe a adoção de práticas e ações para áreas consideradas ecologicamente frágeis?

Dimensão Econômica

Existe autonomia na pesquisa científica e tecnológica?

Qual a preocupação com a modernização dos instrumentos de produção?

Dimensão  Política (Nacional)

Existe um plano de integração dos empreendedores instalados com ações sociais com outros Parques?

Existe participação do Parque na construção e fóruns sobre Políticas Públicas no nível Regional e Nacional?

Existe representatividade dos Gestores do Parque nas associações que representam o Parque?

Dimensão Política (Internacional)

Qual o nível de cooperação do Parque com empreendedores e Parques de outros países?

Como são comercializadas as tecnologias sociais desenvolvidas no ambiente do Parque?

Qual o nível de inserção do Parque no cenário internacional globalizado?

Existe participação em organismos internacionais da área?

6. Considerações finais

Essas perguntas foram apresentadas aos gestores de empresas que possuem experiência nesta área de atuação, e estão preocupados com as questões da sustentabilidade. O resultado da investigação, portanto, não é conclusivo.

Respeitando o caráter qualitativo da pesquisa, ele é apenas parte de um processo de reflexão sobre o papel da gestão nas empresas modernas, abrindo espaço para ampliar a sua visão nos ambientes de inovação, principalmente nos Parques Científicos e Tecnológicos.

A relação entre inovação e sustentabilidade tem uma crescente participação na agenda corporativa no que tange a dimensão econômica, mas existe uma forte lacuna que pode ser ampliada nas outras dimensões já apontadas aqui. Para este motivo a proposta usa o Parque Tecnológico como um importante vetor para a construção da Sustentabilidade.

A existência de um oitavo eixo contribui diretamente para uma condução mais estratégica das ações dos diferentes atores. Não só dos gestores do Parque, mas também das empresas nele instaladas. Para as empresas residentes é fundamental perceber estes objetivos desde o início da atuação no Parque. Só assim será possível os seus alinhamentos, desde as primeiras etapas, permitindo que os projetos e pesquisas desenvolvidos possam facilmente buscar na sustentabilidade uma forma constante de pensar o futuro da empresa e da região na qual estão inseridos. É importante que elas repensem os seus papeis como produtores, mas também como agressores ou destruidores de áreas e recursos não renováveis, provocando a ampliação da degradação atual com que as empresas convivem atualmente.

Desta forma, o Parque passa a ocupar um papel não mais meramente de Gestor de Processo de Ciência & Tecnologia, e passa a conduzir ações decisivas no fomento de Políticas Públicas que visem a Sustentabilidade em diferentes níveis, sendo um elemento comprometido com o Planejamento Estratégico da Região e do País.

Não é preconizado aqui uma simples pressão sobre o governo, e sim apresentados mecanismos que possam apontar para uma participação ativa e representativa de agências de fomento, grupos de debate em diferentes Ministérios Nacionais, integração em conselhos, comissões e comitês ligados à área de atuação do Parque.

Outro ponto importante é a dificuldade das Universidades Brasileiras em hoje receberem investimentos. Uma boa integração com as empresas via Parque pode garantir recursos financeiros mediante a projetos e participação de alunos e pesquisadores. Porém, a falta de visão estratégica e sustentável pode comprometer o sucesso desses tipos de empreendimentos, se permitir que e projetos possam degradar de alguma forma o ambiente, de forma e não se tornarem sustentáveis no futuro.

Torna-se necessário estar presente em todos os atores econômicos envolvidos a compreensão dos benefícios decorrentes do progresso de toda a humanidade, acima ou no mesmo nível dos problemas locais. Logo, deve existir constante preocupação com os conceitos de sustentabilidade, mantendo-a no centro das atenções, de modo a ampliar verdadeiramente o capital humano e social.

7. Limitações do estudo

A metodologia foi apoiada nos autores Ignacy Sachs e Enrique Leff. Seria interessante ampliá-la com a visão de outros autores, mesmo tendo sido considerada a relevância desses dois. Sempre existem lacunas que podem ou foram exploradas por outros trabalhos, interligando a ferramenta a moderna visão de novos conceitos. Desta forma, a continuidade nessa dimensão é fundamental para ampliar a qualidade da proposta apresentada. Outro ponto a ser mencionado é a necessidade da aplicação do instrumento, e a definição das variáveis que envolvem o estudo, em ambientes que já adotam, de forma madura, ações ligadas a sustentabilidade, tanto na sua forma de gestão como de construção de ações estratégicas.

Referências

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BUARQUE, S. C. Construindo o desenvolvimento local sustentável: metodologia e planejamento. Rio de Janeiro: Garamond, 2002.

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1.  Doutorando em Educação em Ciências, Universidade Federal do Rio Grande, Autor correspondiente: lucianomacielribeiro@gmail.com
2.  Doutora,  Universidade Federal do Rio Grande- RS, e-mail: silviacb@furg.br
3. Doutor, Universidade Federal do Rio Grande, - RS, e-mail: dmtnldf@furg.br


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 35) Año 2016

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