Espacios. Vol. 37 (Nº 34) Año 2016. Pág. 1

Hibridismo cultural e identidades nas organizações: uma possibilidade analítica

Cultural hybridity and identity in organizations: an analytical ability

Ciro José TABET 1; Rosalia Beber de SOUZA 2; Odemir Vieira BAETA 3

Recibido: 16/06/16 • Aprobado: 18/07/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Proposta metodológica - ADC

3. Considerações finais

Referências


RESUMO:

Ressaltamos a importância do processo de formação de identidades em construção e constante reconstrução no ambiente organizacional. Neste contexto, apresentamos a abordagem metodológica da Análise Crítica do Discurso como possibilidade de análise por meio das práticas sociais e discursivas de todos os atores sociais envolvidos para a melhor compreensão do processo de formação das múltiplas identidades nas instituições contemporâneas. Esta concepção tem como base a pós-modernidade que abarca diferentes maneiras de enxergar o sujeito frente a estrutura já estabelecida. Neste contexto apresenta-se o hibridismo cultural presente na era da globalização e seus efeitos na transancionalização dos mercados simbólicos e na expansão e homogeneização cultural e deslocamento das identidades.
Palavras-chave: identidade organizacional; estudos culturais; análise crítica do discurso.

ABSTRACT:

The aim of this paper is discuss the importance of identity formation process in constant construction and reconstruction in the organizational environment. In this context, we present the methodological approach of Critical Discourse Analysis as possibility of analysis by means of social and discursive practices of all actors involved to better understand the process of formation of multiple identities in contemporary institutions. This design is based on the post-modernity that embraces different ways of looking at the subject opposite the structure already established. Thus, presents the cultural hybridity present in the era of globalization and its effects on trans nationalization symbolic markets and the expansion and cultural homogenization and shifting identities.
Keywords: organizational identity; cultural studies; critical discourse analysis.

1. Introdução

Consideramos importantes os estudos relativos às construções de identidades dos atores no âmbito organizacional e compartilhamos da crença de que toda identidade é construída “na e através da língua” (SARUP apud CAVALCANTI, 2006). Entendendo que o discurso é o uso da linguagem como prática social, faz-se necessário estudá-lo de forma crítica para percebermos como contribui para a construção de identidades sociais, sistemas de conhecimento e crenças (FAIRCLOUGH apud CAVALCANTI, 2006).  Desta forma, podemos investigar como as instituições, através dos gêneros discursivos, produzem, legitimam ou naturalizam seus valores e suas relações de poder.

Neste estudo, propomos a utilização da Análise de Discurso Crítica de Fairclough (2003), especificamente do significado identificacional, para discutir as identidades construídas pelas instituições. De acordo com Kobena Mercer apud Hall (2005, p.9) “a identidade somente se torna uma questão quando está em crise, quando algo que se supõe como fixo, coerente e estável é deslocado pela experiência da dúvida e da incerteza”. Neste sentido, torna-se relevante pesquisar as mudanças sociais e históricas que contribuíram para a “crise” das identidades atuais, e como essas novas identidades podem ser percebidas pelo discurso analisado, pois como afirma Fairclough (2008), o discurso contribui para a construção do que é referido como “identidades sociais” e “posições de sujeito”.

Os pesquisadores Souza e Carrieri (2012), por exemplo, procuraram integrar uma visão da identidade organizacional à prática cotidiana e discursiva por meio de uma articulação da ADC, das racionalidades discutidas por Guerreiro Ramos, e das contribuições de Arendt, Certeau, Foucault e Fairclough visando uma integração conceitual. Contudo, tal estudo não foca nas contribuições metodológicas da Análise de Discurso Crítica, especialmente, do significado identificacional. Assim, nossa proposta aqui buscar apresentar uma possibilidade de análise das práticas discursivas dentro da organização, por meio do significado identificacional do discurso.

Desta forma, procuramos apontar como o significado identificacional do discurso pode contribuir para a compreensão de construções identitárias nas organizações a partir dos discursos construídos pelos atores envolvidos.

1.1. A Identidade na Pós-modernidade          

O conceito de identidade vem sendo vastamente discutido em diversas áreas do conhecimento. Uma das justificativas para isso está relacionada ao declínio de velhas identidades e a (re)construção de outras. Para Hall (2005, p.7), a chamada “crise de identidade” é parte de um processo mais amplo de mudança, que desloca estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abala referências que serviam de ancoragem aos indivíduos.

As sociedades modernas são sociedades de mudanças constantes, rápidas e permanentes. Para Anthony Giddens, (2002), esta é a principal distinção entre as sociedades “tradicionais” e as “modernas”: nas sociedades tradicionais, o passado é venerado e os símbolos são valorizados porque contêm e perpetuam a experiência de gerações. A tradição é um meio de lidar com o tempo e o espaço, inserindo qualquer atividade ou experiência particular na continuidade do passado, presente e futuro, os quais, por sua vez, são estruturados por práticas sociais recorrentes (GIDDENS, 2002). Ao contrário, a modernidade não é definida apenas como a experiência de convivência com a mudança rápida, abrangente e contínua, mas é uma forma reflexiva sobre a vida.

Hall (2005) faz uma retomada histórica sobre as sociedades e distingue três concepções de identidade correspondente a períodos importantes: sujeito do Iluminismo, sujeito sociológico e sujeito pós-moderno.

Na primeira concepção, o autor argumenta que o sujeito estava baseado num conceito de pessoa unificada, cujo centro consistia numa formação interior concebida assim que nascesse e a acompanharia ao longo de sua existência. Esse centro essencial seria a identidade de uma pessoa.

Na segunda, a identidade é formada na “interação” entre o eu e a sociedade. Apesar de haver uma “essência” interior, esta é formada e modificada numa troca contínua com o mundo externo. Ao mesmo tempo em que internalizamos os significados e valores dos objetos do mundo, também projetamos “nós mesmos” nessas identidades. A identidade, segundo Hall (2005, p. 12) costura (ou, usando uma metáfora, “sutura”) o sujeito à estrutura. Solidifica tanto os sujeitos quanto o mundo de que fazem parte.

Já no sujeito pós-moderno, a identidade torna-se fragmentada, composta não apenas de uma, mas de várias identidades, muitas contraditórias e não resolvidas. As identidades estanques que compunham o mundo externo e que asseguravam nossas necessidades subjetivas, entraram em colapso como resultado de mudanças estruturais e institucionais. O processo de construção de identidade torna-se uma “celebração móvel”: formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam. É definida historicamente e não biologicamente. O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos (HALL, 2005, p.13).

David Harvey, como apontado por Hall (2005), caracteriza a modernidade como um processo sem-fim de rupturas e fragmentações internas no seu próprio interior. Já Ernest Laclau conforme citado por Hall (2005) utiliza o conceito de “deslocamento”: uma estrutura deslocada é aquela cujo centro é deslocado, não sendo substituído por outro, mas por uma pluralidade de centros de poder. Diferentemente do que se pensava, a sociedade não é um todo unificado, constituindo uma totalidade, mas está constantemente sendo “descentralizada”. Ainda segundo Laclau, na modernidade tardia, as sociedades são caracterizadas pela “diferença”; são atravessadas por diferentes divisões e antagonismos sociais que produzem diferentes “posições de sujeito”- identidades. Apesar dos diferentes elementos e identidades destas sociedades não serem unificados, eles podem, em algumas circunstâncias, ser conjuntamente articuladas, por isso não se desintegram totalmente.

Hall (2005) descreve cinco grandes avanços na teoria social e nas ciências humanas que tiveram importantes efeitos nos descentramentos do sujeito cartesiano.

O primeiro descentramento importante está relacionado às tradições do pensamento marxista: a afirmação de que “os homens fazem a história, mas apenas sob as condições que lhes são dadas” (HALL, 2005, p.34).  Os indivíduos então não poderiam ser os autores ou os agentes da história uma vez que só podem agir com base em condições históricas criadas por outros e sob as quais eles nasceram, utilizando os recursos materiais e de cultura que foram fornecidas por gerações anteriores.

O segundo, vem da descoberta do inconsciente por Freud, pois, nesta teoria, nossas identidades, nossa sexualidade e a estrutura de nossos desejos são formadas com base em processos psíquicos e simbólicos do inconsciente, que funciona com uma “lógica” diferente da identidade única. A imagem do eu como inteiro e unificado é algo que a criança aprende gradualmente, parcialmente e com grande dificuldade. Não se desenvolve de forma natural do interior do ser da criança, mas é formada em relação com os outros, nas complexas negociações psíquicas inconscientes, as poderosas fantasias que tem das figuras paternas e maternas. A formação do eu no “olhar” do outro, segundo Lacan e discutido por Hall (2005), inicia a relação da criança com os sistemas simbólicos fora dela mesma e é, desta forma, sua entrada em vários sistemas de representação simbólica – língua, cultura, diferença sexual. A identidade é realmente algo formado, ao longo do tempo, através de processos inconscientes, e não algo inato, existente na consciência no momento do nascimento. Ela permanece sempre incompleta e está sempre em processo, “sendo formada”.

O terceiro, está associado com o trabalho de Ferdinand de Saussure. Para este linguista, nós não somos, em nenhum sentido, os “autores” das afirmações que fazemos ou dos significados que expressamos na língua. A língua é um sistema social, preexistente a nós e não um sistema individual. Falar uma língua não significa somente expressar nossos pensamentos mais interiores e originais; significa também ativar significados já existentes em nossa língua e em nossos sistemas culturais. O significado é inerentemente instável: ele procura o fechamento (a identidade), mas ele é constantemente perturbado (pela diferença).

O quarto, ocorre no trabalho de Michel Foucault - este filósofo e historiador produz uma “genealogia do sujeito moderno” em que destaca um novo tipo de poder: “poder disciplinar” que tem como objetivo manter “as vidas, as atividades, o trabalho, as infelicidades e os prazeres do indivíduo”, assim como sua saúde física e moral, suas práticas sexuais e sua vida familiar, com o controle e disciplina baseados no poder de regimes administrativos. Seu objetivo básico consiste em produzir um ser humano que possa ser tratado como um corpo dócil.

O quinto, é o impacto do feminismo, tanto como uma crítica teórica quanto um movimento social. Apesar de outras reivindicações importantes, a relação mais direta com o descentramento do sujeito cartesiano está em questionar: a clássica distinção entre o “dentro” e o “fora”, o “privado” e o “público” contestando politicamente e apresentando novas arenas de vida social: família, sexualidade, trabalho doméstico, cuidado com crianças, dentre outros. Politizou também a subjetividade, a identidade e o processo de identificação como homens/mulheres, mães/pais, filhos/filhas permitindo expandir novas identidades sexuais e de gênero. Questionou também a noção de que homens e mulheres são parte de uma mesma Humanidade e que isto é o deveria se levar em conta substituindo a questão da “diferença sexual”.

1.2. Hibridismo Cultural

A globalização, além do enfraquecimento da identidade cultural e do descentramento do sujeito, produz, ainda, uma resistência às mudanças impostas por ela, reforçando a identidade nacional e estimulando uma volta ao purismo pregado pelos fundamentalistas.

Frente a essas duas realidades (o declínio da cultura nacional e a resistência à ação globalizadora), surge uma terceira via decorrente da mistura produzida por essa desfronteirização. Essas fusões, a que Canclini (1997, p.30) chamou “misturas interculturais”, contribuem para o surgimento do novo e favorecem uma troca de informações em maior escala que aquelas ocorridas em outros tempos, gerando formações conhecidas como híbridas. O autor considera que não houve extinção e sim movimentações como uma nova maneira de composição, valorização e até mesmo de desvalorização de culturas locais na globalização, movimentações essas que acentuam, e às vezes alteram, alguns processos de hibridação. É possível perceber a libertação, ainda da ação de homogeneização cultural na atualidade, libertação essa traduzida na riqueza da cultura resultante do hibridismo. Podemos ressaltar também a importância de se construírem princípios que nos ajudem a conhecer melhor o mundo atual (repleto de diferenças) e de se aceitar o que cada um tem a ganhar ou perder com o processo da hibridação.

Vamos então, a partir do exposto, conceituar hibridismo e situá-lo no contexto cultural e social da pós-modernidade. Canclini conceitua hibridação como “processos socioculturais nos quais estruturas ou práticas discretas, que existiam de forma separada, se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas” (CANCLINI, 1997:XIX). Estas estruturas ou práticas discretas mencionadas pelo autor são resultantes de misturas que já aconteceram e não são mais fontes puras por causa da combinação facilitada pela diluição das fronteiras culturais que a globalização vem impondo. O autor fala da intensificação da interculturalidade no mundo “que favorece misturas maiores e mais diversificadas” (CANCLINI, 1997, p.33). Mas não para por aí, acrescentando que o conceito de hibridação abrange áreas diversas que recebem outras denominações como: mestiçagem (fusões raciais ou étnicas), sincretismo (crenças) e crioulização (misturas interculturais) e “outras misturas modernas entre: o artesanal e o industrial, o culto e o popular, o escrito e o visual nas mensagens midiáticas” (CANCLINI, 1997, p.27). Benjamin Abdala Júnior, no livro Margens da Cultura, considera que o mundo se criouliza, “se tornando cada vez mais mestiço, mesclado, abrindo-se cada vez mais sem preconceito para a mistura, para a consideração das formulações híbridas” (JUNIOR, 2004, p.18). Isso favorece também o entendimento entre pessoas e povos em função do hibridismo. Completa falando das possibilidades de coexistência entre as contradições em que uma não anule a outra; “ou então se feche nas perspectivas da guetização ou dos fundamentalismos” (ABDALA JUNIOR, 2004, p.19). Para Canclini há três processos fundamentais para se explicar a hibridação os quais ele denomina como descoleção; desterritorialização dos bens simbólicos e a expansão dos gêneros impuros.

A descoleção pode ser chamada de final das linhas divisórias entre a arte culta e o popular. Assim, o que antes era organizado e hierarquizado em grupos separados, agora é mesclado num entrecruzamento constante.

A desterritorialização é a relocalização territorial relativa, parcial das velhas e novas produções simbólicas a partir da concomitante perda da relação natural da cultura com os territórios geográficos e sociais, como se pode perceber à leitura de Canclini (CANCLINI, 1997, p.309).

Isso estimula, por exemplo, o que Canclini chamou transnacionalização dos mercados simbólicos, caracterizada pelo aumento da produção cinematográfica brasileira que passa a ocupar maior espaço nas telas do país que se torna, ao mesmo tempo, um ativo exportador de telenovelas a partir da ativação de um mercado de bens simbólicos. (CANCLINI, 1997, p. 311). Há também a intensificação das migrações que ocorrem na fronteira dos Estados Unidos com o México que aumentam o fluxo não só de circulação cultural, mas também do subemprego daqueles que deixaram sua terra para sobreviver. E, assim, não é difícil se verificar que hoje, nos Estados Unidos, existem mais de 250 rádios e televisão em castelhano e há também um aumento na procura de literatura e música latino-americanas. Assim, a terra natal, a cidade onde passaram a infância para muitos latino-americanos deixa de ser o local onde hoje passam a produzir artisticamente, uma vez que se trata de um lugar de misturas, em que se cruzam os lugares onde realmente vivem ou viveram (CANCLINI, 1997, p.327).

Já a expansão de gêneros impuros é decorrente do uso da tecnologia que possibilita uma “apropriação múltipla de patrimônios culturais abrindo possibilidades originais de experimentação e comunicação, com usos democratizadores, como se observa na utilização de vídeo feito por alguns movimentos populares” (CANCLINI, 1997, p 308). Isso se reflete na promoção da criatividade e da inovação e não quer dizer que essa maior circulação cultural promovida pela tecnologia tenha contribuído para eliminar as diferenças. O que vemos é uma “reorganização dos cenários culturais e cruzamentos constantes das identidades” (CANCLINI, 1997, p.309) com reflexo direto nessa expansão multicultural.

O antropólogo Stuart Hall acrescenta alguns detalhes ao falar das influências externas às quais se expõem as culturas nacionais, enfraquecendo-as em função desse bombardeamento imposto pela globalização, cuja consequência são identidades desvinculadas de um tempo, lugar, da história, e, ainda de uma tradição específica, constituindo uma grande, por assim dizer, fusão de situações e caracteres díspares, para se produzir novas formas de cultura. (HALL, 2005, p. 91).

A globalização, ao invés de promover o aparecimento de uma só cultura, suscita também a expressão das diferenças, do exótico. Um arquivo cultural mundial entra em nossas casas onde o confrontamos com nossa cultura. Dessa forma, o processo da globalização parece não estar produzindo uma uniformidade cultural, mas, antes, parece estar revelando-nos a diversidade e o sincretismo; os híbridos parecem mais regras que exceção. Vemos aí um descentramento da cultura e uma complexidade cultural no mundo pós-moderno cujo reflexo é o surgimento de novas tradições sincréticas ou mescladas sob uma só identidade. Paralelo a isso, o fundamentalismo cresce como contraforça a toda essa movimentação globalizadora na pós-modernidade protegendo suas raízes e tradições num movimento de oclusão cultural.

No atual contexto cultural pós-moderno as identidades culturais estão sendo deslocadas, com toda esta movimentação de influências, fusões, descoleções e desterritorialização. Primeiro, percebe-se uma desintegração das identidades nacionais pela tendência da homogeneização cultural da globalização; em seguida, verifica-se resistência à globalização com o fortalecimento das identidades nacionais; e, por último, percebe-se o declínio dessas últimas, fazendo surgir “novas identidades – híbridas” que estão tomando seu lugar. Stuart Hall, em sua análise sobre o tema, busca avaliar três situações diversas, a saber: a) se estaria ocorrendo uma crise com a identidade cultural; b) em que consistiria tal crise; c) e qual seria a direção da mesma em momento pós-moderno.

Sobre a homogeneização cultural que a globalização “impõe” ao mundo atual, devemos destacar o avanço tecnológico e a expressiva migração que possibilita uma troca constante de informações, além do deslocamento das identidades culturais nacionais que pode ser notado através, por exemplo, da migração do artesanato do campo para a cidade, e através dos filmes, vídeos e canções de um determinado povo que chega a outro. Existem mais pessoas vivendo no meio de culturas diferentes ou nas fronteiras delas. O resultado é a perda da exclusividade cultural territorial o que, necessariamente, não precisa ser visto apenas como traço negativo, uma vez que há comunicação e, consequente conhecimento trocado entre as diversas culturas.

Entretanto é possível se dizer que a homogeneização cultural proposta pela globalização suscita também um sentimento de defesa da cultural nacional, de reconstrução de identidades purificadas para se restaurar a tradição, frente ao hibridismo e à diversidade.

Segundo Stuart Hall, alguns analistas veem nesse revival do nacionalismo e do absolutismo étnico e religioso “uma reação ao caráter forçado da modernização ocidental” (HALL, 2005, p.94). Outros analistas, em interpretação diversa para essa defesa do nacional, sugerem que seria uma resposta das sociedades pós-coloniais e do Terceiro Mundo ao fato de terem sido excluídos da globalização imposta pelos ‘ricos ocidentais’. Temos ainda minorias que fazem valer suas culturas há muito reprimidas como os bascos, os catalães, os irlandeses e os escoceses.

Sobre a terceira consequência contraditória do deslocamento das identidades culturais, Hall fala do declínio das velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, e que estão fazendo surgir “novas identidades, fragmentando o indivíduo moderno” (HALL, 2005, p.7). Isto se deve principalmente aos avanços tecnológicos no mundo atual as quais facilitam este trâmite cultural além fronteira, possibilitado pela globalização.

Se o mundo globalizado impõe uma fragmentação da identidade do sujeito pós-moderno em função da diluição das fronteiras culturais, aquelas forças contrárias à fragmentação supra tendem a se fortalecer com o intuito de resguardar suas tradições. Temos, de um lado, os defensores da identidade cultural homogênea, do nacionalismo, e até do que se conhece como fundamentalismo e, do outro, a fusão das culturas, a hibridação e, consequentemente, o aparecimento de novas culturas.

1.3. A Identidade nas organizações

Carrieri (2001) afirma que na busca por sua identidade, na interação com o ambiente, os indivíduos, grupos e organizações são induzidos a introjetarem símbolos, valores, signos, dentre outros, que vão confirmando ou reforçando uma cultura e identidade que muitas vezes não os reflete. A construção identitária nas organizações estaria baseada num processo dialético de interpretação, reconhecimento, legitimação de outros agentes indivíduos, grupos, dispersos no macro ambiente social e institucional.

A despeito das várias abordagens existentes para o estudo de identidade, concebemos aqui a identidade como uma realização social, considerando a identidade como produto em mudança contínua, num processo constante de ajuste e reconstrução.

Através do exercício de diversos papéis, os indivíduos constroem ativamente suas identidades. Da mesma forma, os papéis ligados ao mundo do trabalho compõem uma face da estrutura identitária dos indivíduos.

A identidade é construída por grupos e processos de identificação e esquema corporal, para Bohoslavsky (1995) apud Santos (2011, p.56), é “o sentimento de quem se é e quem não se é; quem se quer ser e quem se crê que não deva ser; quem se pode ser e quem não se pode ser; quem se permite ser e quem não se permite ser, da totalidade das quais surgirá”.

 Goffman (1982) apud Carvalho (2012), para compreender a identidade, destaca a importância da noção de unicidade, que é o que permite o desempenho de um papel estruturado, rotineiro e padronizado na organização social. Essa ideia de unicidade é um conjunto de marcas que diferenciam a pessoa de todos os outros indivíduos.

No entanto, alguns autores consideram e argumentam que a noção do eu unitário é um mito e que essa concepção pressupõe um eu que experimenta um outro mundo independentemente do mundo social e do discurso. Para Foucault, os sujeitos são constituídos no discurso. Para ele não há uma posição única a partir da qual os sujeitos podem ser apoderados, mas apenas posições discursivas específicas dentro de formações de poder e/ou conhecimento.

O filósofo Charles Taylor (2000) apud Oliveira (2006) propôs que a formação da identidade é fundamentalmente relacional e crucialmente depende de relações dialéticas com outras pessoas. Para ele, símbolos culturais como, linguagens, arte, os gestos e o amor, implicitamente moldam as identidades. E essas identidades são formadas em diálogo com outros, em acordo ou esforço com o reconhecimento deles sobre nós. Nesse conceito, a nossas relações com os outros carregam imensa responsabilidade na construção do eu pessoal.

Assim como afirma Hall (2004) a identidade está intensamente envolvida no processo de representação. Dessa forma, "a moldagem e remoldagem de relações espaço-tempo no interior de diferentes sistemas de representação tem efeitos profundos sobre a forma como as identidades são localizadas e representadas" (HALL, 2004, p. 71).

Adotando nesse trabalho, uma concepção de identidade em constante construção e, assumindo que essa construção ocorre, através dos discursos, discorreremos a seguir sobre a proposta teórica e metodológica da Análise de Discurso Crítica de Norman Fairclough.

2. Proposta metodológica - ADC

 A Análise de Discurso Crítica proposta por Fairclough (2003) é definida como um campo transdisciplinar uma vez que se utiliza de outros estudos visando à unidade do conhecimento e procurando uma interação máxima com outras disciplinas respeitando, contudo, suas individualidades, sem transformá-las numa única disciplina e colaborando para um saber comum, o mais completo possível. Para o autor, a transdisciplinaridade é uma abordagem científica que visa à unidade do conhecimento, procurando estimular uma nova compreensão da realidade articulando elementos que passam entre, além, através das disciplinas, buscando a compreensão da complexidade do fenômeno discursivo. Neste sentido, os estudos discursivos críticos, que têm como objetivo intervir na ordem discursiva expandindo a consciência crítica dos falantes, proporcionando-lhes ferramentas para análise dos discursos, utilizam-se de outros estudos como os de Foucault (1997, 2003) e Bakhtin (1997, 2002).

Baseado em Bhaskar, Fairclough (2003, p. 209) apresenta um arcabouço cuja análise do discurso tenha início de um problema social com aspectos semióticos para posterior identificação de obstáculos que devem ser superados para ‘resolução’ do problema. Desta maneira, as análises devem ser feitas em três vertentes: análise da conjuntura, análise da prática particular e análise do discurso. O arcabouço propõe ainda a reflexão sobre a análise, que, como em toda pesquisa crítica, deve questionar sua eficácia e contribuição para as questões levantadas.

Fairclough (2003, p. 21) define textos como “partes dos eventos sociais, uma maneira das pessoas poderem agir e interagir no curso dos eventos sociais através da fala ou da escrita”. Como elementos dos eventos sociais, os textos têm efeitos causais que podem ser mais imediatos (podemos propiciar mudanças através de aprendizado ou conhecimento adquirido pelos textos, mudanças de crenças, atitudes ou valores); e também menos imediatos (através de anúncios ou comerciais, os textos podem contribuir para que as pessoas se identifiquem como os consumidores em seus grupos identitários). Os textos podem, como exemplifica Fairclough (2003, p.8), iniciar guerras, mudar posturas educacionais ou relações dentro das organizações.

Segundo Fairclough (2003), os efeitos podem incluir mudanças no mundo material, que podem ser, desde mudanças urbanas (em projetos arquitetônicos) a mudanças comportamentais (atitudes das pessoas, suas ações, relações sociais). Contudo, essas mudanças não são simplesmente mecânicas. Os textos têm efeitos causais sem que, necessariamente, tenham efeitos regulares porque muitos outros fatores no contexto interferem em como um tipo de texto particular surtirá efeito. Além disso, um texto particular poderá ter uma variedade de efeitos para uma instância em diferentes interpretações. Um dos principais efeitos causais dos textos são os efeitos ideológicos, ou seja “os efeitos de inculcação e sustentação ou mudanças ideológicas” (FAIRCLOUGH, 2003, p.9). 

Neste sentido, as ideologias são definidas por Fairclough (2003, p.9) como “representações dos aspectos do mundo que podem contribuir para estabelecer, manter e mudar relações sociais de poder, dominação e exploração”.  O conceito de ideologia adotado por Fairclough é o mesmo defendido por Thompson (2009), que concebe a ideologia como uma forma de poder, em contraste com outras definições que a conceituam como: posições, atitudes, valores e perspectivas de um grupo social sem a relacionar com o poder e a dominação exercida entre estes grupos.  

Como afirma Henry (2002), as análises discursivas críticas da linguagem e dos textos propiciam uma ferramenta para desconstruir ideologias criadas pela mídia ou outros grupos de elite e para identificar e definir relações de poder social, econômico e histórico entre grupos dominantes e subordinados.

Define também a ADC como uma multidisciplinar aproximação do uso da linguagem e comunicação nos contextos de produção cultural. Ela estuda como o poder social, a dominação e desqualificação são produzidas, reproduzidas e resistidas através dos textos e falas nas arenas políticas e sociais da sociedade.

O foco da ADC não é apenas na estrutura do texto, mas sim na relação entre a estrutura e o contexto social, o que, para Henry (2002) propicia ao analista um terreno amplo de análise.

Desta maneira, Fairclough (2001), propõe três dimensões para a ADC: 1. a descrição do texto, 2. interpretação dos processos de interação e suas relações no texto, 3. explicação de como o processo de interação se associa à ação social.

Como defende Kress e Van Leeuwen (2006), a ADC tem uma agenda política que a distingue dos demais analistas de discurso e linguistas textuais. O que motiva os analistas críticos é o desejo de produzir discursos contrários ou de oposição  que apontem caminhos alternativos de interpretação, entendimento e interação com o mundo.

Sendo a ADC um empreendimento transdisciplinar, conforme concepção de discurso adotada por Fairclough (2001, p.276), envolve interesse nas propriedades dos textos, na produção, na distribuição e em seu consumo; além dos processos sócio cognitivos de produção e interpretação dos textos, na prática social em várias instituições, no relacionamento da prática social com as relações de poder e nos projetos hegemônicos no nível social.

Considerando a proposta de Fairclough (2003), em que o autor dialoga com as macrofunções da linguagem de Halliday, temos três tipos de significado nos discursos: o acional, o identificacional e o representacional. Para o autor, então, os discursos ‘interagem’ nos eventos sociais através dos gêneros discursivos – significado acional -; representam o mundo – significado representacional -; constroem e negociam as identidades – significado identificacional.

Fairclough destaca, contudo, que uma análise do discurso deve englobar os três significados, mas, para fins metodológicos, faz essa separação a partir do que chama de ‘significados’.  Levando em consideração nosso propósito nesse gênero artigo, que é propor um estudo das identidades nos discursos sobre estudos culturais, vamos nos ater apenas no significado identificacional.

2.1. Significado identificacional/estilo

Da perspectiva sociológica, toda identidade é construída social e culturalmente. De acordo com Castells (2004, p.23), essa construção vale-se da matéria-prima fornecida pela história, geografia, biologia, instituições produtivas e reprodutivas, pela memória coletiva e por fantasias pessoais, pelos aparatos de poder e revelações de cunho religioso. Os indivíduos, os grupos sociais e sociedades processam todo esse material e reorganizam seu significado. Entende-se aqui, por esse conceito, a fonte do significado e experiência de um povo. O autor formula a hipótese de que quem constrói a identidade coletiva e para quê ela é construída são em grande medida os determinantes do conteúdo simbólico dessa identidade, assim como de seu significado para aqueles que com ela se identificam ou dela se excluem. Ainda segundo esse autor, a construção de identidade sempre ocorre em contexto marcado por relações de poder e, dessa forma, propõe uma distinção entre três maneiras e origens de sua construção: identidade legitimadora: introduzida pelas instituições dominantes da sociedade no intuito de expandir e racionalizar sua dominação aos atores sociais; identidade de resistência: criada por atores que se encontram em posições/condições desvalorizadas e/ou estigmatizadas, constituindo o foco de resistência; identidade de projeto: quando os atores sociais constroem uma nova identidade redefinindo sua posição na sociedade.

No entanto, tais identidades podem se reconstruir de forma que as de resistência possam se tornar de projeto e até mesmo se tornar legitimadoras. Esse conceito vem sendo amplamente discutido em diversas áreas de conhecimento. Uma das justificativas para isso está relacionada ao declínio de velhas identidades e a (re)construção de outras. Para Hall (2005, p.7), na perspectiva dos Estudos Culturais, a chamada “crise de identidade” é parte de um processo mais amplo de mudança, que desloca estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abala referências que serviam de ancoragem aos indivíduos.

As sociedades modernas são, portanto, sociedades de mudanças constantes, rápidas e permanentes. Para Anthony Giddens (1991), esta é a principal distinção entre as sociedades “tradicionais” e as “modernas”: nas sociedades tradicionais, o passado é venerado e os símbolos são valorizados porque contêm e perpetuam a experiência de gerações. A tradição é um meio de lidar com o tempo e o espaço, inserindo qualquer atividade ou experiência particular na continuidade do passado, presente e futuro, os quais, por sua vez, são estruturados por práticas sociais recorrentes (GIDDENS, 1991, p. 37).

Ao contrário, a modernidade não é definida apenas como a experiência de convivência com a mudança rápida, abrangente e contínua, mas é uma forma reflexiva sobre a vida.

O interesse da ADC é investigar de que maneira ocorre o embate discursivo entre as identidades. Há sempre uma luta entre as construções identitárias para se ocupar uma posição de privilégio cuja manutenção no status de “legitimadora” é sempre relativa com constantes instabilidades.

Embora haja uma força na estrutura, os sujeitos podem agir no sentido de transformá-la. Para Fairclough (2003, p. 160), as pessoas são involuntariamente posicionadas quando nascem e impossibilitadas de fazer escolhas – seriam “agentes primários” e passariam a ser “agentes incorporados” quando adquirem capacidade de transformar sua condição de forma a agir coletivamente atuando na mudança social, o que depende de sua reflexividade.

Dentre as categorias relacionadas ao significado identificacional, destacam-se a avaliação, a modalidade e a metáfora. A primeira diz respeito às afirmações avaliativas (que apresentam juízo de valor) que podem ser um atributo, um verbo, um advérbio ou um sinal de exclamação (FAIRCLOUGH, 2003) e está sujeita a uma escala de intensidade. A segunda, de acordo com Halliday (1985, p. 75), “é o julgamento do falante sobre as probabilidades ou obrigatoriedades envolvidas no que diz”.

Para Fairclough (2003, p.166), a relevância da modalidade para a construção discursiva de identidades é que “o quanto você se compromete é uma parte significativa do que você é – então escolhas de modalidade em textos podem ser vistas como parte do processo de texturização de auto-identidades”.

Quanto à metáfora, ela nos permite realçar ou encobrir alguns aspectos representados. Fairclough (2001, p. 241) registra que, quando significamos algo por meio de uma metáfora e não de outra, estamos construindo nossa realidade de uma maneira e não de outra, o que sugere filiação a uma maneira particular de representar aspectos do mundo e de identificá-los; daí a importância dessa categoria para a análise identificacional em textos.

Podemos sintetizar as categorias de análise do significado identificacional, conforme as três situações seguintes: a primeira trata da avaliação - percebida através das afirmações avaliativas apresentadas nos discursos, como exemplo temos os atributos, verbos, advérbios e sinal de exclamação. Contudo cabe destacar que essas afirmações estão sujeitas a uma escala de intensidade. A segunda da modalidade - detectada a partir dos julgamentos dos produtores dos discursos sobre a ‘obrigatoriedade’ de algo como modalidade epistêmica: valor de certeza, modalidade epistêmica: valor de certeza, possibilidade, probabilidade; modalidade deôntica: valores de obrigação ou permissão; modalidade apreciativa: exprime um juízo de valor (positivo ou negativo) acerca do que diz. Cabe destacar também, o quanto o produtor do discurso se compromete com o que diz, ‘texturiza’ as auto-identidades. A terceira é a metáfora - usada para realçar ou encobrir aspectos nos discursos como exemplo, mão de obra; fulano(a) é uma raposa; essa menina é uma flor; fulano(a) é um(a) gato(a); por fim cabe observar que ao optar por usar uma metáfora e não outra, o produtor do discurso constrói sua realidade de uma maneira e não de outra. Isso significa uma filiação de uma maneira de representar o mundo e se identificar com ele.

A partir das escolhas linguísticas feitas pelos sujeitos produtores dos discursos nas organizações, podemos perceber como constroem suas identidades. Ao optarem por algumas formas avaliativas e modalizadoras em seus discursos, poderemos afirmar se suas identidades estão pautadas numa identidade legitimadora, de projeto ou de resistência, por exemplo. É importante destacar que, enquanto sujeitos de linguagem, nos apropriamos, dentro de inúmeras possibilidades, de algumas expressões, metáforas, léxicos que nos mostram como avaliamos a nós mesmos e os outros a fim de construir/reconstruir nossas identidades.

3. Considerações finais

As formas com que se (re) produzem discursos possuem implicações gerenciais relevantes. A literatura clássica de administração, por exemplo, foi determinante para constituir discursos ideológicos tais como a orientação para o lucro, a alta performance, o posicionamento de mercado, dentre outros. Esses discursos tem o poder de influenciar uma grande quantidade de envolvidos na organização, além de legitimar a ação de certos tipos de atores, como cargos de alta gerência, consultores, e deslegitimar outros. Sabendo dessa importância, acreditamos na relevância de se compreender a construção desses discursos no âmbito organizacional para que possamos, através deles, entender também como ocorre a construção das identidades dos sujeitos que constituem as organizações.

Desta forma, nossa contribuição aqui se pauta em fornecer uma possibilidade para os estudos das identidades nos discursos organizacionais, utilizando como ferramenta teórica e metodológica faircloughiana da Análise de Discurso.

Referências

Carrieri, A., de Paula, A. P. P., & Davel, E. (2008). Identidade nas Organizações: múltipla? fluida? autônoma?. Organizações & Sociedade, 15(45).

Castells, M. (1999). O poder da identidade. São Paulo: Paz e Terra.

Fairclough, N. (2001). Discurso e mudança social. Brasília: UnB.

Fairclough, N. (2003). Analysing discourse: Textual analysis for social research. London: Psychology Press.

Hall, S. (2005). A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A.

Resende, V. M. & Ramalho, V. (2006). Análise de discurso crítica, São Paulo: Contexto.

Souza, M. M. P., & Carrieri, A. P. (2012). Identidades, práticas discursivas e os estudos organizacionais: uma proposta teórico-metodológica. Cadernos Ebape.BR, (1), 40-64.


1. Mestre em Música e graduado em Regência pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; técnico em violino e regente da Universidade Federal de Viçosa
2. Doutoranda em Administração pela Universidade Federal de Lavras; mestre em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Viçosa e especialista em Linguística e Literatura Comparada e professora assistente II da Universidade Federal de Viçosa. Email:   rosaliabeber@posgrad.ufla.br
3. Doutorando em Administração pela Universidade Federal de Lavras; mestre em Administração Pública pela Universidade Federal de Viçosa e especialista em Gestão Estratégica e professor assistente II da Universidade Federal de Viçosa odemirbaeta@posgrad.ufla.br


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 34) Año 2016

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