Espacios. Vol. 37 (Nº 33) Año 2016. Pág. 1

Uma discussão sobre trajetórias escolares na atualidade: Do ensino médio ao ensino superior

A discussion on paths in school news: From high school to higher education

Alexandre VANZUITA 1; Alessandro PEREIRA 2; Mara Regina ZLUHAN 3; Tânia Regina RAITZ 4

Recibido: 21/06/16 • Aprobado: 22/07/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Historicizando o conceito de transição

3. A transição do ensino médio para o ensino superior

4. Considerações Finais

Referências


RESUMO:

Este artigo busca discutir sobre a trajetória do ensino médio ao nível superior, destacando alguns elementos que envolvem essa transição. Diante da relevância da temática da transição ou inserção profissional, diversas instituições de Ensino Superior brasileiras e de países como Portugal, Espanha e Estados Unidos têm investido tempo, recursos e pesquisas na promoção de programas e ações destinados aos ingressantes, no que tange à orientação vocacional, definição do projeto de carreira, acompanhamento tutorial, apoio psicológico e psicopedagógico, no sentido de contribuir com a adaptação e permanência desses jovens nos cursos de graduação.
Palavras-chave: Transições acadêmicas; Ensino Médio; Ensino Superior; Jovens

ABSTRACT:

This article aims to discuss on the trajectory of high school to higher education, highlighting some elements involving this transition. Before the issue of the relevance of transition or vocational integration, a number of Brazilian higher education institutions and countries such as Portugal, Spain and the United States have invested time, resources and research to promote programs and actions to entrants, with regard to vocational guidance, setting career project, tutorial guidance, psychological and psycho-pedagogical support, in order to contribute to the adaptation and permanence of these young people in undergraduate courses.
Keywords: Academic Transitions; High School; Higher Education; Young

1. Introdução

O conceito de transição, por sua amplitude e multiplicidade, abarca diversas modalidades de mudanças e transformações, seja de cunho pessoal, social, familiar, escolar, religioso, entre outros. O ser humano, ao longo da sua vida, passa por inúmeros processos de transição, alguns de forma natural e pacífica, outros, envolvendo momentos de ansiedade e dúvidas.

O presente texto destaca os elementos que envolvem as transições escolares, principalmente no que se refere à passagem do Ensino Médio ao Ensino Superior. A compreensão deste processo é fundamental para que se analisem as causas, fatores e consequências que se constituem em elementos facilitares à aderência e continuidade dos jovens no seu processo de escolarização e profissionalização, bem como o reconhecimento das fragilidades presentes nesta etapa, para a partir desse diagnóstico, estabelecer-se propostas e projetos que possam auxiliar na redução dos índices de abandono e evasão nos primeiros anos dos cursos superiores.

 Muitos jovens, ao concluírem o Ensino Médio na escola pública, se deparam com um grande dilema: e agora, o que fazer? Alguns se inserem no mercado de trabalho, outros tentam profissionalizar-se por meio de cursos técnicos, há aqueles, ainda, que decidem permanecer um período sem compromissos e responsabilidades e há também aqueles que encontram no ingresso ao Ensino Superior uma forma de atingir uma colocação profissional adequada. Em qualquer uma das situações, estaremos diante de um processo de transição acadêmica e laboral.

As reflexões aqui engendradas colocam a necessidade de garantir acompanhamento da passagem da educação básica para o ensino superior, a fim de que os alunos permaneçam em seus objetivos de formação e encontrem apoio e sustentação institucionais.

2. Historicizando o conceito de transição

Como seres sociais vivemos inúmeros momentos de mudanças e transformações ao longo da vida. Essas transições são momentos necessários para o nosso desenvolvimento pessoal e social e exigem adaptações constantes, sendo afetadas pelas diferenças individuais, ou seja, pela própria personalidade do indivíduo. Raitz (2012) afirma que o termo transição deve ser considerado em sua imprecisão, abrangência e complexidade, pois pode referir-se a um tempo delimitado, concreto, com uma sucessão de mudanças de ambientes que são afetados, mas também a um tempo indeterminado com acontecimentos diversos, processos e experiências mais sutis, não tão esperadas ou inesperadas.

Cada processo de transição requer inúmeras decisões, que afetam as dimensões familiares, profissionais e sociais, provocando alterações pessoais e na forma de se relacionar com o mundo que nos cerca (Sacristan, 1997; Corominas; Isus, 1998; Figuera, 2003). Portanto, a transição necessita ser compreendida em sua multiplicidade para compreender sua amplitude:

As transições supõem uma transformação no modo de perceber a nossa vida. Implicam mudanças de caráter psicológico (variações emotivas, redefinição do autoconceito, nível diverso de autonomia [...], sociológico [...] mudança de status, novas relações interpessoais [...]. (Corominas; Isus,1998, p. 156)

Outra definição de transição é apresentada pelo grupo de pesquisa Trals (Transições Acadêmicas e Laborais) (2002, p. 2), da Universidade de Barcelona,

As transições incorporam três conceitos importantes: o conceito de mudança: toda a transição implica sair de um contexto e entrar em outro; o conceito de processo: durante a história do indivíduo, este está em constante transição; e o conceito de trajetória: a transição não é um processo irreversível e sim um processo que permite diferentes saídas ou vias aos que transitam.

Nem sempre os períodos de transição transcorrem de maneira equilibrada e tranquila, exigindo que a pessoa se adapte a uma nova situação, desenvolvendo recursos que não existiam anteriormente e que lhe permita buscar a auto-realização. No passado, os itinerários ou percursos individuais já estavam previamente definidos e, no caso dos jovens, os adultos prescreviam as normas sociais que definiam os caminhos a serem percorridos, desta forma, os períodos de transição já estavam definidos e já se podia antever todos os acontecimentos envolvidos nesse processo.

Na atualidade, esses itinerários são cada vez mais complexos, fragmentados e flexíveis, o que ocasiona numerosos momentos transitórios. No sistema educacional, dividido em séries, anos, ciclos, cursos, isso é muito frequente e requer do estudante diferentes formas de lidar com as novas estruturas. Se tomarmos como elemento de análise um simples período de aula, iremos perceber as transições que ocorrem, seja por meio da troca de professores, ou pelas diversas disciplinas que compõem a matriz curricular, os horários fragmentados, entre outros.

Assim, o percurso formativo exige a adaptação à diversas transições e na maioria dos casos, não se dá a devida atenção a adaptação dos alunos a cada um desses diferentes momentos, naturalizando-se esse processo. Conforme Sacristán (1997, p. 17) “´É uma experiência pessoal e social de destaque, não neutra, na qual nossa identidade se vê alterada e até sacudida”.

Com a obrigatoriedade do Ensino Médio e por meio das políticas públicas de democratização do Ensino Superior, os jovens permanecem por muito mais tempo na escola, modificando substancialmente o seu modo de relacionar-se com a instituição de ensino e interferindo na sua forma de ser aluno e nas decisões em relação ao seu futuro profissional e à continuidade dos estudos. Desta feita, deve-se garantir a continuidade horizontal e vertical entre os diferentes níveis de ensino, havendo coerência pedagógica e efetiva comunicação entre eles (Sacristan, 1997).

Durante longos períodos da história muitas das mazelas da educação recaíram sobre o aluno, que era considerado o maior culpado pelos fracassos que surgiam no seu percurso educativo. Aqueles que eram reprovados ou abandonavam o curso eram prontamente rotulados como maus alunos e incapazes de prosseguir na sua vida escolar ou acadêmica, por falta de esforço pessoal ou dedicação aos estudos.

No entanto, existem inúmeros outros elementos que devem ser analisados. Parte deles se refere a forma como o sistema de ensino está organizado e de como as instituições garantem o seu funcionamento cotidiano, levando em consideração todos os elementos norteadores da sua prática. Atualmente, as instituições de ensino progressivamente vêm preparando-se para receber seus alunos, conhecer o perfil dos mesmos, fazer as adequações pedagógicas necessárias, enfim, estar aberta a perceber suas fragilidades e buscar encaminhamentos que favoreçam a adesão deste público cada vez mais heterogêneo ao seu projeto educativo. Neste sentido, as instituições necessitam considerar que,

[...] as transições tratam de orientar e formar as pessoas para que adquiram a capacidade de abordar e viver novos desafios, valorizando suas potencialidades, a informação seletiva que se dispõe, facilitando as estratégias para as oportunidades que surgirem, para que desta forma se consiga flexibilizar os hábitos prévios e acomodá-los as demandas de desenvolvimento de seu projeto pessoal (Raitz, 2012, p.28).

A seguir apresentam-se reflexões acerca do processo de transição do ensino médio para o ensino superior.

3. A transição do ensino médio para o ensino superior

Ao referir-se sobre a transição do Ensino Médio para o Ensino Superior, o novo contexto educativo costuma apresentar uma série de desafios, tanto de ordem pessoal, como social, acadêmica, cultural e econômica. A saída da casa dos pais, a separação dos amigos da escola, a conciliação da jornada de trabalho com as exigências universitárias, as altas mensalidades, a escassez de recursos financeiros são fatores que costumam figurar entre as principais preocupações dos jovens ingressantes neste nível de ensino (Almeida; Cruz, 2010).

Diante da democratização do Ensino Superior no Brasil, houve uma significativa expansão e interiorização de instituições de ensino, bem como ampliação de novos cursos. O Censo da Educação Superior de 2013 aponta 2.391 (duas mil, trezentos e noventa e uma) instituições, atendendo 7.305.977 (sete milhões, trezentos e cinco mil e novecentos e setenta e sete) de alunos em cursos de graduação. A figura 1 abaixo demonstra a evolução do Ensino Superior Brasileiro no período entre 2003 e 2012:

Gráfico 1: Evolução das taxas de escolarização da educação Superior
Fonte: Censo da Educação Superior, 2013 (Brasil, 2014).

Com a aprovação do novo Plano Nacional de Educação – Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, essa expansão deve se consolidar progressivamente, tendo em vista que a meta 12 estabelece,

Elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% (cinquenta por cento) e a taxa líquida para 33% (trinta e três por cento) da população de 18 (dezoito) a 24 (vinte e quatro) anos, assegurada a qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, 40% (quarenta por cento) das novas matrículas, no segmento público (Brasil, 2015).

O ingresso, em determinadas situações pode iniciar de forma frágil, pois muitos alunos concluintes do Ensino Médio fazem suas escolhas de cursos superiores sem nenhuma orientação formal. As mesmas podem basear-se em leituras superficiais acerca das características gerais do curso pretendido, por influência da própria família, por facilidades de ingresso no mercado de trabalho, ou até mesmo, por determinado curso estar na “moda”, instituindo-se as condições para o insucesso, a inadaptação, a insatisfação e o abandono. Assim, as ações de orientação e acompanhamento no momento de transição e durante o primeiro ano do curso superior tornam-se essenciais para que o acadêmico se sinta seguro da sua escolha e motivado a prosseguir.

É comum que as instituições de ensino superior da rede privada promovam dias de orientação profissional, oficinas e palestras em suas dependências, para mostrar aos jovens as principais características dos cursos oferecidos. Algumas iniciativas contemplam os alunos do terceiro ano na própria unidade escolar, quando as instituições procuram as escolas para falar dos cursos, modalidades de financiamento, bolsas e distribuição de material impresso para divulgação. Esses momentos são caracterizados muito mais pelo marketing, do que pela preocupação de dar ao jovem uma efetiva preparação e conhecimento para o ingresso no ensino superior.

Quando se discute a transição para o Ensino Superior há que considerar-se a tradição seletiva e excludente que caracterizou a educação brasileira por muitas décadas, o que é evidenciado pelo Censo, quando demonstra a lacuna existente entre o número de ingressantes e o número de concluintes no Ensino Superior (Figura 2).

Figura 2: Número de matrículas, ingressos e concluintes de cursos de graduação para cada 10.000 habitantes,
segunda área geral do curso – OCDE 2010 – Brasil – 2010-2013

Fonte: Censo da Educação Superior, 2013

Raitz (2012), baseada em estudos do Trals, aponta a preocupação de várias pesquisas junto às universidades das mais diversas partes do mundo acerca da questão da repetência e do abandono, cuja finalidade é definir os fatores que favorecem a aderência do jovem à vida acadêmica e planejar ações de retenção e permanência. A autora ainda manifesta a falta de integração e diálogo entre os dois níveis educativos em termos de competências e resultados de aprendizagem, o que normalmente resulta em acusações sobre a ineficiência pedagógica do Ensino Médio, transferindo para esse todos os problemas que são diagnosticados no Ensino Superior (Raitz, 2012).

Diante do exposto, é patente a necessidade de pensar-se acerca de um consolidado atendimento de orientação vocacional e profissional nas escolas de Ensino Médio. Principalmente no ano que antecede a sua conclusão, atentando para a exploração das profissões e ocupações existentes, formas de seleção, hábitos de estudos, preparação para os exames de seleção, projeto profissional, tendências atuais do mercado de trabalho, bolsas de estudo e financiamento do Ensino Superior, entre outras questões que são fundamentais para que o aluno prossiga sua trajetória de trabalho ou de estudos mais seguro e confiante de suas escolhas.

Orientar o processo de transição é uma tarefa holística, abrangendo a pessoa em todas as suas facetas. Para fazer isso, mais do que ajudar, é aconselhar ou assistir, é mediar o contato com aspectos pessoais, com a nova situação. Orientar significa capacitar as pessoas para que tomem decisões adequadas. Cada transição é uma oportunidade para se adaptar à nova situação, sem perder de vista o seu projeto de vida e sua tendência para a auto-realização (Corominas; Isus, 1998, p. 158).

O Ensino Superior brasileiro convive atualmente com grandes desafios postos pelas fragilidades da Educação Básica. Os índices educacionais brasileiros, a saber a Prova Brasil, Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), Programme for International Student Assessmen (PISA) retratam as mazelas do ensino público e a defasagem de aprendizagem dos alunos brasileiros se comparados a outros países, inclusive da América Latina.

Permanecem ao longo da história da educação brasileira as abissais diferenças entre o ensino público e privado. A fim de minimizar essas diferenças, algumas alternativas de ingresso ao Ensino Superior já foram e, ainda estão sendo implementadas, como a pontuação a partir do resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e os programas de cotas universitárias, como políticas de ação afirmativa.

Embora a democratização do Ensino Superior tenha permitido que muitos jovens das camadas populares se insiram neste nível de ensino, ainda é grande o número deles que permanecem alheios a esse processo. Desta feita, quando se estabelece a prioridade de discussão sobre a transição para o Ensino Superior, é porque esse é o foco dessa reflexão analítica, porém, tem-se que deixar claro que a orientação para os alunos dos terceiros anos do Ensino Médio na rede pública, deve considerar também aqueles que pretendem permanecer somente no mercado de trabalho, ou prosseguir fazendo um curso técnico, de curta duração, para poder melhorar o seu salário e auxiliar nas despesas domésticas. Nestes distintos percursos,

[...] a universidade aparece como uma plataforma formativa que deve dar respostas aos diversos tipos de estudantes, com pontos de partida, motivações e dedicação à vida universitária diferente. Porém, tanto para um, como para os outros, a passagem pela universidade configurará uma parte importante do seu percurso formativo como profissional superior (Figuera Gazo, 1994, p. 92).

O ingresso dos alunos provenientes da rede pública ao Ensino Superior é crescente, exigindo que os órgãos gestores dessas instituições tenham um olhar atento acerca do atendimento aos mesmos. Os ingressantes necessitam conhecer esse novo contexto educativo, organizacional e social, suas regulamentações e funcionamento, a fim de poder executar seus projetos e estabelecer vínculos com a instituição, podendo perceber-se acolhido e seguro em suas escolhas. Esse processo demanda estudos e pesquisas por parte das universidades e, sobretudo, uma crescente busca por estratégias que auxiliem essa clientela a superar seus obstáculos iniciais, habilitando-os para que tenham oportunidade de buscar sua formação universitária.

O ajuste dos alunos ao Ensino Superior, não se dá somente em termos de competências e habilidades, mas no desenvolvimento de recursos cognitivos e atitudinais que forneçam as bases necessárias para o trabalho, o estudo, as diferentes metodologias e a organização de seu tempo. Os acadêmicos devem aprender a aprender, a partir da aprendizagem de competências para a mudança e o progresso e, para isso, é fundamental que os mecanismos de apoio educativo institucional estejam estruturados e em funcionamento (Raitz, 2012).

Se retrocedermos na história da educação superior brasileira, veremos que a mesma foi pensada para os filhos da elite. Podemos imaginar as discrepâncias que existem entre as práticas pedagógicas instituídas desde aquela época, para os alunos que estão chegando agora nas instituições, com um perfil completamente distinto.

Figuera Gazo (1994, 2003) relata que a passagem do Ensino Médio para o Ensino Superior pode se transformar numa experiência estressante e complexa, podendo provocar insegurança, redução da autoestima, aumento da carga de trabalho e alto nível de ansiedade. Inicialmente, é muito importante para o ingressante estabelecer novas relações sociais em um contexto que nem sempre favorece o processo de socialização, pela massificação das aulas, deslocamento entre diferentes turmas, disciplinas cursadas em outros cursos, entre outros elementos que podem dificultar a capacidade de estabelecer novas redes de suporte e que podem determinar em grande parte a sua adaptação à universidade.

Reiterando essas ideias, o Censo da Educação Superior de 2013 mostra que houve uma diminuição de 5,7% do número de estudantes concluintes nas faculdades brasileiras em relação ao ano anterior, principalmente na rede privada de ensino. Há que considerar-se que essa queda do número de concluintes ocorreu apesar do acréscimo de 3,8% no total de alunos matriculados em cursos de graduação em 2013 (Brasil, 2014).

Outra questão bastante recorrente no Ensino Superior que costuma se traduzir em desistência ou abandono, se refere a dificuldade para resolver/compreender determinada disciplina, que requer habilidades superiores aquelas que o acadêmico pensava ter. Quando as dificuldades se tornam frequentes e o aluno não consegue superá-las vem o desânimo e a frustação. Se não se levar em consideração o contexto educacional anterior e suas condições socioculturais, todas as cobranças recairão sobre às aptidões individuais do estudante e esses sentimentos poderão prejudicar diretamente esse momento de transição.

Por outro lado, há relatos de inúmeras experiências exitosas nesse sentido, quando as instituições encontram alternativas para dar ao aluno a possibilidade de recuperar o conteúdo e melhorar sua aprendizagem: aulas de nivelamento, grupos de estudo – tutorias, aulas on-line, aulas intensivas, entre outros recursos utilizados com a finalidade de aprimorar o processo de aprendizagem e fazer uma intervenção preventiva.

A própria organização do processo de ensino e aprendizagem, que costuma ser diversa daquela instituída no Ensino Médio, por requerer do acadêmico mais autonomia, iniciativa e atitude ativa diante das disciplinas pode se constituir em outro problema na vida acadêmica do aluno. A fim de ampliar o desenvolvimento das competências dos alunos, a prática pedagógica é, na maioria das vezes, assentada em metodologias ativas, resolução de problemas, projetos, entre outras metodologias que irão interferir também no modo de avaliação, que se mostra diagnóstico, contínuo e processual e não mais meramente somativo, no qual o aluno memorizava o conteúdo para reproduzi-lo no dia da prova, para logo em seguida, esquecê-lo por completo (Almeida; Cruz, 2010).

Os estereótipos universitários costumam se traduzir em outro impedimento para a permanência dos ingressantes, pois muitos constroem uma ideia romanceada do Ensino Superior, permeada por muitos amigos, festas, música, saída da casa dos pais, independência, autonomia e quando começa a surgir os compromissos, a dedicação, a carga excessiva de trabalhos e provas, o aluno se dá conta da verdadeira rotina acadêmica e se desmotiva para prosseguir.

As dificuldades econômicas e a incompatibilidade de horários com o trabalho também são fatores que costumam influenciar na permanência ou evasão. Para Figuera; Dorio; Forner (2003) o contexto exerce uma grande influência sobre o processo de transição, tanto o contexto educacional, quanto o das atividades extracurriculares e principalmente o familiar. A família assume um papel de destaque neste processo pelo suporte psicológico, bem como pelos aspectos financeiros e de facilitação de recursos. As autoras afirmam que pesquisas demonstram que os alunos que contam com um sólido apoio familiar evidenciam maior adequação ao meio acadêmico, maior facilidade de interação com seus pares e maior segurança para atingir os seus objetivos.

Em relação às famílias, o Brasil está assistindo a um cenário inédito no que tange a formação, pois muitos formandos dessas últimas décadas são os primeiros membros da sua família a conquistarem o diploma do Ensino Superior. Seus pais pertenciam a um momento histórico no qual a universidade era feita para poucos, geralmente provenientes de escolas particulares e filhos de famílias com condições de mantê-los nas capitais, locais onde estavam instaladas as universidades, tornando-se excluídos do processo de formação superior.

O papel das famílias na formação educacional dos filhos sempre teve um destaque em todas as discussões educacionais. Os modelos, as práticas e a vivência cultural se tornam importantes aliados na trajetória das crianças e jovens. De um modo geral, diz-se que as famílias que incentivam e participam da vida escolar dos seus filhos, estão contribuindo de maneira decisiva para o seu sucesso. Porém, há casos que fogem à regra, pois temos exemplos de alunos que não possuem o mínimo estímulo para prosseguir seus estudos, no entanto, por meio do esforço pessoal, conseguem chegar e manter-se no Ensino Superior. Na outra ponta, temos aqueles pais que, mesmo sem escolaridade, conseguem perceber a chance do filho estudar e o incentivam a buscar um diploma, vendo nele a possibilidade de execução de um sonho que ele próprio não conseguiu concretizar.

Os acadêmicos que não tiveram nenhuma referência de frequência ao Ensino Superior nas suas famílias podem conviver com um alto nível de expectativa em relação aos seus estudos, o que na prática, nem sempre se concretiza, levando a desmotivação ou desilusão. Diante dessas múltiplas transições vivenciadas pelos estudantes na atualidade, podemos afirmar que ficaram no passado o padrão linear de vida dos jovens, ou seja: escola, formação e mercado de trabalho.

Além das questões institucionais, a permanência do acadêmico será influenciada pelo papel da família, o seu compromisso pessoal para com a sua formação, as interações que realizará com os demais acadêmicos, a adequação da jornada de trabalho, a situação financeira, os fatores estruturais (origem social, estudos dos pais, localização geográfica; as razões para a escolha dos estudos ou de representação profissional (maturidade profissional); a percepção das potencialidades e deficiências da sua formação anterior; a importância da informação e orientação antes da transição para a faculdade como mecanismos de prevenção e fracasso ou frustração de expectativas, entre outros.

Outra transição importante no que diz respeito à juventude, refere-se a transição do Ensino Superior para o mercado de trabalho. Nem sempre o jovem egresso consegue estabelecer-se profissionalmente em sua área de atuação, no local almejado, com o salário sonhado, requerendo que ele altere seus planos, indo cursar outra graduação, matriculando-se em cursos de pós-graduação, aceitando um emprego com remuneração reduzida e muitas vezes em outra área, enfim, adaptando-se às exigências de uma situação contrária aquela esperada após a árdua jornada para a conquista do diploma do Ensino Superior.

Em relação à vida laboral, muitos jovens que hoje ingressam no Ensino Superior já encontram-se precocemente inseridos no mercado de trabalho, desenvolvendo inúmeras atividades e possuindo frágeis e transitórias ocupações, tornando as relações entre as trajetórias ocupacional e escolar conviventes. Somente a partir da década de 1990 materializa-se a universalização da Educação Básica no Brasil e, a partir daí, inicia-se um grande desafio quanto a obrigatoriedade e democratização do Ensino Médio. Desse dado decorre-se a transição para a vida adulta de crianças e jovens que são absorvidos pelo mercado de trabalho e veem seus sonhos e projetos serem triturados pelas engrenagens de uma sociedade capitalista (Guimarães, 2006).

Diante da instabilidade atual do mercado de trabalho brasileiro, há que considerar-se sobre as questões que permeiam o tema “inserção juvenil” no mundo laboral, já que a transitoriedade, a instabilidade dos empregos precários e a recorrência do desemprego afeta também o mundo adulto, dificultando ainda mais a empregabilidade dos jovens. Neste panorama, entende-se a necessidade das instituições de Ensino Superior ensinarem os jovens a planejar suas carreiras, para que os mesmos possam ter uma visão das oportunidades, exigências e qualificações requeridas pelo mercado de trabalho, a fim de que possam transformar-se em protagonistas dos seus projetos de carreira, minimizando as angústias e incertezas que costumam permear o fim da graduação.

4. Considerações Finais

Em síntese, concluímos que a inserção no mercado de trabalho, por sua vez possibilita outro importante processo transitório, que se refere ao desligamento da família e, por meio do seu rendimento, condições de tornar-se um provedor autônomo de si mesmo ou da própria família que virá a constituir (Guimarães, 2006). Desta forma, diante das dificuldades de inserção imediata no mercado de trabalho, os jovens acabam por buscar soluções alternativas para a situação de incerteza, como a continuação de seus estudos, a mudança de objetivos, o adiamento de projetos e, dessa forma, as instituições de ensino passam a ser “salas de espera”, uma vez que os jovens permanecem mais tempo nelas e escolhem uma formação complementar para evitar a desocupação (Almeida, 2011).

Diante da relevância da temática da transição, diversas instituições de Ensino Superior brasileiras e de países como Portugal, Espanha e Estados Unidos têm investido tempo, recursos e pesquisas na promoção de programas e ações destinados aos ingressantes, no que tange à orientação vocacional, definição do projeto de carreira, acompanhamento tutorial, apoio psicológico e psicopedagógico.

Outro aspecto a ser considerado refere-se à transição ao mercado de trabalho. As instituições voltam seus olhares para os programas de estágio, dentre outras atividades que implementem a inserção dos acadêmicos em atividades laborais. Muitos alunos do Ensino Superior já estão integrados ao mercado de trabalho, alguns em trabalhos desvinculados da sua formação, com o intuito de obter recursos financeiros para financiar seus estudos, outros desenvolvem atividades na sua área de formação e há aqueles que já exercem uma profissão, mas buscam na graduação o seu aperfeiçoamento. Para todas as situações, os cursos devem inserir em suas matrizes curriculares e ementas das disciplinas questões que contemplem os requisitos requeridos pelo mercado de trabalho, tais como flexibilidade, capacidade de adaptação às novas situações e uma vasta gama de funções produtivas cambiantes.

Diante das diferentes transições vivenciadas pelo jovem, pelas aflições e incertezas provocadas pelas mudanças, é necessário que possamos garantir o acompanhamento da passagem da educação básica para o ensino superior, a fim de que os alunos permaneçam coesos aos seus objetivos iniciais e que encontrem apoio e sustentação institucionais.

Referências

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1. Possui graduação em Educação Física pela Universidade do Planalto Catarinense - Uniplac (2005), especialização em Educação Física pela Uniplac (2005) e mestrado em Educação pela Uniplac (2007). É estudante de Programa de Pós-Graduação Doutorado em Educação pela Universidade do Vale do Itajaí - Univali (2014). Foi Tesoureiro Estadual do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte em Santa Catarina (gestão 2009-2011 e 2013-2015). Atualmente é Professor de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico na área da Educação Física do Instituto Federal Catarinense (IFC) - Campus Camboriú. Email: alexandre@ifc-camboriu.edu.br
2. Possui graduação em Educação Física pela Universidade Do Planalto Catarinense (2000), Especialização em psicopedagogia( FURB,2010) e Educação Ambiental (UNC, 2013), Mestrado em Educação (2013) UNIVALI e Doutorando em Educação UNIVALI (2015-2018). Professor de Educação Física na E.E.B. Dep. Altir Webber de Mello.
3. Possui graduação em Pegagogia - Orientação Educacional pela Fundação Educacional do Alto Vale do Itajaí (1986),Especialização em Orientação Educacional(1989) e Mestrado em Educação e Cultura pela Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC (2003). É estudante de Programa de Pós-Graduação Doutorado em Educação pela Universidade do Vale do Itajaí - Univali (2014). Atualmente é Orientadora Educacional - Secretaria de Estado da Educação de Santa Catarina e professora nos cursos de graduação e pós-graduação da Faculdade Avantis.

4. Possui graduação em Ciencias Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina (1986), mestrado em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (1994) e doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2003). Professora nos cursos de graduação e do Mestrado e Doutorado em Educação da Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI. É líder do grupo de pesquisa Educação e Trabalho no Mestrado em Educação da Univali. Desenvolveu estudos pós-doutorais na Universidade de Barcelona, na cidade de Barcelona-Espanha.


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Vol. 37 (Nº 33) Año 2016

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