Espacios. Vol. 37 (Nº 31) Año 2016. Pág. 16

Avaliação dos parâmetros físicos, químicos e ambientais em um córrego com presença de depósitos tecnogênicos

Evaluation of physical, chemical and environmental parameters in a stream with presence of tecnogenic deposits

Elias GRANATO-NETO 1; Cínthia Bruno de ABREU 2; Fábio de Oliveira NEVES 3; Lucas Andrigo MAURE 4; Karin de Paula REIS 5; Erika dos Santos SILVA 6; Breno Régis SANTOS 7

Recibido: 03/06/16 • Aprobado: 05/07/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Metodologia

3. Resultados e Discussão

4. Conclusão

Referências


RESUMO:

O conhecimento da integridade ambiental de qualquer ecossistema é um passo fundamental para implementação de programas preservação e recuperação do meio ambiente. Para manutenção da qualidade ambiental do ecossistema aquático é fundamental o conhecimento e controle das variáveis antropogênicas ou naturais que interferem em sua dinâmica. Neste trabalho, foram analisadas as características ambientais, químicas e físicas de um córrego, para compreender os efeitos causados por depósitos tecnogênicos. Por meio de um Protocolo de Avaliação Rápida, foi possível determinar qual o nível de alteração encontrado no córrego estudado, além de demonstrar a eficiência do método em avaliar os parâmetros de caráter físicos e biológicos de um ambiente. Observou-se a presença de depósito tecnogênico induzido no córrego, interferindo em sua fitofisionomia e resultando em alto valor de condutividade no corpo d’água, caráter levemente ácido e características de ambiente alterado, de acordo com o protocolo de avaliação.
Palavras-chave: parâmetros físicos, químicos e ambientais, depósitos tecnogênicos, Protocolo de Avaliação Rápida

ABSTRACT:

The Environmental, chemical and physical characteristics of a river were analyzed in order to understand the effects caused by techno genic wastes. To maintain the environmental quality of the aquatic ecosystem, the knowledge and the control of the variables that interfere in its dynamics are necessary, whether it is anthropogenic causes or natural transformations. Through a Rapid Assessment Protocol, was possible to determine the level of change found in the studied river, in addition to demonstrate the efficiency of the chosen method to evaluate the physical and biological habitat parameters. The Knowledge of environmental integrity of any ecosystem is a key step to implement programs of maintenance, preservation and restoration of the environment. According to the evaluated protocol, the presence of techno genic deposits in the river was observed, which interfered in its phytophysionomy, showing high value of conductivity in the water body, a slightly acidic property and changed environmental characteristics.
Keywords: physical, chemical and environmental parameters, tecnogênicos deposits, Quick Review Protocol

1. Introdução

O conjunto de alterações no meio geológico causado pelo homem é denominado geotecnogênese. Em decorrência da grande e crescente incidência desse fenômeno, o tema tem sido bastante discutido nas Geociências. Vários tipos de classificação de depósitos tecnogênicos têm sido propostos. Segundo Peloggia (1998), classificam-se em dois tipos: depósitos de primeira ordem e depósitos de segunda ordem, relacionados à ordem em que se deu a ação antrópica.

Para Gomes et al (2012), os depósitos de primeira ordem dividem-se em depósitos construídos (resultantes da ação direta do homem, como, por exemplo, os aterros), depósitos induzidos (resultantes das ações naturais modificadas indiretamente pela ação antrópica, por exemplo, o assoreamento de um rio) e depósitos modificados (como as áreas naturais contaminadas). Os primeiros podem ser divididos em materiais gárbicos, úrbicos, espólicos e dragados (FANNING e FANNING, 1989).

Há uma hipótese da possibilidade de aceitação do Tecnógeno como período geológico formal e unidade cronoestratigráfica (PELOGGIA, 2003). Para tanto, parte da revisão dos fundamentos históricos e do significado das classificações estratigráficas, e daí para a análise das principais restrições colocadas, em termos do significado do Homem como agente geológico, da limitação temporal, da preservação dos depósitos tecnogênicos e do impacto da ação humana sobre a biota.

Ao analisar a alteração da paisagem no Bairro de Eto, Japão, devido à implantação de aterros construídos a partir de depósitos de lixo, Santos e Nawakami (1998) salientaram que as diferentes formas de relevo criadas pelas sociedades atuais podem se comportar como sendo virtuais para a Geomorfologia natural e muito concreta para uma Geomorfologia extremamente tecnológica e antropológica. Essas formas de relevo criadas ou induzidas pela atividade humana são percebidas quando a intervenção urbana é significativa na área (FUJIMOTO, 2001).

Assim, é possível afirmar que a presença de depósitos tecnogênicos em leitos d’água interfere tanto em sua estrutura física quanto em suas comunidades e, portanto, o conhecimento da qualidade ambiental dos rios e das variáveis que agem sobre ele, seja de ambientes antropizados ou não, são fundamentais para manter a qualidade ambiental (RODRIGUES, MALAFAIA, CASTRO, 2013). Além disso, avaliar a qualidade física do habitat, por meio de observações visuais e de seus atributos, é um passo essencial em programas de biomonitoramento da qualidade da água (CALLISTO e MORENO, 2006).

O conhecimento da integridade ambiental da água é um passo inicial para planejar e implementar programas de manutenção, preservação e recuperação de ambientes por órgãos gestores de recursos naturais (RODRIGUES, MALAFAIA, CASTRO, 2013).  Tal pode ser avaliada juntamente com o entorno de ecossistemas aquáticos por meio da utilização do Protocolo de Avaliação Rápida da Diversidade de Habitats (KRUPEK, 2008).

Segundo Silveira (2004), esse protocolo, como outros do tipo, garante rigor técnico-científico na avaliação ambiental, além de gerar resultados rápidos. Dessa forma, o presente trabalho teve como objetivo principal analisar as alterações ambientais, físicas e químicas decorrentes da urbanização e consequente depósito tecnogênico no Córrego do Pântano.

2. Metodologia

2.1 Descrição da área de estudo

O município de Alfenas MG está localizado ao sul do estado de Minas Gerais, Brasil, entre as coordenadas de 21º15’ e 21º35’ de latitude S e 46º00’ e 46º50’ de longitude W. Sua altitude varia de 750 a 930 metros, com predomínio de áreas de declividade baixa a moderada. A vegetação nativa da região é classificada como Floresta Estacional Semidecidual, transição Cerrado - Mata Atlântica. O clima é tropical mesotérmico, com médias de temperatura entre 21 a 30ºC. A precipitação média anual é de aproximadamente 1500 mm. (COELHO; OLIVEIRA; WISNIEWSKI, 2014).

Nessa região, encontra-se o Córrego do Pântano, também conhecido como Córrego do Matadouro, canal de primeira ordem, inserido na bacia do Rio Grande, que deságua no reservatório da usina hidrelétrica de Furnas. Esse córrego encontra-se entre o Distrito Industrial e os bairros Jardim América I, II e III (Figura 1) da cidade.

Figura 1: Localização do Córrego do Pântano.

A coleta de material no local de estudo, o Córrego do Pântano, foi realizada às 14 horas, do dia 21 de maio de 2014, período de transição entre o verão e inverno, quando há diminuição de temperatura e precipitação. Foram observados dois pontos do córrego, na região do distrito industrial de Alfenas-MG, próximo ao Náutico.

A largura média do córrego é de 1,5 metros e a profundidade média é de 0,5 metro. Foi realizada coleta de organismos bentônicos no corpo d’água que fica do lado direito da estrada, por ali o nível de água ser mais baixo – aproximadamente meio metro. No corpo d’água do lado direito foram coletados organismos zooplanctônicos, em um ambiente de maior profundidade, embora ainda baixa – cerca de 1 metro.

2.2 Método de avaliação     

Foi utilizado para avaliar as características da água e do sedimento, tipo de ocupação das margens, erosão e assoreamento, extensão da mata ciliar, cobertura vegetal, largura de rápidos e seu estado trófico, o Protocolo de Avaliação Rápida da Diversidade de Habitats em trechos de bacias hidrográficas, modificado do protocolo da Agência de Proteção Ambiental de Ohio -EUA (Tabelas 2 e 3). O protocolo utilizado divide-se em duas partes: a primeira avalia as características dos segmentos do córrego (Tabela 2) e a segunda, as condições de habitat e conservação dos ambientes (Tabela 3). Para verificar as variáveis físicas e químicas da água (velocidade do vento, temperatura do ar, umidade relativa, O2 dissolvido, pH e condutividade) foi usado o multisensor Horiba U-22.

Para a coleta de organismos bentônicos, foi utilizada rede em D 250µm e, para os organismos zooplanctônicos, foram feitos arrastos verticais com uma rede de plâncton com abertura de 68mm. Em seguida, procedeu-se à análise qualitativa: os organismos passaram por processo de narcotização com saturação de CO2 (adição de água gaseificada), para impedir a contração dos rotíferos. As amostras foram fixadas com formol em concentração de 8%, saturado com açúcar, para evitar o desprendimento de ovos.

3. Resultados e Discussão

Detectou-se que próximo à área de proteção permanente (APP) da margem esquerda, há moradias características de população de baixa renda, que utiliza a área próxima à margem para plantação de culturas anuais, hortaliças e criação de animais. No córrego, há uma considerável deposição de materiais de entulho e lixo, classificados, conforme critérios de Peloggia (1998), em úrbico (detritos urbanos como tijolo, vidro, concreto, plásticos, metais diversos) e gárbico (materiais detríticos como lixo de origem humana, ricos em matéria orgânica).

Visto que o córrego representa um canal de primeira ordem e possui uma ampla planície fluvial, apresenta baixa possibilidade de ocorrência de grandes inundações. Qualquer problema que o córrego possa apresentar à estrutura urbana poderia ser resolvido preservando o canal e a faixa de mata ao longo de seu curso, evitando-se sua canalização.

Por toda extensão, o córrego não apresenta grande quantidade de vegetação nativa, de modo que vegetação local é composta por espécies características de áreas degradadas, como a Embaúba (Cecropia ssp.) e a Mamona (Ricinus ssp.), além de uma grande quantidade e variedade de vegetação rasteira, como gramíneas. As árvores de grande porte estão esparsas e encontram-se entre elas o Eucalipto (Eucalyptus ssp.), a Amendoeira (Terminalia catappa) e algumas árvores frutíferas, como Mangueira e Abacateiro (Fig. 2A)

A recuperação e o manejo da mata ciliar do córrego mostra-se necessária e fundamental. A esse respeito, Barbosa (2000) afirma a importância dela na conservação da biodiversidade e manutenção do equilíbrio do ecossistema. O autor destaca ainda que esse é um ponto incluído no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Além disso, a preocupação de se observar o entorno da área em estudo vai ao encontro das conclusões de Kageyama e Gandara (2000) que afirmam a necessidade do conhecimento não só dos aspectos físicos e biológicos da área, mas também da população do entorno, para que haja sucesso na restauração das matas ciliares.

O trecho inicial do córrego – aproximadamente 100 metros a partir da nascente – apresenta obra inacabada de canalização por gabiões e desmoronamento em alguns pontos (Figura 2B).

Figura 2. A: vegetação característica de área degradada. B: obra de canalização por gabiões.

Fonte: Do autor.

O solo predominante é o Latossolo Vermelho Distrófico (LVd), tendo horizonte A sobre C gleizado e, nos arredores do córrego, há argilas de várias cores - amarela, branca, cinza e algum resíduo de argila preta. Recobrindo o solo original há uma camada de terra-vermelha utilizada na terraplanagem da obra de canalização. Na base dos taludes da área, encontram-se alguns olhos-d’água, cuja água corre formando sulcos pelo sopé do talude e pela lateral externa do gabião até o seu fim, onde deságua no leito não canalizado do córrego.

Os dois pontos analisados têm pouca profundidade, sendo possível observar-se o fundo do corpo d’água. Portanto, a transparência da água foi considerada total, não justificando a utilização do disco de Secchi. Segundo Declerck et al (2006), a pequena profundidade é um problema, porque determina a grande penetração de luz até o fundo do corpo d’água, resultando no desenvolvimento de macrófita. Além disso, conforme estudo de Sondergaard et al (2005), ocorre maior acoplamento bentônico-pelágico. Essa característica não exclui a importância dos pequenos corpos d’água para a conservação da biodiversidade, uma vez que esses são ambientes capazes de abrigar uma grande diversidade de espécies, inclusive com espécies raras e únicas em relação aos corpos d’água de maior tamanho (DAVIES et al., 2008).

A água encontrava-se em níveis muito baixos e sua temperatura próxima à do ambiente: 22°C e 27°C, respectivamente. A temperatura pode influenciar o metabolismo, desenvolvimento e crescimento de vários organismos aquáticos, podendo diminuir a diversidade e densidade das espécies zooplanctônicas e bentônicas. No corpo d’água do lado direito da estrada, no qual foi realizada a coleta dos organismos bentônicos, observou-se, no ato da coleta, um grande número de organismos avermelhados o que provavelmente está relacionado às condições ambientais.

O valor de condutividade no corpo d’água amostrado foi alto (118 µS/cm1), o que pode ser consequência da ação antrópica, pelo fato de a cidade, distrito industrial e bairro em seu entorno utilizarem-no de forma desordenada como entrada de esgoto, pesca, agricultura e lazer. Essas atividades podem estar carreando maior entrada de íons dissolvidos na água e, consequentemente, um aumento na condutividade elétrica, uma vez que, de acordo com Bazai e Achakzai (2006), ambientes contaminados com efluentes domésticos tendem a ter a salinidade aumentada.  Os resultados encontrados estão de acordo com Rodrigues, Malafaia, Castro (2013)que constatou um aumento na condutividade elétrica no mesmo córrego.

O oxigênio dissolvido foi da ordem de 8mg.L-1, devido à baixa profundidade do ambiente e à presença de algumas quedas, o que facilita as trocas gasosas com a atmosfera. Apesar de no dia da coleta a velocidade do vento estar variando entre 0- 2,6m/s, nesse período do ano (maio), é mais comum a ocorrência de fortes ventos o que propicia a maior circulação da água, mantendo a coluna d’água mais homogênea, aumentando a concentração do oxigênio dissolvido.

Além disso, a concentração de oxigênio dissolvido está fortemente relacionada com a temperatura da água (22°C), assim como o aumento da temperatura do ar (27°C).

O corpo d’água foi considerado levemente ácido: pH 4,12. Esse caráter pode ser causado pela entrada de esgoto, uma vez que há entrada de esgoto doméstico e do distrito industrial, que abriga empresas dos setores têxtil e siderúrgico (RODRIGUES, MALAFAIA, CASTRO, 2013). Além disso, contribuem  a agricultura praticada em seu entorno (pasto e a utilização de herbicidas e agrotóxicos) e as características do solo. As variáveis físicas e químicas acima descritas podem ser encontradas na Tabela 1.

Velocidade do vento 0-2,6 m/s
Temperatura do ar 27°C
Umidade Relativa 62,20%
O2 dissolvido 8 mg/L
pH 4,12
Condutividade 118 mS/cm

Tabela 1: Variáveis físicas e químicas do córrego do Pântano.

Cada parâmetro das tabelas 2 e 3 é independente e o somatório dos valores a eles atribuídos gera o valor final do protocolo de avaliação. Esses valores correlacionam-se com o nível de preservação das condições ecológicas do trecho estudado. No presente trabalho,  foi encontrado um ambiente alterado com 44 pontos, pois segundo Krupek (2008) valores de 0 a 40 pontos representam trechos “impactados”; 41 a 60 pontos representam trechos “alterados”; e acima de 61 pontos, trechos “naturais”.

PARÂMETROS Pontuação
4 pontos 2 pontos  0 pontos
.Tipo de ocupação das margens do corpo d’água (principal atividade) Vegetação natural Campo de pastagem/Agricultura/ Monocultura/ Reflorestamento Residencial/ Comercial/ Industrial
2. Erosão próxima e/ou nas margens do rio e assoreamento em seu leito Ausente Moderada Acentuada
3. Alterações antrópicas Ausente Alterações de origem doméstica (esgoto, lixo) Alterações de origem industrial/ urbana (fábricas, siderurgias, canalização, retilinização do curso do rio)
4. Cobertura vegetal no leito Parcial Total Ausente
5. Odor da água Nenhum Esgoto (ovo podre) Óleo/industrial
6. Oleosidade da água Ausente Moderada Abundante
7. Transparência da água Transparente Turva/cor de chá-forte Opaca ou colorida
8. Odor do sedimento (fundo) Nenhum Esgoto (ovo podre) Óleo/industrial
9. Oleosidade do fundo Ausente Moderado Abundante
10. Tipo de fundo Pedras/cascalho Lama/areia Cimento/canalizado

Tabela 2: Protocolo de Avaliação Rápida da Diversidade de Habitats em trechos de bacias hidrográficas, modificado do protocolo da Agência de Proteção Ambiental de Ohio (EUA) (EPA, 1987). 4 pontos = situação natural; 2 pontos = situação alterada; 0 ponto = situação severamente alterada. Em vermelho os resultados encontrados para cada parâmetro para o córrego do Pântano.

PARÂMETROS Pontuação
             5 pontos                       3 pontos 2 pontos 0 pontos
11. Tipos de fundo Mais de 50% com habitats diversificados; pedaços de troncos submersos; cascalho ou outros habitats estáveis. 30 a 50% de habitats diversificados; habitats adequados para a manutenção das populações de organismos aquáticos. 10 a 30% de habitats diversificados; disponibilidade de habitats insuficiente; substratos frequentemente modificados. Menos que 10% de habitats diversificados; ausência de habitats óbvia; substrato rochoso instável para fixação dos organismos.
12. Extensão de rápidos Rápidos e corredeiras bem desenvolvidas; rápidos tão largos quanto o rio e com o comprimento igual ao dobro da largura do rio Rápidos com a largura igual à do rio, mas com comprimento menor que o dobro da largura do rio. Trechos rápidos podem estar ausentes; rápidos não tão largos quanto o rio e seu comprimento menor que o dobro da largura do rio. Rápidos ou corredeiras inexistentes.
13. Freqüência de rápidos Rápidos relativamente freqüentes; distância entre rápidos dividida pela largura do rio entre 5 e 7 Rápidos não freqüentes; distância entre rápidos dividida pela largura do rio entre 7 e 15 Rápidos ou corredeiras ocasionais; habitats formados pelos contornos do fundo; distância entre rápidos dividida pela largura do rio entre 15 e 25 Água “lisa” ou com rápidos rasos; pobreza de habitats; distância entre rápidos dividida pela largura do rio maior que 25.
14. Tipos de substrato Seixos abundantes (prevalecendo em nascentes). Seixos abundantes; cascalho comum. Fundo formado predominantemente por cascalho; alguns seixos presentes Fundo pedregoso; seixos ou lamoso.
15. Deposição de lama Entre 0 e 25% do fundo coberto por lama Entre 25 e 50% do fundo coberto por lama Entre 50 e 75% do fundo coberto por lama Mais de 75% do fundo coberto por lama.
16. Depósitos sedimentares Menos de 5% do fundo com deposição de lama; ausência de deposição nos remansos. Alguma evidência de modificação no fundo, principalmente como aumento de cascalho, areia ou lama; 5 a 30% do fundo afetado; suave deposição nos remansos Deposição moderada de cascalho novo, areia ou lama nas margens; entre 30 e 50% do fundo afetado; deposição moderada nos remansos Grandes depósitos de lama, maior desenvolvimento das margens; mais de 50% do fundo modificado; remansos ausentes devido à significativa deposição de sedimentos
17. Alterações no canal do rio Canalização (retificação) ou dragagem ausente ou mínima; rio com padrão normal. Alguma canalização presente, normalmente próximo à construção de pontes; evidência de modificações há mais de 20 anos Alguma modificação presente nas duas margens; 40 a 80% do rio modificado. Margens modificadas; acima de 80% do rio modificado.
18 Características do fluxo das águas Fluxo relativamente igual em toda a largura do rio; mínima quantidade de substrato exposta Lâmina d’água acima de 75% do canal do rio; ou menos de 25% do substrato exposto. Lâmina d’água entre 25 e 75% do canal do rio, e/ou maior parte do substrato nos “rápidos” exposto. Lâmina d’água escassa e presente apenas nos remansos.
Entre 70 e 90% com vegetação ripária nativa; deflorestamento evidente mas não afetando o desenvolvimento da vegetação; maioria das plantas atingindo a altura “normal” Entre 50 e 70% com vegetação ripária nativa; deflorestamento óbvio; trechos com solo exposto ou vegetação eliminada; menos da metade das plantas atingindo a altura “normal”. Menos de 50% da mata ciliar nativa; deflorestamento muito acentuado.
19. Presença de mata ciliar Acima de 90% com vegetação ripária nativa, incluindo árvores, arbustos ou macrófitas; mínima evidência de deflorestamento; todas as plantas atingindo a altura “normal”
20 Estabilidade das margens   Moderadamente estáveis; pequenas áreas de erosão freqüentes. Entre 5 e 30% da margem com erosão Moderadamente instável; entre 30 e 60% da margem com erosão. Risco elevado de erosão durante enchentes Instável; muitas áreas com erosão; freqüentes áreas descobertas nas curvas do rio; erosão óbvia entre 60 e 100% da margem
Margens estáveis; evidência de erosão mínima ou ausente; pequeno potencial para problemas futuros. Menos de 5% da margem afetada.
21. Extensão de mata ciliar Largura da vegetação ripária maior que 18 m; sem influência de atividades antrópicas (agropecuária, estradas, etc.). Largura da vegetação ripária entre 12 e 18 m; mínima influência antrópica. Largura da vegetação ripária entre 6 e 12 m; influência antrópica intensa. Largura da vegetação ripária menor que 6 m; vegetação restrita ou ausente devido à atividade antrópica.
22. Presença de plantas aquáticas Pequenas macrófitas aquáticas e/ou musgos distribuídos pelo leito Macrófitas aquáticas ou algas filamentosas ou musgos distribuídas no rio, substrato com perifiton. Algas filamentosas ou macrófitas em poucas pedras ou alguns remansos, perifiton abundante e biofilme Ausência de vegetação aquática no leito do rio ou grandes bancos macrófitas (p.ex. aguapé)

Tabela 3: Protocolo de Avaliação Rápida da Diversidade de Habitats em trechos de bacias hidrográficas, modificado do protocolo de Hannaford et al. (1997). 5 pontos (situação natural); 3, 2 e 0 pontos (situação levemente a severamente alterada). Em vermelho, os resultados encontrados para cada parâmetro para o córrego do Pântano.

Os resultados corroboram os achados de Rodrigues, Malafaia, Castro (2013), que, apesar de ser estudo com objetivos diferentes dos deste, apontam um problema ambiental persistente no mesmo Córrego do Pântano, em Alfenas-MG. Os impactos humanos têm sido responsáveis pela deterioração de importantes bacias hidrográficas (CALLISTO et al, 2002), causando sérios problemas de erosão, carreamentos, assoreamento de cursos d’água (KRUPEK, 2008), elevação da temperatura da água, redução do canal e desestruturação de habitats para as espécies aquáticas (BERNHARDT et al., 2005).

4. Conclusão

Os resultados obtidos por meio da avaliação dos parâmetros químicos, físicos e do protocolo de avaliação rápida da diversidade de habitats comprovam que o Córrego do Pântano vem sofrendo drasticamente com a presença de depósitos tecnogênicos. Como visto, trabalhos relatam que um pequeno corpo d’água pode abrigar uma elevada diversidade de espécies mesmo que sofra pressões antrópicas, de modo que esse córrego pode ter grande importância ambiental. Assim, deve haver um maior controle do despejo de efluentes líquidos por parte das empresas e maior fiscalização. Também é essencial a criação de medidas sócio educativas, revisão da legislação de uso e ocupação do solo, evitando principalmente a ocupação das margens dos córregos e o descarte de lixo e entulhos em locais inapropriados, priorizando, assim, a restauração do córrego do pântano por meio de mudanças dos componentes físico-químicos e biológicos.

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1. Federal University of Alfenas. Alfenas/MG, Brazil. E-mail: eliasg_neto@hotmail.com
2. Federal University of Alfenas. Alfenas/MG, Brazil. E-mail: cinthiaabreu123@gmail.com
3. Federal University of Alfenas. Alfenas/MG, Brazil. E-mail: fabiooneves@gmail.com

4. Federal University of Alfenas. Alfenas/MG, Brazil. E-mail: lucasmaure@hotmail.com

5. Federal University of Alfenas. Alfenas/MG, Brazil. E-mail: karinreis@hotmail.com

6. Federal University of Alfenas. Alfenas/MG, Brazil. E-mail: erika_2990@hotmail.com

7. Federal University of Alfenas. Alfenas/MG, Brazil. E-mail: sbrenoregis@gmail.com


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 31) Año 2016

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