Espacios. Vol. 37 (Nº 31) Año 2016. Pág. 3

Planejamento Estratégico Participativo como ferramenta de mudança na concepção de gestão dos resíduos gerados no ambiente escolar

Participatory strategic planning as a tool to change the conception of how the waste generated in the school environment is managed

Janaína Balk BRANDÃO 1; Leonardo Marques CAIRES 2; Renata de Baco HARTMANN 3; Venice Teresinha GRINGS 4

Recibido:03/06/16 • Aprobado: 03/07/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Educação Ambiental enquanto prática escolar: os desafios à aprendizagem ambiental

3. Metodologia

4. Resultados da Ação

5. Conclusões

Referências


RESUMO:

Este trabalho visa contribuir no processo de construção da consciência ambiental atentando especialmente para a problemática da correta destinação dos resíduos gerados em duas escolas públicas de Alegrete, município brasileiro localizado no extremo Oeste do Estado do Rio Grande do Sul. Nesse sentido, foi realizado um diagnóstico em que se obteve um panorama atual da educação ambiental nas escolas. Através do Planejamento Estratégico Participativo elaboraram-se agendas ambientais, que estabelecem ações, prazos, responsáveis e recursos, como forma de nortear as ações a partir das características e necessidades de cada escola.
Palavras-chave: Participação. Sensibilização. Meio Ambiente. Resíduos.

ABSTRACT:

This work aims to contribute to environmental awareness-building process with special attention to the problem of proper disposal of waste generated in two public schools in Alegrete, Brazilian municipality located in the extreme west of the Rio Grande do Sul state. In this sense, a diagnosis was made it obtained a current overview of environmental education in schools. Through the Participatory Strategic Planning were elaborated environmental agendas, establishing actions, deadlines, responsibility and resources, in order to guide the actions from the characteristics and needs of each school.
Keywords: Participation. Awareness . Environment. Waste.

1. Introdução

Da relação (em diferentes épocas e lugares) dos seres humanos entre si e com o meio físico-natural emerge o que se denomina de meio ambiente (Quintas, 2006). Diferente dos mares, dos rios, das florestas, da atmosfera, que não necessitam da ação humana para existir, o meio ambiente precisa do trabalho dos seres humanos para ser construído e reconstruído e, portanto, para ter existência concreta. Não existe meio ambiente sem o trabalho dos seres humanos. Então, o meio natural e meio social são faces de uma mesma moeda e assim indissociáveis (Quintas, 2006).

Sabe-se que toda atividade humana gera impacto, que pode ser negativo ou positivo (Sreck et al., 2007). Resultado da pouca compreensão que se tem das relações e interdependências entre os seres vivos e demais formas naturais, os autores afirmam que degrada-se mais do que melhora-se as condições ambientais, o que significa que “mesmo educados, nossa educação não é ambiental” (Sreck et al., 2007, p.11).

Nesta complexidade está inserida a escola enquanto grupo social constituído e em constante construção, possuindo de um lado uma orientação institucional para o trabalho com o tema do meio ambiente desde uma perspectiva da transversalidade e de outro, e de outro, a pressão de um paradigma produtivista, em que o viés econômico predomina e norteia as concepções. Assim, este artigo faz uma reflexão acerca de um projeto que visa contribuir no processo de construção da consciência ambiental nas escolas do município de Alegrete, atentando especialmente para a problemática da correta destinação dos resíduos gerados no âmbito escolar. Através do desenvolvimento dessa ação, espera-se gerar uma preocupação com a geração e destinação do que tem se tornado um grave problema na sociedade moderna: os resíduos. Assim, o objetivo geral deste trabalho de extensão universitária foi promover a sensibilização para a problemática dos resíduos utilizando o tema do ‘lixo’ escolar para o trabalho de educação ambiental. Para tanto, realizou-se um diagnóstico obtendo a percepção dos professores e funcionários com relação a destinação dos resíduos e as ações de Educação Ambiental (EA) já desenvolvidas nas escolas;  organizou-se espaços de diálogos problematizadores com relação a atual postura adotada e as exigências legais em vigor; construiu-se através de um Planejamento Estratégico Participativo (PEP) uma agenda que procura atender as demandas contemporâneas relacionadas a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos e monitore os resultados alcançados; e, avaliou-se a ação juntamente com o público envolvido visando o aperfeiçoamento de futuras ações.

Este trabalho baseia-se na constatação empírica por parte dos agentes proponentes do projeto de que as escolas pertencentes à rede municipal, ou seja, a própria instituição que é responsável de um lado pela coleta urbana de resíduos e, por outro, pela sensibilização e fiscalização da legislação ambiental não está atuando em sintonia com as demandas legais preconizadas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (Brasil, 2011). Da mesma forma, observa-se a inexistência de informações de caráter localizado e detalhado que possibilitem traçar o cenário atual e as perspectivas com relação ao envolvimento da comunidade escolar na problemática dos resíduos.

Por outro lado, em uma ação extensionista anterior (evento de educação ambiental realizado no ano de 2012) a comunidade escolar em questão solicitou que fosse realizado um trabalho de caráter sistemático e transversal dentro das escolas, como forma de ampliar a discussão sobre os problemas ambientais contemporâneos. Assim, verificou-se a intenção de se estabelecer uma parceria entre a Prefeitura Municipal de Alegrete através da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e da Secretaria Municipal de Educação e Cultura e a Universidade Federal de Santa Maria.

Deste modo, ao trabalhar com alunos, professores e funcionários da comunidade escolar as questões relacionadas à responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, espera-se apoiar a escola no desenvolvimento das temáticas transversais, especialmente no que diz respeito ao meio ambiente, contribuindo para o desenvolvimento sustentável e a formação crítica dos envolvidos enquanto cidadãos.

Parte-se do pressuposto que a Universidade não deve se portar apenas como transferidora de conhecimento. Esta pode estabelecer significativas parcerias, através de uma relação próxima com as demais instituições resultando na concretização de uma articulação de saberes que leve a ampliação da construção de conhecimentos na escola, e, quem sabe, soluções para a comunidade.

2. Educação Ambiental enquanto prática escolar: os desafios à aprendizagem ambiental

A questão ambiental é um tema que transcende discussões políticas, econômicas ou culturais. Está inserida em todas as realidades possíveis, uma vez que não reconhece fronteiras, é atemporal e acomete qualquer cidadão, independente de classe social. Nesse contexto, a Educação Ambiental, resultante da necessidade de se repensar o modo de agir sobre o meio, ganha status e espaço, como instrumento de mudança comportamental. E para a Escola, responsável pela formação do cidadão, se apresenta mais um desafio: promover a EA.

De acordo com Medina (2001) a EA trata-se de um processo que busca a compreensão crítica e global do meio. Essa compreensão levaria a atitudes conscientes e participativas no que tange a problemática ambiental, levando, consequentemente à melhoria da qualidade de vida, eliminação da pobreza e do consumismo exagerado. Para Guedes (2006) foi, exatamente, a necessidade premente de melhoria de qualidade de vida, deteriorada em tantos sentidos, que fez com que a Educação Ambiental se tornasse tema de relevância nas discussões acadêmicas e governamentais, buscando-se meios para que se tornasse viável no dia a dia das instituições.

Deve-se ressaltar que levar a cabo os projetos em EA nas Escolas demanda a participação efetiva do todos os agentes, com especial atenção aos professores e equipe diretiva dos estabelecimentos de ensino. São eles que estarão em contato direto com os alunos e terão a responsabilidade de levar os projetos adiante. Logo, uma fase de sensibilização auxilia no fazer surgir o sentimento de pertencimento. Essa fase inicial é importante quando se pensa não somente na implantação de atividades, ou projetos, mas, principalmente, quando se fala na continuidade dos projetos ao longo do tempo. Andrade (2000) aponta que se deve considerar alguns fatores no momento de preparo dos projetos nas Escolas, entre eles: tamanho da escola, número de alunos e de professores, predisposição destes professores em passar por um processo de treinamento (e desenvolvimento das atividades propostas), vontade da diretoria de realmente implementar um projeto na área ambiental. Além destes fatores, direciona para que os processos sejam realizados de forma conjunta, cooperada, onde todos os envolvidos estejam, de uma forma ou de outra, interligados. Essas ações devem, por fim, para além de ações isoladas, garantir a continuidade e a autonomia dos agentes envolvidos.

A escolha do espaço escolar para o desenvolvimento de projetos na área ambiental tem como fundamento o fato de a Escola fornecer os subsídios necessários ao pleno desenvolvimento desses projetos. Em tese, o corpo docente já possui algum preparo para tratar dos assuntos relacionados com a área ambiental, bastando que consigam trabalhar de forma inter e transdisciplinar. A missão do Professor já é, por si, criar condições que estimulem os alunos a terem concepções e posturas cidadãs. É na educação formal que se abre espaço para o desenvolvimento de ações que visem repensar valores e atitudes, que sejam comprometidas com a sustentabilidade do meio ambiente, bem como para a busca de equidade social (Lima, 2004).

Na escola, ou em qualquer espaço em que haja projetos na área ambiental, está se tratando de aprendizagem ambiental, ou como as pessoas reagem e assimilam novos conceitos e internalizam novas atitudes. Assim, se faz necessário entender a aprendizagem ambiental como um saber pedagógico, que para Vargas (2010) constitui uma construção analítica e interpretativa dos processos de elaboração de sentidos comuns e conhecimentos públicos sobre a sustentabilidade ecológica, social, cultural e econômica do planeta. Essas são interfaces inerentes ao desenvolvimento de estratégias e ações de ensino. Ou, ainda, de formulações e proposições para a área ambiental. Dito isso, se pode inferir que a EA é um processo de educação, que deve ser desenvolvido na Escola como prática pedagógica, envolvendo todos os contextos sociais, econômicos e culturais que ali residem.

Para dar ao tema um caráter oficial, no Brasil, foram publicados textos legais que normatizam a execução de projetos. A referência legal para a Educação Ambiental foi a publicação da Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, que instituiu uma Política Nacional de Educação Ambiental. A Lei traz, entre outros, uma definição para o termo, logo no seu artigo 1º: “os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”. Os princípios contidos no texto legal reforçam a necessidade de um trabalho que vise a contextualização da temática ambiental nas práticas sociais do grupo, através de uma abordagem que seja integrada, processual e sistêmica. Os trabalhos devem ter enfoques: humanista, histórico, crítico, político, democrático, participativo, dialógico e cooperativo, respeitando o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas. A partir desse momento se estabeleceu a obrigatoriedade da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino formal (Brasil, 1999).

A Lei nº 6.938, de 31/8/1981, que institui a Política Nacional de Meio Ambiente, acabou evidenciando, também, a importância dessa dimensão da educação no país, determinando, em seu artigo 2º, inciso X, a necessidade de promover a "educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente” (Brasil,1981).

Em nível mundial, outros documentos, antecessores aos textos legais brasileiros, tratavam de conceituar e criar critérios para o estabelecimento da Educação Ambiental como instrumento de sensibilização e capacitação para a melhoria da qualidade de vida. Entre eles, cita-se: A Carta de Belgrado, evento que ocorre em 1975 e onde se deu a formulação dos princípios básicos para um Programa Mundial de Educação Ambiental, que preconizou uma nova ética planetária para diminuir a pobreza, o analfabetismo, a fome, a poluição, a exploração e a dominação humana (Thaines, 2008).

Os documentos gerados nestes e em outros eventos internacionais, trazem uma agenda geral para o desenvolvimento da Educação Ambiental, em diferentes níveis de atuação. O interesse neste trabalho recai sobre a Escola Básica e seus professores, onde se dá especial atenção para a atuação dos professores, equipe diretiva e escolha de metodologias de trabalho. Segundo traz Campiani (2001) para a efetividade do trabalho junto aos agentes, devem ser incorporados novos conceitos e metodologias que venham ao encontro da realidade. Dessa forma, ligando os conceitos ecológicos à realidade do grupo, as chances de que sejam atuantes e críticos diante das situações sócio-ambientais, podendo atuar e influenciar nas mudanças de atitudes de seus alunos tornam-se maiores. Além disso, para Tozoni; Reis (2006), de modo geral, a sensibilização e a conscientização fazem parte de um processo de ação concreta e reflexão e ao incorporar o tema ambiental, o processo da educação conscientizadora tem como objetivo a transformação das relações entre os sujeitos e desses com o ambiente, estabelecidas pela história das relações sociais.

Desta forma, a EA trata-se de uma tentativa de mudança paradigmática, que parte da análise de uma sociedade insustentável para uma sociedade que compreende que os recursos são finitos e que a capacidade de resiliência da Terra está esgotando-se, drasticamente. No entanto, para Thaines (2006) a EA não é transformadora por si. Para que o seja, necessita de uma metodologia da práxis e da capacidade dos seus sujeitos em construir os processos pedagógicos. Em seus questionamentos, coloca que ações pontuais não são, necessariamente EA. Para que se alcance um patamar de mudança comportamental, os processos pedagógicos devem, necessariamente, levar da reflexão à ação. Este processo visa ações posteriores que devem ser catalisadores de processos educativos, como colocado pelo autor.

Quintas (2006) conclui que o esforço da EA deveria ser direcionado para a compreensão e busca de superação das causas estruturais dos problemas ambientais, por meio da ação coletiva e organizada. Segundo esta percepção, a leitura da problemática ambiental se realiza sob a ótica da complexidade, do meio social e o processo educativo deve pautar-se por uma postura dialógica, problematizadora e comprometida com as transformações estruturais da sociedade, de cunho emancipatório.  Aqui acredita-se que ao participar do processo coletivo de transformação da sociedade, a pessoa, também, estará se transformando.

3. Metodologia

O Estudo de Caso apresentado neste artigo refere-se a um projeto de extensão universitária voltado à EA e está apoiado em quatro etapas que serão desenvolvidas ao longo de dois anos de trabalho (2015/2016) em duas escolas públicas no município de Alegrete, Rio Grande do Sul, Brasil. Abarcará cerca de 40 professores, 10 funcionários das escolas e 300 alunos.

Do ponto de vista acadêmico, a experiência apresentada através deste trabalho tem o intuito de aliar a pesquisa, extensão e o ensino (contando com a colaboração de acadêmicos através da disciplina de Gestão Ambiental do curso superior de Tecnologia de Alimentos, alunos de pós graduação e bolsista).

Quintas (2006) afirma que em razão da complexidade da questão ambiental, há necessidade dos processos educativos proporcionarem condições para as pessoas produzirem e adquirirem conhecimentos, habilidades e desenvolverem atitudes para poderem intervir de forma participativa em processos decisórios que implicam, a alteração da qualidade ambiental. E mais, sustenta que a experiência dos educadores tem mostrado que uma ferramenta importante para compreender a complexidade da questão ambiental é o “estudo de caso”, no qual o caso pode ser um problema, conflito ou potencialidade ambiental, dando suporte ao presente trabalho.

A primeira etapa refere-se à sensibilização, inicialmente viabiliza através de reuniões com os Secretários de Meio Ambiente e de Educação e Cultura, Prefeito do município e Vice Prefeita. A seguir, realizaram-se reuniões com as equipes diretivas em cada escola. Assim, através do contato com as equipes diretivas das escolas foi possível levantar as demandas locais, esclarecer e planejar o projeto. Durante a Semana Municipal de Meio Ambiente de Alegrete a equipe teve a oportunidade de participar de ações de conscientização da comunidade juntamente  com a secretaria de meio ambiente (Blitz Ecológica e Piquenique). A equipe executora também realizou duas palestras no evento denominado “Semana do Meio Ambiente de Alegrete”. Foram elaborados materiais de apoio didático, incluindo um folder que aborda a problemática ambiental e apresentações multimídia, utilizados nas reuniões com as equipes diretivas e nas palestras.

Com a Fase 1 concluída, foi dado início a Fase 2, na qual a equipe do projeto junto com a Secretaria do Meio Ambiente de Alegrete se reuniu com trinta professores de três escolas, explanando os objetivos do projeto e coletando dados sobre a atual situação da EA nos diferentes ambientes escolares. Para viabilizar a Fase 2, foi elaborado um questionário com dezoito perguntas com o propósito de diagnosticar a atual situação da Educação Ambiental nas escolas do município. As referidas perguntas foram sorteadas aleatoriamente entre os presentes e respondidas sem identificação, para que cada professor pudesse explanar anonimamente  sobre a situação ambiental em cada escola. As perguntas foram as seguintes: 1. O que é Educação Ambiental?  2. Como é abordada a EA na escola? 3.Há incentivo na reciclagem, como trabalhos manuais? 4. A escola disponibiliza lixeiras para cada tipo de resíduo? 5. Há o incentivo para que os alunos separem adequadamente o lixo em casa? 6. Como você percebe o interesse dos alunos por EA e temas relacionados? 7. A compostagem é abordada/praticada na escola? 8. A EA pode ser abordada em qualquer disciplina? 9. Quais os temas abordados dentro da EA? 10. Quais os recursos utilizados para tratar do tema? 11. A EA é cobrada em avaliações? 12. A EA está inserida no currículo escolar? 13. Quais as dificuldades para tratar de EA? 14. O que poderia facilitar a abordagem do assunto? 15. É necessário políticas públicas de EA para estimular o interesse da população escolar? 16. Como os órgãos ambientais podem contribuir com a comunidade escolar? 17. Em sua opinião, como é a situação da educação ambiental nas escolas como um todo, no seu município? 18. O que a escola espera dessa parceria?

A Fase 3 envolve a realização de um processo de caráter construtivista e participativo com 40 professores e 10 funcionários, elaborando as agendas ambientais que serão desenvolvidas nas escolas através de um PEP. A fase de elaboração das agendas ambientais (primeira parte da Fase 3) baseou-se nas contribuições de Silva (2001) quando o mesmo apresenta a sistematização dos Onze passos do PEP. Para viabilizar a construção do planejamento que deu origem às Agendas Ambientais das Escolas, utilizou-se a ferramenta da visualização móvel, através do uso de tarjetas coloridas e dinâmicas adequadas a cada espaço de construção. Os pressupostos teóricos que estão na base dos Onze passos do PEP surgem de uma abordagem cuja principal característica é a busca de compreender a realidade, modificando-a. No contexto deste trabalho a participação ocorre quando os indivíduos contribuem, influem e usufruem forma mais efetiva e direta, na construção e transformação de sua realidade, através de ações organizadas (Ibama, 1997). Essa abordagem, baseada na concepção metodológica dialética, leva-nos a compreender a complexidade em que os acontecimentos estão situados e não admite leituras deterministas, embora considere que a estrutura da sociedade esteja demarcada por classes sociais diferentes e opostas (Silva, 2001). 

Essa concepção dialética é muito pertinente quando se trabalha questões ambientais considerando que existem dois paradigmas em jogo: o do produtivismo e o da sustentabilidade. O Quadro 1 lista sucintamente os passos.

  1. Primeiro passo: define-se quem é o ator ou grupo que planeja.
  2. Segundo passo: levantar os problemas que o ator tem. Nesse passo, é necessário listar todos os problemas que atrapalham a ação do ator que planeja.
  3. Terceiro passo: escolher o problema a ser enfrentado. Listados os problemas, decide-se quais deles iremos enfrentar primeiro. Para isto, vamos medir em que condições nos encontramos diante dos problemas e o impacto que o problema exerce sobre a ação do ator.
  4. Quarto passo: buscar as causas do problema escolhido. Depois de escolhido o problema que iremos enfrentar, devemos explicá-lo, ou seja, buscar suas causas, que muitas vezes não aparecem. A tarefa, agora, portanto é listar as causas principais do problema que selecionamos.
  5. Quinto passo: selecionar a causa principal o nó crítico. Nó crítico é a causa principal, aquela que, se atacada, resolve o problema ou tende a diminuí-lo.
  6. Sexto passo: estabelecer os resultados desejados. Os resultados quantificam e qualificam o que deverá ser feito para resolvê-lo. Devem ser formulados no presente.
  7. Sétimo passo: nesse passo é preciso ficar claro qual é o projeto desse ator. O que é projeto?
  8. Oitavo Passo: traçar o plano de ação. Construir um caminho para chegar a esses resultados esperados, orientados pelo projeto do ator. É a hora de construir o planejamento. O Plano de ação é o conjunto de ações, com os respectivos prazos, as pessoas responsáveis e os recursos necessários, para chegar a um resultado proposto. O plano é composto por: • Indicadores de resultado: meio para gerenciar o plano de ação e verificar se o resultado está sendo atingido. São eles que quantificam e qualificam o resultado. São fontes importantes para a avaliação; • Ação: tudo de que necessitamos fazer para atingir o resultado proposto; • Prazo: data precisa em que o gerenciamento será feito; • Responsável: pessoa que nem sempre terá de realizar uma ação, mas será fundamental para que essa ação seja cumprida; • Recursos: tudo de que necessitamos para realizar a ação.
  9. Nono passo: analisar a viabilidade do plano de ação. Analisar a viabilidade é estabelecer a relação entre os recursos de que necessitamos e os recursos que temos efetivamente.
  10. Décimo Passo: definir como será o gerenciamento, elegendo um “gerente’. O plano deve ficar à vista, escrito em cartazes. Gerenciamento é monitorar a realização das ações ou modificá-las, se necessário.
  11. Décimo primeiro passo: realizar avaliação permanente. A avaliação será realizada durante as reuniões de gerenciamento.

Quadro 1 - Elaborado pelos autores. Fonte: adaptado de  Silva (2005).

O término da Fase 3 compreenderá a implementação e gerenciamento das ações contidas nos Planos de Ações elaborados pelos próprios professores e funcionários. Por fim, cabe ressaltar que a realização da quarta fase referente às avaliações é paralela as demais, orientando e aperfeiçoando futuras ações.

4. Resultados da Ação

4.1 Fase 1: Sensibilização

A Fase 1 denominada como Sensibilização, foi  possibilitada por meio do contato com a equipe diretiva das escolas e reuniões com os professores diretamente com os integrantes das secretarias municipais, com o propósito de esclarecer e planejar o projeto. Durante a Semana Municipal de Meio Ambiente de Alegrete a equipe teve a oportunidade de participar de ações de conscientização da comunidade juntamente com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, participou de um “Piquenique Ecolológico” com oito crianças da educação infantil, onde foi realizado um passeio com pela Orla do Rio Ibiraipuitã. Nesta saída a campo, foi feita a leitura de um livro de história infantil que tratava de temáticas ambientais, procurando conscientizar as crianças sobre a problemática da poluição. A equipe também participou da ação “Blitz Ecológica” que foi realizada no calçadão da cidade, contando com a parceria da Secretaria do Estado de Meio Ambiente (SEMA) e do Serviço Social do Comércio (SESC). O intuito da blitz foi chamar a atenção para o Dia Nacional do Meio Ambiente (ocorrido em cinco de junho) e aos munícipes foi entregue uma sacola para recolhimento de resíduos nos veículos com material informativo dentro das mesmas. A equipe executora também realizou duas palestras no evento denominado “Semana do Meio Ambiente de Alegrete”, elaborando materiais de apoio didático, incluindo um folder que aborda a problemática ambiental e apresentações multimídia, utilizados nas reuniões com as equipes diretivas e nas palestras.

4.2 Fase 2: Diagnóstico

Na Fase 2 a equipe do projeto junto com a Secretaria do Meio Ambiente de Alegrete reuniu-se com trinta professores em duas escolas diferentes, explanando os objetivos do projeto e coletando dados sobre a atual situação da Educação Ambiental nos diferentes ambientes escolares. Para fins de sistematização, optou-se por explanar os resultados desse diagnóstico de forma conjunta entre as duas escolas.

Assim, através das perguntas constatou-se que a ideia de EA está relacionada ao fato que se devem prevenir os danos ao meio ambiente através de ações educativas. Assim como, o fato de que a abordagem do tema está inclusa no currículo escolar e é aplicada em forma de projetos que valorizam recursos naturais. As escolas disponibilizam para os alunos lixeiras, as quais os resíduos são separados. Quanto ao incentivo para que os alunos separem o lixo em casa observou-se que não há ou há pouco, porém, os alunos se mostram interessados pelo tema em sala de aula.

Obteve-se que os professores compreendem que a EA pode ser abordada em qualquer disciplina mantendo como temas os recursos naturais, sustentabilidade e conscientização. Os materiais utilizados para a elaboração dos projetos, muitas vezes vêm de sucatas ou coletados dentro da própria escola e, também, os professores utilizam de material multimídia para aplicar o tema, que é cobrado em avaliações.

As dificuldades apontadas são em relação à falta de incentivo por parte dos familiares e até mesmo da sociedade, sendo citada uma ‘barreira’ pela falta de conhecimento do assunto por essas pessoas, o que dificultaria que o conhecimento adquirido na escola seja aplicado em casa. Sobre as dificuldades encontradas, aponta-se que uma alternativa seria trazer a família dos alunos para o ambiente escolar, fazendo com que o tema ambiental faça parte do círculo familiar. Tratando-se das políticas públicas, constatou-se que há pouco incentivo e seria interessante uma presença maior dos órgãos responsáveis junto às escolas.

4.3 Fase 3: Construindo a escola do futuro através do Planejamento Estratégico-Participativo

Partindo das evidencias apresentadas pela Fase 1 e 2 e no contato inicial nas escolas, é notório que apesar das escolas serem em uma mesma cidade existem diferentes realidades, anseios e necessidades quanto a questão ambiental, além de diferenças sociais e econômicas entre as escolas. Compreende-se que para atingir esses anseios e, sendo esse um projeto de EA que pretende mudar os hábitos e posturas das pessoas frente ao meio ambiente, não pode seguir padrões ou moldes prontos, mas sim ser construído para atender essas necessidades dos agentes evolvidos. Neste contexto, o uso da ferramenta sistematizada no trabalho de Silva (2001) mostrou-se libertadora na possibilidade de através do diálogo e participação em envolver a escola na busca de um objetivo comum. O uso das metodologias participativas e da visualização móvel também mostraram-se inovadoras para esse propósito.

4.3.1 PEP na Escola 1

O primeiro PEP realizado foi na escola denominada Escola 1. Segundo Silva (2001) se na realização deste momento inicial da proposta o grupo demonstrar clareza em relação ao seu projeto e problemas pode-se realizar o avanço nas etapas. A partir da constatação da clareza do grupo percebida na Fase 2 (diagnóstico) obtida no através das perguntas, desloca-se a dinâmica para o sétimo passo, pois conclui-se que Escola 1 já possuía uma trajetória de trabalho em diversas ações de EA e já possuem consciência sobre os problemas enfrentados. Então, como forma de iniciar os trabalhos, avança-se para o Sétimo Passo, ratificando qual é o projeto desse ator. No caso, todos os participantes concordam que o almejado é: Consolidar a EA na escola.

A partir daí, a moderadora propõe a seguinte pergunta: O que precisamos fazer para chegar a esse resultado? Em grupos de quatro pessoas são disponibilizadas duas tarjetas para que com uma palavra em cada tarjeta o grupo expresse sua concepção. Após recolhidas as mesmas são dispostas no painel e agrupadas conforme a semelhança das ações, através da colaboração dos participantes (FIGURA 1).

Figura 1. Início do PEP na Escola 1.

Após o agrupamento das ações em ‘nuvens’ têm-se as seguintes propostas: reutilização de materiais (reutilizar brinquedos através de uma oficina e reutilização do óleo de cozinha); produzir horta suspensa e coletiva; realizar compostagem; fazer um projeto paisagístico; organizar uma gincana ambiental; fazer coleta seletiva; preservar e criar áreas de lazer. A partir das ações estabelecem-se coletivamente os prazos a serem cumpridos, os responsáveis pela realização das ações, defini-se a disponibilidade de recursos (pessoais ou materiais) necessários e, por fim, define-se como aumentar a viabilidade de cada ação.

A Figura 2 mostra o plano de ação finalizado, trazendo inicialmente as ações citadas anteriormente, os prazos (atentando que algumas serão realizadas no presente ano e outras em 2016). As responsabilidades foram dividias através de níveis escolares ou turnos, conforme a ação. O ‘diurno’ que é composto pela educação infantil e com os ‘anos iniciais’ ficou a responsabilidade pela ação de reutilização de brinquedos e óleo de cozinha. Já a coleta seletiva tem como responsáveis para construção das lixeiras e sensibilização dos alunos os professores sendo que e os funcionários irão fazer a coleta. A preservação das áreas de lazer ficou a cargo dos ‘anos finais’ do ensino fundamental. O turno noturno ficou com a responsabilidade de transformar os brinquedos e o óleo de cozinha usado, fabricando sabão.

Figura 2. Plano de Ação realizado na Escola 1.

Ao final da elaboração do plano de ação foi escolhida a diretora como a ‘gerente’ que se encarregará de verificar o andamento da agenda, organizar as reuniões e controlar todo andamento do processo. O Plano de Ação elaborado a partir dos passos do PEP ficou afixado na parede da escola, na sala dos professores, de forma visível aos demais professores e funcionários que por ventura não puderam participar da ação.

4.3.2 PEP na Escola 2

Na Escola 2 foram seguidos todos os onze passos sugeridos por Silva (2005) pois o grupo dispunha de um tempo maior para o PEP e as iniciativas já existentes estavam mais dispersas. Assim iniciou-se através da indagação sobre os problemas enfrentados, estimulando o pensamento em relação à situação em que a Escola se encontra, priorizando problemas mais importantes dentro da escola. Para tanto, após a apresentação inicial, a moderadora distribuiu uma tarjeta para cada participante, para que através de uma palavra transmitisse, de acordo com a sua percepção, o principal problema a ser enfrentando com relação a EA na escola. A Figura 3 apresenta os problemas já organizados em ‘nuvens’.

Figura 3. Principais problemas enfrentados na Escola 2

Como forma de levantar os principais problemas a serem enfrentados, foi feita a seguinte pergunta: "Qual problema a ser enfrentado?". Entre os problemas levantados os participantes deram ênfase à: indiferença, desrespeito e a questão cultural do povo (povo relapso); surge também a falta de espaço físico no ambiente escolar (a escola não possui pátio); falta de conscientização (três citações); e, predominantemente, o lixo (citado em doze tarjetas). Através das nuvens, por semelhança, os problemas foram sistematizados em quatro nuvens, conforme evidência a primeira coluna à esquerda da Figura 4.

Figura 4. Definição do problema a ser enfrentado (2º e 3º passos)

Como se observa na Figura 4, o processo de escolha do problema prioritário se deu através da definição do impacto, vontade em solucioná-lo e capacidade. Conforme Silva (2001) para escolher o problema central, relaciona-se o poder que o grupo tem para realizar soluções, assim como, a capacidade em relação aos recursos e analisa-se o impacto, para se pensar e decidir sobre qual o problema prioritário. A partir desta escolha dos problemas que mais afetam a Escola 2  e da possibilidade de resolução dos mesmos, pode-se organizar a sequência de demandas, demonstrada no quadro que resume a atividade na Figura 4. Através de uma discussão no grande grupo, elege-se como prioritário (1º) o enfretamento do problema relacionado à falta de conscientização.

Antes de iniciar a construção do plano de ações, aprofundou-se as causas do problema que será abarcado, para isto, foi utilizada a dinâmica da Árvore de Problemas (FIGURA 5). Através de uma discussão em pequenos grupos, debateu-se as causas para esse problema, expondo-as através das tarjetas que foram dispostas na parte referente a raiz da árvore. O esquema de árvore dessa

 dinâmica facilita a contextualização da realidade, por meio da associação das partes da árvore com os problemas, causas e efeitos. Assim, se delimita a copa como a parte que corresponde aos efeitos e às raízes seriam as causas.

Figura 5. Dinâmica da árvore dos problemas.

Através dessa dinâmica, obteve-se que vários fatores colaboram para a pouca conscientização da comunidade escolar no que se refere ao problema da falta de separação dos resíduos, com destaque para: a indiferença das pessoas para com o problema, falta de cobrança, falta de hábito em separar o lixo, falta de informação, ignorância sobre os problemas causados pela má destinação dos resíduos, as influências negativas, e a falta de incentivo por parte do poder público que não realiza a coleta seletiva.

Partindo desse passo, inicia-se uma discussão sobre as ações para se chegar à consolidação da EA no ambiente escolar, por meio da seguinte pergunta: “O que precisamos fazer para chegar a este resultado?”. Novamente em pequenos grupos surgem as propostas descritas nas tarjetas, elencadas no painel para visualização e posteriormente ranqueadas por prioridades, estas definidas já no grande grupo. A seguir prossegue-se para definição de prazos, responsáveis e disponibilidade de recursos (FIGURA 6). 

Figura 6. Plano de Ação construído na Escola 2.

Observa-se na Figura 6 que o plano de ação a ser realizado pela Escola 2, contém exposição de fotos e solicitação de limpeza aos órgãos responsáveis, para serem efetuadas no mês de outubro de 2015. Para novembro de 2015, destinou-se a execução das ações de separação do lixo e a correta destinação dos mesmos para reciclagem. Para o ano de 2016 se propõe as ações de busca de parcerias com empresas da vizinhança e realização de palestras sobre EA.

4.4 Reflexões e prospecções a partir do PEP

Quintas (2006) afirma que uma dificuldade para as pessoas se envolverem com as questões ambientais está na sensação de impotência diante delas e dá o seguinte exemplo: a ocupação desordenada do litoral, que resulta em destruição de dunas, aterramento de mangues, expulsão das comunidades, e privatização de praias, por exemplo, envolve grande interesse de grupos econômicos e políticos e faz o individuo se sentir pequenininho, perante o poder dos atore sociais responsáveis pela degradação daquele ambiente. Isso foi percebido logo no início dos trabalhos quando diversas professores argumentavam que não adiantava separa ali na escola o ‘lixo’, ensinar os alunos e sensibilizá-los se não havia coleta seletiva no município. Diante desta realidade, os moderadores argumentavam que a iniciativa precisava partir de alguém, através de ações individuais e que, somente a partir da construção de uma consciência poderíamos sensibilizar e cobrar o próprio órgão público responsável pela coleta.

Brandão; Caires (2014) num trabalho com professores da rede municipal de ensino no interior do Rio Grande do Sul, já constataram em relatos de professores que há dificuldade no que tange à sensibilização da comunidade escolar. Entretanto, asseveram que é relevante enfatizar o notório interesse por parte dos professores dessas instituições em contribuir na execução da proposta, mostrando-se abertos e predispostos a colaborar, expressando suas preocupações pela temática e a possibilidade de permear o conteúdo em todas as disciplinas da grade curricular, contextualizando com a realidade onde a escola está inserida.

Assim, corroborando com os resultados de Brandão; Caires (2014) notou-se que existia grande interesse pelo trabalho proposto. Mas, durante o desenvolvimento da Fase 3 obteve-se algumas impressões que merecem destaque. Entre elas, vale ressaltar o notório estranhamento (surpresa) por partes do grupo por ora da necessidade de definição de prazos para as ações evidenciando um dos principais desafios para implantação de ações ambientais no ambiente escolar, que historicamente fica em segundo plano e sem efetiva cobrança por parte dos gestores e comunidade. Também se observou a dificuldade de definição dos responsáveis no gerenciamento de cada uma das ações, sendo também um importante passo nesse processo, permitindo monitoramento e o desenvolvimento das atividades. Através destas questões pontuais elucida-se a importância e pertinência da metodologia utilizada, que propiciou não apenas a participação efetiva dos envolvidos, mas seu comprometimento. Destaca-se o papel da efetiva participação e comprometimento como decisivo para mostrar a necessidade do envolvimento dos professores de todas as áreas, e não só os das disciplinas de ciência como responsáveis pela EA, possibilitando a quebra do paradigma da disciplinaridade, que ainda assola os currículos escolares.

A análise da disponibilidade de recursos, originou reflexões importantes dos envolvidos sobre o tema, pois demonstra quais limites precisam ser ultrapassados para atingir os objetivos propostos. Embora seja constatado que a implementação da EA, não possui como fatores impeditivos os recursos materiais e estruturais, mas sim uma mudança de paradigma, da maneira como se vê o problema.

Numa análise mais profunda da EA observa-se que muitas vezes estamos diante de uma situação de ‘apatia’ quando se trata da postura passiva que desenvolvemos diante dos problemas ambientais. Quintas (2006) menciona que é como se a existência de um esgoto a céu aberto, que um dia foi rio, se transformasse num fato tão banal no cotidiano da comunidade, que as pessoas passassem a aceitar o seu mau cheiro, o seu mau aspecto e o risco de contaminação por doenças transmitidas por vetores diversos, como algo “normal”, sendo que o fato de o rio contaminado “estar lá”, parece que não incomoda, não interessa, ou seja, não “mexe” com as pessoas.

Assim, para trabalhar a questão dos resíduos optou-se por superar a proposta simplista da mera redução, reutilização e reciclagem. Propõe-se através do uso das metodologias participativas, conforme sugere Quintas (2006) uma abordagem centrada na problemática ambiental como consequência de um determinado tipo de relação sociedade natureza, histórica e socialmente construída, analisando desde as causas da sua existência até a destinação final do resíduo e, ainda, busca a construção coletiva de modos de compreendê-la e superá-la.

Ao final do turno de trabalho nas escolas participantes, realizou-se uma avaliação individual e anônima, também através de tarjetas, sendo analisadas a posteriori pela equipe. As avaliações referem-se especificamente ao PEP e, satisfatoriamente obteve-se resultados 100% positivos nas Escolas 1 e 2, superando as expectativas dos moderadores, podendo-se destacar observações como: “Metodologia muito criativa e democrática”; “Foi muito interessante à forma de planejar o projeto. Essa forma esportiva facilita a visualização das propostas. Acredito que as ações são possíveis de serem realizadas.”; “Adorei a metodologia e sistematização do projeto.”; “Parabéns! Em primeiro lugar pela grande iniciativa, pelo projeto pensando no futuro de todos nós, pela organização e obrigada pela oportunidade.”; “Muito bom um momento de reflexão, que paramos para pensar no que está acontecendo ao nosso redor.”; “Trabalho excelente, metodologia maravilhosa e ótimo preparo da mediadora.”; “A maneira como conduziste a apresentação da proposta foi agradável e dinâmica.”; “Muito bom, é sempre motivador trabalhar com propostas coletivas e aprender como fazê-las. Estamos gratas a vocês!” “Um momento de reflexão que chegamos num determinado momento, maravilhoso.”; “Metodologia usada foi ótima, isto é, adequada pedagogicamente. Agradecemos a parceria. Parabéns pelo trabalho.”

5. Conclusões

Esse trabalho visa contribuir no processo de construção da consciência ambiental nas escolas do município de Alegrete, atentando especialmente para a problemática da correta destinação dos resíduos gerados no âmbito escolar. Como forma de interação inicial com os partícipes, foi realizado um processo de sensibilização com as secretarias municipais e equipes diretivas, através de reuniões, palestras, piquenique ecológico e blitz ecológica. Na segunda fase da ação, foi realizado um diagnóstico em que se obteve um panorama atual da EA nas escolas e constatou-se que a temática já vem sendo abordada, mas carece de continuidade e de uma linha norteadora.

Frente a essas carências, elabora-se, através de um Planejamento Estratégico Participativo, planos de ações a serem implementados. Os referidos planos são denominados agendas ambientais, que estabelecem ações, prazos, responsáveis e recursos, como forma de nortear as ações a partir das características e necessidades de cada escola, apresentam-se como alicerce para a efetiva implantação da EA, rompendo o paradigma histórico, que deixa a temática sempre em segundo plano nos bancos escolares. A participação dos professores de diferentes áreas do conhecimento na construção das agendas possibilita ampliar a transversalidade do tema, comprometendo-os.

Frente às análises realizadas ao longo da construção desse trabalho, observa-se que a EA pode ser potencializada através do desenvolvimento de práticas reflexivas, contribuindo para uma melhor investigação das possíveis causas e efeitos da problemática ambiental que assola a sociedade nos dias atuais.

 As avaliações obtidas desse processo foram muito satisfatórias, demonstrando que a metodologia utilizada foi adequada para a reflexão sobre a problemática ambiental. Porém salienta-se que esse é só o primeiro passo na construção da EA dentro do ambiente escolar, o processo de avalição do seu desenvolvimento deve ser contínuo, corrigindo as falhas a medida que identificadas e potencializando os resultados positivos.

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1. Departamento de Extensão Rural, Professora, UFSM, Brasil
2. Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção, Mestrando, UFSM, Brasil. email: leocaires@gmail.com
3. Programa de Pós Graduação em Extensão Rural, Mestranda, UFSM, Brasil

4. Centro de Ciências Rurais, Pedagoga, UFSM, Brasil


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 31) Año 2016

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