Espacios. Vol. 37 (Nº 27) Año 2016. Pág. 10

Estudo comparativo entre gêneros e as técnicas adotadas para realizar os serviços de manutenção em diversos segmentos industriais

Study comparing gender and technical taken to perform the maintenance services in various segments industrial

Patrícia Pereira PACHECO 1; Vilson Menegon BRISTOT 2; Leopoldo Pedro GUIMARÃES FILHO 3

Recibido: 12/05/16 • Aprobado: 02/06/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Manutenção

3. Metodologia da pesquisa

4. Resultados e discussões

5. Conclusão

Referências


RESUMO:

A manutenção visa manter os ativos em bom funcionamento evitando falhas, perdas no processo produtivo e garantindo segurança. A realização desses serviços requer habilidade e mão-de-obra adequada, e a participação da mulher nos trabalhos de manutenção é bem restrita, pois esta função geralmente está ligada à força física, caracterizando-se como masculina, trazendo a ideia remota de que mulheres não são capazes de atuar em determinados setores. Entretanto existem técnicas de manutenção que não exigem esforço braçal. Este estudo objetivou fazer uma análise comparativa entre os gêneros acerca da contratação de mulheres para o setor de manutenção, para isso, foram aplicados questionários para obter justificativas de homens, mulheres e gestores do setor de manutenção de diversas empresas quanto a atuação e contratação de mão-de-obra feminina. Assim, foi possível justificar a contratação de mulheres no setor de manutenção ou os preconceitos relacionados a atuação feminina, assim como suas qualidades e aptidões, associando as respostas aos tipos de manutenção que as empresas adotam. Foi possível perceber que a força física não é o principal critério de contratação na manutenção, e que o principal atributo para a atuação, para ambos os gêneros, é a qualificação.
Palavras-chave: Mulheres. Trabalho. Manutenção Industrial. Gênero. Tipos de Manutenção.

ABSTRACT:

The mainetance aims maintain actives in good operation avoiding failures, losses in the production process and ensuring security. The realization of this services it requires ability and proper manpower, and participation of women at the mainetance works are restricted, because this function is connected physical force, characterized as male, bringing remote idea that women are not able to act in certain sectors. But there mainetance techniques that does not require manual effort. This study aimed to make a comparative analysis between genres about hiring women for the mainetance sector, for this, questionnaires were applied to obtain justifications of men, women and managers mainetance sector several companies as the performance and hiring of female manpower. Thus, it was possible to justify hiring women in mainetance sector os prejudices related to female performance, as well their qualities and skills, associating responses to mainetance types that companies adopt. It was possible realize that physical force is not the main criterion in hiring mainetance, and that the main attribute for performance, for both genres, is the qualification.
Keywords: Women. Work. Industrial Maintenance. Genre. Types of Maintenance.

1. Introdução

A manutenção consiste em procedimentos que visam manter máquinas e equipamentos funcionando de forma correta, assegurando qualidade dos produtos, confiabilidade e segurança dos trabalhadores, tanto na manutenção quanto em outros processos. Tais procedimentos de manutenção são executados de diferentes formas, dependendo de uma série de fatores como tipos de máquinas e equipamentos, influência deles no processo produtivo e riscos que oferecem. Portanto, é necessário que haja mão-de-obra qualificada que atenda aos requisitos da empresa e dos procedimentos que esta utiliza para manter seus ativos em funcionamento.

É comum relacionar o trabalho industrial ao gênero masculino, pois está ligado ao esforço físico e trabalho pesado. Essa ideia remonta a séculos anteriores, quando mulheres eram consideradas frágeis e incapazes de colaborar com seu esforço, servindo apenas para cumprir as tarefas do lar e cuidar dos filhos. Enquanto os homens, fortes e resistentes às atividades brutas, trabalhavam nas indústrias e sustentavam a casa. E, como toda atividade industrial, a manutenção era executada apenas por homens, por ser uma atividade de característica exclusivamente masculina, como tantas outras.

Entretanto, esse cenário vem mudando desde a Revolução Industrial, onde as mulheres aderiram à dupla jornada de trabalho: casa e emprego. Isso não foi tarefa fácil, pois essa luta veio acompanhada por preconceito dos homens e da sociedade como um todo; as pessoas conservadoras mantinham a opinião de que lugar de mulher é em casa.

A mulher ainda sofre preconceitos no que diz respeito a trabalhar no segmento industrial. Parte das indústrias têm resistência em contratar mulheres em diversos setores, inclusive o de manutenção, onde raramente encontra-se trabalho feminino.

O motivo básico pelo qual mulheres não são contratadas para desempenhar a função manutenção é dado pela força física, ou, no caso das mulheres, a falta dela. Muitas empresas adotam procedimentos de manutenção que exigem esforço braçal, tornando restrita a presença da mão-de-obra feminina no setor. Porém, existem outras técnicas de manutenção que não exigem esforço físico, mas sim precisão e cuidados, bem característicos do gênero feminino.

O presente estudo traz uma comparação acerca da atuação de homens e mulheres no setor de manutenção, as funções que eles desempenham, as desigualdades e resistências que as mulheres ainda sofrem nos dias atuais, assim como as reações dos colaboradores e gestores de manutenção quanto a presença ou contratação delas para atuarem neste setor. Traz ainda questionamentos quanto as funções que as mulheres poderiam exercer na manutenção e os critérios que os gestores utilizam para contratar colaboradores, levantando assim os pontos em que há preconceito e relacionando as restrições da mão-de-obra feminina ao tipo de manutenção que as empresas utilizam.

2. Manutenção

2.1 Evolução e Conceitos de Manutenção

Gonçalves (2015) cita a manutenção como  algo proveniente da Idade Antiga, onde os homens necessitavam que suas ferramentas de caça e pesca estivessem sempre em perfeito estado de uso. Porém o autor salienta que somente depois da invenção das primeiras máquinas que o homem observou a real necessidade de realização da manutenção em seus equipamentos e ferramentas.

A manutenção industrial teve início após a Revolução Industrial com o surgimento da indústria mecanizada. E com a evolução do processo fabril, houve também a evolução da manutenção de forma proporcional (PRÁ, 2010).

Antes disso, segundo Siqueira (2005) e Cabral (1998) , a função manutenção e as equipes de manutenção praticamente não existiam. A maior parte dos reparos era feita pelo pessoal da produção, que reparava o que quebrava e fazia a lubrificação das unidades quando achava conveniente (BRANCO FILHO, 2008).

Derivada do latim manus tenere, que significa “manter o que se tem”, a manutenção é definida de diversas maneiras por órgãos certificadores e normalizadores, porém todas as definições destacam a preocupação com o funcionamento das máquinas e equipamentos, inclusive no sistema produtivo (ALMEIDA, 2014).

A ABNT (1994) em sua norma NBR 5462 e Branco Filho (2008) caracterizam a manutenção como a forma de manter um item em funcionamento, para que se possa desempenhar determinada atividade de forma correta, através da combinação de todas as ações técnicas e administrativas, incluindo as de supervisão.

Kardec e Nascif (2001) não apresentam definição, mas salientam a missão de garantir a disponibilidade dos equipamentos para que possam atender às exigências da produção e serviços, aliadas à outros fatores que agregam valor ao produto, como preservação do meio ambiente, confiabilidade e custos adequados.

Autores como Slack, Chambers e Johnston (2002), por sua vez, têm a manutenção como um termo usado para abordar a forma que as organizações encontram para evitar falhas, cuidando das suas instalações físicas.

Para Xenos (2014) a manutenção está ligada ao retorno do funcionamento de equipamentos às condições originais e, para evitar a ocorrência de outras falhas, deve-se desenvolver a modificação do equipamento introduzindo melhorias, reduzindo os custos e aumentando a produtividade.

2.2 Tipos de manutenção

2.2.1 Manutenção Corretiva

Segundo a ABNT (1994) em sua NBR 5462, é a manutenção feita após a ocorrência de uma pane para recolocar um item em condições de executar sua função. Ainda é a forma mais comum para reparar equipamentos que apresentam problemas inesperados, assim, dependem de mão-de-obra disponível e materiais necessários para o conserto (PEREIRA, 2011).

Essas operações tendem a realizar o conserto o mais rápido possível, porém para Almeida (2014), nem sempre o “mais rápido possível” é necessário para evitar prejuízos e perdas, pois quando uma máquina precisa ser consertada ele para de produzir, além de o operador ter de parar o que estava fazendo para efetuar o reparo.

2.2.2 Manutenção Preventiva

É o tipo de manutenção destinado a evitar a ocorrência da falha através de reparos e verificações em intervalos de tempo pré-definidos (COSTA, 2013). Segundo SLACK et al. (2002, p. 645), “visa eliminar ou reduzir a probabilidade de falhas por manutenção (limpeza, lubrificação, substituição e verificação) das instalações em intervalos de tempo pré-planejados”.

Para Almeida (2014), é a manutenção planejada, controlada através de datas predeterminadas, de modo a manter a máquina ou equipamento em condições de funcionamento e conservação corretas, evitando paradas imprevistas.

2.2.3 Manutenção Preditiva

A manutenção preditiva contribui para a qualidade de serviço desejada, baseada em análises sistemáticas, feitas por meio de supervisão ou de amostragem para reduzir a manutenção preventiva e diminuir a manutenção corretiva (ABNT NBR-5462/1994).

Para Pereira (2011), a implantação da manutenção preditiva segue o mesmo raciocínio da manutenção preventiva. Tem como meta um alto índice de disponibilidade, e por ser baseada em medições, é necessário que seja realizada por pessoal especializado.

2.2.4 Manutenção Produtiva Total (TPM)

Fogliatto e Ribeiro (2009) a abordam como uma evolução da corretiva para a preventiva. Entretanto, Bôas (2005) enfatiza que as características da TPM estão voltadas ao gerenciamento de máquinas adequadas para a execução das atividades e no estudo e treinamento dos operários, aumentando assim sua aptidão técnica para a realização das tarefas de forma correta e distinção de responsabilidades.

Além disso, a TPM é constituída por cinco pilares, que são a base para a construção de um programa de Manutenção Produtiva Total, são eles: eficiência, autorreparo, planejamento, treinamento e ciclo de vida (ALMEIDA, 2014).

2.2.5 Terotecnologia

Para Fortes et. al. (2010), a Terotecnologia pode ser encarada como uma filosofia básica da manutenção, pois compreende uma combinação de engenharia, gestão, economia, habilidades e outras práticas que visam aumentar a produção e o ciclo de vida dos ativos.

Contudo, este conceito não prevaleceu desde o começo e caiu em desuso, mais tarde, a evolução da manutenção e o desenvolvimento dos sistemas de informação abriram espaço para a utilização desta técnica, que passou a ser utilizada e estudada. Isso se dá pela importância da integração da manutenção com outros setores (LOPES, 2011).

Para assegurar esse progresso, a Terotecnologia engloba gerência de economia e tecnologia, pois destaca a importância do custo e ciclo de vida dos ativos. Um de seus principais pilares é a busca constante por aperfeiçoamento técnico e confiabilidade (IRANI, 2011).

2.2.6 Manutenção Centrada em Confiabilidade (MCC)

É um tipo de manutenção que reúne várias técnicas de engenharia para deixar os equipamentos aptos a desempenharem sua função. Por ser racional e sistemática, os programas de MCC vem sendo reconhecidos como a forma mais eficiente de se tratar a manutenção (FOGLIATTO E RIBEIRO, 2009).

Para Prá (2010) aumentar a confiabilidade de uma máquina ou equipamento é um dos principais objetivos e funções, assim, segundo Almeida (2014), são usadas sistemáticas de administração nas quais a MCC se baseia, visando eliminar ou prevenir os defeitos. O autor ainda comenta que esta é uma técnica de manutenção indicada para casos cujo defeito possa causar tragédias e grandes prejuízos.

2.3 Gênero e Trabalho

Segundo Oliveira, Brangion e Magalhães (2011), o conceito de gênero que surgiu a partir da década de 1970 trouxe um avanço teórico, possibilitando análises e discussões entre os gêneros, proporcionando uma compreensão mais assídua das relações sociais entre homens e mulheres.

Gêneros são combinações onde os resultados da atividade humana e satisfação das necessidades do indivíduo são transformados pela sociedade e a cultura em que vivem (STREY, 2000). Assim, homens e mulheres formam dois grupos sociais que são ligados por uma relação social de gênero que possui uma base material que os movem: o trabalho (OLIVEIRA, BRANGION E MAGALHÃES, 2011).

As relações de gênero se dão através de uma construção social e cultural, e representam um processo de produção do poder entre homens e mulheres que acontece de forma constante, em diferentes culturas (FRANÇA E SCHIMANSKI, 2009).

A distinção dos sexos são características do feminino e do masculino, assim como as mulheres são criadas para serem femininas e submissas, os homens são vigiados para manter sua masculinidade (TORRÃO FILHO, 2005). Entretanto, é cada vez mais perceptível que a mulher passou a ter uma dupla jornada, tarefas do lar e da profissão (BRASIL; PEREIRA; MACHADO, 2008).

2.4 Trabalho Industrial Feminino: Preconceitos e Conquistas

Durante o desenvolvimento da sociedade, a história cita a discriminação homem-mulher, principalmente no que diz respeito à educação, onde os homens são os donos do saber, e as mulheres vistas como sendo incapazer de produzir, de desempenhar as atividades à elas atribuídas (VIEIRA, 2007).

A inserção da mulher no mercado de trabalho se deu por uma extensão das atividades domésticas e complementação da renda familiar. Essa ideia é descrita por Rossini (1998), ao citar que a mulher deixou a casa para trabalhar e somar na manutenção da família. D’Alonso (2008) afirma que a mulher assumiu uma profissão quando ela deixou sua casa para conquistar seu espaço público.

Outra conquista das mulheres, para Bruschini (2007), foi o setor da Educação, pois o ingresso da mulher no mercado de trabalho foi possível devido à expansão da escolaridade o ingresso das mulheres nas universidades.

Noronha e Volpato (2006) apontam que, apesar de todo esse avanço, elas ainda enfrentam a atitude discriminatória de receber salários mais baixos. As autoras destacam também o preconceito no que concerne às restrições de oportunidades que as mulheres têm, e que estas atitudes estão vinculadas à criação da cultura remota de que a mulher é vista como incapaz.

Fonseca (2005) aponta a série de fatores que contribuem para o preconceito contra as mulheres: divisão sexual do trabalho; poucas oportunidades quanto à educação; trabalhos informais mal-remunerados; pouca saúde e bem-estar; pouca participação nas negociações; e autonomia pessoal limitada. Esta evidência é constatada também na opinião de Aquilini e Costa (2003), ao afirmarem que a taxa de desemprego das mulheres sempre foi superior à dos homens, até mesmo por serem mais desapegadas do emprego por terem que cuidar da casa.

Assim como a atuação profissional das mulheres é marcada por atrasos e preconceitos, as conquistas também tiveram resultados positivos, e de certa forma ganhou espaço. Bruschini (2007) destaca que as mulheres que obtiveram formação, além de estarem ocupando cargos tradicionais como enfermagem e magistério, estão ganhando espaço em profissões caracterizadas como masculinas como engenharia, medicina, direito e arquitetura, assim como cargos administrativos.

Este último sempre foi idealizado pelos homens e para os homens, tornando-se um cenário exclusivamente masculino por muito tempo. Ao abordarem esse conceito, Noronha e Volpato (2006) reforçam a entrada da mulher nesse cenário como algo muito recente, comandando e impondo seu jeito de ser.

Assim, segundo Neto e Targino (2012), os progressos e atrasos da atuação da mulher no mercado de trabalho são constantes, e giram em torno de uma concepção criada em séculos passados que impede a diversificação da atuação profissional, assim como o desenvolvimento e conquista de espaço pelas mulheres, que visam acabar com o preconceito e a aceitação em todas as áreas.

3.  Metodologia da pesquisa

O objetivo deste artigo é descrever uma pesquisa feita em diversas empresas, no respectivo setor de manutenção, a fim de justificar os critérios de contratação homem X mulher para o setor em relação às técnicas de trabalho adotadas e interação dos gêneros.

Neste capítulo, serão apresentados os métodos e abordagem de pesquisa, que para Andrade (2010) e Boaventura (2004) pode ser definida como um conjunto de procedimentos sistemáticos, que tem como objeivo solucionar problemas propostos através de métodos científicos.

A metodologia é escolhida conforme o problema apresentado (BOAVENTURA, 2004). O autor ainda destaca que é importante identificar esses processos, sejam eles entrevista, questionário, formulário, observação e análises.

Para o presente trabalho foi utilizada a abordagem quantitativa, que segundo Creswell (2007) é estruturada a partir de procedimentos predeterminados, com o uso de questionários ou entrevistas estruturadas para a coleta de dados, com perguntas baseadas em um instrumento e análise estatística. O enfoque quantitativo utiliza a coleta de dados para testar hipóteses e comprovar teorias (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013). A figura 1 mostra as fases do processo quantitativo.

Figura 1 – Processo Quantitativo

Fonte: Adaptado de Sampieri, Collado e Lucio (2013).

Quanto ao desenvolvimento da pesquisa, se deu pela pesquisa de campo, que exige um planejamento geral e específico para a coleta de dados, tendo por escrito as etapas e resultados obtidos (ANDRADE, 2010). No caso deste estudo, foi feita a coleta de dados no setor de manutenção de diversas empresas.

A base para o levantamento de dados foi composta por colaboradores do setor de manutenção de empresas de diferentes segmentos, sendo do sexo masculino, e feminino (caso tenha), assim como seus responsáveis, aqui denominados gestores/líderes/coordenadores. Foi escolhido este setor pelo fato de a manutenção e seus tipos serem parte do objeto de estudo, e por ser um setor que é tido como restrito às mulheres por exigir força braçal em alguns casos, não sendo levado em conta outras técnicas manutenção, gerando assim certa resistência à mão-de-obra feminina.

A amostra da população a ser utilizada é a não-probabilística intencional. Este tipo de amostra consiste em escolher os elementos por causas relacionadas com as características da pesquisa ou de quem faz a amostra, não dependendo da probabilidade. Depende da tomada de decisão para os critérios da pesquisa (SAMPIERI, COLLADO E LUCIO, 2013).

Os dados foram coletados através de questionários com perguntas direcionadas que requerem justificativas para que se possa caracterizar o motivo do problema. Foram perguntas abertas, voltadas para mulheres e homens que trabalham na manutenção e seus gestores. Para Andrade (2010), este tipo de questionário dá mais liberdade de resposta e proporciona maiores informações.

Para a análise e obtenção dos dados, foram utilizados recursos básicos de estatística, já que a amostra em questão foi não-probabilística intencional, e consistiu em escolher a amostra para representar este estudo. A ferramenta utilizada para a organização das informações obtidas foi o Microsoft Excel, que permitiu a criação de tabelas e gráficos de forma prática.

Contudo, para Vergara (2004) e Andrade (2010) existem algumas restrições e circunstâncias extracientíficas durante a realização de uma pesquisa, como a disponibilidade de tempo, livros, equipamentos e outros materiais. No caso do presente estudo, o fato de as mulheres trabalharem no setor de manutenção ser algo raro foi uma das restrições, porém o número de mulheres encontrado foi representativo. O uso do questionário de perguntas abertas também foi uma restrição pelo fato de dificultar a apuração dos fatos e a junção de informações no gráfico.

4. Resultados e discussões

Este artigo teve como objetivo comparar a atuação de homens e mulheres no setor de manutenção, assim como suas funções e a relação entre a contratação de ambos com as técnicas de manutenção adotadas pelas empresas, e também identificar preconceito/resistência e opiniões dos mesmos em relação às mulheres no setor em questão.

Ao todo, foram 33 pessoas questionadas, em 15 empresas das regiões de Criciúma (AMREC) e Laguna (AMUREL), sendo elas médias e grandes, que para o SEBRAE (2010), consistem em 100 a 499 empregados para as médias, e mais de 500 empregados para grandes; cujos segmentos são cerâmica, metalurgia, plásticos, serviços terceirizados, alimentos/bebidas e químicas (tintas).

O questionário consistiu em perguntas direcionadas que propiciassem o alcance dos objetivos propostos, sendo que parte delas foi feita aos líderes de manutenção, e outra parte aos operadores de manutenção. No caso das empresas onde há mulheres atuando, foram acrescentadas perguntas direcionadas à elas também. Aqui, as empresas serão denominadas E1, E2, E3, e assim por diante.

Inicialmente, houve a contabilização de empresas que possuem mulheres no setor de manutenção, como mostra o gráfico da figura 2.

Figura 2 – Número de empresas que possuem mulheres no setor de manutenção

Fonte: Autores (2016).

A atuação de mulheres no setor de manutenção corresponde a 20%, levando-se em conta o número de empresas. São 3 empresas com mulheres trabalhando no setor, sendo que na empresa E5, a colaboradora trabalha na área de planejamento e compras técnicas; na empresa E12, é eletricista e; na empresa E15, programação e compras técnicas.

A primeira pergunta do questionário visou identificar as técnicas de manutenção adotadas pelas empresas (Figura 3).

Figura 3 – Tipos de manutenção adotados pelas empresas

Fonte: Autores (2016).

No primeiro momento, serão apresentados os resultados obtidos nas empresas que não possuem mulheres no setor de manutenção. Foram perguntas direcionadas primeiramente ao líder de manutenção, e depois a um dos operadores de manutenção de cada empresa, separadamente. Posteriormente, serão abordados os resultados referentes à atuação das mulheres nas 3 empresas.

4.1 Questionário direcionado às empresas que não possuem mulheres no setor de manutenção

4.1.1 Aos gestores

A figura 4 mostra as justificativas da pergunta 2: “Por que não há contratação de mulheres para estes serviços?”

Figura 4 – Justificativas quanto à não contratação de mulheres para o setor de manutenção

Fonte: Autores (2016).

Como é possível perceber, a falta de demanda é o principal motivo pelo qual as empresas questionadas não contratam mulheres para trabalhar na manutenção, ou seja, há falta de procura por parte das mulheres. Porém, o paradigma da força física também é um fato; outras opiniões como flexibilidade das mulheres e qualificação foram abordadas. Com isso, a pergunta 3 consistiu em saber se os líderes de manutenção destas empresas contratariam mulheres para atuar no setor e o porquê. A contabilização das respostas está no gráficos da figura 5 .

Pergunta 3: Você contrataria mulheres para trabalhar no setor de manutenção?”

Figura 5 – Empresas que contratariam mulheres para trabalhar na manutenção

Fonte: Autores (2016).

Quanto às justificativas, estão representadas na Tabela 1 de forma a destacar a variedade das respostas, descritas conforme os líderes do setor responderam/escreveram.

Tabela 1 – Justificativa dos líderes de manutenção quanto à contratação de homens e mulheres

Empresa

Resposta

Justificativa

E1

Não

“Não teríamos onde colocá-las”.

E2

Sim

“São mais detalhistas, organizadas e focadas”.

E3

Sim

“São mais detalhistas, e têm técnica”.

E4

Sim

“Para abrir portas para que elas possam atuar no setor”.

E6

Sim

“Serviços mais leves podem ser executados por mulheres”.

E7

Não

“ Nosso grupo é reduzido. Não podemos contratar alguém com limitações físicas”.

E8

Sim

“Não temos problemas em relação à gênero”.

E9

Sim

“São organizadas e espontâneas”.

E10

Sim

“São atenciosas e capazes”.

E11

Sim

“Não temos problemas em relação à gênero”.

E13

Sim

“São precisas, cuidadosas e delicadas”.

E14

Sim

“Se tiver conhecimento técnico, não tem motivos para não contratar”.

Fonte: Autores (2016).

A representação da tabela acima proporciona justificativas de forma mais detalhada, assim, apresenta algumas atribuições dadas pelos líderes de manutenção às mulheres que, como pode ser visto, são qualidades que não passam despercebidas por eles.

A pergunta 4 visou as áreas em que poderia haver contratação/atuação de mulheres na visão dos gestores, apresentadas na figura 6. Pergunta 4: Em que funções poderia haver contratação de mulheres na manutenção?”

Figura 6 – Funções da manutenção em que poderia haver contratação de mulheres

Fonte: Autores (2016).

Aqui foram atribuídas funções leves às mulheres, embora duas das opiniões apontam que as mulheres podem exercer qualquer função. Para Oliveira et. al. (2011) “por um lado o trabalho leve é ideal para a mulher, pois ela é mais cuidadosa e organizada em relação ao homem e o trabalho pesado é para o homem porque utiliza mais força física, por meio do adjetivo “braçal””. O comentário da autora reforça um dos motivos para a não contratação de mulheres para trabalhar na manutenção: a força física.

Foi abordada a possível resistência/preconceito em relação ao assunto “mulheres no setor de manutenção”, pela  pergunta 5: “Você percebe/tem algum preconceito/resistência dos homens em relação à contratação de mulheres?”

Figura 7 – Preconceito/resistência em relação à contratação de mulheres para o setor de manutenção

Fonte: Autores (2016).

Pode-se perceber no gráfico acima que 5 das 12 empresas que não têm mulheres no setor de manutenção não percebem nem têm preconceito em relação a este assunto, mas as outras apontaram motivos. O gestor da empresa E1 por exemplo, destaca: “Porque sempre foi uma atividade realizada por homens, é questão de cultura”. 

Já o gestor da empresa E2 enfatiza a fragilidade relacionada à força física, e defende: “Eles acreditam que mulheres são mais frágeis, não têm força para levantar algum peso. Mas não levam em consideração que existem homens do mesmo nível”. A questão de relacionamento é citada pela empresa E7: “Infelizmente, em um meio onde só tem público masculino não haverá bom relacionamento entre as partes.”

4.1.2 Aos operadores

A opinião dos operadores foi contabilizada separadamente, de forma a obter outro ponto de vista, e também a interação dos gêneros enquanto colegas de fábrica. Pergunta 1: “Em sua opinião, existe algum problema quanto à contratação de mulheres para o setor de manutenção?”

Figura 8 – Opinião dos operadores de manutenção quanto à contratação de mulheres

Fonte: Autores (2016).

Figura 9 – Motivos para contratação ou não de mulheres

Fonte: Autores (2016).

Do ponto de vista dos operadores, a força física é mais levada em conta do que na visão dos gestores. Isso se dá pela possível percepção deles sobre as atividades realizadas e a dificuldade de as mulheres lidarem com trabalho pesado. A limitação das atividades do trabalho pesado é destacada por Oliveira  et al. (2011): “Devido as suas características físicas o gênero feminino muitas vezes não consegue realizar atividades consideradas braçais, demandando auxílio do gênero masculino”. Porém, a maioria destaca que, o que importa é ter qualificação, conhecimento na área de atuação, e gostar do que faz.

Pergunta 2: “Elas poderiam atuar em alguma função de manutenção?”

Figura 10 – Funções da manutenção em que poderia haver contratação de mulheres (segundo operadores)

Fonte: Autores (2016).

Assim como no ponto de vista dos líderes de manutenção, os operadores atribuem serviços mais leves às mulheres devido às condições físicas e características mais femininas, como organização, detalhismo e concentração. Também foram levantadas as resistências/preconceitos que os operadores percebem em relação às mulheres na manutenção.

Pergunta 3: “Você percebe alguma resistência ou preconceito quanto a este assunto?”

Figura 11 – Preconceito/resistência em relação às mulheres na manutenção

Fonte: Autores (2016).

Segundo a maioria dos operadores, o preconceito está no machismo e no fato de a manutenção ainda ser um cenário ocupado por homens. Aqui, pode-se perceber que todos percebem algum preconceito, diferentemente dos gestores de manutenção, onde alguns afirmaram não perceber. Nota-se que um dos operadores apontou a proteção como tipo de resistência, que para Oliveira et. al. (2011) remonta a superioridade do gênero masculino, como responsável pela segurança do gênero feminino no local de trabalho.

4.2 Questionário direcionado aos gestores, operadores e operadoras de manutenção das empresas que têm mulheres atuando

Como se tratam de apenas 3 empresas, os resultados serão apresentados de forma descritiva.  A funcionária da empresa E5 desenvolve atividades de planejamento de manutenção e compras técnicas, a da empresa E12 é eletricista, e na empresa E15, projetista.

4.2.1 Aos gestores

Tabela 2 – Perguntas e respostas dos gestores de manutenção das empresas que possuem mulheres no setor

Perguntas

Respostas

“Ela consegue executar o trabalho individualmente?”

E5: “Sim, porque tem conhecimento e embasamento teórico”.

E12: “Sim, porque tem conhecimento necessário e é apta a desempenhar a função”.

E15: “Sim, tem conhecimento e habilidades que as possibilitam executar sua função”.

“Quais características apresentadas por ela em relação à seu trabalho?”

E5: “Responsável, proativa, eficiente”.

E12: “Cuidado, disponibilidade, compromisso, detalhista”.

E15: “Disciplina, cuidados, paciência, detalhismo”.

“Existe alguma resistência por parte dos colaboradores do gênero masculino?”

E5: “Não, depois que ela entrou no setor, a manutenção é outra coisa”.

E12: “Eles têm uma relação normal como todos os colegas de trabalho”.

E15: “Na verdade, até admiramos as mulheres que estão nesta área”.

“Você percebe alguma resistência ou preconceito quanto a este assunto?”

E5: “Não. Tendo como base nossa colega, tem boa desenvoltura e executa bem as tarefas”.

E12: “Não. Executa bem as tarefas”.

E15: “Não. Como já disse, admiramos as mulheres desta  área”.

Fonte: Autores (2016).

De acordo com as respostas dos gestores, o ideal para a execução das tarefas são conhecimento e habilidade necessários. Em nenhum momento a força física foi citada por eles, já que tiveram como base suas colegas de trabalho, que exercem funções mais leves. As qualidades apontadas por eles em relação às colegas e as funções que elas ocupam reafirmam a opinião dos gestores cujas empresas não tem mulheres atuando, que são atuação em serviços mais leves e o fato de serem mais cuidadosas.

4.2.2 Aos operadores

Tabela 3 – Perguntas e respostas aos operadores de manutenção das empresas que possuem mulheres no setor

Perguntas

Respostas

“Ela desepenha a mesma função que vocês?”

E5: “Não. Porque ela trabalha no planejamento de manutenção e compras técnicas”.

E12: “Não. Ela é eletricista e eu sou mecânico”.

E15: “São funções diferentes. Eu sou mecânico, é mais braçal, e elas trabalham na parte de projetos”.

“Como você percebe o desempenho dela?”

E5: “Desempenha bem as tarefas, é eficiente, rápida e proativa”.

E12: “Normal, nada de diferente”.

E15: “Ela tem aptidão e conhecimento necessários, e é responsável”.

“Existe alguma dificuldade em dividir suas funções com mulheres? Alguma divergência?”

E5: “Não. No nosso caso é ela quem programa, então para nós é ótimo”.

E12: “Não. Além de serem funções diferentes, há respeito entre todos”.

E15: “Há lugar para todos aqui, e nossas funções se complementam. Se a pessoa é capaz, não há problema algum”.

“Em sua opinião, existe algum problema quanto à contratação de mulheres para o setor de manutenção?”

E5: “Não. Porque os setores estão com uma tecnologia desenvolvida, após a Revolução Industrial ocorreu um momento de desenvolvimento na área industrial reduzindo o esforço braçal e aumentando a contratação de mulheres na manutenção”.

E12: “Não. Desde que tenha conhecimento e habilidades necessários”.

E15: “Não, mulheres são tão capazes quanto homens, e as funções se complementam”.

“Você percebe alguma resistência ou preconceito quanto a esse assunto?”

E5: “Não. Já existiu, mas nos dias atuais é pouco”.

E12: “Sim. Não é que seja preconceito, mas para algumas pessoas é algo novo ver uma mulher na área de manutenção. Não é que não estejam preparadas para isso, mas existe pensamento antigo, mente fechada, de que mulher devia “pilotar fogão”, como os mais velhos dizem. Aos poucos esse paradigma está sendo quebrado”.

E15: “Sim. Apesar de a nossa empresa contratar e ter este assunto de forma positiva, existem lugares e pessoas que mantém a ideia de que manutenção é só serviço pesado, que mulher não deve se sujar. Porém a manutenção está se desenvolvendo através de suas técnicas, e acredito que a questão de gênero está se tornando passado”.

Fonte: Autores (2016).

Ao serem questionados quanto a desempenhar a mesma função que as colegas, os operadores se diferenciaram apenas quanto a função em si, nada de forma característica ou pessoal. Apenas o funcionário da empresa E15 caracterizou a função de mecânico como “mais braçal”. O desempenho das mulheres e a interação entre os gêneros é positiva, não há dificuldades em trabalharem no mesmo local e nenhum problema em contratar mulheres. Nestes pontos, o conhecimento e capacidade são levados em conta também.

Mas apesar de eles não apresentarem, eles percebem preconceitos/resistências que, de acordo com as opiniões citadas na tabela 3, remontam aos paradigmas da sociedade e aos trabalhos pesados.

4.2.3 Às mulheres do setor de manutenção

Tabela 4 – Perguntas e respostas às mulheres do setor de manutenção

Perguntas

Respostas

“Qual função você desempenha no setor?”

E5: “Planejamento e compras técnicas”.

E12: “Eletricista plantão”.

E15: “Projetista”.

“Qual o motivo da sua escolha para atuar nesta área?”

E5: “Sou formada em Manutenção Industrial e gosto muito desta área, tanto que estou fazendo Engenharia Mecânica”.

E12: “Fiz o técnico em eletromecânica e me apaixonei pela profissão”.

E15: “Interesse na área mecânica”.

“Existe alguma dificuldade na execução do serviço?”

E5: “Não. Tenho conhecimento técnico e proatividade suficientes”.

E12: “Em relação a eu ser mulher? Nenhuma. Executo todas as atividades que meus companheiros de turno, sem nenhum adicional de dificuldade. Se é difícil pra mim, é difícil pra eles e vice-versa”.

E15: “Não, pois o serviço não é pesado e tenho o conhecimento necessário para executá-lo”.

“Consegue perceber algum comportamento diferente por parte dos gestores ou dos colegas do gênero masculino devido ao trabalho de mulheres neste setor?”

E5: “Não”.

E12: “Não”.

E15: “Não”.

“Você percebe alguma resistência ou preconceito quanto a este assunto?”

E5: “Não tem diferenciação na interação com os colegas, procuramos ser profissionais e agir com seriedade, que é muito importante para mantermos o respeito na área, e trabalharmos em conjunto”.

E12: “Atualmente não, mas antes eu mesma sofri alguns preconceitos devido a eu ser mulher e querer trabalhar com a mão na massa”.

E15: “Bem pelo contrário, reconhecem e valorizam nossos serviços, principalmente por sermos mullheres”.

Fonte: Autores (2016).

Pode-se então perceber que o ingresso da mulher nas áreas industriais está sendo cada vez mais aceito, e que a atuação delas é até mesmo admirada. Elas atuam porque gostam e não percebem nenhum problema na interação entre ambos os gêneros, são respeitadas e valorizadas e destacam, por sua vez, que têm conhecimentos e habilidades necessários para exercerem as funções. O fato de o trabalho delas ser mais leve é citado pela funcionária da empresa E15, e a igualdade entre os gêneros é destacada pela E12, podendo ser percebida também no comentário da E5:

“Eu estou contratada para a parte de planejamento de manutenção industrial. O intuito da empresa ao me contratar era reduzir as manutenções corretivas e trabalharmos mais com as manutenções preventivas e preditivas. Ainda temos um pouco de manutenção corretiva, mas estamos trabalhando para reduzí-lo, para trabalharmos mais nas preventivas e preditivas.
Podemos dizer que trabalhamos sob pressão, temos que resolver os problemas com eficácia e agilidade, pois quando uma máquina para estamos deixando de produzir. Eu desempenho meu trabalho no setor de manutenção mesmo, junto aos mecânicos e eletricistas, dou suporte, providencio o material para fazer as manutenções”.

Embora no caso da E12, a interação seja de forma positiva, ela conta que nem sempre foi assim, e que as mulheres serem bem aceitas trabalhando em meio aos homens ainda é exceção:

“Bom, fico feliz em agora ser respeitada no meu ambiente de trabalho. Mas já tentei trabalhar em outra empresa onde eu era desrespeitada todo dia. Todos riam da minha cara quando eu dizia o que eu queria ser e falavam que o meu lugar não era ali, que eu nunca ia dar conta. Zombavam e duvidavam da minha capacidade. Quando tentei conseguir uma vaga de estágio atuando na fábrica mesmo e não na parte de projetos (porque projetos é aceitável uma mulher fazer, ao olhos da sociedade), não tive retorno positivo.

Onde trabalho atualmente não tenho do que reclamar, nunca sofri diferenciamento pelos meus colegas ali. Como já disse, somos iguais na execução das tarefas, mas sei que é exceção”.

5. Conclusão

O esforço físico é um fator que limita o trabalho de mulheres no setor de manutenção, porém, tendo como base os questionários aplicados nesta pesquisa, é possível perceber que o principal motivo para a não contratação de mulheres para o setor nas empresas da região é a falta de procura das mesmas. Isso está ligado ao fato de a manutenção ser atividade característica de homens, como também foi apresentado. Mas percebe-se uma mudança deste cenário, já que a manutenção tem atividades que não exigem esforço, as quais muitas delas foram citadas por operadores e gestores de manutenção. A inserção das mulheres neste setor tende a crescer, pois nota-se a procura delas por cursos técnicos e de graduação que permitem o conhecimento técnico e capacitação para que elas ocupem essas funções. Este fato é comentado por Brambilla, Lionço e Francisco (2005), que afirmam que, aos poucos, a procura das mulheres por formação e conhecimento aumetou para que obtivessem melhor qualificação e  possibilidades de atuação em outras áreas.

O número de mulheres que trabalham no setor de manutenção da região em estudo mostrou-se expressivo, assim como os critérios para a contratação de funcionários para este setor, onde gestores e operadores ofereceram um leque de possibilidades no que diz respeito às funções de manutenção que a mulher pode exercer.

Quanto a interação dos gêneros, as empresas que têm mulheres no setor mostraram resultados positivos, onde, com as justificativas dadas, é possível perceber que há respeito entre as partes e que as funções se complementam, não há divergências ao fato de ser homem ou mulher. Mas é possível perceber também que a sociedade ainda tem influência em se tratando do que é característico feminino e masculino, tendo em vista que uma das mulheres do setor de manutenção, em uma de suas experiências de trabalho, sofreu resistência pelo fato de ser mulher e querer trabalhar com a “mão na massa”, em meio aos homens.

As técnicas de manutenção estão, em parte, relacionadas à contratação dos funcionários para o setor em questão. Os questionários mostraram que as tarefas e funções leves são mais atribuídas as mulheres, como programação, gestão e organização, fazendo assim menção às técnicas de manutenção preventiva, preditiva, entre outras que requerem mais análise, cuidados e detalhismo, características apontadas tanto pelos gestores quanto pelos funcionários do setor ao citarem as qualidades das mulheres. Por outro lado, alguns afirmaram que mulher pode exercer qualquer função, e o que realmente importa ao contratar alguém é a qualificação e a vontade de exercer tais tarefas, no entanto, pode exercer as manutenções corretivas também.

Assim, a ideia de que manutenção é apenas para homens está se dissolvendo, principalmente entre funcionários deste setor. Um dos fatos que pode influenciar essa quebra de paradigma é que o setor está sendo ocupado por muitos jovens, que, por sua vez, têm outro ponto de vista, já que homens e mulheres estão inseridos em ambientes cada vez mais comuns entre ambos.

Referências 

ABNT. 1994. Rio de Janeiro. NBR 5462, Confiabilidade e mantenabilidade - Terminologia. Rio de Janeiro, 37p.

ALMEIDA, P.S. Manutenção Mecânica Industrial: Conceitos Básicos e Tecnologia Aplicada. São Paulo: Érica, 2014. 254 p.

ANDRADE, M. M. INTRODUÇÃO À METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTÍFICO. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010. 176 p.

AQUILINI, G.H.; COSTA, P.L. O sobre-desemprego e a inatividade das mulheres na metrópole paulista. Estudos Avançados, São Paulo, v.17, n.49, 2003, p.17-33. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142003000300003&lng=en&nrm=iso> Acesso em 18 Out. de 2015.

BÔAS, A.T.V. GESTÃO DA MANUTENÇÂO PRODUTIVA TOTAL: CONCEITOS E ETAPAS DE IMPLEMENTAÇÃO. 2005. 51 f. Monografia (Especialização) - Curso de Engenharia de Controle e Automação, Engenharia de Controle e Automação e TÉcnicas Fundamentais – Decat, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2009.

BOAVENTURA, E. M. Metodologia da Pesquisa. São Paulo: Atlas, 2004. 160 p.

BRAMBILLA, N. LIONÇO, V. FRANCISCO, A.C. Capacitação da mão de obra feminina para atuação no campo da manutençao industrial: um estudo de caso no campus pato branco do cefet pr.. In: II CONBRAD Congresso Brasileiro de Administração e VISEJEM Seminário Paranaense de Jovens Empresarios e Empreendedores, 2005, Maringá Pr. Empreendedorismo: A formação de empregadores para o desenvolvimento, 2005.

BRANCO FILHO, G. A Organização, o Planejamento e o Controle da Manutenção. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2008. 257 p.

BRASIL, L.; PEREIRA, A. N.; MACHADO, V. L. Inserção do gênero feminino na empresa reflete a participação feminina na população economicamente ativa? Um estudo de caso da companhia energética do Paraná - COPEL. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, XXXII, 2008, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2008.

BRUSCHINI, M.C.A. Trabalho e gênero no Brasil nos últimos dez anos. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v.37, n.132, Sept./Dec. 2007. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-15742007000300003&script=sci_arttext> Acesso em 11 Out. de 2015.

CABRAL, J. P. S. “Organização e Gestão da Manutenção, dos conceitos à prática ...”, Lidel, Março de 1998, Lisboa.

COSTA, M.A. GESTÃO ESTRATÉGICA DA MANUTENÇÃO: UMA OPORTUNIDADE PARA MELHORAR O RESULTADO OPERACIONAL. 2013. 104 f. TCC (Graduação) - Curso de Engenharia de Produção, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2013.

CRESWELL, J. W. PROJETO DE PESQUISA: Métodos qualitativo, quantitativo e misto. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. 248 p.

D’ALONSO, G.L. Trabalhadoras brasileiras e a relação com o trabalho: trajetórias e travessias. Psicologia para América Latina, México, n.15, dez.2008. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1870-350X2008000400003&script=sci_arttext> Acesso em 18 Out. de 2015.

FONSECA, R.M.G.S. Equidade de gênero e saúde das mulheres. Revista Escola de Enfermagem USP, São Paulo, v.39, n.4, 2005. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0080-62342005000400012&lng=pt&nrm=iso> Acesso em 18 Out. de 2015.

FORTES, M.Z. et al. Modelo de Gestão/Avaliação para Equipes Multidisciplinares. In: SIMPÓSIO DE EXCELêNCIA EM GESTÃO E TECNOLOGIA, 7., 2010, Resende. Anais... Resende: Seget, 2010.

FRANÇA, A. L.; SCHIMANSKI, E. Mulher, trabalho e família: uma análise sobre a dupla jornada feminina e seus reflexos no âmbito familiar. Disponível em: <dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/4025711.pdf>. Acesso em: 04 out. 2015, 14:52.

GONÇALVES, E.. Manutenção Industrial: Do Estratégico ao Operacional. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2015. 148 p.

KARDEC, A.; NASCIF, J. Manutenção - Função Estratégica. Segunda edição. Rio de Janeiro: QualityMark, 2001.

LOPES, R.S. MODELO DE APOIO A DECISÃO PARA POLITICA DE MANUTENÇÃO OPORTUNA. 2011. 90 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia de ProduÇÃo, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2011.

MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de Pesquisa. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006. 289 p.

NETO, B. J; TARGINO, I. DESIGUALDADES ENTRE MULHERES E HOMENS NO MERCADO DE TRABALHO NORDESTINO NAS DÉCADAS DE 1990 E 2000. Okara: Geografia em Debate, João Pessoa, v. 6, n. 2, p.240-262, 2012. Disponível em: <http://www.okara.ufpb.br>. Acesso em: 18 out. 2015.

NORONHA, E.C.S.F.; VOLPATO, T.G. A trajetória profissional e educacional da mulher administradora. Pretexto, Belo Horizonte, v. 7, n. 2, p.63-76, 2006. Disponível em: <http://www.fumec.br/revistas/pretexto/article/viewFile/432/427>. Acesso em: 18 out. 2015.

OLIVEIRA, D.A.; BRANGION, A.R.; MAGALHÃES, Y.T. Representações Sociais de Gênero no Setor de Manutenção de uma Empresa Mineradora. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, XXXV, 2011, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2011.

PRÁ, E.B. A MANUTENÇÃO INDUSTRIAL SOB A PERSPECTIVA DA MANUTENÇÃO CENTRADA EM CONFIABILIDADE (MCC) EM UMA EMPRESA DA ÁREA DE COMPRESSORES HERMÉTICOS. 2010. 72 f. TCC (Graduação) - Curso de Engenharia de ProduÇÃo e Sistemas, Centro de CiÊncias TecnolÓgicas - Cct, Universidade do Estado de Santa Catarina - Udesc, Joinville, 2010.

ROSSINI, R.E. AS GEOGRAFIAS DA MODERNIDADE - GEOGRAFIA E GÊNERO: MULHER, TRABALHO E FAMÍLIA. São Paulo: Nemge, v. 12, 1998. P. 7-26.

SAMPIERI, R.H.; COLLADO, C.F.; LUCIO, M.P.B. Metodologia de Pesquisa. 5. ed. Porto Alegre: Penso, 2013. 624 p.

SEBRAE - SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS. Critérios de classificação de empresas. 2010. Disponível em: <www.sebrae.com.br> Acesso em 01 mai 2016.

SIQUEIRA, I.P. Manutenção Centrada na Confiabilidade: Manual de Implementação. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2005.

SLACK, N. ; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R. Administração da Produção. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002. 703 p.

STREY, M. N. Gênero. In: JACQUES et al. Psicologia social contemporânea.4. ed. Petrópolis: Vozes, 2000.

TORRÃO FILHO, A. Uma questão de gênero: onde o masculino e o feminino se cruzam. Revista Cadernos Pagu, Campinas, n. 24, p. 127-152, jan./jun. 2005.

VERGARA, S. C. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2004.

VIEIRA, A. A EXPANSÃO DO TRABALHO FEMININO NO SETOR DE SERVIÇOS: UMA ANÁLISE NAS CINCO REGIÕES DO BRASIL. 2007. 66 f. Monografia (obtenção de carga horária) - Curso de Ciências Econômicas, Ciências Econômicas – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2007.

XENOS, H. G.. GERENCIANDO A MANUTENÇÃO PRODUTIVA: O CAMINHO PARA ELIMINAR FALHAS NOS EQUIPAMENTOS E AUMENTAR A PRODUTIVIDADE. 2. ed. Nova Lima: Falconi, 2014. 312 p.


1. Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), Criciúma – SC/Brasil E-mail: patriciapereirap@gmail.com
2. Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), Criciúma – SC/Brasil; NEEP – Núcleo de Estudos em Engenharia de Produção E-mail:  vilson.bristot@unesc.net
3. Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), Criciúma – SC/Brasil; NEEP – Núcleo de Estudos em Engenharia de Produção E-mail:  lpg@unesc.net


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 27) Año 2016

[Índice]

[En caso de encontrar algún error en este website favor enviar email a webmaster]