Espacios. Vol. 37 (Nº 26) Año 2016. Pág. E-3

Práticas didático-pedagógicas no ensino de empreendedorismo: Um estudo da percepção de aprendizagem dos discentes do curso de administração

Didactic and pedagogic practices in entrepreneurship education: The perception of learning processes from business administration students

Maria Virgínia ESPERIDIÃO; Nadia Campos PEREIRA 1

Recibido: 04/05/16 • Aprobado: 29/05/2016


Conteúdo

1. Introdução

2 Fundamentação teórica

3. Metodologia

4 Descrição e análise dos resultados

5. Considerações finais

Referências


RESUMO:

O presente estudo teve como objetivo investigar se as práticas didático-pedagógicas adotadas no curso de Administração estão contribuindo para o desenvolvimento do perfil empreendedor dos discentes e egressos do curso. Metodologicamente, a pesquisa classifica-se como exploratória-descritiva. As estratégias de coleta de dados adotadas foram a pesquisa documental e o questionário estruturado. Os resultados alçados neste estudo destacam a necessidade de se pensar o ensino de empreendedorismo não mais da forma tradicionalmente concebida, mas de forma a preencher as expectativas e necessidades do mercado. Para que as metodologias de ensino utilizadas hoje na universidade sejam coerentes com esta mudança, torna-se necessário equilibrar teoria e prática.
Palavras-chave: ensino de empreendedorismo, curso de administração; práticas de ensino; praticas pedagógicas; estudo de caso.

ABSTRACT:

This study aimed to investigate whether the didactic and pedagogical practices in business administration courses are contributing to the development of the entrepreneurial profile among graduate students. Methodologically, the research can be classified as exploratory and descriptive. Data collection strategies were documentary research and structured questionnaire. The results highlight the need to consider entrepreneurship education no longer traditionally conceived, but in order to fulfill the expectations and needs of the market. Teaching methods need to be consistent with this change and, thus, it is necessary to balance theory and practice.
Keywords: entrepreneurship education, business administration; teaching practices; pedagogical practices; case study.

1. Introdução

As Universidades do Brasil e do mundo tem sido palco de profundas e constantes transformações nas quais o desenvolvimento socioeconômico tem sido incorporado como parte da missão da universidade. Essas transformações, em grande parte resultante do processo de globalização das economias iniciado na década de 70, contribuíram para o desenvolvimento de um novo cenário organizacional, mais competitivo e dinâmico. Neste novo cenário organizacional, tanto a ação empreendedora como o agente responsável por ela, o empreendedor, têm assumido importância crescente, seja no mundo nos negócios ou na academia.

É relevante o aumento da importância atribuída à questão do empreendedorismo no cenário contemporâneo. Assim, devemos procurar responder como as universidades estão contribuindo para esse novo cenário. Ou seja, se estas estão oferecendo o estimulo necessário para os seus discentes na pratica do empreendedorismo, visto que este constitui fator importante para o crescimento dos negócios e desenvolvimento socioeconômico da região onde está implantada, contribuindo com uma Educação Empreendedora (EE), compreendida como uma educação voltada para o desenvolvimento de uma atitude empreendedora e não apenas para a criação de empresas.

Desta forma, torna-se relevante investigar como o ensino do empreendedorismo nos cursos de Administração tem sido abordado pela universidade e se esta tem criado um ambiente propício para o desenvolvimento do perfil empreendedor de seus discentes.

Com base nessas constatações, o presente estudo teve como objetivo investigar as influências da graduação em relação ao empreendedorismo e se as práticas didático-pedagógicas adotadas no curso de Administração estão contribuindo para o desenvolvimento do perfil empreendedor dos discentes e egressos do curso.

Especificamente, buscou investigar: (i) verificar o conhecimento dos discentes e egressos sobre o tema empreendedorismo; (ii) identificar os diversos tipos de práticas didático-pedagógicas adotadas no curso de Administração de uma instituição de ensino pública localizada no estado de Goiás que contribuem para o desenvolvimento do perfil empreendedor;  (iii) identificar a percepção dos discentes do curso e egressos sobre essas práticas e suas implicações para o desenvolvimento do perfil empreendedor. (iv) verificar as influências familiares na formação empreendedora;

Neste estudo foi realizado em um primeiro momento um aporte teórico sobre o empreendedorismo e o empreendedor, seu conceito e evolução, além de considerar o empreendedorismo no Brasil, o ensino do empreendedorismo e as práticas didático-pedagógicas usualmente utilizadas. Em um segundo momento desenvolveu-se os aspectos metodológicos da uma pesquisa aplicada tendo como unidade discentes e ex-discentes do curso de Administração de Empresas da Universidade Federal da Goiás do Campos Catalão. Na seção seguinte são apresentados os resultados e discussões. A última seção apresenta as considerações finais.

2. Fundamentação teórica

2.1 O ensino do empreendedorismo

As temáticas empreendedorismo e empreendedores têm avançado muito nas duas últimas décadas e, mais recentemente, a temática educação empreendedora (EE) tem recebido atenção de pesquisadores.

Apesar de nem ter recebido o devido reconhecimento, o papel do empreendedor sempre foi fundamental para a sociedade (DORNELAS, 2008).  Os fatores que contribuem para que a intensificação dos estudos sobre o ensino do empreendedorismo tenham se intensificado somente nos últimos anos se faz pertinente.

Para Dornelas (2008) o que vem acontecendo, diferentemente do que acontecia no passado é que as transformações tecnológicas têm se intensificado e impulsionado o empreendedorismo.

A capacitação dos indivíduos teve que acompanhar o avanço tecnológico. Em muitos países e inclusive no Brasil está ocorrendo uma crescente preocupação a respeito do assunto por parte das escolas e universidades, as quais estão introduzindo em suas matrizes curriculares a disciplina de empreendedorismo. Ultimamente, uma onda de criação de cursos e disciplinas específicas de empreendedorismo pode ser observada. (SCHMIDT, DOMINGUES, HOELTGEBAUM, 2005).

A origem atual da educação empreendedora (EE) está ligada aos cursos de administração de empresas quase como uma necessidade prática (LOPES, 2010).

Segundo Lopes (2010), historicamente o ensino do empreendedorismo nasceu primeiramente nos Estados Unidos, justamente nas faculdades de administração e então se espalhou por diversos países. Em 1947 na universidade de Harvard, Myles Mace ofertou o primeiro curso de empreendedorismo para 188 discentes. Este fato teve como antecedente a ida de Schumpeter para esta academia em 1932.

 Os primeiros cursos preocupavam-se em administrar as pequenas empresas e posteriormente com o tema inovação. Um reflexo deste fato foi um curso de empreendedorismo em 1953 ministrado por Peter Drucker na Universidade de Nova York. No Brasil, em 1981 o professor Ronald Degen foi o primeiro a ministrar um curso com foco na criação de negócios.

De acordo com Dornelas (2008), foi com a criação da Softex, juntamente com as incubadoras de empresas e os cursos da área da computação que o tema empreendedorismo começou a despertar na sociedade e no meio educacional brasileiro.

A implementação de cursos voltados para o empreendedorismo justifica-se devido ao fato da crescente conscientização e a postura adotada por parte das universidades, no sentido de proporcionar aos estudantes, competências que possibilitem sua inserção no mercado de trabalho, bem como sua sobrevivência sob uma sociedade altamente competitiva (SOUZA et al., 2006 apud RAIMUNDO, RAMBALDUCCI ,PACAGNAN, 2010, p.8).

No Brasil data de 1981 a primeira iniciativa de ensino relacionada ao empreendedorismo. Foi em um curso de Especialização em Administração na Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas. Apenas após três anos teve seu conteúdo voltado também para a graduação, através da disciplina de Criação de Negócios. (SEBRAE, 2008)

Depois dos anos 80 o campo do empreendedorismo expandiu-se e espalhou-se por várias outras disciplinas. (FILION, 1999).

Em 1991 foi introduzido no Brasil o programa da ONU, EMPRETC, atualmente coordenado pelo Sebrae, o qual apresentou um ensino com enfoque na atitude empreendedora. (LAVIERI, s.d apud LOPES, 2010, p.8)

A evolução do ensino da administração acompanhou a evolução econômica brasileira. O ensino hoje nas faculdades do país está voltado para preparar os discentes para carreiras em grandes empresas e ainda ocorre como uma cópia dos modelos aplicados em outros países, não refletindo muitas vezes a realidade brasileira (CARLOS LAVIERI apud LOPES, p.9, 2010).

Hoje vem ocorrendo uma dificuldade em se adequar o ensino do empreendedorismo com o ensino de outras disciplinas da área de Administração. Drucker (1987, p. 16) já afirmava que "empreendimento não é nem ciência nem arte. É uma prática". Essa constatação encontra respaldo em Dolabela (1999a, p. 114), segundo o qual:

[...] para haver efetividade didática na área de empreendedorismo, é essencial que o aprendizado seja insistentemente contextualizado. [...] o aluno pré-empreendedor precisa ser submetido a situações similares àquelas que encontrarão na prática (DOLABELA, 1999ª, p. 114).

Segundo Filion (1999), o desenvolvimento do empreendedorismo como disciplina não foi como as demais. Os primeiros interessados pelo tema eram dos mais variados campos de estudo do conhecimento onde o empreendedorismo não era a principal atividade. Porém, esse cenário tem mudado e cada vez mais pessoas dedicam esforços exclusivos ao empreendedorismo.

Para Fowler (1997 apud VIEIRA, MELATI, RIBEIRO, 2011), a Educação Empreendedora (EE) é um preceito que habilita as pessoas a criar e dirigir seus próprios negócios, aproveitando a oportunidade como meio de aprendizagem, englobando tanto situações de criação de um negócio como a condução de uma empresa já estabelecida.

Porém, como afirma Lopes (2010), as ferramentas que são utilizadas nos cursos de administração não promovem o pensamento holístico necessário para a EE. Ao contrário, são carentes da flexibilidade exigida nos dias atuais.

Nicolini (2000 apud LOPES, 2010) também enfoca um problema na questão dos cursos de administração, no fato de separarem as disciplinas sem muitas vezes uma conexão entre elas. As tentativas de implementação do ensino do empreendedorismo esbarram ainda em problemas culturais, sendo oferecidas em muitas universidades apenas como disciplinas opcionais.

Até alguns poucos anos, não se acreditava que as habilidades empreendedoras poderiam ser ensinadas e muitas vezes isso levava as pessoas a serem desaconselhadas a abrir o próprio negócio se não apresentavam características ditas empreendedoras. (DORNELAS, 2001).

O aumento no interesse pelo ensino do empreendedorismo teve origem em estudos que questionavam esse juízo de que a capacidade empreendedora só é possível quando inata ao ser humano, ou seja, herdada geneticamente.

[...] cada vez mais, acredita-se que o processo empreendedor pode ser ensinado e entendido por qualquer pessoa e que o sucesso é decorrente de uma gama de fatores internos e externos ao negócio, do perfil do empreendedor e de como ele administra as adversidades que encontra no dia a dia. (DORNELAS, 2001, p. 38).

Uma análise de Filion (2000) apresenta três níveis relacionais distintos que podem influenciar na atividade empreendedora. : primário, secundário e terciário. O nível primário é aquele da influência exercida sobre as pessoas ou do círculo de pessoas próximas. O nível secundário é o da rede dos negócios. E o terceiro nível de relacionamento é o do aprendizado, ou seja, o que prepara o indivíduo para a ação.

Segundo Dolabela (2005, p. 29) o nível primário é a principal fonte de formação empreendedora, porém o segundo e terceiro nível também possuem importante contribuição, "Um dos pontos básicos do ensino de empreendedorismo é fazer com que o aluno busque estabelecer relações que deem suporte ao seu negócio".

Filion defende que a experiência mostra que quanto mais especializada uma área da educação, mais o ensino tende a ser bem adaptado.

A educação empreendedora deveria estar voltada para a aprendizagem do autoconhecimento e do know-how, que permita ao futuro empreendedor uma estrutura de trabalho mental empreendedora.  [...] que importa não é somente o que se ensina, mas também o padrão de aprendizado estabelecido com o processo de aprendizado envolvido. (FILION, 2000, p.5)

De acordo com Vieira, Melatti e Ribeiro (2011) a educação enquadrada como tradicional está voltada para a formação de futuros empregados, com isso os recém-formados no curso de Administração veem como perspectiva somente empregos na área administrativa de empresas já consolidadas no mercado, geralmente em cargos de gerência ou intermediários.  Isso faz com que o aprendizado fique negligenciado, distante de estar á altura das tendências e oportunidades mundiais dos negócios, principalmente nas áreas de inovação.

No Brasil, os cursos de graduação em Administração, possuem a tradição de organizarem seus currículos visando à formação de profissionais que atuem apenas em grandes organizações, esquecendo-se da realidade das pequenas e médias empresas nacionais que são fontes cada vez maiores de geração de renda e postos de trabalho. (VIEIRA; MELATTI; RIBEIRO, 2011).

Filion (1999) afirma quanto maior for o valor dado aos empreendedores em uma sociedade, mais os jovens seguirão este modelo e optarão por uma formação empreendedora como carreira.

Na sociedade atual intensa em conhecimento a universidade torna-se elemento fundamental na transferência de tecnologia para o setor produtivo, sendo importantes nas estratégias de desenvolvimento regional. A habilidade da universidade de transformar conhecimento em atividade econômica é a premissa da universidade dita empreendedora, combinando a missão de desenvolvimento econômico e social com o ensino e a pesquisa. (ETZKOWITZ, 2003b apud GUARANYS, 2006; LOPES, 2010).

A universidade empreendedora pode significar três coisas de acordo com Röpke (1998 apud GUARANYS, 2006; LOPES, 2010).

1. A universidade como uma organização, se torna empreendedora.

2. Os membros da universidade -corpo docente, discente e funcionários- se tornam, de alguma maneira, empreendedores.

3. A interação entre universidade e o meio ambiente, a ligação estrutural entre universidade e região, seguem padrões empreendedores. (Röpke, 1998 apud GUARANYS, 2006; LOPES, p.95, 2010).

Dolabela (1999b, p. 7 apud VIEIRA, MELATTI, RIBEIRO, 2011) apresenta algumas sugestões para o ensino de empreendedorismo, não apenas na universidade, mas em todos os níveis de ensino. Entre elas, destaca-se:

1. Propagar o ensino de empreendedorismo para todos os níveis educacionais;

2. Estimular a pesquisa na área de empreendedorismo;

3. Estimular o empreendedor científico;

4. Estimular a criação de incubadoras e parques tecnológicos científicos.

Mas apesar de todas as dificuldades hoje a EE tem sido discutida com mais clareza e seriedade, começando a se fortalecer diante os percalços. Segundo Souza et. al. (2006 apud RAIMUNDO; RAMBALDUCCI E PACAGNAN, 2010) partindo-se da demanda do mundo do trabalho por indivíduos com múltiplas competências e de que essas competências necessitam de um ambiente propício para serem desenvolvidas, cabe à universidade o papel de disseminação da cultura empreendedora.

Hoje a pergunta que se faz sobre a possibilidade de se ensinar o empreendedorismo de acordo com Lopes (2010) é menos polêmica, pois a questão agora é como educar, ou seja, qual conteúdo mais adequado e quais metodologias podem ser utilizadas neste ensino.

 2.2 Práticas didático-pedagógicas no ensino do empreendedorismo

Aquele pensamento colocado anteriormente de que as características empreendedoras são inatas ao indivíduo vem perdendo cada vez mais espaço. "Acredita-se que o empreendedorismo possa ser ensinado a qualquer pessoa, desde que sejam utilizados metodologias, conteúdos e estratégias de ensino, adequados ao processo de aprendizagem de empreendedorismo" (SCHMIDT, DOMINGUES, HOELTGEBAUM, p. 7, 2005).

Segundo Vieira, Melatti e Ribeiro (2011) para o ensino do empreendedorismo, os métodos mais sugeridos são aqueles orientados para a ação, baseados na experiência e dominados por um caráter vivencial.

A importância da disseminação de uma cultura empreendedora nas Instituições de Ensino Superior (IES), na tentativa de propiciar um ambiente empreendedor para os futuros profissionais, é fundamental. (Schmidt, Domingues, Hoeltgebaum, 2005).

Conforme Gimenez (2005) "os traços de comportamento empreendedor podem ser conseguidos pela prática e experiências vividas, como também, pela assimilação de conhecimentos estruturados e codificados em sala de aula".

Essa questão também se afirma em Dolabela (1999a, p. 114 apud Vieira, Melatti e Ribeiro, 2011, p.292), segundo o qual:

"para haver efetividade didática na área de empreendedorismo, é essencial que aprendizado seja insistentemente contextualizado. [...] o aluno pré-empreendedor precisa ser submetido a situações similares àquelas que encontrarão na prática" (DOLABELA ,1999a, p. 114 apud VIEIRA, MELATTI E RIBEIRO, 2011, p.292).

Segundo a concepção colocada por Hynes (1996 apud HENRIQUE e CUNHA 2008) um método de ensino interessante seria aliar métodos didáticos teóricos e práticos. Para o autor, a educação empreendedora incorpora métodos formais e informais.

Os formais podem ser representados por teorias e conceitos sobre empreendedorismo, sendo ministradas através de métodos didáticos como palestras e sugestões de leituras e avaliações também formais para testar os conhecimentos. Já os métodos informais integram-se com os formais e tem como objetivo a construção de habilidades, desenvolvimento de atributos (qualidades) e mudanças de comportamento. Para isso utilizam-se os métodos didáticos como os estudos de casos, visita a empresas, brainstorming, projetos desenvolvidos em grupos, simulações entre outros. Dessa forma os discentes tem a chance de aplicar as teorias aprendidas juntamente com a pratica do mercado. (HENRIQUE; CUNHA 2008)

De acordo com Guimarães (2002 apud RAIMUNDO et al., 2010), quando se quer passar para os discentes informações sobre o processo de criação de empresas, o ideal seriam aulas expositivas e leituras obrigatórias. Já ação efetiva dos discentes no desenvolvimento de projetos a técnica mais utilizada deveria ser a identificação e avaliação de oportunidades.

Dornelas (2005, p 40 apud RAIMUNDO, 2010, p.9) coloca que os cursos de empreendedorismo deveriam focar:

[...] na identificação e no entendimento das habilidades de empreendedor; na  identificação e análise de oportunidades; em como ocorre a inovação e o processo  empreendedor; na importância do empreendedorismo para o desenvolvimento  econômico; em como preparar e utilizar um plano de negócios; em como identificar  fontes e obter financiamento para o novo negócio; e em como gerenciar e fazer a  empresa crescer. (DORNELAS, 2005, p 40 apud RAIMUNDO, 2010, p.9).

O empreendedorismo ultimamente vem sendo ensinado geralmente como conteúdo específico de uma disciplina obrigatória na grade curricular. Uma das dificuldades apontadas pelos docentes também segundo Raimundo et al. (2010) é trazer para a sala de aula a realidade, sendo esta o esforço pedagógico adotado porque, pois não conhecem outros métodos e técnicas específicos para o ensino de empreendedorismo. Além disso, destacam a falta de estrutura material e o direcionamento do curso para o empreendedorismo como os maiores desafios. (SOUZA, 2006 apud RAIMUNDO; RAMBALDUCCI E PACAGNAN, 2010).

Dolabela (1999 apud HENRIQUE; CUNHA, 2008, p.126) defende que o papel do professor tem que sofrer mudanças. Ele propõe a ideia que o professor deve deixar suas antigas funções de ser apenas mediador do conhecimento devendo criar também um ambiente favorável para que o aluno venha a se tornar um futuro empreendedor. O autor ainda enfatiza que "[...] O professor deve estabelecer um network com o ambiente empresarial e leva-lo para a sala de aula".

De acordo com um apanhado literário de Henrique; Cunha (2008, p.128), existe habilidades que os cursos que almejam ensinar o empreendedorismo precisam incluir em suas ementas, tanto para aqueles que querem abrir um negócio como para o intraempreendedorismo. São elas: habilidades de comunicação, especialmente persuasão; habilidades de criatividade; habilidades para reconhecer oportunidades empreendedoras; pensamento critico e habilidades de avaliação; habilidades de liderança; habilidades e  competências gerenciais: incluindo planejamento, comercialização, contabilidade, estratégia, marketing, RH e networking; habilidades de negociação; habilidades para tomar decisões; habilidades de resolver problemas; habilidades de networking; habilidades de administração do tempo; conhecimentos das características pessoais de um empreendedor: disciplina, persistência, capacidade de assumir riscos, ser inovador, ser um líder visionário, estar atento as mudanças, dentre outros.

Pesquisas realizadas por Ulrich e Cole (1987, apud HENRIQUE; CUNHA, 2008) baseados no modelo de aprendizagem de Kolb, selecionaram varias técnicas pedagógicas para cada tipo de ensino-aprendizagem, as quais foram divididas em classes, em quatro quadrantes: (I) Reflexivo-teórico (aulas e palestras teóricas, leituras requeridas, artigos teóricos, avaliação de conteúdos); (II) Reflexivo-aplicado (filmes, palestras, aulas expositivas, estudo de caso); (III) Ativo-aplicado (jogos em papéis, simulações, exercícios estruturados, projetos de campo, grupos de trabalho); e (IV) Ativo-teórico (trabalhos em grupo, discussões argumentadas, experimentos, análise de artigos)

De com os autores, as práticas pedagógicas mais adequadas para o aprendizado do empreendedorismo estão presente nos quadrantes III e IV, devido o comportamento empreendedor recomendar as ações propriamente ditas.

Segundo ainda Henrique; Cunha (2008) uma prática comumente sugerida por autores como Tomio e Hoeltgebaum (2001); Henry, Hill e Leith (2005) está na realização de um plano de negócios, sendo um excelente caminho para uma efetiva aprendizagem, além de ser importante para conseguir recursos junto ás instituições financeiras.

A literatura lista ainda outras práticas como incentivadoras do empreendedorismo como as que se envolvem em desenvolver produtos e empresas fictícias além das incubadoras e empresas nas universidades.

Há na literatura pouco aporte sobre as práticas didáticas pedagógicas que tratam do ensino do empreendedorismo. Nos estudos encontrados ocorre uma defesa das técnicas e praticas pedagógicas que forcem o aluno à ação. Como: o plano de negócios, as simulações e jogos de negócios, os estudos de caso, o desenvolvimento de produtos ou de empresas virtuais e reais, e de visitas ás empresas e empreendedores. (HENRIQUE; CUNHA, 2008).

As práticas e metodologias por mais variadas que sejam, dependem do contexto na qual estão inseridas. As universidades precisam estar atentas para o ambiente de adversidades, pois não adianta ensinar apenas, têm que lançar os discentes em um ambiente que se sintam íntimos para poderem colher os frutos de seus esforços.

3. Metodologia

Em relação à finalidade da pesquisa, esta se caracteriza como exploratória e descritiva. O método utilizado na pesquisa foi o estudo de caso. Foram utilizadas como técnicas de coleta de dados a pesquisa documental e questionários estruturados.

A pesquisa documental fundamentou-se na realização de revisão bibliográfica a partir de pesquisas realizadas em diversas fontes de dados secundários, tais como livros, artigos, teses e dissertações com o intuito de se aprofundar o conhecimento no tema escolhido.

A segunda técnica utilizada foi uma aplicação de questionário estruturado, que foi elaborado especificamente para este trabalho, tendo como base a revisão da literatura, como o artigo de Henrique; Cunha (2010).

Os questionários foram enviados por e-mail e também aplicados pessoalmente no âmbito da universidade. Ao término foi realizada a transcrição dos dados, bem como a análise das informações coletadas.

Para a construção do questionário houve a preocupação em apresentar as questões em blocos temáticos. Primeiro as questões se referiam ao perfil do preponente, no segundo bloco para avaliar o conhecimento sobre o assunto empreendedorismo, em terceiro a influência familiar na formação empreendedora do sujeito, e por último o bloco sobre a percepção das práticas didático-pedagógicas.

Antes de ser finalizado foi feito um pré-teste do questionário para se averiguar possíveis erros de estrutura e entendimento. O pré-teste foi encaminhado apenas por e-mail para cerca de 10 indivíduos selecionados intencionalmente para ser respondido através do aplicativo Google Docs.

Foi utilizada a escala Likert para avaliação das da percepção dos discentes a partir do bloco 2 que  permitiram quantificar a percepção do respondentes a respeito das práticas didático-pedagógicas adotadas ao longo do curso .

A coleta de dados se deu inicialmente por meio de envio do questionário por e-mail, contudo, devido à pequena participação dos discentes, houve a necessidade de aplicar o questionário em sala de aula.

3.1 População e amostra

O objeto deste estudo constitui-se de discentes do curso de Administração da Universidade Federal de Goiás na unidade situada na cidade de Catalão-GO. O período de coleta de dados se deu durante o 2º período letivo de 2012.

A pesquisa teve como população alvo os ex-discentes e discentes do curso de Administração da respectiva IES. 

A amostra foi determinada de forma intencional levando-se em consideração inicialmente a seleção dos discentes que já tivessem preferencialmente cursado a disciplina de empreendedorismo ou que estivessem matriculados a partir do 4º período, visto que teriam um melhor entendimento dos conceitos apresentados.

A população estudada contém 164 discentes matriculados no 4º período, 6º e 8º período do curso, além dos egressos da própria instituição.

A amostra estudada é constituída de 81 (oitenta e um) respondentes. Do total da amostra, 24 respondentes responderam utilizando o aplicativo Google Docs e o restante respondido pessoalmente através de questionários impressos.

3.2 Análise e manipulação dos dados

A análise dos dados foi feita por meio de estatísticas descritivas com apoio do software Excel. Através do procedimento estatístico de distribuição de frequência, obteve-se a frequência absoluta e relativa das características e fatos investigados. A partir deste ponto foram construídos os gráficos com os percentuais de ocorrência de cada variável em estudo, além dos cálculos da média ponderada e índice IPC (Índice de Percentual de Concordância) formulado por Galhanone (2008)

O tratamento de dados deu-se pela análise descritiva, através de transcrição dos relatos dos entrevistados, codificação dos conteúdos e interpretação de seus significados.

4. Descrição e análise dos resultados

Este tópico tem como proposta fazer a descrição e análise dos resultados obtidos através da aplicação do questionário com os discentes e egressos do Curso de Administração UFG/CAC. Os dados foram gerados pelo questionário entre o período de 18 de fevereiro de 2013 ao dia 5 de Março de 2013.

A análise descritiva foi utilizada com o objetivo de mapear a distribuição de um fenômeno na população. Informando sobre o perfil, o conhecimento sobre o assunto empreendedorismo, a influência familiar na formação e a percepção de aprendizagem das práticas didático-pedagógicas em empreendedorismo, tanto pelos discentes como os ex-discentes da instituição estudada.

4.1 Análise do perfil da amostra

Para determinar o perfil da amostra foram utilizadas as seguintes variáveis: (i) faixa etária, (ii) gênero, (iii) tempo de conclusão no curso, (iv) a ocupação ou área de trabalho atual e (v) intenção de fazer uma pós-graduação na área de formação. Para todas as variáveis foram elaboradas perguntas fechadas contendo de 2 a 5 itens para marcação.

A pesquisa revelou a predominância da amostra concentrada na faixa etária inferior a 25 anos de idade, a qual correspondeu 61,7% dos respondente. Em relação ao gênero dos pesquisados, 42% pertence ao gênero masculino enquanto 58% são do gênero feminino.

A distribuição por tempo de conclusão no curso teve a maior porcentagem, cerca de 33,3%, marcada de 1 a 3 anos como tempo de conclusão no curso de administração. A questão não foi interpretada corretamente pelos respondentes. Podemos observar que muitos entenderam se tratar de quanto tempo falta para concluir o curso. Cerca de 13 respondentes apenas marcaram a opção 5 (ainda não conluí o curso).

Com relação à atividade profissional dos respondentes, constatou-se que a maioria desenvolve atividade profissional. Destes, constatou-se que a maior parte atuam como colaboradores em organizações privadas e correspondem a 61,7% dos respondentes. Em segundo lugar aparece vínculo com o setor público representando 17,3% dos respondentes. Em terceiro, com 11,1% dos respondentes estão os que não possuem um vínculo empregatício. Com 7,4% dos respondentes aparecem aqueles que possuem o próprio negócio e, finalmente, os que trabalham no terceiro setor e que correspondem a 2,5% dos respondentes.

No que se refere à distribuição por intensão de pós-graduação na área de formação, vale ressaltar que este quesito teve como objetivo avaliar a intenção dos respondentes em continuarem seus estudos e se aprofundarem em sua área de formação. Parcela significativa, ou seja 75,3%, tem interesse em fazer uma pós-graduação em sua área de atuação demonstrando o crescente reconhecimento que hoje se faz necessário de se qualificar para o mercado de trabalho.

4.2 Análises descritivas

O segundo bloco de questões foi formado por questões que tiveram como objetivo avaliar o conhecimento sobre o tema empreendedorismo.

Para as questões desta etapa foi utilizado a distribuição de frequência relativa e o índice IPC, propostos por Galhanone (2008).  A escolha do índice IPC se deve ao fato de que este avalia o grau de concordância ou discordância das respostas pelos respondentes.

A análise se faz da seguinte forma: quanto maior o IPC mais próximo da concordância estão as respostas, e quanto menor o IPC mais próximo da discordância. Para se chegar a esse índice utiliza-se a fórmula apresentada a seguir:

   

Em que IPC representa o Índice de Percentual de Concordância; média representa a média ponderada e n o número do intervalo da escala.

 Para esse bloco considerou-se a escala intervalar de 1 a 5, ou seja, o n=4, para calcular o IPC. Os cálculos do IPC foram feitos com o auxílio do software Excel. Os gráficos com a frequência de cada questão foram colocados em anexo.

O bloco de questões sobre a importância do empreendedorismo objetivou sondar o conhecimento do respondente em relaçaõ à importância do empreendedorismo. Optou-se pela escala Likert da concordância contendo: (1) Discordo plenamente; (2) Discordo; (3) Concordo parcialmente; (4) Concordo; (5) Concordo plenamente.

Para estas questões o IPC foi maior que 70% em todos os itens avaliados, confirmandoconfirma uma grande concordância entre os respondentes. Estes resultados permitem identificar que os respondentes possuem uma grande conciência da importância do empreendedorismo como um todo (Tabela 2).

Tabela 2: Análise descritiva da importância do empreendedorismo

QUESTÂO

ESCALA (%)

MÉDIA

IPC (%)

1

2

3

4

5

PONDERADA

E importante para o desenvolvimento local/regional

0

0

5

27

68

4,63

91

Essencial para a geração de riqueza no país

1

2

12

33

51

4,37

84

Promove o crescimento e melhora as condições de vida da população

0

4

17

27

52

4,27

82

É um fator importante na geração de emprego e renda

0

6

14

40

41

4,14

79

É um estudo voltado para o desenvolvimento de competências e habilidades relacionadas à criação de um projeto ( técnico , científico, empresarial)

1

4

23

44

27

3,92

73

Fonte: elaborado pela autora (2013)

As questões sobre as ocasiões empreendedoras avaliaram o conhecimento dos respondentes sobre em quais situações o empreendedorismo se enquadra. Assim como no bloco de questões anterior, foi utilizada a escala Likert de concordância da seguinte maneira: (1) Discordo plenamente; (2) Discordo; (3) Concordo parcialmente; (4) Concordo; (5) Concordo plenamente.

Em primeiro lugar, com 88% de concordância, estão os respondentes que acreditam que o empreendedorismo existe quando se cria um produto ou serviço inovador. Com a maior discordância fiocu com o item que diz que o empreendorismo é possível trabalhando no setor público com 45% (Tabela 3).

Tabela 3: Análise descritiva das ocasiões empreendedoras

QUESTÃO

ESCALA (%)

MÉDIA

IPC (%)

1

2

3

4

5

PONDERADA

Criando um produto/serviço inovador

1

4

7

15

73

4,54

88

Abrindo uma empresa

1

7

10

26

56

4,27

82

Trabalhando em uma organização privada

4

21

25

35

16

3,38

59

Trabalhando em uma organização do terceiro setor

6

19

33

30

12

3,23

56

Trabalhando no setor público

16

22

35

20

7

2,80

45

Em todos os casos anteriores

17

15

32

21

15

1,60

15

Fonte: elaborado pela autora (2013)

Este bloco de questões de características importantes no empreendedor teve como objetivo investigar o entendimento do que é ser empreendedor na opinião do respondente. Para isto foram apontandas atitudes empreendedoras, admitindo-se marcar até três itens. Porém, como alguns respondentesmarcaram mais do que o sugerido, optou-se por utilizar o total de 266 respostas representado 100% das respostas válidas.

As três alternativas mais citadas foram "Ser inovador", "Ser visionário" e "Ser criativo" com percentuais de 23%, 15% e 14%, respectivamente. Alternativas como "Ser ousado", "Ser proativo" e "Ser determinado" apresentaram, respectivamente, 10% e 12% cada enquanto ques demais itens não tiveram expressividade.

A questão sobre as características empreendedoras dos respondentes procurou identificar a percepção do respondente sobre suas características comportamento empreendedor (Tabela 4). Foi utilizada a seguinte escala Likert: (1) Não definitivamente; (2) Não em parte; (3), Indeciso; (4) Provavelmente sim; e (5) Definitivamente sim; Pode-se observar que os maiores níveis de concordância ficaram com as características "determinação" e a "proatividade" como as características consideradas empreendedoras que, na opinião dos respondentes, fazem parte de sua personalidade. A "auto realização" e "independência" foram as características com a menor concordância entre todas apresentadas. Podemos interpretar essa baixa concordância pelo fato de que muitos dos respondentes ainda estarem cursando a universidade e serem iniciantes no mercado de trabalho.

Tabela 4: Características empreendedoras dos respondentes

QUESTÂO

ESCALA (%)

MÉDIA

PONDERADA

IPC (%)

1

2

3

4

5

Determinação

1

4

12

35

48

4,25

81

Proatividade

0

10

19

40

32

3,94

73

Visão

1

7

23

51

17

3,75

69

Liderança

1

9

20

54

16

3,75

69

Criatividade

5

10

21

36

28

3,73

68

Gosto pelo que faz

7

7

23

46

13

3,56

64

Sucesso

0

9

41

38

12

3,54

63

Ousadia

5

12

23

43

16

3,53

63

Independência

6

21

22

36

15

3,32

58

Inovação

2

21

36

25

16

3,31

58

Auto realização

5

19

41

31

5

3,12

53

Fonte: elaborado pela autora (2013)

A questão seguinte avaliou a percepção do respondente se o empreendedorismo pode ser ensinado e/ou aprendido. Os resultados demonstram que 70% dos respondentes percebem que é possível se aprender e/ou ensinar a ser empreendedor. (Tabela 5)

Tabela 5: Ensino do empreendedorismo

QUESTÃO

ESCALA (%)

MÉDIA

IPC (%)

1

2

3

4

5

PONDERADA

O empreendedorismo pode ser ensinado/aprendido ?

2

10

21

38

28

3,80

70

Fonte: elaborado pela autora (2013)

A questão que indaga se há pessoas empreendedoras na família teve como objetivo avaliar a influência da família no comportamento empreendedor, utilizando para tanto, a escala Likert: (1) Não definitivamente; (2) Não em parte; (3) Indeciso; (4) Provavelmente sim; (5) Definitivamente sim. Para esta questão, o IPC de 66% denota nível considerável de concordância entre os respondentes (Tabela 6).

Tabela 6:  Empreendedores na família

QUESTÃO

ESCALA (%)

MÉDIA

PONDERADA

IPC (%)

1

2

3

4

5

Há pessoas na família consideradas empreendedoras?

11

11

15

27

36

3,65

66

Fonte: elaborado pela autora (2013)

Outra questão teve o propósito de indicar o grau de parentesco com o familiar considerado empreendedor. A distribuição ficou dividida entre o "Pai" e "Tios" como sendo os contatos familiares empreendedores mais predominantes entre os respondentes.

A questão seguinte procurou avaliar a influência direta dos familiares na formação empreendedora e profissional do respondente. Foi utilizada a escala Likert seguinte: (1) Nunca; (2) Raramente; (3) Ás vezes; (4) Muitas vezes; (5) Sempre. O resultado foi um índice IPC baixo, representando discordância entre os respondentes (Tabela 7).

Tabela 7: Influência dos familiares nas características e formação empreendedoras

QUESTÃO

ESCALA (%)

MÉDIA

PONDERADA

IPC (%)

1

2

3

4

5

Sua família te influenciou com características empreendedoras?

23

16

30

18

7

2,76

44

Sua família de alguma forma te influenciou na escolha profissional ?

31

20

21

19

10

2,56

39

Fonte: elaborado pela autora (2013)

A análise sobre a influência da graduação na formação empreendedora teve como propósito verificar a influência das práticas didático-pedagógicas adotadas ao longo do período de graduação do discente e egresso na sua formação empreendedora.

A primeira questão deste bloco teve o propósito de avaliar a importância da graduação e da formação empreendedora no perfil empreendedor do discente e egresso. O índice IPC com maior concordância foi de 86% indicando que a formação empreendedora é um diferencial para o mercado de trabalho (Tabela 9). Vale ressaltar que todas as questões deste bloco tiveram um índice relativamente alto, o que confirma a convergência da opinião do respondente sobre a importância geral da graduação e da formação em Administração como fatores determinantes para se tornar empreendedor (Tabela 8).

Tabela 8: Importância da graduação na formação empreendedora

QUESTÃO

ESCALA (%)

MÉDIA

IPC (%)

1

2

3

4

5

PONDERADA

A formação empreendedora é um diferencial competitivo no mercado de trabalho

0

2

9

32

57

4,43

86

O curso de administração contribui para se tornar empreendedor

2

12

10

37

38

3,96

74

A formação em um curso superior contribui para se tornar empreendedor

4

11

14

42

30

3,83

71

A minha formação contribuiu para eu me tornar um empreendedor

12

12

14

37

25

3,49

62

O curso estimulou em mim o espírito empreendedor

10

16

15

33

26

3,49

62

 Fonte: elaborado pela autora (2013)

Continuando a avaliação da influência da graduação, a questão seguinte objetivou avaliar a importância da disciplina de empreendedorismo na formação empreendedora dos respondentes. A pergunta foi direcionada apenas aos alunos que cursaram a disciplina. O IPC de 58% traduz que a maioria concorda que a disciplina contribui para o desenvolvimento do espírito empreendedor (Tabela 9).

Tabela 9: Importância da disciplina de empreendedorismo

QUESTÃO

ESCALA (%)

MÉDIA

PONDERADA

IPC (%)

1

2

3

4

5

A disciplina de empreendedorismo contribuiu para o desenvolvimento do meu espírito empreendedor

12

11

28

30

19

3,30

58

Fonte: elaborado pela autora (2013)

Outra questão procurou avaliar quais características e habilidades o curso de administração desenvolveu nos respondentes (Tabela 10). A questão foi baseada no apanhado literário de Henrique e Cunha (2008, p. 128), que diz que o aprendizado de determinadas habilidades precisam fazer parte das ementas dos cursos que almejam ensinar o empreendedorismo. Foi utilizada a escala Likert: Não definitivamente (1), Não em parte (2), Indeciso (3), Provavelmente, sim (4), Definitivamente sim (5).

Analisando o IPC notamos que todas as habilidades tiveram um índice maior que 50%, indicando a concordância generalizada. Destacando as habilidades Gerenciais com o maior IPC de 76%, e a criatividade com o menor, cerca de 53% (Tabela 10).

Tabela 10: Características empreendedoras desenvolvidas no curso de Administração

QUESTÃO

ESCALA (%)

MÉDIA

PONDERADA

IPC (%)

1

2

3

4

5

Habilidades gerenciais: incluindo planejamento, comercialização, contabilidade, estratégia, marketing, RH

2

7

16

33

41

4,02

76

Pensamento critico e habilidades de avaliação

4

5

11

51

30

3,98

74

Habilidades para tomar decisões

4

10

9

43

35

3,95

74

Habilidades de estabelecimento de rede de relacionamentos (networking)

5

7

12

40

36

3,94

73

Habilidades para reconhecer oportunidades de negócios

4

10

17

41

28

3,80

70

Habilidades de resolver problemas

4

15

15

37

30

3,74

68

Habilidades de comunicação, especialmente persuasão

9

12

12

37

30

3,67

67

Habilidades de negociação

5

11

19

25

24

3,69

67

Habilidades de liderança

6

15

20

36

23

3,56

64

Criatividade

16

20

14

36

15

3,14

53

Fonte: elaborado pela autora (2013)

A questão seguinte teve como propósito interrogar os respondentes sobre os tipos de práticas didático-pedagógicas, que mais colaboraram para o desenvolvimento das características empreendedoras durante o curso de graduação. A escala utilizada foi a Likert: Nunca (1), Raramente (2), Às vezes (3), Muitas vezes (4), Sempre (5). Porém foi disponibilizada a alternativa "Não tive contato com esta prática em meu curso (6)". Esta ultima possibilitou ressaltar as práticas as quais os discentes não tiveram contato durante o curso. O IPC continuou sendo feito apenas para a escala de 1 a 5, desconsiderando o ítem (6) da questão. De acordo com a Tabela 11 observamos que os maiores IPC foram na ordem: as "palestras" com 75% de concordância, seguido pelo "estudo de caso" com 71%, visitas a empresas e empreendedores 68% e trabalhos em grupo com 65%. As demais práticas em ordem decrescente de concordância. Os três menores IPC foram referentes às empresas juniores, os treinamentos práticos em uma empresa real e às incubadoras de empresa. Sendo que os respondentes indicaram não terem tido contato com as práticas didático-pedagógicas que realmente estão voltadas para o aprendizado prático, voltado para o dia a dia das empresas, ou à ação requerida para o aprendizado do empreendedorismo.

A Tabela 11: Práticas didático-pedagógicas que desenvolveram as características empreendedoras

QUESTÃO

ESCALA (%)

MÉDIA

PONDERADA

IPC (%)

1

2

3

4

5

6

Palestras

1

4

22

32

35

6

4,01

75

Estudos de caso

1

10

22

32

31

4

3,85

71

Visitas a empresas e empreendedores

10

10

10

25

36

10

3,74

68

Trabalhos em grupo

6

17

14

26

31

6

3,62

65

Teoria (aulas, provas, leituras, trabalhos escritos)

4

19

27

20

25

6

3,46

61

Plano de negócios

7

17

20

28

22

5

3,43

61

Grupo de discussões

10

16

20

26

23

5

3,39

60

Práticas de orientação ou aconselhamento individuais

17

11

10

26

21

15

3,26

56

Jogos de empresas

15

11

20

22

17

15

3,19

55

Simulação de negócios ou gerenciamento

15

16

17

15

23

14

3,19

55

Outras atividades práticas

12

12

20

26

12

17

3,16

54

Desenvolvimento de empresas ou produtos reais ou virtuais

15

16

10

20

17

22

3,11

53

Incubadoras

22

9

12

15

20

22

3,02

50

Treinamento prático em uma empresa real

20

10

6

14

19

32

3,02

50

Empresas juniores

21

15

6

15

14

30

2,79

45

Fonte: adaptado da escala likert, elaborado e pela autora (2013)

A última questão avalia a participação direta dos discentes nas atividades de empreendedorismo apresentadas pela instituição. O IPC foi de 53% indicando uma inclinação para a concordância. A maioria indicou que participou somente ás vezes das atividades oferecidas (Tabela 12).

Tabela 12: Participação nas atividades empreendedoras oferecidas pela instituição

QUESTÃO

ESCALA (%)

MÉDIA

PONDERADA

IPC (%)

1

2

3

4

5

Participei das atividades de empreendedorismo oferecidas pela minha faculdade?

9

17

40

23

11

3,11

53

Fonte: elaborado pela autora (2013)

5. Considerações finais

O resultado da pesquisa demonstrou que os respondentes possuem conhecimento de empreendedorismo e de sua importância. Grande parte acredita que o empreendedorismo existe quando se cria um produto ou serviço inovador.

As características empreendedoras mais citadas entre os respondentes, as quais acreditam fazer parte do espírito empreendedor foram "Ser inovador", "Ser visionário" e "Ser criativo". Já as características mais comuns apontadas pelos respondentes que fazem parte de sua personalidade foram a "determinação" e a "proatividade".

Os resultados também demonstram que 70% dos respondentes percebem que é possível se aprender e/ou ensinar a ser empreendedor.

Quanto à influência familiar na formação empreendedora do respondente, grande parte apontou haver empreendedores na família, os Pais e tios foram os mais apontados. Mas não acreditam haver a influência e palpite dos seus familiares em sua formação.

Grande partedos respondentes acredita que formação empreendedora é um diferencial para o mercado de trabalho. Além da importância da graduação e do curso de administração como fatores determinantes para se tornar empreendedor.

A maioria também concorda que a disciplina de empreendedorismo contribui para o desenvolvimento do espírito empreendedor. As habilidades Gerenciais na opinião dos respondentes foram as habilidades que mais foram adquiridas no curso, e a menor foi a criatividade.

As práticas didático-pedagógicas mais citadas, que mais colaboraram para o desenvolvimento das características empreendedoras durante o curso de graduação foram as palestras, os estudos de caso, as visitas às empresas e empreendedores e os trabalhos em grupo. Várias foram as práticas que os respondentes não tiveram contato durante o curso. A maioria indicou que participou somente ás vezes das atividades oferecidas pela instituição.

Porém as conclusões deste estudo levantam a necessidade de pensar o ensino de empreendedorismo não mais da forma tradicionalmente concebida, mas de forma a preencher as expectativas e necessidades do mercado. Para que as metodologias de ensino utilizadas hoje na universidade sejam coerentes com esta mudança, torna-se necessário equilibrar teoria e prática, além de atividades que estimulem o processo criativo e inovador.

Em relação à teoria, a literatura é limitada. O assunto empreendedorismo é relativamente novo, por isso a dificuldade em encontrar uma literatura ampla e variada.

Em relação à população houve erros de critérios na identificação dos respondentes no que tange à conclusão no curso ou não, e em que fase os mesmos estão no curso, para podermos avaliar a comparar o nível de conhecimento no assunto.

Esta pesquisa sugere alguns possíveis desdobramentos para futuros estudos no que se refere ao tema empreendedorismo visto que o assunto é amplo e relativamente novo, principalmente relacionado à educação empreendedora. Seria interessante ampliar o escopo da pesquisa para outros cursos da mesma instituição até mesmos para outras IES.

Outro ponto seria a necessidade de complementar o estudo com outros métodos qualitativos e quantitativos a fim de oferecer contribuições mais amplas e acertadas, como o uso de análises descritivas fatoriais.

Referências

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1. Email: nadiacpereira@yahoo.com.br


 

Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 26) Año 2016

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