Espacios. Vol. 37 (Nº 26) Año 2016. Pág. 18

A percepção sobre os fatores que geram o capital intelectual: Um estudo comparativo entre alunos de graduação e pós-graduação

The perception of the factors that generate intellectual capital: A comparative study of undergraduate and graduate

Alex ECKERT 1; Fernando Luís BERTOLLA; Maria Emilia CAMARGO; Gabriela ZANANDREA

Recibido: 08/05/16 • Aprobado: 18/05/2016


Conteúdo

1. Introdução

2 Referencial teórico

3 Procedimentos metodológicos

4 Apresentação e análise dos resultados

5 Considerações finais

Referências


RESUMO:

O objetivo desta pesquisa exploratória e quantitativa foi avaliar a percepção da importância dos fatores que geram o Capital Intelectual, na visão dos alunos de graduação do curso de Ciências Contábeis e de pós-graduação vinculados ao Centro de Ciências Econômicas, Contábeis e de Comércio Internacional (CECI), todos da Universidade de Caxias do Sul. Para atingir este objetivo, foi aplicado um questionário fechado de 16 questões, com cinco alternativas por questão para assim determinar as inferências estatísticas, que para tanto foi utilizado o software estatístico SPSS – Statistical Package for Social Siences, versão 17. Os resultados encontrados nas análises demonstram que a percepção dos dois grupos de alunos é semelhante em 14 dos 16 fatores que geram o Capital Intelectual segundo Brooking (1996). Os dois fatores divergentes se referem à Existência de oportunidade para desenvolvimento profissional e pessoal, relacionada a categoria dos Ativos Humanos (AH) e ao fator da Sinergia entre os programas de treinamento e os objetivos corporativos, relacionada a categoria dos Ativos de Infra-Estrutura (AIE). Também foi observado que a percepção dos alunos é mais concentrada na categoria dos Ativos Humanos (AH).
Palavras-chave: Capital Intelectual. Fatores e categorias do Capital Intelectual. Capital Intelectual e Contabilidade.

ABSTRACT:

The purpose of this exploratory and quantitative research was to evaluate the perception of the importance of the factors that generate intellectual capital, in view of the course of undergraduate students in Accounting and postgraduate linked to Economic Sciences Center, Accounting and International Trade ( . CECI), all of the University of Caxias do Sul to achieve this goal, it applied a closed 16 questions questionnaire with five choices per question so as to determine the statistical inferences, which for both was used the statistical software SPSS - statistical Package for social Siences, version 17. the results of the analysis show that the perception of two groups of students is similar in 14 of the 16 factors that generate intellectual capital second Brooking (1996). The two divergent factors refer to the opportunity to existence for professional and personal development, related to the category of Human Assets (AH) and the synergy factor between training programs and corporate objectives, related to the category of Infrastructure Assets ( THERE IS). It was also observed that the perception of students is more concentrated in the category of Human Assets (AH).
Keywords: Intellectual Capital. Factors and categories of Intellectual Capital. Intellectual Capital and Accounting.

1. Introdução

Nos anos 1970, Drucker (1970) já alertava a sociedade para as algumas reflexões sobre o futuro. Dizia ele que o surgimento de novas tecnologias mudaria o perfil da indústria, que as mudanças na economia mundial fariam do mundo um só mercado e que o conhecimento se tornaria capital, enquanto recurso econômico. Assim, os homens de poder seriam os homens de conhecimento.

Na verdade, a capacidade de adquirir e desenvolver o recurso do conhecimento é inerente ao ser humano e isto o diferencia dos demais em alguns aspectos. Segundo Antunes (2000), o conhecimento é um recurso diferenciado e ilimitado pois à medida que uma pessoa o adquire mais aumenta sua capacidade de desenvolver novos conhecimentos. Esta capacidade acaba por gerar a noção do conhecimento como elemento de valor diferenciado no mundo organizacional nos mais diversos setores.

Especificamente no contexto do setor contábil, a relação entre conhecimento e contabilidade foi abordada pelo Professor Dr. Antônio Lopes de Sá, através da Teoria Geral do Conhecimento Contábil, na 1ª Conferência Íbero Americana de Ciências Contábeis, realizada em Belo Horizonte-MG, no ano de 1993. Esta teoria parte da compreensão da essência contábil para o seu entendimento racional e do que acontece com a riqueza individual ou de grupos, possibilitando ao contador uma visão global do contexto em que seus trabalhos estão inseridos (Sá, 1993).

Edvinsson e Malone (1998) comentam que o Capital Intelectual é a posse do conhecimento, das experiências aplicadas e tecnologias organizacionais, relacionamentos com os clientes e habilidades profissionais que proporcionam à empresa uma vantagem competitiva no mercado em que atuam.

Constantemente as empresas são motivadas, por forças internas e externas, a medir e a gerenciar o seu Capital Intelectual. A ausência de informação sobre seus elementos pode levar a uma equivocada utilização de recursos nas organizações. Antunes (2006) sugere que os gestores através de seus diferentes modelos de gestão, se utilizem do conhecimento como recurso, serviço ou produto gerado.

No início dos anos 90 as pesquisas sobre o Capital Intelectual nas organizações passaram a concentrar a atenção de alguns pesquisadores. Para Carvalho e Ensslin (2006), "o eixo teórico se seguiu a esta iniciativa prática, tendo a literatura sobre Capital Intelectual emergido em 1997, quando da divulgação das pesquisas pioneiras de Brooking (1996), Edvinsson y Malone (1998) e Sveiby (1998)".

A importância de abordar os fatores que geram o Capital Intelectual e suas categorias, é tão relevante para as práticas organizacionais quanto na academia. Wallman (1996) comentou que o Capital Intelectual pode exceder até três ou quatro vezes o valor contábil do patrimônio de uma companhia aberta, interferindo assim de forma direta no valor de suas ações negociadas em bolsas de valores. Ou seja, com esta afirmação pode-se deduzir que o Capital Intelectual pode ser um elemento influenciador na variação positiva do valor real do patrimônio de uma entidade.

Assim o objetivo desta pesquisa foi verificar a percepção da importância dos fatores que geram o Capital Intelectual na visão dos grupos de alunos de graduação e pós-graduação da Universidade de Caixas do Sul, bem como a relevância de cada uma das 4 categorias dos ativos do Capital Intelectual, segundo Brooking (1996), na percepção dos entrevistados.

2. Referencial teórico

2.1 Conhecimento na Contabilidade e o Capital Intelectual

Recentes estudos indicam que no ambiente organizacional, em que a inovação ocorre através da combinação de novos processos, produtos ou serviços, 1/3 do conhecimento provém de fontes externas enquanto que os restantes 2/3, dividem-se entre o conhecimento da formação dos colaboradores e os resultados de investimentos em pesquisa e desenvolvimento (Senker, 1995).

Sobre os tipos de conhecimento Garcia-Peres e Mitra (2007), baseadas na suposição de Polanyi (1966) "podemos saber mais do que podemos dizer" e na hipótese de que "podemos dizer mais do que podemos escrever", identificam os seguintes tipos de conhecimento:

  1. conhecimento que não pode ser comunicado;
  2. conhecimento que pode ser comunicado, mas não pode ser expresso em documentos (conhecimento tácito);
  3. conhecimento que pode ser explicitado e compartilhado através da linguagem escrita e muitas vezes até, incorporado a documentos.

Estas observações a respeito de tipos de conhecimento tendem a confirmar Davenport e Prusak (1998) que não basta considerar o conhecimento a partir da perspectiva de um indivíduo, mas também como um ativo organizacional.

Na área da contabilidade, estudos recentes apontam para a importância de investir e estimular o desenvolvimento do Capital Intelectual das organizações, conforme Boda y Szlávik (2007), Lopes y Rodrigues (2007) e Beagley, Taylor y Bryson (2009).

Já os autores Brannstrom y Giuliani (2009) e Joshi y Ubha (2009), enfatizam a necessidade da contabilidade mensurar e registrar o valor do Capital Intelectual como ativo intangível, utilizando-se das novas normas International Financial Reporting Standards (IFRS), nas demonstrações contábeis das organizações.

O foco dado pelos estudiosos para a área de contabilidade de custos, característico das décadas de 1980 e início de 1990, já está sendo substituído por um interesse no conceito de valor. A principal mudança consiste na evidência dos ativos intangíveis de uma organização valerem mais do que os seus ativos tangíveis. Porém estes ativos intangíveis precisam ser compreendidos e identificados, pois não restam dúvidas de que as pessoas, ou o capital humano, formam uma parte importante dos ativos intangíveis. Logo a geração contínua e troca de conhecimento e experiência, podem estimular o crescimento do valor do capital, em qualquer tipo de organização (Mayo, 2000).

A atenção que vem sendo dada aos bens de Capital Intelectual, ou intangíveis, está crescendo em relação aos ativos tangíveis tradicionais, tais como edifícios e equipamentos. As organizações estão descobrindo que as medidas tradicionais de desempenho organizacional são insuficientes para a gestão de ativos intangíveis, e por este motivo buscam encontrar métricas de retorno sobre o investimento em intangíveis, o que leva a necessidade de se usar abordagens alternativas às tradicionais (Martin, 2000).

Para Stewart (1998) o Capital Intelectual é a soma do conhecimento de todos em uma empresa, o que lhe proporciona vantagem competitiva. Ao contrário dos ativos, com os quais os empresários e contabilistas estão familiarizados - propriedade, fábricas, equipamentos, dinheiro, constitui a matéria intelectual: conhecimento, informação, propriedade intelectual, experiência, que pode ser utilizada para gerar riqueza.

A clássica metáfora da árvore de Edvinsson y Malone (1998), tornou-se uma definição interessante sobre Capital Intelectual. Afirma que na parte visível da árvore: tronco, galhos e folhas são bens que o Balanço Patrimonial e as demais demonstrações contábeis evidenciam. Já a parte oculta da árvore, as raízes, é o que seria o Capital Intelectual que são os fatores alicerces da empresa visível dando sustentação e robustez.

As informações tradicionais apresentadas no Balanço Patrimonial e demais demonstrações contábeis, nem sempre demonstram o que muitos usuários procuram saber, como por exemplo, o atual e futuro grau de competitividade das organizações. Assim demanda-se uma nova "leitura" da contabilidade, que deve privilegiar a visão do futuro, e não só utilizar o passado como base de referência. Assim será necessário rever, reformular e criar conceitos dentro dessa ótica (Paiva, 1999).

A nova "leitura" pode captar e mensurar contabilmente os elementos subjetivos que influenciam a criação de valor das organizações e assim enriquecer as informações contábeis, fazendo com que seja alcançado de forma mais abrangente o seu papel informacional, a fim de atender da melhor forma os seus usuários internos e externos.

Ainda sobre contabilidade Druker (1995) comenta:

As pessoas normalmente consideram a contabilidade como sendo financeira. Mas isto é válido somente para a parte que lida com ativos, passivo e fluxo de caixa; esta é apenas uma pequena parte da contabilidade moderna. A maior parte lida com operações ao invés de finanças e, para a contabilidade operacional, o dinheiro é simplesmente uma anotação e uma linguagem para expressar eventos não-monetários. A contabilidade está sendo abalada até as raízes por movimentos de reforma que virão fazer com que ela deixe de ser financeira, e se torne operacional. A contabilidade tornou-se uma área intelectualmente mais desafiadora no campo gerencial e a mais turbulenta (Druker, 1995).

Terra (2000) comenta que o Capital Intelectual de uma organização é composto por diversos bens intangíveis como: processos de trabalho, conhecimentos e habilidades dos funcionários, relações da empresa com clientes, fornecedores, comunidade, etc. Conforme Padovese (2000) o Capital Intelectual é utilizado para diferenciar o ativo intangível dos demais ativos físicos da empresa. Assim o valor da organização é o somatório do Capital Intelectual mais o capital físico que é representado pelos ativos tradicionais da empresa com: máquinas, veículos, imóveis, equipamentos, etc

2.2 As Categorias e os Fatores que geram o Capital Intelectual

O termo Capital Intelectual tem sua origem nos ativos de propriedade intelectual, que são os componentes de conhecimentos de uma empresa, reunidos e legalmente protegidos. É um conjunto de benefícios intangíveis que agregam valor às empresas.

Segundo Brooking (1996), o Capital Intelectual pode ser dividido em quatro categorias de ativos:

Ativos de Mercado (AM): contemplam o potencial que a empresa possui em decorrência dos intangíveis que estão relacionados ao mercado, tais como: marca, clientes, lealdade dos clientes, negócios recorrentes, negócios em andamento, canais de distribuição, franquias, entre outros.

Ativos Humanos (AH): compreendem os benefícios que o indivíduo pode proporcionar para as organizações por meio da sua expertise, criatividade, conhecimento, habilidade para resolver problemas, tudo visto de forma coletiva e dinâmica.

Ativos de Propriedade Intelectual (API): abrangem os ativos que necessitam de proteção legal para proporcionar às organizações benefícios tais como: know-how, segredos industriais, copyright, patentes, designs etc.

Ativos de Infra-Estrutura (AIE): incluem as tecnologias, as metodologias e os processos empregados, como cultura, sistema de informação, métodos gerenciais, aceitação de risco, banco de dados de clientes etc.

Os fatores que geram o Capital Intelectual de acordo com Brooking (1996), e já categorizado pelos autores, que se tornaram as questões do instrumento de pesquisa são:

Tabela 1 - Fatores que geram Capital Intelectual

CATEGORIAS

VARIÁVEIS

CATEGORIAS DO CAPITAL INTELECTUAL

AH1

Conhecimento, por parte do funcionário, do que representa o seu trabalho para o objetivo global da companhia.

Ativos Humanos (AH)

AH2

Funcionário tratado como um ativo raro.

AH3

Esforço da administração para alocar a pessoa certa na função certa, considerando suas habilidades.

AH4

Existência de oportunidade para desenvolvimento profissional e pessoal.

AH5

Valorização das opiniões dos funcionários sobre os aspectos de trabalho.

AH6

Participação dos funcionários na elaboração dos objetivos traçados.

AH7

Encorajamento dos funcionários para inovar.

AIE1

Avaliação do retorno sobre o investimento realizado em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D).

Ativos de Infra-Estrutura (AIE)

AIE2

Avaliação do retorno sobre o investimento realizado em canais de distribuição.

AIE3

Existência de uma estratégia proativa para tratar a propriedade intelectual.

AIE4

Sinergia entre os programas de treinamento e os objetivos corporativos.

AIE5

Existência de uma infra-estrutura para ajudar os funcionários a desempenhar um bom trabalho.

AIE6

Valorização da cultura organizacional.

API1

Identificação do know-how gerado pela P&D.

Ativos de Propriedade Intelectual (API)

AM1

Identificação dos clientes recorrentes.

Ativos de Mercado (AM)

AM2

Mensuração do valor da marca

Fonte: Elaborado pelos autores a partir Brooking (1996).

Com base nos estudos e afirmações dos estudiosos já mencionados, constata-se a importância do Capital Intelectual para o desenvolvimento das empresas, além de representar diferencial competitivo em relação aos concorrentes. A era atual, como diz Sá (2002) exige a capitalização de intelectos, no sentido de investimentos maiores em qualidade da inteligência agente sobre os capitais, na busca da eficácia comum dos mais importantes valores das células sociais e de aumento do valor efetivo da própria riqueza.

3. Procedimentos metodológicos

A pesquisa enquanto procedimento formal é um método de pensamento reflexivo que implica em um tratamento científico e permite conhecer a realidade ou descobrir verdades parciais. Significa muito mais do que apenas procurar a verdade: é encontrar respostas para questões sugeridas, fazendo uso dos métodos científicos (Lakatos y Marconi, 2001)

A pesquisa deste artigo pode ser classificada de natureza quantitativa. Fonseca et al. (2007) destacam que pesquisa quantitativa pode ser compreendida como aquela que se fundamenta em métodos estatísticos para sustentar suas análises.

Considerando o caráter emergente do objeto de estudo do presente trabalho, a presente pesquisa exploratória e quantitativa buscou avaliar, através da aplicação de um questionário fechado com 16 questões utilizando a escala de Lickert, estabelecendo os 5 níveis de importância, sendo para: (1) Nenhuma,  (2) Pouca   (3) Media, (4) Alta, (5) Máxima, sobre os 16 fatores geradores de Capital Intelectual na visão dos alunos de graduação do curso de Ciências Contábeis e pós-graduação do CECI, da Universidade de Caxias do Sul, a fim de perceber igualdades e divergências em suas percepções.

Para realizar esta análise foram levantadas as seguintes hipóteses:

H0: não existe diferença entre os grupos, pois as médias das respostas dos alunos de gradução e pós-graduação não são estatisticamente diferentes.

H1: existe diferença entre os grupos, pois as médias das respostas dos alunos de gradução e pós-graduação são estatisticamente diferentes.

Para tanto realizou-se o teste "t" de student, (Anderson, Sweeney e Willianms, 2007) para constatar se a diferença entre as respostas dos dois grupos apresenta ou não sgnificância "p" estatística. O nível estabelecido de significância foi de 0,05.

Outra análise que foi realizada se refere as 4 categorias dos fatores do Capital Intelectual que tiveram maior incidência de escolha nos níveis Alta e Máxima importância do questionário, na percepção dos 436 alunos de graduação e pós-graduação entrevistados.

Da população de 962 alunos de graduação, a amostra contou com 405 alunos respondentes e da população de 45 alunos de pós-graduação, a amostra contou com 31 alunos respondentes. Os questionários posteriormente foram transcritos para uma planilha do Microsoft Excel. Para determinar as inferências estatísticas, o arquivo gerado pelo Microsoft Excel foi importado para o software estatístico SPSS – Statistical Package for Social Siences, versão 17.

O considerável número de respondentes é atribuído pelo fato dos questionários serem distribuídos de forma impressa em sala de aula pelos professores do curso de Ciências Contábeis que colaboraram de forma determinante para o expressivo número das amostas em relação a população. Posteriormente os questinários foram coletados pelos autores deste artigo. Os alunos foram orientados a responderem o questionário uma única vez, já que o questionário foi aplicado em diversas disciplinas do curso.

Previamente foi aplicado um questionário piloto a uma turma de 23 alunos respondentes da graduação, para identificar possíveis falhas ou ajustes a serem realizados no instrumento de coleta de dados. Na versão final do questinário optou-se em excluir o campo de identificação do aluno, buscando tornar mais ágil o seu preenchimento bem como preservar a identidade dos participantes.

4. Apresentação e análise dos resultados

A apresentação dos resultados obtidos foi direcionada a identificar e perceber igualdades e divergências nas percepções dos alunos nas questões referentes aos 16 fatores geradores de Capital Intelectual.

Os resultados encontrados conforme a Tabela 1 constatam que a percepção dos dois grupos de alunos é semelhante em 14 dos 16 fatores que geram o Capital Intelectual. Assim a maioria das questões não apresentaram diferença estatisticamente significativa entre as médias, assim não pode-se afirmar que as médias sejam diferentes.

Os dois fatores divergentes que apresentaram significância estatística inferior a 0,05 se referem aos fatores: AH4) Existência de oportunidade para desenvolvimento profissional e pessoal, relacionada a categoria dos Ativos Humanos (AH) e a questão AIE4) Sinergia entre os programas de treinamento e os objetivos corporativos, relacionada a categoria dos Ativos de Infra-Estrutura (AIE).

Pode-se assim perceber que devido a um maior nível de conhecimento e experiência dos pós- graduandos em detrimento dos alunos a graduação os torna mais sensíveis a dar relevância a estas questões.

A utilização deste método comprova que existem poucas diferenças significativas em relação a percepção dos alunos graduandos com os pós-graduandos.

Tabela 2 - Tabela com comparação das médias, desvio padrão, teste "t" e
significância, entre os grupos de alunos de graduação e pós-graduação

CATEGORIAS

GRUPOS DOS ALUNOS

MÉDIA

DESVIO-PADRÃO

TESTE "t"

SIGNIFICÂNCIA "p"

 AH1

Graduação

3,970

0,854

 

 

 

1,638

0,102

Pós-graduação

4,230

0,717

 

 

 AH2

Graduação

3,510

0,892

 

 

 

-0,944

0,346

Pós-graduação

3,350

0,839

 

 

 AH3

Graduação

3,980

0,856

 

 

 

0,778

0,437

Pós-graduação

4,100

0,539

 

 

 AH4

Graduação

3,960

0,893

 

 

 

2,437

0,015

Pós-graduação

4,350

0,551

 

 

AIE1

Graduação

3,540

0,848

 

 

 

-0,540

0,590

Pós-graduação

3,450

1,028

 

 

 API1

Graduação

3,310

0,822

 

 

 

0,490

0,624

Pós-graduação

3,390

0,955

 

 

 AMI

Graduação

3,470

0,804

 

 

 

-0,150

0,881

Pós-graduação

3,450

0,768

 

 

 

AI3

Graduação

3,670

0,841

 

 

 

0,982

0,279

Pós-graduação

3,840

0,969

 

 

 AM2

Graduação

3,560

0,826

 

 

 

0,953

0,341

Pós-graduação

3,710

0,824

 

 

 AI2

Graduação

3,560

0,814

 

 

 

-0,522

0,602

Pós-graduação

3,480

0,811

 

 

 AIE4

Graduação

3,560

0,862

 

 

 

2,771

0,006

Pós-graduação

4,000

0,775

 

 

 

AIE5

Graduação

4,030

0,855

 

 

 

1,650

0,100

Pós-graduação

4,290

0,739

 

 

 

AH5

 

Graduação

3,860

0,932

 

 

 

1,377

0,169

Pós-graduação

4,100

0,831

 

 

 AH6

Graduação

3,720

0,910

 

 

 

1,682

0,093

Pós-graduação

4,000

0,856

 

 

 AH7

Graduação

3,830

0,933

 

 

 

0,435

0,664

Pós-graduação

3,900

1,012

 

 

 AI6

Graduação

3,810

0,894

 

 

 

0,771

0,441

Pós-graduação

3,940

0,854

 

 

Fonte: Elaborada pelos autores.

Na tabela 1 o teste "t", que verifica a variância entre as médias das respostas sobre questões referentes aos 16 fatores do Capital Intelectual, entre os grupos de alunos de graduação e pós-graduação.

A significância "p" pode contatar uma possível divergência significativa entre as médias das respostas entre os grupos, sendo considerados significantes os índices inferiores a 0,05. Estes foram identificados nas questões d) e l), que encontran-se negritadas. Logo percebemos que a hipótese H0 foi a confirmada.

Outra análise realizada buscou identificar, conforme a tabela 2, qual seriam as categorias das questões que tiveram maior incidência de escolha nos níveis Alta e Máxima importância na percepção dos 436 alunos de graduação e pós-graduação.

Assim buscou-se observar de forma conjunta algum possível agrupamento entre as 4 categorias de ativos do Capital Intelectual: Ativos de Mercado (AM), Ativos Humanos (AH), Ativos de Propriedade Intelectual (API) e Ativos de Infra-Estrutura (AIE), com o objetivo de indentificar a preferência comum de alguma categoria específica entre os alunos entrevistados.

Tabela 3 - Tabela da relação decrescente de frequência das questões, considerando o somatório
das frequências dos graus de importância, Alta e Máxima, conforme Anexos I e II.

CATEGORIAS

Nº DE REPONDENTES QUE MARCARAM "ALTA IMPORTANCIA"

Nº DE REPONDENTES QUE MARCARAM "MÁXIMA IMPORTANCIA"

SOMATÓRIO ALTA + MÁXIMA

% DOS REPONDENTES

AIE5

185

146

331

75,92%

AH1

195

129

324

74,31%

AH3

197

127

324

74,31%

AH4

183

137

320

73,39%

AH7

192

109

301

69,04%

AH5

179

120

299

68,58%

AIE6

188

102

290

66,51%

AIE3

213

63

276

63,30%

AH6

184

90

274

62,84%

AIE4

193

55

248

56,88%

AIE2

202

42

244

55,96%

AM2

185

52

237

54,36%

AIE1

181

51

232

53,21%

AM1

200

29

229

52,52%

AH2

167

55

222

50,92%

API1

170

19

189

43,35%

Fonte: Elaborada pelos autores.

Como pode-se observar as 6 primeiras questões que possuem o percentual de escolha acima de 68,58%, 5 delas são da categoria dos Ativos Humanos (AH), demonstrando assim a importância na visão dos entrevistados deste componente para o do Capital Intelectual. Esta evidência corrobora com as afirmações de Druker (1970) que "os homens de poder seriam os homens de conhecimento".

Em contrapartida observa-se que 4 das 7 questões sobre Ativos de Infra Estrutura (AIE) ficaram com percentual de escolha abaixo dos 56,88% dos entrevistados.

Outro resultado que se destaca é o percentual de escolha entre os entrevistados de apenas 43,35% para a questão f) Identificação do know-how gerado pela P&D, sendo a única questão relacionada a categoria de Ativos de Propriedade Intelectual (API), classificada na última posição. Este fato pode estar relacionado a pouca atenção que as organizações têem dispêndido com este relevante fator do Capital Intelectual, na percepção dos entrevistados.

5. Considerações finais

O objetivo desta pesquisa foi de analizar comparativamente a percepção da importância dos fatores que geram o Capital Intelectual entre os alunos de graduação e pós-graduação do curso de Ciências Contábeis da Universidade de Caxias do Sul.

A aplicação de ferramentas estatísticas aos dados coletados, identificou que existe um equilíbrio significativo na média das respostas da maioria das questões respondidas. Em apenas 2 as 16 questões dos questionários tiveram divergência significativa da média dos alunos de graduação e pós-graduação.

Nesta análise comparativa entre os dois grupos de alunos podemos concluir que existe uma convergência quanto ao grau de importância das percepções em relação aos fatores que geram o Capital Intelectual, pois as divergências foram encontradas em apenas duas questões.

Estas questões se referem aos fatores: d) Existência de oportunidade para desenvolvimento profissional e pessoal, relacionada a categoria dos Ativos Humanos (AH) e a questão l) Sinergia entre os programas de treinamento e os objetivos corporativos, relacionada a categoria dos Ativos de Infra-Estrutura (AIE).

Pode-se assim constatar que devido a um maior nível de conhecimento e experiência dos pós- graduandos em detrimento dos alunos a graduação os torna mais sensíveis a dar relevância a estas questões. Assim a hipótese H0 foi confirmada.

Os resultados encontrados nas análises também demonstram que a percepção dos alunos é mais concentrada nas categorias dos Ativos Humanos (AH) em detrimento dos Ativos de Ativos de Infra-Estrutura (AIE).

Os dos Ativos Humanos (AH) também podem ter um destaque maior na média, pois pode haver entre os entrevistados a percepção de que Capital Intelectual e Ativos Humanos (AH) sejam termos equivalentes ou que o Capital Intelectual se refira apenas as pessoas da organização.

Também buscou-se com o desenvolvimento desta pesquisa ofererecer uma modesta contribuição para novos estudos nesta área do conhecimento, e esclarecer aos interessados quais são os fatores e categorias que compõe o Capital Intelectual, segundo Brooking (1996).

Em termos de perspectivas para futuros estudos, poderia ser desenvolvida uma metodologia para realizar uma comparação utilizando como grupo adicional os docentes do curso de Ciências Contábeis.

Ainda como sugestão para futuros estudos, o questionário conforme Anexo 1, poderia ser aplicado em outras insitutições de ensino bem como outras áreas das ciências sociais aplicadas.

Referências

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1. Doutorando em Administração, Professor e Pesquisador da UCS – Universidade de Caxias do Sul, Brasil Email: prof.alex.eckert@gmail.com


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 26) Año 2016

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