Espacios. Vol. 37 (Nº 25) Año 2016. Pág. 10

Análise da aplicação de práticas sustentáveis baseada nos relatórios de sustentabilidade: estudo no setor cosmético brasileiro

Analysis of the implementation of sustainable practices based on sustainability reporting: study in the Brazilian cosmetic sector

Eliane PINHEIRO 1; Antonio Carlos de FRANCISCO 2

Recibido: 22/04/16 • Aprobado: 23/05/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Sustentabilidade nas organizações

3. Metodologia

4. Resultados e discussões

5. Conclusões

Referências


RESUMO:

Esta pesquisa apresenta como objetivo analisar a aplicação de práticas sustentáveis por meio dos relatórios de sustentabilidade de um grupo empresarial do setor cosmético brasileiro. Trata-se, portanto, de uma pesquisa de caráter descritivo, com abordagem qualitativa. Após analisadas, as ações demonstram as práticas sustentáveis adotadas pelo grupo que indicam um potencial competitivo e favorecem o grupo, bem como seus stakeholders, fornecedores e consumidores, pois permitem a demonstração dos avanços em direção à sustentabilidade apresentados em um determinado período.
Palavras-chave: sustentabilidade, relatório, GRI.

ABSTRACT:

This research has to analyze the application of sustainable practices through the sustainability report of a business group of the Brazilian cosmetic sector. It is, therefore, a descriptive research with a qualitative approach. After analysis, the actions demonstrate sustainable practices adopted by the group indicate a competitive potential and promote the group and its stakeholders, suppliers and consumers, as they allow the demonstration of progress towards sustainability presented in a given period.
Keywords: sustainability, reporting, GRI.

1. Introdução

Diante da concorrência acirrada no mercado globalizado, empresas buscam maneiras para permanecer competitivas e obter destaque no mercado. Neste cenário, o modo de produção capitalista tem sido denunciado como uma fonte da degradação ambiental e social na sociedade. Assim, o desenvolvimento de práticas ambientalmente saudáveis é uma estratégia para as empresas e um aspecto favorável para amenizar a destruição causada (OLIVEIRA, GONÇALVES, 2014).

Com isso, as empresas procuram se adequar e inserir práticas sustentáveis, adotando um horizonte em longo prazo, visando os três pilares da sustentabilidade, onde o crescimento econômico sustente o progresso social e as questões do meio ambiente. O princípio social exige que todos sejam tratados de forma justa e equitativa, a esfera econômica requer a produção adequada de recursos para que a sociedade possa manter um padrão de vida razoável, e a dimensão ambiental sugere que a organização proteja os recursos ambientais (BANSAL, 2002; ROBINSON, 2004).

Com base nestes três princípios, as ações sustentáveis podem ser aplicadas na empresa e serem divulgadas por meio de relatórios de sustentabilidade apresentados pelas organizações, que também são considerados como uma ferramenta principal de comunicação do desempenho social, ambiental e econômico das organizações.

Nesse contexto, o objetivo deste estudo consiste em analisar a aplicação de práticas sustentáveis por meio dos relatórios elaborados de acordo com a Global Reporting Initiative (GRI) de um grupo do setor cosmético brasileiro. Para tanto, buscou-se examinar os relatórios de sustentabilidade e as ações descritas nos mesmos com vistas a compreender se esta é uma vantagem competitiva para a empresa. Dessa forma acredita-se que este trabalho possa contribuir para os estudos sobre sustentabilidade e a importância da elaboração de relatórios de sustentabilidade pelas organizações.

2.  Sustentabilidade nas organizações

A visão holística da sustentabilidade é vista como questão estratégica, pois afeta o modo como a organização é analisada pelos stakeholders e, isso, interfere em seu crescimento, rentabilidade e, até mesmo, na sobrevivência da empresa (EL SHENAWY, ZMEUREANU, 2013). A necessidade de inserir a visão holística de modo efetivo nas organizações e práticas sustentáveis é uma realidade presente. Por conseguinte, o número de estudos com a finalidade de relacioná-la com outros sistemas e práticas que levem a resultados sustentáveis têm aumentado proporcionalmente.

É crescente a valorização das questões ambientais no segmento empresarial, devido às pressões competitivas e pelo aumento do rigor legal e pode ser percebida no mercado financeiro nacional e internacional. O enfoque econômico, antes preponderante no planejamento, vem sendo substituído por um conceito mais amplo de desen­volvimento sustentável, no qual as metas de crescimento estão associadas aos esforços de redução dos efeitos no­civos ao meio ambiente (SILVA, QUELHAS, 2006; OLIVEIRA, 2014).

De acordo com Elkington (1997), a sustentabilidade é definida em termos do Triple Bottom Line (TBL): prosperidade econômica, qualidade ambiental e justiça social. Diante dos três aspectos, sugere-se que o crescimento econômico sustente o progresso social e as questões do meio ambiente. O princípio social exige que todos sejam tratados de forma justa e equitativa, a esfera econômica requer a produção adequada de recursos para que a sociedade mantenha um padrão de vida razoável, e a dimensão ambiental sugere que a sociedade proteja os recursos ambientais (BANSAL, 2002; ROBINSON, 2004).

O conceito do tripé da sustentabilidade vem ganhando atenção entre empresas e pesquisadores, sendo considerada uma ferramenta conceitual útil para interpretar as interações empresariais e, especialmente, para ilustrar a importância de uma visão da sustentabilidade mais ampla, além de apenas uma perspectiva, isto é, as três dimensões são inseparáveis (BAULER, 2012; BALOGUN E MATIVENGA, 2013).

Os negócios estão sujeitos a pressões crescentes das várias partes interessadas, dentro e fora da organização, tais como: o governo, agências, colaboradores, institutos, sociedade. O desenvolvimento da legislação ambiental que regulamenta as atividades empresariais quanto ao uso de recursos e serviços ambientais também interfere. A cobrança por parte dos indivíduos, que esperam que as empresas busquem reduzir e compensar os impactos causados por suas ações e, pelos investidores, que buscam minimizar seus riscos, além do próprio mercado, já que as questões ambientais se tornaram importantes para a competitividade das organizações (SEADON, 2010; SILVA et al., 2011; BASKARAN et al., 2012; LO et al., 2012).

Com isso, percebe-se que a prática da sustentabilidade, como uma fonte de vantagem competitiva estratégica para as empresas, alavanca o potencial econômico, social e ambiental diante de outras empresas (HERVA et al., 2012; CHEAH, et al., 2013). Diante dos desafios, a preocupação com as práticas sustentáveis se reflete nos relatórios de sustentabilidade apresentados e disponibilizados pelas organizações.

Segundo Silva (2011), de modo geral esses relatórios precisam ser reprodutíveis, estáveis e precisos, constituindo uma espécie de justificativa sobre as ações da organização perante a sociedade. Desde 2000, a Global Reporting Initiative (GRI) apresenta modelos de relatórios de sustentabilidade que se tornaram padrão internacional. Seu propósito é fornecer um arcabouço para os relatórios que fortaleça as ligações entre os aspectos ambientais, econômicos e sociais do desempenho organizacional.

2.1  Relatório de Sustentabilidade segundo as diretrizes da GRI

A publicação de relatórios de sustentabilidade empresariais tornou-se uma ferramenta para demonstrar o desempenho das empresas nos aspectos sociais, ambientais e econômicos (projetos, ações, resultados e investimentos), por meio do uso de vários indicadores ou parâmetros visando à sustentabilidade. Esses relatórios são demonstrativos anuais dos projetos, benefícios e ações sociais dirigidos a todos os interessados. Os relatórios devem ser precisos, reprodutíveis e estáveis, constituindo uma espécie de justificativa sobre as ações da organização e tornar pública a responsabilidade e preocupação da empresa em relação à sociedade (OLIVEIRA et al., 2014).

Segundo o Instituto Ethos (2011), um relatório de sustentabilidade é a principal ferramenta de comunicação do desempenho social, ambiental e econômico das organizações. A escolha das diretrizes definidas pela Global Reporting Initiative (GRI) ocorreu em função de esta ser uma iniciativa de reconhecimento internacional e apoiada por importantes organizações, como a Organização das Nações Unidas (ONU) (FERREIRA et al., 2009; OLIVEIRA et al., 2014). A GRI é uma instituição global independente, sem fins lucrativos, que desenvolveu e continua aprimorando uma estrutura mundialmente aceita para relatar o desempenho sustentável das organizações.

É considerado o mais completo entre os modelos de relatórios disponíveis e conta com princípios para a definição adequada do conteúdo do relatório, indicadores de desempenho e protocolos técnicos com metodologias de compilação e fontes de referências (SILVA et al., 2011; DIHL, 2013).

Segundo a GRI (2006), elaborar relatórios de sustentabilidade é a prática de medir, divulgar e prestar contas para stakeholders internos e externos do desempenho organizacional visando o desenvolvimento sustentável. Esse tipo de documento deve oferecer uma descrição equilibrada e sensata do desempenho de sustentabilidade da organização relatora, incluindo informações, tanto positivas como negativas, relacionadas à sustentabilidade.

Um relatório de sustentabilidade baseado nas Diretrizes da GRI divulga os resultados obtidos dentro do período relatado, no contexto dos compromissos, da estratégia e da forma de gestão da organização. Entre outros propósitos, pode ser usado como:

Padrão de referência (benchmarking) e avaliação do desempenho de sustentabilidade com respeito às leis, normas, códigos, padrões de desempenho e iniciativas voluntárias;

Demonstração de como a organização influencia e é influenciada por expectativas de desenvolvimento sustentável;

Comparação de desempenho dentro da organização e entre organizações diferentes ao longo do tempo.

Para muitas empresas, os relatórios de sustentabilidade podem ser orientados e vistos como uma estratégia de marketing dirigida aos consumidores. Caso sejam elaborados conforme as linhas orientadoras da GRI, servem também, para a organização verificar se existe competitividade e, ainda, identificar os riscos e oportunidades, assim como apurar se as metas da empresa foram atingidas. Neste sentido, estes relatórios devem ser elaborados tendo em vista os objetivos e missão da empresa, solicitando feedback aos stakeholders (SIMÕES, 2013).

3. Metodologia

Esta pesquisa consistiu em uma análise descritiva da publicação de um relatório de sustentabilidade, segundo os parâmetros da GRI, com o uso de pesquisa documental. O objeto de estudo definido foi o Relatório de sustentabilidade elaborado no ano de 2013 por um grupo empresarial do setor cosmético brasileiro. Esta edição corresponde ao período de 1° de janeiro a 31 de dezembro de 2013.

Quanto à abordagem, esta pesquisa envolve técnicas qualitativas, com o estudo de situações específicas. Inicialmente, realizou-se a análise do relatório de sustentabilidade do grupo no período mencionado, por meio de uma pré-análise dos dados, organizando-os de modo a possibilitar um estudo sistemático. Foram identificadas as categorias e as informações consideradas relevantes e coerentes com as práticas sustentáveis desenvolvidas pelo grupo. Uma leitura flutuante possibilitou organizar as primeiras impressões e orientações para a separação das categorias.

Foi selecionado um grupo do ramo cosmético. A escolha deste grupo a ser estudado ocorreu, tendo em vista ser uma das maiores organizações que atuam neste segmento no Brasil e pela disponibilidade das informações, bem como por considerar a competitividade estabelecida perante o mercado. Ainda, devido ao fato do referido grupo pertencer a um setor em ascensão mundialmente. O grupo objeto deste estudo é constituído por quatro unidades de negócio e representado por um conjunto de empresas que fabricam, em média, 17 milhões de produtos de higiene pessoal e beleza, por mês.

Por fim, verificaram-se as práticas sustentáveis apresentadas no relatório de sustentabilidade do grupo referente ao ano de 2013. De acordo com o relatório, houve avanço em direção à sustentabilidade no referido ano. Os dados foram agrupados de acordo com os temas priorizados pela empresa, onde é destacado o alinhamento com cada categoria apresentada pela GRI: social, econômico e ambiental.

4. Resultados e discussões

4.1 Análise do relatório de sustentabilidade

O relatório de sustentabilidade analisado foi elaborado nos padrões da Global Reporting Initiative (GRI), contemplando as práticas sociais, ambientais e econômicas adotadas pelo grupo estudado. Assim, percebe-se a importância do conceito do tripé da sustentabilidade que vem ganhando atenção entre empresas e pesquisadores que tratam sobre o assunto (RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE, 2013; BAULER, 2012; BALOGUN E MATIVENGA, 2013).

Para Simões (2013), os relatórios de sustentabilidade devem ser elaborados tendo em vista os objetivos e missão da empresa, solicitando feedback aos stakeholders. Estas informações são úteis para a formulação de estratégias que contemplem a sustentabilidade e com o objetivo de inclusão da mesma nos processos decisórios e operacionais, considerando critérios sociais e ambientais, juntamente com os critérios econômico-financeiros na gestão e avaliação do desempenho do negócio.

Além da implantação de processos internos para ganhar eficiência, o grupo oferece suporte para que os fornecedores também evoluam neste sentido (RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE, 2013).

Cada um dos temas foi qualificado em três níveis de maturidade, que são o referencial para analisar a situação atual e a evolução dos processos corporativos em relação aos temas, permitindo identificar os gargalos e oportunidades e definir estratégias e iniciativas de inserção da sustentabilidade. A cada ciclo estratégico, são avaliados os temas e processos que serão trabalhados, conforme as estratégias internas e tendências do mercado, principalmente do setor de cosméticos, franchising e varejo, com relação à sustentabilidade (RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE, 2013).

Foram contempladas estratégias que consideram a sustentabilidade e a avaliação do impacto ambiental no desenvolvimento de produtos.  Para alcançar tais objetivos a equipe executora definiu a inclusão da sustentabilidade nos processos decisórios e operacionais, considerando critérios sociais e ambientais juntamente com os econômico-financeiros na gestão e avaliação do desempenho do negócio. Com isso, o compromisso com a redução do impacto ambiental gerado pelo produto/embalagem em todas as etapas de seu ciclo de vida, ou seja, na criação, produção, utilização e reutilização ou descarte, fica evidente a proteção ao meio ambiente (RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE, 2013).

4.1.1 Categoria Ambiental

Na categoria ambiental os aspectos apresentados buscam minimizar os impactos ambientais e sociais por meio de ações pertinentes aos temas. Foram considerados nos indicadores materiais os seguintes aspectos: materiais, energia, água, emissões, efluentes e resíduos, produtos e serviços e transporte.

No relatório analisado, menciona-se o compromisso com a utilização de insumos e matérias-primas renováveis no desenvolvimento de novos produtos e reformulação dos atuais. Os materiais reciclados são usados para o desenvolvimento de embalagens e incorporados nos cartuchos de papel e na composição dos berços (componente utilizado para acomodar os produtos em estojos) (RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE, 2013).

Ainda, para alcançar a eficiência, mudanças foram realizadas na infraestrutura fabril por meio de algumas ações, por exemplo: as instalações das plantas foram concebidas com infraestrutura para a economia do consumo de energia e de água. Também foram criadas salas de videoconferência que reduzem a quantidade de viagens dos colaboradores e, consequentemente, diminuem as emissões de gases que causam o efeito estufa. Foram reduzidas 3.780,27 toneladas de CO2 equivalentes de gases que causam o efeito estufa na distribuição dos produtos (RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE, 2013).

O grupo atua em conformidade com o Protocolo de Montreal, não utilizando em suas atividades e produtos, as substâncias que causam a diminuição na camada de ozônio prevista no documento. O desenvolvimento de embalagens deste grupo busca, principalmente, analisar condições que favorecem reciclabilidade das embalagens comercializadas, estudar alternativas de materiais com maior atratividade para o mercado. O descarte adequado de resíduos de embalagens pós-consumo ocupa posição central na estratégia de sustentabilidade da organização, visando reduzir o impacto ambiental e incentivar o uso de refis dos produtos (RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE, 2013).  

Os principais impactos provenientes do transporte são o consumo de diesel, e sua consequente emissão de particulados e gases de efeito estufa, e a geração de resíduos de caixas de papelão para acondicionamento de produtos. São solicitados laudos de fumaça preta (opacímetro) e ações de conscientização, capacitação e acompanhamento dos fornecedores de transporte quanto a melhores práticas para redução das emissões (RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE, 2013).

Os fornecedores são selecionados com base em critérios ambientais, como: existência de Licença de Operação Ambiental, Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPR) e destinação correta de resíduos.

A água é reciclada e reutilizada nas plantas industriais.  O descarte total de água é discriminado por qualidade e destinação. Não há reuso e sim utilização de água de chuva. Os resíduos são pesados e discriminados por tipo e método de disposição.

Anualmente é feita a verificação de impactos ambientais (que incluem consumo de água e energia, emissões de Gases de Efeito Estufa – GEE e gestão de resíduos) na cadeia de fornecedores do grupo por meio de questionário de autoavaliação e/ou visitas de sustentabilidade. A empresa informa o consumidor sobre o tema sustentabilidade, visando o seu engajamento por meio de campanhas nos pontos de venda. Há preocupação com o fortalecimento do relacionamento com o público, por isso, foi estabelecido um modelo de gestão integrado e alinhado com a estratégia de negócio da organização, definindo novos critérios, conceitos e diretrizes para suas ações, priorizando, cada vez mais, a prática efetiva de quesitos sociais e ambientais por seus parceiros. Sendo assim, visam à qualificação e evolução das práticas de sustentabilidade na cadeia de suprimentos, atuando de forma direcionada nos diferentes setores de fornecedores de insumos e serviços diretos e indiretos (RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE, 2013).

Os indicadores não materiais abordam os seguintes aspectos: biodiversidade, conformidade, mecanismos de queixas e reclamações. O grupo criou e mantém duas reservas naturais em áreas de rica biodiversidade que estão localizadas em biomas ameaçados do Brasil: Mata Atlântica e Cerrado.

O grupo atua em conformidade com leis e regulamentos ambientais, no entanto, recebeu autuação da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo por suposta conduta em desacordo com a Lei Municipal n° 13.316/2002. No aspecto mecanismos de queixas e reclamações ativas relativas a impactos ambientais, no ano de 2013 houve uma queixa referente ao ruído no laboratório de Pesquisa & Desenvolvimento, que já foi tratada (RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE, 2013).

4.1.2 Categoria Social

Na categoria social foram consideradas nos indicadores materiais as seguintes subcategorias: direitos humanos e responsabilidade pelo produto. Os fornecedores do Grupo em análise são selecionados com base em critérios relacionados a direitos humanos e os contratos possuem cláusulas que se referem a obrigações de ordem geral como: segurança e medicina do trabalho, ausência de mão de obra infantojuvenil e código de conduta.

Ainda, é avaliada a segurança e eficácia dos produtos desde a entrada da matéria-prima e, posteriormente, os produtos desenvolvidos são submetidos aos mais avançados estudos para comprovação de segurança e eficácia de uso para o consumidor e seguem critérios de rotulagem, conforme preconizam as guidelines internacionais e a legislação vigente. No Brasil, não existe obrigatoriedade de rotulagem ambiental para comercialização (RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE, 2013).

Na categoria social foram consideradas nos indicadores não materiais as seguintes subcategorias: Práticas trabalhistas e trabalho decente; Direitos humanos; Sociedade e Responsabilidade pelo produto e os seus aspectos.

Foram abordados aspectos como: emprego, saúde e segurança no trabalho, treinamento e educação, diversidade e igualdade de oportunidades, igualdade de remuneração para mulheres e homens, avaliação de práticas trabalhistas, mecanismos de queixas e reclamações.

No relatório de sustentabilidade são apresentadas ações de capacitação que promovem o desenvolvimento de colaboradores, com a criação de oportunidades de trabalho, proporcionando a possibilidade de migrar ou fazer upgrade de função. Estas ações são desenvolvidas por meio de programas como: Programa de Qualidade de Vida e Recertificação ISO 14.001 e Occupational Health and Safety Assesment Services (OHSAS) 18.001, entre outros (RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE, 2013).

Os aspectos que abordam as comunidades locais combatem a corrupção, e políticas públicas são apresentadas. No relatório de sustentabilidade são valorizadas as relações com as diversas partes interessadas: os fornecedores, governos, ONGs e sociedade. Por isso, também se orienta a gestão à cadeia de valor, estendendo as práticas e engajando os diferentes públicos com os quais se relaciona. Para a comunidade local, a empresa oferece capacitação profissional como uma fonte fundamental para tornar as pessoas mais competitivas no mercado de trabalho (RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE, 2013).

A responsabilidade pelo produto aborda os aspectos de privacidade do cliente e conformidade. No período foi aberto um relato, mas este não se comprovou. Não se registrou qualquer caso judicial ou processo administrativo envolvendo a violação de privacidade ou a perda de dados dos nossos consumidores.  Neste período, o Grupo não recebeu multas significativas decorrentes de não conformidades com as leis e regulamentos.

Os principais temas tratados nas ações de comunicação e desenvolvimento junto aos fornecedores foram os seguintes: questões trabalhistas; direito da criança e do adolescente; promoção da diversidade; saúde e segurança; gestão de riscos/impactos sociais e ambientais; ações de ecoeficiência; mudanças climáticas; sustentabilidade no relacionamento com parceiros de negócio (seleção e avaliação) (RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE, 2013).

Também foram intensificadas as avaliações in loco dos fornecedores, o objetivo destasações é verificar, presencialmente, o escopoconsiderado prioritário para cada setor acionado,contemplando o sistema integrado de gestão(qualidade, meio ambiente, saúde e segurança,entre outros), as práticas relacionadas àsustentabilidade. Os colaboradores são envolvidos em ações de comunicação e capacitação para assegurar que estejam conscientes das práticas sustentáveis da organização e possam contribuir com elas (RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE, 2013).

4.1.3 Categoria Econômica

Na categoria econômica foram apresentados os seguintes aspectos: desempenho econômico, presença no mercado e práticas de compra. Esta categoria trata de implicações financeiras e outros riscos e oportunidades, devido às mudanças climáticas. O processo de definição da nova estratégia de sustentabilidade incluiu a análise dos potenciais impactos financeiros decorrentes das mudanças climáticas e da contribuição potencial do Grupo para a mitigação deste fenômeno.

A adoção contínua de processos e matérias-primas menos intensivas em emissões de gases de efeito estufa (GEE), pode ser entendida como uma contribuição para o tema. Desta forma, ao invés do desenvolvimento de controles específicos para avaliar as implicações financeiras relacionadas à mudança do clima sobre a sua operação, o Grupo tem como estratégia para o tema a mensuração de suas emissões (por meio de inventário anual), a implantação da metodologia de Análise de Ciclo de Vida e a adoção de processos menos intensivos em emissões.

5. Conclusões

O relatório analisado foi elaborado conforme as linhas orientadoras da GRI e servem para a organização verificar seu nível de competitividade e, ainda, identificar os riscos e oportunidades, assim como, apurar se as metas da empresa estão sendo atingidas (SIMÕES, 2013).

O relatório de sustentabilidade analisado passou por verificação externa, visando conferir integridade e credibilidade ao mesmo. Constatou-se que este se encontra em conformidade com a GRI. Foram apontados os pontos fortes e fracos, no entanto, há a menção de que existe um equilíbrio nas ações e estratégias apresentadas pelo grupo, sendo que o mesmo atende aos requisitos de nível de Aplicação B+.

As informações contidas neste documento indicam que a empresa procura consolidar um modelo de atuação, mantendo equilíbrio entre os três pilares que envolvem uma postura que estimula o desenvolvimento social, a proteção ao meio ambiente, à promoção das pessoas e a atenção ao desempenho econômico. Por isso, os gestores mantêm a atuação baseada em uma visão de longo prazo, considerando impactos sociais e ambientais e valorizando todos os elos da cadeia de valor, a fim de caminharem juntos atendendo a cobrança por parte dos indivíduos, investidores e pelo próprio mercado, pois as questões ambientais se tornaram importantes para a competitividade das organizações (SEADON, 2010; SILVA et al., 2011; BASKARAN et al., 2012; LO et al., 2012).

Por fim, após análise do relatório de sustentabilidade, foram identificadas práticas sustentáveis inseridas nos processos de gestão como diferencial estratégico e projetos a longo, médio e curto prazo a serem implementados nas empresas do grupo, conquistando vantagem competitiva e demonstrando compromisso para com a sociedade e seus stakeholders por meio destas práticas, permitindo avanços em direção à sustentabilidade. Conforme apresentado nos temas que tiveram destaque no relatório, houve uma racionalização de recursos naturais como: água, energia elétrica e redução de resíduos em toda a cadeia de valor, fatos que proporcionam economia, sendo este um aspecto que pode ser considerada uma vantagem competitiva além de, demonstrar o engajamento do Grupo com os desafios da sustentabilidade.

Referências

BANSAL, P. The corporate challenges of sustainable development. En: Academy of Management Executive, 2002 Vol. 16, p. 122–131

BALOGUN, V. A.; MATIVENGA, P. T. Modelling of direct energy requirements in mechanical machining processes. En: Journal of Cleaner Production, 2013 Vol. 41, p 179 -186

BAULER, T. An analytical framework to discuss the usability of (environmental) indicators for policy. En: Ecological Indicators, 2012 Vol. 17, p 38-45

BASKARAN, V.; NACHIAPPAN, S.; RAHMAN, S.; Indian textile suppliers' sustainability evaluation using the grey approach. En:  International Journal of Production Economics, 2012 Vol. 135, p 647- 658

CHEAH, L.; CICERI, N. D.; OLIVETTI, E.; MATSUMURA, S.; FORTERRE, D.; ROTH, R.; KIRCHAIN, R. Manufacturing-focused emissions reductions in footwear production.En: Journal of Cleaner Production, 2013 Vol. 44, p 18 -29

CHEN, Z.; NGO, H.H.; GUO, W. A critical review on sustainability assessment of recycled water schemes. En: Science of the Total Environment, 2012 Vol. 426, p 13–31

CHRIS, K.Y.L.; YEUNG, A. C. L.; CHENG, T.C.E. The impact of environmental management systems on financial performance in fashion and textiles industries. En:  Int. J. Production Economics, 2012 Vol. 135, p 561-567

DIHL, W. A teoria da criação do conhecimento organizacional relacionada à elaboração de relatórios de sustentabilidade empresarial: um estudo exploratório em uma empresa geradora de energia. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção). Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Programa de Engenharia de Produção. 2013. 121p.

ELKINGTON, J. Cannibals with Forks: The Triple Bottom Line of 21st Century Business. Capstone Publishing, 1998.

EL SHENAWY, A.; ZMEUREANU, R. Energy-based index for assessing the building sustainability. En: Building and Environment, 2013 Vol. 60, p 202-210

FERREIRA, L. F. et al. Indicadores de sustentabilidade empresarial: uma comparação entre os indicadores do balanço social IBASE e relatório de sustentabilidade segundo as diretrizes da Global Reporting Initiative GRI. In: SIMPÓSIO DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO E TECNOLOGIA, 2009, Resende. Anais... Resende, 2009.

GLOBAL REPORTING INITIATIVE. Diretrizes para relatório de Sustentabilidade:Versão 3.0. São Paulo: GRI, 2006.

Grupo Boticário. Relatório de Sustentabilidade 2013. [Visitado el 12 de Febrero de 2016]. Disponible en:

<http://www.grupoboticario.com.br/pt-br/sustentabilidade/Documents/Relatorio-de-Sustentabilidade-2013-Grupo-Boticario-com-tabelas.pdf>.

HERVA, M.; GARCÍA-DIÉGUEZA, C. FRANCO-URÍAB, A.; ROCA, E. New insights on ecological footprinting as environmental indicator for production processes. En: Ecological Indicators, May 2012 Vol. 16, p 84–90

INSTITUTO ETHOS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL. Relatórios de sustentabilidade: a prática da transparência. [Visitado el 12 de Febrero de 2016]  Disponible en: <http://www1.ethos.org.br/EthosWeb/pt/2885/servicos_do_portal/noticias/itens/relatorios_de_sustentabilidade_a_pratica_da_transparencia>.

LO, C.K.Y., YEUNG, A.C.L., CHENG, T.C.E. The impact of environmental management systems on financial performance in fashion and textiles industries. En: International Journal of Production Economics, 2012 Vol. 135, p 561- 567

OLIVEIRA, A.H.P.; GONÇALVES, T.M. A busca da sustentabilidade urbana em uma cidade de riscos socioambientais: o arranjo técnico-econômico de Criciúma-SC, Brasil. En: Revista Espacios, 2015 Vol. 36, nº 03, p 10.

OLIVEIRA, M. A. S.; CAMPOS, L. M. S.; SEHNEM, S.; ROSSETTO, A. M. Relatórios de sustentabilidade segundo a Global Reporting Initiative (GRI): uma análise de correspondências entre os setores econômicos brasileiros. En: Production, Apr. /June 2014 Vol. 24, n° 2, p 392-404

Relatório Application Levels. GRI (2000-2006). [Visitado el 08 de Febrero de 2016]  Disponible en < https://www.globalreporting.org/resourcelibrary/Brazil-Portuguese-G3-Application-Levels.pdf  > .

ROBINSON, J. Squaring the circle? Some thoughts on the idea of sustainable development. En: Ecological Economics, 2004 Vol. 48, p 369– 384

SEADON, J. K. Sustainable waste management systems. En:  Journal of Cleaner Production, 2010 Vol. 18, p 1639- 1651

SILVA, L. S. A.; QUELHAS, O. L. G. Sustentabilidade empresarial e o impacto no custo de capital próprio das empresas de capital aberto. En: Gestão e Produção, set/dez 2006 Vol. 13, n° 3, p 385-395

SILVA, S. S.; REIS, R.P.; AMÂNCIO, R. Paradigmas ambientais nos Relatos de sustentabilidade de organizações do setor de energia elétrica. En: Rev. ADM. Mackenzie, Maio/Jun. 2011 Vol. 12, n° 3, p 146-176

SIMÕES, S. C.S. A comunicação do desempenho social das empresas de prestação de serviços em Portugal. Dissertação (Mestrado em Marketing). Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra – Coimbra 2013. 143 p.


1. Curso Superior de Moda. Departamento de Design Moda. Universidade Estadual de Maringá – Campus Cianorte. Cianorte/PR – Brasil. eppinto@uem.br
2. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Ponta Grossa. Ponta Grossa/PR – Brasil. acfrancisco@utfpr.edu.br


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 25) Año 2016

[Índice]

[En caso de encontrar algún error en este website favor enviar email a webmaster]