Espacios. Vol. 37 (Nº 24) Año 2016. Pág. E-4

Educação ambiental: Perspectivas de trilhas ecológicas e no ensino superior

Environmental education: Tracks of ecological and prospects in higher education

Rozangela Cristina A. de OLIVEIRA 1; Ricardo Claro ORTIS 2; Valdecir GOTTERT 3

Recibido: 14/04/16 • Aprobado: 12/05/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Material e métodos

3. Resultados e discussão

4. Considerações finais

Referencias


RESUMO:

Neste trabalho apresentamos as perspectivas dos alunos do ensino superior sobre as aulas práticas, neste caso as trilhas, como pratica de ensino de Ciências biológicas. Procuramos apresentar da melhor forma e sucinta a visão crítica de cada aluno sobre pontos positivos e negativos da realidade da qual eles se encontram. Apresentamos a compreensão do qual eles esperam de uma aula em campo após saírem da sala apenas com conteúdo teórico.
Palavra-chave: aula de campo, ensino superior, biologia, metodologia

ABSTRACT:

We present the prospects of higher education students about the practical classes, in this case the tracks, as practice of Biological Sciences education. We try to present the best and the short critical view of each student's strengths and weaknesses from the reality of what they are. Here is the understanding of what they expect from a lesson on the field after they leave the room only with theoretical content.
Keywords: field class, higher education, biology, methodology

1. Introdução

Atualmente, as trilhas ecológicas estão previstas dentro da Política Nacional de Educação Ambiental, instituída por meio da Lei Federal nº 9.795, de 27 de abril de 1999 (BRASIL, 1999), e existem trabalhos como os de TABANEZ et al. (1997), e DINIZ (2002), que ressaltam  a importância do uso de trilhas na educação ambiental para os ensinos médio e fundamental, além, o reconhecimento público da sua importância como ferramenta de educação, interpretação, comunicação e conscientização ambiental é apontada por Vasconcellos (2006).

Segundo Araujo e Farias (2003) as trilhas são instrumentos básicos de programa de educação ao ar livre, além de visar à transmissão do conhecimento, propicia atividades por meio dos usos dos elementos diretos (ver SILVA et al., 2012)

De acordo com Dias (2004) seguimos da prioridade para o problema da realidade local de cada indivíduo, sendo assim utilizando como instrumento, a educação ambiental e o meio ambiente como ferramenta de ensino, visando a integração sócio ambiental a valorização da transformação do ser humano.

Partimos do pressuposto que a vivencia em âmbito natural faz cosm que o aluno tenha a capacidade de compreender os motivos de preservar a natureza, diminuindo sua ignorância após convívio direto em seu período de aprendizado. Diante disso o objetivo do trabalho foi propiciar aulas teórico/pratica, compreender fatores das perspectivas dos alunos sobre o que mais influência na aprendizagem de biologia, importância das aulas e pontos de vistas sobre as trilhas em uso para educação ambiental.

2. Material e métodos

A trilha utilizada como objeto de estudo do presente trabalho ocorreu em um fragmento de floresta tropical (floresta ambrofila aberta) relativamente curta localizada dentro do perímetro do Hotel Floresta Amazônica (9052'40.71''S 56005'52.16''W), essa trilha é utilizada geralmente por hóspedes, visitantes, professores (as) e eventualmente por pessoas de outras cidades de localidade próximas de Alta Floresta-MT.

Alta Floresta (56º 10' 10" de longitude W e 9º 53' 55" de latitude S.) localizada ao extremo Norte do estado de Mato Grosso à 800 km ao norte de Cuiabá-MT, ligados pelas rodovias BR 163 e MT 208, apresenta clima segundo a classificação de Köppen tipo Am, com nítida estação seca e outra chuvosa. A temperatura média anual varia entre 20°C e 38°C, com média de 26°C (FERREIRA 2001).

A Pesquisa foi realizada no dia 13 de dezembro de 2015, com alunos do 6 semestre curso de ciências biológicas da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, foram atendidos nesta aula 16 alunos, sendo supervisionados por quatro mestrandos e um professor ambos da Universidade do Estado de Mato Grosso.

Antes do passeio na trilha abordamos assuntos específicos de Ecologia de Populações em sala de aula, utilizando como estratégia metodológica de ensino slides, explanação oral e atividades de estudo dirigido, então posteriormente marcamos a aula de campo para uma melhor fixação dos conteúdos teóricos abordados.

No dia da aula de campo solicitamos aos alunos que elaborassem seis (6) perguntas sobre a dinâmica observada no ambiente natural (floresta em estudo), dentre as seis perguntas deveriam escolher uma (1) e elaborar hipóteses (cientificas) para possíveis elaborações de pesquisas.

Durante o percurso da trilha abordamos assuntos em pontos estratégicos sobre as referidas aulas de ecologia. Os temas evidenciados foram: interações ecológicas (harmônicas e desarmônicas), dinâmicas de populações, manejo de populações, interface entre estudos de populações e comunidades, lianas e sua importância, formação de serrapilheiras.

Para facilitar a avaliação das perspectivas dos alunos sobre a aula em trilha e a conexão com os conteúdos estudados em sala, aplicamos um questionário contendo perguntas abertas para que assim pudessem relatar suas perspectivas, críticas e visão da importância de aulas de campo no processo de ensino-aprendizagem.

3. Resultados e discussão

A maioria dos entrevistados indicou que os itens mais importantes a serem abordados em uma aula de campo primeiramente são as atividades que envolvem coleta de dados e as abordagens teórico-práticas, depois os conceitos básicos teóricos e estudos de caso (ex: áreas degradadas). As práticas biométricas, mensurações e estimativas de biodiversidade foram indicadas por alguns dos entrevistados como sendo de baixa importância, fato este que pode ser justificado pelas dificuldades dos alunos em assimilar a real importância dos conteúdos procedimentais e conceituais nas aulas de campo mesmo estando já no 6º semestre de um curso de licenciatura plena em Ciências Biológicas.

Observamos que a maioria dos alunos entrevistados só teve contato com aulas de campo na graduação, sendo poucos os aqueles que tiveram a oportunidade de frequenta-las na Educação básica (Ensino Fundamental e médio), fato este que se relaciona a dificuldade enfrentada por eles no momento de observação do ambiente natural e elaboração de perguntas.

As aulas de campo (trilha) da maioria dos alunos ocorreram em grande parte em chácaras, sendo a chácara Esteio a mais citada, a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do Cristalino vem logo na sequência como um dos locais mais visitados pelos acadêmicos e depois diversas nascentes de rios e o antigo Jardim Zoológico Leopoldo Linhares. Os locais menos visitados foram o aterro sanitário e aterro seco e os sistemas de tratamento de água e esgoto da cidade, embora seja local de extrema importância para a compreensão de alguns processos ambientais principalmente ligados a saúde humana.

Foram citados dois locais também visitados pelos acadêmicos, a antiga piscicultura da UNEMAT e a Pedra Preta, a última sendo considera o maior sitio arqueológico de gravuras rupestres a céu aberto do mundo localizada no município de Paranaíta-MT, um local de extrema importância arqueológica, paleontológica, histórica e evolutiva, que inclusive está sendo estudada pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional para a possível transformação em 'Patrimônio Nacional e da Humanidade', mas infelizmente visitada por poucos.

Os acadêmicos entrevistados apresentam um bom entendimento sobre a importância das aulas de campo e da realização de trilhas interativas, pois perceberam os pontos importantes para o processo de ensino e aprendizagem, como a interação da teoria com a prática para melhorar a fixação dos conteúdos estudados e consequentemente a eficácia dessa metodologia no processo de aprendizagem, momento este que também possibilita o Feedback, oportunidade de esclarecimento de dúvidas para uma maior compreensão dos temas, da dinâmica do ambiente e da biodiversidade ecológica. Contudo 91,66% dos entrevistados consideram importante a implantação de uma disciplina de educação ambiental na grade curricular da Educação Básica e graduação, pois argumentam que essa implantação permitirá aos alunos ter mais conhecimento focado nas ações ambientais que contribuirá positivamente com as questões relacionadas à conservação, preservação da biodiversidade e conscientização ambiental, porém apontam que 'é necessário que o docente conheça mais sobre a área para poder educar e levar os alunos a conviver e relacionarem-se harmonicamente com o ambiente', desenvolvendo seu papel de mediador de um conhecimento necessário que levará os alunos a adquirir uma base adequada de compressão do ambiente global e local (JACOBI, 2003). Por outro lado apenas 8,44%, dos entrevistados acreditam que não há necessidade de criar mais uma disciplina e que a Educação Ambiental (EA), pode ser tratada de forma interdisciplinar nas outras disciplinas que já existem.  

É interessante levarmos em consideração que os entrevistados são acadêmicos, alunos estes que são os verdadeiros termômetros daquilo que se é apreendido em sala de aula do que se orienta por parte dos docentes, sendo assim a maioria acredita ser mais importante a implantação de outra disciplina que trate somente de assuntos relacionados à EA, porém é sabido por parte dos docentes das diversas disciplinas que se dá mais importância aos conteúdos básicos de cada disciplina especifica dentro da sua área de conhecimento, e se houver tempo disponível, ai sim será inserido os temas transversais, nesse caso a EA e outros, conforme a necessidade e o tempo disponível.

Dentre os entrevistados 25% acredita que as aulas de campo realizadas durante o período da graduação são suficientes, pois possibilitam uma maior interação entre Acadêmicos e professor, mas é importante a presença de bons profissionais (professor e monitores), para que ocorra uma interação teórica prática mais eficaz. No entanto 75% dos entrevistados disseram que as aulas não são suficientes, visto que algumas das aulas deixam a desejar pela falta de preparo do professor que não sabe conduzir de uma maneira que o aluno entenda o que está sendo abordado, uma vez que é necessário que alguns conteúdos sejam mais aprofundados, pois atualmente acontecem poucas aulas para muitos temas e às vezes não se trata daqueles conteúdos específicos que foram expostos em sala de aula. Este fato pode ser melhorado segundo Silva (2012) em que a exploração da criatividade de educadores e educandos, podem favorecer a uma aula mais didática e favorável em âmbito natural. Os acadêmicos argumentam que têm créditos de 15 horas de aulas de campo, mas não tem metade dessas aulas, com tudo questionam que é preciso planejar e atender a carga horária que por si a consideram pouca, e ainda há inviabilização de algumas disciplinas por falta de locais e estruturas adequadas para a realização das aulas, gerando assim um conhecimento superficial e conceitual apenas.

Dentre muitas dificuldades enfrentadas pelos professores da educação básica de escolas públicas para a realização de aulas de campo, a falta de transporte é a maior, pois as secretarias de educação municipais e estaduais nem sempre dispõe de veículos para atendimento desse tipo de aulas, sendo o transporte escolar utilizado primordialmente no transporte de ida e vinda dos alunos até a escola e vice-versa. A burocracia para a realização desse tipo de aula, como a alta responsabilidade exigida do professor para a retirada dos alunos de dentro dos muros da escola, a falta de recurso para uma merenda diferenciada que não seja 'sopa' e a liberação e organização da equipe gestora para a saída de campo são as dificuldades bastante citadas pelos acadêmicos, sendo os maiores empecilhos para a realização das aulas extraclasse, que desestimula o docente em realizar esse tipo de aula. A falta de infraestrutura e pouco acesso aos locais para a realização das aulas também foram bastante abordados pelos acadêmicos, além de poucos locais que atendem escolas. A falta de auxilio de monitores, a dificuldade de realizar trabalhos extraclasse (domínio da turma) e pouco conhecimento em sistemática leva a uma consequência bastante perceptível entre os professores, que é a falta de interesse de utilizar essa metodologia diferenciada como as aulas extraclasse para o ensino dos alunos, pois não há incentivo e muito menos apoio para a realização.

Ao serem questionados em relação aos procedimentos que acreditam serem necessários para a realização de uma aula de campo, os acadêmicos do 6ª semestre do curso de Licenciatura de Ciências Biológicas, pontuaram itens que podem ser classificados dentro de três pilares principais que um professor precisa ter para a realização de uma aula. O planejamento é o primeiro e primordial para uma boa aula, que conforme os acadêmicos deverão, o professor tem que ter planejamento, organização e objetivo para a realização das aulas, e seguir uma sequência lógica dos conteúdos abordados e instigar os alunos a participarem das discussões, é importante também que o local apresente realmente uma conexão com a teoria vista em sala de aula.

Aspectos relacionados a princípios metodológicos também foram citados, como aliar a teoria à prática, pontuando as temáticas de interesse da aula, dar uma introdução ao assunto que será abordado, estimulando os alunos a participarem e entender o ambiente exposto, ter pontualidade nos horários das aulas, disposição, materiais adequados, e direcionar a aula conforme o ambiente e a interação com os conteúdos também são aspectos importantes.

Os aspectos ligados ao domínio dos conteúdos foram pouco abordados, mas alguns acadêmicos citaram que é necessário que o professor tenha informações sobre as espécies em geral, conhecimento teórico do que se pretende abordar para que os alunos possam visualizar os aspectos teóricos durante a aula de campo e promovendo uma melhor condução do processo de aprendizagem.

4. Considerações finais

As trilhas são ferramentas adicionais para o processo de ensino de biologia (ecologia, botânica) muito eficaz, mas cabe ao professor trazer dinâmicas e interações da trilha com a aula abordada em sala, para que assim possa ser mais benéfico do que confuso uma aula de campo. Em relação aos alunos suas participações e curiosidades foram diversas, se envolvendo perguntando, criando hipóteses e discutindo as interações ecológicas, outros se comportaram inertes perante o percurso, compreensível se levarmos em consideração que muitos dos alunos estão envolvidos em laboratórios de áreas especificas com interesses distintos por já estarem no sexto semestre.

As trilhas ecológicas e aulas de campo são metodologias de ensino pouco utilizadas no processo educacional, mas são essenciais para a compreensão e fixação dos conteúdos das disciplinas de Ciências naturais e Biologia (ecologia, botânica, sistemática, zoologia, paleontologia), contudo, para o sucesso desse tipo de metodologia é primordial que o professor tenha um planejamento organizado e coeso, domínio conceitual das temáticas a serem abordadas, que conheça o ambiente de estudo e utilize de dinâmicas para conduzir os alunos no processo à aprendizagem, pois o trabalho coletivo dentro da unidade escolar também é fato determinante na realização desse tipo de aula.

Referencias

ARAÚJO, D.; FARIAS, M.E. Trabalhando a construção de um novo conhecimento através dos sentidos em trilhas ecológicas. In: II Simpósio Sul Brasileiro de Educação Ambiental, 2003. Anais. Itajaí: Unilivre, 2003.

BRASIL. Lei Federal n 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Brasília, DF. Ministério do Meio Ambiente / MEC, 1999.

FERREIRA, J.C.V. (2001). Mato Grosso e seus Municípios. Cuiabá - MT: Secretaria de Estado da Educação, 365p.

SILVA, L.O.; COSTA, A.P.L.; ALMEIDA, E.A. Educação ambiental: O despertar de uma proposta crítica para a formação do sujeito ecológico. HOLOS, v.1, n.28, p.110-123, mar.2012.

SILVA, M.M.; NETTO, T.A.; AZEVEDO, L.F.; SCARTON, L.P.; HILLIG, C. Trilha ecológica como prática de educação ambienta. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental. v.5, n.5, p.705-719, 2012.

VASCONCELLOS, J.M.O. Educação e Interpretação Ambiental em Unidades de Conservação. Cadernos de Conservação, ano 3, n 4. Curitiba, PR. Fundação O Boticário de Proteção à Natureza. 2006. 86p.

JACOBI, P. "Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade." Cadernos de pesquisa, ano 3, nº.118, 2003: 189-205.


1. Mestrandos(a) em Biodiversidade e Agroecossistemas Amazônicos, Universidade do Estado de Mato Grosso, Alta Floresta, MT. e-mail: Rozangela.cristina@outlook.com
2. Mestrandos(a) em Biodiversidade e Agroecossistemas Amazônicos, Universidade do Estado de Mato Grosso, Alta Floresta, MT
3. Mestrandos(a) em Biodiversidade e Agroecossistemas Amazônicos, Universidade do Estado de Mato Grosso, Alta Floresta, MT


 

Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 24) Año 2016

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