Espacios. Vol. 37 (Nº 23) Año 2016. Pág. 3

O calendário de eventos como estratégia de marketing turístico do Estado do Paraná

The calendar of events as tourism marketing strategy of the State of Paraná

Marcos Rogério MAIOLI 1; Diva de Mello ROSSINI 2

Recibido: 03/04/16 • Aprobado: 04/05/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Fundamentação teórica

3. Metodologia

4. Descrição e análise dos resultados

5. Considerações finais

Referências


RESUMO:

Este artigo mostra as contribuições que a divulgação de um calendário de eventos promove junto ao setor turístico do Estado do Paraná. Estas informações foram coletadas por meio de uma entrevista semiestruturada realizada com a chefe do departamento de pesquisa e estudos da Secretaria de Esporte e Turismo do Estado do Paraná, a qual expôs o processo que permeia a execução deste calendário, sua relevância para o marketing turístico e como ele contribui para a divulgação dos eventos do estado. Os resultados obtidos foram comparados com a bibliografia e demonstram que o calendário vem ao encontro dos objetivos de marketing publicados pelos autores estudados. Também foram consideradas informações relevantes sobre o tema, reveladas pela entrevistada.
Palavras-chave: Setor turístico. Calendário de eventos. Marketing turístico.

ABSTRACT:

This article shows the contributions that the disclosure of a calendar of events promoted by the tourism industry of Paraná. This information was collected through a semi-structured interview with the head of the research department and studies of the Department of Sports and the State of Parana tourism, which exposed the process that permeates the implementation of this calendar, its relevance to tourism marketing and how it contributes to the dissemination of the state of events. The results were compared with the literature and show that this calendar is to meet the marketing objectives published by the studied authors. We also take into account relevant information on the subject, reladas by the interviewee.
Keywords: Tourism Sector. Events calendar. Tourism Marketing.

1. Introdução

A realização deste trabalho deve-se à escassez de publicações sobre como deve ser elaborado um calendário para eventos, qual a sua relevância e como contribui para o desenvolvimento turístico de uma região.

O objeto empírico de estudo foi o calendário de eventos que vem sendo preparado pela Secretaria de Esporte e Turismo do Estado do Paraná desde 1977, totalizando 39 edições deste material. Durante a investigação de seu percurso histórico foi identificada a metodologia aplicada, o processo que envolve o levantamento de dados junto aos municípios e as estratégias utilizadas para a sua divulgação.

Em buscas realizadas junto a diversas bases de dados, como EBSCO, CAPES, BDTD, SCIELO, delimitadas ao período entre 2010 e 2015, foram encontrados muitos trabalhos sobre eventos, mas nenhuma pesquisa específica sobre elaboração de calendário de eventos.

A metodologia utilizada foi qualitativa, com o método de estudo de caso, sendo os dados coletados por entrevista em profundidade, com análise de resultados através de análise de conteúdo.

2. Fundamentação teórica

2.1. O setor turístico

A atividade turística ocorre pela movimentação de pessoas (OMT, 2011) em busca de lugares que possuam algum tipo de atrativo. Esta atividade pode impactar e contribuir com a diversificação da economia de uma localidade, região ou país (GOELDNER; RITCHIE; MCINTOSH, 2002; JARVIS; BLANK, 2011).

Segundo Beni (1998), o turismo é considerado uma força de demanda e não uma simples indústria, e também pode vir a promover o desenvolvimento humano, social e educacional (REJOWSKI; COSTA, 2003).

O fato de o turismo atrair investimentos e promover o desenvolvimento local gera impostos, empregos, renda, e também acirra a competitividade entre os planejadores e gestores do turismo. Um dos segmentos mais importantes relacionados ao fluxo turístico é o de realização de eventos, já que grandes fluxos turísticos são ocasionados graças à existência deste segmento (COUTINHO; COUTINHO, 2007; ZAN, 2011). 

2.2. Eventos

Um evento é uma ocorrência que reúne pessoas com interesses em comum, em data e local predeterminados, buscando atingir aos objetivos propostos (NIELSEN, 2002; GETZ, 2010; GREEN, 2010; ZOBORAN, 2012). Para Green et al. (2010), além, é claro, do "interesse criado pela mídia do evento (antes, durante e depois do evento) é então utilizado para criar oportunidades para se envolver com outra cultura". Quanto melhor divulgado o evento, mais a localidade pode aproveitar para inserir nele aspectos culturais locais e agregar valor aos seus produtos e serviços.

Segundo Stadler, Arantes e Rodermel (2013), os eventos são

Reuniões realizadas com um planejamento prévio com um objetivo específico reunindo um público-alvo pré-determinado podendo ser convenções, exposições, seminários, reuniões de diretoria, entrega de prêmios, celebrações e aniversários, eventos de serviços comunitários, simpósios, conferências educacionais, recepções, programas esportivos e de recreação, reuniões políticas, posse de autoridades, viagens e missões de estudo, programas de treinamento, entre outros que podemos relacionar não somente no âmbito profissional, mas no pessoal. (STADLER; ARANTES; RODERMEL, 2013).

Zanella (2003, p. 223) define evento como "uma concentração ou reunião formal e solene de pessoas e/ou entidades, realizada em data e local especial, com objetivo de celebrar acontecimentos importantes e significativos e estabelecer contatos". O conceito inclui ainda que "sua realização obedece a um cronograma e uma de suas metas é a interação entre seus participantes, público, personalidades e entidades" (POIT, 2006, p. 19).

O segmento de eventos envolve muitas empresas organizadoras que atuam em eventos ligados a temáticas culturais, científicas, promocionais, educativas, empresariais, religiosas, sociais, governamentais, entre outras, e, ainda, as que atuam como fornecedores para estes eventos (GETZ, 2009; BEM; ASSIS, 2010; REVERTE; IZARD, 2011; ZAN, 2011; ARRUDA; TARSITANO, 2012; ZOBORAN, 2012).

2.3. O mercado de eventos no Brasil

Sobre a relevância do segmento de eventos no Brasil, os dados mais atuais foram disponibilizados no II Dimensionamento Econômico da Indústria de Eventos do Brasil 2013, realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (SEBRAE) e pela Associação Brasileira de Empresas de Eventos (ABEOC Brasil), junto a mais de 2700 empresas organizadoras de eventos brasileiras. Esses dados indicam que o mercado de eventos no Brasil tem crescido em média 14% ao ano. Em 2013 indicam uma movimentação de R$ 209,2 bilhões, representando participação de 4,32% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.

Em 2013, o país sediou aproximadamente 590.000 eventos, com a participação de 202,2 milhões de pessoas, com gasto médio de R$ 161,80 por pessoa, somando um total de 99,3 bilhões de reais. As empresas organizadoras de eventos lucraram R$ 59 bilhões (II Dimensionamento Econômico da Indústria de Eventos do Brasil, 2013).

No relatório também foi indicado que existem no Brasil nove milhões de assentos em dez milhões de metros quadrados disponíveis para realização de eventos. A ocupação média dos espaços de realização foi de 53,12% para assentos e de 48,01% para metros quadrados.

O relatório também apresentou dados sobre a empregabilidade da área de eventos e a considerou significativa, pois gerou 132.034 empregos diretos, 1.761.374 empregos terceirizados. Se for utilizado o critério multiplicado de emprego usado pela indústria turística brasileira, que indica a existência de três empregos indiretos para cada direto, têm-se 5.680.257 empregos indiretos.

Descrevendo o futuro do turismo no mundo Goeldner, Ritchie e McIntosh  (2002, p. 451) entendem que "os eventos e as atividades culturais tradicionais que não são mais economicamente viáveis podem ser preservados através do turismo".

A ocorrência de eventos está diretamente ligada à disponibilidade da oferta turística que, para Beni (2003), é composta por elementos tangíveis e intangíveis que se subdividem em dois grupos distintos. Inicialmente, os elementos que constituem a matéria-prima da atividade turística, a denominada oferta turística original. O segundo grupo de oferta é constituído pela oferta turística derivada, que reúne o conjunto de empresas prestadoras de serviços de turismo.

Mota (2001, p. 72) afirma que a oferta turística é "constituída por um conjunto de atrativos de responsabilidade pública e privada. Quando se fala em turismo, se refere a uma ação conjunta, capaz de formar e manter um produto global".

A ocorrência de eventos de forma pontual e contínua está diretamente ligada ao bom planejamento turístico, que contribui para que o segmento atue de forma organizada e coerente, divulgando o destino e combatendo a sazonalidade (MEIRELLES, 1999; GHERARDI, 2002; GETZ, 2008; HILLER, 1995; ZANELLA, 2003; YEOMAN et al., 2006; ZITTA, 2007; ZAN, 2011; NAKANE, 2013; REIS, 2013; ABEOC, 2015).

Os eventos são uma opção de marketing que organizações podem utilizar como forma de divulgar produtos e serviços (YEOMAN et al., 2006), além de atuarem junto a públicos consumidores que possam associar o sucesso do evento com o organizador ou patrocinador (CARNEIRO, 2011; REIS, 2013; REID, 2011; ALENN et al., 2008).

Para os organizadores o sucesso do evento depende de inúmeros fatores, como é o caso da adequada definição de data, buscando evitar simultaneidade a feriados locais, estaduais, nacionais ou religiosos (ZAN, 2011; ZITTA, 2007). Para esta definição é necessário a consulta de um calendário de eventos para justificar que o evento ocorra quando o público estiver disponível (ADINA; DANA, 2010). Também é interessante que eventos que ocorrem anualmente mantenham uma tradição de acontecer na mesma época do ano.

Para Alexandris e Kaplanidou (2014 p. 125), que tratam sobre realização de pequenos eventos, "as estratégias de marketing para atrair eventos e participantes em pequena escala" estão diretamente relacionadas a uma boa elaboração de um calendário de eventos que atenda às expectativas de promotores e organizadores.

Já Aragão e Macedo (2011 p. 411), que tratam sobre festas religiosas, afirmam que "as festas ao longo do ano deslocam pessoas por todo o território nacional". A pesquisa desses autores coaduna a realizada por Blesic et al. sobre eventos na Sérvia, cujas conclusões indicam que

Os respondentes acreditam que a boa organização de um evento faz crescer número de turistas, permite rendimentos extras para a comunidade local, tem uma influência económica positiva em geral e melhora a qualidade de vida na área micro. Isso, consequentemente, deve causar um aumento nos efeitos multiplicadores, como: salários médios mais elevados por pessoa, maiores oportunidades de emprego, melhor poder de compra, maiores receitas etc. (BLESIC et al., 2014 p. 386).

Sobre a elaboração de calendário de eventos esportivos, Janones (2009 p. 24) afirma que "Calendários desorganizados, dirigentes despreparados, e a falta de segurança em eventos são fatores que têm contribuído para a redução dos investimentos privados ao esporte".

Para o organizador a definição por baixa ou alta temporada pode contribuir para encontrar fornecedores com maior disponibilidade e preços mais baratos, proporcionando economia aos promotores de eventos.

3. Metodologia

A metodologia utilizada para este trabalho foi de natureza qualitativa, com método de estudo de caso (YIN, 2001), sendo utilizada a estratégia de história oral temática, com coleta de dados por meio de entrevista em profundidade (GODOI, 2006), e método de análise de resultados por análise do conteúdo (BARDIN, 2011).

Os dados para realização desta pesquisa foram coletados em entrevista realizada com a gestora responsável pela elaboração do calendário de eventos do Estado do Paraná, que exerce o cargo de Chefe de Estudos e Pesquisas da Secretaria de Estado de Esportes e Turismo do Paraná. A entrevista ocorreu no dia 12 de agosto de 2015, versando sobre o processo de elaboração do Calendário de Eventos. Dúvidas que restaram após esse encontro foram sanadas por diversos telefonemas para esclarecer detalhes.

Os dados foram coletados em uma entrevista semiestruturada subsidiada pelas teorias ligadas à gestão de processos (STEFANAN; FALLER; COSTA, 2013) e ao marketing turístico (HOYLER JR., 2003; MELO NETO, 2001; ALLEN et al.,2008; ARANTES, 2011; REIS, 2013).

A entrevista foi gravada no local de atuação da gestora, que está à frente desse processo desde 1977. O calendário em 2015 chegou à 39ª edição – em alguns anos foram realizados 2 calendários, divididos por semestres, e apenas em 1 ano ele não foi publicado –; portanto, a entrevistada possui grande conhecimento do processo, da relevância e dos impactos gerados pelo calendário.

A realização da entrevista seguiu as indicações de Merriam (2009), com questões abertas que buscavam conhecer o ambiente da organização em estudo. Seguindo um roteiro semiestruturado foi possível encontrar significados e através de descrições do processo de elaboração do calendário de eventos do Paraná foi plausível descrever e analisar o processo.

Para Bardin (2011, p. 44), a análise do conteúdo é um "conjunto de técnicas de análise das comunicações que utilizam procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens", devendo gerar uma categorização dos dados analisados (BARDIN, 2011). O que não ocorreu neste estudo, pois em muitas das perguntas apresentadas a entrevistada tangenciava as questões para listar histórias que complementavam a entrevista e exprimiam sua longa experiência com o processo de elaboração do calendário de eventos do estado.

4. Descrição e análise dos resultados

4.1. O Calendário de Eventos da Secretaria de Esportes e Turismo do Estado do Paraná

Dentre as diversas ações coligadas ao planejamento turístico está a elaboração de um calendário de eventos, onde são indicados os eventos que irão ocorrer em uma localidade, estado ou país. As informações sobre o histórico do calendário de eventos do Estado do Paraná foram prestadas pela entrevistada e complementadas por pesquisa nos diários oficiais do estado. O Calendário Oficial de Eventos Turísticos do Paraná foi instituído pelo Art. 19 da Resolução nº 03/77, de 04 de maio de 1977, publicada no Diário Oficial do Estado do Paraná. Para contribuir com o preenchimento eram necessários dados a serem fornecidos pelos municípios e para isto, foram criados o Questionário de Qualificação de Eventos Turísticos (QQET) e o Certificado de Registro de Eventos Turísticos (CRET).

A Resolução indica que os documentos devem ser preenchidos pelos organizadores e promotores de eventos e seu pedido de registro efetuado junto à Paranatur (órgão responsável pelo turismo do Paraná na época, hoje Secretaria de Estado do Esporte e Turismo).

O formulário, hoje alterado para Questionário de Qualificação e Atualização de Evento (QQAE), é um documento para registro dos dados do evento a ocorrer em determinada localidade, em que devem constar a denominação do evento, os dados de ocorrência, com dia e mês de início e fim, se o evento é anual, se ocorre em data fixa ou móvel, o local de realização, a entidade informante, uma breve descrição da pessoa informante.

A Secretaria de Estado de Esporte e Turismo envia por e-mail para um mailing list [3] por volta do mês de julho de cada ano o questionário para todas as secretarias/diretorias de turismo dos municípios do Estado do Paraná. Em alguns casos é enviado diretamente ao prefeito ou representante do município, caso não exista secretaria ou diretoria ligada ao turismo. Depois de uma espera de no mínimo 20 dias para que os municípios preencham e devolvam os formulários, a média de retorno gira em torno de 60%.

Posteriormente é realizado um trabalho de contato com os municípios que não devolveram o questionário, simultaneamente são contatados organizadores de eventos ocorridos no ano anterior, mas que por algum motivo não constaram no calendário precedente, para verificar se haverá nova ocorrência do mesmo evento e se os dados da próxima ocorrência já estão definidos.

Então é elaborado um "boneco" do livro que será o calendário de eventos, posteriormente é realizada verificação de todos os dados (data, local, entidade organizadora, periodicidade, etc.) e uma revisão textual. Este esboço do calendário é enviado para a Imprensa Oficial do Estado do Paraná, que imprime entre 1000 a 3000 exemplares em cada edição.

O material impresso é enviado aos escritórios regionais de turismo por malote, e também distribuído a visitantes da secretaria, como políticos (prefeitos, deputados, entre outros), organizações públicas, organizadores de eventos, além de pessoas que buscam especificamente o calendário físico nas sedes das secretarias. Não é mais enviado via correio para os municípios, como se fazia anteriormente, devido ao corte de verbas.

A elaboração do processo do calendário de eventos do Estado do Paraná se dá resumidamente na seguinte sequência:

Figura 1 – Elaboração do Calendário de Eventos do Estado do Paraná

Fonte: Elaborado pelos autores, baseado em informações da Secretaria de Estado de Esporte e Turismo do Paraná.

Afora o calendário físico, é disponibilizado um calendário virtual desde o ano 2000 no site http://www.turismo.pr.gov.br/modules/caleventos/listar.php, que pode sofrer atualizações constantes para refletir a miríade de eventos que ocorrem no Estado do Paraná todos os dias ao longo do ano.

No que tange à entrevista, perguntou-se à gestora se conhecia o processo de implantação do calendário de eventos. Ela respondeu que "foi convidada pelo diretor na época da PARANATUR em 1977 para elaborar o 1º calendário de eventos", embora atue também com "a elaboração de folhetos turísticos, calendários de mesa, textos para revistas promocionais ou técnicas, etc.".

Sobre o histórico da elaboração do calendário de eventos, a entrevistada destacou que desde o começo buscou-se o que havia de melhor na área para que o calendário atendesse às necessidades do trade turístico, destacando que:

O modelo existente de calendário foi baseado inicialmente em outros como o da cidade de São Paulo e o da cidade de Salvador, na Bahia, inicialmente foi bem difícil, pois tínhamos bastante dificuldade em fazer um levantamento dos eventos que ocorriam, e principalmente dos que iriam ocorrer no próximo ano. Tivemos por muito tempo um senhor que fazia a leitura de todos os jornais do estado, que levantava os eventos que ocorriam na capital e no interior do estado do Paraná, ele recortava as notícias e montava um arquivo com os eventos, o que auxiliava na elaboração do calendário de eventos do estado do Paraná. (ENTREVISTADA, 2015).

Este arquivo com os eventos é o que atualmente se chama clipping [4], que geralmente trata da coleta de textos sobre determinado tópico que foram publicados nos diferentes meios de comunicação. Neste caso, eventos ocorridos no Paraná. Um clipping pode ser usado para subsidiar a elaboração de um novo calendário, pois pode indicar onde, quando, quem, o quê, e às vezes até mesmo quanto o evento custou (HOYLER JR., 2003, p. 54; MELO NETO, 2001; ALLEN et al., 2008; ARANTES, 2011; REIS, 2013), auxiliando na tomada de decisões em qualquer organização que necessite deste subsídio informativo.

Sobre o questionamento a respeito de que tipo de evento é inserido no calendário, a entrevistada respondeu que "temos interesse em todo tipo de evento, seja feira de noiva ou agropecuária"; para levantar estes dados é feito "cruzamento com informações de outras secretarias de estado com a de Esporte, por exemplo, ou ainda com empresas públicas como a EMATER".

A entrevistada informou que interessa à Secretaria saber quais os motivos pelos quais "uma pessoa se deslocou para visitar um evento, mesmo que não tenha pernoite, o fato nos interessa". Conforme Hemmatinezhad, Nia e Kalar (2010), uma viagem raramente tem como único motivo a participação em um evento, podendo ter várias motivações, ou ainda, existe uma diversidade de motivações para viagens, o que foi comprovado no estudo de Moretti, Zucco e Storopoli (2011).

Informou também a entrevistada que "consultamos dados de prefeituras como a de Curitiba que tem um calendário bem grande", além de "outros parceiros como os Conventions e Visitours Bureau e centros de eventos", o que é uma constatação similar à do estudo de Kovacic (2010 p. 981), que afirma que "Eventos planejados são muitas vezes produzidos sem ter em conta o seu potencial turístico, mas crescentes demandas do mercado forçam a gestão a olhar para todas as possibilidades ao criar um produto que precisa para atrair clientes".

Sabe-se que alguns eventos não são relacionados no calendário e a entrevistada asseverou: "principalmente aqueles que não preencheram o Questionário de Qualificação e Atualização de Evento adequadamente, deixando informações importantes de lado". Ou, ainda, aqueles eventos "que tem no histórico de dados de eventos anterior. Agora, se um evento é novo e não avisa, não tem como colocar no calendário". Sobre a busca de informações, existe a "dificuldade com organizadores privados que resistem em disponibilizar informações, com medo da concorrência". Ou, ainda, se um evento é "considerado sem expressão, é descartado".

No questionamento sobre a relevância do calendário de eventos, a entrevistada informou que "o calendário segue dando oportunidade aos pequenos municípios para divulgarem seus eventos, sejam eles grandes ou pequenos", e que, de outra forma, "dificilmente os municípios teriam condições de divulgar os eventos", sendo que o calendário é uma "das poucas formas oficiais de divulgar eventos". Essas constatações coadunam com os indicativos do Ministério do Turismo em suas orientações sobre o mercado de eventos no Brasil (BRASIL, 2008) e os resultados da pesquisa de Oliveira e Januário (2007).

Destacou a entrevistada que a publicação do evento no calendário de eventos do estado possibilita aos municípios que:

Solicitem junto à Secretaria de Turismo uma declaração de evento de Tradicional Interesse Cultural, para pleitear junto ao Ministério do Turismo através do SICONFI [5]– Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro, verbas para a organização de eventos, que pode ser de até R$ 200.000,00 que é uma verba substancial para um município pequeno, ou para um evento.

A entrevistada disse "desconhecer os municípios que conseguiram aprovação de projetos de eventos relacionados a tradicional interesse cultural, lembrando de apenas um caso".

Em levantamento junto ao Portal da Transparência (www.portaldatransparencia.gov.br) sobre repasses relativos a organização de eventos com interesse turístico aos municípios paranaenses foi encontrado um total de 223 convênios com o Ministério do Turismo, realizados por 97 municípios paranaenses, que abrangem o período de 1º de outubro de 1996 a 1º de setembro de 2015, recebendo um total de R$ 26.552.207,33.

Sobre quem é o público interessado no calendário de eventos, a entrevistada afirmou:

Quem vem buscar aqui o calendário são desde aquelas pessoas que vão em feiras, quem usava, quem quer ter debaixo do braço é o prefeito que quer mostrar o nome do município lá, os deputados que querem ver os municípios também vêm aqui atrás de exemplares. Além de organizadores de eventos que buscam saber o que está ocorrendo em determinada cidade. Ou ainda o que vai ocorrer para não organizar um evento concorrente em data bem próxima.

A entrevistada ainda lamentou que hoje em dia caso os representantes do "município não venham até a Secretaria de Turismo, ou ainda, não participem de feiras (turísticas) acabam por nem ficarem sabendo da existência do calendário".

Sobre o documento II Dimensionamento de Eventos, que indica que existe uma concentração de eventos no segundo semestre, a respondente afirmou que "sim, sabemos que existem muitos eventos principalmente no final de setembro, outubro, novembro, diminuindo muito a partir da segunda quinzena de dezembro". Também informou que como "alguns eventos novos ainda não foram organizados lá pelo mês de setembro, fica difícil que o evento apareça no próximo calendário".

Sobre o tamanho e quantidade de folhas do calendário, a entrevistada afirmou que "o calendário era pequeno no início, depois ficou muito grande – e chegou a ter 2 edições anuais -  e posteriormente foi diminuindo de tamanho ao longo dos anos". Os calendários posteriores a 2012 possuem em média 200 páginas.

Sobre as dificuldades de elaborar o calendário de eventos, a entrevistada destacou que, embora "a lei indique que todos os promotores devem registrar os eventos do estado, isto não é feito, pois não existe punição para os que não fazem". E também que "os organizadores de eventos sonegam informação, pois não querem abrir estas informações para os seus concorrentes".

A propósito da questão que indagava se ocorrem erros no calendário já impresso, a entrevistada disse que "sim, às vezes. Isto ocorreu algumas vezes, por exemplo: saiu um muito engraçado relacionado com canários, há alguns anos teve uma exposição de canários que tratava da cor e porte, só que saiu cor e corte, como se o canário fosse gado". E também pode ocorrer "a mudança do local do evento, às vezes até de cidade. Isto acaba por ocorrer, somente podem alterar no virtual, o que foi impresso não tem como fazer adendos e ressalvas".

5. Considerações finais

A elaboração de um calendário de eventos é um processo que denota grande necessidade de participação de diferentes públicos para que a elaboração atinja os objetivos propostos.

Embora existam dificuldades na elaboração de um calendário físico, ele é necessário para a divulgação dos eventos. No entanto, acredita-se que para o futuro o único calendário a existir será o virtual, já que atende aos novos públicos e permite o acesso a informações atualizadas. Proporciona também uma manutenção mais adequada e a possibilidade de realizar alterações que contribuem para o sucesso na divulgação de eventos.

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1. Mestrando em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali), professor do IFPR, e-mail marcos.maioli@ifpr.edu.br
2. Arquiteta e Urbanista (Univali), Mestre em Engenharia de Produção (UFSC), Doutora em Administração e Turismo (Univali), Pós-doutorado na Universidade de Lisboa. Professora dos Cursos de graduação em Arquitetura e Urbanismo, Design de Interiores e do Mestrado em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí e-mail divarossini@univali.br
3. Mailing list é uma lista que contém a relação dos veículos e dos jornalistas contatados para divulgação, com dados básicos, como o nome completo, cargo, editoria, número de telefone e fax, e-mail e endereço. (MAFEI, 2008, p. 68).

4. Sua função para as organizações pode ser muito mais estratégica do que apenas registrar as inserções obtidas pelas assessorias de comunicação. Contudo, a maior parte das equipes de assessores continua fazendo do clipping apenas um mecanismo para mostrar o resultado do próprio trabalho (MAFEI, 2008, p. 73).

5. O manual de procedimento do SICONFI pode ser encontrado no link https://siconfi.tesouro.gov.br/siconfi/pages/public/conteudo/conteudo.jsf?id=24


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 23) Año 2016

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