Espacios. Vol. 37 (Nº 20) Año 2016. Pág. 9

A aplicabilidade da operação de Cross-docking: Um case de sucesso no varejo

The applicability of Cross-docking's operation: A success' case in retail

Rogério Santos CRUZ 1; Luiz Teruo KAWAMOTO Junior 2; Wagner Roberto GARO Junior 3; Fábio Nazareno Machado da SILVA 4

Recibido: 13/03/16 • Aprobado: 03/04/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Fundamentação Teórica

3. Metodologia

4. O Caso

5. Considerações Finais

Referências


RESUMO:

O cross-docking é uma operação alternativa de distribuição de produtos que possibilita a redução de custos significativos nas operações logísticas, sem prejudicar o nível de serviço ao cliente. O objetivo deste estudo de caso é descrever uma operação de cross-docking, identificando as características dos produtos e os fatores operacionais e estratégicos que impactam nessa operação. Foram triangulados os dados de visitas de campo, entrevistas e análises de documentos da operação de cross-docking de uma rede varejista do setor alimentício. Foi possível constatar que o cross-docking é uma operação versátil e que pode ser aplicada para objetivos e cenários distintos.
Palavras-chave: Cross-docking, Custo, Nível de Serviço, Operação

ABSTRACT:

Cross-docking is an alternatively operation of product distribution that enables significant cost reduction in logistics operations, without prejudicing the level of customer service. The goal of this case study is describe a cross-docking operation, identifying the characteristics of the products and the strategic and operational factors that affect this operation. Were triangulated the data field visits, interviews and document analysis of cross-docking operation of a retail chain in the food sector. It was found that the cross-docking is a versatile operation and that can be applied to different goals and scenarios.
Keywords: Cross-docking, cost, service level, operation

1. Introdução

O desejo de diminuir os custos logísticos tem levado as organizações a buscarem abordagens mais rentáveis e otimizadas para o gerenciamento da cadeia de suprimentos (Gümüs, Bookbinder, 2004). Além disso, com a diminuição do tempo de entrega, aumento das exigências dos clientes (Baykasoglu, Kaplanoglu, 2008) e diminuição da quantidade do pedido (Kreng, Chen, 2008), muitas empresas vêm enfrentando o problema de entregas frequentes com lotes menores. Esse cenário é responsável pelo aumento da demanda por centros de distribuição especiais (Kreng, Chen, 2008). Isso tem feito com que o gerenciamento da cadeia de suprimentos e da rede de distribuição se torne cada vez mais desafiadora. Uma inovadora estratégia de armazenagem que tem um grande potencial para controlar os custos logísticos e de distribuição mantendo ao mesmo tempo um nível de serviço satisfatório ao cliente é o cross-docking (Apte, Viswanathan, 2000).

O cross-docking é uma alternativa eficiente para muitas empresas porque normalmente não necessita de grandes investimentos e nem alterações de infraestruturas. Ao invés disso, envolve um investimento em tempo e energia na melhoria e mudança dos processos (Cross-docking trends report, 2011). É uma operação relativamente nova na cadeia de suprimentos (Wen et al., 2009), é um ambiente dinâmico onde os produtos chegam, são reagrupados, e saem no mesmo dia (Vis, Roodbergen, 2008), a ideia é transferir cargas da doca de entrada diretamente para a doca de saída sem armazená-las no armazém ou centro de distribuição (Chen, Song, 2009).

A primeira empresa a implantar e operar um sistema de cross-docking foi o Wal-Mart (Forouharfad, Zandieh, 2010), as mercadorias eram entregues constantemente para o centro de distribuição da empresa, onde elas eram separadas, reorganizadas, e depois despachadas para as lojas, em muitas vezes sem nunca terem sido armazenadas (Wen et al., 2009).

Apesar do cross-docking ser utilizado desde a década de 80, o assunto só teve atenção do meio acadêmico muito depois, e vem sendo muito discutido nos últimos anos, mais de 85% dos trabalhos acadêmicos sobre o assunto foram publicados a partir de 2004 (Belle, Valckenaers, Cattrysse, 2012). Além disso, essa operação ainda é uma técnica mal interpretada e até desconhecida por muitos profissionais das áreas de Logística e Gestão.

Na literatura é possível encontrar diversos trabalhos sobre o cross-docking. Kinnear (1997); Apte e Viswanathan (2000) abordam o tema de uma maneira mais didática dando uma visão geral do que é e para que serve, apresentando os seus conceitos, e explicando suas vantagens e desvantagens. Kreng e Chen (2008) fazem uma comparação entre uma operação tradicional de distribuição e uma operação de cross-docking. Waller, Cassady e Ozment (2006) apontam os impactos dessa operação nos estoques. Vis e Roodbergen (2008) explicam como configurar uma operação de cross-docking e, finalmente, grande parte dos trabalhos relacionados ao assunto trata da questão operacional do transporte, especificamente a programação e o agendamento de veículos, que é uma questão difícil de se definir, devido à grande quantidade de veículos que entram e saem do terminal de cross-dock (Gümüs, Bookbinder, 2004; Boysen, Fliedner, 2010; Yu, Egbelu, 2008; Lee, Jung, Lee, 2006; Wen et al., 2009;  Chen, Song, 2009;  Forouharfad, Zandieh, 2010).

Os usuários do cross-docking tem que lidar com muitas decisões durante as fases de projeto e funcionamento do cross-dock. Essas decisões podem ser de nível estratégico, tático e operacional e podem ter um sério impacto na eficiência da operação. (Belle, Valckenaers, Cattrysse, 2012).

Tendo em vista esse cenário recente e pouco explorado sobre o assunto, este trabalho tem como objetivo descrever uma operação de cross-docking da cadeia de suprimentos de uma rede varejista de médio porte do ramo alimentício, apresentando as características dos produtos e os fatores operacionais e estratégicos que impactam diretamente a operação.

Para isso foi realizado um estudo de caso no centro de distribuição de uma rede varejista de médio porte que é composta por 1 centro de distribuição e 28 supermercados localizados na região do Grande ABC e no Interior Paulista. A rede opera com um sistema de cross-docking a 8 anos, e nesse sistema existem várias peculiaridades e adaptações que foram realizadas justamente para atender as necessidades da empresa, sendo assim esse estudo procura responder a seguinte questão: como a operação de cross-docking de uma rede varejista é impactada negativa ou positivamente pelas características dos produtos e por fatores operacionais e estratégicos?

Este artigo apresenta cinco seções além da seção inicial. A seção dois mostra a fundamentação teórica, a seção três descreve a metodologia utilizada para realização do estudo, a seção 4 apresenta o estudo de caso deste artigo e, finalmente, na última seção, apresentam-se as considerações finais do trabalho.

2. Fundamentação Teórica

2.2 As características da operação de cross-doking

Das quatro funções principais de um centro de distribuição (receber, armazenar, separar e expedir), armazenar e separar são usualmente as que mais geram custos para a empresa. Armazenar é caro devido ao custo de manutenção de estoque e separar porque é um trabalho intensivo e requer mão-de-obra qualificada (Belle, Valckenaers, Cattrysse, 2012). O cross-docking tem potencial para eliminar a armazenagem e a separação dos produtos que são as duas funções mais caras de uma operação de distribuição (Soltani, Sadjadi, 2009).

O cross-docking é um conceito de gestão de armazenagem no qual os produtos são entregues para um armazém ou centro de distribuição por caminhões de entrada, esses produtos são imediatamente separados, reorganizados com base na demanda do cliente, encaminhados e carregados em caminhões de saída para entrega aos clientes sem haver a armazenagem desses itens no armazém ou centro de distribuição (Yu, Egbelu, 2008). Essencialmente elimina-se a função de manutenção de estoque de um armazém ou centro de distribuição tradicional, enquanto ainda permite a consolidação de cargas (Wen et al., 2009). Além disso, quando a operação de cross-docking é definida como pura, as mercadorias chegam e saem com apenas uma movimentação, é eliminada a função de separação.

As operações de cross-docking podem variar de acordo com as características e as necessidades da empresa que o implanta (Tang, Yan, 2010).

Belle, Valcknaers, Cattrysse (2012) apresentam uma classificação diferenciada relacionando o cross-docking a características físicas, operacionais e de escoamento, essa classificação é apresentada no quadro 2.

Ley e Elfayoumy (2007) apontam os tipos de cross-docking de acordo com a atividade da empresa, que pode ser de fabricação, distribuição, transporte, varejo ou oportunista.

Quadro 1 – Características das operações do cross-dock

Fonte: Belle, Valcknaers, Cattrysse 2012.

2.3 Vantagens e desvantagens do cross-docking

O cross-docking é uma ferramenta de negócio muito poderosa para o gerenciamento da cadeia de suprimentos, que oferece suporte para alcançar resultados importantes, como a redução de estoques, a redução na utilização de recursos e a otimização das operações (Kinnear, 1997).

As vantagens dessa operação incluem o aumento da rotatividade dos materiais, assim, reduz-se o estoque (Yu, Egbelu, 2008), o baixo custo de manuseio, a baixa necessidade de espaço (Chen, Song, 2009), permite uma consolidação dos embarques de tamanhos diferentes com o mesmo destino de cargas completas, de modo que as economias nos custos de transporte possam ser realizadas (Boysen, Fliedner, 2010; Yu, Egbelu, 2008) e melhora a capacidade de resposta às diversas exigências dos clientes (Lee, Jung, Lee, 2006).

Porém, antes de implantar a operação, é necessário que se tome cuidado com alguns pontos importantes, como por exemplo, o fato dos estoques serem drasticamente reduzidos ou até eliminados no centro de distribuição, em determinadas situações pode resultar em uma exigência maior de estoques nas lojas da rede para atingir o mesmo nível de serviço ao cliente (Waller, Cassady, Ozment, 2006).

Os itens que mais são adequados para esse tipo de operação são os que tem taxas de demanda estáveis e constantes. Esses itens também devem ter um estoque de segurança menor tanto no nível do varejo quanto do centro de distribuição. Outro fator importante que influencia a decisão de usar o cross-docking é o custo da quebra de estoque ou o custo da perda da venda de uma unidade do item. Essa operação reduz o estoque a um nível mínimo, e, assim, retira o sistema de estoques de segurança tradicionalmente realizada no centro de distribuição. Consequentemente, o cross-docking eleva a probabilidade de situações de quebra de estoque (Apte, Viswanathan, 2000).

3. Metodologia

Este trabalho é uma pesquisa aplicada e descritiva, tendo em vista que aqui se tem o objetivo de analisar como, o objeto de estudo, a operação de cross-docking, é impactada positiva ou negativamente pelas características dos produtos e os fatores operacionais e estratégicos.

Para a execução deste trabalho foi realizado um estudo de caso no centro de distribuição de uma rede varejista de médio porte localizada na região do Grande ABC e do Interior Paulista. A modalidade do estudo de caso adotada foi a de caso único, esse método foi escolhido porque durante a revisão da literatura identificou-se um conjunto de proposições sobre a operação de cross-docking, bem como as circunstâncias em que essas proposições seriam verdadeiras (Kinnear, 1997; Apte, Viswanathan, 2000; Waller, Cassady, Ozment, 2006; Kreng, Chen, 2008), sendo assim o estudo de caso único em uma empresa que possui uma operação de cross-docking permitiu verificar a aplicabilidade dessas proposições e verificar se a operação em estudo corrobora ou não com os conceitos apresentados na fundamentação teórica deste trabalho.

Foram realizadas entrevistas e aplicados questionários aos profissionais envolvidos com a operação de cross-docking. Também foram realizadas visitas de campo para a observação das atividades no centro de distribuição e, além disso, foi realizada a análise de diversos documentos que contribuíram para o entendimento das características e peculiaridades da operação na empresa. Os dados obtidos na pesquisa foram de origem qualitativa (entrevistas) e quantitativa (dados).

Primeiramente foram realizadas as visitas de campo para a observação da operação, foram realizadas quatro visitas, na primeira visita obteve-se uma visão geral da empresa, sua missão, visão e valores, seus objetivos e expectativas em relação ao mercado, na segunda visita o foco foi o centro de distribuição da rede, onde foi possível entender os processos, operações e a sua importância e contribuição para a cadeia de suprimentos da rede, na terceira e quarta visita foi dado enfoque na operação de cross-docking, que é o objeto de estudo deste trabalho, foi possível verificar como ela é realizada, quais são suas características, seus pontos fortes e fracos. Após esta etapa, foram realizadas entrevistas individuais com pessoas chaves da operação do CD, são elas, o gerente de Supply Chain, gerente de operações do CD, encarregado e líder do setor de cross-docking e o analista de gestão de estoque do CD, para verificar a opinião de cada um sobre a operação e confrontar as informações obtidas nas entrevistas com o que foi verificado nas vistas de campo. Em seguida, foram realizadas as análises de diversos documentos para a mensuração de alguns índices e fatores importantes para sustentarem as informações obtidas das entrevistas com os profissionais da área e as conclusões tiradas a partir das visitas de campo. Por último, os dados obtidos através das visitas de campo, das entrevistas e dos documentos da empresa foram triangulados com o objetivo de se validar as informações obtidas durante as etapas do estudo de caso (Yin, 2010).

4. O Caso

4.1 A distribuição de produtos através da operação de cross-docking

O mix de produtos de uma rede varejista é muito grande, e isso torna mais complexa e trabalhosa a gestão dos níveis de estoques, dos pontos de pedidos e dos estoques de segurança (Wanke, 2004). O CD utiliza a operação de cross-docking de uma forma que facilita o gerenciamento desses produtos. Essa operação no CD é realizada de forma adaptada às necessidades da rede. Apesar do CD utiliza-la para itens de demanda estável, como afirma Apte e Viswanathan (2000) que é o cenário ideal para o sucesso da operação, muitos dos itens tem um estoque de segurança e uma margem de contribuição alta, como por exemplo, produtos de higiene e perfumaria e as bebidas especiais como, cervejas importadas, destilados e algumas marcas de sucos diferenciadas, isso faz com que o custo da venda perdida seja alto, e essas duas últimas características vão contra o cenário ideal de Apte e Viswanathan (2000).

Sendo assim, os itens de cross-docking são priorizados, e dependendo da situação, a mercadoria é recebida no centro de distribuição pela manhã, é separada, expedida e a tarde já está disponível para venda nas lojas. Essa priorização acontece pelo fato da alta margem de contribuição dos produtos, apesar de serem itens que não tem uma saída muito grande, comparados com itens da área de picking, eles não podem faltar na loja, pois a sua falta acarretará em um custo de venda perdida considerável. Por esse motivo Apte e Viswanathan (2000) definem que o custo da venda perdida de um item nessa operação deve ser baixo, porque não se mantem estoque do item, logo qualquer problema de atraso do fornecedor, ou alterações inesperadas de demanda irão fazer com que o item entre em ruptura.

Apte e Viswanathan (2000) também explicam que quanto menor o estoque de segurança do item maior será sua viabilidade nesse tipo de operação. Em uma operação tradicional de um centro de distribuição cada item terá um determinado estoque de segurança, porém em uma operação de cross-docking na qual não existem estoque dos itens, consequentemente também não haverá estoques de segurança no CD, contudo, existirá na loja, porque na verdade essa operação não elimina os estoques de segurança, ela os transfere do centro de distribuição para as suas lojas. Logo, quando o CD envia 10 itens de um produto para uma loja, via cross-docking, nessa quantidade já está inserido o estoque de segurança.

A consolidação de cargas é outra questão importante, Tyan, Wang e Du (2003) explicam que com o aumento da customização dos clientes é necessário ajustar as políticas de consolidação de forma a minimizar os custos e, simultaneamente, atender aos níveis de serviços desejados. Logo, uma carga consolidada no centro de distribuição somente com produtos do armazém, que tem um giro alto, porém uma margem de contribuição pequena, muitas vezes não paga o frete do veículo, então os produtos de baixo giro com uma margem de contribuição maior, quando consolidados com outras cargas, agregam valor, e tornam as viagens e a operação de distribuição viável.

4.2 Análise da operação de cross-docking do Centro de Distribuição

O método para classificar ou não um produto como cross-docking no CD é realizado através das vendas, se o produto vender um pallet por mês (considerando a venda das 28 lojas) ele é armazenado, se o produto vender menos de um pallet ele é distribuído através do cross-docking.

Soltani e Sadjadi (2009) explicam que em geral o cross-docking funciona melhor para empresas que distribuem grandes volume de mercadorias. Porém foi constatada uma grande diferença na operação de cross-docking da empresa em estudo, pois o foco da operação é no mix de produtos, ou seja, distribuir o maior número de produtos possíveis, o que não significa dizer um grande volume, mas sim uma grande variedade, e ainda assim essa aplicação diferenciada consegue agregar valor, por exemplo, consolidando cargas do cross-docking com as cargas do armazém e, simultaneamente, reduzir os custos de armazenagem.

Para fortalecer as informações obtidas, foram coletados dados importantes referentes as movimentações e características de alguns dos itens dessa operação. Foram selecionadas, para o estudo de caso deste trabalho, as classes de produtos que compõem a categoria de higiene e perfumaria que são distribuídas pelo cross-docking, essa categoria foi escolhida pelo fato de ser uma categoria que apresenta grande diversidade de produtos, ressaltando que cada classe representa um grupo com centenas de produtos, esses dados são referentes ao mês de janeiro de 2015, conforme Tabela 1, a seguir:

Tabela 1: Dados dos itens de cross-docking da sessão de higiene e perfumaria:

Fonte: Gestão de Estoques do Centro de Distribuição.

Os itens da categoria de higiene e perfumaria são divididos em cinco classes. O estoque atual representa a quantidade consolidada da classe em todas as lojas, visto que para classificar um produto como cross-docking, a empresa utiliza a demanda total das lojas. Por sua vez, o estoque alvo representa a quantidade ideal dos estoques nas lojas, nesse mesmo raciocínio temos a cobertura do estoque atual e a ideal expressadas em dias, logo após temos o estoque de segurança expresso em unidades, em seguida temos a classificação desse estoque de segurança e por fim o giro das classes.

As informações do estoque de segurança são muito representativas. Todas as classes analisadas, com exceção da A, possuem um estoque de segurança alto, essa classificação é feita através do sinalizador que nada mais é do que uma conta realizada com os dados do estoque atual e a cobertura alvo. É possível perceber que existe uma relação direta entre o estoque de segurança e o giro de estoque dos itens, quanto maior o giro, maior o estoque de segurança.

Os itens de cross-docking do CD via de regra tem um giro de estoque baixo, e isso fica claro na tabela, onde as classes tem um giro mensal baixo, e é possível constatar que a Classe A obteve um giro de estoque negativo.

Também é possível verificar que as classes de produtos, exceto a classe A, estão com um estoque atual muito maior do que o estoque alvo, isso ocorre por fatores estratégicos, de acordo com a gestão de estoque do centro de distribuição, os motivos desse estoque elevado são basicamente dois, padronização de embalagens e economias de escala.

Por fim, uma outra análise importante é referente ao índice de ruptura dos produtos, que nada mais é do que a falta de mercadoria nas lojas, o que acarreta na perda de vendas. De acordo com a área de Gestão de Estoques o índice de ruptura desses itens no período analisado foi de 7,5% o que é considerado um índice baixo em relação à média do setor varejista brasileiro que é de 10,2% (Lukianocenko, 2011). Esse dado representa os esforços do centro de distribuição com a operação de ressuprimento de produtos, que é realizada de forma muito eficiente, os produtos distribuídos através da operação de cross-docking são priorizados, e gerenciados cuidadosamente, considerando diversas estratégias competitivas e de distribuição, é importante ressaltar que estamos falando de milhares de itens a serem distribuídos em quantidades diferentes para 28 unidades da rede, e que muitos desses itens tem peculiaridades que forçam muitas vezes a Gestão de Estoque junto com o setor comercial da empresa a adotarem diversas estratégias diferentes. Logo verifica-se que gerenciar o ressuprimento de produtos através de uma operação de cross-docking não é tarefa das mais simples, ainda assim a empresa consegue manter esse índice de rupturas baixo.

4.3 Características do produto e fatores operacionais e estratégicos que impactam a operação de cross-docking

Com base nas informações obtidas neste trabalho, identificou-se as características dos produtos e os fatores operacionais e estratégicos que impactam uma operação de cross-docking, conforme demonstrado na Figura 1.

Essa operação é indicada quando há necessidade de distribuir um grande fluxo de produtos (Soltani, Sadjadi, 2009), e não existe infraestrutura logística para tal operação (Chen, Song, 2009; Cross-docking trends report, 2011), ou quando os custos de armazenagem desses produtos tornam a operação inviável (Soltani, Sadjadi, 2009; Belle, Valckenaers, Cattrysse, 2012). Nessa situação, o cross-docking se torna uma opção viável, porque é uma operação na qual permite que as mercadorias sejam distribuídas sem a necessidade de armazenagem (Yu, Egbelu, 2008). Por não necessitar que os produtos sejam armazenados, essa operação também é indicada para produtos que seriam inviáveis de serem distribuídos através de um depósito, armazém ou centro de distribuição tradicional, devido as suas características restritivas de armazenagem, como por exemplo, a perecibilidade. O cross-docking também é indicado em operações com baixo fluxo de produtos. De acordo com Apte e Viswanathan (2000) essa operação se apresenta favorável a produtos com demanda estável, produtos com essa característica tem demandas mais previsíveis, assim, é possível trabalhar com um estoque de segurança menor, gerar pedidos de compra consolidados, devido ao seu baixo nível de vendas, e eliminar os estoques obsoletos.

Também é muito importante levar em consideração a margem de contribuição dos produtos. Como foi visto anteriormente, uma operação de cross-docking elimina ou reduz consideravelmente a função de armazenagem dos produtos. Como os itens da curva C possuem baixa margem de contribuição e grande volume de vendas (Lourenço, Castilho, 2006), não será necessário armazenar essa grande quantidade de mercadoria para atender a demanda dos clientes. E caso ocorram rupturas, o custo da venda perdida será baixo (Apte, Viswanathan, 2000). Algo que também deve ser levado em consideração é que essa operação gera mais rupturas que uma operação tradicional de distribuição, devido ao fato de não se manter estoques (Apte, Viswanathan, 2000), se houver ruptura de um item classe A, o custo da venda perdida será muito mais alto. Porém, como foi constatado no estudo de caso deste trabalho, o cross-docking também é uma opção viável para itens da curva A, desde que a gestão de estoques e o setor comercial da empresa estejam estrategicamente alinhados com os seus fornecedores.

Figura 1 – Características dos produtos e fatores operacionais e estratégicos que impactam a operação de cross-docking

 

Fonte: Elaborado pelos autores

Depois de analisado as características dos produtos é necessário verificar o grau de integração com os fornecedores, bem como a sua capacidade de atender as demandas da empresa, pois de nada adiantará ter uma série de produtos viáveis para uma operação de cross-docking, se os fornecedores não forem capazes de atender as necessidades da empresa. O cross-docking por ser um centro de distribuição especial, geralmente trabalha com quantidades menores e entregas mais frequentes (Kreng, Chen, 2008), logo é necessário verificar se o fornecedor conseguirá entregar as quantidades solicitadas no prazo determinado. Também é necessário verificar o grau de confiabilidade desses fornecedores, visto que o seu atraso em uma operação dessas é muito mais crítico que em uma operação de distribuição tradicional. Além disso, tem que ser dada a devida importância a parcerias e a questões estratégicas, como a possibilidade de acordos comerciais diferenciados que possam reduzir riscos de rupturas dos produtos por exemplo. Wanke (2004) afirma que essas parcerias permitem aumentar a eficiência com a qual as empresas operam os processos de movimentação de materiais, sejam eles o transporte, armazenagem e processamento de pedidos.

Além dos fornecedores, os clientes, que irão receber os produtos através dessa operação, devem ser analisados quanto a sua capacidade de recebimento, deve ser verificado se eles estarão aptos a receber as quantidades programadas nos prazos estipulados pelo centro de distribuição.

Se as características dos produtos forem atrativas para a operação de um cross-docking; a empresa possuir uma cadeia de fornecimento eficiente e clientes em condições de receber as mercadorias, chegamos a fase das decisões estratégicas relacionadas a implantação da operação de cross-docking, que é o dimensionamento e planejamento das instalações. É importante avaliar o espaço necessário para a operação no centro de distribuição, ou se será criado um novo centro de distribuição, ou se o espaço será alugado; terá que ser verificado a quantidade de docas de recebimento e expedição e a quantidade de veículos necessária que dependerá do fluxo de produtos que se planeja trabalhar; os equipamentos de movimentação e a mão-de-obra que dependerá do tipo de cross-docking, que pode ser de uma, duas, três ou mais movimentações.

Finalmente, tendo definido as questões estratégicas, é importante avaliar as questões operacionais e verificar as adaptações necessárias para serem realizadas na operação. Nesse momento, avalia-se o tipo de cross-docking que será implantado, pois questões como mão-de-obra; consolidação de cargas; movimentação e armazenagem de materiais; agendamento, recebimento e expedição de veículos serão definidas de acordo com os objetivos que a empresa almeja alcançar com a operação.

5. Considerações Finais

Com base nas informações e nos resultados obtidos deste trabalho, conclui-se que o sucesso de uma operação de cross-docking dependerá de vários fatores, como por exemplo, distribuição e ressuprimento de produtos, níveis de estoques, demanda do produto, o custo de venda perdida da mercadoria, o nível de serviço ao cliente que se espera atingir, o dimensionamento e planejamento das instalações e as estratégias comerciais e de distribuição da empresa, as operações de armazenagem e movimentação interna etc. No estudo de caso deste trabalho foi possível verificar uma operação de cross-docking muito eficiente, mas com estratégias e características de produtos diferentes daquelas estipuladas como ideias por alguns autores. Foi possível constatar que a operação em estudo é totalmente adaptada e que deu e continua dando certo, isso significa dizer, que o cross-docking é uma operação que pode funcionar em múltiplos cenários, desde que seja realizado um estudo das características dos produtos e dos fatores operacionais e estratégicos da empresa, para que se consiga fazer as adequações necessária e planejar a operação de forma eficiente para o atendimento das expectativas da empresa.

A operação impacta diretamente no nível de serviço ao cliente, visto que possibilita a distribuição de um grande mix de produtos, além disso, impacta nos custos de transporte, devido a consolidação de cargas, o custo-benefício de cada viagem é maior, também possibilita redução de custos de mão-de-obra e manuseio de materiais e permite a redução de custos com armazenagem e movimentação interna, devido ao fato de não se manterem estoques.

Além de contribuir para o escoamento de grandes quantidades de mercadorias, eliminar estoques, gerar espaço para armazenagem e permitir a consolidação de cargas, a operação de cross-docking também pode ser uma válvula de escape, pode ser a solução de problemas em que algumas situações e condições não seriam possíveis realizar a distribuição por meios convencionais.

O assunto ainda é recente no meio acadêmico, e os trabalhos que o abordam, na maioria das vezes tratam de questões operacionais como a criação de algoritmos a programação de entrada e saída de veículos, com o objetivo de otimizar a operação. Porém o meio empresarial, vem aplicando o conceito de forma diferenciada, adaptada as suas necessidades, e identificar essas aplicações diferenciadas e mudar o foco da questão operacional para a questão estratégica é de suma importância para que possamos nos aprofundar no assunto e evoluir cada vez mais para sermos capazes de identificar e estudar essas aplicações da operação do cross-docking.

Referências

APTE, Uday M; VISWANATHAN, S. (200); Effective Cross Docking for Improving Distribution Efficiencies. International Journal of Logistics: Research and Applications: 3, 3, 291-302.

BAYKASOGLU, Adia; KAPLANOGLU, Vahit. (2008); Application of activity-based costing to a land transportation company: a case study. International Journal of Production Economics, 116, 2, 308-324.

BELLE, Jan Van; VALCKENAERS, Paul; CATTRYSSE, Dirk. Cross-docking: State of the art. Omega, 2012, 40, 6, 827-846.

BOYSEN, Nils; FLIEDNER, Malte. Cross dock scheduling: classification, literature review and research agenda. Omega, 2010, 38, 413–422.

CHEN, Feng; SONG, Kailei. Minimizing makespan in two-stage hybrid cross docking scheduling problem. Computers & Operations Research, 2009, 36, 2066–2073.

Cross-docking Trends Report [on line] 2011 [citado 02 de fevereiro de 2015]. Disponível na World Wide Web:: <http://www.sclogistics.com/9-uncategorised/150-white-papers>

FOROUHARFAD, S.; ZANDIEH, M. An imperialist competitive algorithm to schedule of receiving and shipping trucks in cross-docking systems. The International Journal of Advanced Manufacturing Technology, 2010, 51, 1179-1193.

GÜMÜS, Mehmet; BOOKBINDER, James H. Cross-docking and its implications in location-distribution systems. Journal of Business Logistics, 2004, 25, 2, 199–228.

KINNEAR, EWEN. Is there any magic in crossdocking? Supply Chain Management: An International Journal, 1997, 2, 2, 49-52.

KRENG, Victor B; CHEN, Fang-Tzu. The benefits of a cross-docking delivery strategy: a supply chain collaboration approach. Production Planning & Control: The Management of Operations, 2008, 19, 229-241.

LEE, Young Hae; JUNG, woo Jung; LEE, Kyong Min. Vehicle routing scheduling for cross-docking in the supply chain. Computers & Industrial Engineering, 2006, 51, 2, 247-256, 2006.

LEY, Shayla; ELFAYOUMY, Sherif. Cross dock scheduling using genetic algorithms. International Symposium on Computational Intelligence in Robotics and Automation, 2007, 540–544.

LOURENÇO, Karina Gomes; CASTILHO, Valéria. Classificação ABC dos materiais: uma ferramenta gerencial de custos de enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, 2006, 59 (1): 52-5.

LUKIANOCENKO, Marlucy. Ruptura: inimigo invisível das vendas. Associação Brasileira de Supermercados, SuperHiper, 2011, 37, 423, 64-76.

SOLTANI, Roya; SADJADI Sayed Jafar. Scheduling trucks in cross-docking systems: A robust meta-heuristics approach. Transportation Research Part E: Logistics and Transportation Review, 2010, 46, 5, 650-666.

TANG, Shao-Lang; YAN, Hong. Pre-distribution vs. post-distribution for cross-docking with transshipments. Omega 2010, 38, 192–202.

TYAN, Jonah C; WANG, Fu-Kwun; DU, Timon C. An evaluation of freight consolidation policies in global third party logistics. Omega, 2003, 31, 1, 55-62.

VIS, Iris F.A; ROODBERGEN, Kess Jan. Positioning of goods in a cross-docking environment. Computers & Industrial Engineering, 2008, 54, 677–689.

WALLER, Matthew A; CASSADY, C. Richard; OZMENT, John. Impact of cross-docking on inventory in a decentralized retail supply chain. Transportation Research Part E 2006, 42, 359–382.

WANKE, Peter. Aspectos fundamentais da gestão de estoques na cadeia de suprimentos. COPPEAD UFRJ [on line] 2011 [citado 02 de março de 2015]. Disponível na World Wide Web: < http://www.coppead.ufrj.br/pt-br/docentes-e-pesquisa/centros-de-estudos/logistics-infrastructure-and-management/artigos-gerenciais/> 

WEN, M. et al. Vehicle routing with cross-docking. Journal of the Operational Research Society, 2009, 60, 1708 – 1718.

YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2010, 4  ed. Porto Alegre: Bookman.

YU, Wooyeon; EGBELU, Pius J. Scheduling of inbound and outbound trucks in cross docking systems with temporary storage. European Journal of Operational Research, 2008, 184, 377–396.


1. Pós-graduado em Logística e Operações pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – IFSP. Graduado em Logística pela Faculdade de Tecnologia de Mauá – FATEC. Email: rogerio.alisp@gmail.com
2. Doutor em Engenharia Biomédica (UMC), Mestre em Tecnologia Ambiental (IPT) e Bacharel em Administração (USP); Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo - IFSP
3. Mestre em Engenharia da Produção (UFSCar); Graduado em Tecnologia de Processos de Produção (FATEC); Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo - IFSP

4. Doutor, Mestre em Administração pela EAESP/FGV – Fundação Getulio Vargas; Coordenador do Curso de Administração do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo - IFSP


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 20) Año 2016

[Índice]

[En caso de encontrar algún error en este website favor enviar email a webmaster]