Espacios. Vol. 37 (Nº 20) Año 2016. Pág. 2

A qualidade de vida no trabalho dos motoristas profissionais sob a égide da regulamentação da profissão: Um estudo em uma empresa de combustíveis, a partir da ótica dos protagonistas

The quality of life in the work of the professional drivers under the aegis of regulating the profession: a study in a company of fuels, from the perspective of the protagonists

Mario Luis BRUNETTI 1; Erivelton Fontana de LAAT 2

Recibido: 10/03/16 • Aprobado: 12/04/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Referencial teórico

3. Procedimentos metodológicos

4. Resultados e discussões

5. Conclusão

Referencial teórico


RESUMO:

O objetivo deste artigo foi analisar as normas estabelecidas na regulamentação da profissão do motorista no Brasil e a consequência da sua implementação nos níveis de satisfação da Qualidade de Vida no Trabalho. A pesquisa envolveu 132 motoristas e o instrumento utilizado na coleta de dados foi desenvolvido a partir do modelo de Walton (1973). Os resultados encontrados nos oito critérios de Walton (1973) apresentaram índice de satisfação superior a 70%, evidenciando a partir daí que a regulamentação da profissão interferiu positivamente nas relações de trabalho da organização pesquisada, produzindo efeitos que proporcionaram melhorias na QVT da categoria.
Palavras-chave: Motorista, Regulamentação, QVT, Lei 12.619/2012

ABSTRACT:

The objective of this article was to analyze the norms established in the regulations of the profession of driver in Brazil and the consequence of its implementation in the satisfaction levels of quality of life at work. The study involved 132 drivers and the instrument used for data collection was developed from the model of Walton (1973). The results found in eight criteria of Walton (1973) showed satisfaction index above 70%, evidencing that the regulations of the profession interfered positively in work relations of the organization researched, producing effects which have yielded improvements in QLW of category.
Keywords: Driver, Regulations, QLW, Law 12.619/2012.

1. Introdução

A dinâmica do transporte rodoviário de cargas envolve, diretamente, interesses dos trabalhadores motoristas de caminhão, das empresas transportadoras, dos usuários das rodovias e também dos grandes tomadores do serviço de transporte, cada qual com nível de organização, poder econômico e político diversos (MORAES, 2012).

No Brasil, a profissão do motorista foi regulamentada em abril de 2012 por meio da promulgação da lei 12619 e alterada por meio da lei 13.103/2015, refletindo em direitos e obrigações para todos os envolvidos com o transporte rodoviário destacando principalmente assuntos relacionados à jornada de trabalho, horas extras e intervalos intrajornada e entre jornadas (MORAES, 2012).

A ausência de regras estabelecidas para essa categoria de trabalhador permitia que tanto o empregador quanto o embarcador de mercadoria exigissem jornadas excessivas de trabalho em busca de aumento da produtividade e consequente redução dos custos, sem se preocupar com a segurança e a saúde do profissional (DONIAK, 2014).

O principal objetivo da regulamentação foi estabelecer meios que permitissem fiscalizar a jornada de trabalho igual a qualquer outro trabalhador no Brasil, ou seja, uma jornada de oito horas diárias eventualmente acrescidas de duas horas extras totalizando 44 horas semanais com um dia de folga por semana (BRASIL, 2012).

As modificações do cenário produziram uma abordagem diferenciada no que diz respeito à QVT dos motoristas profissionais, apontando para uma valorização de fatores inerentes ao ser humano. Além disso, resultaram em um grande desafio aos gestores para adequar as estratégias da organização às mudanças que ocorreram no segmento, sem perder a competitividade.

Levando em conta este cenário é que se direciona a questão problemática deste estudo: Qual é a percepção dos motoristas profissionais sobre as mudanças instituídas com a regulamentação da sua profissão e os níveis de satisfação com a QVT?

Para tanto, o objetivo geral propõe analisar as normas estabelecidas na regulamentação da profissão do motorista e a consequência da sua implementação nos níveis de satisfação da QVT sob a ótica dos protagonistas. O artigo foi configurado da seguinte maneira: a) introdução; b) referencial teórico; c) procedimentos metodológicos; d) discussão e análise dos resultados e, e) considerações finais.

2. Referencial teórico

O sistema de transporte de cargas é essencial para a movimentação da economia e suprimento de demanda no Brasil. Sem ele, os produtos não chegariam aos consumidores, às indústrias não teriam acesso às matérias-primas e nem condições de escoar sua produção. É um setor totalmente horizontal, que viabiliza todos os outros setores da economia (MASSON, MONTEIRO, 2010).

Neste sentido, a regulamentação da profissão do motorista, surge com propostas que podem amenizar a situação e melhorar a qualidade de vida no trabalho dos motoristas profissionais. A promulgação da lei buscou estabelecer regras aos profissionais que transportam cargas e pessoas, especialmente no tocante a limitação de jornada de trabalho, tempo na direção e tempo para descanso.

A preocupação com a qualidade de vida no trabalho tem acompanhado o ser humano desde os primórdios de sua existência, buscando sempre facilitar ou trazer satisfação e bem-estar ao trabalhador na execução de suas tarefas (SIMMONDS, 2012).

A origem dos estudos sobre QVT datam do ano de 1950. Conforme explica Limongi-França (2004), nessa época, em que Eric Trist e demais colaboradores desenvolveram no Tavistok Institute um modelo macro para agrupar o trinômio indivíduo-trabalho-organização, originando uma abordagem sócio técnica da organização do trabalho que tinha por base a satisfação do empregado, dando início aos estudos mais direcionados à qualidade de vida no trabalho (LIMONGI-FRANÇA, 2004).

A QVT envolve os aspectos físicos, ambientais e psicológicos do indivíduo no local de trabalho. Muitos empresários estão percebendo que melhorar a vida de seus funcionários torna a empresa mais saudável, competitiva e produtiva (SIMMONDS, 2012). De acordo com Oliveira (2013), essa é a principal função da QVT, a qual está baseada em dois aspectos fundamentais: o bem-estar do trabalhador e a eficiência organizacional.

Para Pedroso (2010 p. 38), a pressão por melhores resultados, a insatisfação financeira e o estresse proveniente do ambiente de trabalho vem a ocasionar redução na produtividade dos trabalhadores do ambiente empresarial. Para o autor a empresa deve procurar oferecer atividades que em contrapartida a esses fatores, venham proporcionar melhor bem estar aos seus colaboradores, compensando o seu esforço pela produção da empresa.

Assim, a QVT busca o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal do trabalhador, promovendo maior compatibilidade entre as necessidades do trabalhador e o seu trabalho, proporcionando ao mesmo tempo aumento na produtividade organizacional (SIMMONDS, 2012; PETTENGILL, 2010).

A QVT é um assunto atual e tem tido o merecido destaque na academia e nas organizações, no entanto, pode-se perceber por meio do estudo de Nadler e Lawer (1983) e apresentados no quadro 1 as diferentes concepções a respeito do tema desde 1959, o que evidencia que o assunto não é preocupação recente.

Quadro 1 - Evolução do Conceito de QVT

Concepções evolutivas

Caracteristicas ou visão

1 - QVT como uma variável (1959 a 1972)

Reação do indivíduo ao trabalho. Era investigado como
melhorar a QVT para o indivíduo.

2 - QVT como uma abordagem (1969 a 1974)

O foco era o indivíduo antes do resultado organizacional; mas, ao mesmo tempo, tendia a trazer melhorias tanto ao empregado como à direção.

3 - QVT como um método (1972 a 1975)

Um conjunto de abordagens, métodos ou técnicas para melhorar o ambiente de trabalho e tornar o trabalho mais
produtivo e mais satisfatório. QVT era visto como sinônimo
de grupos autônomos de trabalho, enriquecimento de cargo
ou desenho de novas plantas com integração social e técnica.

4 - QVT como um movimento (1975 a 1980)

Declaração ideológica sobre a natureza do trabalho e as relações dos trabalhadores com a organização. Os termos  "administração participativa" e "democracia industrial" eram freqüentemente ditos como ideais do movimento de QVT.

5 - QVT como tudo (1979 a 1982)

Como panacéia contra a competição estrangeira, problemas de qualidade, baixas taxas de produtividade, problemas de queixas e outros problemas organizacionais.

6 - QVT como nada (futuro)

No caso de alguns projetos de QVT fracassarem no futuro, não passará de apenas um "modismo" passageiro.

Fonte: Nadler e Lawler (1983)

Dando sequência a análise feita por Nadler e Lawler (1983), Pinto, Vilas Boas e Paula (2012) mostram que a QVT assumiu novas concepções evolutivas apontando para uma nova perspectiva de pensamento. Os conceitos apresentados no quadro 2 mostram que a evolução da QVT ganhou força nos últimos anos deixando pra trás a perspectiva de virar modismo,  passando para uma visão biopsicossocial-organizacional  agregando o modelo de competências que demonstra uma visão da organização e do administrador na gestão das organizações (PINTO, 2013).

Quadro 2 - Evolução do Conceito de QVT – Novas Concepções

Concepções evolutivas

Caracteristicas ou visão

7 - QVT Como um modelo consolidado no indivíduo (década de 1990)

A QVT não se configurou como um modismo, mas passou a ser adotada ainda mais pelas organizações, visando à melhoria das condições para o trabalhador e perpassando os temas de qualidade, estresse, bem estar individual, bem como procurando o equilibrio entre saúde fisica e mental, organização e sociedade.

8 – Como Gestão avançada (inicio do século XXI)

A QVT como uma nova competência do gestor frente ao novo perfil das organizaçoes pós-industriais. Visao holística dos indivíduos/trabalhadores, da organização e do gestor.

Fonte: Pinto, Paula e Vilas Boas (2012, p. 4)

O pioneirismo em modelos de avaliação de QVT é atribuído a Richard Walton. Seu modelo foi concebido nos Estados Unidos na década de 70 e para a criação desse modelo Walton buscou com pesquisas e entrevistas identificar fatores de dimensão que podem afetar o trabalhador em seu trabalho (SILVA, PEDROSO e PILATTI, 2010).

Walton (1973) considera que a qualidade de vida no trabalho é um termo usado para descrever valores humanos e ambientais que ainda não foram considerados pelas sociedades industriais. Seu trabalho identificou que o nível de satisfação e a autoestima do indivíduo eram fatores essenciais à garantia da QVT e associou a satisfação das necessidades individuais à imagem que o empregado fazia de si mesmo (COUTINHO, 2009).

Neste artigo optou-se por utilizar um questionário de QVT elaborado a partir do modelo proposto por Walton (1973). O modelo é composto por oito critérios evidenciados no quadro 3 que influenciam na QVT dos colaboradores.

O modelo de Walton é considerado o mais completo e é o mais utilizado nos estudos sobre QVT com maior número de variáveis que demonstram claramente cada indicador. Para Gouveia et. al. (2012) este é o único modelo que enfatiza questões elementares à realização do trabalho priorizando fatores higiênicos, condições físicas, aspectos relacionados à segurança e à remuneração.

Para que se possa correlacionar o modelo de Walton com a QVT dos motoristas profissionais e entender como a regulamentação da profissão impactou na QVT destes profissionais, é fundamental a identificação e o dimensionamento das regras estabelecidas pela lei 12619/12 e na lei 13.103/15 sobre o sistema de transporte rodoviário e a rotina diária destes trabalhadores.

Quadro 3 – Critérios e subcritérios do modelo de Walton

CATEGORIAS CONCEITUAIS

FATORES DE QVT

Como é percebida pelo profissional

  1. 1.Compensação Justa e adequada

Equidade interna e externa

Proporcionalidade entre os salários

Justiça na compensação

Partilha dos ganhos de produtividade

Refere-se à satisfação do trabalhador em relação à remuneração recebido por seu trabalho.

2. Condições de trabalho

Jornada de trabalho justa

Ambiente físico seguro e saudável

Ausência de insalubridade

Refere-se às condições físicas oferecidas pela empresa ao funcionário, à jornada de trabalho, às questões de segurança na rotina de trabalho e aos aspectos de insalubridade à saúde do trabalhador neste ambiente.

3. Uso e desenvolvimento de capacidades

Autonomia

Qualidades múltiplas

Informação sobre o processo total do trabalho

Autocontrole relativo

Refere-se às oportunidades oferecidas pela empresa para que o trabalhador possa desenvolver sua criatividade, autonomia e suas habilidades, além da participação do funcionário nas decisões corporativas.

4. Oportunidade de crescimento e segurança

Possibilidade de carreira

Crescimento Pessoal

Perspectiva de avanço salarial

Segurança de emprego

Refere-se a planos de carreira, desenvolvimento e crescimento profissional.

5. Integração social na organização

Ausência de preconceitos

Igualdade

Mobilidade

Relacionamento

Senso comunitário

Refere-se a relação de igualdade em relação aos profissionais do mesmo nível, acesso a hierarquias mais elevadas, segurança e apoio do grupo em partilhar sentimentos e ideias.

7. O trabalho e o espaço total de vida

Papel Balanceado no trabalho

Poucas mudanças geográficas

Tempo para lazer da família

Estabilidade de Horários

Refere-se ao equilíbrio entre o espaço dedicado ao trabalho e a vida pessoal, tempo disponível para lazer e horário de trabalho.

8. Relevância social do trabalho na vida

Imagem da empresa

Responsabilidade social da empresa

Responsabilidade pelos produtos

Práticas de emprego

Refere-se ao sentimento de orgulho do trabalhador em fazer parte da equipe, O respeito da sociedade em relação à empresa que ele trabalha, diz respeito ao compromisso social da instituição de trabalho percebida pelo trabalhador.

Fonte: Adaptado de Gouveia et. al. (2012) e de Pettengill (2010).

De acordo com Oliveira (2013) a regulamentação está dividida em quatro blocos normativos, sendo que o primeiro aborda normas trabalhistas, o segundo normas de trânsito, o terceiro de normas de infraestrutura e por último, normas intersindicais. As alterações de maior impacto afetam artigos da Consolidação das Leis de Trabalho – CLT e do Código de Transito Brasileiro – CTB.

 Oliveira (2013) comenta ainda que a regulamentação no Brasil seguiu o modelo Europeu, criando entre outras obrigações a jornada de trabalho especial para o motorista empregado e regulando o tempo de direção e descanso de todos os motoristas, incluindo os transportadores autônomos.

Entre as principais diretrizes da regulamentação, o artigo 2º item 5 alínea "b" da lei 13.103/2015 apresenta que é direito do motorista profissional "ter jornada de trabalho controlada e registrada de maneira fidedigna mediante anotação em diário de bordo, papeleta ou ficha de trabalho externo, ou sistema e meios eletrônicos instalados nos veículos, a critério do empregador" (BRASIL, 2015).

Na prática, este artigo obriga o empregador a controlar o horário de trabalho de acordo com o capítulo I do título III da Consolidação das Leis do Trabalho. A CLT foi alterada pela regulamentação da profissão, instituindo artigo 235-C que estabelece regras iguais aos demais trabalhadores de outras categorias, ou seja, a duração do trabalho normal não deve ser superior a oito horas diárias e quarenta e quatro horas semanais, sendo permitido até duas horas diárias de trabalhos extraordinários, ou até quatro horas quando previsto em convenção ou acordo coletivo.       Como em qualquer outra atividade, o intervalo para refeição e o intervalo de repouso diário, bem como repouso semanal foi assegurada ao motorista profissional pela regulamentação.

Do ponto de vista social, o reconhecimento destes direitos ao trabalhador retira das rodovias os profissionais cansados e sem condições físicas de exercerem suas atividades com o devido cuidado (DONIAK, 2014). Para a autora, o objetivo maior desta determinação é evitar a ocorrência de acidentes e os prejuízos ocasionados para toda a sociedade com mortes ou invalidez dos usuários das rodovias, além de propiciar condições dignas de trabalho para esses profissionais.

Símmonds (2012), explica que é de suma importância ressaltar que a responsabilidade por controlar o tempo de condução acima mencionado é do motorista, ficando o mesmo sujeito às penalidades daí decorrentes. Assim, o profissional que não cumprir os períodos de descanso previsto ensejará infração grave, com pena de multa e retenção do veículo para cumprimento do tempo de descanso aplicável, conforme art. 67-E do CTB.

No artigo 235-G da CLT, a lei ainda trata do pagamento ao motorista por comissão. Muitas empresas utilizam essa prática como forma de incentivar o motorista a aumentar sua jornada para aumentar os rendimentos. Na prática, esse artigo quando vincula a permissão dessa forma de remuneração com a segurança, acaba com uma ferramenta de gestão que rendia ao empresário uma maior produtividade à custa da excessiva carga de trabalho do motorista, uma vez que após a regulamentação sua jornada é controlada.

Doniak (2014) afirma que como não havia uma legislação específica, que determinasse a carga horária diária máxima de trabalho que podia ser cumprida por um motorista empregado, os empresários privilegiavam como forma de remuneração o pagamento por comissão pela entrega de mercadoria no menor tempo possível, e isso criou um ambiente favorável para que esses profissionais passassem a estender suas jornadas de trabalho até a completa exaustão física e mental. O pagamento por comissão instigava o trabalhador a produzir mais sem ser remunerado por isso (SIMMONDS, 2012; OLIVEIRA, 2013).

Além das diretrizes discutidas até aqui, a regulamentação apresenta outras de menor expressão tanto para as empresas como para os motoristas, mas não menos importante para o desempenho da atividade. Como por exemplo: a) a gratuidade de pedágios para eixos suspensos em caminhões vazios; b) tolerância de 5% em excesso de peso sobre os limites de peso do caminhão; c) responsabilidade do contratante sobre o excesso de peso; d) exigência de exames toxicológicos na admissão e no desligamento; e) programa de controle de uso de drogas e bebidas alcoólicas; e f) benefício de seguro custeado pelo empregador.

3. Procedimentos metodológicos

Os métodos a serem utilizados são um conjunto de recursos necessários para a investigação científica e o grau de utilização das técnicas é que determinam sua qualificação (GIL, 2002).

Para esta pesquisa, utilizou-se levantamento tipo survey, com coleta de dados através de questionário, disponibilizado a 132 motoristas profissionais de forma aleatória e espontânea, constituindo um instrumento de pesquisa quantitativa, caracterizado assim por colher e tratar informações de um grupo significativo de pessoas acerca de determinado problema. De acordo com GIL (2002), o uso de método quantitativo, permite obter conclusões coerentes aos dados coletados.

O questionário utilizado compreendeu 64 questões fechadas com opções de respostas composta por variáveis de 1 a 6, sendo 1 para discordo totalmente e 6 para concordo totalmente, além da opção "desconheço" e foi desenvolvido a partir do modelo de avaliação de Richard Walton (1973) adaptado ao objetivo deste estudo, o qual possibilitou enquadramento de questões referentes à regulamentação da profissão, considerando comparativo aos constructos do modelo de Walton.

Iniciou-se o período de pesquisa de campo durante o mês de outubro de 2015, o qual foi finalizado em dezembro de 2015, compondo 132 questionários estruturados.

O tratamento dos dados foi realizado por métodos estatísticos descritivos, com uso do software IBM Statistical Package for Social Sciences (SPSS). A verificação e avaliação dos dados é uma etapa importante para facilitar o entendimento do comportamento amostral. Os autores destacam essa necessidade e utilizam-se das medidas de tendência central e medidas de dispersão de acordo com a escala definida e também da análise de confiabilidade da escala utilizada. Conforme Hair et al (2005), a análise descritiva permite a análise das médias, desvio padrões dos escores e das medidas de confiabilidade, tratadas com o alfa de Cronbach.

Nas análises onde o número de variáveis envolvidas foi relativamente grande, utilizou-se da análise fatorial para agrupar as variáveis correlacionadas entre si e para a composição dos construtos estabelecidos no modelo teórico.

O valor do Alfa de Cronbach variou de  α=0,709 a 0,902, considerada entre muito boa e excelente na escala de confiabilidade proposta por Hair et al (2005) confirmando assim a consistência interna da escala do instrumento utilizado.

4. Resultados e discussões

Ao todo foram distribuídos 202 questionários em todas as filiais do grupo. Destes, 20 questionários considerados válidos, aplicados aos motoristas lotados na filial de Guarapuava foram utilizados para realização do teste piloto. Dos 182 questionários restantes, obteve-se retorno de 139 e sete foram descartados por apresentar muitas respostas marcadas como "desconheço" e por não estarem completamente preenchido, perfazendo assim um total de 132 questionários considerados válidos para a pesquisa de campo.

Os questionários eram compostos totalmente por questões fechadas e algumas questões de características demográficas envolvendo aspectos como: gênero, faixa etária, escolaridade, estado civil, tempo de profissão, tempo na empresa, tempo na direção antes e depois da regulamentação.

Com relação ao gênero, os resultados mostraram os respondentes são 100% do gênero masculino na faixa etária de 18 a 60 anos. Em relação ao estado civil 90 eram casados, 11 solteiros e 31 eram separados ou divorciados. No que diz respeito ao tempo de serviço como motorista profissional, nove entrevistados responderam possuir menos de seis anos, 24 entre 6 e 10 anos, 23 entre 11 e 15 anos e 76 acima de 15 anos na profissão.

Outro fator importante percebido na pesquisa é a predominância do baixo nível de escolaridade, demonstrado pelos entrevistados. Neste item, observou-se que todos os entrevistados tinham escolaridade entre o ensino fundamental e ensino médio. A baixa escolaridade é comum entre os trabalhadores da categoria. Outros trabalhos envolvendo motoristas como o de Doniak (2014), Azevedo (2013) e Simmonds (2012) apontam para o mesmo perfil encontrado na pesquisa de campo.

Com relação ao tempo de direção a que os motoristas estão submetidos após a implantação da regulamentação, pode-se perceber que na opinião dos respondentes houve uma redução na carga horária. A média de carga horária de trabalho da categoria anterior à regulamentação era entre 14 e 16 horas diária (GIROTTO, 2014; OLIVEIRA (2013); SOUZA, PAIVA E REIMAO 2005). A pesquisa mostrou uma que a média da jornada de trabalho atual reduziu para entre nove e dez horas diárias.

Foram realizadas análises de todos os construtos do modelo de Walton (1973). Com relação ao construto Compensação justa e adequada, buscou-se mensurar a satisfação dos motoristas quanto à remuneração, prêmios e outras gratificações recebidas em troca do seu trabalho. Questionou-se aos respondentes sobre sua satisfação com: a) o salario antes da regulamentação; b) o salario atual; c) o salário em relação a seus colegas; d) recompensas e participação nos resultados; e e) com benefícios extras recebidos.

 A percepção média dos respondentes indicam que de maneira geral eles estão satisfeitos com a remuneraçao recebida. A satisfação com o salário antes da regulamentação apresenta um nível de satisfação maior (M=4,81) que o atual (M=4,45). O resultado indica que a alteração na forma de remuneração promovidas pela regulamentação não trouxe melhorias neste sentido ao trabalhador.

Os dados mostram ainda que os respondentes estão satisfeitos com sua remuneração quando comparada com seus colegas (M=4,54) e também estão satisfeitos com as recompensas e participação nos resultados (M=4,50). O menor índice de satisfação apresentado no construto foi para o item sobre beneficios extras (M=3,66) apesar de o resultado não ser um índice negativo,  apresenta um nível de satisfação menor que os demais itens do construto. 

O resultado da pesquisa contrapõe a outros trabalhos realizados no segmento, onde é notória a insatisfação dos trabalhadores quanto à remuneração. O trabalho desenvolvido por Simmonds (2012)  e Pettengil (2010) onde os participantes relataram insatisfação com a remuneração e prêmios oferecidos em troca do seu trabalho.

A remuneração é considerada por autores como Walton (1973), Westley (1979), Thériault (1980) e Werther e Davis (1983), como fatores importantes para avaliação da QVT nas empresas. Goulart e Sampaio (2004) apontam que os fatores econômicos poder produzir sensação de injustiça quando estes são entendidos pelo colaborador como insuficiente pelo seu empenho no trabalho, gerando descontentamento e consequentemente a redução da produção.

Com relação ao construto condições de trabalho, buscou-se mensurar a satisfação dos motoristas quanto às alterações promovidas pela regulamentação da profissão no que diz respeito às condições gerais de trabalho. Questionou-se os respondentes sobre sua satisfação com relação à: a) tempo obrigatório de descanso; b)jornada de trabalho; c) carga de trabalho; d) segurança nas estradas; e e) salubridade no trabalho.

O tempo de descanso entre e durante as jornadas é o ponto mais importante da regulamentação da profissão. A origem da lei que regulamentou a profissão do motorista está na precarização do trabalho provocado pela exaustiva jornada de trabalho a que esses profissionais eram submetidos, sem ter o intervalo necessário para descanso.

A percepção média dos respondentes (M=4,70) mostra que os respondentes estão satisfeitos quanto a este item da regulamentação. O resultado vem de encontro aos anseios dos profissionais que relataram em trabalhos anteriores como de Doniak (2014), Símmonds (2012); Masson (2009) ter que suportar longas horas de trabalho sem descanso e repouso necessários para o desenvolvimento da função.

O resultado da variável "tempo de descanso obrigatório" condiz com o resultado encontrado no construto "jornada de trabalho" uma vez que ambos estão intimamente ligados. Os resultados mostraram que os motoristas estão satisfeitos com a atual jornada de trabalho (M=4,58) e com o controle obrigatório das jornadas e intervalos criados a partir da regulamentação da profissão (M=4,61).

Entre os estudos que tratam da excessiva jornada de trabalho destes profissionais no Brasil, elenca-se o estudo realizado por Swerts (2013) e Girotto (2014) onde os participantes relataram que a jornada diária e a distância percorrida contribuíram para o surgimento de dor osteomuscular e uso de substâncias psicoativas.

É importante observar que mesmo com a lei que regulamentou a profissão estando em vigor desde 2012, os trabalhos de Swerts (2013) e Girotto (2014) mostram que os profissionais continuam sendo submetidos a exaustivas jornadas de trabalho, evidenciando assim falta de fiscalização pelo poder público para o cumprimento da lei.

A percepção média dos respondentes mostra satisfação quanto à carga de trabalho suportada pelos trabalhadores. Em todas as variáveis do construto, a média de satisfação foi superior a 4,5 evidenciando melhoria na QVT.

O resultado da pesquisa contrapõe ao resultado encontrado em outros trabalhos desenvolvidos no setor como o de Teixeira (2005), Doniak (2014), Boaretto (2013) Oliveira (2013), Swets (2013), Girotto (2014)  e Sinagawa (2015) que associam a carga de trabalho destes profissionais a diversos problemas de saúde tais como insônia, problemas cardíacos, dores, problemas na coluna, hipertensão entre outros.

Em relação ao segurança nas estradas, buscou-se identificar a opinião dos respondentes quanto à redução de acidentes e exposição a assaltos e roubos. A percepção média dos respondentes (M=3,30) mostram resultados contrários aos achados da pesquisa CNT (2013) e ao trabalho de Símmonds (2012), ou seja, para os respondentes a regulamentação não os deixou mais expostos a assaltos e roubos. Os autores apontaram em seus trabalhos maior exposição da categoria a assaltos e roubos por estes ficarem mais tempo parado em razão da obrigatoriedade do tempo de descanso.

Com relação a acidentes, os respondentes da pesquisa entendem que a regulamentação proporcionou maior segurança nas estradas (M=4,13). O resultado condiz com o trabalho de Sinagawa (2015) onde os entrevistados entendem que se as diretrizes da regulamentação forem cumpridas e fiscalizadas o numero de acidentes reduziria significativamente.

A percepção dos respondentes revela também que os respondentes estão satisfeitos com seu ambiente de trabalho (M= 4,26). O resultado retrata o que foi constatado em outros estudos realizados no segmento. O trabalho de Simmonds (2012) e de Ribeiro (2008), por exemplo, destacam que apesar de os motoristas profissionais estarem submetidos a uma diversidade de ambientes e condições de trabalho dos quais decorrem vários agravos à sua saúde, os motoristas entrevistados naqueles estudos estavam satisfeitos quanto ao ambiente de trabalho.

Em relação ao uso e desenvolvimento de capacidades, questionou-se aos respondentes sobre: a) avaliação do trabalho pelo trabalhador; b) Exigências do trabalho; c) grau de energia dispendida no trabalho; e d) tempo para cumprir tarefas.

Os resultados evidenciam que os respondentes estão satisfeitos com a forma que seu trabalho está organizado. Todas as variáveis apresentam um bom índice de satisfação quanto à avaliação do seu trabalho. A menor média apresentada foi no construto grau de energia dispendido no trabalho que teve média Q23 M=3,41 e Q24 M=3,76, representando ainda um índice de satisfação de 60%. Os demais construtos apresentam médias acima de 4,5 na maioria das variáveis, o que representa um índice de satisfação de aproximadamente 75%.

O resultado encontrado na pesquisa evidencia que na opinião dos respondentes a empresa está preocupada com a QVT e que a organização está alinhada com a literatura sobre o assunto.  Walton (1973) comenta que a organização preocupada com a QVT busca gerar uma organização mais humanizada, envolvendo simultaneamente, alto grau de responsabilidade e autonomia ao trabalhador, bem como o retorno sobre o seu desempenho na função.

Para avaliação do construto Oportunidades no trabalho, os respondentes foram questionados sobre sua satisfação com relação: a) ao crescimento profissional; b) segurança no emprego; c) possibilidade de seguir carreira; d) treinamentos; e e) incentivo ao estudo.

Para análise deste construto, tomou-se como pressuposto de que o trabalho com sentido pode ser significativo às demais necessidades da vida do colaborador (WALTON, 1973). Assim, faz-se necessário criar oportunidades individuais e coletivas para que os trabalhadores encontrem significado nas atividades que desenvolvem (PAULA, 2015).

Observa-se na opinião dos respondentes, a organização oferece elementos favoráveis a QVT no que diz respeito ao construto oportunidades no trabalho. A média de respostas para as variáveis do construto foi bastante homogênea variando de M=4,64 a M=4,86 o que representa um grau de satisfação de aproximadamente 72% em todas as variáveis. A característica da função favorece a empresa na avaliação deste construto. Os profissionais avaliados possuem baixo grau de instrução o que na maioria das vezes impossibilita seu crescimento hierárquico, fazendo com estejam satisfeitos na função que ocupam.

A avaliação do construto Integração social do trabalho, os respondentes foram questionados sobre a convivência no trabalho envolvendo: a) ambiente calmo e agradável; b) relacionamento; c) apoio a execução de atividades; d) comprometimento; e) gosto pelo trabalho; f) valorização de ideias; e g) discriminação no trabalho.

Para Walton (1973) a integração social compreende os aspectos ligados ao relacionamento pessoal e à autoestima no local de trabalho. Para o autor, a ausência de preconceitos de cor, raça, gênero, credo, nacionalidade, estilo de vida e aparência física são fundamentais para que exista uma boa convivência no ambiente de trabalho.

Paula (2015) explica que as diferenças individuais afetam a percepção do sentido do trabalho e sentido no trabalho influenciando as percepções quanto à QVT na organização. O trabalho de Pinto (2013) apontou que o ambiente interno é o que mais impacta na satisfação dos trabalhadores quanto à QVT, e a integração do ambiente de trabalho com as relações pessoais interfere substancialmente na produtividade das organizações.

Na avaliação dos respondentes, a convivência no trabalho está satisfatória em todos os sentidos avaliados. A média das respostas das variáveis ficou entre M=3,89 e M= 4,76 o que representa um índice de satisfação acima de 70%.

Os resultados deixam transparecer que o clima organizacional está em harmonia, e que os respondentes trabalham em um ambiente onde há cumplicidade e ajuda mútua e esses são fatores positivos para a promoção da QVT. Neste sentido, Pinto et al (2014) comentam que um trabalho só será significativo quando também der prazer as pessoas que o executam.

O desenvolvimento do construto constitucionalismo está associado principalmente ao reconhecimento de direitos do trabalhador. Walton (1973) explica essa dimensão da QVT a partir da necessidade de definir normas, princípios e regras nas organizações. Destaca ainda a necessidade de haver respeito aos direitos do indivíduo e proteção contra atos arbitrários por parte dos gestores.

Os respondentes foram questionados sobre: a) respeito aos direitos trabalhistas; b) liberdade de expressão; c)tratamento igualitário; d) satisfação quanto a normas internas da organização.

De acordo com Pedroso (2010) o construto constitucionalismo do modelo proposto por Walton (1973) é uma dimensão que afeta a QVT de forma indireta, ou seja, a relevância da dimensão não está associada ao trabalho em si, mas pela forma como este é conduzido. Para o autor, os trabalhadores são afetados pelas decisões tomadas no ambiente organizacional e o constitucionalismo tem o objetivo de proteger os trabalhadores de ações arbitrárias.

Na opinião dos respondentes, a organização oferece elementos favoráveis a QVT no que diz respeito ao constitucionalismo. A média de respostas para as variáveis do construto mostrou coesão nos resultados variando de M=4,20 a M=4,54 o que representa um grau de satisfação acima de 70% em todas as variáveis.

O construto trabalho e espaço total de vida está relacionado com espaço que o trabalho ocupa na vida do indivíduo. Walton (1973) destaca que a experiência de trabalho de um indivíduo pode ter efeitos negativo ou positivo sobre outras esferas da vida. Assim, a organização do trabalho deve considerar os esquemas de trabalho, a expectativa de carreira, progresso, estabilidade de horário, poucas mudanças geográficas e o tempo que o colaborador terá para o lazer e para a família.

Para avaliação deste construto, os respondentes foram questionados sobre: a) estabilidade de horários de trabalho; b) qualidade de vida; c) convivência familiar; d) influencia do trabalho na vida e rotina pessoal; e) lazer; e d) horários de descanso.

Todas as variáveis do construto foram avaliadas pelos respondentes com alto grau de satisfação variando de M=4,19 a M=4,71, o que representa um índice de satisfação superior a 70%. A variável que trata da estabilidade de horário de trabalho foi a que apresentou o menor índice de satisfação (70%), ainda assim, um bom índice. De acordo com Girotto (2014) a falta de um horário fixo de trabalho é uma característica da profissão do motorista, visto que estes dependem de vários fatores que interferem na sua jornada, tais como, carga e descarga do caminhão, condições do veículo e transito.

Timossi et al (2009) destacam também que a jornada de trabalho exaustiva e as constantes mudanças de residência podem se transformar em sérios problemas familiares. Para os autores, o tempo de trabalho adequado e com intensidade física adequada proporcionam ao trabalhador realizar mais atividades de lazer na presença de seus familiares, melhorando a qualidade de vida e a QVT.

O trabalho de Brito e Macedo (2011) e de Oliveira (2013) apresentaram resultado contrário ao verificado neste estudo. Para os participantes dos estudos, o fato do horário de trabalho ser imprevisível traz desconforto e interferência na vida privada, sendo uma fonte de sofrimento, sobretudo com relação à disponibilidade de tempo para lazer e família. Os participantes relataram ainda a impossibilidade de se organizar para participar de eventos pessoais como casamentos e aniversário, afetando toda a família.

O construto relevância social do trabalho trata da percepção do indivíduo quanto à imagem da sua empresa perante si e perante a sociedade. Walton (1973) entende que as atitudes éticas e posturas inapropriadas adotadas pela organização contribuem para que os trabalhadores encarem negativamente seu trabalho, afetando sua autoestima.

Para avaliação deste construto, os respondentes foram questionados sobre: a) o orgulho de trabalhar na empresa; b) a qualidade dos serviços prestados pela organização; c) satisfação com as políticas de RH; d) Importância do papel da organização na sociedade; e) importância da profissão perante a sociedade; e f) benefício da regulamentação para a sociedade.

Todas as variáveis do construto foram avaliadas pelos respondentes com alto grau de satisfação variando de M=4,72 a M=4,98, o que representa um índice de satisfação superior a 76%, deixando transparecer os motoristas sabem da importância do seu trabalho para a sociedade e estes se sentem orgulhosos com sua função. É possível extrair também que os respondentes sentem orgulho em fazer parte da organização.

Neste sentido, a avaliação da variável importância social do trabalho demonstrou que a população pesquisada está satisfeita com a importância da profissão perante a sociedade (M=3,92) demonstrando um índice de satisfação de 65%. Com relação aos benefícios que a regulamentação trouxe para sociedade, a avaliação dos respondentes apresentou um índice de satisfação de 70% (M=4,18).

De Acordo com Walton (1973), a percepção do trabalhador de que seu trabalho é valorizado pela organização e o sentimento de orgulho que este tem de fazer parte da empresa são fatores que geram motivação e consequentemente proporciona aumento da produtividade. Neste sentido, Albuquerque (2002), entende que a motivação e a valorização do indivíduo nas organizações são um diferencial importante para obtenção de vantagem competitiva sobre os concorrentes.

O trabalho de Walton (1973) identificou também que manter o nível de satisfação e a autoestima do indivíduo elevada, é essencial para promoção da QVT e associou a satisfação das necessidades individuais à imagem que o empregado fazia de si mesmo e da organização que ele trabalha.

5. Conclusão

Este estudo teve como objetivo analisar as normas estabelecidas na regulamentação da profissão do motorista e a consequência da sua implementação nos níveis de satisfação da QVT sob a ótica dos protagonistas. O estudo levantou diversos aspectos relacionados às regras estabelecidas na regulamentação da profissão e as alterações provocadas por estas regras na QVT dos motoristas na empresa pesquisada.

 As principais conclusões que se chega com este estudo são: no aspecto do referencial teórico: a) o motorista profissional é de extrema importância para economia do país; b) o motorista suporta ambiente e condições de trabalho dos quais decorrem vários agravos à sua saúde; c) o principal objetivo da regulamentação foi estabelecer meios que permitam fiscalizar a jornada de trabalho igual a qualquer outro trabalhador no Brasil; d) a regulamentação da profissão, notadamente é um grande avanço para a categoria, já que garante aos trabalhadores direitos fundamentais como descanso e controle de jornada de trabalho entre outros.

Na pesquisa de campo, os resultados mostraram que os respondentes estão satisfeitos com todas as dimensões do modelo de avaliação de QVT propostas por Walton (1973). As médias encontradas foram na sua grande maioria superior a 70% de satisfação. Infere-se a partir daí que a regulamentação da profissão interferiu positivamente nas relações de trabalho da organização pesquisada, produzindo efeitos que proporcionaram melhorias na QVT da categoria.

A análise das oito dimensões sugeridas por Walton (1973) possibilita, nas palavras do autor, entender que estas produzem uma organização mais humanizada, envolvendo certo grau de responsabilidades e autonomia em nível de cargos e recursos de feedback.

De acordo com os dados produzidos pelo estudo, de forma geral, percebe-se que a organização apresenta características positivas que favorecem à QVT. Os achados permitem afirmar que há um grande equilíbrio entre os interesses individuais e organizacionais.

O estudo permitiu auferir ainda, que a precarização do trabalho, característica marcante da profissão e presente maciçamente em outros estudos envolvendo a categoria, e uma das principais razões para a promulgação da lei que regulamentou a profissão em 2012, não se fez presente neste estudo.

Os resultados contrários à maioria dos estudos realizados com esta categoria de trabalhadores podem ter sido influenciados pelo tipo de mercadoria que os participantes deste estudo transportam. O transporte de combustíveis é regulamentado por leis específicas que colocam o embarcador e o transportador como responsáveis solidários, principalmente, em casos de acidentes com danos ao meio ambiente.

Diante disso, os embarcadores estabelecem, controlam e fiscalizam as normas de transporte das suas mercadorias, fazendo com que a organização do trabalho seja regida pelas leis vigentes no país. Assim, entende-se que a escolha de uma empresa especializada em um único segmento de transporte pode ter sido uma limitação do estudo e sugestiona-se que novos estudos sejam elaborados com tema envolvendo trabalhadores de outros segmentos de transporte.

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1. Mestrando em Administração, Professor da Faculdade Campo Real em Guarapuava – PR, Brasil. e-mail: brunetti@ipiranga.com.br
2. Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Metodista de Piracicaba, Brasil, Professor Permanente do Programa de Pos Graduação em Administração da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro em Irati - PR., Brasil. e-mail: eriveltonlaat@hotmail.com


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 20) Año 2016

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