Espacios. Vol. 37 (Nº 19) Año 2016. Pág. 11

Cluster e desenvolvimento local: o caso da Cooperativa Veiling Holambra

Cluster and local development: the case of Cooperativa Veiling Holambra

Geani Moller CAVALLARO 1; Émerson Watanabe FURLANETI 2; Patricia Viveiros de Castro KRAKAUER 3

Recibido: 06/03/16 • Aprobado: 30/03/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Fundamentação teórica

3. Método de estudo

4. Análise do ambiente de estudo

5. Discussão e considerações finais

Referências


RESUMO:

Este artigo tem como escopo investigar a cooperação como elemento promotor de desenvolvimento local através da análise do caso da Cooperativa Veiling de Holambra. Trata-se de uma pesquisa exploratória, qualitativa, com estudo de caso único. Com a análise dos resultados observou-se que o modelo de negócio se mostrou viável e propulsor do desenvolvimento econômico da região, contudo, o grande desafio que se apresenta para os próximos anos é a sustentabilidade do modelo. Contribui com um entendimento teórico e prático sobre a relação de clusters com o desenvolvimento local, tema carente de investigações.
Palavras-chave: Cooperativa, Cluster, Desenvolvimento Econômico, Holambra.

ABSTRACT:

This article seeks to investigate the cooperation as a promoter element of local development by examining the case of Cooperativa Veiling Holambra. It is an exploratory research, qualitative, with a single case study. The analysis of the results showed that the business model proved to be viable and driver of economic development in the region, however, the great challenge in the coming years is the sustainability of the model. It contributes with a theoretical and practical understanding of the cluster relationship with local development, lacking the subject of investigations.
Key-Words: Cooperative, Cluster, Economic Development, Holambra

1. Introdução

A cidade de Holambra, no interior do estado de São Paulo é uma cidade relativamente jovem, com um pouco mais de 67 anos de existência. Teve sua origem em 1948 com a chegada dos imigrantes holandeses à Fazenda Ribeirão, logo após a Segunda Guerra Mundial.  Desde o seu início, a colônia holandesa estruturou-se em um modelo cooperativista.  Este modelo de negócio ganhou volume e, em alguns anos, tanto a cidade quanto o sistema de produção agrícola tinham uma importante fatia de sua receita vinda da cooperativa de flores de Holambra.

O sistema cooperativista é um modelo socioeconômico capaz de unir desenvolvimento econômico e bem-estar social.  Ele pode ou não ter uma configuração como a de um cluster, que se caracteriza por uma concentração geográfica de empresas atuando no mesmo segmento de negócios ou ainda correlatos, cujo crescimento depende de um processo contínuo de reforço. Muitos são os autores (Amato Neto, 2000; Porter, 1999a; Zaccarelli et al., 2008) que defendem a formação de redes organizacionais como uma vantagem competitiva para as empresas envolvidas ou mesmo para nações que os consideram como propulsor de sua economia.

As pesquisas sobre a temática avançam no sentido de compreender modelos que caracterizem os sistemas e suas características (Porter, 1999; Zaccarelli et al., 2008), ou mesmo o papel de tais particularidades para a obtenção de vantagens competitivas (Pereira & Carvalho, 2008) em comparação a empresas isoladas (Schmitz, 1992; Zaccarelli, 2004). Contudo, ao se analisar tanto a teoria sobre sistemas cooperativistas quanto a história de Holambra, percebe-se que uma lacuna carece de respostas, no que diz respeito a relação possível entre clusters e o desenvolvimento econômico da localidade.

O papel desempenhado pela Cooperativa Veiling de Holambra na formação do cluster, bem como, sua contribuição efetiva para o desenvolvimento econômico local são aspectos que norteiam o atual artigo. Um olhar mais crítico e minucioso sobre a cooperativa levanta questões quanto ao seu papel atual na cidade de Holambra e sua contribuição para o desenvolvimento econômico local, bem como, sua visão estratégica e ações quanto à manutenção de seu modelo de negócio de forma a continuar promovendo o desenvolvimento da localidade e a competitividade de seus cooperados.

O artigo traz uma abordagem histórica tanto do setor de flores quanto da cidade de Holambra, bem como uma análise da estrutura da cooperativa e seu direcionamento estratégico, objetivando investigar a cooperação como elemento promotor de desenvolvimento econômico local através da análise do caso da Cooperativa Veiling de Holambra.

O artigo se justifica pela atualidade do tema – cluster é uma temática considerada de fronteira, a despeito dos anos de estudo, por autores como Pereira e Carvalho (2008) e Zaccarelli et al. (2008) – e a importância que a Cooperativa Veiling Holambra tem para o contexto de nosso país. Contribui, portanto, tanto com a prática quanto com a teoria ao pretender avançar no entendimento de uma temática ainda carente de pesquisas.

2. Fundamentação teórica

Em se tratando de um estudo de caso que busca avaliar a cooperação como elemento promotor de desenvolvimento econômico local, buscou-se com a fundamentação teórica alicerces para a pesquisa de campo que será apresentada no item 4 do presente artigo. Os três pilares pesquisados que nortearam a pesquisa de campo foram: cooperação, cluster e desenvolvimento econômico.

2.1 Cooperativas e Clusters: aspectos gerais

Desde o início da civilização humana e da vida em sociedade o cooperar faz parte do homem, seja buscando a sobrevivência, no inicio das primeiras formações de vida em comunidade, ou ainda, buscando força para competir. Segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB, 2015, s.n.), que é o órgão responsável pelas cooperativas brasileiras, o cooperativismo é "um movimento, filosofia de vida e modelo socioeconômico capaz de unir desenvolvimento econômico e bem-estar social. Seus referenciais fundamentais são: participação democrática, solidariedade, independência e autonomia".

Para a OCB (2015) a cooperativa é um sistema, cujo objetivo é a reunião de pessoas com foco na necessidade do grupo e não o lucro. Busca-se a prosperidade pelo coletivo e não em âmbito individual.  Desta forma, caracteriza-se o cooperativismo como uma alternativa socioeconômica justa e de equilíbrio aos seus participantes, que se desenvolve independente de território, língua, credo ou nacionalidade.

A definição conceitual de cooperativismo pode ser apresentada segundo a Lei nº 5.764/71, que define a Política Nacional do Cooperativismo como "cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica própria, de natureza civil, não sujeitas à falência, constituída para prestar serviços aos associados". A mesma lei, em seu artigo 79 do capítulo XII define os atos cooperativos como sendo "os praticados entre as cooperativas e seus associados, entre estes e aqueles e pelas cooperativas entre si quando associados, para a consecução dos objetivos sociais", ou seja, todas as ações da cooperativa devem ter como objetivo fim o bem de seus cooperados e da sociedade em que estão inseridos (Takeshy, 2015).

Amato Neto (2000) entende que cooperar pode ser definido com um caminho inferido quanto às vantagens de se associar a uma cooperativa como fundamentais para a conquista de mercados e a obtenção de competências internas. Quanto à classificação das cooperativas, segundo Takeshy (2015), algumas são as possibilidades: de serviços comunitários, de consumo, de trabalho, de apropecuária e agroindústrias, de mineração, habitacionais, de produção, educacionais, de crédito, especiais. E as vantagens organizacionais trazidas pela cooperativa: eliminar a relação empregado/empregador; eliminar as figuras dos intermediários e atravessadores; a direção e a execução das atividades cooperadas são exercidas por seus associados; a representividade coletiva dos interesses e/ou necessidades de todos os associados; melhores negociações de preços, prazos e formas de pagamento; é possível formar feederações de cooperativas, com base na união de pequenas cooperativas; direitos igualitários a todos os sócios cooperados; permitem o desenvolvimento intelectual dos associados e de seus familiares (ibid.).

O modelo cooperativista pode estar relacionado ao modelo de cluster, que despontou na literatura na década de 90 com o livro The Competitive Advantage of Nations de Michel Porter. Em 1999, Porter aborda a temática em seu artigo para a revista HSM Management afirmando que o mapa econômico do mundo é dominado pelo que ele chamou de cluster, conceito para agrupamento de empresas na área da administração.  O autor define clusters como concentrações geográficas de empresas de determinado setor de atividade e empresas correlatas.  É a interdependência, articulação e vínculo destas empresas que resultam na interação, cooperação e aprendizado que levam o arranjo a se tornar competitivo (Porter, 1999).  Muito embora não exista um conceito de cluster universalmente considerado como definitivo, a concepção de Porter é seminal para o estudo do tema.

Segundo Silva (2014) as atividades econômicas estão imersas em redes sociais e organizacionais. Esta afirmativa leva ao questionamento quanto à existência dos modelos de concorrência perfeita da ciência econômica, uma vez que para o autor o mercado não se constitui de organizações isoladas, mas em aglomerados de empresas que formam uma estrutura social mais ou menos coerente.  Por esta perspectiva, poderia se afirmar que tanto a formação de um cluster quanto a de sistemas cooperativistas seriam sistemas que potencializariam o desenvolvimento econômico de uma região onde se fizessem presentes.                  

Um aspecto essencial para a existência de um cluster é a cooperação (Zaccarelli et al., 2008) e, portanto, sistemas cooperativistas, por sua natureza, podem em sua essência impulsionar a existência de arranjos com este perfil, por não ter o cluster um limite claramente definido, sendo para os autores (ibid.) um sistema vivo e ao mesmo tempo abstrato. 

As origens de um cluster trazem em sua constituição circunstâncias históricas, correlatas à necessidade local específica (Porter, 1999), o que torna o sistema de cooperação uma possibilidade para o seu surgimento e essencial para a sua manutenção. Segundo Amato Neto (2000) desde os anos 70 há uma mudança na organização industrial, cita como exemplo, a criação dos distritos industriais da chamada Terceira Itália, os sistemas produtivos locais na França, Alemanha e no Reino Unido, o Vale do Silício nos EUA ou as redes de empresas no Japão (keiretsu), Coréia (chaebol) e Taiwan (guanxi). Na América Latina, também há várias experiências que vêm surgindo no sentido da formação de aglomerações produtivas e de redes de cooperação de pequenas e médias empresas, sendo a que ocorre em Holambra um exemplo já discutido em trabalhos anteriores como os de D'Andrea e Francoso (2015), Pereira et al. (2004) e Zhang (2010).

Ainda segundo Amato Neto (2000) as aglomerações de empresas que atuam em uma específica cadeia produtiva, sejam por meio de clusters ou arranjos produtivos locais (APLs), motiva a pesquisa, formulação de políticas públicas e de que empresas trilhem o caminho em busca de modelos alternativos de desenvolvimento autossustentável. O autor (ibid.) enfatiza ainda que a cooperação possibilita acesso às tecnologias e reduz os custos de transação relativos ao processo de inovação, aumentando a eficiência econômica, o que efetivamente aumenta a competitividade em seus negócios.

Tanto Porter (1986) como Zaccarelli (1996) enfatizam a importância do reconhecimento de qualidade dos serviços e produtos pela percepção do cliente. Contudo, a análise proposta pela vantagem competitiva por meio de um cluster, vai além do fator cliente. Para Porter (1999) passa pela localização geográfica, o uso mais produtivo de insumos e a necessidade de inovação constante. Para o autor, o que acontece dentro da empresa é importante, mas os clusters mostram que o ambiente empresarial fora das empresas também é de vital importância.

Especificamente sobre competitividade, Porter (1990) observou que o fenômeno de clusters – presente em diversas regiões, em diferentes setores e tipos de tecnologia – é, muitas vezes, a principal fonte de vantagem competitiva de muitos países, em termos de competição internacional. A partir de então, muitos governos passaram a estimular esse tipo de agru­pamento, com intuito de promover os setores mais promissores.

2.2 O desenvolvimento econômico regional

O primeiro esclarecimento relevante ao abordar a temática do desenvolvimento econômico é estabelecer a diferença entre crescimento econômico e desenvolvimento econômico. Segundo Erber (2011) o crescimento econômico é mais do mesmo, enquanto que o desenvolvimento econômico implica em transformações estruturais.  Este formato propicia a distribuição de poder econômico e social, constituindo uma nova economia política. Assim, o desenvolvimento econômico promove mudança na distribuição do poder político, trazendo para o cenário os atores sociais.

Para Vieira (2012) o significado do conceito 'desenvolvimento' depende dos valores construídos ao longo da história da sociedade local, contudo, conserva no âmago a elevação do padrão de vida factível à maioria da população. Avaliando por esta perspectiva, crescimento econômico e desenvolvimento econômico são antagônicos, uma vez que objetivo do ultimo é mais do que o aumento de produtividade. Essa relação entre progresso econômico e desenvolvimento é abordada por Jaguaribe (1962:19) no trabalho de Vieira (2012): O desenvolvimento como ideia, se distingue e de certo modo se opõe à ideia ilustrada de progresso. O desenvolvimento, em termos conceituais, é a explicação de virtualização preexistente no processo histórico-social. Essas virtualizações são os modos de exercício da racionalidade. O processo do desenvolvimento, em termos reais, é o processo histórico-social mesmo enquanto se encaminhe para a sua crescente racionalização.

Da mesma forma que existe certa confusão de conceitos entre crescimento e desenvolvimento econômico, há também uma dificuldade na definição conceitual do que é desenvolvimento local. Conforme Martins (2002), a dificuldade decorre de posturas adversas ao entendimento e aceitação da proposta humanista, holística e ecológica, que está na essência deste conceito e para Oliveira (2001) reside na sociedade moderna que interpreta o conceito de acordo com as dimensões da cidadania e da vida cotidiana.

Desta forma, evidencia-se que o estudo sobre regiões contribui para a compreensão do desempenho da economia local, contudo, muitas vezes não é dada a devida importância no comportamento microeconômico das empresas e organização industrial (Silva, 2014).

Bresser Pereira (1992) ressalta a importância de um ambiente favorável para que as oportunidades econômicas existam e que certas condições institucionais são necessárias. As ações políticas e sociais são fundamentais para este ambiente, sendo que tais aspectos precisam ser traduzidos em termos de objetivos estratégicos, seja da cidade ou de instituições nela inseridas (Zhang, 2010).

 Conforme Martins (2002) o desenvolvimento local requer uma estratégia que seja coerente com os princípios e os pressupostos ecológicos e humanistas, uma vez que o planejamento local deve ter caráter humanístico em que as pessoas são responsáveis e instigadas a participar ativamente e não ficar apenas na posição de beneficiário do desenvolvimento econômico, o que traria prejuízo para o próprio sistema.

3. Método de estudo

A natureza da pesquisa é exploratória e sua abordagem qualitativa, pois busca compreender o fenomeno em estudo em profundidade, porporcionada pelo estudo de um caso relevante à luz das informações necessárias para elucidar o questionamento feito na introdução da hodierna pesquisa. Várias são as possibilidades de métodos para estudos qualitativos, sendo o estudo de caso uma delas (Flick, 2009; Gil, 2010/2012).

Destaca-se que o caso selecionado – Cooperativa Veiling de Holambra – foi considerado relevante pela observação de pesquisas anteriores (D'Andrea & Francoso, 2015; Pereira et al., 2004; Zhang, 2010)) que o pesquisavam em termos de cluster ou cooperação, além da cidade de Holambra ser um dos destaques na região do interior de São Paulo, aglomerando o maior número de produtores de flores, conforme pode ser percebido com a leitura do item 4 do presente artigo. Seguindo o preconizado por Mariotto et al. (2014) trata-se de um caso que justifica a sua unicidade.

A elaboração do estudo ocorreu em três fases consecutivas: levantamento bibliográfico, pesquisa documental através da investigação de dados públicos e pesquisa de campo, primando pela triangulação dos dados encontrados.

Para a execução da pesquisa de campo, seguiu-se o preconizado por Yin (2004), refletindo uma preocupação pela validade do constructo e pela confiabilidade, sendo:

  1. Procedimentos: 
    1. Escolha do entrevistado: realizado o convite para o diretor administrativo, que prontamente se dispôs a participar. Foi assinada, pelo entrevistado, declaração formal autorizando a divulgação da entrevista.
    2. Agendamento da visita a campo: a visita foi previamente agendada com a gestora de recursos humanos da empresa e com a secretária do diretor administrativo da cooperativa.
    3. Preparação prévia do entrevistador: o entrevistador foi previamente preparado, realizando pesquisa documental sobre a cooperativa, de forma a construir questões relevantes e pertinentes ao estudo.
  2. Protocolo e intrumento de pesquisa:
    1. Foi elaborado um protocolo para pesquisas qualitativas, de acordo com o modelo apresentado por Yin (2004), contendo dados referentes ao caso em estudo e a pesquisa de campo.
    2. Foi desenvolvido um roteiro para a entrevista em profundidade, com questões não estruturadas, referentes às atividades de gestão estratégica da Cooperativa Veiling Holambra.
  3. Plano de análise e relatórios do estudo de caso:
    1. Transcrição da entrevista realizada.
    2. Análise comparativa das informações coletadas in loco com as obtidas nos levantamentos bibliográficos e documental.

Os levantamentos bibliográficos e documentais foram realizados no período de junho/2015 a julho/2015 e a entrevista, com duração de mais de 1 hora, ocorreu em agosto de 2015. Utilizou, como instrumento, um roteiro desenvolvido à luz do levantamento bibliográfico e documental, foi gravada e autorizada pelo respondente atraves da assinatura de uma declaração formal. Contudo, seguindo a ética da pesquisa com seres humanos (CNS, 1996), resguardou-se o nome do entrevistado que não será mencionado no artigo.

4. Análise do ambiente de estudo

Neste item serão apresentados os dados levantados tanto com a pesquisa bibliográfica e documental quanto com a pesquisa de campo realizada, seguida pela discussão e considerações acerca da temática em estudo.

4.1 Aspectos históricos de formação da cidade de Holambra e seu sistema de produção de flores.

A fundação da cidade de Holambra é relativamente recente, são 67 anos de existência, iniciada em 1948 com a chegada dos imigrantes holandeses à Fazenda Ribeirão, logo após a Segunda Guerra Mundial.  Desde o começo, a colônia holandesa estruturou-se em um modelo cooperativista com a criação da Cooperativa Agropecuária Holambra (CAPH). As atividades iniciais da colônia estavam concentradas na pecuária e na produção de laticínios, mas em pouco tempo essas atividades se mostraram improdutivas na região e os imigrantes passaram para outros cultivos agrícolas.

Essa nova tentativa, sem sucesso dado ao solo infértil, levou a comunidade a passar por várias crises durante a década de 50.  Ao final daquela década a colônia experimentava um período mais calmo, com relativo sucesso econômico advindo da citricultura, criação de aves e floricultura. Esta última, embora pequena, passou a ser o principal motor da economia da colônia e foi peça-chave para o desenvolvimento da cidade e da região. A chegada de algumas famílias de imigrantes na região foi decisiva para o desenvolvimento da agricultura de flores e plantas ornamentais na colônia. Para Knaap (2014), com a chegada à colônia das famílias Gert e Piet de Wit, em 1956 e das famílias Jaap de Wit, Jan Bakker e Klaas Schoenmaker, em 1958 e 1959, respectivamente, o cultivo de flores ganhou um novo impulso.

Nos anos de 1970, Holambra já fornecia para mais de 200 clientes no Rio de Janeiro.  Em 1972 nascia um novo departamento na cooperativa, o Departamento de Floricultura, base para uma nova cooperação e que anos depois deu origem a Cooperativa Veiling de Holambra. Era composta por sete setores agrícolas: Frangos, Suínos, Bovinos, Aves, Culturas, Citrus e Flores e Plantas. Cada unidade era administrada por uma comissão, porém o Conselho de Administração tinha a palavra final. Em 1974 a cooperativa tinha sede própria e toda comercialização acontecia lá. O Departamento de Floricultura comercializava flores produzidas por seus cooperados, em regime de consignação. Para evitar a saturação de mercado foram também conferidas cotas individuais aos cultivadores. Em 1978 o número de produtores já havia aumentado para vinte e oito (Knaap, 2014).

Segundo dados do acervo de cultura de Holambra (Associação Cultural Brasil-Holambra, 2015), no início dos anos 80 o mercado de flores estava dividido em dois grupos:  o primeiro grupo atuava nas principais cidades por meio dos entrepostos do Ceasa e o segundo, conhecido como 'mercado de linhas', no qual cada linha era constituída por um caminhão, um vendedor e um motorista.  Na época eram mais de 100 linhas atuando em diversas regiões do país.

O gladíolo era a flor base que deu origem à floricultura em Holambra, sendo que nos anos 80 a produção anual de gladíolos já ultrapassava a marca de mais de 11 milhões e meio de dúzias produzidas (Knnap, 2014). Vale ressaltar que os produtores conheciam pouco sobre flores e a Cooperativa proporcionou treinamentos e contratou técnicos para os auxiliar. Este apoio foi decisivo para o desenvolvimento do setor, incentivando a construção de estufas e o cultivo de plantas em vaso. Ainda na década de 80, vários produtores e jovens holambrenses fizeram cursos e estágios na Holanda, principalmente para atuar no Verenigde Bloemenveiling Aalsmeer – em uma tradução literal, Leilões Unidos de Flores de Aalsmeer –, hoje o FloraHolland, maior centro de flores e plantas do mundo em Amsterdã. De acordo com Knaap (2014) o conhecimento avançado na área da floricultura e espírito empreendedor, deu aos novos imigrantes um estímulo valoroso à floricultura holambrense. Theo Breg, René Vernooy, Geraldo Barendse, Joost van Oene, Kees van Rooijen e Frans van der Weijer foram alguns desses jovens imigrantes.

A frustração, advinda de vendas ruins para o Dia das Mães em 1987, levaram ao cancelamento do sistema de cotas.  O departamento de flores da cooperativa não iria mais vender os produtos e os próprios floricultores ficaram responsáveis pela comercialização.  Era o início da privatização do sistema comercial.   A CAPH não concordou com esta determinação e acabou se retirando do departamento de Floricultura.  Tinha chegado ao fim o vínculo entre as duas cooperativas, relata Knaap (2014).

Os produtores se viram tendo que negociar seus produtos, e isso não era especialidade deles.  A concorrência entre os produtores era grande e nada saudável. Esta foi uma fase de transição entre 1987 e 1989. Foi um período difícil para todos os produtores.  Era evidente a necessidade de um sistema de vendas diferente. Neste período, um assunto já presente nas reuniões do grupo veio à tona, o de realizar um sistema de vendas por leilão – Veiling, em holandês. Vale destacar que diferente de um sistema ascendente de leilões, cuja origem é inglesa, este sistema é descendente, ou seja, o leiloeiro inicia com um valor em torno de 30% a 40% mais alto que o valor médio de mercado e vai decrescendo o valor.  A primeira pessoa a se manifestar arremata o lote. Este sistema é conhecido como leilão holandês.

O primeiro leilão ocorreu em 3 de abril de 1989, em uma segunda-feira. As maiorias dos produtos negociados foram da família Reijers, que na época detinha o monopólio da produção, e foi uma tática usada pelo grupo para atrair os clientes ao modelo de leilão.  O leilão foi um sucesso, agradando os produtores, compradores e a cooperativa.  Após o sucesso do primeiro leilão gradativamente os produtores foram aderindo ao sistema e os leilões passaram a ocorrer três vezes na semana.  A cada leilão aumentava também o número de clientes que participavam, afirma Knaap (2014). 

Ainda segundo Knaap (2014), outro aspecto muito importante de contribuição do leilão foi o pagamento à vista, que permitia ao produtor não ter grandes perdas decorrentes de uma inflação que, na época, chegada a 25% ao mês. Já para o cliente, a vantagem estava em ter toda a produção entregue em um só local garantindo transparência e confiabilidade, bem como, as mesmas condições comerciais para todos. O sistema de leilões permitiu o crescimento e desenvolvimento dos produtores locais.  Em seu primeiro ano de existência o faturamento dos produtores aumentou em 50%.

O processo de leilão passou por constantes atualizações e em 1991 o sistema mudou de analógico para digital, o que levou a reformulação das tribunas e a implantação oficial da Unidade de Negócios Veiling dentro da CAPH.

Em suas pesquisas Knaap (2014) aponta que a década de 90 foi marcada por um crescimento constante da nova unidade de negócios. Adesão de novos sócios, desenvolvimento da produção, adesão de novos clientes, expansão de mercado.  As oportunidades de crédito oferecidas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDS), também impulsionaram os investimentos na produção.  Estufas e novas tecnologias possibilitaram melhorias na produção, qualidade e aumento na diversidade de produtos oferecidos. A estabilidade econômica advinda do Plano Real em 1994, que ampliou o poder de compra do consumidor, pondo fim à inflação, foi um fator importante também para o desenvolvimento do setor.

A comercialização dos produtos via leilão não estava se mostrando suficiente para atender a demanda de alguns clientes atacadistas que buscavam os produtores a fim de garantir o fornecimento e o preço dos produtos, principalmente em períodos de pico.  Para atender a esta demanda, em 1994 o Veiling criou o sistema de vendas denominado 'Intermediação', que nada mais era do que a mediação de negócios entre produtores e clientes.  Este sistema atuava no fechamento de contratos de fornecimento de curto, médio e longo prazo, com quantidades e preços preestabelecidos; operava como um 'facilitador' para o fechamento de negócios entre o produtor e o cliente. Este processo permitiu aos produtores também calcular com antecedência a compra de sementes, mudas, bulbos e insumos.

De acordo com Knaap (2014), no final dos anos 90, a CAPH passou por uma reestruturação inevitável, avaliando a viabilidade e o potencial de cada unidade de negócio e a partir da cooperativa matriz, CAPH, foram formadas três novas cooperativas:  Cooperativa Veiling de Holambra (CVH), Cooperativa Agropecuária de Insumos Holambra e a Cooperativa Pecuária de Holambra.

Devido a questões legais, a Cooperativa Veiling de Holambra teve sua formação oficializada em 12 de junho de 2001.  Um grupo de produtores também se desvinculou e formou a Cooperflora, em 1999.  Na ocasião a saída desses produtores de rosas representou uma queda de 15% no faturamento total da cooperativa. No entanto, a recuperação foi rápida, principalmente em função do crescente desempenho do setor. Estimulados pelo crescimento do setor e pela prefeitura, outro grupo de pequenos produtores se reuniu e em 2003 formou a Cooperplantas.

Em 2001 a CVH adquiriu um terreno a 6 km do centro de Holambra para instalar sua nova sede, dada à necessidade de ampliação e modernização da estrutura existente. Fatores como estrutura do terreno, possibilidades de ampliação, rodovias e logística foram consideradas para a aquisição.  Em 2004 foi lançada a pedra fundamental para a construção e cinco anos depois o complexo da Cooperativa Veiling Holambra estava totalmente concluído.

O Veiling Holambra é atualmente o maior centro de comercialização de flores e plantas ornamentais da America Latina e ocupa o quinto lugar no ranking mundial de veilings devido ao volume de produtos comercializados.  São mais de 10 mil transações comerciais realizados nos dias de maior movimento, com 300 produtores e uma variedade de 3.500 flores e plantas ornamentais.  Atende cerca de 600 clientes diretos que representam grande parte da demanda do mercado nacional, recebendo em média 300 clientes por dia para seus leilões, funcionando 52 semanas por ano, 6 dias por semana, é considerado um modelo de gestão financeiramente saudável e em constante crescimento, sendo uma prova do sucesso do modelo cooperativista (Knnap, 2014; Portal Holambra, 2015).

4.2 O setor de flores e a Cooperativa Veiling Holambra (CVH)

A despeito do seu tamanho e importância no contexto regional e ncional, a Cooperativa Veiling Holambra demonstra em sua misão a preocupação com o seu produtor, a comercialização justa de seus produtos, bem como, a qualidade ofertada de seus produtos e serviços, além do foco na inovação e pesquisa, como é possível observar na declaração de sua visão: "Ser o melhor centro de comercialização de flores e plantas do Brasil, buscando constantemente inovação, eficiência, solidez e conhecimento em produtos e serviços" (CVH, 2014, s.n).

Ainda segundo a Cooperativa Veiling Holambra (CVH, 2014) sua declaração de valores norteiam as ações de seus cooperados, gestores e colaboradores, a saber: (i) ter relacionamentos honestos, éticos e transparentes com pessoas e nos negócios, respeitando as leis vigentes; (ii) servir os interesses coletivos como rege o espírito cooperativista; (iii) tratar todos os cliente/vendedores/compradores/colaboradores com atenção e respeito; (iv) colaborar com o desenvolvimento da região e do setor de flores e plantas como um todo; (v) cultivar a integração entre os sócios, colaboradores e clientes, respeitando as diferenças culturais; (vi) valorizar o ser humano tratando os próximos como nós queremos ser tratados; (vii) apoioar e incentivar o desenvolvimento profissional dos colaboradores, fornecedores e compradores; (viii) ter respeito, empatia e abertura para diferentes opiniões; (ix) ter abertura para compartilhar experiências profissionais; e (x) cuidar da natureza para assegurar o bem-estar das futuras gerações.

Quanto a sua configuração como cooperativa, é definida como uma cooperativa singular como ressalta o artigo 7º da Lei do Sistema Cooperativista no Brasil: "As cooperativas singulares se caracterizam pela prestação direta de serviços aos associados" (BRASIL, 1971: art.7º). Atualmente possui 386 cooperados, divididos por região (Quadro 1), tendo em Holambra a sua maior concentração:

 

Região

Total de Produtores

Minicípios

Holambra

300

Holambra/ S.A.Posse/ Mogi Mirim/ Serra Negra/ Artur Nogueira/Cosmópolis/ Itapira/ E.S.Pinhal/ Casa Branca

Munhóz

32

Munhóz / Senador Amaral/ Itapeva / Toledo

Atibaia

24

Atibaia/ Bragança Paulista/ Bom Jesus dos Perdões/ Tuiuti / Vargem

Andradas

31

Andradas/Caldas/ Jacutinga/ Ouro Fino/ S.A. do Jardim

Ibiuna

23

Ibiúna/ S. Miguel Arcanjo/ Piedade/ São Roque/ Pilar do Sul / Vargem Grande Paulista/ Paranapanema

Campinas

21

Campinas/ Monte Mor/ Amparo/ Paulínia /Jaguariúna

Guararema

18

Guararema/ Santo Antônio do Pinhal / Jacareí/ Mogi das Cruzes

São Paulo e Anhanguera

14

Araras/ Araçoiaba da Serra/ Limeira/ Pirassununga/ Salto/ São Paulo/ Itupeva / Várzea Paulista

Outros

28

Ubajara e Fortaleza (CE) / Araxá (MG)

Quadro 1. Distribuição Social por Região
Fonte: elaborado a partir de CVH (2014)
Nota: Alguns produtores estão em mais de um município e estado

Observa-se que muito embora a cooperativa tenha cooperados de outras regiões e até estado, São Paulo concentra a maior parte dos produtores, tendo a região de Holambra em destaque.

O modelo de gestão da Veiling Holambra está estruturado a partir de seus projetos diretrizes e eixos que darão o direcionamento do seu planejamento estratégico de 2018. Os eixos estratégicos estabelecidos são: sustentabilidade, crescimento, eficiência, inovação, fortalecimento da cooperativa e foco no mercado conforme o relatório de Planejamento Estratégico da Cooperativa Veiling Holambra para 2018, disponibilizado pelo executivo entrevistado e considerado como corpus da pesquisa.

Segundo o executivo entrevistado, o conceito cooperativista do modelo de negócio na região de Holambra sofreu forte influência dos imigrantes holandeses.  Ele reconhece que houve muitos avanços, não só na cooperativa como na cidade de Holambra e região circunvizinha, evidenciada por toda a rede de insumos que se formou em torno dos agricultores de flores e plantas ornamentais.

Tal percepção pode ser corroborada pelos dados apresentados pelo Instituto Brasileiro de Floricultura (IBRAFLOR) acerca do setor de flores de um modo geral que conta com 8.249 produtores de flores, é responsável por 215.818 empregos diretos e gera um faturamento de R$ 5,7bilhões em 2014, com previsão de aumento de cerca de 8% para 2015 (IBRAFLOR, 2015), demonstrando que o mercado de flores é uma importante engrenagem na economia brasileira.

Uma das dificuldades apontadas tanto pelo entrevistado quanto na pesquisa de Kiyuna et al. (2002) e percebida nos relatórios da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE, 2015) é a inexistência de dados bem estabelecidos, recentes e detalhados, visto o setor carecer de pesquisa atual. Além disso, destacam também questões relacionadas à profissionalização dos produtores e de mão de obra especializada. O executivo destaca a eminente necessidade de investimento em instituições de ensino locais em cursos específicos.

Especificamente sobre a existência de um cluster de flores em Holambra, o executivo entrevistado esclarece que, em sua opinião, ainda há um caminho para que se possa afirmar que há a formação de um cluster ou mesmo um arranjo produtivo local (APL). Justifica tal posicionamento pelo comparativo com o sistema de cooperativa de flores na Holanda, a FloraHoland.  Na Holanda o processo de união de produtores em cooperativa já é estudado há 125 anos. Este modelo de negócio é muito forte no país, não apenas para flores, mas também agricultura, avicultura, horticultura. O executivo relata que o relógio, principal ferramenta no sistema de leilão da cooperativa, no início foi criado para verduras, depois frutas e só depois flores e peixes. Já no Brasil, a sua percepção é a de que a cooperativa de flores é um facilitador do processo de vendas, uma vez que possui poder de negociação junto aos supermercados e atacadistas, fornece apoio de marketing, embalagens, comercial, além do centro técnico de testes. São aspectos que atrai o produtor, aliado ao fato do risco financeiro do negócio se concentrar na cooperativa, uma vez que o produtor associado deve, obrigatoriamente, entregar 100% de sua produção para a cooperativa.

Dessa forma, atualmente a integração entre os produtores cooperados é limitada. No passado eles precisavam sobreviver e a integração era maior, porém hoje, eles percebem o player como concorrente. O entrevistado relata ainda que quando há um grau de parentesco ou amizade eles trocam experiências entre si, mas são poucos, apesar de existem produtores muito qualificados – que produzem lírios, rosa de corte, e outros produtos – e altamente especializados.

Outro aspecto importante apresentado pelo executivo é a importância em se manter um padrão de qualidade padronizado.  Alguns produtores já alcançaram esta padronização enquanto outros ainda precisam avançar neste sentido.

Há que se ressaltar que nem todos os produtores de planta ornamentais e flores são cooperados do Veiling Holambra e que há outra cooperativa, a Cooperflora, que surgiu na década de 90 com a separação da cooperativa agrícula do início da colonização. Hoje, a Cooperflora possui 40 cooperados, quase todos da mesma família ou que mantém relação com a família fundadora.

Quando questionado sobre possíveis cooperativas concorrentes no Brasil, o executivo esclarece que não há nenhuma cooperativa de flores no Brasil com a capacidade de negócios e número de associados como o Veiling Holambra.  Tal fato advém da própria cultura do holandes, enraizado em Holambra, que se sente confortável em entregar 100% de sua produção à cooperativa. Já em outros países, como Estados Unidos, Nova Zelândia, Africa do Sul, Canadá, China e Japão existem algumas cooperativas, mas que também esbarram na questão da entrega total da produção.

 Sobre o desenvolvimento local proporcionado pelo setor de flores, o executivo entrevistado afirma perceber uma boa relação com vereadores e prefeito no sentido de estimular ações que favoreçam tal desenvolvimento, contudo, acredita que muito mais poderia estar sendo feito se houvesse um maior planejamento e integração entre institutos, empresas e governo. Como exemplo, relata que não há apoio do Departamento de Estradas e Rodagem (DER), forçando o produtor a escoar sua produção até a cooperativa por estradas de terra em péssimas condições, o que não favorece o desenvolvimento da localidade.

Sobre o olhar para o futuro da cooperativa o executivo destaca os seis eixos estratégicos traçados pela cooperativa para o ano de 2018, destacando que a cooperativa precisa acompanhar o crescimento dos sócios com eficiência e sustentabilidade, mantendo o foco no cliente e mercado para se manter fortalecida. Informou ainda que estão mapeando todos os processos e a sustentabilidade é um tema que despontou como fundamental ao processo estratégico futuro.

5. Discussão e considerações finais

A história de Holambra, iniciada em 1948 com a chegada dos imigrantes holandeses à Fazenda Ribeirão, teve como marco o modelo cooperativista, já na chegada a região foi criada a Cooperativa Agropecuária Holambra. Inicialmente as atividades iniciais da colônia estavam concentradas na pecuária e na produção de laticínios, mas em pouco tempo estas atividades se mostraram improdutivas na região e os imigrantes passaram para outros cultivos agrícolas, entre eles, o cultivo de flores e plantas ornamentais.

Gradativamente a produção de flores e plantas foi crescendo e ganhando espaço na região.  Após 67 anos de existência a cidade de Holambra se tornou uma referência no cultivo e venda de flores e plantas ornamentais. Muitos elementos deste sistema de produção e vendas apontam para a configuração de um cluster, como a concentração geográfica de produtores de determinado setor de atividade e empresas correlatas com interação, cooperação e aprendizado que levam o arranjo a se tornar competitivo, características mencionadas nos trabalhos de Porter (1990) e Zaccarelli et al. (2008).  Outro elemento que corrobora para a definição da região de Holambra quanto a um cluster são as circunstâncias históricas, que levaram à grande concentração na produção de flores e plantas. Porter (1990) afirma que o crescimento de um cluster é promovido, desde seu nascimento, por um processo contínuo de reforço, neste sentido, a Cooperativa Veiling foi fundamental para o desenvolvimento econômico da região.

O objeto de estudo deste artigo ratifica as afirmativas apontadas por diversos autores quanto à importância do cluster e do modelo cooperativista ao evidenciar que o fator principal de crescimento e desenvolvimento da região esteve por muito tempo centrada nas atividades desenvolvidas na cooperativa. 

Neste sentido observa-se que a cooperativa foi o elo integrador da cadeia de produção, possibilitando acesso às tecnologias e reduzindo os custos de transação relativos ao processo de inovação, aumentado a sua competitividade. Cooperar pode ser definido com um caminho inferido quanto às vantagens de se associar a uma cooperativa como fundamentais para a conquista de mercados e a obtenção de competências internas.  Não há dúvidas quanto ao papel da cooperativa neste sentido.

A contribuição que o Veiling Holambra trouxe aos seus cooperados, hoje mais de 380 produtores, como condições de eliminar as figuras dos intermediários e atravessadores de forma a obter melhores negociações de preços, bem como, direito igualitários a todos os seus cooperados e qualidade em todo o processo também permitiu que a cooperativa se mostrasse competitiva ao longo dos anos.

Deve-se também mencionar o fator cultural envolvido no caso em estudo, mencionado pelo entrevistado. Percebeu-se que a história da cooperativa se mistura com a da cidade de Holambra, uma vez que a sua formação inicial foi essencialmente de imigrantes holandeses, cuja cultura cooperativista possibilitou o crescimento e desenvolvimento da própria cooperativa e, por conseguinte, contribuiu também para o desenvolvimento econômico local.

O estudo também aponta que o desafio para esta região está na manutenção da unicidade dos negócios, atualização tecnológica constante, treinamento especializado e inovação para a manutenção das vantagens competitivas em um mercado cada vez mais complexo e competitivo.

É inegável a contribuição da Cooperativa Veiling Holambra para o crescimento e desenvolvimento da cidade de Holambra, bem como o papel que desempenha na relação produtor-cliente. A cooperativa está se reinventando, focada nas necessidades de seus cooperados, mantendo sua contribuição efetiva para o desenvolvimento local e da região. Fica evidente que não é possível esgotar o tema dada a amplitude que tal problemática apresenta, contudo, o artigo contribui com aspectos importantes quanto à formação do cluster de Holambra, a criação da cooperativa de flores, a efetiva participação da imigração holandesa neste processo, bem como, sua contribuição para o desenvolvimento local.

Contudo, por ser um estudo de natureza exploratória com abordagem qualitativa, carece de estudos futuros para a sua conclusão, sendo sugeridos estudos qualitativos com empresários locais e cooperados, de forma a ter uma percepção generalista sobre a problemática em estudo, bem como, o levantamento quantitativo de indicadores relacionados ao desenvolvimento local.

Limitações também foram percebidas no decorrer do estudo e deve-se citar que algumas referem-se às opções metodológicas feitas – como a generalização de dados – e outras dizem respeito à pesquisa de campo, que se limitou a entrevistar o principal executivo da Cooperativa. Apesar da relevância do entrevistado para o contexto pesquisado, a inclusão de outros entrevistados pode trazer uma visão diferenciada para o objeto em estudo.

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1. Mestranda da Faculdade do Campo Limpo Paulista. Docente da Faculdades Integradas Metropolitanas de Campinas (METROCAMP). Email: gmollercavallaro@gmail.com
2. Mestrando da Faculdade do Campo Limpo Paulista. Email: emersonhelena.2014@gmail.com
3. Docente-Pesquisadora da Faculdade do Campo Limpo Paulista (FACCAMP). Doutora em Administração pela Faculdade de economia, Administração e Contabilidade da USP. Email: patricia.krakauer@faccamp.br


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 19) Año 2016

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