Espacios. Vol. 37 (Nº 18) Año 2016. Pág. 14

Processo de indução do desenvolvimento econômico no município de Passo Fundo/RS: uma análise a partir da ótica dos Ecossistemas de Negócios

Process of induction of the economic development the Passo Fundo country in Rio Grande do Sul: an analysis from the point of view of the Bussines Ecosystems

Lissandra Andréa TOMASZEWSKI 1; Daniel Pacheco LACERDA 2; Aline DRESCH 3; José Antônio Valle ANTUNES 4

Recibido: 02/03/16 • Aprobado: 12/04/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Desenvolvimento Regional

3. Ecossistemas de Negócios

4. Procedimentos Metodológicos

5. Análise dos resultados

6. Conclusões

Referências


RESUMO:

Para compreender o processo de indução do desenvolvimento regional, esta pesquisa procurou analisar o município de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, sob outra ótica, para além dos aglomerados ou Arranjos Produtivos Locais. Assim, este estudo analisou o processo de indução a partir da ótica dos Ecossistemas de Negócios. O estudo consiste em uma pesquisa exploratória de natureza qualitativa que inclui levantamentos bibliográficos, documentais e entrevistas em profundidade. O método de pesquisa utilizado foi o Estudo de Caso único. Os resultados obtidos evidenciam a significante relação do processo de desenvolvimento econômico de Passo Fundo com o conceito de Ecossistemas de Negócios. Corrobora-se, assim, a possibilidade de utilização do conceito em futuras análises e tomadas de decisões, tanto para gestores de empresas privadas quanto para as esferas governamentais, a fim de promover o desenvolvimento econômico de uma região/município.
Palavras-chave: Desenvolvimento Econômico. Desenvolvimento Regional. Ecossistemas de Negócios.

ABSTRACT:

To comprehend the process of induction of the regional development this research decided to analyze the Passo Fundo country in Rio Grande do Sul on a different perspective, beyond the aglomerates or local production agreements. Therefore, this study analyzed the induction process from the point of view of the Bussines Ecosystems. The study consists in an exploratory research with a qualitative nature that includes bibiolgraphy research, documentaries and deep interviews. The research method used was the single case study. The results obtained show the significant relation of the economical development of Passo Fundo with the concept of Bussines Ecosystem. Therefore it is confirmed the possibility to use the concept in future analysis and decision making by managers in the private sector as well as the government level in order to promote the economical development in a region.
Keywords: Economic Development. Regional Development. Business Ecosystem.

1. Introdução

As teorias relacionadas ao desenvolvimento regional sofreram mudanças a partir dos anos 90. Isso ocorreu devido a aspectos como globalização, flexibilização, descentralização interna e externamente às organizações e, também, devido à "emergência de regiões portadoras de novos paradigmas industriais" (Amaral Filho, 2001:261). Ademais, Ultramari e Duarte (2011) afirmam que na década de 90 a globalização se tornou mais evidente e, por isso, o entendimento acerca das particularidades dos municípios precisou ser alterada e aprimorada.

De acordo com Ultramari e Duarte (2011:43) "[...] uma região se desenvolve e organiza-se em torno de um centro de concentração das atividades econômicas". No entanto, a formação de aglomerações que não possuem interações com empresas devem ser impedidas por estratégias de desenvolvimento de uma região, sejam elas administrativas, econômicas ou políticas (Ultramari e Duarte, 2011). Sem interação, não há compartilhamento de visões, pesquisa, planejamento, cooperação, entre outros, isto é, não há desenvolvimento. Portanto, o desenvolvimento e a implantação de projetos econômicos que viabilizem a interação e coordenação de agentes entre empresas são considerados essenciais para o sucesso da cadeia produtiva de uma região (Amaral Filho, 2001).

Procurando estabelecer uma dialética do desenvolvimento regional, em termos gerais, pode-se partir de um sistema que apresenta prováveis conflitos para o desenvolvimento econômico e social de uma região (objetivo comum da Figura 1, em negrito). Para estruturar as posições antagônicas se utilizou o Diagrama de Conflito da Teoria das Restrições (Cox & Scheleir, 2010). Um Diagrama de Conflito estabelece soluções, supostamente, conflitantes para um mesmo objetivo comum. Essas soluções conflitantes são suportadas por um conjunto de pressupostos não verbalizados (Cox & Scheleir, 2010).

Por um lado, como estratégias de desenvolvimento têm-se o fortalecimento das empresas locais, fomentando os Arranjos Produtivos Locais (APLs) (nuvens superiores da Figura 1). Por outro lado, há a atração e o incentivo a grandes empresas, tanto nacionais quanto internacionais, resultando em retenção de impostos, principalmente devido às exportações (nuvens inferiores da Figura 1).

Assim sendo, pode haver o favorecimento do fortalecimento das Pequenas e Médias Empresas (PMEs), fazendo vigorar a economia da região/município como um todo. A Figura 1, além de apresentar esse conflito na ação de fomentar os APLs ou as grandes empresas, explicita alguns pressupostos (quadros abaloados nas bordas) que podem, eventualmente, moldar e induzir à tomada de decisão dos gestores.

Figura 1 - Diagrama de Conflito para o Desenvolvimento Regional

Fonte: Autores.

A partir das limitações encontradas nos conceitos de APLs, tais como foco apenas em PMEs, os Ecossistemas de Negócios podem ser uma alternativa para compreender as organizações de uma região e fomentar o seu crescimento. "[...] numa economia em constante mudança, é menos importante aquilo que você faz do que como suas capacidades se relacionam com aquilo que os outros estão fazendo" (Moore, 1996:21). Entretanto, a capacidade de uma região em que há recursos disponíveis para o desenvolvimento econômico pode se fortalecer diante da interação entre as empresas, ou seja, a partir do fomento de uma grande empresa que possui conhecimento e tecnologia, no intuito de produzir o que realmente o mercado necessita.

Tavares (2011) aponta que uma das formas de política de desenvolvimento do país é uma cadeia produtiva na qual exista a liderança de uma grande empresa atuando em redes junto às PMEs. A liderança da organização âncora de grande porte na cadeia produtiva é considerada essencial para a política de desenvolvimento regional. Assim, empresas de diferentes setores, formadoras de interesses estratégicos comuns, em torno de um líder, compartilham projetos e padrões tecnológicos (Tavares, 2011).

No município de Passo Fundo/RS, onde o presente estudo foi conduzido, grandes empresas se instalaram e estão criando oportunidade para outras organizações fazerem parte de sua cadeia produtiva. As políticas de desenvolvimento regionais, ao prover recursos para alavancar a economia, contribuem tanto para o crescimento de empresas locais quanto regionais, além de estimular que novas empresas se instalem no município. Isso se torna um ciclo, no qual todos os setores são beneficiados e fortalecidos pela eficiência local na produção de produtos e serviços, resultando em possibilidades de crescimento de toda a região.

Esse pode ser considerado um dos diferenciais das características dos Ecossistemas de Negócios em relação aos APLs. Em um arranjo como o APL, não há visão de uma empresa âncora que planeje, oriente e se integre com outras empresas menores a fim de crescerem juntas economicamente. Além disso, ao que se percebe, o foco do governo atual é fortalecer as PMEs e não as grandes empresas, que poderiam, por sua vez, fortalecer o fomento às PMEs. Isto se corrobora a partir de Gomes, Alves e Fernandes (2013), que dizem não haver foco nos programas de políticas públicas no Brasil. No entanto, desde o estabelecimento do Estatuto das Micro e Pequenas empresas e da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior do Governo Federal (PITCE) de 2003, observa-se que a maioria dos programas está focada nos APLs.

Tendo em vista este contexto, o objetivo central deste estudo é analisar o processo de indução do desenvolvimento econômico do município de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul (RS), a partir da ótica dos Ecossistemas de Negócios. Desse modo, será possível identificar as relações entre os Ecossistemas de Negócios e o processo de desenvolvimento econômico. Principalmente, busca-se avaliar o conceito de Ecossistema de Negócios como uma lente teórica para compreender a lógica do desenvolvimento regional e identificar suas possíveis contribuições a esse campo de estudo.

Além disso, esta pesquisa apresenta, principalmente aos gestores públicos e privados, a possibilidade de uma tomada de decisão mais assertiva, partindo de uma visão que considera o conceito de Ecossistemas de Negócios. A adequada compreensão deste conceito poderá incentivar, inclusive, outros municípios a mimetizarem o processo de desenvolvimento de Passo Fundo ao se expandirem economicamente. Esta expansão econômica poderá contribuir para a qualidade de vida da população, tanto do próprio município quanto da região.

Nas próximas seções serão abordados os conceitos teóricos pertinentes ao objetivo da pesquisa. Tais conceitos são o desenvolvimento regional, as formas de organizações, as análises da região, as políticas de desenvolvimento regional, além dos Ecossistemas de Negócios. Em seguida serão apresentados os procedimentos metodológicos utilizados. Posteriormente, os principais resultados encontrados e, por fim, as conclusões da pesquisa.

2. Desenvolvimento Regional

As políticas de desenvolvimento regional contribuem para a qualidade de vida das populações, pois colaboram para a geração de renda e emprego. Uma das ações que motiva esse desenvolvimento é o apoio a programas regionais, tal como o incentivo ao programa dos APLs pela Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR), sendo a implementação desta uma das principais mudanças ocorridas no Brasil (Lima, 2008). A PNDR tem como principais objetivos a redução das desigualdades e a potencialização do desenvolvimento das regiões no país. Diante disso, provê condições para o desenvolvimento, tais como infraestrutura, tecnologia, melhoria de qualidade de vida, capacitação dos recursos humanos, além de fortalecer o potencial das organizações produtivas regionais.

De acordo com Diniz (2001:1) "O processo de globalização e as mudanças tecnológicas e estruturais mudaram a natureza e as condições de desenvolvimento local. As localidades devem ser vistas como espaços ativos dotados de cultura, história, recursos humanos e materiais diferenciados". O desenvolvimento local tem relação direta com as competências de estruturação e mobilização da sociedade local, e com o conhecimento e a informação inseridos como essenciais na competitividade sistêmica (Buarque, 1999). Como afirma Porter (1993:20) "A vantagem competitiva é criada e mantida por meio de um processo altamente localizado [...] de modo que a localização das indústrias se difunde mundialmente". Além disso, a questão das localidades tem relevância nas novas teorias do crescimento e do comércio internacional, intensificando o interesse pela geografia econômica (Porter, 2009).

Guimarães Neto (1995) afirma que foi por meio de políticas setoriais, direcionadas à agricultura e exportação, que se iniciou o desenvolvimento das regiões no RS. Abdala e Santos (2007), a seu turno, explanam que a agricultura familiar, apesar de não ser tão relevante para as políticas públicas, se destaca pela contribuição na economia e no desenvolvimento social do Brasil. Lins (2005:10) acrescenta a concentração espacial de tarefas produtivas, tanto nacionais quanto internacionais, como "importantes no crescimento econômico, na geração de empregos, na contribuição para uma melhor distribuição de renda e ainda na orientação de políticas públicas".

2.1. Formatos de Organizações Produtivas

Formatos organizacionais que provoquem interação dos mais variados agentes que se articulem em redes, arranjos e sistemas produtivos e inovativos se consolidam como os mais adequados para promover a aquisição, geração e difusão de conhecimento e inovações. A competitividade de empresas torna-se, cada vez mais, relacionada com a amplitude das redes de que participam (Cassiolato e Lastres, 2003). De acordo com Balestro et al. (2003), uma rede é composta por um conjunto ou grupo de organizações interconectadas por relações bem definidas, sejam elas de um mesmo setor ou situadas ao longo de uma cadeia produtiva.

Dessa forma surgiram, a partir do processo de desconcentração das atividades econômicas, novos centros econômicos regionais, dentre eles municípios de médio porte e os potenciais de cada região ou local (Souza e Lima, 2010). Diniz (2001) aponta que as aglomerações nascem da necessidade de redução de custos e do aumento das relações interfirmas, quando se tornam importantes a proximidade, a cooperação e a confiança entre os agentes. Lastres e Cassiolato (2003a) acrescentam que eles podem ser produtivos, científicos, tecnológicos e inovativos, podendo haver proximidade de agentes econômicos, políticos e sociais (outras empresas e organizações públicas e privadas). Tem-se como vantagem a proximidade geográfica dos agentes, facilitando as interações e a troca de informações.

O desenvolvimento de aglomerações pode ser apresentado em três momentos, a saber: i) aglomeração; ii) APL, após constituído; e iii) Sistema Local de Produção (SLP), após o surgimento da coordenação (Paiva, 2013). Ao longo do tempo, foram desenvolvidos termos com características específicas, com o intuito de esclarecer pontos que fornecessem aporte à tomada de decisões do governo.

Amato Neto (2009) define o conceito de Sistema Local de Inovação e Produção (SLIP) como sendo a convergência de aglomerados, conhecimentos e governo local. Propõe um sistema de indicadores, a fim de auxiliar na tomada de decisão dos gestores desses aglomerados produtivos. Porém, tal visão é possível somente quando esses aglomerados estão devidamente consolidados. Uma observação relevante é que os indicadores de Amato Neto (2009) não são aplicáveis para um local em que não há empresas consolidadas.

O termo atual utilizado pelo Estado do Rio Grande do Sul para definir os locais para os quais são destinados os recursos de desenvolvimento econômico é APLs. A Figura 2 apresenta uma síntese desses termos, assim como sua trajetória. As linhas pontilhadas apresentam termos similares.

Figura 2- Síntese determos utilizados para aglomerações de empresas

Fonte: Autores.

Pode-se observar que houve, após o surgimento do termo APL, outros termos relacionados a aglomerações de empresas, porém o termo utilizado em políticas públicas costuma ser APL. De acordo com a definição proposta pela Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais - RedeSist, APLs são:

[...] aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais - com foco em um conjunto específico de atividades econômicas - que apresentam vínculos mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participação e a interação de empresas - que podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços finais, comercializadoras, clientes, entre outros - e suas variadas formas de representação e associação. Incluem também diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos humanos (como escolas técnicas e universidades); pesquisa; desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento (Lastres e Cassiolato, 2003b:3).

Para Porter (1998), clusters são consideradas concentrações geográficas de empresas e instituições em um determinado local. Englobam indústrias, fornecedores, serviços, instituições governamentais, universidades, prestadores de formação profissional, associações comerciais, entre outros. Um arranjo produtivo é o agrupamento de PMEs e outras instituições em torno de um negócio (Caporale e Volker, 2004). Zanin, Costa e Feix (2013), apontam que o apoio às economias de aglomeração pode fornecer vantagens competitivas, resultando em desempenhos favoráveis ao desenvolvimento das regiões.

2.2 Análise Regional

Segundo Diniz (2001), em regiões que possuem universidades e instituições de pesquisa, há o fortalecimento da rede de serviços, em função do aumento da concentração de pessoas e, consequentemente, da produção e renda regional. Apesar de haver acirradas competições entre as organizações, as interações tornam as mudanças no mercado e em tecnologias conhecidas por todos.

Outro ponto a ser considerado é a infraestrutura social, ou seja, as condições de vida, tais como moradia, saneamento básico, áreas de saúde e lazer, fatores que tornam o local atrativo para novos empresários e trabalhadores. A adequação de infraestruturas econômicas e sociais em novos espaços produtivos relevantes e fundamentais para o desenvolvimento das regiões com o intuito de aumento de produtividade (Costa, 2010).

Ao reduzir a distância entre as empresas, há a facilidade da troca de informações, de aprendizados e de inovações (Diniz, 2001). Além disso, a capacidade de aprendizado e inovação é uma das vantagens competitivas que uma região ou um local pode ter (Porter, 1991). Porter (2004) acrescenta, ainda, que para uma empresa ser produtiva é necessário que tenha fornecedores, prestadores de serviços e pessoal capacitado localmente.

Para Ultramari e Duarte (2011) a definição de uma região consiste em um ecossistema com elementos interligados e ao mesmo tempo interagentes, influenciados pelo meio ambiente. Contudo, a partir do século XX, a inserção do homem como agente da natureza, alterando o espaço com agregação de decisões locacionais, muda esse conceito com a criação de propostas de gestão para o desenvolvimento local. (Ultramari e Duarte, 2011). Surgem, então, as políticas de desenvolvimento regional, abordadas a seguir.

2.3 Políticas de Desenvolvimento Regional

Amaral Filho (1996) apresenta a descentralização da política regional como uma forma de valorizar as regiões promissoras do Estado. Segundo Oliveira e Lima (2003), o processo de desenvolvimento regional ocorre diante da internalização do crescimento, isto é, endógeno à região. Amaral Filho (1996) conceitua o desenvolvimento endógeno como um processo interno de melhoria contínua, com agregação de valor e absorção econômica proveniente tanto do local quanto de outras regiões. "Esse processo tem como resultado a ampliação do emprego, do produto e da renda do local ou da região, em um modelo de desenvolvimento regional definido" (Amaral Filho, 1996:37).

Amaral Filho (2001) apresenta o termo competitividade como sendo relevante para o fortalecimento do desenvolvimento endógeno. Além disso, tal modelo contém ações descentralizadas entre empresas e instituições públicas, movimentos diferentes dos modelos tradicionais, uma vez que apresentam a coopetição entre as empresas formadoras dos aglomerados, o que se caracteriza por um misto de cooperação e competição. Amaral Filho (2001) comenta, ainda, que a endogeneização se relaciona firmemente com o futuro, através do uso de recursos relacionados à economia da região, fortalecendo, assim, o setor industrial.

Segundo Amaral Filho (2001) há alguns pontos do desenvolvimento endógeno ausentes nos conceitos tradicionais, tais quais: i) a absorção de externalidades tecnológicas a partir de articulações sistêmicas entre universidades e instituições de pesquisas; ii) a flexibilidade para adaptações frente a mudanças no mercado a partir integrações entre empresas, atores e agentes locais; iii) a busca de competitividade no desenvolvimento da região, com ações integradas, com estratégias de criar empresas-chave líderes.

Kapron e Reis (2008:777) expressam que o fortalecimento do potencial endógeno no desenvolvimento local ocorre a partir da ampliação das PMEs, resultando como estratégia vantagens que podem ser aprimoradas por "políticas públicas de estímulo à cooperação entre agentes, à geração e à difusão de externalidades e, sobretudo, de capacidade inovativa". Costa (2010) considera como características de um APL o desenvolvimento regional, a verticalização com agregação de valor na produção, a diferenciação na produção, melhorias salariais, qualificações técnicas, nascimento do processo endógeno e desenvolvimento de capacitações em governança dos agentes locais. Entretanto, cabe ressaltar que não há menção da criação de empresas líderes e tampouco mensurações do processo de desenvolvimento econômico nos APLs, ao contrário dos Ecossistemas de Negócios.

3. Ecossistemas de Negócios

Peltoniemi e Vuori (2004) apresentam os Ecossistemas de Negócios como um novo conceito no campo de pesquisas em negócios. Diferentes analogias com o ecossistema biológico têm sido estudadas, uma vez que o conceito em questão trata-se de um sistema de organismos que ocupa espaço juntamente com o ambiente físico e com interações. Moore (1996:29) argumenta que "os novos ecossistemas dominantes provavelmente consistirão em redes de organizações, prolongando-se por várias atividades diferentes, e combaterão redes similares com abrangência de outras indústrias".  Na Figura 3 está a visão do todo dos Ecossistemas de Negócios.

Figura 3- Mapa Conceitual dos Ecossistemas de Negócios

Fonte: Autores.

James F. Moore (1996) foi o primeiro a conceituar o termo Ecossistemas de Negócios:

Uma comunidade econômica erguida sobre um alicerce de organizações e indivíduos interagentes – os organismos do mundo dos negócios. Esta comunidade econômica produz bens e serviços de valor para os clientes, os quais também são membros do ecossistema. Os organismos-membros incluem também fornecedores, fabricantes, concorrentes e outros grupos de interesse. Com tempo, suas capacidades e papéis coevoluem e eles tendem a se alinhar com os rumos estabelecidos por uma ou mais empresa especial. Essas empresas líderes podem mudar com o decorrer do tempo, mas a função do líder do ecossistema é valorizada porque possibilita aos membros compartilhar visões para nivelar seus investimentos e encontrar papéis mutuamente apoiadores. (MOORE, 1996:39).

A fim de entender o termo Ecossistemas de Negócios na íntegra, assim como a vinculação dos principais conceitos que o compõem, utilizou-se o Software Cmap Tools como ferramenta no auxílio da construção do Mapa Conceitual (ver Fig. 3) que sintetiza esses conceitos. Essa construção visa facilitar a representação dos principais conceitos referentes à este tema. Para isso, o livro de James F. Moore foi fundamental, considerando que este é o autor seminal do tema. Este livro foi publicado em1996, o título original é "The death of competition: leadership & strategy in the age of business ecosystems".

Nesta visão do todo, a teoria relacionada ao conceito de Ecossistemas de Negócios apresentou as fases do processo de desenvolvimento denominadas: i) Pioneirismo; ii) Expansão; iii) Liderança; iv) Renovação ou Extinção. Foi realizada, também, uma recuperação histórica de conceitos relacionados aos Ecossistemas de Negócios, com o intuito de abranger textos e definições que obtiveram como ponto base o termo em questão. Para a visualização cronológica desses elementos, construiu-se a Árvore Genealógica (ver Figura 4) que apresenta os autores e os anos de publicação. A Árvore Genealógica foi elaborada com o intuito de apresentar os principais conceitos abordados pelos autores considerados.

Figura 4 – Árvore Genealógica

Fonte: Autores

Figura 5 – Termos conceituais

Fonte: Autores

Diante do estudo teórico realizado, foi possível construir fundamentalmente os roteiros de entrevistas, no intuito de alcançar os objetivos propostos por esta pesquisa. Dessa forma, a próxima seção apresenta os procedimentos metodológicos adotados para condução desse estudo.

4. Procedimentos Metodológicos

Esta pesquisa foi iniciada a partir da análise da obra do autor seminal sobre Ecossistemas de Negócios, James Moore (1996). Em seguida, foi conduzido um levantamento em periódicos nacionais e internacionais, com o intuito de verificar o que está sendo pesquisado sobre o termo em questão, tanto no Brasil quanto no mundo. Com a finalidade de alcançar uma visão macro do termo, foi construído um mapa conceitual, com auxílio do software Cmap Tools. A partir deste mapa, foi possível identificar categorias relevantes do tema. Assim, foi construída a Árvore Genealógica sobre o tema. Em seguida, foi conduzido o estudo do desenvolvimento regional, para fundamentar os objetivos desta pesquisa.

A etapa de planejamento do caso ocorreu inicialmente com a análise de indicadores do município de Passo Fundo/RS. Passo Fundo foi escolhida para análise considerando alguns critérios. Primeiro, o município apresentou a segunda maior variação positiva em seu PIB (108 %) do Estado do RS sem contar com variáveis exógenas como a cidade de Rio Grande (Plataformas de Petróleo do Pré-Sal). Segundo, a acessibilidade a informações necessárias para conduzir a pesquisa. Terceiro, conforme Lopes (2012, p. 1) "a economia da cidade cresceu acima do Brasil e do RS em 2010, com 21,3% de avanço sobre 2009". Por fim, a estratégia diferenciada de desenvolvimento regional promovida pela cidade que se adequava ao conceito de Ecossistema de Negócios.

A partir disso, foi elaborado o roteiro para as entrevistas. Como o foco das entrevistas foram as empresas de pequeno, médio e grande porte e o governo, foram elaborados dois roteiros, um para as empresas e outro para o governo, devido a possíveis divergências de visões e a diferentes participações no processo de desenvolvimento econômico do município.

As questões foram criadas a partir da teoria pesquisada e de acordo com cada categoria definida, a fim de obter respostas concisas com os objetivos propostos. Para a confecção do roteiro destinado às empresas (Anexo A), os objetivos foram: i) compreender o processo de instalação da empresa no município; ii) analisar os critérios utilizados para expandir a empresa; iii) definir o processo de liderança da cadeia; iv) entender as estratégias para se manter no mercado; v) definir a existência de liderança e de cooperação entre as empresas; vi) analisar a competição e as vantagens competitivas nas empresas; vii) averiguar se o desenvolvimento das empresas é mensurado.

Para o governo (Anexo B), dentre os principais objetivos, pode-se citar a compreensão da instituição do Programa de Desenvolvimento no município em estudo, assim como inferir a expansão das empresas instaladas no município. Além disso, entender os planejamentos futuros do governo e definir como o programa está atualmente. Nota-se que as categorias de cooperação, interação, concorrência, vantagem competitiva e saúde do ecossistema estão diretamente relacionadas às empresas e não ao Programa de Desenvolvimento Econômico do governo. Diante disso, tais categorias não foram utilizadas no Roteiro "B". Os roteiros, na íntegra, encontram-se nos anexos.

A coleta de dados ocorreu a partir de entrevistas semiestruturadas. Definiu-se que as entrevistas seriam pessoais e realizadas no próprio município foco do estudo. Os contatos foram obtidos a partir da técnica "Bola de Neve". Segundo Goodman (1961), essa é uma técnica em que um entrevistado vai indicando outro de seu relacionamento para também participar da amostra. O anexo C evidencia os roteiros utilizados e os entrevistados associados.

Para a análise dos dados todas as entrevistas foram transcritas e, com a utilização do software Atlas.ti, realizou-se as correlações a partir das categorias definidas previamente. Para isso utilizou-se o método de análise de conteúdo que, de acordo com Bardin (1995:19), "é uma técnica de investigação que tem por finalidade a descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação". A fim de tratar as informações, conforme apresenta o método, seguiu-se os passos definidos por Bardin (1995): i) pré-análise, com a leitura flutuante; ii) exploração do material, com operações de codificação, a partir da definição das unidades de registro e de contexto; iii) tratamento e interpretações dos resultados obtidos, vinculados a teoria em estudo. Por fim, gerou-se um relatório delas.

Como um modo alternativo de visualização dos resultados das coocorrências entre as principais categorias de análise efinidas nas Análises de Registro, utilizou-se a ferramenta de criação de redes do Atlas.ti Network, para organizá-las graficamente. Primeiramente, realizou-se a análise de cada grupo e, após, de todas as coocorrências, construindo uma rede geral. A fim de definir as categorias de análise que seriam analisadas com maior profundidade e de saber se existem diferenças e/ou semelhanças nos resultados das entrevistas direcionadas às empresas e ao governo, foram marcadas as categorias de análise que obtiveram mais de cinco ligações. Cabe ressaltar que as categorias de análise não marcadas são significativas no contexto geral, por isso recomenda-se sua análise em pesquisas futuras. A síntese do método de trabalho está delineada na Figura 6.

Figura 6 – Método de Trabalho

Fonte: Autores.

O método de trabalho foi elaborado considerando as etapas apontadas por Cauchick Miguel (2007), para condução de um Estudo de Caso. Nas próximas seções serão apresentados os resultados obtidos com a pesquisa, bem como suas análises e conclusões.

5. Análise dos resultados

Na análise de rede do Roteiro A, há algumas categorias de análise que se sobressaem pela quantidade de relações que estabelecem. Dentre elas estão: barreiras, oportunidades de negócios, PMEs, grandes empresas, local, regional, matéria-prima, inovação, não necessariamente nessa ordem, porém com ligações relevantes. Em relação às grandes empresas e às PMEs, inicialmente,

"as empresas locais, já instaladas, elas sempre ficam muito contrariadas quando tem o apoio pra empresas que vêm de fora, porque elas dizem que elas estão há mais tempo aqui produzindo e já geram uma série de empregos e não têm muitos benefícios". (Entrevistado 15, 2013).

Porém,

"Num segundo momento, o setor empresarial, com melhores condições, começa a querer contrapartida da prefeitura que antes a prefeitura não oferecia muitos benefícios a essas empresas e nem essas empresas queriam saber da prefeitura. Aí quando sentiram que funcionou, aí tu vês uma indústria, por exemplo, metal mecânica de máquinas agrícolas e começa a se aproximar da prefeitura, querer fazer expansão; e todas elas tinham e têm o mesmo direito, sempre na expansão, não naquilo que está pronto; uns já achavam que aquilo que estava pronto merecia algum benefício, não, o benefício é pra novos investimentos". (Entrevistado 9, 2013).

No entanto,

"o atual governo tem trabalhado nesse sentido, de ampliar espaços, nos distritos industriais que nós já temos. Ampliando espaços ali e tentando dar terreno, dar infraestrutura pra essas que já estavam, pra elas expandirem. Porque disseram "Todo mundo que vem de fora ganha e nós não", então o governo local está trabalhando nisso.". (Entrevistado 13, 2013).

Neste roteiro, destinado a empresas e pesquisadores, o processo propicia oportunidades de negócios nos diversos setores e portes de empresas, tendo em vista novos investimentos que as organizações possam vir a fazer ao planejar e projetar a sua expansão e crescimento econômico. O desenvolvimento do local promove o desenvolvimento de toda a região.

No Roteiro B, com entrevistas destinadas ao governo, tem-se como categorias de análise com maior quantidade de ligações as seguintes: educação, desenvolvimento econômico, inovação, setor industrial, governo municipal e governo estadual. Diante disso, corrobora-se o fato de que a educação, juntamente com a inovação, fomentadas principalmente pelos governos, possui ligação consistente para o desenvolvimento econômico. Pode-se notar que a educação é ponto analisado tanto pelas empresas que venham a se instalar no município quanto pelas pequenas instaladas que desejam se desenvolver, como apresentado a seguir, em alguns trechos das entrevistas:

"[...] a maioria das pequenas empresas não tem condições técnicas, não tem um doutor ou um mestre lá dentro pra poder potencializar suas pesquisas, então não tem infraestrutura humana e tecnológica pra poder, e nós vamos oferecer isso, "Ah, tu precisa inovar?Vem até nós, não precisa ter um doutor aí dentro, mas se tu quiser, melhor, nós oferecemos", então penso que sim, que nós temos que buscar e começar a provocar essas empresas."(Entrevistado 14, 2013).

Diante disso, os governos municipal e estadual, por meio de investimentos relacionados à tecnologia e com a criação do Parque Científico e Tecnológico da Universidade de Passo Fundo, apresentam uma forma concreta de possibilidades de crescimento econômico, principalmente às PMEs. A Figura 7 apresenta a rede em uma visão global, isto é, com todas as categorias de análise analisadas e destacadas as que contêm mais de seis ligações. As marcadas com cor cinza são do Roteiro A e as de cor preta do Roteiro B. A fim de especificar essas categorias, segue no Quadro 1 o sentido definido pelos autores diante dos objetivos propostos. Na Figura 8 a síntese dessas categorias de análise.

Quadro 1 – Especificações das categorias

Categorias

Especificações

Matéria-prima

A matéria-prima disponível no município/região.

Barreiras

Dificuldades impostas para a instalação das empresas.

Oportunidades de negócios

Tanto para a empresa que está se instalando quanto para as já existentes no município.

Local

Valorização e aparição do município como receptor de empresas de grande porte que venham a se instalar.

Regional

A participação no processo de fornecimento de matéria-prima, como por exemplo,a fim de alavancar a economia como um todo.

PMEs

Fornecedoras de serviços para essas grandes empresas.

Grande empresa

No aumento, direta e indiretamente, da economia do município.

Logística

Município circundado por rodovias que atravessam o país.

Governo municipal

Como fornecedor de subsídios para empresas, tanto novas quanto já instaladas no município.

Governo estadual

Fortalecedor econômico do governo municipal.

Educação

Investimento em educaçãoa fim de atender a demanda.

Desenvolvimento Econômico

Economia municipal fortalecendo a economia regional e estadual.

Inovação

Conhecimentos e pesquisas vindos de grandes empresas sólidas no mercado.

Setor industrial

Fortalecido com empresas fortes inovadoras instaladas.

Fonte: Autores.

Figura 7- Rede da Análise de Conteúdo global

Fonte: Autores.

Figura 8 –Resultado Sintético da Análise

Fonte: Autores.

A Figura 8 apresenta os governos municipal e estadual como principais propulsores iniciais do sistema de desenvolvimento econômico, fomentando o local com educação, matéria-prima e logística. Diante disso, há a atração de grandes empresas que promovem oportunidades de negócios tanto para PMEs de vários setores quanto para o setor industrial, especificamente, além de estimular a inovação fortalecendo o desenvolvimento econômico do local e da região como um todo.

Cabe ressaltar que as PMEs podem nascer ou se expandir diante das oportunidades de negócios geradas pelas necessidades das grandes empresas, isto é, dos líderes do ecossistema. Podem surgir barreiras nesse processo, tais como altos impostos, alto custo de maquinário, falta de mão de obra qualificada, falta de conhecimento em línguas, entre outros. Entretanto, as grandes empresas instaladas no município, a partir das exportações crescentes dos últimos anos, proporcionaram um giro na economia e, direta e indiretamente, estão contribuindo para o crescimento e os investimentos em educação e cursos especializados.

A fim de correlacionar os conceitos dos Ecossistemas de Negócios com as categorias que emergiram das entrevistas, se corrobora o fato de que o processo de desenvolvimento econômico do município com a inserção de grandes empresas está na fase inicial, como ilustra o Quadro 2. É possível observar que a maioria das categorias se encontra nas fases de pioneirismo e expansão encontradas nos Ecossistemas de Negócios. Podem-se destacar alguns pontos relevantes como as dificuldades em ser pioneiro em um processo de criação de desenvolvimento econômico devido à quantidade de barreiras a ser superada localmente e a dificuldade, tanto em mão de obra qualificada quanto em formação de alianças com outras empresas.

Quadro 2 –Conceitos de Ecossistemas de Negócios x Categorias

Conceitos de ENs

Categorias

Pioneirismo

Matéria-prima

Barreiras

Local

PMEs

Governo municipal

Desenvolvimento econômico

Logística

Expansão

Regional

Governo estadual

Educação

Setor industrial

Liderança

Grande empresa

Renovação

Inovação

Vantagem Competitiva

Oportunidades de Negócios

Fonte: Autores.

Pode-se perceber que o Programa de Desenvolvimento Econômico de Passo Fundo se fortaleceu e apresenta como um dos principais pontos as instalações de novos empreendimentos de setores antes não existentes no município. Trechos de algumas entrevistas corroboram a indução do processo de desenvolvimento econômico do município de Passo Fundo, tais como:

  1. "esse conceito de complementaridade, de sistema, de cadeias produtivas e não apenas a vinda de um empreendimento"(Entrevistado 16, 2013).
  2. "essa ação local de propor um modelo é o grande diferencial de uma cidade"(Entrevistado 8, 2013). "e aí você via "pipocar" empreendimentos que você nem imaginava que eles poderiam surgir porque não partiu da prefeitura a iniciativa, mas partiu desse novo ambiente onde a cidade vai se desenvolver" (Entrevistado 8, 2013).
  3. "agora começa aí como uma nova estrutura pra fortalecer o sistema, porque nós olhamos o desenvolvimento como sistema" (Entrevistado 8, 2013).
  4. "Nós percebemos que de uma década pra cá, essa matriz produtiva foi se ampliando, e isso na nossa visão é o correto. Nós deixamos de ser dependentes em só um ponto e abrimos esse espectro aí pra podermos transitar nessas diversas áreas" (Entrevistado 14, 2013).

À luz do conceito de Ecossistema de Negócios é possível observar a formação de uma comunidade econômica fortalecida por empresas líderes, tanto já instaladas no município quanto as que se encontram nos planejamentos de investimentos econômicos futuros do governo atual. Além disso, há indícios de ações de compartilhamento de visões entre os organismos do mundo dos negócios existentes no município.

Cabe destacar que a teoria apresenta quatro fases dos Ecossistemas de Negócios: Pioneirismo, Expansão, Liderança e Renovação ou Extinção, além da Saúde do ecossistema. No entanto, se conclui que o município de Passo Fundo ainda se encontra na fase inicial do processo, isto é, no estágio de Pioneirismo ou Nascimento. O governo atual está planejando a expansão do desenvolvimento econômico do município, isto é, se preparando para a fase II, Expansão. A seguir, serão apresentadas as principais conclusões deste estudo.

6. Conclusões

Os resultados apresentados nas análises evidenciam que a indução do processo de desenvolvimento econômico de Passo Fundo ocorreu inicialmente com projetos de crescimento econômico de gestores, que conduziram o município para além do foco comercial e de serviços, tornando-o industrial. Pode-se citar, como uma das maneiras de fomentar o crescimento, a instalação de empresas de grande porte, que acarretaram recursos para fomentar as PMEs. Diante disso, sugere-se que o município construiu "Ecossistemas Locais de Negócios", nos quais tanto as grandes quanto as pequenas empresas são importantes e têm papel no desenvolvimento.

Com intuito de obter oportunidades de crescimento econômico, deve haver incentivos governamentais na atração de empresas de grande porte, principalmente exportadoras. A geração de impostos, aumento da renda e geração de empregos, poderá contribuir para o aumento da qualidade de vida da população. Acima de tudo, pode-se fomentar PMEs, melhorando qualidade de produtos e serviços produzidos no município e, consequentemente, diminuindo importações e aumentando o PIB.

Pode-se observar, também, a importante relação existente entre as PMEs e as grandes empresas com a troca de informações, pois de nada adianta uma organização produzir ou ter a possibilidade de produzir exatamente o que a grande empresa demanda, mas não apresentar ao mercado o produto que fabrica. Além disso, diante de projetos em conjunto, pode haver lançamentos de novos produtos, agregando valor ao portfólio da empresa. Cita-se, como exemplo, a cultura de canola, que pode ser cultivada no inverno, aproveitando-se a área de plantio de soja, cuja safra ocorre no verão.

Isto posto, conclui-se que, diante da teoria pesquisada neste estudo e das análises de conteúdo realizadas, foi possível verificar que a indução do processo de desenvolvimento do município de Passo Fundo possui fortes e significantes relações com o termo Ecossistemas de Negócios. A fim de corroborar essa afirmação, tem-se nos resultados da análise de conteúdo das entrevistas fatos e dados que fortalecem essas relações, tais como a inserção de grandes empresas líderes que fomentam as PMEs na criação de cadeias produtivas consistentes e fortes.

Cabe ressaltar que o fato de realizar as entrevistas com quem planejou, criou e realizou o Programa de Desenvolvimento fortalece a veracidade da pesquisa. Além disso, a entrevista com o atual Secretário de Desenvolvimento Econômico, que ressalta a informação de que o Programa continua em andamento mesmo com a troca de governo, confirma ainda mais o sucesso da implantação do Programa.

A indução do processo de desenvolvimento econômico do município ocorreu de maneira ousada, com desafios e riscos que poderiam ser mensurados somente após a instalação das empresas e de um período de tempo que possibilitasse dimensionar os frutos dos investimentos. A visão de aproveitar o que o município tem de melhor, a saber, infraestrutura apta para receber empresas de porte e matéria-prima para a produção do Biodiesel (na época estava vigorando a lei obrigatória de 5% no diesel), fez com que se aproveitasse o momento como a oportunidade de um grande negócio. Da mesma forma, vigoraram outros, de setores também exportadores.

O governo foi audacioso em Passo Fundo ao investir em grandes empresas exportadoras e "deixar de lado" investimentos no próprio município. A mudança de visão para a análise do ambiente em que se encontram as empresas, ou como subsídio para instalação de novas empresas no local, inicialmente, gerou certa insatisfação com da população local. Porém, após vislumbrar a possibilidade de crescimento para todos os setores, houve um processo inverso. As PMEs, que antes não se relacionavam com a prefeitura e nem com o governo, começaram a procurar essas esferas a fim de se expandir também.

Todas as unidades de registro definidas para a análise de conteúdo, assim como as categorias preliminares e as desenvolvidas ao longo das análises, propuseram como resultado a abordagem do termo Ecossistema de Negócios como uma forma de entender o processo de desenvolvimento regional. Mesmo concluindo que o caso estudado ainda esteja em fase inicial, percebe-se que existe uma visão concreta de planejamento futuro, com intenção de criar interações entre as grandes empresas instaladas no município e as PMEs.

Além disso, a inovação tecnológica e em pesquisas está inserida em planejamentos presentes como, por exemplo, a biotecnologia na adaptação da semente da canola. Tal recurso é hoje importado, pois a semente não é adequada ao clima e solo da região sul do Brasil. Isso confirma, de acordo com a teoria, as fases subsequentes ao momento atual.

Enfim, os Ecossistemas de Negócios apresentam formas de como desenvolver economicamente uma região, a partir de planejamentos futuros e modos de mensurações da "saúde" do ecossistema como um todo, pois a saúde de um afeta o todo. Não obstante, esse programa pode servir como exemplo para diversas outras regiões/municípios que queiram alavancar a economia, promovendo qualidade de vida a toda população.

Podem-se ressaltar alguns pontos relatados pelos entrevistados com o intuito de melhorar o processo específico do caso estudado. Dentre eles destacam-se: i) desenvolver rodadas de negócios, tanto virtuais quanto em eventos, a fim de incentivar a troca de informações entre grandes empresas e PMEs, com o principal objetivo de saber o que se espera e o que se oferece no local; ii) incentivar nas escolas, diante da instalação de empresas exportadoras, aulas de idiomas, como inglês; iii) promover cursos técnicos e universitários considerando as demandas das empresas, obtendo, assim, mão de obra qualificada que, conforme alguns entrevistados, falta no município.

Por fim, pode-se destacar que há necessidade do governo estadual promover, em parceria com os governos municipais, a instalação de empresas de grande porte, exportadoras, que possuam a mentalidade de competidoras mundiais em conhecimento, a fim de fortalecer a expansão das PMEs e promover o desenvolvimento econômico dos municípios. A partir disso, com mais empregos e melhor renda, ocorre um giro na economia, fortalecendo todos os setores. A fim de obter recursos para fomentar PMEs, dentre elas os sistemistas, pode-se elevar o nível de exportação de um município. Com o fortalecimento das empresas locais, com a interação e integração entre elas em projetos, com pesquisa e desenvolvimento, com troca de informações e conhecimento relacionados a produtos demandados pelas empresas do próprio município, ocorre a diminuição das importações. Consequentemente, eleva-se o valor do PIB, fortalecendo a receita da prefeitura.

É essencial a formação de estratégias entre as organizações, com intuito de criar cenários futuros que auxiliem na tomada de decisão dos gestores conjuntamente, para manter o ecossistema saudável. Por meio da verticalização, com empresas localizadas no próprio município ou região do entorno, pode-se formar uma cadeia que proporcione à empresa-chave e às suas parceiras todos os produtos e serviços necessários para a produção de componentes utilizados para fabricação do produto final.

Esta pesquisa demonstrou que é possível o crescimento econômico juntamente com o social, com a união de forças dos governos municipais, estadual e federal. Certamente, estes resultados não podem ser generalizados, porém, nota-se a necessidade, no momento, de um adequado planejamento no que tange às empresas que estão no local, a fim de que seja possível formar um Ecossistema Local de Negócios sustentável. Diante disso, propõe-se, como um novo termo, sob nova ótica, o conceito de "Ecossistemas Locais de Negócios".

Pesquisas futuras podem estar relacionadas a outros municípios que estão se desenvolvendo economicamente desta mesma forma, isto é, instalação de empresas de grande porte que possam fomentar as PMEs. Além disso, aprofundar pesquisas nas PMEs que tenham relação com empresas de grande porte a fim de definir ou até propor a criação de um Ecossistema Local de Negócios na região em estudo.

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1. Engenheira de Produção-Mecânica pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos/UNISINOS e Mestre em Engenharia de Produção e Sistemas pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - PPGEPS/UNISINOS. Atua como Coordenadora e Docente no Bacharelado em Engenharia de Produção do Instituto de Ensino Superior ILES/ULBRA Itumbiara/Goiás. (engproducao.itb@ulbra.br)
2. Doutor em Engenharia de Produção pela COPPE/URRJ, Mestre em Administração pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2005) e Bacharel em Administração de Empresas – Instituto Educacional São Judas Tadeu (2002). Atua como Coordenador de Bacharelado em Engenharia de Produção/UNISINOS. Tem experiência profissional e acadêmica nas áreas de Operações e Estratégia, Engenharia de Processos, Custos e Teoria das Restrições. Atualmente, é pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas - PPGEPS/UNISINOS e coordenador acadêmico do GMAP UNISINOS (Grupo de Pesquisa em Modelagem para Aprendizagem). (dlacerda@unisinos.br)
3. Doutoranda em Engenharia de Produção na Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Mestre em Engenharia de Produção e Sistemas pela UNISINOS. Possui graduação em Engenharia de Produção pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2010) e graduação em Formação Pedagógica pela Universidade do Sul de Santa Catarina (2011). Atua profissionalmente na Unisinos como professora no Bacharelado em Engenharia de Produção e da Gestão da Produção Industrial. Também atua como pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Modelagem para Aprendizagem - GMAP | UNISINOS. (aldresch@unisinos.br)

4. Pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas na Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS (junico@produttare.com.br)


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 18) Año 2016

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