Espacios. Vol. 37 (Nº 18) Año 2016. Pág. 3

Análise dos processos de recuperação das embalagens PET: Uma Contribuição da Logística Reversa

Analysis of the processes of recovery of PET packaging: A contribution of reverse logistics

Felipe Diuana Saud de Lellis FERREIRA 1; José Rodrigues de FARIAS Filho 2; Osvaldo Luiz Gonçalves QUELHAS 3

Recibido: 27/02/16 • Aprobado: 13/03/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Metodologia

3. Revisão da literatura

4. Modelos de reciclagem da embalagem PET

5. A cadeia de suprimentos reversa e os atores envolvidos no processo

6. Os motivadores da logística reversa, o conceito de Triple Bottom Line e a Ecoeficiência

7. Conclusão

Referências


RESUMO:

Este trabalho tem como objetivo levantar o panorama atual brasileiro de reciclagem de embalagens PET (politereftalto de etileno) pós-consumo e propor uma ordem de preferência para os diferentes tipos de reciclagem existentes, baseado no contexto socioeconômico nacional. O crescimento dos níveis de consumo das garrafas PET e seu elevado tempo de degradação forçam à busca por soluções inovadoras na gestão do PET pós-consumo. Baseada na Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010), esta pesquisa teve como bases teóricas a conceituação de logística reversa segundo alguns dos principais autores sobre o tema, a diferenciação dos conceitos de upcycling, downcycling e reciclagem, o levantamento dos atores do processo logístico reverso e a relação de logística reversa com os conceitos de Triple Bottom Line e Ecoeficiência, atualmente em voga. Os resultados encontrados se concentram na comparação sob as óticas de eficiência do processo e viabilidade operacional entre os tipos de reciclagem, assim como a adaptação da solução ótima ao cenário socioeconômico brasileiro.
Keywords: logística reversa, upcycling, downcycling, triple bottom line, reciclagem

ABSTRACT:

This work aims to raise the current panorama of PET packaging recycling (politereftalto) post-consumer and propose an order of preference for the different types of existing recycling, based on the national socio-economic context. The growth of consumption levels of PET bottles and its high time of degradation are forcing to search for innovative solutions in the management of post-consumer PET. Based on the national solid waste policy (Law 12,305/2010), this research had as theoretical conceptualization of reverse logistics in accordance with some of the top authors on the topic, the differentiation of the concepts of upcycling, downcycling, and recycling, the survey of actors of the logistics process reverse and the relationship of reverse logistics with the concepts of Triple Bottom Line and eco-efficiency , currently in vogue. The results focus on comparison under the optics of process efficiency and operational viability among the types of recycling, as well as the adaptation of the optimal solution to the socio-economic scenario.
Keywords: reverse logistics, upcycling, downcycling, triple bottom line, recycling

1. Introdução

As considerações ambientais tornaram-se aspectos cada vez mais importantes nos planejamentos sobre resíduos sólidos urbanos. A atenuação dos danos causados por cargas ambientais através da coleta, transporte e eliminação de resíduos sólidos urbanos tem sido objeto de crescente preocupação e legislação (WILSON, 2002). Atualmente, no Brasil apenas 3% dos resíduos sólidos produzidos nas cidades brasileiras são reciclados, apesar de um terço de todo o lixo urbano (63 milhões de toneladas anuais) ser potencialmente reciclável. (SENADO FEDERAL, 2014).

Recente estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA) indica que o país perde anualmente R$ 8 bilhões por enterrar materiais recicláveis aptos a voltar à produção industrial. Além dos aspectos econômicos, a reciclagem economiza recursos naturais, como a água, além proporcionar o uso racional de energia e menor emissão de gases do efeito estufa (CEMPRE, 2013).

Atualmente, a enorme produção de resíduos associada ao presente modelo de desenvolvimento é uma das principais questões enfrentadas em níveis global e local. Além de fazer parte da infraestrutura para o desenvolvimento, dada a sua forte interação com a saúde pública e a degradação ambiental, a produção de resíduos é evidenciada como um aspecto específico a ser focado na busca do desenvolvimento sustentável. (REIS et al, 2005).

É evidente a visibilidade da poluição de excessos gerada pelos materiais plásticos, em particular as garrafas, que flutuam em córregos e rios e são depositadas impropriamente em diversos locais nas grandes metrópoles, gerando uma imagem corporativa negativa na cadeia produtiva direta desses produtos (LEITE, 2009). De acordo com Leite (2009), o nível socioeconômico (e, consequente, o poder aquisitivo do cidadão) é diretamente proporcional ao uso de descartáveis e à quantidade de polímeros no lixo. Se, por um lado, a tecnologia proporciona a utilização de polímeros para melhora na qualidade de vida, por outro também resulta em grande problema com a quantidade de resíduos gerados.

O problema dos resíduos sólidos nas cidades é complexo e a solução passa por três grupos que precisam cumprir corretamente o seu papel: o cidadão, o Poder Público e a indústria. Nenhuma política nessa área atingirá os objetivos propostos se essa união de esforços não for contemplada (MARÇON, 2010).

A reciclagem de materiais é um dos aspectos mais importantes no gerenciamento sustentável de resíduos, em conjunto com reutilização e a redução na geração de resíduos. Além disso, a reciclagem catalisa interesses do poder público, empresas e sociedade, pois sintetiza princípios de desenvolvimento sustentável (IBGE, 2015).

Entre os aspectos que podem motivar concomitantemente o governo, as empresas e a sociedade a promoverem atividades de reciclagem dos resíduos poliméricos contidos nos resíduos sólidos urbanos, destacam-se a economia de energia, a preservação de fontes esgotáveis de matéria-prima, a redução de custos com disposição final do resíduo, a economia com a recuperação de áreas impactadas pelo mau acondicionamento dos resíduos, o aumento da vida útil dos aterros sanitários, a redução de gastos com limpeza e saúde pública, e a geração de emprego e renda (SPINACE e PAOLI, 2005). Ao reduzir a extração de matérias-primas e o consumo de energia, a reciclagem contribui também para a redução da emissão de gases de efeito estufa associados à geração de energia pela queima de combustíveis fósseis (IBGE, 2015).

A reciclagem de materiais plásticos de embalagem pós-consumo, em especial a garrafa PET, pela transformação em novos produtos, deve ser uma opção melhor explorada nas condições nacionais, face os altos volumes disponíveis, disponibilidade de tecnologias de reaproveitamento, permissão pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de reaproveitamento das embalagens PET pós-consumo para novas embalagens em contato com alimentos, existência de demanda e aceitabilidade no mercado interno de produtos fabricados com materiais reciclados, representando uma rota empresarialmente viável e ecologicamente correta. (FORLIN e FARIA, 2002).

O objetivo deste artigo é apresentar as alternativas viáveis para destinação das embalagens PET pós-consumo através da conceituação da logística reversa e dos processos de reciclagem apropriados para a recuperação deste material, bem como definir a alternativa mais vantajosa considerando o contexto socioeconômico do Brasil.

A questão de pesquisa que será respondida pela pesquisa é: qual o processo mais vantajoso para a recuperação das embalagens PET pós-consumo no Brasil, dado as características do País e o cenário no qual se encontra relativo às questões socioambientais?

2. Metodologia

A metodologia utilizada é classificada como exploratória, que é definida como aquela que realiza descrições precisas da situação e quer descobrir as relações existentes entre seus elementos componentes (CERVO et al, 2006).

Quanto à abordagem, trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, que conforme Diehl e Tatim (2006) pode descrever a complexidade de determinado problema e a interação de certas variáveis, compreender e classificar os processos dinâmicos vividos por grupos sociais, contribuir no processo de mudança de dado grupo e possibilitar, em maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos.

O trabalho apresenta um estudo sobre logística reversa focado nas embalagens pós-consumo de PET, mais especificamente nas suas opções de reaproveitamento. Através de consultas a publicações relevantes sobre o tema, foi possível conceituar e caracterizar a logística reversa, levantar o cenário atual do Brasil em relação à reciclagem das embalagens PET, estabelecer os caminhos (processos) pelos quais as embalagens pós-consumo podem atravessar e finalmente escolher o processo que traz mais benefícios ao País, dada as suas condições socioeconômicas no momento da realização desta pesquisa.

3. Revisão da literatura

Segundo o Council of Supply Chain Management Professionals (2010), a logística é "o processo de planejamento, implantação e controle do fluxo eficiente e eficaz de mercadorias, serviços e das informações relativas desde o ponto de origem até o ponto de consumo com o propósito de atender às exigências dos clientes". Essa definição sugere ser a logística um processo, o que significa que inclui todas as atividades importantes para a disponibilização de bens e serviços aos consumidores, quando e onde estes quiserem adquiri-los (BALLOU, 2006).

Gerenciamento da cadeia de suprimentos, por sua vez, é um termo mais recente e que capta a essência da logística integrada e inclusive a ultrapassa, destacando as interações logísticas que ocorrem entre as funções de marketing, logística e produção no âmbito de uma empresa, e dessas mesmas interações entre as empresas legalmente separadas no âmbito do canal de fluxo de produtos (BALLOU, 2006).

Um exame de milhares de artigos e livros publicados resultou na identificação de 166 definições únicas de gestão da cadeia de suprimentos, onde três temas principais emergiram: (1) atividades (que incluem tanto os fluxos de materiais e informações, bem como redes de relacionamentos internos e externos); (2) os benefícios (que incluem a adição de valor, gerando eficiência e satisfação do cliente; e (3) componentes (STOCK et. al, 2010).

A gestão da cadeia de suprimentos engloba o planejamento e a gestão de todas as atividades envolvidas no fornecimento e aquisição, conversão e todas as atividades de gestão de logística. Em essência, o gerenciamento da cadeia de suprimentos integra a oferta e a gestão da demanda dentro e entre empresas, de forma a desenvolver um modelo de negócio coerente e de alto desempenho (COUNCIL OF SUPPLY CHAIN MANAGEMENT PROFESSIONALS, 2010).

A gestão bem sucedida da cadeia de suprimentos exige uma mudança de gestão por funções individuais para uma abordagem de processo para o negócio. Os processos chave da cadeia de suprimentos chave identificadas pelos membros do The Global Supply Chain Forum são (LAMBERT e COOPER, 2000; LAMBERT, 2008):

  1. Gestão do relacionamento com o cliente: identificação dos principais clientes e de suas necessidades principais, de forma a eliminar fontes de variabilidade. Também são realizadas avaliações de desempenho com o intuito de analisar os níveis de serviço prestados aos clientes e sua lucratividade;
  2. Gestão do serviço ao cliente: interface da área de produção com os clientes, fornecendo informações em tempo real sobre os pedidos e ajudando o cliente no que diz respeito à aplicações do produto;
  3. Gestão da demanda: processo que equilibra as exigências dos clientes com as capacidades da cadeia de abastecimento;
  4. Atendimento do pedido do cliente: inclui todas as atividades necessárias para projetar uma rede e um processo capazes de atender às solicitações dos clientes, minimizando o custo total. Requer a integração das diferentes áreas da organização
  5. Gestão do fluxo de produção: inclui todas as atividades necessárias para mover produtos através do canal de distribuição da empresa e para  implementar a flexibilidade fabricação na cadeia de abastecimento;
  6. Gestão do relacionamento com fornecedores: define as relações com seus fornecedores através de relacionamentos onde ambas as partes se beneficiam;
  7. Desenvolvimento e comercialização de produtos: integração de clientes e fornecedores no desenvolvimento de novos produtos, bem como o desenvolvimento de tecnologia de produção capaz de adequar o produto ao mercado;
  8. Gestão do retorno:gerenciamento em conjunto na cadeia de suprimento das atividades associadas com a logística reversa. A correta implementação deste processo permite a melhoria da produtividade e o desenvolvimento de projetos inovadores, além do controle sobre ativos reutilizáveis como as embalagens.

No que tange ao último macroprocesso (gestão do retorno), existe uma falta de conhecimento sobre como medir desempenho ambiental na gestão da cadeia de suprimentos. A medição do desempenho ambiental vem se tornando uma parte importante da oferta de negócios de vários fornecedores de serviços de logística, bem como uma forma de diferenciar o produto, ou seja, o serviço de logística, em um mercado cada vez mais competitivo (BJÖRKLUND et. al, 2012).

As empresas dedicadas à logística manifestam interesse crescente pelos impactos no meio ambiente produzidos por suas operações, situação esta que é retratada claramente em termos de exploração de novas oportunidades de mercado (RODRIGUE et al., 2001). Enquanto a logística tradicional busca organizar a distribuição à jusante (para frente), que é o transporte, armazenagem, embalagem e gestão de inventário desde o produtor até o consumidor, as considerações ambientais abriram mercados para a reciclagem, descarte, reuso e remanufatura. O contexto origina uma nova abordagem da logística : a logística reversa. Esta distribuição reversa envolve o transporte de resíduos e o movimento dos materiais utilizados. (RODRIGUE et al., 2001).

As empresas estão começando a reconhecer a importância de sistemas de logística reversa efetivos. Regulamentações governamentais com relação ao armazenamento, manuseio, transporte e eliminação de resíduos de processos de fabricação, bem como a maior conscientização pública dos problemas ambientais têm forçado as organizações a estabelecer sistemas formais de descarte e criado oportunidades para outras comercializarem seus produtos "verdes", como forma de diferenciação (JOHNSON, 1998).

Rogers e Tibben-Lembke (1999) definem a logística reversa como

"O processo de planejamento, implementação e controle da eficiência e custo efetivo de matérias-primas, inventário em processo, produtos acabados e informações correspondentes do ponto de consumo para o ponto de origem com a finalidade de recapturar valor ou descartar apropriadamente."

Leite (2009) define logística reversa como:

"A área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valores de diversas naturezas: econômico, de prestação de serviços, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, dentre outros".

A logística reversa é o principal instrumento da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010) para garantir maior eficácia no descarte e na reciclagem do lixo. A Lei 12.305/2010 instituiu a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis (BRASIL, 2010).

Apesar da Política Nacional dos Resíduos Sólidos não citar, especificamente, os polímeros, estes devem ser vistos com cautela, pois possuem elevado tempo de degradação, podendo ultrapassar 500 anos (GRIPPI, 2001). Nos últimos anos, os polímeros têm aumentado sua participação na composição do resíduo sólido urbano. Na década de 60 eles não faziam parte significativa da sua composição, mas em 2005 eles contribuíram com cerca de 20 wt. (%) (porcentagem em massa) dos resíduos sólidos urbanos coletados no Brasil. A produção de PET corresponde a 9 wt. (%) da produção total de polímeros no Brasil, entretanto, a fração de PET no resíduo sólido urbano correspondente aos polímeros é em média de 20 wt. (%) (ROMAO et al, 2009).

O PET foi desenvolvido em 1941 pelos químicos ingleses Whinfield e Dickson. Embora muito conhecido hoje por estar presente nas embalagens plásticas, o PET começou sua trajetória na indústria têxtil. Após a Segunda Guerra Mundial, o desabastecimento afetou a indústria têxtil, ainda baseada em fibras como algodão, linho e lã, entre outras, forçando-a a criar alternativas viáveis para as fibras até então usadas, cujos campos estavam destruídos pela guerra. O poliéster apresentou-se como um excelente substituto para o algodão, função que cumpre muito bem até hoje, inclusive a partir das garrafas recicladas e somente a partir da década de 50 começou a ser produzido em larga escala, nos EUA e Europa. (CEMPRE, 2013 e ABIPET, 2013).

Com a evolução das pesquisas, novas aplicações para o PET foram surgindo. A partir da década de 70, as primeiras embalagens de PET surgiram nos Estados Unidos, seguidamente na Europa. Somente em 1988 o PET chegou ao Brasil, seguindo uma trajetória semelhante ao resto do mundo, sendo utilizado primeiramente na indústria têxtil. Apenas a partir de 1993 passou a ter forte expressão no mercado de embalagens, notadamente para os refrigerantes. Atualmente o PET está presente em diversos produtos. (ABIPET, 2013).

Historicamente, 90% do consumo de PET no Brasil são utilizados para a produção de embalagens para bebidas e alimentos (refrigerantes, água, óleo comestível etc.). Entre 2007 e 2011, o consumo anual de PET cresceu a uma carga de 5% ao ano. Já entre 2011 e 2016, a previsão é de que este crescimento seja de 8% ao ano. (ABIPETb, 2016)

* Valores estimados pela ABIPET em função da realização da Copa do Mundo de Futebol (2014) e das Olimpíadas (2016).
Figura1: Evolução do consumo de PET no Brasil em kton/ano (ABIPETb, 2016)

Mancini et al (1998) afirmam que, atualmente, um dos plásticos de maior presença no lixo urbano é o poli(tereftalato de etileno) (PET). Em um estudo realizado na cidade de Araraquara, de aproximadamente 200 mil habitantes, foi determinado que o PET diz respeito a 34% em peso dos plásticos presentes no lixo urbano (a exceção dos filmes) e 42% em volume, aproximadamente.

A solução ideal para a despoluição do meio ambiente seria a desintegração dos produtos descartados em partículas incorporáveis ao solo. No que diz respeito aos plásticos, bem como uma série de outros produtos, essa solução é inviável, dado seu elevado tempo de degradação (500 anos). Essa dificuldade tem motivado a busca por soluções alternativas para o descarte dos resíduos pós-consumidos, dentre elas a reciclagem, que é a forma mais importante de descarte. (MANO, E.B. et al, 2005; GRIPPI, 2001).

A reciclagem pode ser entendida como o ato de recuperar materiais descartados, modificando-se suas características físicas (diferenciando-a de reutilização, em que os descartados mantêm sua estrutura). A reciclagem pode ser direta (pré-consumo), quando são reprocessados materiais descartados na própria linha de produção, como, por exemplo, aparas de papel e rebarbas metálicas, ou indireta (pós-consumo), quando são reprocessados materiais que foram descartados como resíduos por seus usuários. Em ambos os casos os materiais retornam a seu estado quase original como matéria-prima para mais um ciclo produtivo. (GRIMBERTH e BLAUTH, 1998).

No Brasil, o índice de reciclagem das embalagens de PET pós-consumo foi cerca de 60% em 2012, totalizando 331kton das 561kton produzidas (ABIPETc, 2013). As garrafas recicladas têm origem, principalmente, através do serviço dos catadores individuais (47%) e organizados em cooperativas (21%) (ABIPETa, 2012).

Figura 2: Evolução do total de embalagens PET recicladas no Brasil (ABIPETc, 2013)

No Brasil, as embalagens PET encontram-se, em sua maioria, na região Sudeste. Somadas, as regiões Sudeste e Nordeste concentram quase 75% do total de embalagens PET do país (ABIPETc, 2013).

 Figura 3: Porcentagem de embalagens PET por região brasileira (ABIPETc, 2013)

Em termos globais, em 2012, os EUA apresentaram uma taxa de reciclagem de embalagens PET de 30,8% (859 kton) (NAPCOR, 2013). Já na Europa, no mesmo ano, foram recicladas 1680 kton de embalagens PET, o que representa um índice de reciclagem de aproximadamente 52% (PETCORE EUROPE, 2013). Em 2012, a Ásia foi o continente que possuiu a maior quantidade de embalagens PET recicladas, 7000 kton, mas com taxa de reciclagem de cerca de 37% (BEROE CONSULTING, 2014).

Destaca-se o papel do Japão na atividade de reciclagem de embalagens PET. Em 2014, o país produziu 550 kton de embalagens, apresentando índice de reciclagem de mais de 80%. Esta alta taxa pode ser explicada pela cultura japonesa de auto-disciplina, onde o consumidor voluntariamente remove o rótulo do frasco e lava-o após o seu uso (JAPAN PET RESIN TRADE, FIBERS, APLLICATIONS & RECYCLING, 2015).

Em relação aos processos utilizados atualmente, a reciclagem é geralmente classificada em três tipos: mecânica, química e energética.

Reciclagem Química

A reciclagem química acontece através do reprocessamento dos plásticos, transformando-os em petroquímicos básicos como monômeros ou misturas de hidrocarbonetos que servem como matéria-prima, em refinarias ou centrais petroquímicas, para a obtenção de produtos nobres de elevada qualidade. Seu objetivo é a recuperação dos componentes químicos individuais para serem reutilizados como produtos químicos ou para a produção de novos plásticos. Essa reciclagem permite tratar mistura de plásticos, reduzindo custos de pré-tratamento, custos de coleta e seleção. Além disso, permite produzir plásticos novos com a mesma qualidade de um polímero original. (PLASTIVIDA, 2015)

Reciclagem Energética

A Reciclagem Energética é hoje uma realidade e uma importante alternativa no gerenciamento do lixo urbano. É a tecnologia que transforma lixo urbano em energia elétrica e térmica, um processo amplamente utilizado no exterior e que aproveita o alto poder calorífico contido nos plásticos para uso como combustível. Países que adotam esse processo, como a Áustria e a Suécia, além de criar novas matrizes energéticas, conseguem reduzir em até 90% o volume de seus resíduos, índice relevante para cidades com problemas de espaço para a destinação dos resíduos sólidos urbanos, um benefício incalculável para cidades com problemas de espaço para a destinação do lixo urbano. (PLASTIVIDA, 2015; ROLIM, 2001)

De acordo com a Plastivida (2015), a reciclagem energética é utilizada por mais de 30 países em instalações de reciclagem perfeitamente adequadas às mais rígidas normas ambientais. A Alemanha extinguiu os aterros sanitários em função da reciclagem energética, enquanto os EUA atualmente suprem a necessidade de energia de 2,3 milhões de residências através desta fonte alternativa.

Quadro 1: Quantidade de usinas de reciclagem energética por país/região

Estados Unidos

98

União Européia

420

Japão

249

Suíça

27

Fonte: PLASTIVIDA, 2015

O Brasil ainda não conta com nenhuma usina de reciclagem energética com capacidade para atender uma cidade, ainda que pequena. A cidade de São Paulo, por exemplo, já começa a "exportar" o lixo para outros municípios por falta de espaço para aterros. Com isso, o custo dessa logística torna-se elevadíssimo, sem falar no o impacto ambiental com emissões, por exemplo, decorrentes desse transporte (PLASTIVIDA, 2015). 

No Brasil, há apenas um protótipo com tecnologia 100% nacional operando no Rio de Janeiro, chamado Usina Verde. A plena carga, uma usina como essa é capaz de produzir energia suficiente para abastecer 15 mil residências, mas o custo ainda é elevado. O custo do protótipo foi de aproximadamente R$ 50 milhões. Outro benefício associado à reciclagem energética, tão importante ou mais que produzir energia, é a transformação de lixo em cinzas. Para cada tonelada de resíduo que entra no forno, saem 120 kg de material carbonizado. Isto significa que essas cinzas podem ser aproveitadas em calçamento ou base asfáltica para pavimentação de cidades, ou podem ir para aterros, ocupando 12% da área que seria ocupada normalmente com todos os resíduos sendo destinados (PORTAL DE NOTÍCIAS GLOBO - G1, 2013).

Reciclagem Mecânica

A reciclagem mecânica consiste na conversão dos descartes plásticos pós-industriais ou pós-consumo em grânulos que podem ser reutilizados na produção de outros produtos, como sacos de lixo, solados, pisos, conduítes, mangueiras, componentes de automóveis, fibras, embalagens e muitos outros.

Essa reciclagem possibilita a obtenção de produtos compostos por um único tipo de plástico, ou produtos a partir de misturas de diferentes plásticos em determinadas proporções. O Brasil recicla mecanicamente 21% do total de plásticos pós-consumo gerado (PLASTIVIDA, 2015). No caso das embalagens PET, a reciclagem acontece em três etapas básicas (ABIPET, 2013):

1) Recuperação: que se inicia no momento do descarte e termina com a confecção do fardo, que se torna sucata comercializável.

2) Revalorização: com início na compra da sucata em fardos e fim na produção de matéria-prima reciclada.

3) Transformação: final do processo completo de reciclagem, é a utilização da matéria-prima oriunda das garrafas de PET pós-consumo para a fabricação de inúmeros outros produtos.

No que diz respeito à destinação do PET reciclado, a maior parte é aplicada no setor têxtil (38%), seguida do setor de resinas (24%) e embalagens (18%).

Figura 4: Usos finais do PET reciclado no Brasil em 2012 (ABIPETc, 2013)

Em relação ao futuro do PET reciclado, a expectativa é que cresça a demanda nos setores têxtil e de embalagens bottle-to-bottle, esta última impactada diretamente pela RDC nº 20 da Anvisa, que permite o uso de embalagens recicladas para contato com alimentos.

Figura 5: Aplicações do PET reciclado que mais vão crescer (ABIPETc, 2013)

Comparação dos processos

Mesmo representando apenas aproximadamente 10% do mercado de plásticos destinado ao setor de embalagens, as embalagens de PET constituem um dos principais alvos dos recicladores. Entre os fatores que cooperam para este quadro estão: o custo relativamente alto da resina virgem, a alta competitividade de seus processos de reciclagem mecânica e o alto valor agregado do reciclado, cujo desempenho, dependendo da tecnologia aplicada, pode ser similar ao da resina virgem. (SANTOS et al, 2004).

Para os catadores e cooperativas, a atividade de coleta de embalagens PET também se mostra atraente, pois o preço da tonelada do PET é, em média, o segundo maior entre os materiais recicláveis, ficando atrás apenas das latas de alumínio (CEMPRE, 2013). É importante ressaltar que, dado o contexto socioeconômico brasileiro vivenciado no período em que este trabalho foi desenvolvido, as reciclagens mecânica (principalmente) e química parecem ser as mais interessantes, pois exigem etapas anteriores ao reprocessamento, como etapas de coleta e separação, que podem gerar empregos para a população (PACHECO, 2005).

No que tange à eficiência, entre os processos de reciclagem atualmente aplicados, especificamente para o caso do PET, o potencial máximo da reciclagem mecânica deve ser almejado, pois atualmente qualquer outra via de reciclagem é menos competitiva (DENT, 1999 apud SANTOS et al, 2004).

4. Modelos de reciclagem da embalagem PET

Para Braungart e McDonough (2009), a definição popular de reciclagem merece uma ressalva. Reciclagem significa a geração de um novo material, a partir de outro descartado, de mesma qualidade do original que lhe deu origem. Downcycling, por sua vez, consiste em reaproveitar um material descartado de forma a gerar outro material com menor qualidade (menor valor agregado). Por exemplo, no processo de reaproveitamento do aço de alta qualidade usado em automóveis de alto teor de carbono, o aço de alta resistência é "reciclado", fundindo-o com outras peças do carro, incluindo o cobre dos cabos do carro, bem como com a pintura e os revestimentos de plástico. Estes materiais diminuem a qualidade do aço reciclado. Maior quantidade de aço de alta qualidade pode ser adicionada para torná-lo suficientemente forte para a sua utilização seguinte, mas não terá as propriedades do material para fazer novos veículos de novo. O alumínio é outro exemplo. A lata de refrigerante típica consiste em dois tipos de alumínio: as paredes são constituídas de alumínio, liga de manganês com quantidade de magnésio, além de revestimentos e tintas, enquanto a parte de cima, mais rígida, é constituída por liga de magnésio e alumínio. Na reciclagem convencional estes materiais são fundidos em conjunto, resultando em um subproduto mais fraco e menos útil.

upcycling significa reaproveitar um material descartado de forma a gerar um outro material de maior qualidade (maior valor agregado). Por exemplo, um gabinete de computador feito de plástico resistente, pode circular, continuamente, como um mesmo plástico resistente, de mesma função original, componente de outro produto ou até mesmo como parte de algum outro produto de maior qualidade, como uma parte de um carro ou um dispositivo médico, em vez de sofrer o processo de downcycling, tornando-se barreira à prova de som ou vaso de flor. Henry Ford praticava uma forma primitiva de upcycling, no ato de empregar um determinado modelo de caixas, contendo caminhões enviados, como assoalho do veículo, quando o mesmo chegava ao seu destino. Atualmente, estamos iniciando uma prática semelhante: a casca de arroz coreano, que é usada como embalagem de componentes estéreo e eletrônicos enviada para a Europa, depois é reutilizada como um material para a fabricação de tijolos (cascas de arroz contêm elevada percentagem de sílica). O material de embalagem não é tóxico, pois as cascas de arroz são mais seguras do que os jornais reciclados, que contêm tintas tóxicas e partículas que contaminam ar. (BRAUNGART e MCDONOUGH, 2009).

Pode-se dizer que os últimos dez anos constituíram-se em um período histórico para a reciclagem ambiental no Brasil, pois ocorreu uma mudança de paradigma no país em relação à reciclagem de materiais. No início dos anos 90, a reciclagem ambiental não esteve presente na agenda dos principais agentes políticos, econômicos e sociais. O Brasil apresentava-se como um país atrasado no campo da reciclagem, tendo em vista o avanço que os países industrializados fizeram nesse setor ao longo das últimas décadas, principalmente os países europeus. No entanto, a crescente degradação do meio ambiente, consideráveis avanços no campo da legislação e, ainda, a implementação dos sistemas de gestão ambiental nas empresas, principalmente aqueles decorrentes do processo de certificação ambiental (norma ISO 14.001) contribuíram para que essa nova postura se implantasse no país. (PINTO-COELHO, 2009).

Em relação à modelagem do fluxo reverso de bens descartáveis (como as embalagens PET) e semiduráveis, Leite (2009) propõe o seguinte fluxo:

Figura 6: Canais de distribuição de bens descartáveis (LEITE, 2009)

Após os diversos tipos de coleta, pode-se observar que uma parcela desses materiais, no caso da coleta de lixo urbano, e a totalidade obtida nos demais tipos de coleta, são selecionadas, separadas e comercializadas com intermediários sucateiros, normalmente especializados de acordo com a natureza dos materiais constituintes, cuja principal função é consolidar e realizar a prensagem, a fim de melhorar a densidade para transporte e comercialização. (LEITE, 2009).

Esses materiais podem ser comercializados diretamente com fabricantes de matérias-primas originais (como no caso de ferro e aço, que são comercializados diretamente com as siderúrgicas ou aciarias fabricantes de ferro em lingotes, em chapas, etc.), ou podem ser comercializados com indústrias de reciclagem, como é o caso de indústrias de reciclagem de plástico. Nestes casos, a resina é extraída do produto de pós-consumo descartado e comercializada com a indústria de transformação do material plástico, ou ainda por meio de intermediários para distribuição regional. Os produtos reciclados geram materiais secundários que são comercializados com indústrias de fabricação de bens diversos ou com as fabricantes de matérias-primas, as quais substituirão em parte ou totalmente as matérias-primas novas. (LEITE, 2009)

5. A cadeia de suprimentos reversa e os atores envolvidos no processo

Essencialmente, os principais membros da cadeia de suprimentos reversa são (DE BRITO, 2003):

  1. participantes da cadeia direta de suprimentos, (fornecedores, fabricantes, atacadistas, varejistas, bem como as organizações do setores correspondentes);
  2. atores especializados na cadeia de suprimentos reversa (como intermediários, especialistas em  reciclagem, organizações dedicados ao setor de reciclagem ou fundações, associação de catadores, etc);
  3. instituições governamentais (Mercosul, União Européia, governos nacionais, etc), e;
  4. atores oportunistas (como organizações de caridade).

No geral, surgem estruturas diferentes para as várias opções de recuperação. A reciclagem pode, por exemplo, ser feita por parceria público-privada sendo uma fundação a responsável pela organização do processo. As entidades públicas são envolvidas geralmente no primeiro estágio da coleta, sendo direcionadas por aspectos éticos e legais, enquanto as empresas privadas têm como principais motivadores os aspectos econômicos e legais. (GONÇALVES-DIAS e TEODÓSIO, 2006).

O relacionamento dos atores envolvidos e suas respectivas funções, incluindo as fases de recolha, análise, reprocessamento, são aspectos importantes para a eficiência das atividades de reutilização. Existe uma distinção entre o reaproveitamento pelo produtor original e por terceiros, que irá definir decisões importantes sobre a possibilidade de integração para frente ou para trás de atividades de logística reversa. Da perspectiva do produtor original, a decisão de realizar as atividades de logística envolve importantes trade-offs estratégicos. Alguns produtores tendem a executar remanufatura dos seus produtos internamente por causa do conhecimento específico acerca dos mesmos (ou ainda por motivos de redução de custos). Por outro lado, cada vez mais empresas se especializam no ramo da reciclagem, tendo-a como seu core-business. Além do reprocessamento, existem atores especializados também em atividades logísticas específicas, como recolha e transporte. (FLEISCHMANN et al, 1997)

Ao nível de gestão, os membros são responsáveis pela organização da cadeia reversa. Outros atores simplesmente executam as atividades na rede. Cada ator tem diferentes objetivos, como por exemplo, um fabricante pode fazer a reciclagem com o propósito de evitar que especuladores revendam seus produtos a um preço mais baixo. Além disso, as várias partes podem competir uns com os outros (por exemplo, sucateiros e catadores) (DE BRITO, 2003).

De forma a promover a cooperação, incentivos podem ser usados para estimular um comportamento desejado dos atores de uma cadeia de suprimentos reversa no contexto da recuperação de produtos. A definição destes incentivos requer perspicácia dos atores com respeito aos produtos recuperados, aos custos envolvidos (tempo, dinheiro, espaço) e benefícios relacionados a cada uma das alternativas. Os incentivos podem ser econômicos ou não econômicos (FREIRES, F. G. M, 2007).

6. Os motivadores da logística reversa, o conceito de Triple Bottom Line e a Ecoeficiência

Os fluxos de produtos devolvidos têm aumentado nos últimos anos, sendo que vários fatores como a consciência ambiental dos clientes, imposições da legislação e o valor econômico da reutilização dos produtos têm contribuído para isso (DE KOSTER et al, 2002).

As empresas estão sendo desafiadas a criar novas organizações ambientalmente sustentáveis e socialmente responsáveis, enquanto aumentam o valor aos seus acionistas. Ao empregar eficazes estratégias empresariais consideradas globalmente sustentáveis, os resultados podem vir através de: i) aumento de lucro através de significativos ganhos de eficiência operacional - redução de desperdício e custo, ii) maior valorização das pessoas e de suas comunidades - compromisso para desenvolver aceitáveis condições de trabalho, em conformidade com a regulamentação, e iii) minimização da dependência dos escassos recursos ambientais - água, matérias-primas – ao mesmo tempo em que ocorre a redução do desperdício, garantindo viabilidade global a longo prazo. Tais ações seguem a linha da gestão triple bottom line, que tem foco no desempenho econômico, social e ambiental (lucro, pessoas, planeta). (CLOSS, D et al, 2011).

Acredita-se, atualmente, que a aplicabilidade do conceito triple bottom line tenha mudado a realidade das empresas, no sentido de que as preocupações relativas à responsabilidade empresarial e ética, ambiental e social sejam agora o alicerce necessário para a garantia da sustentabilidade econômica. Além das possíveis oportunidades econômicas oriundas do reaproveitamento dos resíduos, a questão da sustentabilidade empresarial dirigirá esforços das empresas para a defesa de sua imagem corporativa e de seus negócios, enquanto as sociedades se defenderão por meio de legislações e regulamentações específicas. (LEITE, 2009).

Genericamente, pode-se dizer que as empresas se envolvem com a Logística Reversa, por que: i) podem lucrar com isso; ii) são obrigadas, ou iii) se sentem impelidas socialmente. Vista sob a ótica dos clientes, o retorno se dá por: i) retornos de fabricação (iniciativa da produção, ex: falha no controle de qualidade); ii) retornos de distribuição (iniciativa da empresa, ex: recall); iii) retorno dos clientes (iniciativa dos mesmos, ex: garantia) (DE BRITO, 2003).

A forma comumente encontrada na literatura para abordar a problemática dos resíduos sólidos é a política de sustentabilidade baseada dos 3Rs: reduzir, reutilizar e reciclar. Recentemente, este conceito foi estendido para as políticas dos 4Rs (reduzir, reciclar, reutilizar e reintegrar) e até mesmo dos 5Rs (reduzir, reutilizar, reciclar, repensar e recusar) (LICENCIAMENTO AMBIENTAL, 2013).

A busca pela ecoeficiência por parte das empresas, definida como uma filosofia de gestão que encoraja a empresa a procurar melhorias ambientais que geram benefícios econômicos paralelamente, passa pela elaboração de programas do âmbito da logística reversa e da logística verde. A ecoeficiência é alcançada mediante o fornecimento de bens e serviços a preços competitivos que satisfaçam as necessidades humanas e tragam qualidade de vida, ao mesmo tempo em que reduz progressivamente o impacto ambiental e o consumo de recursos ao longo do ciclo de vida, a um nível, no mínimo, equivalente à capacidade de sustentação estimada da Terra. (WORLD BUSINESS COUNCIL FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT, 2013).

7. Conclusão

Para que exista uma solução para o desenvolvimento sustentável e eficiente que priorize, concomitantemente, as dimensões econômicas, sociais e ambientais, é necessário que os principais atores (diretos e indiretos) se comprometam no sentido de cumprirem os seus deveres e fazerem valer seus direitos. A sociedade deve exigir do Poder Público e das indústrias uma postura ambiental pró-ativa, cumprindo também a sua parcela de responsabilidade. O Poder Público deve promover o desenvolvimento sustentável através de iniciativas de apoio às indústrias e também exercer o seu papel de polícia ambiental. Cabem às indústrias adequação dos processos e produtos ao meio ambiente, de forma que os impactos sobre o mesmo sejam continuamente minimizados.

A instituição de legislações ambientais mais rigorosas, a maior educação ambiental e o desenvolvimento de tecnologias eficientes capazes de reaproveitar os resíduos são fatores chave para a disseminação do desenvolvimento sustentável. Os índices de reciclagem de diversos materiais têm experimentado um crescimento constante, como é o caso das embalagens PET. Diversos fatores estruturais da indústria do PET têm apoiado este crescimento, como o custo relativamente alto da resina virgem, a eficiência dos processos de reciclagem mecânica e o aumento do preço da embalagem PET pós-consumo. Este último fator contribui para a maior atenção sobre este material despendida pelas cooperativas de catadores.

Dado o cenário socioeconômico nacional em relação à reciclagem do PET no momento da realização deste trabalho, as reciclagens mecânica (principalmente) e química são os processos mais atraentes, por promoverem a inclusão de catadores no mercado de trabalho. A reciclagem mecânica proporciona o desenvolvimento de novas embalagens, que serão novamente reintegradas ao ciclo de reciclagem, enquanto que a reciclagem química fornece monômeros ou hidrocarbonetos, matérias-primas de outras indústrias como a petroquímica. É importante salientar que a reciclagem mecânica é mais competitiva que a reciclagem química em termos de eficiência dos processos.

Ao contrário de alguns países europeus, como Áustria e Suécia, no Brasil a reciclagem energética ainda não é largamente realizada, mas somente em iniciativas pontuais por empresas que utilizam a energia gerada pela reciclagem para suas próprias atividades, podendo ser um campo de pesquisa para os próximos anos. Pesa contra a reciclagem energética o fato do Brasil não dispor de uma infraestrutura tecnológica que permita a difusão deste tipo de atividade, bem como a quebra da cadeia de coleta, que gera empregos para milhões de pessoas que vivem das atividades de coleta do lixo.

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1. Universidade Federal Fluminense, Escola de Engenharia. E-mail: felipe.saud@gmail.com
2. Universidade Federal Fluminense, Escola de Engenharia. E-mail: rodrigues@labceo.uff.br
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Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 18) Año 2016

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